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Direito dos Contratos - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO E VÍCIOS REDIBITÓRIOS

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E HUMANAS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO
DISCIPLINA: DIREITO DOS CONTRATOS
DIVANI SILVA DA COSTA
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO E VÍCIOS REDIBITÓRIOS: UMA REVERSÃO DA
SENTENÇA NEGATIVA AO PROVIMENTO DO RECURSO
MOSSORÓ-RN
2022
DIVANI SILVA DA COSTA
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO E VÍCIOS REDIBITÓRIOS: UMA REVERSÃO DA
SENTENÇA NEGATIVA AO PROVIMENTO DO RECURSO
Trabalho apresentado à Universidade Federal Rural do
Semi Árido (UFERSA), como forma de obtenção de
nota parcial da disciplina de Direito dos Contratos.
Orientador: Prof. Dr. Marcelo Lauar Leite
MOSSORÓ-RN
2022
INTRODUÇÃO 4
1. PROCESSO Nº 0710136-18.2012.8.13.0079 4
1.1 Voto 5
2. DECISÃO ALTERNATIVA 6
2.1 Particularidades dos vícios redibitórios e a constatação de bem defeituoso 7
2.2 Indenização por abatimento no valor pago e danos morais 9
2.3 Jurisprudência e a concessão de provimento ao recurso 10
CONCLUSÃO 11
REFERÊNCIAS 12
4
INTRODUÇÃO
A presente investigação produzirá uma análise de uma decisão judicial julgada pelo
Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em 12 de abril do ano de 2022. A qual disserta,
essencialmente, sobre vício redibitório e a pretensão do abatimento do valor desembolsado.
Ademais, será demonstrada uma decisão alternativa, semelhante ao caso que foi sentenciado
pelos desembargadores da Nona Câmara Cível de Minas Gerais, mas que obteve resolução de
mérito diversa.
A fim de atender aos interesses supracitados, é necessária uma fundamentação
adequada com base nos dispositivos do Código Civil e do Código de Processo Civil que
discorrem sobre tais vícios contratuais, além do entendimento jurisprudencial do STF e o
Código de Defesa do Consumidor que rege as relações de compra e venda. Antes de tudo, é
primordial que se conheça o caso concreto, bem como as suas particularidades para que se
compreenda a metodologia e abordagem utilizadas.
1. PROCESSO Nº 0710136-18.2012.8.13.0079
Este trabalho irá tratar do procedimento de apelação cível de n°
0710136-18.2012.8.13.0079, julgado pela 9ª Turma Cível do Tribunal de Justiça de Minas
Gerais, com a relatoria do desembargador Pedro Bernardes de Oliveira. Nesse caso, tem-se
como apelante Harrison Augusto Gonçalves e apelados Elias Correa Rodrigues e Fabrício
Pimenta Imóveis LTDA - ME. Nesse diapasão, o caso em questão cuida-se de Ação de
Indenização em decorrência de vício redibitório, promovida pelo apelante contra os dois
apelados. O processo foi encerrado pelo Juiz competente sem averiguação das alegações do
Sr. Harrison Gonçalves, sendo extinto o feito, sem que houvesse resolução de mérito, por
perda superveniente do interesse de agir. (TJMG, 2022)
Por não concordar com a sentença que lhe foi atribuída em primeira instância, o
apelante solicitou resolução em instância superior, visando a procedência/acolhimento de seus
pedidos. Nesse contexto, a parte interessada afirmou que havia escolhido um apartamento
com vaga de estacionamento e que isso era uma condição necessária à compra, o que não foi
5
de todo atendido por parte dos que lhe entregaram o imóvel. Consequentemente, também
defendeu que os apelados agiram de má-fé ao não deixarem claro na relação de compra e
venda, que a vaga a ele direcionada era de acesso limitado. Pediu, portanto, que fosse
reembolsado em valor pecuniário, haja vista que não houve o atendimento às necessidades do
cliente de forma satisfativa e se observou ainda a indicação de danos morais.
Outrossim, foi informado ao Juiz que no registro imobiliário consta que o proprietário
do imóvel deveria fazer a negociação com outro morador, que apresentasse limitações físicas,
com o intuito de que o contratante em questão não sofresse nenhuma restrição e/ou
constrangimento no que diz respeito à utilização da vaga.
