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Necessidades Educativas Especiais

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Prévia do material em texto

1 
 
 
 
 
Módulo de Necessidades Educativas 
Especiais 
 
 
 
Universidade Pedagógica 
Centro de Educação Aberta e à Distancia 
Programa de Formação à Distância 
Rua Joao Carlos Raposo Beirao, n o 135 Maputo 
Av de Moçambique, Condomínio Vila Olímpica, Bloco 22, Ed 4, R/C, 
Telefone: 21-320860/2 
Telefone: 21 – 306720 
Fax: +258 21-322113 
 
 2 
 
 
Ficha técnica 
 
Autoria: Jofredino Faife 
Revisão Científica: Daniel Canxixe 
Revisão da Engenharia de EAD e Desenho Instrucional: Eduardo Moisés Humbane 
Edição Linguistica: Orlanda Gomane 
Edição técnica/Maquetização: Aurélio Armando Pires Ribeiro 
Capa: Valdinácio Florêncio Paulo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Primeira Edição © 2016 
Impresso e Encadernado por: 
 
 
 
 
 
 
 
 
© Todos os direitos reservados. Não pode ser publicado ou reproduzido em nenhuma forma ou meio –mecânico ou 
eletrónico- sem a permissão da Universidade Pedagógica. 
 
 
 3 
 
Índice 
Visão Geral do Módulo .................................................................................................................................................... 4 
Unidade no 1: Necessidades Especiais: enquadramento histórico, conceptual e político-legal ................................ 13 
Lição no 1: A Natureza Especial das Necessidades Educativas Especiais: Pedagogia especial e Necessidades Educativas 
Especiais .............................................................................................................................................................. 14 
Lição no 2: Necessidades Especiais e conceitos afins........................................................................................... 20 
Lição no 3: Necessidades educativas especiais como dificuldade evolutiva, de funcionamento educativo e de 
aprendizagem ...................................................................................................................................................... 29 
Lição no 4: Necessidade Educativas Especiais na perspectiva jurídica ................................................................. 34 
 
Unidade no 2: Tradições e marcos do atendimento aos alunos com Necessidades Educativas Especiais ............. 41 
Lição no 1: Educação Especial, Integração e Inclusão ............................................................................................ 42 
 
Unidade no3: Alunos com necessidades educativas especiais. Uma taxonomia possível? ..................................... 59 
Lição no 1: Principais categorias de Necessidades Educativas Especiais .............................................................. 60 
 
Unidade no4: Avaliação e programação para alunos com necessidades educativas especiais ............................. 78 
Lição no 1: O papel do professor no levantamento de necessidades educativas especiais .................................... 79 
Lição no 2: Abordagem de rede na intervenção para alunos com necessidades educativas especiais ................. 85 
Lição no 3: O plano educativo individualizado como hipótese de trabalho para alunos com necessidades educativas 
especiais ............................................................................................................................................................. 90 
Lição no 4: Necessidades educativas especiais. Que desafios para Moçambique? ................................................ 98 
 
 
 
 
 
 
 4 
 
Visão Geral do Módulo 
 
Introdução 
 Atravessamos um momento em que a educação afirma-se como um direito 
universal. Neste âmbito, o movimento de educação para todos defende a inclusão 
de todo o Ser humano no processo de educação formal. O que significa este 
princípio? Significa, antes de mais, que a escola deve preparar-se para acolher a 
todos os alunos, incluindo aqueles que, por uma série de motivos, não se 
enquadram nos padrões de prestação que a escola geralmente promove e avalia. 
Aos alunos que por várias razões enfrentam problemas de adaptação ao mundo 
escolar e por causa disso, por vezes, não conseguem passar de classe e abandonam 
a escola chamaremos alunos com necessidades educativas especiais (NEE). 
A educação de pessoas com NEE tem uma longa história. Em alguns períodos 
históricos, alunos que hoje acreditamos reunirem condições mínimas para serem 
escolarizados eram considerados ineducáveis. Quando recentemente esta 
concepção foi superada, colocou-se o difícil problema de definir a tipologia de 
educação adequada a estes alunos: escola especial, integração, inclusão? 
Este problema não se pode considerar de todo superado. De facto, tem sido objecto 
de debates acesos e de muitos desacordos. E, mesmo quando superadas as 
divergências teóricas, a prática tem mostrado que a educação de alunos com NEE é 
um campo difícil, que exige muito, dos professores, das escolas e das comunidades 
em que tais escolas se encontram inseridas. 
Moçambique não constitui uma excepção nesta área. Todavia, parece-nos claro o 
crescente interesse que as NEE têm granjeado, quer como objecto de estudo 
(particularmente nos cursos universitários voltados à formação de 
professores/gestores da educação), quer como prática de atenção educativa especial 
para alunos que se encontram nesta categoria. 
Assim, o presente módulo é uma reflexão sobre as NEE. Caso seja professor, muito 
 
 5 
provavelmente já ouviu falar de expressões como NEE, educação inclusiva, 
inclusão, integração, ensino/turma/classe especial, entre outras. Ou, possivelmente 
teve na sua turma, um aluno com um ritmo de aprendizagem diferente dos demais. 
Assim, o módulo propõe-se a sistematizar algumas experiências susceptíveis que 
lhe fornecer bases científicas para compreender melhor o problema. 
Neste módulo começaremos por definir este conceito complexo e explicar as suas 
origens para gradualmente entrarmos numa dimensão reflexiva sobre as práticas de 
educação de alunos com NEE no mundo. Por fim, com base nas experiências de 
outros países, iremos questionar-nos acerca do presente e do futuro da educação de 
alunos com NEE em Moçambique. 
 
Agradecimentos 
Agradeço a todos os estudantes da Universidade Pedagógica/Sagrada Família da 
Maxixe (UP - Maxixe) com os quais partilhei, ao longo do último triénio, parte das 
ideias aqui defendidas. Reitero, muito obrigado. 
 
Ma. Jofredino Faife 
 
 
 6 
 
Objectivos do Módulo 
 
Terminado o estudo do módulo de Necessidades Educativas Especiais, o estudante 
deverá ser capaz de: 
 Definir os conceitos de Necessidades Educativas Especiais, educação 
especial, integração e educação inclusiva; 
 Descrever os processos que levaram à afirmação do ideal da escola 
inclusiva; 
 Descrever as mudanças que a prática da educação inclusiva impõe à escola 
e aos seus membros; 
 Descrever as principais categorias de Necessidades Educativas Especiais; 
 Explicar o conceito, a pertinência e a composição de um plano educativo 
individualizado. 
 
 
 
 7 
 
 
Estrutura do Módulo 
 O módulo está organizado em Unidades de aprendizagem. Cada unidade tem 
uma introdução, objectivos de aprendizagem, auto-avalaição da unidade e resumo. 
Cada unidade está organizada em lições. Cada lição tem uma Introdução, a 
indicação do que deverá aprender (Objectivos), o conteúdo a ser estudado e as 
Actividades de aprendizagem, Exercícios, Auto-avaliação da lição e 
Comentários para as Actividades, Exercícios e Auto-avaliação para lhe ajudar a 
verificar e orientar a sua aprendizagem. 
 
O Módulo é comporto por 4 unidades temáticas. 
A primeira, sob o título “Necessidades Especiais: enquadramento histórico, 
conceptual e político-legal” comporta quatro lições voltadas a discutir os termos 
os conceitos-chave bem como a história e evolução da disciplina e do seu objecto 
de estudo. 
A segunda unidade, intitulada “Tradições e marcos do atendimento aos alunos 
com Necessidades Educativas Especiais” é composta por uma longa liçãoque 
pode ser dividida em três partes, cada uma das quais representando a evolução do 
atendimento dos alunos com Necessidades Educativas Especiais até ao nossos dias. 
Do ponto de vista cronológico e de disposição do conteúdo na lição, são destacadas 
três fases: ensino especial, integração e inclusão. 
A terceira unidade, com o título “Alunos com Necessidades Educativas 
Especiais. Uma taxonomia possível?” apresenta-se como uma longa lição na qual 
são analisados os principais tipos de necessidades educativas especiais, os quais 
podem ser estudados separadamente (em função de cada tópico, por exemplo, 
ocupar-se primeiramente de necessidades educativas especiais auditivas e, noutro 
momento, ocupar-se de necessidades educativas especiais visuais). 
Por fim, sob o título “Avaliação e programação para alunos com necessidades 
educativas especiais” apresenta-se a quarta unidade, composta por quatro lições. 
Esta unidade trata de alguns aspectos da didáctica aplicados à pedagogia especial. 
 
 8 
Nela reflecte-se, por exemplo, sobre a planificação/programação para alunos com 
necessidades educativas especiais, sobre a composição das equipas de atendimento 
aos alunos com necessidades educativas especiais, entre outros tópicos. Por fim, 
numa perceptiva retrospectiva, são apresentados brevemente alguns aspectos que 
parecem problemáticos no atendimento aos alunos com necessidades educativas 
especiais no nosso país. 
 
A quem se destina o Módulo 
 Este Módulo foi concebido para todos aqueles que estão inscritos no Curso de 
Licenciatura em Ensino Básico e/ou Administração e Gestão da Educação (ou 
ainda outros afins) oferecidos pela Universidade Pedagógica de Moçambique, no 
regime EaD. São estudantes que possuem 12ª classe ou equivalente. 
 
Avaliação 
 As modalidades de avaliação sumativa serão combinadas com o Tutor.. Em geral, 
tais actividades poderão variar em número e tipologia, por exemplo, testes escritos, 
trabalhos independentes em grupo ou individuais, actividades de campo, fichas de 
leitura, entre outras. 
 
