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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - UFPB. CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA - CCEN. QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL I TURMA 3. PROFª. DRA. DAYSE DAS NEVES MOREIRA. ÁDAMO VIEIRA SOARES. ANNA LETICIA SILVA DE SOUSA GOMES. DENNIS DE ANDRADE ALENCAR. LIS MARIA LIMA PONTES DE ALCÂNTARA. USO DA SOLUBILIDADE DE COMPOSTOS ORGÂNICOS PARA OBTER INFORMAÇÕES SOBRE SUBSTÂNCIAS DESCONHECIDAS E SEPARAÇÃO DESTAS EM CONTATO COM SOLVENTES JOÃO PESSOA 2022 INTRODUÇÃO A solubilidade de um soluto em um solvente geralmente é descrita em termos de um soluto ser solúvel (dissolvido) ou insolúvel (não dissolvido) em um certo solvente, mais precisamente pode ser descrita como “o quanto tal soluto é solúvel em tal solvente” (ENGEL; KRIZ; LAMPMAN; PAVIA, 2016) Usando a solubilidade de uma substância desconhecida três informações podem ser obtidas, através da observação de seu comportamento quanto a solubilidade no seguintes solventes: água, solução de hidróxido de sódio 5%, solução de bicarbonato de sódio 5%, solução de ácido clorídrico 5% e ácido sulfúrico concentrado a frío. Geralmente, encontram-se indicações sobre o grupo funcional presente na substância. Além disso, a solubilidade em certos solventes fornece informações mais específicas sobre um grupo funcional. Várias são as interações que podem ocorrer entre moléculas; nas ligações dipolo-dipolo, as moléculas polares interagem de maneira que os pólos opostos sejam preservados, ela ocorre devido à atração entre os pólos de carga oposta. Já as ligações de hidrogênio, são uma interação intermolecular na qual um átomo de hidrogênio se liga a um átomo pequeno e muito eletronegativo ( N, O ou F), onde é atraído por um par isolado de elétrons de um desses átomos (ATKINS; JONES; LAVERMAN, 2018). Entre os vários compostos orgânicos, os ácidos carboxílicos em solução aquosa assumem caráter ácido, pois sofrem ionização e formam íons H+. A ionização não ocorre na mesma intensidade em todos os compostos, pois está relacionada aos grupos ligados à carboxila. Já as aminas têm como principal característica seu caráter básico por conta do par de elétrons livre existente no nitrogênio. Qualquer tipo de amina (primária, secundária e terciária) e a amônia reagem com a água e com os ácidos de forma semelhante. Esses conceitos em conjunto com a solubilidade são usados na realização da extração ácido-base. (ATKINS; JONES; LAVERMAN, 2018). A extração é, basicamente, a transferência de um soluto de um solvente para outro, ou, mais precisamente, extração líquido–líquido. O soluto é extraído de um solvente para outro usando o fato do soluto ser mais solúvel no segundo solvente que no primeiro. Um ponto importante é que os dois solventes não podem ser miscíveis (se misturar completamente) e devem formar duas fases, para que o procedimento funcione. Em um processo de extração generalizado, deve-se usar um equipamento de vidro especial, chamado funil de separação (ENGEL; KRIZ; LAMPMAN; PAVIA, 2016). Após ser agitado com uma solução aquosa, o solvente orgânico fica “úmido”, ou seja, dissolve um pouco de água, mesmo no caso de sua solubilidade em água ser relativamente pequena. A quantidade de água dissolvida costuma variar de um solvente para outro. Para remover água da fase orgânica, utiliza-se um agente secante, que é um sal inorgânico anidro que adquire águas de hidratação quando exposto ao ar úmido ou em contato com uma solução úmida (ENGEL; KRIZ; LAMPMAN; PAVIA, 2016). OBJETIVOS Identificar substâncias orgânicas desconhecidas através da sua solubilidade ou miscibilidade em determinados solventes; realizar uma extração ácido-base; apresentar a separação e purificação de compostos orgânicos pelo uso de solventes reativos. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL PARTE I Foram disponibilizadas 4 substâncias desconhecidas, onde através da solubilização delas em determinados solventes (água, éter, NaOH 5%, NaHCO3 5%, HCl 5%, H2SO4 95 % e H3PO4 85%), seria possível identificar quais compostos orgânicos são eles. Em um tubo de ensaio, colocou-se 1,0 mL do solvente, adicionou-se pequenas quantidades de líquido ou sólido desconhecido, agitou-se e observou-se a miscibilidade da mistura, de acordo com o resultado realizou-se o mesmo processo com o próximo solvente em um novo tubo de ensaio Quando a substância foi solúvel em água e no éter, utilizou-se papel indicador de pH. PARTE II Foi dissolvido toda a mistura recebida, contendo 0,75 mL de anilina (Kb = 4,3.10-10), 0,5 g de naftaleno (neutro) e 0,5 g de ácido benzóico (Ka = 6,3.10-5), em 50 mL de éter etílico. Em um funil de separação de 125 mL, transferiu essa solução extraindo a fase aquosa e mantendo a fase orgânica no funil. (1) Extração da anilina: Extraiu a fase etérea com uma solução aquosa de HCl 10% (3 x 15 mL), após esta extração guardou a solução etérea para a segunda parte. Com a fase aquosa obtida, juntou-se as frações aquosas, neutralizou-se com NaOH 30% em outro funil de separação e extraiu-se novamente com éter etílico (3 x 15 mL), lembrando sempre de abrir a torneira do funil após cada agitação, aliviando a pressão. Com essa segunda solução etérea, o reservou em um erlenmeyer, secou com anidro (Na2SO4), filtrou-se para um balão tarado, evaporou o éter em um evaporador rotativo e pesou-se a anilina obtida. (2) Extração do ácido benzóico: Extraiu-se a solução etérea com NaHCO3 10% (3 x 15 mL), após esta extração, guardou-se a solução etérea para a terceira parte. Juntando as fases aquosas e neutralizando-a com pequenas quantidades de HCl, agitou-se levemente até atingir o pH = 4 (meio ácido), onde houve desprendimento de CO2. Filtrou-se o precipitado formado em uma filtração à vácuo utilizando um funil de Büchner e lavou-se com água fria. Secou-se e pesou-se os cristais obtidos no papel de filtro. (3) Extração do β-naftol: Essa extração não ocorreu. (4) Isolamento do Naftaleno: Lavou-se com água a fase orgânica do funil de separação (2 x 15 mL), recolheu para um erlenmeyer e secou-se com anidro (Na2SO4), logo após, filtrou-se para um balão tarado, evaporou-se o éter etílico em um evaporador rotativo e pesou-se o produto obtido. (5) Guardar as substâncias separadas para a próxima aula: Transferiu-se a anilina obtida na etapa 1 em um frasco de amostra rotulado; transferiu-se os cristais de ácido benzóico para um frasco de amostra rotulado; guardou-se o naftaleno em um frasco de amostra rotulado. Teste de confirmação: Identificação de grupos funcionais via reações químicas a. Anilina Adicionou-se 1mL de permanganato de potássio 0,01 M em 3 tubos de ensaio. No primeiro tubo, adicionou-se 1 mL de ácido sulfúrico 3,0 M, no segundo 1 mL de hidróxido de sódio 1,0 M e no terceiro acrescentou-se 1 mL de água destilada. Em cada tubo adicionou-se uma gota da anilina e agitou-se as misturas vigorosamente. Após um minuto observou-se os tubos com base nas informações a seguir: a) aminas alifáticas e alicíclicas dão teste negativo em solução ácida, mas positivo em meio neutro ou básico; b) aminas aromáticas mais reativas (anilina e toluidinas por exemplo), dão teste positivo nas três condições; c) compostos menos reativos, como a o-cloroanilina, podem dar teste negativo em meio neutro, mas positivo em meio ácido ou básico. b. Ácido benzóico Em um vidro de relógio colocou-se alguns cristais do ácido benzóico, adicionando gota a gota a solução de NaHCO3 5%. Havendo desprendimento de CO2, ,indica a presença de ácido carboxílico. c. Naftaleno Mediu-se o ponto de fusão. RESULTADOS E DISCUSSÃO PARTE I A seguir, encontram-se os resultados dos testes de solubilidade de diversos compostos orgânicos desconhecidos. Tabela 1: Compostos orgânicos relacionados às classes de solubilidade. Amostra Classe de solubilidade encontrada Composto 1 solúvel Ácido orgânico forte. 2 solúvel Ácidos monocarboxílicos, com cinco átomos de carbono ou menos, ácidos arenossulfônicos. 3 solúvel Aminas aromáticas com oito ou mais carbonos, anilinas e algunsoxiéteres. 