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Anestesiologia Veterinária – Giovanna Rossi de Souza 1 Estágios e planos anestésicos O desafio do plano anestésico é manter o animal em plano de anestesia leve a moderado. Aprofundando o suficiente para extinguir a propriocepção consciente do paciente e promover o relaxamento muscular, sem com que isso deprima as funções cardiovasculares e respiratórias de maneira importante. Dentre as limitações, são que alguns fármacos como os anestésicos dissociativos e as neuroleptoanalgesias não permitem a observação dos planos anestésicos. Algumas características interferem na escolha do plano anestésico. Espécie: as espécies diferem quanto a seus reflexos • Palpebral: Cão: ausente no 2º plano do III estágio Gato: ausente no 3º plano do III estágio • Laringotraqueal: Gato: desaparece tardiamente, por isso a dificuldade de intubação • Pupilar: As espécies tem diferentes tamanhos e formas de pupila Pupila concêntrica: cão, suíno, coelho, rato e homem Transversal: felino Longitudinal: equinos e ruminantes. Fármaco: • Agentes voláteis: o controle da profundidade é melhor, dá para se fazer planos mais individualizados • Técnicas de administração: por exemplo, uma aplicação rápida dificulta e visualização do plano anestésico. Estado do paciente: • Pacientes debilitados/desnutridos: a indução é mais rápida, o plano fica profundo com maior facilidade, então o risco de intoxicação é maior. • Faixa etária: animais idosos e neonatos possuem menor taxa de metabolização. Tipo de cirurgia: • Estrutura envolvida na cirurgia, por exemplo, uma castração é menos dolorosa do que uma cirurgia ortopédica, sensibilidades dolorosas variáveis. Principais reflexos avaliados Para se avaliar a profundidade anestésica, é importante observar antes o animal, quando ainda íntegro, com seus próprios reflexos, sem a aplicação de nenhum fármaco. Pois este será o controle para saber quais alterações os anestésicos estão produzindo. Reflexo oculopalpebrais (palpebral, corneano e pupilar). Estes reflexos são muito importantes, pois, a medida que vão desaparecendo (palpebral e corneano) ou se alterando (pupilar), indicam um plano anestésico. Por outro lado, é necessário que se saiba que certos fármacos alterando substancialmente o reflexo pupilar, como é o caso da atropina, que causa midríase, ou o éter, que Anestesiologia Veterinária – Giovanna Rossi de Souza 2 causa leve midríase, ou ainda os barbitúricos que causam uma miose puntiforme. O reflexo palpebral é observado tocando- se discretamente a comissura nasal da pálpebra e observando-se o fechamento das mesmas. O reflexo pupilar é observado com o auxílio de uma lanterna (de uma pilha), cujo feixe de luz causará o estímulo fotomotor. O reflexo corneano (toque da córnea) deve ser verificado discretamente, a fim de não lesar a córnea. Em grandes animais o reflexo palpebral é semelhante, entretanto o reflexo pupilar varia, pois neles a presença de miose (longitudinal) é indício de plano profundo, sendo que, em equinos nota-se a presença do nistagmo indicando 1º para 2º planos do III estágio (plano superficial). Reflexo interdigital É indicativo do início do plano cirúrgico e começa a desaparecer no 2º plano do III estágio. Seu teste é feito pressionando-se a membrana interdigital com as unhas. A este estímulo doloroso, o animal retrairá os membro, caso não se tenha estabelecido a analgesia. Em grandes animais, em equinos os reflexos interdigitais não são verificados, mas em bovinos e pequenos ruminantes pode-se abrir os cascos e verificar, manobra essa semelhante ao teste efetuado em partos distócico para testar se o feto está vivo. Reflexo laringotraqueal Sua ausência indica um determinado plano e sua importância está ligada a permissividade ou não da introdução da sonda endotraqueal. Em grandes animais é semelhante. Reflexos cardíacos A importância da observação da frequência e do tipo de batimento está relacionada ao plano anestésico ou à contratilidade. Sabe-se que a indução por barbitúricos causa bloqueio vagal com taquicardia considerável. Por outro lado, os anestésicos de modo geral, de acordo com o plano anestésico, causam depressão do centro vasomotor, com redução da contratilidade cardíaca ou até acarretando bradicardia, indício que antecede o choque bulbar. Em grandes animais é semelhante. Reflexos respiratórios A importância da observação da qualidade e da quantidade de movimentos respiratórios está diretamente ligada à sequência dos estágios e planos anestésicos, em função da profundidade anestésica. Então em planos profundos a amplitude é maior e a frequência