 9 
 
 
Ícones de Actividades 
 Caro estudante, para lhe ajudar a orientar-se no estudo deste módulo e 
facilmente localizar cada um dos elementos da lição, foram usados marcadores de 
texto do tipo ícones. Os ícones (na sua maioria) foram concebidos pelo CEMEC 
(Centro de Estudos Moçambicanos e Etnociência) da Universidade Pedagógica. 
Tomou-se em consideração a diversidade cultural Moçambicana. Encontre, a 
seguir, a lista de ícones, o que a figura representa e a descrição do que cada um 
deles indica no módulo: 
 
1. Exercício 
 
 
[enxada em actividade] 
2. Actividade 
 
 
 
[colher de pau com alimento 
para provar] 
 
3. Auto-Avaliação 
 
 
 
 
[peneira] 
4. Exemplo/estudo de caso 
 
 
 
[Jogo Ntxuva] 
5. Debate 
 
 
[à volta da fogueira] 
6. Trabalho em grupo 
 
 
[mãos unidas] 
7. Tome nota/Atenção 
 
[batuque soando] 
8. Objectivos 
 
[estrela cintilante] 
9. Leitura 
 
[livro aberto] 
 
 
 10 
10. Reflexão 
 
 
[embondeiro] 
11. Tempo 
 
[sol] 
12. Resumo 
 
 
 
[sentados à volta da 
fogueira] 
13. Terminologia/ 
 Glossário 
 
 
14. Vídeo/Plataforma 
 
[computador] 
 
15. Comentários 
 
 
 
 
[balão com texto] 
 
1. Exercício (trabalho, exercitação) – A enxada relaciona-se com um tipo de trabalho, indica que é 
preciso trabalhar e pôr em prática ou aplicar o aprendido. 
2. Actividade - A colher com o alimento para provar indica que é momento de realizar uma 
actividade diferente da simples leitura, e verificar como está a ocorrer a aprendizagem. 
3. Auto-Avaliação – A peneira permite separar elementos, por isso indica que existe uma proposta 
para verificação do que foi ou não aprendido. 
4. Exemplo/Estudo de caso – Indica que há um caso a ser resolvido comparativamente ao jogo de 
Ntxuva em que cada jogo é um caso diferente. 
5. Debate – Indica a sugestão de se juntar a outros (presencialmente ou usando a plataforma digital) 
para troca de experiências, para novas aprendizagens, como é costume fazer-se à volta da fogueira. 
6. Trabalho em grupo –Para a sua realização há necessidade de entreajuda, que se apoiem uns aos 
outros 
7. Tome nota/Atenção – Chamada de atenção 
8. Objectivos – orientação para organização do seu estudo e daquilo que deverá aprender a fazer ou a 
fazer melhor 
9. Leitura adicional – O livro indica que é necessário obter informações adicionais através de livros 
ou outras fontes. 
 
 11 
10. Reflexão – O embondeiro é robusto e forte. Indica um momento para fortalecer as suas ideias, 
para construir o seu saber. 
11. Tempo – O sol indica o tempo aproximado que deve dedicar á realização de uma tarefa ou 
actividade, estudo de uma unidade ou lição. 
12. Resumo – Representado por pessoas sentadas à volta da fogueira como é costume fazer-se para se 
contar histórias. É o momento de sumarizar ou resumir aquilo que foi tratado na lição ou na 
unidade. 
13. Terminologia/Glossário – Representado por um livro de consulta, indica que se apresenta a 
terminologia importante nessa lição ou então que se apresenta um Glossário com os termos mais 
importantes. 
14. Vídeo/Plataforma – O computador indica que existe um vídeo para ser visto ou que existe uma 
actividade a ser realizada na plataforma digital de ensino e aprendizagem. 
15. Balão com texto – Indica que existem comentários para lhe ajudar a verificar as suas respostas às 
actividades, exercícios e questões de auto-avaliação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 12 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pág. 12 - 39 
 
Necessidades Especiais: 
enquadramento histórico, 
conceptual e político-legal 
Conteúdos 
1
U
N
ID
A
D
E 
Unidade no 1: Necessidades Especiais: enquadramento 
histórico, conceptual e político-
legal…………...............….................................................................…13 
Lição no 1: A Natureza Especial das Necessidades Educativas 
Especiais: Pedagogia especial e Necessidades Educativas 
Especiais………………………..………………………………………………………………14 
1.1. Pedagogia Especial e Necessidades Educativas 
Especiais……………………………………………….........................................……15 
Lição no 2: Necessidades Especiais e conceitos afin....................20 
2.1. Necessidades Educativas Especiais………………………..……………..21 
2.2. Deficiência……………………………………………..………..…………………….24 
2.3. Desability/Disabilidade…………………………….……..…………………..26 
Lição no 3: Necessidades educativas especiais como dificuldade 
evolutiva, de funcionamento educativo e de 
aprendizagem…………………………………………………..…..………………………29 
3.1. Obstáculo, o dano e o estigma social. Três “sinais de alerta” 
sobre possíveis casos de NEE……....................................................…30 
Lição no 4: Necessidade Educativas Especiais na perspectiva 
jurídica…………………………………………………………………….………….……….34 
4.1. Da declaração Universal dos Direitos Humanos à emergência 
do direito à educação de pessoas com Necessidades Educativas 
Especiais………………….…………………………………………………………………35 
 
 
 
 13 
 
Unidade no 1: Necessidades Especiais: enquadramento histórico, 
conceptual e político-legal 
 
Introdução 
 
 
A primeira unidade do módulo propõe-se a apresentar questões gerais sobre a 
disciplina. Nela traça-se uma breve história do tratamento dedicado à diversidade 
no mundo antigo para chegar a questionar-se sobre entendimento que hoje temos 
sobre a diversidade, particularmente no contexto escolar. 
Por fim, esboça-se uma breve perspectiva normativa, questionando-se sobre a 
jurisdição (inter)nacional relativa à educação de pessoas com necessidades 
educativas especiais. Para compreender melhor esta secção necessitará de alguns 
documentos normativos (Declaração de Salamanca, Declaração Mundial sobre 
Educação para TODOS, Lei 6/92, entre outros) que poderá baixar facilmente da 
internet. 
Embora se trate apenas da primeira unidade,e de uma matéria provavelmente 
nova, esperamos que não se sinta acanhado. Afinal, como o destacamos na 
introdução, na verdade, no seu dia-a-dia como professor, muito provavelmente já 
encontrou situações de Necessidades Educativas Especiais. Contamos com a sua 
experiência a este respeito. Vamos a isto? 
 
 
 Objectivos 
 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 Descrever o tratamento reservado à diversidade no mundo antigo; 
 Definir o conceito de Necessidades Educativas Especiais; 
 Identificar, na legislação internacional, os documentos que tutelam o direito à 
educação para as pessoas com necessidades educativas especiais; 
 Descrever as propostas/inovações apresentadas pelos vários documentos 
internacionais para o tratamento dos alunos com necessidades educativas 
especiais; 
 Descrever o tratamento reservado às pessoas com necessidades educativas 
especiais pela lei-quadro do sistema educativo nacional. 
 
 14 
Lição no 1: A Natureza Especial das Necessidades Educativas 
Especiais: Pedagogia especial e Necessidades Educativas Especiais 
 
Introdução 
 
 
Nesta lição apresenta-se a natureza das Necessidades Educativas Especiais, 
definindo de modo particular o seu campo de pertença. Certamente já notou que 
este é o único módulo do seu curso cujo nome apresenta o termo “especial”. Pode 
então perguntar-se, o que há de especial nas Necessidades Educativas Especiais. 
Existirá, por exemplo, Psicologia especial, Filosofia especial ou Geografia 
especial? De igual forma, já reparou que em geral os módulos assumem o nome 
de uma ciência. Assim, o módulo de Psicologia Geral é dedicado ao estudo da 
ciência psicologia, tanto quando o módulo de Pedagogia é dedicado ao estudo da 
Pedagogia enquanto ciência. Por isso, pode ser justo questionar se as 
Necessidades Educativas Especiais são também uma ciência. O que lhe parece? 
Pare e pense: podemos considerar as Necessidades Educativas Especiais como 
uma ciência (a exemplo da filosofia, geografia, psicologia, pedagogia)? Ao longo 
desta lição procuraremos clarificar esta questão. 
 
 
 
 Objectivos 
 
Ao terminar o estudo desta lição, deverá ser capaz de: 
 Identificar o campo de estudos a que pertence o argumento “Necessidades 
Educativas Especiais”; 
 Diferenciar a Pedagogia Geral da Pedagogia Especial; 
 Identificar algumas disciplinas que se ocupam das Necessidades 
Educativas Especiais. 
 
 
 Terminologia 
 
Necessidades Educativas Especiais, Deficiência, Diversidade, Educação para 
TODOS 
 
 15 
1.1. Pedagogia Especial e Necessidades Educativas Especiais 
 
 
 
Certamente já ouviu falar de Pedagogia. E de Pedagogia Especial ou de 
Necessidades Educativas Especiais? Sabe o que significam estas expressões? 
Com a expressão Necessidades Educativas Especiais faz-se alusão a um campo 
de estudos vasto, denso e complexo. Trata-se, com efeito, de uma grande 
categoria que encontra-se no cruzamento de muitas disciplinas científicas, entre 
as quais a Pedagogia, a Medicina, a Psicologia, a Sociologia e a Economia, por 
exemplo. Todavia, como objecto de estudo, encontra a sua razão de ser nas 
ciências da educação, e mais concretamente na Pedagogia Especial. 
Enquanto disciplina de estudos, as “Necessidades Educativas Especiais” não são 
uma ciência (como seria a Pedagogia, a Psicologia, a História ou a Geografia, por 
exemplo), nem mesmo um grupo de ciências. Constituem, antes de mais, o 
objecto de estudo multiforme e de certo modo “interdisciplinar” da Pedagogia 
Especial. 
A expressão Pedagogia Especial pode parecer-lhe nova. Entretanto, acreditamos 
que ao longo do primeiro ano já ouviu falar de pedagogia. Está lembrado? Antes 
de prosseguir procure lembrar-se deste conceito e, se necessário, escreva-o numa 
folha à parte. Agora que já definiu a Pedagogia, está mais próximo de entender a 
Pedagogia Especial. 
O que será, então, a Pedagogia Especial? Como o nome sugere, é uma área da 
pedagogia1 (arte/ciência de educar/guiar as crianças) como um todo. A Pedagogia 
Especial será o produto do encontro entre a reflexão Pedagógica Geral e a 
Especial, que se ocupa justamente dos vários elementos – socioculturais, 
(inter)pessoais, psicofísicos, etc. – que intervêm negativamente na realização do 
fim último do processo educativo: fazer com que cada indivíduo realize no 
máximo o seu potencial e desenvolva habilidades, atitudes, comportamentos, etc., 
 
1
Pedagogia: do grego pais (criança) e agoigein – (dançar, acompanhar, guiar), define-se como arte de 
acompanhar/educar/dar forma as crianças (ser em formação) (Bertagna; 2009). 
 
