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1 Resumo de Noções Gerais de Direito

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1º Resumo de Noções Gerais de Direito 
1-Introdução ao estudo do Direito 
Objetivo: Introduzir o estudante na ciência do Direito, para sua compreensão e inserção no mundo social, não 
somente sob o aspecto da lei em si, mas como instrumento da realização da Justiça e da pacificação dos 
indivíduos em sociedade, quer nas relações individuais, quer na relação com o Estado Democrático de Direito. 
Definição: O Direito é inerente à existência da sociedade organizada, com regras de convivência pacífica entre 
os componentes dessa união, submissos aos poderes constituídos para a garantia de sua existência. Para bem 
entender a ciência do Direito, é necessário atentar-se para os vários sentidos da palavra direito. Muitas são as 
definições de direito, mas aqui lança-se mão da elaborada pelo ilustre Miguel Reale, em Curso de Filosofia do 
Direito (apud PINHO; NASCIMENTO, 2004, p. 28): “Direito é a vinculação bilateral atributiva da conduta para a 
realização ordenada dos valores de convivência”. 
Ordenamento jurídico- pág: 11 
A norma de conduta pode ser positiva ou negativa, sob o aspecto dos direitos fundamentais do ser social, 
expressos no artigo 5.º da Constituição Federal (CF de 1988), que se pode resumir em direitos individuais, de 
propriedade e de atividade. Para facilitar o entendimento, vale observar que essa indicação de ação positiva ou 
negativa encontra vértice no artigo 5.º, II, da CF: Art. 5.º [...] II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de 
fazer alguma coisa senão em virtude de lei; [... 
Impõe-se anotar que o império da lei deve se colocar a serviço da sociedade, regrando ações e omissões de 
conduta, visando ao bem comum e à convivência pacífica dos indivíduos do grupamento social. Em exercício 
de reflexão sobre o tema, considere-se a seguinte situação: “Observando seu direito fundamental de ir e vir, um 
indivíduo utilizando um veículo automotor, ao longo de seu trajeto, encontra um sinal (farol ou semáforo) 
vermelho e, em um outro ponto, um verde. Em qual das situações ele está diante de norma de conduta social 
negativa? E positiva? O desrespeito da norma posta, em ambos os casos, irá lhe causar a sanção de multa 
pela autoridade competente?” Comentário: a conduta em ambos os casos é cogente (obrigatória), baixo a 
sanção de multa. No caso do farol vermelho, é negativa ao direito de ir e vir; no caso do farol verde, é positiva 
ao direito de ir e vir. O regramento ora abordado sofre constantes alterações com base na evolução da própria 
sociedade, principalmente da efervescente interação do ser humano no seio social, com a aquisição de 
conhecimento do mundo que o rodeia e oriundo da evolução tecnológica, que altera comportamentos e facilita a 
inserção do homem na vida social. Quem de nós, há 30 anos, poderia imaginar que fatos ocorridos em terras 
longínquas seriam quase que instantaneamente conhecidos pela quase totalidade dos indivíduos do planeta? 
Essa efervescência, por outro lado, tem interferido nos limites dos direitos fundamentais dos indivíduos, 
impondo condicionamentos e restrições a esses direitos. As restrições limitam os direitos fundamentais, sendo 
certo, porém, que as condições postas não inibem o exercício desses direitos, mas o normatizam, em benefício 
do coletivo, sob o poder estatal de polícia administrativa, em regra. Para a consolidação do quanto posto, vale 
refletir sobre as seguintes situações sob o crivo dos direitos fundamentais, para perfeita identificação da 
condição e da restrição. 
Assim, o Direito visa à realização da justiça por meio de princípios de conduta social, com obrigação coercitiva. 
Quando esses princípios são sustentados em afirmações teóricas, temos a Ciência Jurídica, em cuja cúpula 
encontra-se a Filosofia do Direito. Quando esses princípios são concretizados em normas jurídicas, temos o 
Direito Positivo, expresso na legislação. A sistematização dos princípios em normas legais constitui a Ordem 
Jurídica, ou seja, o sistema legal adotado para assegurar a existência do Estado e a coexistência pacífica dos 
indivíduos na comunidade. Daí a existência de duas ordens jurídicas: a interna e a internacional. 
Direito objetivo, subjetivo, elementos e relação de Direito 
Direito objetivo: “Direito norma” 
O Direito, objetivamente considerado, é o conjunto de normas de conduta social coativamente imposta pelo 
Estado. Segundo Roberto de Ruggiero (apud PINHO; NASCIMENTO, 2004, p. 28): O Direito objetivo pode 
definir-se como o complexo das regras impostas aos indivíduos nas suas relações externas, com caráter de 
universalidade, emanadas dos órgãos competentes segundo a constituição e tornadas obrigatórias mediante a 
coação. 
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Direito subjetivo: “Direito faculdade” 
O Direito subjetivo, segundo Lhering é “o interesse juridicamente protegido” (apud PINHO; NASCIMENTO, 
2004, p. 28). Clóvis Bevilácqua, em seu livro Teoria Geral do Direito, ensina que “o Direito subjetivamente 
considerado é o poder de ação assegurado pela ordem jurídica” (apud PINHO; NASCIMENTO, 2004, p. 28). A 
diferença entre Direito objetivo e Direito subjetivo pode ser facilmente compreendida quando observamos as 
palavras do inesquecível José Cretella Júnior (1987), que define o Direito objetivo como “o conjunto de regras 
obrigatórias, em vigor no país, numa dada época”, e o Direito subjetivo como “a faculdade ou possibilidade que 
tem uma pessoa de fazer prevalecer em juízo a sua vontade, consubstanciada num interesse”. Assim podemos 
tomar como exemplo a locação de imóvel urbano para fins residenciais: há norma dispondo sobre a matéria (a 
Lei do Inquilinato que, como lei, compõe o Direito objetivo). No momento em que duas pessoas – locador e 
locatário – firmam o contrato de locação, esse pacto está sob a luz de norma jurídica expressa; se uma das 
partes deixa de cumprir com o contratado, a outra pode ingressar em juízo e, invocando os preceitos 
normativos que a amparam, exigir do outro a satisfação de sua obrigação e/ou a imposição de uma sanção 
(Direito subjetivo). 
Elementos e relação de Direito 
Em linhas gerais, o Direito compreende um sujeito, um objeto e uma relação (que assim é o “elemento de 
ligação” entre os outros). Os sujeitos do Direito são as pessoas naturais e jurídicas; logo, o sujeito do Direito é a 
pessoa em sua posição ativa. O objeto do Direito é o bem ou vantagem sobre o qual o sujeito exerce o poder 
conferido pela ordem jurídica, como (PINHO; NASCIMENTO, 2004, p. 19): 
-Os modos de ser da própria pessoa na vida social (v.g. a existência, a liberdade, a honra etc.); 
-As ações humanas; 
-As coisas corpóreas e incorpóreas 
 
