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1 EDUCAÇÃO PERMANENTE E CONTINUADA EM ENFERMAGEM 1 Sumário NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 3 CAMINHO PERCORRIDO ....................................................................... 7 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................... 19 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ...................... 25 EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE ............................................. 30 VISÃO DOS ENFERMEIROS SOBRE EDUCAÇÃO PERMANENTE ... 32 EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: INSTRUMENTO DE TRANSFORMAÇÃO DO TRABALHO DE ENFERMEIROS ............................. 34 DIFICULDADES RELACIONADAS À EDUCAÇÃO PERMANENTE NA PRÁTICA DOS ENFERMEIROS ...................................................................... 36 ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PELOS ENFERMEIROS PARA A PRÁTICA DA EDUCAÇÃO PERMANENTE ..................................................................... 38 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 44 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 INTRODUÇÃO A educação dos trabalhadores da saúde é uma área que requer empenho para o aprimoramento de métodos educativos que atinjam com eficácia a equipe multiprofissional. Para promover o desenvolvimento do processo de trabalho é preciso criar estratégias de educação que encorajem a participação dos trabalhadores da área da saúde e assim possibilitem a capacitação profissional. “A educação é um processo permanente que busca alternativas e soluções para os problemas de saúde reais vivenciados pelas pessoas e grupos em suas realidades”. (1) Entendendo que a Enfermagem constitui uma profissão da saúde em que estão inseridos diversos fatores que podem interferir em seu processo de trabalho, tais como, forte carga emocional e física, horários de trabalho atípicos, longas jornadas, insuficiência de funcionários, falta de autonomia e motivação, existe a necessidade de que essas ações educativas sejam uma realidade no cotidiano desta categoria. A concepção de educação relaciona-se com a profissão de enfermagem, levando-se em consideração que em todas as ações desta profissão estão inseridas práticas educativas, sendo assim, citamos que a Educação Permanente, Continuada e em Serviço podem ser “elos” que promovam o desenvolvimento profissional e pessoal. (2) Ao discutir educação em enfermagem, é importante definir conceitos acerca da Educação Permanente, Educação Continuada e Educação em Serviço, pois entender suas diferenças é o primeiro passo para exercitar essas práticas educativas voltadas para o trabalho em equipe. É relevante destacar que Educação Permanente, Educação Continuada e Educação em Serviço são processos que se caracterizam pela continuidade das ações educativas, ainda que se fundamentem em princípios metodológicos diferentes, e quando implementadas em conjunto possibilitam a transformação profissional através do desenvolvimento de habilidades e competências e assim fortalecem o processo de trabalho. (3) No campo dos sistemas de saúde, os debates acerca da educação e desenvolvimento dos recursos humanos levaram a contrastar paradigmas 4 das denominadas “Educação Continuada” e “Educação Permanente”. Também é referido que: “Percebe-se que estes conceitos, embora não opostos, conferem especificidades ao processo ensino-aprendizagem”. (4,5) Ressalta-se que o Ministério da Saúde aprovou em 2003 a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde que propõe que os processos de educação dos trabalhadores da saúde se façam a partir da problematização do processo de trabalho, e ressaltou que as demandas por mudanças e melhorias devem ser baseadas na análise do processo de trabalho, nos seus problemas e desafios. (6,7) Sendo assim, nosso problema se encontra na dificuldade de se conceituar esses termos de forma clara e concisa a partir de várias literaturas disponíveis, onde cada autor entende o processo de educação no trabalho e na enfermagem de acordo com suas reflexões, onde o profissional da prática assistencial desconhece essas diferenças e vive esses termos de forma errônea com a equipe. Desta forma, o artigo proposto vem para discutir esses conceitos e esclarecer as concepções, assim como, debater com os autores as definições trazidas pelos mesmos e diferenciar essas propostas educativas, possibilitando exercitá-las da melhor forma. - Discutir os conceitos de Educação Permanente, Educação Continuada e Educação em Serviço e como estes conceitos se relacionam. - Contribuir para o incentivo de novas pesquisas relacionadas ao tema, para que assim se chegue a um consenso acerca dos conceitos de Educação Permanente, Educação Continuada e Educação em Serviço, e ao mesmo tempo, que esses possam ser conhecidos pela equipe de enfermagem possibilitando sua implementação no processo de trabalho, encorajando a promoção da educação na enfermagem. Busca ainda reforçar a necessidade de inclusão da “Educação Permanente” como descritor na Biblioteca Virtual em Saúde. Trata-se de uma Revisão Integrativa realizada nas seguintes bases de dados: realizada no período de novembro a dezembro de 2011. 5 A Revisão Integrativa é um método de revisão mais amplo, pois permite incluir literatura teórica e empírica bem como estudos com diferentes abordagens metodológicas (quantitativa e qualitativa). (8) Este método tem como principal finalidade reunir e sintetizar os estudos realizados sobre um determinado assunto, construindo uma conclusão, a partir dos resultados evidenciados em cada estudo, mas que investiguem problemas idênticos ou similares. (9) Os estudos incluídos na revisão são analisados de forma sistemática em relação aos seus objetivos, materiais e métodos, permitindo que o leitor analise o conhecimento pré-existente sobre o tema investigado. (10) A Revisão Integrativa se divide em seis etapas que foram utilizadas nesta pesquisa, sendo a primeira Identificação do tema e elaboração da Questão Norteadora, que foi a seguinte: Quais os conhecimentos produzidos sobre Educação Permanente, Educação Continuada e Educação em Serviço e como estes conceitos se relacionam? A segunda etapa foi o estabelecimento de critérios de inclusão, que foram estes: estudos publicados nos últimos 5 anos; textos em Português, visto que a Política Nacional de Educação Permanente é uma política pública do Brasil; artigos científicos que conceituem Educação Permanente, Educação continuada e Educação em serviço; artigos científicos. E critérios de exclusão: trabalhoscientíficos que não atendam a questão do estudo. Ainda nesta etapa foi realizada a busca de amostragem na literatura e estabelecimento dos descritores a serem utilizados, que nesta pesquisa foram: “Educação em Enfermagem” and “Educação” and “Educação Continuada em Enfermagem”, onde descrevemos o caminho percorrido pelo fluxograma apresentado. A terceira etapa consistiu na seleção dos trabalhos científicos de acordo com seus conceitos embasadores, objetivos e metodologia, a definição das informações a serem extraídas dos artigos científicos selecionados e categorização dos mesmos. 