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Atitudes e mudança de atitudes Profª Ariana ferreira carneiro Centro universitário Alves faria Definindo “atitudes” É comum pensarmos que “atitudes” significam “comportamentos”. Na verdade, “atitudes” possuem diversas definições. De maneira geral, podemos entender como “uma tendência psicológica que é expressa pela avaliação de uma entidade em particular com algum grau de favor ou desfavor” (Chaiken, Wood e Eagly, em Neiva e Mauro, 2011, p.171) Quando conhecemos as atitudes de alguém, conseguimos entender melhor como ela pensa, age e sente com relação a certos eventos. Atitudes não são observáveis, podemos inferi-las de respostas observáveis. Definindo “atitudes” OBJETOS ATITUDINAIS: É para onde direcionamos nossas atitudes: pessoas, objetos, grupos, lugares, organizações, conceitos, ideologias, eventos, produtos, etc. Formamos nossas atitudes a partir do contato que temos com o objeto atitudinal. De acordo com o dicionário, o termo atitude pode remeter a: Posição do corpo, porte, jeito, postura Modo de proceder ou agir; comportamento ou procedimento; Propósito, maneira de se manifestar este propósito; Reação ou maneira de ser em relação a determinado objeto, pessoa, situação, etc. Definindo “atitudes” Allport (1935) define atitudes como: “um estado mental ou neurológico de prontidão, organizado por meio da experiência, exercendo uma influência diretiva ou dinâmica sobre a resposta do indivíduo a todos os objetos e situações com que se relaciona”. O aspecto da experiência é central para entender as atitudes. Para Thurstone (1931), a atitude é um afeto pró ou contra um objeto psicológico. O aspecto da afetividade é central. Doob (1947) define como “uma resposta implícita e geradora de impulsos, considerada socialmente significativa na sociedade do indivíduo”. Definindo “atitudes” Smith, Bruner e White (1956): a atitude é uma predisposição para a experimentar uma classe de de objetos de certas formas, com afeto característico; ser motivado por esta classe de objetos e agir em relação a tais objetos de maneira característica. Triandis (1971): uma ideia carregada de emoção que predispõe um conjunto de ações a um conjunto particular de situações sociais. Olson e Zanna: “avaliação de uma entidade particular com algum grau de favorabilidade ou desfavorabilidade”; “afeto associado com algum objeto mental”; “o estado de uma pessoa que a predispõe a uma resposta favorável ou desfavorável quanto a um objeto, pessoa ou ideia”. Questões gerais sobre atitudes A atitude representa avaliações sobre determinados objetos atitudinais. Atitudes são disposições para avaliar objetos psicológicos. Elas podem mudar, mas a atitude antiga não desaparece, ela é sobreposta. Daí podemos ter atitudes múltiplas sobre um mesmo objeto, ou atitudes que dependam de contextualização mais específica. Não há uma correspondência direta entre as atitudes dos sujeitos e seus comportamentos, já que comportamentos podem ter diversas causas e influências. Existem muitas definições, mas todas elas entendem atitude como aspectos não-observáveis que podemos interpretar a partir de questões observáveis, e são integradas a partir de aspectos cognitivos, afetivos e comportamentais. Componentes das atitudes Tendência tricomponente (cognição, comportamento e afeto): aspecto cognitivo das atitudes diz respeito à pensamentos, crenças, percepções e conceitos acerca do objeto atitudinal. O aspecto afetivo diz respeito às emoções e sentimentos ligados ao objeto. E o aspecto comportamental está relacionado à ações e intenções para agir a partir das atitudes. Esta tendência é a mais aceita, mas estudos demonstram que muitas vezes é difícil separar estes três aspectos entre si. Componentes das atitudes Alguns teóricos colocam que sentimentos e emoções podem ser anteriores às crenças, e, portanto, as respostas atitudinais são exclusivamente afetivas. Para avaliar isso, foca-se principalmente no aspecto da avaliação de o objeto atitudinal ser favorável ou não para a pessoa. As tendências bicomponentes (crenças e afetos) entendem a importância de se avaliar não só se a pessoa é favorável ou não ao objeto atitudinal, mas as crenças, pensamentos e conceitos construídos em relação a ele. Componente cognitivo Para sabermos se somos favoráveis ou não a um determinado objeto atitudinal (componente afetivo), antes precisamos ter uma representação cognitiva deste objeto. (Ex: para sabermos se uma abordagem dentro da Psicologia é a nossa preferida, primeiro precisamos estuda-la e compreendê-la). Construímos essa representação cognitiva por meio da experiência e contato com este objeto, recebemos informações de outras pessoas, etc. Precisamos conhecer e entender do que se trata. Formamos nossas crenças baseadas em crenças e conceitos anteriores, sobre objetos substitutos (usamos conhecimentos anteriores pra saber fazer referência a novos objetos). Componente afetivo “É a forma como uma pessoa se sente em relação a um objeto atitudinal, sendo geralmente determinada