Assim, objeto é o bem tangível ou intangível sobre o qual recai a manifestação da vontade. A relação de Direito 
é o elo de ligação entre o objeto e o sujeito. Para tratarmos dela, observando sua constituição e seus efeitos, 
adequado se faz conceituarmos esse tipo de relação. Dessa forma, mister se faz colacionarmos o que 
preleciona Edvaldo Brito (1999, p. 105), como segue: 
Vários doutrinadores ensinam que a relação de Direito somente se dá entre as pessoas; outros fazem distinção 
entre a atuação sobre objetos naturais e a ligação de pessoas entre si, a qual denominam de direitos de 
dominação, que impõem deveres diretos a outras pessoas. 
Assim, um simples “olá” ao dono da mercearia é um ato de relação social; porém, se há a aquisição de 
mercadoria, contra o pagamento de determinado preço, aperfeiçoa-se uma operação de compra e venda, uma 
relação jurídica, um contrato de compra e venda, que tem previsão e regulação em norma jurídica. 
Direito e moral 
A moral é interna (unilateral) e impõe ao sujeito uma escolha entre ações que pode praticar, mas diz respeito ao 
próprio sujeito, não impondo regras imperativas nem sanção legal, e sim a da própria consciência (SIQUEIRA 
JÚNIOR, 2003, p. 5). O Direito é bilateral e impõe conduta (ação ou omissão) para a convivência pacífica entre 
os indivíduos em sociedade, sendo imperativa e impondo sanção e repressão externa e objetiva(SIQUEIRA 
JÚNIOR, 2003, p. 5). 
Ramos do Direito- pág:19 
O Direito é uno, mas com o passar do tempo e com base em princípios peculiares, sofreu ramificações, sem, 
entretanto perder de vista a sua unicidade, sendo isso um fato de extrema relevância para podermos proceder 
ao seu estudo. 
Fontes do Direito 
A palavra fonte significa o lugar de onde provém alguma coisa. Edgar Magalhães Noronha (apud PINHO; 
NASCIMENTO, 2004, p. 39) esclarece: é o lugar onde perenemente nasce água. Em sentido figurado é 
sinônimo de origem, princípio e causa. Por ser uma criação social, a origem do Direito está na própria 
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sociedade, fato que enseja que a pesquisa das fontes do Direito se estriba no estudo da origem da norma 
jurídica. Assim, as fontes do direito, são: 
-Lei; 
-Costumes; 
-Doutrina; Jurisprudência. 
Além dessas, temos as formas de integração da norma jurídica: analogia, equidade e princípios gerais de 
Direito. 
Lei: Para São Tomás de Aquino, a lei “é uma ordenação ou prescrição da razão ao bem comum, promulgada 
por aquele que tem a seu cargo o cuidado da comunidade.” Em Direito, a palavra lei tem dois sentidos: 
Formal – é a disposição cogente emanada da autoridade competente (função legislativa); 
Material – é toda disposição geral e abstrata pertinente a uma disposição de Direito objetivo. 
Para a eficácia da lei, é necessária a existência de uma sanção (privação de liberdade, multa administrativa, 
embargo de atividade, interdição etc.). 
Costumes: Grosso modo, podemos definir costume como a postura normalmente aceita e adotada pela 
sociedade, em grau de consciente coletivo, perante determinada situação; é a norma jurídica criada na e pela 
própria sociedade, de forma espontânea e apta a gerar uma prática geral. Os costumes podem ser: contra 
legem (quando há comum e reiterada desobediência a um comando legal, na crença da inefetividade da lei); 
praeter legem (com a adoção de conduta ou prática que não tem previsão nem proibição na lei); e secundum 
legem (quando constituem prática com previsão na lei, que remete ao costume a solução do caso). Outrora, 
sem lei positiva nesse sentido, pelo costume, em nossa sociedade havia o hábito de o homem render 
homenagem à mulher, dando-lhe o direito de preferência para tomar assento em coletivos. Hoje, no sistema de 
transporte coletivo do município de São Paulo, por exemplo, o costume passou para o ordenamento jurídico, 
que determina, destacando-se com cor diferenciada, a reserva de assento para uso preferencial de mulheres 
em gestação, pessoas com crianças de colo, idosos etc. 
Jurisprudência: Vale notar que a expressão jurisprudência vem de iurisprudentia, do latim, onde ius é direito, 
iuris é do direito, e prudentia (para nós, prudência) significa circunspecção. Então, quando determinada ação 
chega aos tribunais, a matéria nela encerrada é submetida a uma criteriosa apreciação, dando-se uma decisão 
que, na interpretação dos membros do tribunal, obedece à melhor exegese do texto legal aplicado aos fatos; 
um só julgado em certo sentido constitui precedente; na medida em que cresce o número de ações tratando da 
mesma matéria e os feitos vão sendo apreciados e decididos pela mesma forma, sempre no mesmo sentido, 
esse elenco de decisões forma uma orientação, denominada jurisprudência. É a reiteração de decisões 
proferidas em um mesmo sentido pelo Poder Judiciário, em processos diversos envolvendo a mesma matéria. 
Conforme se vê do Novo Dicionário de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (1995), jurisprudência é a 
“interpretação reiterada que os tribunais dão à lei, nos casos concretos submetidos ao seu julgamento.” 
Importante observar que, como dito, esse elenco de julgados compõe uma orientação, servindo para nortear a 
todos os operadores do Direito (juízes, advogados, promotores etc.). Mas, como o cerne da jurisprudência é a 
interpretação (ou seja: a forma pela qual se entende melhor aplicável a lei ao fato concreto), a jurisprudência 
não compõe regra obrigatória e inflexível. Ao longo do tempo, o sentido dos julgados varia, adequando o Direito 
às mudanças sociais. 
Doutrina: Doutrina é o conjunto de princípios que servem de base para um sistema jurídico, compondo-se das 
obras escritas, dos preceitos, opiniões ou ensinamentos dos diversos autores e estudiosos das Ciências 
jurídicas e sociais, na produção ou elaboração de conceitos, teses e explicações dos institutos jurídicos. É, 
portanto, o estudo reflexivo do sistema jurídico (normas e princípios) elaborado pelos juristas. 
Formas de integração do Direito 
Analogia: Diz-se da existência de elementos de semelhança entre coisas diversas entre si. Juridicamente, é o 
processo lógico que autoriza o juiz a adaptar a um caso concreto, não previsto pelo legislador, uma norma que 
possua o mesmo fundamento. Pode-se dizer, ainda, que analogia é a operação pela qual se aplica a um caso 
não previsto, norma que diz respeito a uma situação prevista, havendo entre elas identidade de razões, de 
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causas ou de fins. Sua finalidade é suprir lacunas da lei; daí porque não se refere à interpretação jurídica em si, 
mas à integração da lei (GUIMARÃES, 1995, p. 68). 
Equidade: Conjunto de princípios imutáveis de justiça, fundados na igualdade perante a lei, na boa razão e na 
ética, que conduzem o juiz a um critério de moderação ao proferir a sentença, para suprir a imperfeição da lei 
ou modificar o seu rigor, tornando-a mais humana e amoldada à circunstância ocorrente. É a aplicação ideal da 
norma no caso concreto, sem o excessivo apelo à letra da lei. 
Princípios gerais de Direito: São critérios maiores, muitas vezes não escritos, que estão presentes em cada 
ramo do Direito (GUIMARÃES, 1995 p. 451). Por outro lado, “são ideias fundamentais do ordenamento jurídico”, 
e “segundo o jurisconsulto romano Ulpiano, são preceitos do Direito: viver honestamente, não lesar a outrem e 
dar a cada um o que lhe pertence” (PINHO; NASCIMENTO, 2004, p. 51). 
A lei e sua formação 
Lei é a norma geral e abstrata, emanada do poder competente e provida de força obrigatória. A força obrigatória 
da lei é condição de sua eficácia; a lei possui a propriedade de ser genérica, na medida em que obriga todos os 
membros do grupo social a que estende sua eficácia, e é abstrata na medida em que não visa a situações 
particulares ou concretas. A formação e a consumação da lei compreendem três fases distintas: 
-Iniciativa; 
-Aprovação; 
-Execução. 
 
