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AMANDA RODRIGUES DIP - DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA Significa que a paciente apresenta infecção e inflamação do sistema genital superior. A DIP é causada por microrganismos que colonizam a endocérvice e ascendem até o endométrio e as tubas uterinas. A inflamação pode estar presente em qualquer ponto de uma sequência que inclui endometrite, salpingite e peritonite. FATORES DE RISCO Diversos são os fatores de risco para DIP e a maior parte deles corresponde a situações de vulnerabilidade social, já que, a maior etiologia dessa síndrome é de causa sexualmente transmissível. Idade entre 15 e 24 anos: corresponde ao maior fator de risco para DIP e o risco é tanto maior quanto mais cedo for o início da atividade sexual. Entretanto não somente a atividade sexual predispõe à DIP, mas também a imaturidade do epitélio cervical e a utilização de contraceptivo oral. Nível socioeconômico baixo: pela associação com comportamentos promíscuos, menos contato com cuidados médicos, hábitos de higiene deficientes e maior incidência de ISTs. • Vida sexual ativa: a frequência da atividade sexual influencia pela maior probabilidade de entrar em contato com agentes causadores de DIP e pela maior facilidade na ascenção microbiana. • Múltiplos parceiros: é um fator de risco importante, pelo contato da mulher com parceiros portadores de ISTs, porém se torna ainda mais importante quando as relações sexuais são desprotegidas. • Período menstrual: A ascensão dos microrganismos é favorecida por variações hormonais do ciclo menstrual. O muco cervical durante o fluxo menstrual apresenta menor efeito bacteriostático. • Menstruação retrógrada: pode favorecer a ascensão dos agentes patogênicos. • Características imunológicas: podem contribuir para a disseminação da infecção. • Antecedentes ginecológicos e obstétricos: Esse grupo de risco heterogêneo engloba mulheres que realizaram a inserção de DIU há menos de 20 dias, histeroscopia, curetagem, partos recentes, abortos e utilização de duchas vaginais. A utilização de duchas vaginais pode parecer estranha quando se diz, porém o risco se dá devido à destruição da microbiota normal da vagina, com favorecimento de outras bactérias até o trato genital superior. AMANDA RODRIGUES • Utilização de pílulas combinadas: pela possibilidade de causar ectopia, facilita a infecção por N. gonorrhoeae e C. Trachomatis. • História pregressa de DIP, vaginites e vaginoses bacterianas. QUADRO CLÍNICO O quadro clínico geralmente tem início durante ou após a menstruação, podendo também surgir alguns dias ou semanas após o contato com alguma IST. Os sinais e sintomas são inespecíficos e variados, porém existem algumas particularidades a depender da etiologia e da estrutura acometida. Os sintomas mais frequentes são: Dor pélvica: aguda ou insidiosa, na maior parte das vezes bilateral, de início durante ou logo após a menstruação. Corrimento vaginal: purulento, com ou sem odor fétido. Disuria e dispareunia: presente principalmente em casos insidiosos e crônicos. Náuseas e vômitos: surgem quase sempre quando há acometimento peritoneal (abcessos tubo-ovarianos). Febre e calafrios: é um sintoma inespecífico, porém auxilia no diagnóstico diferencial de gravidez ectópica. Metrorragia: presente particularmente em 1/3 das pacientes, sendo as mais acometidas as jovens e com envolvimento endometrial. Astenia. Dor à mobilização uterina e palpação dos anexos. Tensão abdominal nos quadrantes inferiores do abdome, distensão abdominal e ausência ou diminuição dos ruídos hidro- aéreos. DIAGNÓSTICO O diagnóstico diferencial de DIP, quando sintomática, deverá ser realizado mediante manifestações uroginecológicas, gastrointestinais e esqueléticas. Com isso, diversas hipóteses devem ser levantadas (por exemplo: gravidez ectópica, apendicite aguda, infecção do trato urinário, litíase ureteral, torção de tumor cístico de ovário, torção de mioma uterino, rotura de cisto ovariano, endometriose (endometrioma roto), diverticulite etc.) a fim de se implantar terapêutica precoce e evitar