 
 16 
julgados socialmente úteis. 
O que torna esta área especial é justamente o facto de ocupar-se dos problemas 
que os sujeitos enfrentam durante as suas aprendizagens e na tentativa de 
adaptação ao mundo circundante. Assim explicada, a Pedagogia Especial pode 
parecer uma ciência muito distante. Mas não o é. Mais uma vez, pare e pense: no 
seu dia-a-dia, enquanto professor, muito provavelmente encontrou alunos que por 
uma série factores tinham dificuldades para acompanhar as suas aulas e 
precisavam de um acompanhamento muito próximo durante toda a aula. Que tipo 
de dificuldades tinham esses alunos? Se não é professor, talvez tenha tido algum 
colega nessas circunstâncias. Pois bem, a pedagogia especial ocupa-se desta 
tipologia de alunos. 
 
Fig. 1. Exemplos de áreas da ciência pedagógica. 
 
 
 17 
 
Enfrentando pela primeiríssima vez os argumentos da pedagogia especial incorre-
se frequentemente o risco de pensar que estamos a falar unicamente de educação 
para pessoas portadoras de deficiência (surdos, mudos, cegos, sujeitos 
mentalmente débeis, etc.). Por consequência, passa-se a estudar esta problemática 
de um ponto de vista mais ou menos médico. A nossa opção, no presente curso, 
passa por explorar a dimensão pedagógica do fenómeno. Nesta perspectiva, todos 
os alunos, em algum momento da vida podem apresentar necessidades educativas 
especiais, mesmo que não estejam doentes ou sejam portadores de deficiência. 
Imagine o caso de uma criança cujos pais encontram-se em processo de divórcio 
litigioso. Coloquemos a hipótese de que tal divórcio tenha abalado a estrutura 
familiar e emocional da criança. O que poderia acontecer no aproveitamento 
escolar desta criança? Numa situação destas, talvez a criança perdesse 
gradualmente a capacidade de concentração durante as aulas, tivesse notas 
negativas e consequentemente corresse o risco de ser reprovada. Não nos parece 
razoável pensar que esta criança precise de uma atenção especial por parte do 
professor e de todos quantos são responsáveis pela sua aprendizagem? 
Do ponto de vista pedagógico, é óbvio que sim. Mas não se pode dizer o mesmo 
do ponto de vista biomédico. De facto, a criança não está doente, não é deficiente. 
Ela atravessa uma dificuldade pedagógica, derivada da sua difícil situação 
social/familiar. 
Tudo quanto tentamos dizer até aqui é que as necessidades educativas especiais 
não são um argumento associado unicamente à dimensão biomédica da pessoa. 
Elas dizem respeito à dimensão pedagógica, aos problemas que as pessoas 
encontram na sua aprendizagem, independentemente da origem (estes podem ser 
biológicos e por isso médicos; mentais e por isso psicológicos/psiquiátricos; 
sociais e por isso explicáveis do ponto de vista da sociologia, etc.). O que todas 
estas dificuldades têm em comum é o facto de influírem negativamente na vida 
escolar do sujeito. 
Na qualidade de (futuros) professores reflexivos2 aproximamo-nos das 
 
2
 O termo “professor reflexivo” remete-nos a ideia de um professor que não só age (lecciona), mas reflecte sobre a 
sua acção, de modo a melhorar as coisas que não estão bem e potenciar ainda mais as que estão na direcção certa. 
Esta é uma atitude bastanteencorajada nas últimas décadas. Se ainda não é um professor reflexivo, convidamo-lo a 
ser, principalmente de modo a poder compreender e ajudar melhor os seus alunos com Necessidades Educativas 
 
 18 
Necessidades Educativas Especiais com os olhos da pedagogia, isto é, buscando a 
implicação pedagógica de todas estas dificuldades (que como se disse podem ser 
de origem biológica, social, económica, etc.). Esta é uma perspectiva importante 
que devemos ter sempre presente ao longo do todo o módulo. 
Agora que indicamos o estudo dos “alunos com dificuldades de adaptação no 
mundo escolar” como a preocupação da Pedagogia Especial, torna-se mais fácil 
identificar as disciplinas que podem contribuir para este fim. A partir do tipo de 
dificuldades que os seus alunos têm, pode pensar no tipo de especialistas que 
consideraria úteis para ajuda-lo. Já pensou? Quais são? Provavelmente a sua lista 
inclui médicos, psicólogos e sociólogos. Embora as demais disciplinas sejam 
úteis, a Medicina, a Psicologia e a Sociologia parecem ter uma relação mais 
evidente com a Pedagogia Especial. Consegue descrever tal relação? A medicina 
ajudaria, por exemplo, na explicação/cura daqueles problemas de saúde que 
interferem na aprendizagem (por exemplo, problemas auditivos e visuais)3. A 
psicologia explica muitas das chamadas “Dificuldades Específicas de 
Aprendizagem”, como a dislexia, disgrafia, discalculia, disortografia, das quais 
nos ocuparemos mais adiante. A sociologia explicaria a influência dos factores 
sociais como a exclusão e a marginalidade na aprendizagem dos alunos. 
 
 Atenção 
 
Necessidades Educativas Especiais não são uma ciência. Elas são o objecto de 
estudo da Pedagogia Especial. 
 
 
 
Especiais. Esta atitude reflexiva pode ser estendida à sua escola como um todo, trocando as suas impressões sobre o 
ensino com os seus colegas que vivem ou viveram problemas similares. 
3 De facto, nas últimas décadas nasceu uma nova área da pedagogia: a chamada pedagogia hospitalar, que se 
preocupa em levar o acompanhamento pedagógico para os alunos que se encontram internados por longos períodos 
nas unidades hospitalares de modo a que não fiquem muito desactualizados em relação às aprendizagens escolares 
dos seus colegas não hospitalizados. 
 
 19 
 
 
Resumo 
 
Como campo/disciplina de estudos, as Necessidades Educativas Especiais são o 
objecto de estudo da Pedagogia Especial, por um lado . Por outro, podemos dizer 
que a pedagogia especial é a área da Pedagogia que se ocupa pela reflexão em torno 
dos “problemas de aprendizagem” dos alunos. As necessidades educativas 
especiais podem surgir de diversos factores (biológicos, sociais, económicos, etc.). 
Este facto permite que a pedagogia especial receba contributos de várias outras 
disciplinas. 
 
Auto-Avaliação 
 
 
 
1. Defina a Pedagogia Especial. 
2. Que disciplinais se podem ocupar do estudo das necessidades 
educativas especiais? Por quê? 
3. Na qualidade de profissionais de educação e/ou de estudantes, 
relatem casos concretos que vivenciaram de alunos que tinham NEE. 
Por que consideram que estes alunos têm uma NEE? 
 
Comentários 
 
 
 
1. A pedagogia especial é a área da pedagogia que tem por vocação o estudo 
das necessidades educativas especiais. 
2. Para além da pedagogia especial, as principais disciplinas que estudam as 
necessidades educativas especiais são a psicologia, a biologia/medicina, a 
sociologia, a antropologia, entre outras. A pedagogia especial recebe 
contributos de todas essas áreas porque as necessidades educativas 
especiais podem surgir de factores bio-médicos (biologia/medicina), 
sociais (sociologia), psicológicos (psicologia), entre outros. 
3. Resposta aberta. As respostas a esta pergunta servirão de abertura para a 
lição seguinte, na qual explica-se o conceito de NEE. 
 
 20 
Lição no 2: Necessidades Especiais e conceitos afins 
 
Introdução 
 
Nesta lição discute-se o conceito de NEE, entre outros que lhe são frequentemente 
associados. Assim, serão bastante úteis as respostas à questão 3 da última lição. 
Como eram os alunos que descreveu como casos de NEE? Por que motivos 
considera-os alunos com NEE? É possível que dentre os casos que descreveu 
existam alunos com deficiência. Então, é correcto considerar um aluno com 
deficiência como um aluno com NEE? Porquê? Para superar estas questões, 
achamos por bem definir, nesta lição, o termo “deficiência”. 
 
 
 
 
 
 Objectivos 
 
Ao terminar o estudo desta lição, deverá ser capaz de: 
 Descrever a génese da preocupação humana pelas pessoas portadoras de 
deficiência; 
 Identificar a concepção da deficiência nas civilizações do antigo Egipto, 
da Grécia e Roma antigas; 
 Definir de necessidades educativas especiais. 
 
