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Parasitologia - Teniase e cisticercose.

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Catharina Moura Parasitologia: Caso 10, 3º semestre – Medicina | UNIDOM. 
introdução 
A classe Cestoda compreende um interessante 
grupo de parasitos, hermafroditas, de tamanhos 
variados, que apresentam o corpo achatado e são 
providos de órgãos de adesão na extremidade mais 
estreita, sem cavidade geral e sem sistema digestório. 
Os cestódeos mais frequentes encontrados 
parasitando humanos pertencem a família Taenidae, 
com estaque ara Taenia solium e Taenia saginata – 
popularmente conhecidas como solitárias, 
responsáveis pelo complexo teníase-cisticercose, que 
são alterações patológicas causadas pela forma adulta 
e larvar do hospedeiro, respectivamente. 
De forma didática, a teníase e a cisticercose são 
duas doenças distintas, causadas pela mesma espécie, 
porém com fase de vida diferente, vejamos: 
• Teníase: 
É uma alteração provocada pela forma adulta da T. 
solium ou da T. saginata, no intestino delgado do 
hospedeiro definitivo - os humanos; 
 
• Cisticercose: 
É a alteração provocada pela presença da larva nos 
tecidos do hospedeiro intermediários normais – suínos 
e bovinos, mas hospedeiros anômalos (homem) 
podem abrigar a forma lavar da T. solium. 
 
morfologia 
1. Verme adulto: 
A T. saginata e a T. solium são vermes de coloração 
branca leitosa, apresentam corpo achatado em forma 
de fita, dividido em escólex – cabeça, colo – pescoço e 
estróbilo – corpo. 
 
• Escólex: 
Atua como órgão de fixação do cestódeo à mucosa 
do intestino delgado humano e apresenta quatro 
ventosas formadas de tecido muscular, arredondadas 
e proeminentes. 
Na T. solium, o escólex é globuloso como um 
rostelo ou rostro situado em posição central, entre as 
ventosas. 
A T. saginata tem o escólex inerme, sem rostelo e 
acúleos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
• Colo: 
É a porção mais delgada do corpo. Apresenta 
células do parênquima em intensa atividade de 
multiplicação, por isso, é a zona de crescimento do 
parasito ou de formação de proglotes. 
 
• Estróbilo: 
É o restante do corpo do parasito, logo após o colo. 
É constituído por segmentações (proglote ou anel), 
podendo ter de 800 a 100 e atingir 3 metros na T. 
solium; ou mais de 1000, atingindo até 8 metros na T. 
saginata. 
A estrobilização é progressiva, ou seja, a medida 
que o colo cresce vai ocorrendo delimitação das 
proglotes e cada uma delas inicia a formação dos seus 
órgãos – quanto mais afastado do escólex, mais 
evoluídas são as proglotes. 
o Classificação das proglotes: 
1. Jovens: 
São mais curtas e já apresentam o início do 
desenvolvimento dos órgãos genitais masculinos que 
se formam mais rápido do que os femininos. 
 
2. Maduras: 
Possui os órgãos reprodutores completos e estão 
aptas a se fecundar. 
 
3. Grávidas. 
Situadas mais distante do escólex, são mais 
compridas do que larvas e internamente os órgãos 
reprodutores vão sofrendo involução enquanto o útero 
se ramifica cada vez mais, ficando repleto de ovos. 
A proglote da T. solium é quadrangular, com útero 
apresentando 12 pares de ramificações dendríticas, 
contendo até 80 mil ovos – são eliminadas 
passivamente pelas fezes. 
A proglote grávida da T. saginata é retangular, com 
no máximo 26 ramificações uterinas do tipo 
dicotômico, contendo até 160 mil ovos – podem 
aparecer na roupa íntima do hospedeiro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
teníase e cisticercose 
Catharina Moura Parasitologia: Caso 10, 3º semestre – Medicina | UNIDOM. 
 