sequelas nos pacientes. EXAME CLÍNICO O profissional de saúde deverá realizar a aferição dos sinais vitais, o exame abdominal completo, exame especular vaginal e o exame bimanual. Lembrando que o exame especular vaginal deve incluir a inspeção do colo do útero para verificar se ele está friável e se existe a presença de corrimento mucopurulento cervical. Além disso, no exame bimanual não pode faltar a mobilização do colo e palpação dos anexos. O diagnóstico clínico de DIP é feito com base em uma lista de critérios: maiores, menores e elaborados, presentes na lista abaixo. O diagnóstico é realizado a partir da presença de três critérios maiores + um critério menor ou apenas um critério elaborado isoladamente. Critérios maiores Dor no hipogástrio Dor à palpação de anexos Dor à mobilização de colo uterino Critérios menores T. axilar >37,5°C ou T. retal >38,3°C Conteúdo vaginal ou secreção endocervical anormal Massa pélvica + de 5 leucócitos/campo de imersão em material de endocérvice Leucocitose em sangue periférico PCR ou VHS elevadas Comprovação laboratorial de infecção cervical por gonococo, clamídia ou micoplasmas Critérios elaborados Evidência histopatológica de endometrite AMANDA RODRIGUES Presença de abscesso tubo-ovariano ou de fundo de saco de Douglas em estudo de imagem Laparoscopia com evidência de DIP TRATAMENTO CLAMÍDIA A Chlamydia trachomatis, causadora da clamídia, é uma bactéria gram-negativa que causa infecções sexualmente transmissíveis em todo o mundo. A clamídia, além de ser transmitida por meio do contato sexual, pode ter transmissão vertical (infecção passada da mãe para o bebê durante a gestação). Nas mulheres afeta mais comumente o colo do útero, sendo a doença inflamatória pélvica (DIP) a complicação mais comum da infecção por C. trachomatis, contribuindo para o risco de gravidez ectópica futura e infertilidade. EPIDEMIOLOGIA De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem mais de 140 milhões de infectados no mundo e cerca de 6 milhões de pessoas desenvolveram cegueira nos países mais prevalentes como consequência direta da infecção. Segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC/2017), é a infecção bacteriana mais comumente relatada como causa de uretrite em homens e cervicite em mulheres, acometendo principalmente pessoas na faixa etária entre 15 e 24 anos. Os principais fatores de risco incluem novo parceiro sexual ou mais de um parceiro sexual nos três meses anteriores, história de infecção por C. trachomatis ou outra infecção sexualmente transmissível (IST) e uso inconsistente de preservativo. FISIOPATOLOGIA A C. trachomatis é uma bactéria coco Gram-negativo. Foram descritos 18 sorotipos distintos, sendo que apenas dois são responsáveis por infecções do trato genital, os sorotipos D e K1. Dentro do organismo humano a clamídia sofre endocitose pela célula do hospedeiro e dentro da dela AMANDA RODRIGUES converte-se da forma inativa para forma metabolicamente ativa. Esse processo dificulta que a bactéria seja eliminada pelo sistema de defesa do indivíduo infectado. QUADRO CLÍNICO EM MULHERES Cervicite: a grande maioria das mulheres infectadas no colo do útero não apresenta sinais nem sintomas. Quando ocorrem, os sintomas são altamente inespecíficos, como corrimento vaginal, sangramento vaginal intermenstrual e sangramento pós-coital. Da mesma forma, achados anormais durante inspeção do colo uterino são encontrados na minoria de mulheres com infecção genital por clamídia. Quando os sinais estão presentes, incluemachados clássicos de cervicite, como secreção endocervical mucopurulenta, sangramento endocervical facilmente induzido ou ectopia edematosa. Uretrite: algumas mulheres se queixam de sintomas típicos de uma infecção do trato urinário (ITU), como aumento da frequência urinária e disúria, e podem ser diagnosticadas erroneamente como tendo cistite, a menos que o teste específico para C. trachomatis seja realizado. Doença inflamatória pélvica: a C. trachomatis pode ascender ao útero e ovários onde pode ocorrer doença inflamatória pélvica (DIP). Quando os sintomas de DIP estão