 
Terminologia 
 
Deficiência, Necessidades Educativas Especiais, funcionamento educativo e de 
aprendizagem 
 
 21 
2.1. Necessidades Educativas Especiais 
 
 
Na lição passada discutimos o conceito de Pedagogia Especial. Como se define a 
Pedagogia Especial? Na sua resposta, com certeza ficaram implícitas ideias úteis 
para construi o conceito de NEE. Então, e tendo em conta a questão número 3 da 
tarefa de autoavaliação da lição passada, como definiria NEE? (pode escrever tal 
definição num papel à parte) 
Embora em uso desde os anos 60, a expressão Necessidades Educativas Especiais 
(special education needs) ganha força nos fins da década de 1970 num relatório 
apresentado ao parlamento do Reino Unido, pela Secretaria do Estado para 
Educação e Ciência, Secretaria do Estado para a Escócia e pela Secretaria do 
Estado para o País de Gales. O Documento, posteriormente denominado Relatório 
Warnock/Warnock Report4, resumia as constatações do primeiro comité britânico 
constituído para reavaliar o atendimento aos deficientes. O nome Warnock é uma 
alusão à presidente deste grupo de trabalho, Mary Warnock. 
Com o uso da expressão Necessidades Educativas Especiais o comité pretendia 
distanciar-se da categorização médica das crianças e jovens com deficiência, 
adoptando uma classificação mais funcional ao universo escolar. Todavia, 
somente com a publicação da Education Act de 1981 na Inglaterra, este conceito 
foi claramente definido. De acordo com este documento, diz-se que “uma criança 
tem Necessidades Educativas Especiais se tem dificuldades de aprendizagem que 
obrigam a uma intervenção educativa especial, concebida especificamente para 
ela” (Sanches & Teodoro; 2006: 64). 
Coll, Palacios e Marchesi (2007: 11) afirmam que um aluno tem Necessidades 
Educativas Especiais quando “apresenta algum problema de aprendizagem ao 
longo da sua escolarização, que exige uma atenção mais específica e maiores 
recursos educacionais do que os necessários para os colegas da sua idade”5. 
 
4 O relatório foi produzido em 1974 mas publicado em 1978. 
5 Nesta definição, dois aspectos saltam à vista: problemas de aprendizagem e recursos educacionais necessários para 
evitais tais problemas. A ideia de dificuldades/problemas de aprendizagem – que não deve confundir-se com a de 
dificuldades específicas de aprendizagem/DEA – remente-nos aos objectivos instrucionais estabelecidos no 
curriculum e aos sistemas de avaliação empregues. De facto, quanto maior for a rigidez do sistema educacional, a 
homogeneidade existente e a ênfase nos objectivos cognitivos/racionais em detrimento dos emocionais, artísticos, 
manipulativos, etc., e quanto menor for a capacidade de adaptação, flexibilização curricular, etc., maiores serão as 
 
 22 
De modo mais amplo, define-se Necessidades Educativas Especiais a um 
«conjunto de factores de risco, de ordem intelectual, emocional efísica, que 
podem afectar a capacidade de um aluno em atingir o seu potencial máximo no 
que concerne a aprendizagem, académica e sócio emocional». Estes factores 
podem, assim, originar “discapacidades” ou “talentos”, podem afectar uma ou 
mais áreas do funcionamento do aluno e podem ser mais ou menos visíveis 
(Correia, 2008: 43). 
Pode-se dizer ainda que um aluno tem uma Necessidade Educativa 
Especial quando o seu funcionamento na aprendizagem e no desenvolvimento 
encontra alguma dificuldade e, por consequência lhe vem dedicada uma 
educação especial, mais eficaz e específica, por via da integração e da inclusão 
(Ianes, 2005: 11). 
Agora pare e pense: em que medida o conceito que você avançou anteriormente 
aproxima-se de um destes? Se apresentam alguma relação, está de parabéns. Caso 
contrário, não desanime: o erro é uma parte fundamental do processo de 
aprendizagem. 
Para operacionalizarmos melhor estes conceitos, lembremo-nos de que ao longo 
do percurso afirmamos que a categoria necessidades educativas especiais vai 
para além da simples presença de distúrbios físicos que possam ser motivo de 
dificuldades de aprendizagem. 
Se consideramos esta premissa como verdadeira, convém-nos buscar um critério 
mais amplo para a definição das NEE. Um ponto de partida essencial consiste em 
considerar que as NEE (independentemente da causa, que pode ser biológica, 
social, económica, etc.) encontram-se na pessoa, e mais precisamente na relação 
que esta estabelece com o meio circundante (o escolar em particular). 
Então, podemos dizer que as necessidades educativas especiais são um problema 
antropológico6que se manifesta na inaptidão de adaptação do sujeito ao meio 
 
possibilidades de existência de alunos que se sintam desvinculados do processo e aprendizagem e manifestem, por 
conseguinte, dificuldades de aprendizagem. Por sua vez, a ideia de recursos educacionais refere-se, imediatamente, a 
elementos como o número de professores ou especialistas em Necessidades Educativas Especiais de que a escola 
dispõe, a diversidade de material didáctico, a eliminação de barreiras arquitectónicas, etc. (cf. Coll, Palacios e 
Marchesi; 2007) 
6
 Sublinhamos (problema) antropológico porque manifesta-se no Homem (só o Homem tem uma NEE). Mas 
também porque diz respeito ao ser pessoa/Homem (do grego anthropos) como um todo e não a uma dimensão 
 
 23 
escolar. 
Um importante documento que trata do Ser humano em termos de 
funcionamento/adaptação em relação ao meio é o ICF (International 
Classification of Fuctioning, Disability and Health, WHO, 2001), criado pela 
Organização Mundial da Saúde - OMS. 
Interpretando este documento, podemos dizer que não existe uma (in)adaptação 
absoluta do Homem em relação ao seu meio, isto é, o Homem pode comportar-se 
com desenvoltura ou encontrar-se em dificuldades, em função da interacção que 
existe entre a sua dotação biológica, a sua história pessoal e as condições que o 
mundo apresenta em determinado momento. 
Imagine a seguinte situação: você fala fluentemente português, está inscrito num 
curso universitário. Por alguma razão tem de mudar-se para um país cuja língua 
de ensino desconhece por completo. Você é colocado na aula de biologia da 7ª 
Classe. Como é que acha que se sairia? E como é que você acha que se sairia se a 
mesma aula fosse dada na língua portuguesa? Seguramente melhor, não acha? 
Pedagogicamente falando, um estudante universitário que tenha sido educado 
unicamente em Português (e, portando, apto para um sistema educativo cuja 
língua seja a portuguesa) pode encontrar-se desajustado quando convidado para 
expressar-se em torno de conceitos/ideias elementares com recurso a uma língua 
que lhe é estranha, o Francês, por exemplo. 
Estamos a afirmar, simplesmente, que no cenário descrito acima, o estudante não 
“funciona (pedagogicamente) bem” e carece de uma atenção educativa especial. 
Podemos dizer o mesmo em relação a uma criança que, sendo surda e incapaz de 
fazer uma leitura labial, encontre dificuldades para acompanhar o que a 
professora explica na primeira aula da primeira classe e, por isso mesmo, precisa 
de uma atenção educativa especial. 
Por tudo quanto dissemos ao longo do percurso, podemos pensar que a ideia de 
necessidades educativas especiais parece ser mais funcional para descrever as 
nossas turmas do que classificações muito limitadas quanto a deficiência ou 
 
particular, isto é, dizem respeito ao modo como o Homem adapta-se ou meio escolar ou como este é adaptado para 
acolher o Homem. 
 
 24 
dificuldades específicas de aprendizagem, porque abrange qualquer sujeito que 
em determinado momento da vida precise de ajuda para se adaptar ao mundo da 
escola (um adulto que sofreu um acidente e tornou-se cego, um cego congénito 
que aproxima-se pela primeira vez à escola, um toxicodependente em reabilitação 
e que tenha perdido inteiramente as capacidades mnemónicas, etc.).7 
2.2. Deficiência 
 
 
Você certamente que já ouviu falar muito sobre deficiência, quer na sociedade em 
geral quer na escola. Muito provavelmente você próprio já se referiu a esse termo. 
Mas afinal, de que é que estamos falando quando o assunto é deficiência? 
Segundo Organização Mundial de Saúde, deficiência é o substantivo atribuído a 
toda a perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica 
ou anatómica. Refere-se, portanto, à biologia do Ser humano. Entretanto, esta 
concepção tem vindo a mudar, assistindo-se à passagem de um modelo médico 
para um modelo social. Assim, pessoas com deficiência são aquelas que têm 
impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, 
os quais, em interacção com diversas barreiras, podem obstruir sua participação 
plena e efectiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas 
(cf. OMS, 2011). 
Excursos 1. A lição de Lev Vygotskij sobre a deficiência 
Para o psicólogo russo Lev Semënovič Vygotskij (1896 – 1934), o problema da 
deficiência deve ser colocado e compreendido como problema social primário e 
fundamental (Pesci & Pesci, 2005: 152). Isto significa que a deficiência não é 
apenas um dado físico/biológico. Por exemplo, o Vygotskij distingue dois tipos 
de deficiência – primária e secundária. A deficiência primária é biológica (lesões 
orgânicas, cerebrais, malformações, alterações cromossómicas, etc.) e a 
 
7 A declaração de Salamanca marca um momento de mudança paradigmática na forma como hoje compreendemos 
alunos com necessidades educativas especiais, passando a incluir, para além dos tradicionalmente considerados 
alunos com NEE, aqueles que vivem em situação difícil, deslocados de guerra, crianças de rua, failing (reprovação), 
etc. 
 
 25 
secundária é social. O conceito de deficiência social diz respeito ao 
desenvolvimento do sujeito que apresenta traços da deficiência primária/física, 
em função das interacções sociais). O autor acreditava firmemente que a forma 
como o sujeito que apresenta uma deficiência física desenvolve-se estava 
fortemente relacionada com o modo onde vive e com as interacções sociais com 
as quais está envolvido. 
Levando ao extremo as suas ideias, Vygotskij dizia que não era importante saber 
qual doença/defeito a pessoa tinha, mas que pessoa tinha tal doença/defeito. Em 
termos mais simples, conhecemos pessoas invisuais que, devido ao facto de ter 
frequentado uma escola, podem mover-se livremente pela sua cidade, bastando-
lhe o uso da bengala branca. Entretanto, há casos de pessoasinvisuais que não 
podem locomover-se livremente em sua própria casa. O que diferencia estas 
pessoas? Se ambas são invisuais, então, não pode ser a deficiência. 
Partindo de análises deste género Vygotskij chegou ao conceito de compensação 
social. Em um dos seus livros, o psicólogo escrevia: 
 “A educação das crianças com diferentes defeitos deve basear-se 
no facto de que simultaneamente com o defeito estão dadas 
também as tendências psicológicas de uma direcção oposta; estão 
dadas as possibilidades de compensação para vencer o defeito e 
de que precisamente essas possibilidades se apresentam em 
primeiro plano no desenvolvimento de crianças e devem ser 
incluídas no processo educativo como sua força motriz” 
(Vygotskij, 1995, Apud Garcia, 1999: 46). 
Assim, embora os vários tipos de deficiências sejam relacionadas também com 
circunstâncias biológicas, a educação deve estar voltada para suas consequências 
sociais. Então, a deficiência deve ser compreendida como um condicionamento 
biológico-social, o que significa que os dados sociais que a pessoa com 
deficiência física encontra podem contribuir para minimizá-la ou agudiza-la (um 
surdo instruído parecerá mais inteligente do que aquele que não teve a 
oportunidade de escolarizar-se, por exemplo). 
Em síntese, a educação não deve orientar-se para a deficiência (pedagogia 
terapêutica) ou invalidez como princípio. Esta é apenas um dado de partida que 
deve ser contornado com o apoio da sociedade (escolarização e participação 
social). 
 