2. Ovo: 
São esféricos, morfologicamente indistinguíveis, 
constituídos por uma capa protetora – embrióforo, que 
é formado por blocos de quitina unidos por uma 
substância cementante que lhe confere resistência no 
ambiente externo. Dentro do ovo, encontramos a 
oncosfera com três pares de acúleos e dupla 
membrana. 
 
3. Cisticerco: 
É a forma larval! A parede da vesícula dos 
cisticercos é composta por três membranas: cuticular 
ou externa, celular intermediária e reticular interna. No 
sistema nervoso central do humano o cisticerco pode 
se manter viável por vários anos, sofrendo algumas 
modificações anatômicas e fisiológicas até a sua 
completa calcificação. 
 
habitat 
Ambas espécies, na fase adulta ou reprodutiva, 
vivem no intestino delgado humano. 
O cisticerco da T. solium é encontrado no tecido 
subcutâneo, muscular, cardíaco, cerebral e no olho de 
suínos – acidentalmente em homens e cães. 
Enquanto o cisticerco da T. saginata é encontrado 
nos tecidos dos bovinos. 
 
ciclo biológico 
Os humanos parasitados eliminam as proglotes 
grávidas cheias de ovos para o exterior. Nesse meio, as 
proglotes se rompem (pela contração muscular e 
decomposição das suas estruturas) e liberam milhares 
de ovos no solo. 
No ambiente úmido e protegido de luz solar 
intensa os ovos apresentam grande longevidade, 
mantendo-se infectantes por meses. 
A partir daí, um hospedeiro intermediário próprio 
– suíno para T. solium e bovino para T. saginata, ingere 
os ovos. Após a ingestão, o embrióforo (casca do ovo) 
sofre ruptura pelo meio ácido do estômago. No 
intestino, as oncosferas sofrem ação dos sais biliares, 
que são fundamentais para ativá-las e liberá-las. 
Após ativadas, as oncosferas saem do embrióforo 
e se movimentam no sentido da vilosidade, onde 
penetram e permanecem por cerca de 4 dias para se 
adaptarem as condições fisiológicas no novo 
hospedeiro. Em seguida, penetram nas vênulas e 
atingem veias e vasos linfáticos, onde através da 
corrente circulatória, são transportados para todos os 
órgãos e tecidos até atingirem o local de implantação 
por bloqueio capilar. Posteriormente, atravessam a 
parede do caso, chegando aos tecidos circunvizinhos. 
As oncosferas se desenvolvem para cisticercos em 
qualquer tecido mole (pele, musculaturas, olhos, 
cérebro) – mas preferem os músculo de maior 
movimentação e com maior oxigenação. 
No interior dos tecidos, perdem os acúleos e cada 
oncosfera transforma-se em um pequeno cisticerco, 
que começa a crescer. Os cisticercos se mantém viáveis 
nos músculos por alguns meses e o da T. solium, n SNC, 
por alguns anos. 
A infecção humana ocorre pela ingestão de carne 
crua ou mal passada de um porco ou boi contaminado. 
O cisticerco ingerido pelo homem sofre ação do suco 
gástrico, evagina-se e fixa-se, através do escólex, na 
mucosa intestinal do ID, onde se transforma em tênia 
adulta. Cerca de três meses após a ingestão do 
cisticerco, ocorre a eliminação de proglotes-grávidas. 
A T. solium vive por até três anos, enquanto a 
saginata, por 10. 
 
transmissão 
Na teníase, o humano se infecta após consumir 
carne suína ou bovina, crua ou malcozida, contaminada 
pelo cisticerco de cada espécie – T. solium (suíno) e T. 
saginata (bovino). 
A cisticercose humana, por sua vez, ocorre quando 
há ingestão acidental de ovos viáveis da T. solium que 
foram eliminados nas fezes de portadores de teníase. 
Pode ocorrer por: auto-infecção externa (o portador da 
T. solium elimina proglotes e ovos e leva-os a boca 
pelas mão contaminadas ou coprofagia), autoinfecção 
interna (ocorre durante vômitos e movimentos 
retroperistálticos do intestino), heteroinfecção 
(ingestão de alimentos ou água contaminada com ovos 
da T. solium disseminados por outro paciente 
infectado). 
 