6 Como quarta etapa, realizamos a avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa e análise crítica, correlacionando-os. Na quinta etapa foi realizada a interpretação e discussão dos resultados, destacando os trabalhos que trouxeram de forma mais clara e concisa as diferenças conceituais entre as vertentes da educação que foram pesquisadas. E como sexta e última etapa, foi apresentada a revisão e síntese do conhecimento produzido acerca dos conceitos de Educação Permanente, Continuada e em Serviço. 7 CAMINHO PERCORRIDO Educação continuada como fator influenciador do aprimoramento profissional A educação continuada é definida como um conjunto de atividades educativas para atualização do indivíduo, onde é oportunizado o desenvolvimento do funcionário assim como sua participação eficaz no dia-a-dia da instituição. Como fatores que influenciam na aprendizagem e nas mudanças educacionais, estão o conhecimento e a prática atualizados, onde cria-se no funcionário necessidades de readaptação e reorientação no seu processo de trabalho, o que subsidia a implantação da estratégia de educação continuada. Ao mesmo tempo em que consideramos a atualização das práticas educacionais em saúde, emerge a necessidade de construção de relações entre as equipes, considerando suas práticas intersetoriais e interinstitucionais, as quais implicam em políticas na área da saúde. Estabelecer um programa de educação continuada tendo como base a interdisciplinaridade propicia maior interação na equipe de saúde, oportunizando a promoção da aprendizagem e intercâmbio dos conhecimentos. A educação continuada pode ser definida de diferentes maneiras, mas o propósito de aquisição do conhecimento, habilidades e mudanças 8 comportamentais para o aprimoramento profissional e da assistência, deve estar inscrito nessa definição. A realidade da educação continuada na enfermagem nos serviços públicos de saúde, fica latente a necessidade de maior divulgação a respeito da composição e finalidade dos Polos de Educação Permanente para haver uma participação comprometida dos trabalhadores da saúde e ações consequentes com seus princípios e metas. Tecendo alguns comentários acerca do processo de educação continuada, as manifestações se direcionam para a insipiência das propostas, assim como para a falta de elementos como estrutura física e de pessoal e também de uma política da instituição para essa forma de educação. A educação permanente na equipe de enfermagem para prevenir a infecção. A educação permanente carece ser uma habilidade desenvolvida pelo enfermeiro continuamente a fim de que o desempenho e aprimoramento profissional de toda equipe de Enfermagem na prevenção da infecção hospitalar seja eficiente e eficaz os desafios para a implementação de medidas preventivas e de controle de Infecção Hospitalar envolvem desde políticas institucionais e administrativas, normatização do serviço, relações interpessoais e intersetoriais, até o envolvimento e a capacitação dos profissionais. Encontramos em um dos estudos que a Educação continuada é um ponto importante e decisivo da qualidade de assistência de enfermagem, e a conceitua como um processo de atualização técnico-científica contínuo que oferece ao profissional a reflexão da profissão, e de suas práticas, que promove o desenvolvimento pessoal e eleva a autoestima, permitindo a experimentação da autonomia no desempenho profissional. A educação continuada perpassa o profissional como forma de estímulo e motivação daqueles por ele assistido, para manifestarem também as experiências de autonomia, elevação da autoestima e desenvolvimento pessoal. Entendendo, que a educação continuada pode possibilitar a melhora no relacionamento entre cliente, família e equipe, assim como na compreensão da 9 doença, devido ao encorajamento da aquisição de conhecimento, despertando o autoconhecimento no profissional. Ao refletirmos sobre o conceito de educação continuada, a partir de outro autor, podemos compreendê-la como: [...] um processo educativo, formal ou informal, dinâmico, dialógico e contínuo, de revitalização e superação pessoal e profissional, de modo individual e coletivo, buscando qualificação, postura ética, exercício da cidadania, conscientização, reafirmação ou reformulação de valores, construindo relações integradoras entre os sujeitos envolvidos para uma práxis crítica e criadora. A educação continuada considera a vivência de trabalho do profissional, onde a valorização desse saber aponta a realidade do serviço, a exposição das necessidades e problemas, e estimula a troca de experiências, a criação de uma nova prática do saber, a partir do pensamento crítico gerado por esse processo. A educação continuada é aqui apresentada numa perspectiva mais ampla, que se preocupa com a valorização do ser humano. Além da busca de metodologias diferenciadas para aplicar na tentativa de avançar no processo de ensino aprendizagem, possibilitando favorecer a resolução de problemas da prática. Para o autor supracitado, o conhecimento acerca da educação continuada oscilou desde uma vertente restrita de treinamentos, capacitação e atualização dentro de modelos tradicionais até uma visão que não esgota somente nessas atividades, onde a educação continuada é entendida como momento de valorização e crescimento pessoal do profissional no trabalho. Educação Permanente em Saúde (EPS) como prática pedagógica baseada na aprendizagem significativa Em 1978, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) conceituou a EPS como um processo dinâmico de ensino e aprendizagem, ativo e contínuo, com a finalidade de análise e melhoramento da capacitação de pessoas e 10 grupos, frente à evolução tecnológica, às necessidades sociais e aos objetivos e metas institucionais. Após 2003, a Educação Permanente foi instituída no Brasil como política pública. A Política Nacional de Educação