Iniciativa: É a faculdade de se propor um projeto de lei, sendo atribuída a uma pessoa ou a um órgão de forma 
geral ou especial. Como diz a CF de 1988 em seu artigo 61: Art. 61. A iniciativa das leis complementares e 
ordinárias cabe a qualquer membro ou comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do 
Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Superior Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao 
Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição. 
Aprovação: É a fase de estudo e de deliberação da norma jurídica, por meio de debates, emendas e 
discussões dos representantes do povo, visando transformar o projeto em regra obrigatória. 
Execução: É a fase de elaboração da lei complementar destinada à formalização da proposição, 
compreendendo a sanção ou veto, a promulgação e a publicação. Esses institutos são entendidos como segue: 
Sanção é o ato de concordância do Poder Executivo com o projeto de lei; pode ser expressa ou tácita; 
Veto é a oposição do Executivo, devendo ser expresso, retornando o projeto de lei ao Legislativo para sua 
aceitação ou rejeição; 
 Promulgação é a declaração do chefe do Executivo ou do presidente do Congresso da incorporação da lei ao 
Direito Positivo; 
 Publicação é o meio de se tornar a lei conhecida e vigente. 
Hierarquia das normas: As leis possuem estratificação de importância conforme a natureza da matéria: 
a) leis constitucionais federais; 
 b) leis ordinárias federais; 
c) leis constitucionais estaduais; 
d) leis ordináriasestaduais; 
e) leis municipais. 
A noção de hierarquia deve vir, no sistema federativo brasileiro, acompanhada do estudo das competências de 
cada ente administrativo, na medida em que nosso país possui a forma de República Federativa, com três 
níveis de governo (União, Estados e Municípios), com três Poderes distintos (Executivo, Legislativo e 
Judiciário). Como se vê na CF de 1988: 
Art. 1.º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito 
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: 
Art. 2.º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. 
Por outro lado, de modo genérico, a lei tem estratificação em graus verticais, observada, no caso, a forma 
federativa, com três poderes, distintos e harmônicos entre si, em três níveis de governo (CF, art. 59): 
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a) Constituição; 
b) emendas constitucionais; 
c) leis complementares; 
d) leis ordinárias; 
 e) leis delegadas; 
f) medidas provisórias; 
g) decretos legislativos; 
h) decretos; 
i) resoluções. 
Vigência da lei: A eficácia de uma lei é sedimentada no seu vigor e abrangência no tempo e no espaço. 
Segundo disposições da Constituição Federal (CF) e do Código Civil (CC), a lei começa a vigorar 45 dias 
depois de oficialmente publicada, salvo se o legislador fixar outro prazo; a vacatio legis é o lapso temporal 
contado da data de publicação da lei até a data em que essa lei entra efetivamente em vigor. Nesse intervalo, a 
lei já existe, mas fica dormente, em estado de vacância, não tendo aplicação enquanto não transcorrer o prazo 
nela própria previsto, indicado expressamente. É um prazo destinado a “facilitar” a vida do cidadão, que assim 
tem a oportunidade (“tempo suficiente”) para conhecer a lei (texto e objetivos), preparando-se para dar-lhe o 
adequado e devido cumprimento. 
Cessação da obrigatoriedade da lei: A lei, em regra, tem duração indeterminada e só deixa de existir na 
ocorrência de revogação expressa (lei nova estabelece a cessação) ou tácita (a lei nova é incompatível com as 
disposições da anterior). 
Irretroatividade da lei: A lei é expedida para disciplinar fatos futuros, havendo exceções (v.g. aplicação de lei 
penal superveniente, se mais benéfica). 
2- Da personalidade e capacidade jurídica, do domicílio e bens 
Objetivo: Abordar o nascimento da personalidade civil e a proteção dessa personalidade na órbita do Direito 
Civil, alcançando a capacidade para operar direitos e obrigações; a figura do domicílio (residência) da pessoa 
natural (física) e da pessoa jurídica e, por fim, as diferentes classes de bens, fornecendo instrumental ao aluno 
nas relações pessoais, sociais e profissionais. 
Personalidade da pessoa natural: Na acepção jurídica, pessoa é o ente natural suscetível de direitos e 
obrigações. Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil, sendo que sua personalidade começa 
com o nascimento com vida, embora a lei coloque a salvo os direitos do nascituro, desde a concepção. 
Segundo o Código Civil (CC): 
*Art. 1.º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. 
* Art. 2.º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a 
concepção, os direitos do nascituro. 
Há de se verificar que, ao lado do registro do nascimento da personalidade jurídica, a lei impõe a obrigação do 
registro civil da pessoa natural. 
Personalidade da pessoa jurídica de Direito Privado 
A pessoa jurídica pode ser de Direito Público ou de Direito Privado. Em tempo oportuno veremos a pessoa 
jurídica de Direito Público; aqui trataremos da pessoa jurídica de Direito Privado que, sendo uma invenção 
humana, tem a sua existência legal no exato momento do registro do seu ato constitutivo. Assim, quando duas 
ou mais pessoas naturais somente ajustam a criação de uma terceira pessoa por meio de um contrato social, 
estatuto etc., nada acontece no mundo jurídico. 
Imagine-se, assim, a formação de uma sociedade, em qualquer de suas formas, para a consecução do objeto 
de comercialização de gêneros alimentícios, a prestação de serviço de conservação de bens imóveis, a 
construção civil e outros tantos objetivos que congregam os chamados sócios, por meio de um contrato social, 
por exemplo. A partir do seu registro, de forma legal, a pessoa jurídica passa a existir de forma autônoma e 
distinta das pessoas naturais que a compõem, sendo passível de alteração, quer no capital social, quer na 
composição societária, no domicílio, na abertura de filiais etc. Diz o CC: 
*Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo 
no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, 
averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo. 
 