patogenia e sintomatologia 
Devido ao longo tempo em que as tênias parasitam 
o homem, elas podem causar fenômenos tóxicos 
alérgicos pelas toxinas excretadas, provocar 
hemorragias pela fixação na mucosa, destruir o epitélio 
e produzir inflamação com infiltrado celular com hipo 
ou hipersecreção de muco. 
Além disso, o acelerado crescimento do parasita 
requer suplementação nutricional, visto que provoca 
competição com o hospedeiro. 
Tonturas, astenia, apetite excessivo, náuseas e 
vômitos, distensão abdominal, dores e perda de peso 
podem ser observados... 
A cisticercose humana é responsável por graves 
alterações nos tecidos e uma grande variedade de 
Catharina Moura Parasitologia: Caso 10, 3º semestre – Medicina | UNIDOM.manifestações, pela possibilidade do cisticerco se 
alojar em diversas partes do organismo. 
Quando no sistema nervoso central, pode se alojar 
no parênquima cerebral e nos espaços liquóricos, e 
induzir a formação de fibroses, granulomas e 
calcificações. Podem gerar obstrução do fluxo do LCR, 
hipertensão intracraniana, hidrocefalia e calcificações, 
que consistem na forma cicatricial da 
neurocisticercose. 
 
diagnóstico 
• Parasitológico: 
É feito pela pesquisa de proglotes e, mais 
raramente, dos ovos das tênias nas fezes; ou pelo 
método da fita gomada. 
Para ambas tênias o diagnóstico é genérico, visto 
que os ovos são iguais – para diagnosticar 
especificamente, é necessário realizar tamização 
(lavagem em peneira fina) do bolo fecal, recolher 
proglotes existentes e identificar pela morfologia da 
ramificação uterina. 
 
• Clínico: 
O diagnóstico da neurocisticercose baseia-se em 
aspectos clínicos, epidemiológicos e laboratoriais. 
Deve-se levar em consideração: 
o Procedência do paciente; 
o Criação inadequada de suínos; 
o Hábitos higiênicos; 
o Saneamento básico; 
o Qualidade da água utilizada para beber 
e irrigar hortaliças; 
o Ingestão de carne de porco mal 
cozida... 
 
profilaxia 
• Tratamento de portadores de teníase; 
• Construção de redes de esgoto ou fossas 
sépticas; 
• Tratamento de esgoto – para não contaminar 
rios; 
• Educação em saúde; 
• Modernização da suinocultura, combate do 
abate clandestino e inspeção rigorosa em 
abatedouros; 
• Liberação de carne adequada para consumo 
humano; 
• Impedir acesso do suino e bovino as fezes 
humanas; 
• Orientar a não comer carne crua ou malcozida. 
 
tratamento 
Para o tratamento da teníase, temos a Niclosamida e 
o Praziquantel. 
 
• Niclosamida: atua no sistema nervoso da 
tênia, levando a imobilização da mesma, 
facilitando a sua eliminação nas fezes; ou 
• Praziquantel: rompe a membrana do 
cisticerco, ocorrendo vazamento do líquido da 
vesícula, altamente antigênico, causando uma 
intensa reação inflamatória local – é 
necessário uso de corticoide associado. Essa 
medicação não deve ser empregada para 
tratar teníase em pacientes que tem as duas 
fromas da doença – teníase e cisticercose. 
Nesse caso, é recomendado tratamento 
separado e específico para cada uma delas. 
 
Para o tratamento da neurocisticercose, temos: 
• Praziquantel; 
• Albendazol: se mostrou mais eficaz e mais bem 
tolerado na terapia da neurocisticercose – 
também deve ser associado a corticoide; 
• Drogas sintomáticas: anticonvulsivantes, 
corticoides...

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