Permanente em Saúde foi citada em quase todos os artigos enquadrados nessa categoria, exceto o 5º artigo que não a cita diretamente, mas conceitua a EPS de forma adequada com o que é proposto na Política. Percebemos que existe um consenso entre os autores selecionados para esta categoria sobre o conceito de Educação Permanente. O conceito de EPS é definido na Política Nacional como aprendizagem no trabalho, em que o aprender e o ensinar são incorporados ao cotidiano das organizações e ao processo de trabalho e propõe que, os processos de educação dos trabalhadores da saúde se façam a partir da problematização da própria prática. A proposta pedagógica utilizada na capacitação permanente necessita considerar os trabalhadores como sujeitos de um processo de construção social de saberes e práticas, preparando-os para serem sujeitos dos seus próprios processos de formação ao longo de toda a sua vida. A capacitação precisará incidir sobre o processo de trabalho, sendo realizada de preferência no próprio trabalho, avaliada e monitorada pelos participantes. A EPS constitui-se em uma das alternativas viáveis de mudanças no espaço de trabalho, em razão de cogitar formas diferenciadas de educar e aprender, atravésda qual se propõe transcender ao tecnicismo e as capacitações pontuais, instigando a participação ativa dos educandos no processo, assim como o desenvolvimento da capacidade crítica e criadora dos sujeitos. Porquanto, prospecta-se que a educação permanente busca transformar as práticas profissionais existentes através de respostas construídas a partir da reflexão de trabalhadores, estudantes e demais atores sociais. 11 Propões, ainda, a EPS que, através da análise coletiva dos processos de trabalho, seus atores possam se responsabilizar mutuamente pela produção de autonomia e de cuidados na perspectiva da integralidade da assistência. Baseada na aprendizagem significativa, a EPS também propõe que essa análise seja desenvolvida na interlocução, em rodas de conversas sobre os problemas e dificuldades vivenciados no cotidiano da produção do cuidado, da gestão, da formação dos trabalhadores para o SUS e da participação e controle sociais. Outros autores aproximam-se do conceito de EPS abordado no trabalho acima citado e completam que a EPS parte dos questionamentos do meio social dos atores do próprio processo e os considera agentes ativos no processo de aprendizagem. Uns estudos referem-se à Política Nacional de EPS e também se aproxima dos demais ao dizer que o Ministério da Saúde tem se preocupado com a educação permanente como meio de transformar as práticas educativas da formação, da atenção, da gestão, de formação de políticas, de participação popular e de controle social no setor de saúde. Foi apontado em um dos estudos que a EPS é uma atividade educativa de caráter contínuo, cujo eixo norteador é a transformação do processo de trabalho, centro privilegiado de aprendizagem. É voltada para a prática educativa que se orienta pelo cotidiano dos serviços, partindo da reflexão crítica sobre os problemas referentes à qualidade da assistência, assegurando a participação coletiva multiprofissional e interdisciplinar favorecendo a construção de novos conhecimentos e intercâmbio de vivências; representando o esforço de transformar a rede pública de saúde em um espaço de ensino-aprendizagem no exercício do trabalho. Outro artigo selecionado define EPS conforme o conceito trazido pela Política Nacional e sua interface com a obra de FREIRE, ao tratar a formação de sujeitos críticos, propõe a pedagogia libertadora e problematizadora, entendida como uma forma de ler o mundo no ambiente de trabalho. Essa ultrapassagem de limites, do campo específico da educação para o mundo e do mundo para a educação, possibilita a utilização dessa pedagogia na área da saúde e, mais especificamente na educação permanente, fortalecendo 12 e instrumentalizando os profissionais para a transformação deste mundo por meio da ação consciente. Mais um dos estudos utilizados também referência em seu trabalho a Política Nacional de Educação Permanente e concorda com o artigo acima referido ao relacionar a EPS a obra de FREIRE e apontar o diálogo enquanto essência da educação e como prática de liberdade que consiste em um fenômeno humano, o qual não deve ser reduzido ao simples depósito de ideias de um sujeito no outro, pois representa o encontro entre os homens, para problematizar situações e modificar a realidade. E assim, diz, que a educação promove autonomia, responsabilidade social, além de contribuir para a formação de indivíduos politizados, críticos e reflexivos, capazes de transpor as dificuldades e modificar o status quo. Assim, a EPS visa ao questionamento da “realidade e suas metas de pactos e acordos diversos que conformam propostas e projetos potentes para mudar as práticas e operar realidades vivas, atualizadas pelos diferentes saberes e conexões, pela atividade dos distintos atores sociais em cena e pela responsabilidade com o coletivo”. E tem por objetivo trabalhar com as equipes e não com os trabalhadores corporativamente organizados, ou seja, apresenta um enfoque multiprofissional e interdisciplinar. Mais um autor vai ao encontro do que foi dito pelos demais e acrescenta que a EPS tende a oportunizar uma prática reflexiva e não apenas mecanizada pela intensidade da necessidade do fazer, ou seja, uma prática mediada pela capacidade de refletir e pela necessidade de mudar quando a finalidade humana é requerida e, ainda, a partir dos processos desencadeados no trabalho. O último estudo selecionado para esta categoria também dialoga com os demais ao definir educação permanente com base na Política Pública instituída e traz que a EPS constitui estratégia fundamental às transformações do trabalho no setor para que venha a ser lugar de atuação crítica, reflexiva, propositiva, compromissada e tecnicamente competente. 