4 insolúvel Sais de ácidos orgânicos, hidrocloretos de aminas, aminoácidos, compostos polifuncionais. Em suma, a solubilidade é a capacidade que um determinado solvente apresenta de dissolver certa quantidade de soluto, e essa relação se dá pela interação molecular. Portanto, partindo desse princípio, conseguimos determinar grupos funcionais, polaridade e massa molecular de compostos orgânicos desconhecidos. Sendo assim, concluímos que: - Amostra 1: o resultado nos diz que a substância encontrada é um ácido orgânico forte. Isso porque, por ser insolúvel em água, e posteriormente solúvel em hidróxido de sódio, infere-se que a solução constitui um ensaio positivo para um grupo funcional ácido, uma vez que a solubilidade em certos solventes fornece informações mais específicas sobre grupos funcionais do que outros. Logo, sabendo-se que os compostos ácidos são classificados por intermédio da solubilidade em hidróxido de sódio 5%. Onde os ácidos fortes e fracos são distintos por serem os primeiros solúveis em bicarbonato de sódio 5%, enquanto os últimos não são, podemos finalmente agrupar a substância desconhecida como um ácido orgânico forte por ser solúvel em bicarbonato de sódio. Abaixo a imagem da reação: - Amostra 2: o resultado nos diz que a substância encontrada é um ácido monocarboxílico, com cinco átomos de carbono ou menos, ácidos arenossulfônicos. Isso porque, por ser solúvel em água e posteriormente solúvel em éter, há um indicativo de grupo funcional polar presente na substância desconhecida. Porém, uma vez que a solubilidade em água não fornece informação suficiente sobre a presença de grupos funcionais ácidos ou básicos, esta deve ser obtida pelo ensaio das soluções aquosas com indicador de pH. Sendo assim, obteve-se um pH igual a 3, confirmando sua classificação citada acima. - Amostra 3: o resultado nos diz que a substância pode ser encontrada como aminas aromáticas com oito ou mais carbonos, anilinas e alguns oxiéteres. Isso porque, muitos compostos que são neutros frente ao ácido clorídrico 5% comportam-se como bases em solventes mais ácidos, como ácido sulfúrico ou ácido fosfórico concentrados. Em geral, compostos contendo enxofre ou nitrogênio deveriam ser solúveis neste meio. Portanto, por ser insolúvel em água e em hidróxido de sódio, mas em contrapartida ser solúvel em ácido clorídrico, a classificamos como o composto apresentado na tabela. - Amostra 4: o resultado nos diz que a substância pode ser encontrada como sais de ácidos orgânicos, hidrocloretos de aminas, aminoácidos ou compostos polifuncionais. Isso porque, por ser solúvel em água e posteriormente insolúvel em éter, conseguimos informações mais específicas sobre um grupo funcional a partir da sua solubilidade nestes solventes. Portanto, por ser solúvel em água, um solvente com ligações de hidrogênios, ligações essas mais fortes do que as encontradas no éter (ligações de dipolo permanente), inferimos a presença de grupos amina e hidroxila na estrutura da substância desconhecida. PARTE II A seguir, encontram-se os resultados das extrações ácido-base: Tabela 2: Extrações e suas respectivas análises. Extrações Teste de Confirmação Massas encontradas Rendimento Anilina positivo 1,0422 g 136,23% Ácido benzóico positivo 0,0043 g 0,86% Isolamento do Naftaleno ----------- 0,2864 g 57,28% Nessa etapa da prática se faz necessário a compreensão do que a solubilidade dos compostos orgânicos que pode ser dividida em duas categorias principais: a solubilidade na qual uma reação química é a força motriz e a solubilidade na qual está envolvida a simples miscibilidade. As duas estão inter-relacionadas, sendo que a primeira é geralmente usada para identificar os grupos funcionais e se trata de uma interação (não se forma um novo composto), enquanto que a segunda é usada para determinar os solventes apropriados para recristalização nas análises espectrais e reações químicas (ocorre a formação de um novo composto). Sendo assim, nesse contexto, adentramos na solubilidade que envolve reações para chegar nas seguintes conclusões: *Obs: mistura composta por: 0,75 mL de anilina, 0,5 g de naftaleno, 0,5 g de ácido benzóico em 50 mL de éter etílico. - Extração da anilina: ao se colocar a mistura de éter etílico (contendo anilina, ácido benzóico e naftaleno) com HCl, nota-se