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Capacidade da pessoa natural: A pessoa natural existe, com possibilidade de criar direitos e obrigações, a 
partir do seu nascimento. Isso posto, a questão passa a ser a identificação do momento em que ela pode criar 
esses direitos e obrigações de per si (por si mesma). Portanto, não estamos aqui a investigar a capacidade 
pessoal, mas sim a capacidade jurídica. Consultando o Novo Dicionário Aurélio, de Aurélio Buarque de Holanda 
(1995), temos especificamente sobre o âmbito jurídico: “7. Aptidão legal para adquirir e exercer direitos e 
contrair obrigações.” A capacidade, em nosso sistema jurídico, é medida por meio de uma escala etária, com 
absoluta presunção da inserção do indivíduo dentro do complexo social que o rodeia, com informações 
suficientes para o estabelecimento de direitos e obrigações. Assim, na forma dos artigos 3.º, 4.º e 5.º do CC, 
temos a seguinte gradação: 
-Incapacidade – de 0 a 16 anos; 
 -Capacidade relativa – de 16 a 18 anos; e 
 -Capacidade – acima de 18 anos. 
Essa é a regra, mas, enquanto regra, tem exceções, dada a dinâmica própria da vida de cada indivíduo, as 
repercussões de seu desenvolvimento e os caminhos trilhados. Para bem situar o discente, pela importância do 
tema, temos no texto do CC: 
Art. 3.º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: 
I - os menores de dezesseis anos; 
II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática 
desses atos; 
III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. 
Art. 4.º São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: 
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; 
II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento 
reduzido; 
III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; 
IV - os pródigos 
Art. 5.º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de 
todos os atos da vida civil. Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: 
 I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, 
independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis 
anos completos; 
II - pelo casamento; 
 III - pelo exercício de emprego público efetivo; 
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; 
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função 
deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria. 
 
Note-se, com base nos dispositivos legais, a regra etária, hoje muito discutida no campo penal, sem se perder 
de vista a interferência da inserção do indivíduo na sociedade que o rodeia, em determinada situação. Podemos 
tomar, por exemplo, a situação de um indivíduo, com 32 anos de idade, em perfeita higidez física e mental, em 
primeira viagem à capital do estado de São Paulo, com vista a participar de um workshopde produtos 
veterinários, representando a empresa na qual trabalha, no ramo de venda desses produtos, estabelecida no 
Norte do país. Chegando ao aeroporto da cidade de São Paulo, ele toma um táxi e, ao perguntar o valor da 
corrida, é-lhe cobrado um valor “x”. Naquele momento, o valor informado é considerado exorbitante diante dos 
padrões conhecidos. O passageiro então pede que o motorista explique o preço. Sendo informado que o preço 
da corrida corresponde ao dobro da importância consignada no taxímetro, em razão de recente aumento havido 
por ato da autoridade competente com tabela ainda a ser divulgada, e acréscimo pela bagagem de 20% (vinte 
por cento), solicitou o competente recibo discriminado, que lhe foi entregue. Em contato com o representante da 
empresa em São Paulo, toma conhecimento de haver sido lesado, uma vez que não existe a cobrança do dobro 
do valor consignado no taxímetro e tampouco o percentual de 20% para bagagem. Sendo assim, pergunta-se: 
será que o citado indivíduo possui capacidade jurídica para o estabelecimento do contrato de transporte? 
Certamente que não; sua inserção social é completamente diferente da existente em São Paulo, com clara 
inexperiência. Aqui, independentemente da idade, pelo desconhecimento (ignorância) da situação, a vontade e 
capacidade estão prejudicadas e tornam passível de invalidação o negócio celebrado ou sua revisão. Isso nos 
remete para o que diz o artigo 157 do CC, a ensejar a invalidade do valor cobrado e consequente direito de 
reembolso do excedente. 
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*Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a 
prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. 
 