13 Diferenças e Marcos Conceituais Foram pontuadas importantes diferenças entre a educação continuada e a educação permanente, para que não haja confusão entre essas práticas, definindo a EC como toda ação desenvolvida após a profissionalização objetivando atualizar os conhecimentos, adquirir novas informações, considerando um conjunto de experiências subsequentes à formação inicial, que permite ao profissional qualificar sua competência individual e que esta esteja alinhada à suas responsabilidades. O mesmo autor cita ainda que a educação continuada pode ser adicionada na educação permanente, devido ao estímulo do desenvolvimento da consciência nos profissionais sobre sua realidade, ressaltando que para ocorrer de forma efetiva, é necessário direcionar a educação continuada ao desenvolvimento global, para alcançar a melhoria da assistência de Enfermagem. Encontramos também que a educação de trabalhadores de Enfermagem é referida em três dimensões: Educação Permanente, Educação Continuada e Educação em Serviço, e afirma que há ausência de consenso entre essas, entretanto duas dessas propostas –EC e EP, se apresentam mais consolidadas e têm um caráter complementar, porém com marcantes diferenças conceituais. A EC é desenvolvida como extensão do modelo escolar e acadêmico, fundamentada no conhecimento técnico-científico, com ênfase em treinamentos e cursos, para adequar os profissionais ao trabalho na respectiva unidade, de modo que a EC não é um espaço de reflexão e crítica sobre o cuidado, mas uma reprodução de abordagens já consagradas. Ainda segundo o autor, outras práticas educativas foram introduzidas ao processo de trabalho, de forma a propor mudanças de maior impacto, e propostas como práticas sociais. Essas ações vêm ao encontro do conceito de Educação Permanente, citada pelo autor como aprendizagem no trabalho, onde o aprender e o ensinar se incorporam ao cotidiano das organizações, fundamentada nas contribuições 14 de Paulo Freire, principalmente em relação à proposta de tornar o profissional um ser problematizador. A EC desenvolve-se conforme os objetivos da instituição, é realizada no ambiente de trabalho, e vem acontecendo de forma tradicional, não valorizando os saberes preexistentes e a construção de novos conhecimentos. Já a EP tem intenção de mudanças na formação e no desenvolvimento profissional, o conteúdo a ser estudado emerge de situações vivenciadas pelos trabalhadores, e articula esferas como a gestão, os serviços de saúde, as instituições de ensino e órgãos de controle social. Comparando a EC e a EP, fica definido que a EC trabalha de forma uniprofissional, busca uma prática autônoma, enfoca temas e especialidades, tem por objetivo a atualização técnico-científica, e tem periodicidade esporádica, além de se utilizar de metodologias fundamentadas na pedagogia de transmissão, e espera atingir a apropriação do saber científico de forma passiva. Já a EP, trabalha de forma multiprofissional, busca uma prática institucionalizada, tem por objetivo a transformação de práticas técnicas e sociais, a periodicidadeé contínua, fundamenta-se na pedagogia centrada na resolução de problemas, onde o resultado é a mudança institucional, a apropriação ativa do saber científico, fortalecendo a equipe de trabalho. Alguns autores, ao escrever sobre a educação na equipe de enfermagem, citam conceitos de EC e de EP, sem diferenciá-los metodologicamente, e ainda descrevem resultados eficientes quando esses processos são utilizados para melhoria da prática assistencial, definindo como cada um desses gera resultados positivos tanto para o usuário assistido quanto para o profissional que estará em desenvolvimento contribuindo para que o trabalho seja um ambiente de contínuo aprendizado. A EC também pode ser conceituada como um conjunto de práticas usuais que objetivam mudanças pontuais nos modelos hegemônicos de formação e atenção a saúde. E a EP é um processo permanente que promove o desenvolvimento integral dos profissionais do setor, empregando situações mais apropriadas para atingir a aprendizagem significativa. 15 E completa ainda que a EC deva considerar as necessidades do profissional, do setor de trabalho, da instituição e a inovação tecnológica. As concepções de EP e EC são distintas e suas diferenças podem ser apreendidas na literatura, onde a EP é entendida como espaço de problematização, reflexão, diálogo e construção de consensos, está fundamentada na concepção de educação como transformação e aprendizagem significativa, na valorização do trabalho como fonte do conhecimento, voltada para um olhar multiprofissional, interdisciplinar e as práticas sociais e relacionada à concepção da integralidade. E a Educação Permanente trabalha na perspectiva da transformação, participa do desenvolvimento das ações de ensino em serviço, considera as singularidades, necessidades de formação e desenvolvimento para o trabalho em saúde, fortalecendo a atenção integral a saúde. E a EC vem passando por mudanças e ampliação do conceito, onde associam a construção do conhecimento, a partir da subjetividade dos trabalhadores, valoriza a ciência como fonte de conhecimento, é fragmentada e não se articula à gestão e ao controle social, e se coloca na perspectiva de mudanças organizacionais em que está inserido o profissional. A EC embora seja um conceito antigo, tem sofrido reformulações, e no contexto do trabalho compreende um processo educativo de revitalização pessoal e profissional, que busca qualificação, postura ética, exercício de cidadania, conscientização, e reformulação de valores, almejando uma práxis crítica e reflexiva, entendendo a EC como uma das provedoras da ação de saber- fazer e do refazer as ações no cotidiano. Encontramos que a Educação Continuada inclui atividades desenvolvidas após a graduação, relaciona-se com atualização, mas possui duração definida com metodologia tradicional. Ressalta-se que a EC destina-se ao desenvolvimento de habilidades, para uma mudança de atitude e comportamentos cognitivos, afetivos e psicomotores. Entretanto a EP, surge como uma exigência na formação do sujeito, buscando características como: autonomia e capacidade de aprender, baseado no aprendizado contínuo, no que tange ao auto aprimoramento e à busca de competência pessoal, profissional e social. 