Em suma, o Juiz havia encerrado o caso sem a resolução de mérito, porque entendeu
que a venda do imóvel a um terceiro durante o curso da lide, representava a perda
superveniente do interesse de agir. Isso porque, não seria mais o apelante a utilizar o
apartamento e a sua vaga, logo, este seria uma parte ilegítima do processo, devendo o novo
morador provocar o Judiciário se julgasse necessário.
Sequencialmente, a parte recorreu, fundamentando que o pedido consistia no
abatimento do preço pago em razão do vício e não em desfazer a relação de compra e venda,
então é completamente assegurado a ele o direito de agir. Tendo visto isso, o fato de ter ele,
vendido ou não o apartamento no curso do processo, não atrapalha em nada o seu andamento,
até porque a negociação foi feita e paga por ele, e, por isso, somente ele poderia demonstrar
interesse em ser ressarcido. Foi utilizado o artigo 1.013, parágrafo 3°, I do Código de
Processo Civil para fundamentar este argumento que fala que a apelação levará novamente ao
tribunal a matéria impugnada, para que ela seja de conhecimento do Judiciário, que por sua
vez, deverá decidir pelo julgamento imediato ou não, se estiver com condições satisfatórias.
1.1 Voto
Diante dos fatos supracitados e havendo sido superada a propositura anterior, o
Desembargador-Relator, Pedro Bernardes de Oliveira, defendeu que esse acontecimento não
prejudica o apelante, já que possuir uma vaga adequada tem mais relação com comodidade e
conforto e não necessariamente com defeito ou mau funcionamento do imóvel. Acrescentou
que esses aspectos só podem ser considerados vícios redibitórios se afetarem o objetivo geral
do imóvel, fazendo com que ele perca as suas funcionalidades totais ou parciais e não
considerou que isso ocorreu no caso concreto que lhe fora apresentado.
6
Verificou ainda, que tal qual mencionou o apelante, existia a especificação no registro
imobiliário de que o vendedor faria a negociação com outro morador do condomínio.
Entretanto, ao contrário do que se esperava, utilizou esse argumento a favor dos apelados.
Uma vez que se o apelante sabia da existência do vício, este deixou de ser oculto e passou a
ser uma característica do ambiente, e se aquele não fez questão de questionar ou de tentar
resolver o problema antes da compra, aparentemente, agiu de má-fé (para posteriormente ter
direito de provocar o Poder Judiciário).
Desse modo, o relator, bem como os desembargadores Luiz Artur Hilário e Amorim
Siqueira, proferiram a decisão no sentido de não acolher os pedidos formulados:
Inalterada a sucumbência no feito, deve-se manter a distribuição dos
respectivos ônus tal como perpetrada no juízo de origem, salvo os honorários
de sucumbência, que devem ser majorados para 12% do valor atualizado da
causa, em atendimento ao §11 do art. 85 do CPC… Nego provimento ao
recurso. (Oliveira, Pedro Bernardes, 2022, p. 05)
Em suma, concluíram, que se deveria preservar a sentença anterior, entretanto, com
outra fundamentação de mérito. Fundamentação essa que acabou inviabilizando os pedidos
que foram feitos pela parte apelante, resultando em extinção da causa, mas dessa vez, com o
mérito resolvido.
2. DECISÃO ALTERNATIVA
Diante dos fatos narrados, para que se alcance o objetivo desta investigação, que visa
propor uma decisão alternativa ao que os Juízes decidiram, é necessário que se observe, sob
outro panorama, a possibilidade de configuração de vício redibitório oculto. O que,
consequentemente, terá resultado no atendimento ao provimento do recurso, onde a parte
autora será indenizada por danos morais e terá um abatimento de preço do valor pago. Para
isso, fazer-se-á, primeiramente, uma exploração sobre os mecanismos básicos que configuram
os vícios ocultos e danos morais.
7
2.1 Particularidades dos vícios redibitórios e a constatação de bem defeituoso
À priori, como bem foi abordado pela parte autora, o interesse de agir não é
prejudicado pela venda do bem antes do desfecho do processo. Isto porque, não se objetiva a
anulação contratual e sim o devido ressarcimento por vício redibitório, em decorrência da
limitação da vaga imposta pelo bemadquirido.