Vejamos outro exemplo, para melhor fixação do conceito de capacidade jurídica: imagine-se, com base nos 
conhecimentos postos acima, que um indivíduo com 16 anos de idade migre de sua terra natal e se instale na 
região Sul do país, longe de seus familiares e, com a força de seu trabalho e com vínculo de emprego – 
posteriormente, como autônomo – na área de informática, passe a ter vida própria com o produto de seu 
trabalho. Dessa forma, pergunta-se: será que com 16 anos de idade o referido indivíduo, com subsistência 
derivada de seu trabalho, adquiriu capacidade? É certo que sim; a partir daí ele se inseriu no sistema social, 
alugando um quarto em uma pensão, posteriormente um pequeno apartamento, adquiriu bens móveis, 
contratou a prestação de serviços como autônomo, estando capacitado a decidir na esfera dos negócios 
jurídicos. Nesse sentido é a orientação do CC: 
*Art. 5.º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os 
atos da vida civil. Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: 
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função 
deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria 
 
Domicílio 
Domicílio da pessoa natural: O domicílio é o local onde a pessoa estabelece sua residência com ânimo 
definitivo. A conotação da palavra definitivo não deve ser tomada de forma absoluta, mas relativa, tendo em 
vista o primado dos direitos fundamentais do indivíduo (CF, art. 5.º), divididos em direitos individuais, de 
propriedade e de atividade. Assim, a pessoa natural se estabelece em uma residência (domicílio), podendo 
alterá-lo de acordo com suas conveniências, não existindo para tanto a mensuração temporal (um dia, um mês, 
um ano, dez anos etc.). O domicílio também não é uno; pode ser que uma pessoa tenha mais de um endereço, 
quando então qualquer um deles será considerado seu domicílio. Veja-se o caso do indivíduo que possua 
residência em uma cidade litorânea, abrigando ali sua mulher e filhos e, em virtude de suas atividades 
profissionais, em um grande centro possua um apartamento para viver, em regra, quatro dias da semana. 
Assim, essa pessoa natural possui dois domicílios (um na cidade litorânea e outro no grande centro). Além 
disso, temos o domicílio profissional, onde a pessoa natural exerce as suas atividades. A seguir, encontram-se 
as disposições concernentes ao domicílio no CC: 
*Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo. 
*Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á 
domicílio seu qualquer delas. 
*Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta 
é exercida. Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá 
domicílio para as relações que lhe corresponderem. 
*Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar onde for 
encontrada. *Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o mudar. 
 
Domicílio da pessoa jurídica de Direito Privado: O domicílio da pessoa jurídica de Direito Privado é o lugar 
onde funcionam as respectivas diretorias e administrações, ou o local de eleição (constante no ato constitutivo 
ou estatuto). Sobre o assunto, diz o CC: 
* Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é: 
IV - das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações, ou 
onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos. 
§1.º Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será considerado 
domicílio para os atos nele praticados. 
§2.º Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica, 
no tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no 
Brasil, a que ela corresponder. 
Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se exercitem e cumpram os 
direitos e obrigações deles resultantes. 
 
Diferentes classes de bens: Abstraindo-se o sujeito do direito, tem-se o objeto do direito (a coisa, o bem, o 
direito) serviente economicamente ao indivíduo. Os bens são divididos em diferentes classes: são considerados 
em si mesmos, observa-se sua titularidade, sua função, sua destinação, sua fruição e sua penhorabilidade. 
Observada a amplitude desse trabalho, tomaremos a divisão utilizada pelo CC de 2002, descrita a seguir. 
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Bens considerados em si mesmos 
Bens imóveis: São imóveis o solo e tudo o que se lhe incorpora natural ou artificialmente, bem como os 
direitos reais sobre imóveis, as ações que os asseguram e o direito à sucessão aberta, sendo importante 
verificar-se a mantença do caráter de imóvel da edificação separada do solo para remoção para outro local e os 
materiais provisoriamente separados para reemprego. Segundo o CC: 
*Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente. 
 *Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais: 
 I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram; 
 II - o direito à sucessão aberta. 
*Art. 81. Não perdem o caráter de imóveis: 
 I - as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local; 
II - os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se reempregarem. 
 
Bens móveis: São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio ou de remoção por força alheia, sem 
alteração da substância ou destinação econômico-social, bem como as energias com valor econômico, os 
direitos reais sobre objetos móveis, as ações correspondentes e os direitos pessoais de caráter patrimonial e as 
respectivas ações, além dos materiais destinados à construção enquanto não forem empregados, com 
reaquisição dessa qualidade quando provenientes de demolição. De acordo com o CC: 
*Art. 82. São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoçãopor força alheia, sem alteração 
da substância ou da destinação econômico-social. 
*Art. 83. Consideram-se móveis para os efeitos legais: 
 I - as energias que tenham valor econômico; 
 II - os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes; 
III - os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações. 
* Art. 84. Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem empregados, conservam sua 
qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os provenientes da demolição de algum prédio. 
 