presentes, as dores abdominais e pélvicas são os mais comuns, além do maior risco de infertilidade. Periepatite (síndrome de Fitz-Hugh-Curtis) – Mais raramente, pacientes com infecção por clamídia desenvolvem peri-hepatite, inflamação da cápsula hepática e das superfícies peritoneais adjacentes. Complicações da gravidez – Além do risco de gravidez ectópica futura após DIP associada à clamídia, a infecção genital por clamídia durante a gravidez pode aumentar o risco de ruptura prematura das membranas, parto prematuro e bebês com baixo peso ao nascer. QUADRO CLÍNICO DE CLAMÍDIA COMUNS A HOMENS E MULHERES Proctite – A proctite por clamídia, definida como inflamação da mucosa retal distal, ocorre principalmente em mulheres e homens que fazem sexo com homens (HSH) que mantêm relações anais receptivas. Os sintomas incluem dor anorretal, secreção, tenesmo, sangramento retal e constipação. Conjuntivite – Os mesmos sorotipos de C. trachomatis que causam doenças genitais (D a K1) podem infectar as células da conjuntiva através do contato direto com secreções genitais contaminadas. A característica é de uma lesão eritematosa não purulenta da superfície epitelial, que pode assumir uma aparência de paralelepípedo. Faringite – a faringite causada pelo C. trachomatis não tem repercussão clínica importante. A bactéria foi identificada de amostras coletadas na faringe a partir de estudos científicos, levantando a hipótese que esse local sirva como reservatório para a bactéria. Artrite reativa – a C. trachomatis é um importante patógeno associado a artrite reativa sexualmente adquirida. Uma minoria de pacientes com artrite reativa adquirida sexualmente desenvolve a tríade de artrite reativa completa, com artrite, conjuntivite ou uveíte e uretrite ou cervicite, o que dificulta o diagnóstico. DIAGNÓSTICO Devido aos sinais e sintomas não serem específicos de clamídia, testes laboratoriais são necessários para o diagnóstico. O teste diagnóstico de escolha para infecção por clamídia do trato geniturinário é o teste de amplificação de ácido nucleico (NAAT) de esfregaços vaginais para mulheres ou urina para homens. O NAAT também deve ser usado em esfregaços retais para diagnosticar a proctite por clamídia. No entanto, na impossibilidade de realização do NAAT, os pacientes com sinais e sintomas consistentes com clamídia podem ser tratados empiricamente. Outros testes não são recomendados rotineiramente, como cultura e sorologia. TRATAMENTO Os objetivos do tratamento com antibiótico são prevenir as complicações relacionadas à clamídia, como doença inflamatória pélvica, infertilidade e gravidez ectópica, diminuir o risco de transmissão a outras pessoas e obter a resolução dos sintomas. O esquema terapêutico indicado pelas diretrizes nacionais: AMANDA RODRIGUES Azitromicina 500mg, 2 comprimidos, VO, dose única OU Amoxicilina 500mg, VO, 8/8h, por 7 dias A terapia empírica para infecção por clamídia deve ser oferecida a pessoas que apresentam cervicite, doença inflamatória pélvica ou uretrite. GONORREIA A gonorreia é doença infecciosa causada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae. Ela é transmitida principalmente por contato sexual ou perinatal. A gonorreia é uma doença que afeta principalmente trato genital inferior e, menos comumente, reto, faringe e conjuntiva. EPIDEMIOLOGIA Em 2008, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou a incidência global de N. gonorrhoeaefoi de 106 milhões de casos, o que representou um aumento de 21 por cento em relação à estimativa de 2005. As áreas de maior incidência incluíram as regiões da África e do Pacífico Ocidental (incluindo China e Austrália). Os fatores de risco para gonorreia incluem um novo parceiro sexual, múltiplos parceiros sexuais, ser solteiro, idade jovem, etnia minoritária, baixo nível educacional e socioeconômico, história de abuso de substâncias e história de um episódio anterior de gonorreia. As taxas relatadas de infecção gonocócica foram historicamente mais altas em homens do que em mulheres, diferença atribuída principalmente à maior taxa de doença assintomática em mulheres e à