Nesse ínterim, como pode ser observado no pensamento de Nelson Nery, o presente
caso concreto é dotado desse interesse de agir, uma vez que essa vontade está diretamente
ligada com a ameaça a um direito ou a sua violação direta. Devendo a parte interessada
recorrer ao poder Judiciário e pedir por tutela pretendida, desde que essa possa lhe trazer
algum benefício do ponto de vista prático. (NERY, Nelson, 2003)
Sendo assim, o interesse de agir não deve ser suprimido no caso em questão, haja vista
que o apelante utilizou o seu direito de provocar o Judiciário. O que não destoa do princípio
da Inafastabilidade da Jurisdição, que também é conhecido por princípio de Acesso à Justiça e
consiste na impossibilidade do órgão competente eximir-se de julgar as lides uma vez que
sejam detectadas lesão ou ameaça ao direito - art. 5°, inciso XXXV da Constituição Federal
de 1988.
Além disso, foi o apelante quem realizou a negociação com os apelados e as
transações pecuniárias, sendo portanto a parte legítima do caso, nos termos do artigo 109 do
novo Código de Processo Civil (2015): “A alienação da coisa ou do direito litigioso por ato
entre vivos, a título particular, não altera a legitimidade das partes”. Derrubando assim, a
prerrogativa acionada pelo relator de que somente o atual dono do imóvel poderia ser parte
integrante do processo instaurado.
Além do argumento mencionado, outro mecanismo que foi utilizado pelo Juiz,
consiste no fato da inexistência de vício redibitório. Já que para ele, em uma compra de
imóvel, a limitação de vaga de estacionamento não consiste em defeito do bem adquirido e
sim em uma questão relacionada ao conforto do cliente. O que por si só já seria motivo
suficiente para julgar procedente o pedido do apelante, uma vez que fora mencionado na
petição inicial que a vaga foi condição essencial para que ele adquirisse o apartamento e o
Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 4°, assegura expressamente:
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o
atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade,
8
saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da
sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de
consumo, atendidos os seguintes princípios… (CDC Brasileiro, 1990, p. 01)
Sendo assim, se um dos principais objetivos do Código de Defesa do Consumidor
consiste na conclusão efetiva dos objetivos dos consumidores e a preservação da sua
dignidade, deveria este ter sido o argumento do relator em evidência. No entanto, de forma
paralela, buscar-se-á o afastamento da propositura anteposta e o devido enquadramento do
caso em vício redibitório, como solicitou a parte apelante. Para isso, é preciso entender o que
seriam esses vícios e quais as suas implicações em contratos já firmados.
Indo ao encontro do que se verifica no artigo 441 do Código Civil, Carlos Roberto
Gonçalves (2012) define vícios redibitórios da seguinte maneira:
O vício redibitório é erro objetivo sobre a coisa, que contém um defeito
oculto. O seu fundamento é a obrigação que a lei impõe a todo alienante, nos
contratos comutativos, de garantir ao adquirente o uso da coisa.
(GONÇALVES, Carlos Roberto, 2012, p. 293)
Partindo desse pressuposto, para Gonçalves o uso da coisa pelo adquirente é o que
deve reger essas questões contratuais. O alienante deve, portanto, oferecer todas as condições
necessárias para que isso venha a ocorrer. Acrescentando que o artigo 26 do Código de
Defesa do Consumidor prevê as situações de redibição em casos ocultos, as quais sejam: “Art.
26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em: (...) II -
noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis.” (1990, p, 04 ).
Além disso, o relator estabeleceu que constando a declaração específica no registro
imobiliário, já seria descaracterizada a possibilidade de redibição, já que não seria um vício
oculto. Todavia, o CDC prevê essa possibilidade (“casos aparentes”). Destarte, estando dentro
do prazo de 90 (noventa) dias da compra, não existia mecanismo legal capaz de barrar a
possibilidade de devolução de parte do valor disponibilizado pela compra do imóvel.
Além disso, não se pode negar, que se existia no contrato a possibilidade de
negociação do alienante com outro condômino, sendo que aquele não o fez, ele não agiu com
a boa-fé objetiva nessa relação de compra e venda. Ao passo que o adquirente, contrariando o
que foi exposto durante o julgamento, demonstrou preocupação em resolver o problema antes
e depois de assinado o contrato, utilizando-se do diálogo antes de levar o caso aos meios
judiciais.