16 Esse autor ainda inclui a Educação em serviço como prática educativa integrada ao processo de educação no trabalho, conceituando a ES como um processo a ser aplicado nas relações humanas, do trabalho, objetivando o desenvolvimento de capacidade cognitiva, psicomotoras e relacionais, assim como o aperfeiçoamento diante da evolução tecnológica, dessa maneira contribui para a valorização profissional e institucional. E ainda, “A educação em serviço objetiva o desenvolvimento profissional, provendo os serviços de profissionais mais capacitados para o trabalho”, ou seja, é prática inerente ao processo de trabalho, composta por ações educativas no ambiente de trabalho para fazer com que o profissional consiga relacionar o que lhe está sendo transmitido a sua prática diária. Destaca-se que a EP, EC e ES podem incentivar a transformação pessoal e profissional do sujeito, sanando as dificuldades existentes na realidade de ensino dos enfermeiros, pensando numa enfermagem com objetivos coletivos que devem ser alcançados por todos os integrantes da equipe. Para tanto, a Educação Permanente, Continuada e em Serviço, podem motivar o profissional e incentivá-lo a mudança, e assim buscar minimizar as dificuldades nas práticas de ensino, objetivando uma enfermagem com propósitos que almejem serem alcançados por todos da equipe. A partir das definições acima, vimos a importância da educação na enfermagem e principalmente como esses conceitos se complementam e interagem entre si. Portanto, todo processo educativo não tem um fim em si mesmo. Ele é um processo inacabado, sendo necessário retroalimentá-lo continuamente pela dinâmica do setor saúde, e a Educação Permanente, Continuada e em Serviço são ferramentas para essa construção. A educação é um fenômeno social e universal, sendo uma atividade humana necessária à existência e ao funcionamento de toda a sociedade, portanto esta precisa cuidar da formação de seus indivíduos, auxiliando-os no desenvolvimento de suas capacidades físicas e espirituais e prepará-los para a participação ativa e transformadora nas várias instâncias da vida social. 17 Apesar disso, a educação não é apenas uma exigência da vida em sociedade, mas também é o processo para prover os sujeitos do conhecimento e das experiências culturais, científicas, morais e adaptativas que os tornam aptos a atuar no meio social, mundial e planetário, ou seja, ela depende da união dos saberes. Apesar de depender da união dos saberes, o que existe hoje é a fragmentação total da educação, há separação em duas linhas: de um lado, a escola, dividida em partes, de outro lado, a vida, na qual se desenvolve o sujeito e os problemas são cada vez mais multidisciplinares, globais e planetários. Neste contexto, a falta de complexidade na educação – complexidade entendida aqui como abrangência, profundidade – prejudica o conhecimento e as informações decorrentes da educação recebida durante a vida. Além da afirmação acima menciona-se que o homem deve ser sujeito de sua própria educação, não pode ser objeto dela, isto implica em uma busca contínua do homem, como um ser ativo na construção do seu saber, responsabilizando-se por sua educação, procurando meios que o levem ao crescimento e aperfeiçoamento de sua capacidade. Desse modo, percebe-se a educação como um processo dinâmico e contínuo de construção do conhecimento, por intermédio do desenvolvimento do pensamento livre e da consciência crítico-reflexiva, e que, pelas relações humanas, leva à criação de compromisso pessoal e profissional, capacitando para a transformação da realidade. Ao relacionar essa concepção de educação com a profissão de enfermagem, considerada também como prática social, compreende-se que, em todas as ações de enfermagem, estão inseridas ações educativas. Assim sendo, há necessidade de promover efetivas oportunidades de ensino, fundamentadas na conscientização do valor da educação como meio de crescimento dos profissionais da enfermagem, bem como o reconhecimento deles pela função educativa no desenvolvimento do processo de trabalho, pois 18 para estes o conhecimento é um valor necessário do agir cotidiano e este embasa as suas ações. Nesse horizonte, cabe reafirmar que, no contexto da prática e do desenvolvimento profissional, a questão educativa pode ser percebida em diferentes vertentes e situações tais como: educação permanente, educação continuada e educação em serviço. O interesse em entender como os termos são percebidos pelos enfermeiros origina-se do pressuposto que estes compreendem educação permanentecomo responsabilidade da instituição empregatícia e que as ações de educação continuada e em serviço são confundidas e estanques, e por isto não causam o impacto necessários a melhoria da qualidade da assistência. Portanto entende-se que a educação permanente, continuada e em serviço, podem motivar a transformação pessoal e profissional do sujeito, buscando alternativas para minimizar as dificuldades existentes na realidade de ensino do hospital-escola e da unidade de ensino, pensando numa enfermagem com propósitos e objetivos comuns, que devem ser alcançados por todos os integrantes. As autoras justificam a realização deste estudo considerando a vivência das mesmas como docentes em instituições que contemplam unidades de saúde, de ensino profissionalizante e superior, e hospital-escola, que, dentre inúmeras funções, visa à obtenção de condições favoráveis ao desenvolvimento profissional, para a melhoria da qualidade dos serviços prestados, assim como à integração entre academia e serviço. Para tanto, acreditam que o enfermeiro necessita de instrumentos para continuar a aprender, assim, com a discussão sobre a educação permanente, continuada e em serviço, tem-se a intenção de contribuir para subsidiar essa questão e oferecer melhores condições de atuação profissional, com consequente melhoria dos serviços de saúde. Frente ao exposto, o objetivo é discutir a educação permanente, continuada e em serviço, junto aos enfermeiros de um hospital de ensino. 19 REFERENCIAL TEÓRICO A educação permanente surge como uma exigência na formação do sujeito, pois requer dele novas formas de encarar o conhecimento. Atualmente, não basta 'saber' ou 'fazer', é preciso 'saber fazer', interagindo e intervindo, e essa formação deve ter como características: a autonomia e a capacidade de aprender constantemente, de relacionar teoria e prática e vice-versa, isto refere-se à inseparabilidade do conhecimento e da ação. A educação permanente, baseada no aprendizado contínuo, é condição necessária para o desenvolvimento do sujeito, no que tange ao seu auto aprimoramento, direcionado-o à busca da competência pessoal, profissional e social, como uma meta a ser seguida por toda a sua vida. A diversidade de informações, bem como a ampla gama de necessidades de conhecimento nas mais diversas áreas, leva à constatação de que seria tarefa quase impossível para a educação formal garantir uma adequada formação ao sujeito. Neste sentido, ela é um compromisso pessoal a ser aprendido, conquistado com as mudanças de atitudes decorrentes das experiências vividas, por meio da relação com os outros, com o meio, com o trabalho, buscando a transformação pessoal, profissional e social. A educação permanente consiste no desenvolvimento pessoal que deve ser potencializado, a fim de promover, além da capacitação técnica específica dos sujeitos, a aquisição de novos conhecimentos, conceitos e atitudes. É, portanto, intrínseca, uma capacidade a ser desenvolvida, uma competência, é o aprender constante em todas as relações do sujeito. 