 26 
2.3. Desability/Disabilidade 
 
 
Quem lê artigos ou os relatórios mundiais sobre a deficiência publicados pela 
OMS em Inglês, com certeza já deparou-se com a expressão disability. Se já 
deparou-se com ela, certamente encontrou algumas dificuldades para encontrar 
um termo equivalente em português. O que seria, então a disability? Tem alguma 
ideia? 
O termo desabilidade/disability representa a consequência de uma deficiência que 
pode ser física, cognitiva, mental, sensorial, emocional, desenvolvimental, ou de 
uma combinação destas. Ela pode ser congénita ou adquirida ao longo da vida. 
Assim entendida, a desabilidade é um termo “umbrella” que diz respeito a 
deficiências, limitações nas actividades, na participação social e demais 
restrições. Uma limitação na actividade é uma dificuldade encontrada por um 
sujeito no desenvolvimento de actividades do dia-a-dia. A desabilidade revela-se, 
assim, como um fenómeno – falta de habilidade – complexo resultante das 
interacções entre elementos da estrutura corporal do sujeito e elementos da 
sociedade em que o sujeito vive. 
 
Resumo 
 
 
O conceito de Necessidades Educativas Especiais carrega uma história antiga. Hoje 
entende-se por necessidades educativas especiais um conjunto de factores de risco 
de ordem intelectual, emocional e física, que podem afectar a capacidade de um 
aluno em atingir o seu potencial máximo no que concerne a aprendizagem, 
académica e sócioemocional. Este conceito tem a particularidade de alargar a ideia 
de Necessidades Educativas Especiais para além da perspectiva limitante e de certo 
modo preconceituosa de “deficiência”. 
 
 
 
 
 
 27 
 
Auto-Avaliação 
 
 
 
Para definirmos Necessidades Educativas Especiais devemos recorrer ao 
critério de funcionamento educativo e de aprendizagem. Argumente num 
texto claro e preciso, contendo entre 5 e 10 linhas. 
 
 
Comentários 
 
 
 
A adopção da expressão “funcionamento educativo e de aprendizagem” para a 
definição das necessidades educativas especiais justifica-se pelo facto de esta 
deslocar a ideia de necessidades educativas especiais da pessoa (geralmente 
portadora de deficiência), para a relação que a pessoa estabelece com o meio e o 
ajustamento desta no meio escolar. Assim, ter uma necessidade educativa especial 
não significa ser portador de uma deficiência mas sim um mau ajustamento 
(funcionamento) educativo e de aprendizagem, que pode ou não ser causado por 
alguma doença. 
 
 
 28 
 
 
Bibliografia 
Básica 
 
 
 
 
COLL, César, MARCHESI, Álvaro, PALACIOS, Jesús (2007). Desenvolvimento 
psicológico e educação: transtornos do desenvolvimento e necessidades educativas 
especiais. 2. ed. Porto Alegre: Artmed. 
CORREIA, Luís de Miranda (2008). Inclusão e necessidades educativas especiais. 
Um guia para educadores e professores, 2ª ed., Porto Editora: Porto. 
IANES, Dario (2005). Bisogni educativi speciali e inclusione. Valutare le reali 
necessità e attivare tutte le risorse, Erickson: Trento. 
GARCIA, R. M. Cardoso (1999). A Educação de Sujeitos Considerados 
Portadores de Deficiência: contribuições Vygotskianas,In Ponto e Vista. v. 1 • n. 1 
• Julho/Dezembro de 1999, pp. 42-46. 
PESCI, Guido, PESCI, Simone (2005). Le radici della pedagogia speciale, 
Armando Editore: Roma. 
SANCHES, Isabel, TEODORO, António (2006). Da integração à Inclusão 
escolar: cruzando perspectivas e conceitos, in Revista Lusófona de Educação, n° 8, 
63-83 
WHO (2001). International Classification of Fuctioning, disability and Health: 
ICF, WHO Library Cataloguing-in-Publication Data: Genebra. 
WHO (2011). World report on disability 2011, WHO, S/L 
 
 
 
 29 
 
Lição no 3: Necessidades educativas especiais como dificuldade 
evolutiva, de funcionamento educativo e de 
aprendizagem 
 
Introdução 
 
A presente lição repensa o conceito de necessidades educativas especiais, para 
apresenta-lo como uma dificuldade evolutiva, de funcionamento educativo e de 
aprendizagem. Sublinha-se assim, mais uma vez, que necessidade educativa 
especial não é sinónimo de deficiência. Antes de avançarmos, e em função dos 
conceitos discutidos na última aula, concorda com este posicionamento? Se sim, 
apresente, com base na sua experiência, exemplos de alunos que tenham NEE mas 
que não sejam deficientes. 
 
 
 
 
 
 Objectivos 
 
Ao terminar o estudo desta lição, deverá ser capaz de: 
 Explicar o conceito de deficiência física como condicionamento 
biológico-social; 
 Exemplificar a ocorrência do dano, do obstáculo e do estigma social na 
definição de um mau funcionamento educativo e de aprendizagem. 
 
 
 
Terminologia 
 
Dano, obstáculo, estigma social, funcionamento educativo, condicionamento 
biológico-social. 
 
 
 30 
 
3.1. Obstáculo, o dano e o estigma social. Três “sinais de alerta” sobre 
possíveis casos de NEE 
 
 
Na aula passada definimos NEE. Está lembrado? O que significa a expressão NEE? 
E quais, na sua opinião, são os sinais de alerta para um possível caso de NEE? 
De acordo com a Unesco, o conceito de NEE alarga-se para além das que são parte 
da categoria da deficiência, cobrindo alunos que têm mau desempenho escolar 
(failing) por uma série de outras razões que impendem um desenvolvimento 
optimizado. 
Se bem se lembra, ao definirmos NEE, dissemos que a forma mais correcta de 
pensar neste conceito é concebe-lo em termos de dificuldades de funcionamento 
educativo. O funcionamento educativo ou modo como o sujeito opera no processo 
educativo é um encontro entre a biologia, experiências ambientais e relações, 
actividade e iniciativas deste (entenda-se aluno). É, por assim dizer, a resultante 
global das reciprocas influências entre a dotação biológica e o ambiente no qual a 
acriança cresce, onde a par de factores externos como as relações, a cultura, os 
espaços físicos, etc. encontra factores contextuais pessoais, como são os casos da 
auto-estima, identidade, motivação, etc. 
Quando os vários factores interagem positivamente, a criança crescerá sã e 
funcionará bem do ponto de vista educativo e de aprendizagem. Em alternativa, o 
seu funcionamento será dificultoso, bloqueado, debilitado, doentio, marginalizado, 
com necessidades educativas especiais. (Ianes; 2005: 35). 
Qual é a vantagem do uso da expressão “funcionamento educativo e de 
aprendizagem”? Usando a ideia de funcionamento educativo e de aprendizagemvencemos o estereótipo de pensar que NEE dizem respeito apenas aos portados de 
deficiência. Assim, por exemplo, uma participação social fraca (que nada tem a ver 
com a deficiência física) pode ser fonte de mau funcionamento educativo e de 
aprendizagem. De facto, segundo a OMS, uma pessoa funciona bem se participa 
socialmente e se possui papéis de vida social em modo integrado e activo. 
 
 31 
Da interacção de factores contextuais, ambientais e pessoais, podem-se originar 
combinações de NEE. Mas como você, caro estudante, pensa que se pode 
perceber/aferir que estamos perante um funcionamento problemático? Com certeza 
esta pergunta trouxe-lhe à mente muitas sugestões. E, se associarmos às sugestões 
de toda a turma, teremos inúmeros critérios para definir um funcionamento 
problemático. Embora com grande probabilidade todos os critérios propostos pela 
turma sejam úteis, ocupar-nos-emos aqui de apenas três, segundo a proposta do 
pedagogo italiano Dário Ianes (2005), nomeadamente: o dano, o obstáculo e o 
estigma social. 
O primeiro critério para captar o mal-estar gerado por um funcionamento 
problemático é o dano, evidentemente vivido pelo aluno ou produzido sobre os 
outros, alunos ou adultos, quanto à sua integridade física actual, psicológica ou 
relacional. Uma situação de funcionamento é realmente problemática para o aluno 
se o danifica directamente ou danifica aos demais: pense-se, a propósito, nos 
distúrbios de comportamento graves como o auto-lesionismo, distúrbios emotivos 
graves, comportamentos violentos, etc. 
Em ausência de dano evidente assume-se o critério do obstáculo. Um 
funcionamento problemático é realmente tal para a criança em questão se bloqueia o 
seu desenvolvimento futuro, ou seja, se o condicionará nas futuras aprendizagens 
cognitivas, sociais, relacionais e emotivas. 
Para elucidar melhor este princípio, tomemos como exemplo o preceito de 
progressão semiautomática presente nos currícula das classes iniciais. Uma 
progressão semiautomática significa que os professores assumem que embora o 
aluno não tenha maturado todos os requisitos impostos aos alunos da sua classe, 
desenvolveu o mínimo de conhecimentos e competências que o permitirão enfrentar 
com êxito a classe seguinte. Se ao longo dos anos, estas competências não forem 
suficientemente aprofundadas, o aluno poderá, em alguma classe, encontrar um 
obstáculo. Neste caso, o aluno sentirá enormes dificuldades em adquirir novas 
aprendizagens porque lhe faltarão aprendizagens básicas que deveria ter 
desenvolvido nas classes anteriores (por exemplo, um aluno não pode compreender 
o conceito de números primos se não conhece antes os números naturais). Quando 
assim acontece, o aluno fica bloqueado, isto é, impossibilitado de passar para as 
classes seguintes, repetindo sistematicamente a mesma classe. 
 