9
2.2 Indenização por abatimento no valor pago e danos morais
Dando continuidade às exposições de fundamentação diversa para a resolução do
mérito, após a conclusão de que houve um vício redibitório, faz-se necessária uma exposição
acerca dos pedidos da petição inicial, os quais sejam, a indenização por diminuição do valor
da compra e a indenização por danos morais.
Em uma primeira análise, a indenização por abatimento do valor pago, como o próprio
nome sugere, seria a diminuição do preço total acordado entre as partes em decorrência de
vícios não mencionados. Nos casos em que a prestação já houver sido desembolsada, deve ser
restituída parte do valor disponibilizado.
Essa primeira hipótese se fundamenta no artigo 442 do Código Civil (2002), que
assegura a possibilidade de extinguir o contrato ou de exigir que ocorra o abatimento do
preço. Se o adquirente optar por anular o contrato (art. 443 do CC/2002), precisa ser analisado
se o alienante sabia da existência do vício, se souber, deve devolver o que recebeu e ainda
arcar com as perdas e os danos advindos, se não tivesse ciência deveria apenas devolver o
valor recebido e pagar as despesas contratuais.
Por sua vez, a indenização por danos morais, acontece quando a parte envolvida sofre
alguma lesão de ordem mental ou psicológica. Dessa forma, o dano moral se diferencia do
dano material por corresponder à parte emocional (dignidade, honra, moral, saúde e a imagem
da pessoa). Pode ainda apresentar um caráter subjetivo, já que o que representa dano moral
para uma pessoa pode não representar nada para outro indivíduo. (MELLO, 2004)
A fundamentação referente à preservação à dignidade da pessoa humana e a
indenização decorrente de danos morais pode ser encontrada na Constituição Federal
brasileira promulgada em 1988, mais precisamente no capítulo 1º, inciso III e no capítulo 5°
incisos V e X.
Desta forma, considerando que existem vícios redibitórios presentes nesse caso - tal
qual foi demonstrado no tópico 2.1 - e que o requerente agiu de boa-fé e respeitou todos os
demais trâmites legais, pode-se perceber que é totalmente válida que seja exigida a
indenização. Em suma, o alienante deve restituir a parte lesada tanto por causa do abatimento
do valor quanto pela questão de danos morais.
Por fim, se mostrará como, ao contrário do que decidiram os desembargadores,
10
poderia-se decidir pela concessão do provimento ao recurso. Para isso, serão utilizadas
fundamentações advindas de decisão Jurisprudencial, sobretudo um outro julgado do Tribunal
de Justiça do Rio Grande do Sul, do ano de 2019.
2.3 Jurisprudência e a concessão de provimento ao recurso
Paralelamente, na Apelação Cível n° 70079522843, julgada no ano de 2019, o
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) se posicionou no sentido de ser favorável à
restituição da parte adquirente e pelos devidos pagamentos de indenização por perdas e danos,
negando a apelação por parte do alienante. Esta situação se assemelha ao caso aqui narrado,
por constituir compra e venda de bem dotado de vício redibitório, resultando em indenização.
Eis a ementa:
APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO DECLARATÓRIA DE VÍCIO
REDIBITÓRIO. PERDAS E DANOS. VÍCIO REDIBITÓRIO.
RESTITUIÇÃO DO PREÇO PAGO. A caracterização do vício redibitório
justificaa determinação de restituição imediata do preço pago pela parte
demandante e a indenização Apelação desprovida. (Apelação Cível Nº
70079522843, Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Carlos Cini Marchionatti, Julgado em 30/01/2019). (TJ-RS - AC:
70079522843 RS, Relator: Carlos Cini Marchionatti, Data de Julgamento:
30/01/2019, Vigésima Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça
do dia 11/02/2019)
Esse caso versa sobre a relação de compra e venda, onde a adquirente realizou a
compra de um automóvel que apresentou várias limitações, que tornavam-no incompatível
com as suas necessidades - de forma semelhante ao caso estudado, onde a vaga na garagem
era condição necessária para a realização do acordo contratual.
Tendo a cidadã, utilizado-se do princípio do amplo acesso à justiça para provocar o
Judiciário e exigir indenização à parte que lhe vendeu o automóvel. O Juiz de primeira
instância acatou o seu pedido e julgou parcialmente procedente a ação declaratória de vício
redibitório cumulada com perdas e danos. Na segunda entrância, os desembargadores
entenderam, de maneira unânime, ser válida a reafirmação da sentença anterior de forma
integral.