20 As reflexões acima se fundamentam no conceito da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciências e Cultura (UNESCO), que descreve educação permanente, a partir do princípio de que o homem se educa à vida inteira, atentando para o seu desenvolvimento pessoal e profissional, a evolução das capacidades, motivações e aspirações e que as suas necessidades nem sempre são de caráter emergente. Outro aspecto importante a ser considerado é a denominação educação continuada, entendida como toda ação desenvolvida após a profissionalização com propósito de atualização de conhecimentos e aquisição de novas informações e atividades de duração, definida por meio de metodologias formais. A educação continuada é conceituada como o conjunto de experiências subsequentes à formação inicial, que permitem ao trabalhador manter, aumentar ou melhorar sua competência, para que esta seja compatível com o desenvolvimento de suas responsabilidades, caracterizando, assim, a competência como atributo individual. Ela é um conjunto de práticas educativas contínuas, destinadas ao desenvolvimento de potencialidades, para uma mudança de atitudes e comportamentos nas áreas cognitiva, afetiva e psicomotora do ser humano, na perspectiva de transformação de sua prática. Para uma efetiva educação continuada, faz-se necessário direcioná-la ao desenvolvimento global de seus integrantes e da profissão, tendo como meta a melhoria da qualidade da assistência de enfermagem. Assim, essa tarefa não se resume a ensinar, pois engloba desenvolver no profissional de enfermagem uma consciência crítica e a percepção de que ele é capaz de aprender sempre, por meio da educação permanente, e motivá-lo a buscar, na sua vida profissional, situações de ensino-aprendizagem. Corroborando com este contexto, no I Seminário de Educação Continuada em Enfermagem, promovido pela Sociedade Brasileira de Enfermagem (ABEn), na década de oitenta, entende-se que a educação continuada significa a 21 aquisição progressiva de competências, que devem ser visíveis na qualidade do exercício da assistência de enfermagem. Na organização dos projetos sobre educação continuada na enfermagem, devem-se considerar prioritários os eventos relacionados à área e os programas de admissão, atualização, treinamento, pós-graduação, pesquisa, gerência e integração docência-assistência, todos conduzidos e fundamentados no cuidado humano. Ainda, fortalece essa concepção sobre educação continuada a Organização Pan-americana da Saúde (OPS), segundo a qual a educação continuada é um processo dinâmico de ensino aprendizagem, ativo e permanente, destinado a atualizar e melhorar a capacidade de pessoas, ou grupos, face à evolução científico-tecnológica, às necessidades sociais e aos objetivos e metas institucionais. Para que tais pressupostos sejam seguidos, as estruturas de educação continuada existentes nas organizações devem criar espaços de discussão, propor estratégias e alocar recursos, proporcionando que os trabalhadores dominem as situações, a tecnologia e os saberes do seu tempo e do seu ambiente, para possibilitar o pensar e a busca de soluções criativas para os problemas. Neste contexto a pesquisa é apontada como uma das ferramentas que podem colaborar nesse processo, pois ela tanto auxilia na validação de práticas já consagradas, qualificando o seu uso no cotidiano, como na transformação crítica do presente, pela possibilidade de apontar as mudanças necessárias. Inserida nesse cenário de aprendizagem também está a educação em serviço, caracterizando-se como um processo educativo a ser aplicado nas relações humanas do trabalho, no intuito de desenvolver capacidades cognitivas, psicomotoras e relacionais dos profissionais, assim como seu aperfeiçoamento diante da evolução científica e tecnológica. Dessa maneira, ela eleva a competência e valorização profissional e institucional. 22 A educação em serviço é considerada como um tipo de educação cujo desenvolvimento processa-se no ambiente de trabalho, voltada para uma instituição em particular. Nesse âmbito, destaca-se a importância da educação em serviço para a enfermagem, como sendo um dos esteios para a assistência eficaz ao paciente, pois, por meio de um processo educativo atualizado e coerente com as necessidades específicas da área, ela mantém o seu pessoal valorizado e capaz de apresentar um bom desempenho profissional. Na educação em serviço, podem destacar quatro áreas de atuação, que são a orientação ou introdução ao trabalho; treinamento; atualização; e aperfeiçoamento, aprimoramento ou desenvolvimento. Considerando as questões explanadas, percebe-se que, na educação em serviço, os projetos de ensino devem estar em consonância com os interesses de todos osenvolvidos, ou seja, devem atender aos anseios e às necessidades daqueles que deles vão participar, aos objetivos da instituição e, no caso específico da enfermagem, à finalidade do trabalho, que é a melhoria da assistência de enfermagem. Apesar da distinção entre os termos educação permanente, continuada e em serviço, todas têm caráter de continuidade do processo educativo, mas se fundamentam em diferentes princípios metodológicos. Entende-se também que a educação permanente é mais ampla, por fundamentar-se na formação do sujeito, enquanto a educação continuada e a em serviço estão contidas na permanente, num contexto de complementaridade. A pesquisa é de natureza qualitativa e busca a compreensão do tema pesquisado, favorecendo o processo de descobrimento, por meio de análise, síntese de ideias e conceitos, com envolvimento de aspectos emocionais e contextuais. A técnica escolhida para a coleta de dados foi o grupo focal, visto que é uma metodologia exploratória, no intento de prover a compreensão das percepções, dos sentimentos, das atitudes e motivações. 