 32 
O terceiro critério é o estigma social. No contexto das NEE, o estigma social 
significa o facto de aluno ser alvo de descriminação social pelo facto de apresentar 
baixas performances escolares. Por exemplo, um aluno com dificuldades sérias de 
leitura e escrita em classes que não devia apresentar tais dificuldades, pode ser 
objecto de piadas por parte do resto da turma e, eventualmente, ter algumas 
dificuldades em fazer novas amizades. 
O que acha dos três critérios apresentados acima? Para que um aluno seja 
considerado com NEE deve apresentar todos estes critérios? A resposta para a 
última questão é não. Basta a presença de um destes critérios. Entretanto, é bom que 
se diga que estes não são critérios para diagnosticar NEE. São simplesmente sinais 
que nos alertam para a necessidade de uma investigação aprofundada, com o apoio 
de outros profissionais de modo a aferir a existência ou não de um caso de NEE. 
 
Resumo 
 
 
Ao definirmos genericamente as Necessidades Educativas Especiais como um 
desajustamento no processo de ensino e aprendizagem assumimos que vários 
elementos podem indicar tal desajustamento. Alguns destes sinais de alerta são o 
dano (perigo quanto à própria integridade pessoal ou dos colegas), o estigma social 
(discriminação em resultado do baixo desempenho escolar) e o obstáculo 
(dificuldade de adquirir novas aprendizagens e consequente retenção escolar) 
 
Auto-Avaliação 
 
 
 
1. Elabore uma síntese de 10 linhas que explicite a ideia de necessidades 
educativas especiais como dificuldade evolutiva, de funcionamento e de 
aprendizagem. 
2. Mostre, com exemplos, como uma pessoa pode não ter nenhuma 
deficiência física e ter NEE. 
 
 
 
 
 33 
 
Comentários 
 
 
 
1. Na síntese deverá ficar claro que as necessidades educativas especiais 
resultam da interacção entre factores pessoais (por exemplo, a dotação biológica) 
e factores sociais (por exemplo, as condições que esta encontra na escola). Se esta 
interacção for positiva, a criança funcionará positivamente do ponto de vista de 
aprendizagem, isto é, evoluirá positivamente. 
2. Resposta aberta. 
 
 
Bibliografia 
Básica 
 
 
 
 
IANES, Dario (2005), Bisogni educativi speciali e inclusione. Valutare le reali 
necessità e attivare tutte le risorse, Erickson: Trento. 
PESCI, Guido, PESCI, Simone (2005). Le radici della pedagogia speciale, 
Armando Editore: Roma. 
 
 
 
 34 
 
Lição no 4: Necessidade Educativas Especiais na perspectiva 
jurídica 
 
Introdução 
 Se é professor, é quase certo que na sua escola já ouviu falar de NEE. Se 
este é o seu caso, que tipo de documentos normativos a sua escola tem a 
este respeito? Quais desses documentos já leu? Nesta lição irá apreciar a 
protecção que as pessoas com NEE têm por parte da legislação 
internacional e nacional. Assim, é indispensável o uso da Lei-quadro do 
Sistema Nacional da Educação (Lei 6/92) e da Declaração de Salamanca. 
Ambos documentos podem ser facilmente acessíveis com uma breve 
pesquisa na internet. 
 
 
 
 Objectivos 
 
Ao terminar o estudo desta lição, deverá ser capaz de: 
 Identificar os principais documentos internacionais que assistem o direito 
à educação das pessoas com necessidades educativas especiais; 
 Explicar em que grau a lei que rege o sistema educativo moçambicano 
cobre as pessoas com necessidades educativas especiais. 
 
 
 
Terminologia 
 
Necessidades Educativas Especiais, direito à educação, igualdade de 
oportunidades 
 
 
 35 
 
4.1. Da declaração Universal dos Direitos Humanos à emergência do direito à 
educação de pessoas com Necessidades Educativas Especiais. 
 
 
Com base na sua experiência, acha que o atendimento dispensado às pessoas com 
deficiência hoje é muito diferente do descrito acima? Se sim, em quê? Conhece o 
caso de alguma criança com deficiência que frequente a escola? Em alternativa, 
conhece casos de crianças que não são matriculadas na escola simplesmente pelo 
facto de apresentarem uma deficiência? 
Se um aluno tem uma aprendizagem dificultada devemos força-lo a aprender? Em 
que medida a escola deve ocupar-se de pessoas que apresentam uma desvantagem 
óbvia em termos de dotação biológica para a aprendizagem, como os surdos, 
mudos e invisuais, por exemplo? 
A expressão “EDUCAÇÃO PARA TODOS” com certeza não é nova para si. De 
facto, no mundo contemporâneo a educação é um direito, o que quer dizer que 
alguém (ou alguma instituição) tem o dever de provê-la a todos quantos queiram 
usufruir dela. Esta ideia está expressa, ainda que de diversas formas, a nível de 
muitos documentos normativos. Vejamos alguns dos exemplos mais marcantes: 
A Declaração Universal sobre os Direitos Humanos (ONU, 1948), defende em 
seu artigo primeiro a igualdade das pessoas em direitos e oportunidades. Aplicado 
ao contexto das NEE, este princípio significa que todos, incluídos os alunos com 
NEE ou deficiência têm o direito à escolarização. 
A Convenção Sobre os Direitos da Criança (Unicef, 1989), defende o direito que 
as crianças têm a serem respeitadas ea beneficiarem-se de todas as condições 
necessárias para o seu crescimento saudável, o que inclui a educação. Estes 
direitos são extensivos a todas as crianças do mundo, incluindo aqueles que 
apresentam NEE. 
Como o nome sugere, A Declaração mundial sobre educação para todos (1990) é 
um documento resultante duma conferência sobre a educação para todos havida 
em Jomtien. Este documento, embora não dedicado especialmente à defesa dos 
 
 36 
direitos das pessoas com NEE reafirma o princípio da igualdade de oportunidades 
para todos, em particular no campo educativo, defendendo a necessidade de que 
nenhuma criança seja excluída da escola, em nenhum lugar do mundo. 
As Regras Gerais sobre a Igualdade de Oportunidades para Indivíduos com 
Deficiências (ONU, 1993), e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com 
Deficiência (NU, 2006), por exemplo, são documentos internacionais que se 
ocupam da igualdade de direitos/oportunidades para especificamente para as 
pessoas com deficiência. Em síntese, estes textos defendem que a deficiência não 
pode ser um motivo de exclusão social, pelo que, todos os deficientes têm o 
direito de participar da vida em sociedade e de serem respeitados nas suas 
particularidades, na escola, no trabalho e em outros locais públicos, os quais 
devem ser adaptados de acordo com as suas necessidades. 
Entretanto, o documento mais conhecido em matéria de educação de pessoas com 
NEE é a Declaração de Salamanca – (Unesco, 1994), texto resultante da 
Conferência Mundial sobre as Necessidades Educativas Especiais – havida em 
Salamanca, Espanha. A declaração de Salamanca apresenta uma definição 
inovadora das NEE (vide as aulas anteriores), defende o princípio da Educação 
Inclusiva e define uma série de medidas a serem tomadas pelos Estados8, com 
vistas a oferecer uma educação de qualidade aos alunos com NEE. 
Em síntese, todos estes documentos dizem que as pessoas têm direito à igualdade 
de oportunidades, independentemente da sua condição física. Alguns destes 
documentos foram criados exclusivamente para pessoas portadoras de deficiência 
(Regras Gerais sobre a Igualdade de Oportunidades para Indivíduos com 
Deficiências), e outros ainda foram pensados para a educação das pessoas 
portadoras de deficiência em particular (veja-se as Declarações de Jomtien e de 
Salamanca as quais advogam que todas as crianças têm direito a uma educação de 
qualidade). 
Agora pare e pense! De quais destes documentos já havia ouvido falar? Quais 
existem em sua escola? O que acha dos princípios por eles defendidos? Já ouviu 
falar dos documentos normativos sobre a educação no nosso país? Quais 
 
8
 Aos grupos de 5, os estudantes farão uma ficha de leitura da Secção II - DIRECTRIZES DE ACÇÃO A 
NÍVEL NACIONAL – da Declaração de Salamanca 
 
 37 
conhece? O que dizem? 
Moçambique é um Estado Soberano que se rege por leis próprias. A lei da qual 
derivam todas as outras leis do país é a Constituição da República. O que diz a 
constituição da república sobre a educação de alunos com deficiência ou com 
NEE? A Constituição da República não se debruça especificamente sobre este 
tema, ela define os princípios gerais que inspiram as demais leis. Um dos 
princípios definidos pela Constituição da República é o da igualdade. Todos os 
moçambicanos são iguais perante a lei, o que significa que nenhum moçambicano 
pode ser excluído da escola, por qualquer motivo que seja. 
Entretanto, nas aulas de História da Pedagogia poderá ter falado da legislação 
específica sobre a educação em Moçambique. Se esse é o caso, sabe que a lei que 
regula o nosso sistema educativo é a Lei 6/93 de 23 de Março. Está lembrado? O 
que diz esta lei? 
Embora não aborde claramente a questão da educação de pessoas portadoras de 
necessidades educativas especiais, o primeiro princípio geral define que a 
educação é um direito e dever de todos os cidadãos. 
Por fim, o artigo 29, por exemplo, é inteiramente dedicado à educação especial 
(que é uma das formas de atenção às pessoas portadoras de necessidades 
educativas especiais). 
Para além da lei-quadro do nosso sistema educativo, o Ministério da Educação e 
Cultura produziu alguns documentos que têm em vista regular a educação de 
alunos com necessidades educativas especiais, nomeadamente, a Estratégia da 
Educação Inclusiva (MEC-DEE, 2004) e as Políticas e Perspectivas das 
necessidades educativas Especiais no contexto moçambicano (MEC-DEE, 2006). 
Estamos, portanto, do ponto de vista normativo, longe do tempo em que a 
deficiência era considerada uma anomalia que conferia aos seus portadores uma 
condição quase sub-humana. Entretanto, sabemos que por vezes nem sempre a lei 
corresponde à prática. Com base na sua experiência enquanto professor, acha que 
estas leis são cumpridas no nosso país? Se não, quais têm sido as grandes 
dificuldades? 
 