pela associação prévia do objeto de atitudes com estados agradáveis ou desagradáveis)”(Triandis, 1971, em Neiva e Mauro, 2011). É a forma como avaliamos (fazemos juízos de valor) sobre objetos em si. Componente comportamental Alguns autores veem nas atitudes uma força motivadora para a ação. Mas a relação entre atitude e comportamento não tem bases empíricas sólidas. Para Newcomb, Turner e Converse (1965), as atitudes sociais criam um estado de predisposição à ação, que, dependendo de determinadas situações, resultam em comportamentos. Pode existir uma relação entre atitudes e comportamentos, mas essa relação não é a melhor para compreendermos as causas de um comportamento em si. Um comportamento pode ser desencadeado por diversos fatores (que inclusive contradizem as atitudes da pessoa). As atitudes não são idênticas às respostas que exteriorizamos. Comportamento e atitude As pessoas acreditam que sua avaliação sobre determinado objeto influenciam na forma como se comportam diante dele. Não existe uma relação direta de causalidade entre atitude e comportamento, porque comportamentos podem ocorrer por várias causas. Existe uma diferença entre nossa compreensão diante de uma atitude mais global (por exemplo: roubar) e uma atitude frente a comportamentos específicos (ex.: roubar um pão para alimentar uma pessoa faminta). Existe uma consistência entre os componentes cognitivos e afetivos das atitudes, mas não entre o componente comportamental. Comportamento e atitude Para Triandis (1971): “atitudes envolvem o que as pessoas pensam, sentem e como elas gostariam de se comportar em relação a um objeto atitudinal. O comportamento não é apenas determinado pelo que as pessoas gostariam de fazer, mas também pelo que elas pensam que devem fazer e pelas consequências esperadas de seu comportamento”. “A correspondência entre atitudes e comportamento será tanto maior quanto maior for o interesse investido pela pessoa no conteúdo atitudinal, ou seja, quanto maior for o interesse no objeto, maior será a congruência entre a atitude e o comportamento do indivíduo” (Sivacek e Crano, em Neiva e Mauro, 2011). Teoria da ação racional Ajzen e Fishben (1980): Atitudes são importantes para a previsão do comportamento, mas se diferenciam entre atitudes gerais (relativas a um objeto específico) e atitudes específicas (que se relacionam a uma norma subjetiva, ou seja, ao que esperam que seja nosso comportamento diante deste objeto). A norma subjetiva nos ajuda mais a prever um comportamento do que a atitude em geral que a pessoa tem com relação a um objeto. Todo comportamento é uma escolha entre alternativas, em que o melhor fator para prever o comportamento será a intenção da pessoa ao agir de uma certa maneira, sendo a atitude um fator importante na realização dessa escolha. Teoria da ação racional Pensamos não só na intenção do nosso comportamento (expectativa), mas também pensamos nas possíveis consequências que teremos ao agir (valor). As normas subjetivas são formadas pelas expectativas queoutros possuem sobre nós e nossos comportamentos e são reforçadas pela motivação para seguir tais expectativas. Este modelo também engloba a importância das atitudes e das normas na definição da intenção comportamental. Eagly e Chaiken (1993) encontram correlações entre a intenção do comportamento, a especificidade da situação em que ele acontece e experiências anteriores do indivíduo na situação. Abordagens alternativas Busca explicar comportamentos mais espontâneos, entendendo como as atitudes podem influenciar diretamente nestes comportamentos, a partir do entendimento dos processos automáticos e implícitos do processamento humano de informações. Muitos comportamentos são provenientes de hábitos (e se tornam automáticos). Atitudes que foram formadas pela experiência direta são mais preditoras do comportamento do que as atitudes formadas pela experiência indireta. Quando temos experiências diretas com o objeto, temos mais confiança nos nossos comportamentos em relação a ele. Abordagens alternativas Atitudes podem produzir uma tendência ao comportamento sem que a gente perceba sua influência (atitudes implícitas). Elas são difíceis de serem identificadas e possuem afetos profundamente mantidos. Atitudes explícitas são diretas e dependem da habilidade do indivíduo em acessá-las e comunica-las. Já as implícitas não são conscientes, e fazem parte de ativação de processos automáticos das atitudes. Podemos ter atitudes implícitas e explícitas que se contradizem e não causam dissonância cognitiva (exemplo: pessoas que expressam ser contra preconceitos mas fazem associações automáticas de aspectos negativos sobre determinados grupos sociais). Abordagens alternativas Aspectos culturais: é importante levarmos em conta a cultura em que as pessoas se inserem para entender o grau em que atitudes podem ajudar a prever comportamentos. Em culturas mais individualistas, as atitudes ajudam mais a prever o comportamento. Em culturais mais coletivistas, as normas sociais ajudam mais a