Bens fungíveis e consumíveis: São fungíveis os bens móveis que podem substituir-se por outros da mesma 
espécie, qualidade e quantidade; por exemplo, uma mesa ou uma caneta. São consumíveis os bens móveis 
cujo uso importa destruição imediata da própria substância, sendo também considerados tais os destinados à 
alienação; por exemplo, os alimentos (bens consumíveis de fato) e o dinheiro (bem consumível de direito). Diz o 
CC: 
* Art. 85. São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e 
quantidade. *Art. 86. São consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria 
substância, sendo também considerados tais os destinados à alienação. 
 
Bens divisíveis: São os que se pode fracionar sem alteração da sua substância, diminuição considerável de 
valor, ou prejuízo do uso a que se destinam; por exemplo, a divisão em duas porções de um saco de açúcar ou 
de farinha. Segundo o CC: 
* Art. 87. Bens divisíveis são os que se podem fracionar sem alteração na sua substância, diminuição 
considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam. 
* Art. 88. Os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis por determinação da lei ou por vontade 
das partes. 
 
Bens singulares e coletivos 
São singulares os bens que, embora reunidos, consideram-se de per si, independente dos demais. São 
singulares simples na formação de um todo homogêneo por força da natureza ou da ação humana (materiais 
ou imateriais); por exemplo, um carneiro, uma folha de papel, crédito. São singulares compostos quando coisas 
heterogêneas são ligadas pela ação humana, como os materiais utilizados em uma construção. Os bens tomam 
a característica de uma universalidade de fato quando formam um conjunto de bens singulares, corpóreos e 
homogêneos, ligados entre si pela vontade humana para a realização de um determinado fim, como uma 
coleção de discos ou uma biblioteca. 
Os bens coletivos são aqueles compostos de vários bens singulares que, enquanto juntos, passam a formar 
um todo homogêneo. Como uma manada de búfalos, uma esquadra de navios, uma frota de táxis ou ônibus, 
um rebanho de ovelhas. Também são denominados universalidades. Eles, no conjunto, são vistos como 
unidade e, assim, podem, por exemplo, ser adquiridos e vendidos (no seu todo). Uma esquadrilha é formada 
por vários aviões, mas eles não estão rigorosamente ligados. Assim, se forem vendidos ou desaparecerem 
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todos menos um, o remanescente continuará sendo aeronave, mas passará a ser tido e havido apenas um 
avião, como singelamente ele o é. De acordo com o CC: 
* Art. 89. São singulares os bens que, embora reunidos, se consideram de per si, independentemente dos 
demais. *Art. 90. Constitui universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que, pertinentes à mesma 
pessoa, tenham destinação unitária. Parágrafo único. Os bens que formam essa universalidade podem ser 
objeto de relações jurídicas próprias. 
*Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo de relações jurídicas, de uma pessoa, dotadas de valor 
econômico. 
 
Bens reciprocamente considerados: O bem pode ser principal e acessório. 
Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente (CC, art. 92, primeira parte), como o solo. 
Acessório é o bem ou valor cuja existência supõe a do principal (CC, art. 92, segunda parte), como uma árvore 
frutífera plantada no jardim de uma casa ou um galpão construído nos fundos do terreno. 
* Art. 92. Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente; acessório, aquele cuja existência 
supõe a do principal. 
*Art. 93. São pertenças os bens que, não constituindo partes integrantes, se destinam, de modo duradouro, ao 
uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro. 
*Art. 94. Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, salvo se o 
contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso. 
* Art. 95. Apesar de ainda não separados do bem principal, os frutos e produtos podem ser objeto de negócio 
jurídico. 
*Art. 96. As benfeitorias podem ser voluptuárias, úteis ou necessárias. 
§1.º São voluptuárias as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do bem, ainda que o 
tornem mais agradável ou sejam de elevado valor. 
 §2.º São úteis as que aumentam ou facilitam o uso do bem. 
§3.º São necessárias as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore. 
* Art. 97. Não se consideram benfeitorias os melhoramentos ou acréscimos sobrevindos ao bem sem a 
intervenção do proprietário, possuidor ou detentor. 
 
Bens públicos: São públicos os bens de domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de Direito Público 
Interno. 
* Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno; 
todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem. 
* Art. 99. São bens públicos: 
 I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças; 
II - os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da 
administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de suas autarquias; 
III - os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito 
pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades. Parágrafo único. Não dispondo a lei em contrário, consideram-
se dominicais os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de 
direito privado. 
* Art. 100. Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto 
conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar. 
* Art. 101. Os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigências da lei. 
*Art. 102. Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião. 
*Art. 103. O uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou retribuído, conforme for estabelecido 
legalmente pela entidade a cuja administração pertencerem. 
 
3- Fato jurídico, ato jurídico e negócio jurídico 
Objetivo: Abordar a interação do indivíduo dentro da sociedade, que ocorre por meio de eventos denominados 
fatos, atos ou negócios jurídicos, assim como sua invalidação, preparando para o perfeito entendimento da 
esfera contratual, que é constante e imperiosa na sociedade moderna. 
Fato e ato jurídico 
O fato é um acontecimento que nem sempre gera consequências jurídicas, e assim alça a tipificação de fato 
jurídico. Acompanhe a seguinte situação: atirar uma bolinha de gude para fora de sua propriedade, fazendo 
com que esta pare junto ao meio-fio da calçada caracteriza um simples acontecimento sujeito às leis da física. 
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Entretanto, se ao atirar a mesma bolinha de gude para fora de sua propriedade e esta atingir o vidro de um 
carro e quebrá-lo, o acontecimento terá efeito jurídico e, não obstante a ausência de intenção, faz nascer o 
direito de o lesado ver-se reparado. Assim, fatos jurídicos são acontecimentos regulados no ordenamento 
jurídico que criam, conservam, transferem, modificam ou extinguem direitos e obrigações. 
O ato jurídico, em contrapartida, é o ato humano voluntário com efeitos regulados em norma jurídica. Não nos 
parece que a diferença seja de difícil compreensão: enquanto se atira uma pedra ao vento, sem um alvo 
especificado ou intençãode produção de dano, mas o evento acontece, um simples fato passa a ser um fato 
jurídico, ao passo que o ato jurídico é humano e voluntário, por exemplo, mudar de residência. 
 