respiratória é menor. A importância do controle da respiração é de que, antes de qualquer parada cardíaca, se Anestesiologia Veterinária – Giovanna Rossi de Souza 3 antepõe sempre a parada respiratória por sobredose anestésica. Reflexo anal Este reflexo desaparece em equinos do 3º para o 4º plano, o que não é conveniente, pois é preferível sua presença. Estágios anestésicos O julgamento do plano ou estágio anestésico se baseia no esquema clássico do Guedel, na anestesia com éter, adaptado posteriormente a todos os outros anestésicos, quer barbitúricos ou voláteis. Estágio I Alerta à perda da consciência Estágio II Fase de excitação ou delírio Estágio III 1º plano 2º plano 3º plano 4º plano Anestesia cirúrgica Planos cirúrgicos Estágio IV Choque bulbar e morte Estágio I É um estágio que pode ser definido como que vai desde o início da administração até a perda da consciência. Se caracteriza por: • Início da analgesia, porém com sensação dolorosa ao estímulo • Reação varia de animal para animal • Comportamento heterogêneo frente ao anestésico utilizado • Liberação de adrenalina, ocorrendo taquicardia e midríase • Desorientação • Respiração irregular, caso não tenha aplicado MPA • Demais parâmetros e reflexos normais Estágio II Este é um estado é conhecido como o de excitação e delírio, é responsável por perda da consciência, com incoordenação, e hiper-reflexia. Este estágio pode ser evitado com o uso de MPA adequado, pois é nela que se destacarão as propriedades adrenolíticas e potencializadoras das fenotiazinas e ansiolíticas das benzodiazepinas. O estágio II é caracterizado por: • Incoordenação motora • Hiperalgesia • Tosse e vomito • Hiper-reflexia • Dilatação pupilar e lacrimejamento • Taquipneia com hiperventilação e respiração arrítimica • Reação anormal aos estímulos externos • Em ruminantes e felinos pode ocorrer salivação abundante Anestesiologia Veterinária – Giovanna Rossi de Souza 4 Estágio III Caracteriza-se pela perda de consciência, depressão progressiva do SNC, chegando até a parada respiratória. É em função da depressão que determina-se os planos anestésicos. Alguns preferem determinam apenas em 1) anestesia superficial: resposta hemodinâmica e resposta motora 2) anestesia média (adequado): depressão cardiovascular e respiratória progressiva, ausência de resposta a estímulos 3) anestesia profunda: respiração diafragmática 1º plano Inicio dos planos cirúrgicos • Normalização da respiração (maior amplitude e menor frequência) • Miose, com resposta ao estímulo luminoso • Presença de reflexos interdigitais e laringotraqueais, não permitindo a intubação • Presença dos reflexos oculares • Salivação profusa • Gemidos • Tônus muscular presente mais reduzido • Presença de nistagmo • Inicio da rotação do globo ocular (protusão da terceira pálpebra) 2º plano • Centralização do globo ocular, com miose • Respiração abdominocostal, porém profunda e rítmica • Elevação discreta da PaCO2 •Redução da P.A e dos batimentos cardíacos • Estimulação cirúrgica dolorosa causa uma liberação de catecolaminas (altera FC, FR e PA) • Ausência do reflexo interdigital e palpebral • Demais reflexos diminuídos • Queda do tônus muscular 3º plano • Respiração abdominal (diminui amplitude) • Midríase, com reflexo bem reduzido • Centralização do globo ocular • Todos os reflexos referentes a sensibilidade ausentes • Diminuição da P.A e FC • Músculos abdominais relaxados • Ausência das respostas frente aos estímulos cirúrgicos 4º plano • Respiração diafragmática, taquipneia e superficial • Paralisia da musculatura • Midríase acentuada sem resposta a estímulo luminoso, globo ocular seco • Depressão cardiovascular • Anestesia profunda Estágio IV Este é o estagio mais crítico de todos, pois é nele que se observa a abolição de certos reflexos. • Eventual parada respiratória e cardíaca • Midríase não responsiva a estimulo luminosos • Hipotermia • Respiração agônica • Choque bulbar Caso tal conjunto de sintomas tenha-se desenvolvido no espaço máximo de três a quatro minutos, ter-se-á certeza de que o animal terá passado por uma anóxia cerebral acusada por eletroencefalografia, onde notar-se-á silêncio cerebral precedido do sofrimento. Este estado é irreversível e acusa a morte clínica Anestesiologia Veterinária – Giovanna Rossi de Souza 5 Profundidade anestésica Como avaliar? • Movimentos espontâneos ou em resposta a estímulos: superficial • Elevação abrupta de FC, FR e PA em resposta aos estímulos: superficial • Tônus muscular • Padrão abdominal respiratório • Presença de reflexo palpebral: superficial • Posicionamento do globo ocular • Reflexo de deglutição