que o éter etílico (fase orgânica) se encontra acima do HCl (fase aquosa) por possuir uma densidade menor (0,789 g/cm³) se comparada a fase aquosa (1,18 g/cm³). Após a extração se era previsto que a substância extraída fosse a anilina por possuir caráter básico e assim ter se transferido para a fase aquosa pela mesma ser ácida. Logo, se realizou um teste de confirmação, onde se reagiu a suposta anilina com misturas de permanganato de potássio mais ácido sulfúrico, permanganato de potássio mais hidróxido de sódio e permanganato de potássio mais água. E observou-se que a mesma reagiu com as três amostras, comprovando-se a presença da anilina, com isso inferimos que o teste deu positivo, uma vez que, aminas aromáticas mais reativas (anilina e toluidinas por exemplo), dão teste positivo nas três condições. Por conseguinte, foi efetivado o cálculo do rendimento, chegando a um percentual de 136,23% . Esse percentual acima de 100%, indica algum erro na extração, que pode ter sido ocasionado pela presença de resíduos do solvente, ou por contaminação de outra substância. - Extração do ácido benzóico: ao se colocar a mistura de éter etílico (contendo o ácido benzóico e o naftaleno) advindo da etapa anterior e se acrescentar bicarbonato de sódio (NaHCO3), nota-se que o éter etílico (fase orgânica) se encontra acima do NaHCO3 (fase aquosa) por possuir densidade menor (0,789 g/cm³) se comparada a fase aquosa (2,2 g/cm³). Após a extração se era previsto que a substância extraída fosse o ácido benzóico por possuir caráter ácido e assim ter se transferido para a fase aquosa pela mesma ser um sal. Logo, se realizou um teste de confirmação, onde colocou-se cristais do suposto ácido benzóico em um vidro de relógio e adicionou-se solução de NaHCO3 5%, esperando-se um desprendimento de gás (bolhas de CO2) indicando a presença de ácido carboxílico, o que não houve. Contudo, ao se efetivar o teste fusão, obteve-se uma fusão de 123°c, que entra em consonância com o ponto de fusão do ácido benzóico de 122,3°c, concluindo-se um teste positivo. Por conseguinte, foi efetivado o cálculo do rendimento, chegando a um percentual de 0,86%. - Isolamento do naftaleno: ao se colocar a mistura de éter etílico (contendo apenas o naftaleno) da etapa anterior e se acrescentar água destila, nota-se que o éter etílico (fase orgânica) se encontra acima da água destilada (fase aquosa) por possuir uma densidade menor (0,789 g/cm³) se comparada a fase aquosa (1 g/cm³). Após a extração se era previsto que a substância isolada fosse o naftaleno uma vez que a água destilada tinha como função retirar resíduos dos estágios antecedentes. Por conseguinte, se foi efetivado o rendimento, chegando a um percentual de 57,28%. * Obs: no isolamento do naftaleno não houve o seu teste de confirmação. CONCLUSÃO A solubilidade é o princípio químico mais importante de três técnicas básicas do laboratório de Química orgânica: cristalização, extração e cromatografia, ou seja, com o domínio deste princípio fica evidente a facilidade no desenvolvimento das técnicas citadas. Na realização da extração ácido-base, pudemos ver como se aplica a solubilidade na prática. Os testes de confirmação serviram para nos mostrar se no procedimento realizado houve falhas, e de fato, o rendimento encontrado para a anilina mostrou uma suposta contaminação durante o processo. REFERÊNCIAS ATKINS, Peter; JONES, Loretta; LAVERMAN, Leroy. Princípios de química: questionando a vida moderna e o meio ambiente. Porto Alegre: Grupo A, 2018. E-book. ISBN 9788582604625. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788582604625/.Acesso em: 01 dez. 2022. ENGEL, Randall G.; KRIZ, George S.; LAMPMAN, Gary M.; PAVIA, Donald L. Química orgânica experimental: técnicas de escala pequena – Tradução da 3ª edição norte-americana. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2016. E-book. ISBN 9788522123469. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522123469/. Acesso em: 11 set. 2022. PAVIA D. L. LAMPMAN, G. M. KRIZ, G. S. Introduction to Organic Laboratory Techniques, Third Edition, Harcourt Brace College Publixher, New York, 1982.