 
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Resumo 
 
 
O país e o mundo são particularmente atentos à educação de pessoas portadoras de 
necessidades educativas especiais. Este facto pode ser atestado pela quantidade de 
documentos emanados – particularmente pelas NU e pela UNICEF – a este 
propósito. Pode revelar-se também útil uma breve análise da lei-quadro do sistema 
educativo nacional. Todavia, é prudente reconhecer que por vezes existe uma 
distância entre a legislação e o que acontece no dia-a-dia, a nível das nossas 
escolas. A nossa experiência pessoal sugere de facto que apesar da legislação, 
podemos melhorar ainda certos aspectos ligados à sua implementação. 
 
Auto-Avaliação 
 
 
 
1. Indique os principais documentos internacionais que defendem a 
educação de pessoas com NEE e diga qual é a maior contribuição de cada 
uma. 
2. Em que medida a lei-quadro do sistema educativo nacional cobre o 
direito à educação de pessoas com necessidades educativas especiais? 
3. Que outros documentos legislam a educação de alunos com 
necessidades educativas especiais em Moçambique? 
 
Comentários 
 
 
 
1. Declaração Mundial sobre Educação para Todos (criada em Jomtien, em 
1990), Regras Gerais sobre a Igualdade de Oportunidades para Indivíduos 
com Deficiências (1993), Declaração de Salamanca – (Unesco, 1994), 
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, entre outros. 
2. A lei-quadro do Sistema Nacional de Educação diz que a educação de 
pessoas Portadores de Necessidades educativas especiais é feita em escolas 
especiais, ou em turmas especiais nas escolas regulares. 
3. Estratégia da Educação Inclusiva (MEC-DEE, 2004) e as Políticas e 
Perspectivas das necessidades educativas Especiais no contexto 
moçambicano (MEC-DEE, 2006). 
 
 39 
 
Bibliografia 
Básica 
 
 
 
 
CONFERÊNCIA MUNDIAL DE EDUCAÇÃO PARA TODOS. (1990). 
Declaração mundial sobre educação para todos, Jomtien: Unesco. 
Lei 6/92, de 06 de Março de 1992. (1992, 06 de Março). Reajusta o quadro geral 
do sistema educativo. 
MOÇAMBIQUE. MEC-DEE. (2004). Estratégia da Educação Inclusiva. Maputo. 
MOÇAMBIQUE. MEC-DEE. (2006). Políticas e Perspectivas das necessidades 
educativas especiais no contexto moçambicano. Maputo. 
ONU (2006), Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência, Nova 
Iorque: ONU. 
ONU (1993), Regras gerais sobre a igualdade de oportunidades para pessoas com 
deficiências, Nova Iorque: ONU. 
UNESCO (1994), Conferência mundial sobre necessidades educativas especiais: 
acesso e qualidade. Unesco: Salamanca. 
UNICEF (1989), Convenção sobre os direitos da criança, Unicef: Nova Iorque. 
 
 
 
 
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Tradições e marcos do 
atendimento aos alunos com 
Necessidades Educativas 
Especiais 
Conteúdos 
2
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N
ID
A
D
E 
Unidade no 2: Tradições e marcos do atendimento aos 
alunos com Necessidades Educativas 
Especiais…….............................................................................…41Lição no 1: Educação Especial, Integração e 
Inclusão…………………………..............……………………………………….…….42 
1.1. A resposta da escola para os alunos com necessidades 
educativas especiais…..............…………………………………………….….43 
 
 
 
 
 41 
 
Unidade no 2: Tradições e marcos do atendimento aos alunos 
com Necessidades Educativas Especiais 
 
Introdução 
 
 
Na primeira unidade apresentamos de forma geral os principais aspectos ligados á 
história e conceito do nosso objecto de estudo: as NEE. Então, as páginas 
anteriores ajudaram a melhorar a compreensão que tem das NEE. Esperamos bem 
que sim. Nesta unidade você irá discutir a resposta da escola contemporânea para 
o atendimento dos alunos com Necessidades Educativas Especiais. Irá clarificar e 
estabelecer diferenças entre a educação especial, a integração e a inclusão, três 
práticas que representam pressupostos psicopedagógicos diferentes. Caso trabalhe 
numa escola que se considera inclusiva ou que acolhe alunos com NEE poderá 
ser útil a sua experiência neste particular. Caso contrário, juntos iremos procurar 
pensar nas melhores alternativas para tornar a sua escola inclusiva. Vamos a isso? 
 
 
 
 Objectivos 
 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 Definir educação especial, integração e educação inclusiva; 
 Identificar as vantagens e as inconveniências de cada tipo de educação; 
 Descrever os processos que levaram à afirmação do ideal da escola inclusiva; 
 Descrever as mudanças que a prática da educação inclusiva impõe à escola e 
aos seus membros. 
 
 
 42 
Lição no 1: Educação Especial, Integração e Inclusão 
 
Introdução 
 
 
Nesta lição focalizam-se as principais práticas de atendimento para alunos com 
necessidades educativas especiais: Educação Especial; Integração e Inclusão. 
 Será dedicada alguma atenção ao estudo da proposta de actuação defendida pela 
lei 6/92. Assim, aconselhamos que tenha por perto este documento, assim como a 
Declaração de Salamanca, pois este último será bastante útil para ajuda-lo a 
definir as características duma escola inclusiva. 
 
 
 
 
 Objectivos 
 
Ao terminar o estudo desta lição, deverá ser capaz de: 
 Identificar a evolução dos cuidados dispensados à educação de pessoas 
portadoras de necessidades educativas especiais; 
 Definir educação especial, integração e inclusão; 
 Estabelecer diferenças entre as principais categorias do atendimento das 
necessidades educativas especiais: educação especial; integração e 
inclusão. 
 
 
Terminologia 
 
Necessidades Educativas Especiais, Educação Especial, Integração, Inclusão. 
 
 
 43 
 
1.1. A resposta da escola para os alunos com necessidades educativas 
especiais 
 
 
Lembra-se do conceito de NEE apresentado na unidade passada? Se sim, há-se 
notar que no grupo de alunos com NEE podemos colocar muitas pessoas, com 
dificuldades de origem diversa. Assim como as dificuldades que originam as NEE 
são diversas, podemos também encontrar diferentes formas de dar resposta a estas 
dificuldades. Pare e pense: que propostas avançaria para o atendimento de um 
aluno com uma necessidade educativas qualquer, que conhece ou do qual tenha 
ouvido falar? 
Com a democratização do processo de escolarização, a sociedade colocou-se o 
problema do tipo de educação que se deve dispensar aos alunos com NEE. Ao 
longo do tempo e, dependendo da latitude geográfica, cada povo foi construindo 
as próprias respostas para esta questão. 
O corolário desta situação é a multiplicidade de modelos de resposta que a 
sociedade atribui a este problema. Assim, na situação actual, não temos uma 
resposta única, o que quer dizer que assistimos a inúmeras práticas de 
atendimento dispensado às pessoas com necessidades educativas especiais. Isto 
depende, como se pode depreender, de razões socioculturais, históricas, 
económicas e tem a ver com o grau de severidade da necessidade educativa 
especial do sujeito. 
Qual é a resposta correcta? Qual é a diferença entre as várias respostas? Qual tem 
sido a resposta dada pelo sistema educativo moçambicano? 
 
1.1.1. Educação Especial 
Já ouviu falar de educação especial? E de escola/ensino especial? A que se 
refere? Quem frequenta uma escola especial? 
Quando pela primeira vez passou-se a considerar seriamente a possibilidade de 
educação de pessoas com NEE severas (pensemos nos casos de surdos, mudos, 
 
 44 
invisuais, alunos com atraso mental grave, etc.) surgiu a chamada educação 
especial. 
É comum datar-se o início da educação especial nos finais do século XVIII.9 
Entretanto, estudiosos da história da pedagogia especial (ex. Bautista, 1993; 
Arcomano; 2012) apontam, entre outros, os seguintes personagens/eventos como 
precursores deste movimento: 
O frade Pedro Ponce de León (1509 – 1584), autor de um audaz e bem-sucedido 
projecto de educação de 12 crianças surdas no Monastério de Oña. Ponce de León 
escreveu ainda o livro Doctrina para los mudo-surdos e é reconhecido por certos 
autores como o iniciador do ensino para os surdos e criador do método oral. 
Juan Pablo Bonet (1579 – 1633) publicou o livro Reducción de la letras y arte de 
enseñar a hablar a los mudos em 1629. 
Outro religioso, o abade Charles Michel de l’Epée (1712 – 1789), é creditado 
como o criador da primeira escola pública para surdos, em 1755, mais tarde 
convertida no Instituto Nacional de Surdo-mudos. 
Philippe Pinel (1745 – 1826) dedicou-se ao tratamento médico de atrasados 
mentais e escreveu importantes tratados a respeito. 
O livro de Voisin Aplication de la philosophie du cerveau à l’étude des enfants 
qui nécessitent une éducation spéciale publicado em 1830 propunha o tipo de 
educação necessária a crianças com atraso mental. 
Esquirol (1722 - 1840) escreveu o Dictionnaire des sciences médicales, no qual 
estabelecia a diferença entre o “idiotismo” e a demência. 
Seguin (1812 – 1836) elaborou um método para educação de crianças “idiotas” a 
que denominou método fisiológico. É considerado o primeiro autor de Educação 
Especial. 
 