23 Esta permite ao investigador verificar como as pessoas avaliam uma experiência, ideia ou um evento, como definem um problema e quais opiniões, sentimentos e significados encontram-se associados a esse problema. Sob essa ótica, o grupo focal apresenta caráter exploratório e avaliativo, voltado à compreensão de dimensões subjetivas do coletivo, acerca do tema de estudo. Esta técnica de pesquisa qualitativa prevê a obtenção de dados por meio de discussões em grupo, nas quais cada participante expressa sua percepção, suas crenças, seus valores, suas atitudes e representações sociais sobre o tema estudado. O grupo focal deve estar centrado em ouvir as opiniões e experiências de cada participante. Os sujeitos nesta pesquisa foram nove enfermeiros, com no mínimo um ano de atuação no serviço e/ou ensino no hospital universitário, em diferentes funções: assistenciais, coordenadores, docentes de curso de graduação e curso técnico em enfermagem. A diversidade na composição do grupo focal visa permitir a identificação e a compreensão de diferenças de percepção sobre o tema. Visando a busca por esclarecimentos que fundamentem os objetivos do estudo, os debates do grupo focal devem ser conduzidos por um guia de temas, cuja finalidade é propiciar uma investigação produtiva, ele consiste em questões a serem trabalhadas nas reuniões, com o propósito de nortear a discussão. Na elaboração do guia de temas, procurou-se relacionar os objetivos da pesquisa aos questionamentos feitos aos enfermeiros, assim, para discutir sobre educação permanente, continuada e em serviço, buscou-se, nas duas primeiras sessões, identificar os fatores intervenientes no processo educativo, dentro do processo de trabalho do enfermeiro. A terceira sessão teve como objetivo descrever fatores que facilitam ou dificultam o desenvolvimento da educação no ambiente do trabalho. Na quarta sessão, discutiu-se a diferenciação dos termos educação permanente, continuada e em serviço. 24 Durante a quinta sessão, a proposta foi delinear o conceito de educação permanente num hospital escola, e a sexta e última sessão visou à proposição de diretrizes para o desenvolvimento da educação permanente. Os dados foram coletados no período de outubro a dezembro de 2003, durante as seis reuniões do grupo focal, por meio do recurso de gravação (imagem e vídeo), além dos registros realizados pela coordenadora/moderadora e pela observadora das sessões, com a finalidade de obter todas as expressões verbais e corporais possíveis dos sujeitos do estudo, visando conseguir uma transcrição de dados fidedigna e possibilitar a compreensão deles pela temática pesquisada. A partir da transcrição dos dados, obtida por meio de cópia rigorosa das expressões verbais, realizou-se a análise pela técnica do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). A proposta dos autores é reconstruir com pedaços de discursos individuais, como em um quebra-cabeça, tantos discursos-síntese quantos se julguem necessários para expressar uma dada 'figura', ou seja, um dado pensar ou uma representação social de um fenômeno. Observa-se que, apesar desta técnica envolver várias pessoas falando, não se trata de um nós, mas de um eu coletivizado. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Sociedade Evangélica Beneficente de Curitiba, que analisou e aprovou a pesquisa, na qual para a coleta de dados respeitou-se os princípios éticos, em conformidade com a Resolução 196/96 do Ministério da Saúde, reservando todos os direitos da equipe e da instituição, garantindo aos participantes a liberdade de recusar a participar, ou retirar seu consentimento no decorrer do trabalho. 25 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Os dados obtidos nas sessões do grupo focal e analisados pela técnica do discurso do sujeito coletivo, que versam sobre a educação permanente, continuada e em serviço, são relatados a seguir. O discurso do enfermeiro descreve que: a busca do conhecimento deve ser uma habilidade interna, desenvolvida natural e constantemente. Quando isso não ocorre, o estímulo para a mudança vem da necessidade de crescer, da exigência do mercado de trabalho, do avanço tecnológico, e ele é encontrado nas relações da família, do trabalho, da escola, dialogando-se constantemente. A partir de um estímulo inicial, essa busca de conhecimento torna-se um hábito incorporado e realimentado por meio da qualidade da assistência prestada, pela aquisição da autoconfiança, pelo respeito pessoal e profissional, levando o profissional a ousar e, consequentemente, a buscar cada vez mais conhecimento. Para justificar e fundamentar as questões relatadas no discurso do enfermeiro sobre o processo educativo encontra-se base na definição de educação, descrita como toda modalidade de influências e inter-relações que convergem para a formação de traços de personalidade social e do caráter, implicando uma concepção de mundo, ideais, valores, modos de agir, que se traduz em convicções ideológicas, morais, políticas e princípios de ação frente a situações e desafios da vida prática. Neste sentido entende-se que a educação origina-se em todas as experiências vivenciadas pelo sujeito nas diversas situações que se apresentam, portanto, a educação implica na busca constante do homem pela construção do seu conhecimento, procurando meios que o levem ao crescimento e aperfeiçoamento de seu saber. O Discurso do enfermeiro sobre o termo educação permanente diz que esta é percebida como a educação do início ao fim da vida, com o nascimento 26 começa a aprendizagem e continua até o fim, durante todo o processo de formação. Ela é intrínseca à pessoa, é a busca pelo conhecimento, por novas informações, e move-se por duas razões: aprimoramento pessoal e exigência do trabalho, sendo que, em qualquer uma das formas, leva a aquisição de conhecimentos novos e sua aplicação. É constituída na formação geral escolar. Essa definição de educação permanente leva ao entendimento de que o enfermeiro deve ter no auto aprimoramento, direcionado à busca da competência pessoal e profissional, uma meta a ser seguida por toda a sua vida. A variedade de informações, bem como a ampla gama de necessidades de conhecimento nas mais diversas áreas, leva à constatação de que seria tarefa quase impossível para a educação formal garantir uma adequada formação do sujeito. O enfermeiro compreende que a educação permanente engloba a educação continuada e a em serviço, respectivamente, uma formal e outra informal, complementando as necessidades do profissional. As duas formam a educação permanente, pois a pessoa está permanentemente adquirindo e construindo conhecimento. Está relacionada ao profissionalismo, compromisso e envolvimento coma profissão, bem como ao prazer pelo trabalho, conduzindo ao desejo de estar sempre atualizado, informado e evoluindo profissionalmente. Além disso, há a exigência do mercado de trabalho, que seleciona os melhores profissionais. Com este entendimento de que a educação permanente integra a educação continuada e em serviço, o enfermeiro compreende que