prever o comportamento. Modelo de Chaiken e Eagly (1996) Posiciona o comportamento em uma rede de variáveis psicológicas. Temos: o comportamento; a intenção para manifestar o comportamento; a atitude frente ao comportamento (específica, que o indivíduo entende o objeto e a situação que o envolve); hábito; e atitude frente ao objeto (geral). Também antecipamos qual será o resultado do nosso comportamento. Propriedades das atitudes Força das atitudes: existem atitudes que exercem maior influência nas pessoas. Elas resultam em: Processamento seletivo de informações; Resistência à mudanças; Estabilidade ao longo do tempo. Aumento do poder preditivo do comportamento. Podemos explicar a força das atitudes pensando em como elas afetam resultados e interesses pessoais, como se relacionam a valores das pessoas e como se referem à identidade dos grupos que esta pessoa pertence. Propriedades das atitudes Acessibilidade: diz respeito à intensidade da associação entre a avaliação e o objeto atitudinal. Isso significa que, quanto mais forte for a atitude, mais vamos associá-la ao objeto (mais rápido recuperamos da memória). As atitudes mais acessíveis são as que mais repetimos. Quanto maior a coerência entre os aspectos afetivos, crenças e comportamentos com relação a um objeto atitudinal, maior será sua força. São mais estáveis, mais resistentes à mudanças e predizem melhor o comportamento. Quanto mais fortes forem nossas atitudes, mais rápidas serão nossas respostas diante de um objeto atitudinal. Formação das atitudes – enfoque funcional As atitudes servem para: Avaliarmos os objetos: a forma como avaliamos um objeto atitudinal influencia a nossa relação com ele; Ajustamento social: propicia uma oportunidade de maior acomodação social; Externalização: as nossas atitudes representam uma forma como interagimos com nossos próprios problemas interiores. Enfoque funcional As atitudes têm funções diversas, como: Função instrumental de maximizar ou minimizar os custos, e podem ser alteradas de acordo com a exigência das circunstâncias. As atitudes nos protegem contra o reconhecimento de verdades indesejadas – e são mais resistentes à mudança por atenderem necessidades básicas da nossa personalidade. As atitudes expressam valores que são importantes para nós As atitudes servem como uma maneira de colocar ordem no ambiente, compreendendo os fenômenos e circunstâncias e integrando estas informações de maneira coerente. Enfoque de consistência cognitiva Força em direção à consistência entre nossas atitudes e seus componentes. Quanto mais harmonia, mais facilmente as atitudes são formadas. Teoria da consistência cognitiva (Heider, Festinger): mais fácil formar atitudes a partir de um todo coerente e internamente consistente. Existe uma relação estreita entre as crenças acerca do objeto e o afeto dirigido a ele. Essa consistência implica em: quando um dos componentes das atitudes muda (afeto, cognição ou comportamento), as outras também são modificadas. Enfoque a partir da teoria do reforço A base das atitudes está no reforço ou punição que seguem à emissão de um comportamento. Quando agimos de uma determinada maneira e somos reforçados por isso, tendemos a solidificar tal comportamento e a atitude a ele subjacente. Existe um estímulo que conduz a uma resposta implícita (atitude) e termina com um comportamento explícito. Valores e funções como bases das atitudes Estudos abordam o fato de os valores serem preditores das atitudes (meus valores influenciam nas atitudes que formarei sobre determinados objetos). A importância que atribuímos a determinados valores influenciam nossas atitudes frente à escolhas comportamentais. Atitude e persuasão A área da persuasão na Psicologia estuda formação e mudança de atitudes. Um encontro com novos objetos geram uma resposta avaliativa (resposta atitudinal), e demonstra uma tendência a responder o objeto de forma semelhante no futuro. Papel da memória no que diz respeito à persuasão: a memorização da mensagem é o mais importante no que diz respeito à predição das atitudes. Processamento da mensagem: somos expostos à mensagem, prestamos atenção nela, entendemos o que ela diz, concordamos com seu conteúdo, memorizamos. Se isso ocorre, então a mensagem muda nossa atitude. Mudança de atitudes Fatores a serem analisados na mudança de atitudes: A mensagem, o contexto, quem recebe a mensagem e sua fonte. Sobre a fonte da mensagem: qual a credibilidade? Qual a atratividade? Qual o status da mensagem? Sobre a mensagem: são persuasivas? Esporádicas? qual a sua forma? Sobre quem recebe a mensagem: quais são as experiências anteriores? Qual sua necessidade de conhecimento sobre o objeto? Qual seu grau de adequação e identificação com a mensagem? Sobre o contexto: de onde parte esta mensagem? Mudança de atitudes Você acredita que é uma pessoa aberta a ter suas atitudes modificadas? O que você acha que é necessário para que tenha uma mudança de atitudes? Como você age quando quer mudar as atitudes de alguém com relação a algum assunto específico?