9Com efeito, durante o século antecedente os deficientes mentais eram internados em orfanatos, 
manicómios, prisões e outros tipos de instituições indiscriminadamente dedicadas aos delinquentes, idosos, 
pobres, e outros marginalizados. 
 
 45 
Itard (1774 – 1836) dedicou seis anos da sua vida à educação do famoso garoto 
selvagem encontrado na selva de Aveyron10. É também um dos autores creditado 
como pai da educação especial. 
Em 1784, Valentin Haüy (1745 – 1822) criou em Paris um instituto para crianças 
cegas. 
Louis Braille (1806 – 1852), ex-pupilo de Valentin e posteriormente professor no 
instituto formado por este, foi o fundador do sistema de escrita para invisuais 
mundialmente adoptado: o braille. 
Já havia ouvido falar de algum destes nomes? Em que ocasiões? Conhece outro 
nome importante na história da educação especial? O que terá feito tal sujeito? 
No último século, com a introdução da escolaridade obrigatória e consequente 
expansão da escolarização básica, os princípios Fordistas e Tayloristas da divisão 
do trabalho são aplicados à educação. Nasce assim uma pedagogia diferente, a 
educação especial institucionalizada, baseada na psicometria11, com particular 
realce par ao quociente de inteligência. 
O que vem a ser, essencialmente, a educação especial? 
 (…) conjunto de recursos que a escola e as famílias devem ter 
ao seu dispor para poderem responder mais eficazmente às 
necessidades de um aluno com necessidades educativas 
especiais, recursos esses que, de uma forma interdisciplinar, irão 
permitir desenhar um ensino cuidadosamente planeado, 
orientado para as capacidades e as necessidades individuais 
desse aluno. Desta forma, a educação especial não é, ao 
contrário do que é habitual ler-se e ouvir-se nos meios 
académicos e nas escolas, uma educação paralela ao ensinoregular. Ensino especial, como muitos erradamente continuam a 
querer chamar-lhe. É, como já o disse, um conjunto de recursos 
especializados que se constituem como condição fundamental 
 
10 Para maiores esclarecimentos sobre a história desta criança sugere-se uma breve pesquisa na internet sob o título 
“O garoto selvagem” ou “o selvagem de Aveyron”. Caso o seu centro de recursos disponha de material audiovisual 
para este módulo, poderá informar-se sobre a existência do filme “O garoto selvagem”, editado nos anos 70 na 
França. 
11
 Área da psicologia que pode ser definida como conjunto de técnicas utilizadas para medir, de forma adequada e 
comprovada experimentalmente, um conjunto de comportamentos que se deseja estudar. Termo psicometria 
deriva do grego psyké, alma e metron, medida e medição. 
 
 46 
para uma boa prestação de serviços educativos para os alunos 
com necessidades educativas especiais (Correia, 2008: 19). 
 Em termos mais simples, quando falamos de educação especial referimo-nos 
àquelas instituições de ensino reservadas exclusivamente para alunos com 
necessidades educativas especiais, geralmente agrupados segundo um critério de 
deficiência, de tal sorte que podemos ter uma escola para alunos cegos (pensemos 
no Instituto de Invisuais, na cidade da Beira, por exemplo), ou surdos e/ou 
mudos, etc. 
Esta é opção educativa prescrita pela lei-quadro do sistema educativo 
moçambicano (vide art. 28-29 lei 6/92). Neste documento utiliza-se a 
terminologia “ensino especial” e caracteriza-se como a modalidade de educação 
de crianças e jovens com deficiências físicas, sensoriais e mentais ou de difícil 
enquadramento escolar e que realiza-se, de princípio, através de classes especiais 
dentro das escolas regulares. 
Pare e pense: conhece alguma escola especial? Fale-nos sobre ela. 
 
1.1.2. A Integração 
Outro termo importante quando falamos em modalidades de atendimento de 
alunos com NEE é a integração. Já ouviu falar dele? Sabe o que significa? Se não 
tiver uma ideia clara, comece pensando no significado do termo integrar, no 
sentido geral. 
A primeira resposta da escola para alunos com NEE na escola considerada normal 
(escola regular) foi a integração, que significa, literalmente, abrir as portas da 
escola regular para os alunos com NEE (lembre-se que antes os alunos com NEE 
só podiam frequentar as escolas especiais). 
Com efeito, em 1959 a Dinamarca incluía na sua legislação o conceito de 
“normalização”, entendido como a possibilidade de o deficiente mental 
desenvolver um tipo de vida tão normal quanto possível. Na década de 70, este 
conceito espalhou-se por toda a Europa e América do Norte, dando origem à 
substituição de práticas de educação segregadoras por práticas e experiências 
integradoras (por exemplo, em 1975, o Congresso dos Estados Unidos publicou a 
Public Law 94-142, “The Education for All Handicapped Children Act”). 
 
 47 
Do ponto de vista filosófico, o princípio de normalização liga-se à ideia de meio 
menos restritivo (ou não restritivo)12.Do ponto de vista pedagógico, liga-se à ideia 
de individualização, segundo a qual o atendimento a dar ao aluno com 
necessidades educativas especiais deve ajustar-se às características e necessidades 
de cada um. 
A integração escolar pode ser definida como um processo que se propõe a 
unificar a educação regular e a educação especial tendo em vista oferecer um 
conjunto de serviços a todas as crianças, com base nas suas necessidades de 
aprendizagem (Birch; 1974 citado por Bautista; 1993: 28). 
A integração não se propõe como uma simples colocação física do aluno com 
NEE num meio menos restritivo. Ela pressupõe a participação efectiva desta nas 
actividades escolares. Entretanto, existem diferentes situações e/ou modalidades 
de integração. Por exemplo, tem sido proposta uma gradação de graus de 
integração que vão da física, passando pela funcional, social até à integração na 
sociedade. 
 
E você, como professor, o que acha da ideia de integrar alunos com NEE numa 
sala/turma concebida normalmente para alunos sem NEE? Já se viu nessa 
situação? Que lições tirou dessa experiência? 
A seu tempo, esta atitude representava um grande ganho. De facto, pela primeira 
vez os alunos com necessidades educativas especiais podiam frequentar a mesma 
escola com os alunos ditos normais ou sem NEE. 
Entretanto, o facto de ser uma prática recente associada à possibilidade de 
existência de diversos graus tornou difícil a prossecução dos objectivos a que a 
integração se propunha. De facto, em geral apenas o aluno dito problemático 
devia preparar-se para adequar-se ao ritmo e rigor da escola regular e nunca o 
contrário. 
Portanto, frequentemente a presença de um aluno com NEE dentro de uma classe 
regular não era vista como um recurso que podia ser aproveitado pela turma da 
qual fazia parte. Era antes, motivo de frustração para o aluno, o qual enfrentava 
dificuldades para seguir o ritmo de aprendizagem dos demais colegas, 
 
12
 Ou meio mais normal possível, de acordo com as características do aluno. Dai a ideia de normalização, isto é, 
passar de uma escola especial para um meio escolar mais normal. 
 
 48 
particularmente quando apresentasse necessidades educativas severas (pense no 
caso de um aluno surdo colocado numa turma de alunos e professores ouvintes. 
Como se sairia este aluno?). 
Esta prática tinha como consequência directa o elevado índice de insucesso 
escolar dos estudantes com necessidades educativas especiais. Apresentou-se 
então a necessidade de pensar num novo modelo de convivência sadia e 
proveitosa entre os alunos com necessidades educativas especiais e os demais: a 
inclusão. 
 
1.1.3. Inclusão 
Se prestou atenção desde a primeira unidade certamente notou que da exclusão 
social a que estavam voltados os indivíduos com deficiência nos primeiros 
séculos passaram gradualmente a ganhar algum respeito, tendo até ganho o direito 
de terem escolas feitas para si: as escolas especiais. Um passo mais decisivo foi 
feito com o movimento da integração. Entretanto, a integração mostrou algumas 
fraquezas. Em sua opinião, o que pode ser feito para melhorar a integração? 
Pense, por exemplo, inspirado em situações que vive na sua escola. 
Enquanto a integração tem por alvo os alunos deficientes13, que são uma parte 
daqueles com NEE, a inclusão refere-se às várias práticas de resposta 
individualizada realizadas sobre todos os vários tipos de necessidades educativas 
de todos os alunos com NEE. 
Uma escola inclusiva é, assim, uma escola onde toda a criança é respeitada e 
encorajada a aprender até ao limite das suas capacidades. Podemos encontrar os 
primeiros sinais da inclusão no movimento “Regular Education Initiative 
(REI)”14. Este movimento defendia a adaptação da classe regular por forma a 
tornar possível ao aluno a aprendizagem nesse ambiente e desafiava os estudiosos 
a encontrarem formas de atender o maior número de alunos na classe regular, 
encorajando os serviços de educação especial e outros serviços especializados e 
associarem-se ao ensino regular. 
A inclusão pode ser definida como uma filosofia, e mais precisamente, como uma 
 
13
 Os quais devem ser integrados ou integrar-se na turma regular 
14
(Iniciativa da Educação Regular /ou Iniciativa Global de Educação), fundado pela então Secretária de Estado para a 
Educação Especial do Departamento de Educação dos EUA, Madeleine Will, em 1986. 
 
 49 
filosofia de educação que promove a educação de todos os alunos dentro da 
escola regular (Florian, 2003). 
Smith et al (2001), citados por Correia (2008: 11), definem a inclusão como a 
inserção física, social e académica na classe regular do aluno com necessidades 
educativas especiais durante uma grande

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