ocorrência de infecção entre homens que fazem sexo com homens (HSH). FISIOPATOLOGIA A N. gonorroheae primariamente infecta o epitélio colunar. A ligação ao epitélio mucoso, mediada em parte pelos pilli e pela proteína Opa, é seguida nas próximas 24-48 horas pela penetração no organismo através das células epiteliais para chegar ao tecido submucoso. Há resposta vigorosa de polimorfonucleares, com descamação do epitélio, desenvolvimento de microabscessos submucosos e formação de exsudato. Lâminas coradas revelam grande número de gonococos dentro de poucos neutrófilos, enquanto a maioria das células não contêm organismos. QUADRO CLÍNICO EM MULHERES A maioria das infecções gonocócicas genitais em mulheres é assintomática. O colo do útero é o local da mucosa mais comumente infectado em mulheres. Quando sintomática, a infecção cervical gonocócica pode se apresentar com os achados típicos de cervicite, incluindo prurido vaginal e secreção cervical mucopurulenta. É importante ressaltar que esses sintomas e sinais, quando presentes, são indistinguíveis daqueles observados com cervicite aguda de outras causas. Algumas mulheres também podem ter envolvimento sintomático da uretra (disúria) ou das glândulas de Bartholin (dor perilabial). A doença inflamatória pélvica (DIP) ocorre em aprox. 10-20% das mulheres com gonorréia cervical e a N. gonorrhoeae é estimado como o organismo causador em 40 por cento dos casos de DIP. Os sintomas de DIP incluem dor pélvica/abdominal, sangramento vaginal anormal e dispareunia. Se a DIP não for tratada pode levar à infertilidade. DIAGNÓSTICO O diagnóstico laboratorial da gonorréia depende da identificação da N. gonorrhoeae em um local infectado. O isolamento por cultura representa o método diagnóstico padrão e sempre deve ser utilizado. Outros testes diagnósticos mostram-se inferiores, mas podem ser úteis quando o isolamento não é prático pela ausência de acesso a laboratório ou dificuldades no transporte do espécime. A amplificação do DNA pela reação em cadeia da polimerase (PCR) oferece sensibilidade comparável a cultura e, se disponível, pode ser utilizada. AMANDA RODRIGUES TRATAMENTO Infecção anogenital não complicada (uretra, colo do útero e reto): Ciprofloxacina 500 mg, VO, dose única, MAIS Azitromicina 500 mg, 2 comprimidos, VO, dose única; Ceftriaxona, 500 mg, IM, dose única, MAIS Azitromicina 500 mg, 2 comprimidos, VO, dose única Em menores de 18 anos e gestantes: A ciprofloxacina é contraindicada, sendo a ceftriaxona o medicamento de escolha Infecção gonocócica disseminada: Ceftriaxona 1g IM ou IV /dia Manter até 24-48h após a melhora, quando o tratamento pode ser trocado para ciprofloxacina 500 mg, VO, 2xdia, completando ao menos 7 dias de tratamento. MICOPLASMA E UREAPLASMA Os micoplasmas e os ureaplasmas são bactérias cuja maioria das espécies é considerada apenas comensal para o ser humano. Entretanto, o Ureaplasma urealyticum e o Mycoplasma hominis são conceituados como micoplasmas genitais patogênicose são considerados também germes oportunistas, por causarem infecção em populações suscetíveis, principalmente em imunodeprimidos. Os micoplasmas podem ser encontrados em até 8% e 41% em mulheres assintomáticas sexualmente ativas. Estão claramente relacionados à atividade sexual e aos hormônios sexuais. Dispareunia, disúria, polaciúria, infecção urinária e genital; Corrimento vaginal incaracterístico. Descarga uretral de material com características purulentas; Graus variados de cervicite. TRATAMENTO Opções terapêuticas (usar apenas uma das opções): Doxiciclina: 100 mg – 2x ao dia por 7 dias; Tetraciclina: 500 mg – 4x ao dia por 7 dias; Eritromicina: 500 mg – 4x ao dia por 7 dias; Levofloxacino ou ciprofloxacino: 500 mg por dia por 7 dias; Azitromicina: 1g DU, ou 500 mg/dia por 5 dias. Fatores de risco Quadro clínico Diagnóstico Exame clínico Tratamento epidemiologia Fisiopatologia Quadro clínico em mulheres Quadro clínico de clamídia comuns a homens e mulheres Diagnóstico (1) Tratamento (1) Epidemiologia Fisiopatologia (1) Quadro clínico em mulheres (1) Diagnóstico (2) tratamento Tratamento (2)