11
O fabricante e a concessionária são solidariamente responsáveis. O defeito
justifica a restituição da coisa e do preço. Das circunstâncias presume-se o
dano moral. Voto pela reafirmação da sentença que resolveu o contrato entre
as partes e determinou a restituição imediata do preço pago pela
demandante, já que o produto já foi devolvido à concessionária, e a devida
indenização pelo dano moral causado. Diante do exposto, voto pelo
desprovimento dos recursos, reafirmando integralmente a sentença. Condeno
as demandadas ao pagamento de honorários advocatícios recursais ao
procurador da parte demandante, que árbitro em 15% de Condenação.
(MARCHIONATTI, Carlos Cini, TJ-RS, 2019, p. 10)
Por fim, considerando que os dois casos se equiparam normativamente e
doutrinariamente, caberia à 9ª Turma Cível do tribunal de Justiça de Minas Gerais acolher os
pedidos do apelante, a fim de que este fosse ressarcido. Primeiro, em decorrência da
diminuição do valor do imóvel que não condizia com o que o mesmo esperava e portanto
também não satisfez as suas pretensões (vaga de garagem). Segundo, por danos morais, já que
sofreu emocionalmente em decorrência das limitações presentes no espaço-acessório àquele
idealizado e posteriormente comprado pelo apelante.
CONCLUSÃO
Deduz-se, portanto, que o Princípio da inafastabilidade da jurisdição e o da boa-fé
processual devem ser pilares observados no julgamento deste caso. Além de que o Código
Civil, o Código de Processo Civil, o Código de Defesa do Consumidor e até mesmo a própria
Constituição Federal apresentam mecanismos que caracterizam adequadamente todos os
argumentos trazidos pela parte autora. Do mesmo modo, o caso concreto apresentado também
se encaixa perfeitamente nessa lide.
Por fim, nota-se que com base em toda a fundamentação posta, além de ser possível a
indenização por vícios redibitórios, também é possível que haja restituição por danos morais.
Uma vez que ficou demonstrado que os apelados agiram de má-fé, comprometendo-se a
resolver o problema depois que fosse assinado o contrato. Chegou-se portanto ao
entendimento de que os desembargadores deveriam acolher os pedidos do apelante, votando
favoravelmente ao provimento do recurso.
12
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.
Brasília, DF: Senado, 1988. BRASIL. Código de Processo Civil (2015). Código de Processo
Civil Brasileiro.
EDUARDA, Maria. Descubra o que é vício redibitório. Âmbito Jurídico, 2021. Disponível
em: <https://ambitojuridico.com.br/noticias/o-que-e-vicio-redibitorio/>. Acesso em: 01 de
maio de 2022.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 1 : parte geral / Carlos
Roberto Gonçalves. — 10. ed. — São Paulo : Saraiva, 2012.
Quando você deve pedir uma indenização por danos morais? Fernandes Sociedade de
Advogados, 2021. Disponível em:
<https://nfernandes.com.br/quando-voce-deve-pedir-uma-indenizacao-por-danos-morais/#:~:t
ext=A%20indeniza%C3%A7%C3%A3o%20por%20danos%20morais,de%20repara%C3%A
7%C3%A3o%20por%20danos%20morais>. Acesso em: 01 de maio de 2022.
Tribunal de Justiça de Minas Gerais TJ-MG - Apelação Cível: AC
0710136-18.2012.8.13.0079 MG. Jus Brasil, 2022. Disponível em:
<https://tj-mg.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1468506030/apelacao-civel-ac-1000022006804
3001-mg/inteiro-teor-1468506302>. Acesso em: 01 de maio de 2022.
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul TJ-RS, Apelação Cível AC 70079522843 RS. Jus
Brasil, 2019. Disponível em:
<https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/673845684/apelacao-civel-ac-70079522843-rs/in
teiro-teor-673845703>. Acesso em: 01 de maio de 2022.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: contratos / Sílvio de Salvo Venosa. – 20. ed. – São
13
Paulo: Atlas, 2020
VILAÇA, Leonardo Ferreira. Breves ponderações sobre a boa-fé objetiva nas relações
contratuais. Jus.com.br, 2017. Disponível em:
<https://jus.com.br/artigos/60794/breves-ponderacoes-sobre-a-boa-fe-objetiva-nas-relacoes
-contratuais>. Acesso em: 10, mar. de 2022.

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