Negócio jurídico 
No negócio jurídico, o ato humano voluntário tem o fim de concretizar efeitos jurídicos, no interesse da própria 
pessoa ou no de outrem. A validade do negócio jurídico se estriba em elementos essenciais, imprescindíveis à 
sua própria existência, divididos em gerais (vontade, capacidade, objeto lícito) e específicos (observando-se 
cada negócio jurídico em suas peculiaridades, no tocante à forma e à prova). O artigo 104 do Código Civil (CC) 
diz que: 
Art. 104. a validade do negócio jurídico requer: 
I - agente capaz; 
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; e 
III - forma prescrita ou não defesa em lei. 
Embora sendo pressuposto do ato negocial, toma-se o entendimento de que a vontade isenta de mácula é 
condição primordial de sua validade e eficácia. 
 
Assim, vamos aos elementos de validade do negócio jurídico: 
-Vontade – declaração de vontade isenta de mácula, como erro, dolo, simulação, coação, estado de perigo, 
lesão e fraude; 
-Agente capaz – aqui deve-se relembrar a capacidade civil adstrita à inserção do indivíduo na sociedade, com 
aptidão para a criação de direitos e deveres, com base na faixa etária (com excludentes desta, observados os 
eventos da vida); 
 -Objeto lícito – o objeto do negócio deve ser legalmente permitido, não contrário aos bons costumes, à ordem 
pública e à moral; 
 -Forma prescrita ou não vedada em lei – a forma é o modo pelo qual a manifestação da vontade se 
exterioriza, com elementos e requisitos de validade. 
 
Defeitos do negócio jurídico 
Como vimos, o negócio jurídico encerra ato humano voluntário e tem por finalidade a concretização de efeitos 
jurídicos em seu interesse ou no de outrem. 
Desse modo, então, já observamos os requisitos que são indispensáveis para a validade do negócio jurídico. 
Resta-nos apreciarmos os casos de hipótese diversa. Assim, como introdução e, portanto, antes de 
adentrarmos no campo da invalidação do negócio jurídico, é válido fazermos uma breve apreciação dos 
defeitos do negócio jurídico. Vimos que são elementos de validade do negócio jurídico: a vontade, a capacidade 
do agente, a licitude do objeto e obediência de forma prescrita ou não vedada em lei. 
À luz do vigente CC, há defeito no negócio jurídico quando esse carrega deficiência capaz de ensejar sua 
anulação. Os defeitos jurídicos estão elencados nos artigos 138 a 165, definindo-se como capazes de ensejar a 
anulação do negócio jurídico as hipóteses de erro, dolo, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. 
Nesse particular, importante observar que quando o negócio estiver inteiramente desprovido de força para gerar 
os efeitos jurídicos efetivamente almejados, ocorre a nulidade (art. 166); e quando ele produz efeitos mas, em 
razão de vícios, esses efeitos podem ser invalidados por iniciativa da parte prejudicada pelo componente 
viciado, tem-se presente a hipótese de anulabilidade (art. 171). 
 
Erro ou ignorância 
É o entendimento inexato sobre o objeto de vontade do ato negocial, sua natureza, o objeto da declaração ou a 
qualidade da pessoa. Para viciar o ato, o erro deve ser substancial, encerrando conhecimento incorreto das 
circunstâncias ou dos efeitos do negócio jurídico, de fato ou de direito; por exemplo, a venda de um bem, 
enquanto a outra parte está a visualizar uma doação. De acordo com o CC: 
Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro 
substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio. 
 Art. 139. O erro é substancial quando: 
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 I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele 
essenciais; 
II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde 
que tenha influído nesta de modo relevante; 
III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio 
jurídico. Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão determinante. 
Art. 141. A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável nos mesmos casos em que o é a 
declaração direta. [...] 
Art. 143. O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade. 
Art. 144. O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de 
vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante. 
 
Dolo 
 Dá-se na situação de desconhecimento, por uma das partes, das reais circunstâncias de um ato negocial, 
provocada pela outra parte (por malícia, dissimulação etc.). O ato será anulável quando versar sobre o dolo 
principal, ou seja, a causa determinante, que enseja perdas e danos, diferentemente do dolo acidental, quando 
o negócio seria realizado sem o vício, em outras condições; por exemplo, doar um bem a uma pessoa que, de 
modo costumeiro e aparentando mendicância, encontra-se esmolando pelas ruas, e depois, descobrir que ela 
possui bens suficientes para a sua mantença, amealhados da habitualidade de esmolar. Segundo o CC: 
Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa. 
Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o 
negócio seria realizado, embora por outro modo. 
Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou 
qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se 
teria celebrado. 
Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele 
tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro 
responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou. 
Art. 149. O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder civilmente até 
a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o representado 
responderá solidariamente com ele por perdas e danos. 
Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou 
reclamar indenização. 
 
Coação 
É a grave ameaça de danos à pessoa, a seus bens ou a seus entes familiares, bem como a terceiros, a critério 
judicial. Nos dizeres do artigo 151 do CC, “para viciar a declaração de vontade, há de ser tal que incuta ao 
paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens”; por 
exemplo, receber uma ligação com a ameaça de morte a um ente querido, sem a possibilidade de se confirmar 
essa informação e, seguindo a orientação, sacar dinheiro em caixa eletrônico e entregá-lo à terceira pessoa 
identificada em uma estação de ônibus. Sobre isso, diz o CC: 
Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de 
dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens. Parágrafo único. Se disser 
respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve 
coação. 
 Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do 
paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela. 
 Art. 153. Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor 
reverencial. Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter 
conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamentecom aquele por perdas e danos. 
 Art. 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que aproveite dela 
tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação responderá por todas as perdas e danos que 
houver causado ao coacto. 
 
Estado de perigo 
Considera-se em estado de perigo a pessoa que, premida pela necessidade de salvar a si ou a ente querido 
(situação essa conhecida da outra parte, caracterizando-se a má-fé), assume obrigação excessivamente 
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onerosa; por exemplo: uma pessoa se encontra em uma estrada vicinal, de madrugada, com um pneu furado e 
o estepe sem ar, e vê aproximar-se de um lado um veículo e do outro um grupo de pessoas que lhe parecem 
armadas e perigosas; para escapar da situação e, ao mesmo tempo, afastar o receio que sentiu ao vislumbrar a 
ameaça do referido grupo, ela trata com o condutor do veículo de certo valor para ser conduzida ao posto 
rodoviário, mesmo sabendo ser excessivo esse valor. 
Outro exemplo usado para explicar o estado de perigo é o de um náufrago, que beirando uma ilha, viu seu bote 
despedaçar-se contra as rochas e, sem ter outra alternativa, alcançou solo firme a braçadas. Depois de horas 
ali na ilha, assustado, extenuado, faminto, sedento e preocupado com seus familiares que dele não tinham 
notícia, vê que uma embarcação está próxima. Acena. Quando da aproximação pede para ser retirado de lá, 
dispondo-se a pagar por sua remoção. É pedida uma quantia exorbitante, muitas vezes maior que o preço que 
comumente é praticado pelos barqueiros que conduzem pescadores do continente para a ilhota e vice-versa e 
que alugam barcos para passeios. Mesmo assim, premido pela necessidade de voltar ao continente, aceita, sob 
pena de lá perecer e fazer padecerem os seus familiares que desconhecem do seu paradeiro. 
Segundo o CC: 
Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa 
de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. 
Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as 
circunstâncias. 
 
Lesão 
Ocorre a lesão quando alguém assume contraprestação desproporcional em virtude de necessidade ou 
inexperiência, conhecida ou não da outra parte; por exemplo, uma mãe, em desespero, ao buscar curativo para 
seu filho, paga os R$50,00 que lhe são cobrados, quando o preço usual é de R$15,00. De acordo com o CC: 
Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a 
prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. 
§1.º Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o 
negócio jurídico. 
§2.º Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida 
concordar com a redução do proveito. 
 
Fraude contra credores 
É a transmissão gratuita de bens ou sua simulação, bem como a remissão (perdão) de dívida, estando a 
pessoa em insolvência (incapacidade de saldar as dívidas), de forma consciente ou não; por exemplo, a doação 
de bens a descendentes, caindo-se na impossibilidade de saldar dívidas contraídas anteriormente com 
terceiros. Diz o CC: 
Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já 
insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores 
quirografários, como lesivos dos seus direitos. 
§1.º Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente. 
 §2.º Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles. 
Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a insolvência for 
notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante. [...] 
Art. 163. Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de dívidas que o devedor 
insolvente tiver dado a algum credor. 
 
Invalidação do negócio jurídico 
A inobservância ou o desrespeito aos elementos de validade e eficácia do negócio jurídico maculam o ato, 
podendo produzir a sua invalidade (nulidade), observada a classificação dos atos em nulos, anuláveis e 
inexistentes. São nulos os negócios viciados em sua própria substância, não produzindo qualquer efeito válido 
e eficaz desde o seu nascimento. Caracterizam-se pela ausência de preenchimento de determinados requisitos 
ou pela presença de insuficiências ou vícios, como por exemplo: faltar o requisito da capacidade; visar objeto 
ilícito, indeterminável ou impossível e ocorrer sob preterição de alguma solenidade (forma). Nesse sentido, veja-
se o que diz o CC: 
Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: 
I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; 
II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; 
III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; 
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 IV - não revestir a forma prescrita em lei; 
V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; 
VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa; 
 VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção. 
Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e 
na forma. 
§1.º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: 
 I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou 
transmitem; 
II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; 
III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados. [...] 
Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo. 
São anuláveis os negócios jurídicos quando carregam vício de incapacidade relativa ou vício de consentimento, 
vendo-se eivados no elemento vontade. 
 
O CC trata dos atos anuláveis por vício de vontade ou fraude de credores, como segue, em síntese: 
Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: 
 I - por incapacidade relativa do agente; 
 II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. [...] 
Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado: 
 I - no caso de coação, do dia em que ela cessar; 
II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio 
jurídico; III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade. 
 Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a 
anulação, será este de dois anos, a contar da data da conclusão do ato. [...] 
Art. 182. Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que antes dele se achavam, e, não 
sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente. 
 
São denominados atos inexistentes os atos que não preenchem quaisquer requisitos para figurarem do 
mundo jurídico. Podemos dizer que diferem dos atos nulos porque, enquanto aqueles transgridem norma legal, 
violam regras fundamentais concernentes à manifestação da vontade, esses independem de provocar ou não 
uma afronta a preceitos legais ou profanar a livre manifestação de vontade para serem afastados do mundo 
jurídico, já que nele nunca estiveram. Por evidente, o mesmo se aplica no comparativo entre atos inexistentes e 
os atos anuláveis 
Nesse passo, se pode afirmar que os atos inexistentes jamais terão convalidados ou suprimidos os seus 
efeitos, uma vez que jamais os teve. Não reúnem sequer “aparência” de ato jurídico. Residem no campo do 
“impossível jurídico” 
Para reflexão e autoelucidação, pense o aluno em uma certidão de óbito de alguémque nunca nasceu, jamais 
existiu. Pense, ainda, na hipótese de o chefe do Executivo, o governador do Estado, por exemplo, que lance 
uma sentença em um feito judicial, decretando o despejo de um locatário em uma ação renovatória de locação. 
Ou ainda, e por fim, em uma petição juntada em autos de certo processo, firmada por advogado que não tenha 
mandato. Ou por quem não seja advogado. Atos inexistentes são aqueles que não reúnem os mínimos 
requisitos para a existência no campo jurídico, não apresentando nem mesmo a aparência exterior de ato e não 
podendo ser ratificados nem convalidados; dessa forma, é inexistente o ato falsamente assinado em nome de 
outrem.