todas possuem caráter de continuidade de aprendizagem, entretanto desenvolvem-se em diferentes metodologias. Assim, o desenvolvimento da educação permanente leva o profissional enfermeiro à competência, ao conhecimento e à atualização, que são 27 componentes necessários para garantir a sobrevivência, tanto do profissional quanto da própria profissão. Complementa-se a exposição desse desafio e dessas mudanças referenciando que as revoluções tecnológicas e administrativas já não deixam alternativas senão a de segui-las com a mesma rapidez que as caracterizam. Todos os dias, a mudança alcança as pessoas e organizações, de forma gradual e global; pelos seus impactos, sente-se necessidade de se preparar para elas. O modo para desenvolver esta educação segundo descreve o enfermeiro é iniciar a conscientização desse longo processo educativo na formação acadêmica, desde seu início, demonstrando a realidade que o profissional vai vivenciar, as cobranças, as tensões e a concepção de que um bom enfermeiro é uma sumidade, com domínio da situação e do conhecimento. Para que isso ocorra, o aluno necessita aprender a buscar conhecimento, e não a recebê-lo pronto, como é característica do ensino hoje. Por meio do estímulo, da motivação e da sensibilização, leva-se à conscientização e à mudança de atitude do aluno em relação à busca de conhecimento. O discurso ressalta que, para os enfermeiros assumirem a responsabilidade por sua educação permanente, eles devem ser motivados e incentivados durante a graduação, mediante um ensino mais problematizador, reconhecendo, contudo, que isso é apenas o início do aprendizado, que deverá desenvolver-se ao longo da vida. Esta reflexão veio ao encontro da compreensão das autoras sobre a educação permanente como um compromisso pessoal a ser aprendido, conquistado com as mudanças de atitudes, decorrentes das experiências vividas, por meio da relação com os outros, com o meio, com o trabalho, buscando a transformação pessoal, profissional e social. 28 A educação permanente consiste no desenvolvimento pessoal, que deve ser potencializado, a fim de promover, além da capacitação técnica específica dos trabalhadores, a aquisição de novos conhecimentos, conceitos e atitudes, tais como: visão crítica dos problemas contemporâneos e responsabilidade social e cooperação dentro e fora do ambiente de trabalho, constituindo-se em motivação para continuar a aprender. Sobre a educação continuada o enfermeiro revela em seu discurso que são as informações formais, planejadas, direcionadas, aplicadas e avaliadas, de acordo com a necessidade do trabalho. A pós-graduação, as especializações e o mestrado são considerados educação continuada. Cada vez mais, os profissionais capacitam-se por meio da educação continuada, que deve ser ministrada ou trabalhada de modo multiprofissional, pois as questões que se apresentam não são apenas ligadas à enfermagem e sim à equipe multiprofissional, ao hospital como um todo. Então, a questão educacional deve ser vista também como um todo. Neste sentido o entendimento de educação continuada refere-se as experiências que seguem a formação inicial, com a finalidade de melhorar a competência do sujeito. Corroborando e complementando a compreensão da definição acima citada, a educação continuada é abordada como um amplo processo, que inclui a educação formal e a informal, como encontros com colegas e autoaprendizagem, objetivando o desenvolvimento pessoal e profissional. Nesse sentido, a educação continuada é responsabilidade dos serviços e das pessoas, cuja motivação propicia o uso das experiências vividas no trabalho, na família e na sociedade, para se educar continuamente. Assim, uma efetiva educação continuada na profissão de enfermagem deve ser direcionada para o desenvolvimento global de seus integrantes, tendo como meta a melhoria da qualidade da assistência. 29 A educação em serviço é entendida pelo enfermeiro como sendo um trabalho diário, momentâneo, em que o enfermeiro necessita de tempo e dedicação para acompanhar no dia-a-dia sua equipe, e a sistematização do trabalho é fundamental para que isso ocorra. A educação em serviço é importante no processo de trabalho, e isso deve ser colocado para o funcionário no treinamento, na capacitação, apesar das dificuldades encontradas para incentivá-los a participar dessas atividades. Aqueles que participam são os que gostam do que fazem e são conscientes da concorrência do mercado de trabalho. A educação em serviço dá-se pelo acúmulo de experiências, é empírica, facilitada a cada mudança de setor, quando necessitamos conhecer nova rotina, novos clientes, novas patologias, geralmente, associando o que conheço a novas situações vividas no atendimento ao cliente ou às relações interprofissionais, sem que haja planejamento, preparo ou pesquisa. Assim, a educação em serviço ocorre no momento do trabalho, conforme a necessidade de esclarecer uma situação. Esta percepção sobre a educação em serviço fundamenta-se no entendimento que esta é caracterizada como processo educativo desenvolvido e aplicada nas inter-relações do trabalho, visando aperfeiçoamento, a melhoria da competência e a valorização profissional e institucional. Neste contexto o enfermeiro compreende que a relação entre educação permanente, continuada e em serviço é visualizada pela característica de continuidade que elas contêm. Existe uma constância de aprendizagem, mas que se diferenciam entre si pela finalidade e dependerão de cada situação de ensino e de seus objetivos. 30 EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE O conhecimento se constitui por meio de um processo contínuo, sendo a educação estabelecida de pensamento livre, crítico e reflexivo, podendo ser utilizada para transformar a prática vivenciada e fundamentar um compromisso pessoal e profissional. Com isso, tornar-se um importante instrumento de mudança e, quando direcionada para a área da saúde, pode auxiliar na reflexão do fazer profissional. Nesta perspectiva, a educação na enfermagem permeia o processo de trabalho, com a responsabilidade de atualizar e de capacitar os profissionais de enfermagem por meio da inserção de ações educativas, motivando o autoconhecimento, o aperfeiçoamento e atualização profissional. Por isso, vem se destacando como estratégia para promover a qualidade dos cuidados realizados, permitindo a atuação em serviço de forma segura e efetiva, proporcionando a aquisição de novos conhecimentos para que se atinja a capacidade profissional e desenvolvimento pessoal de acordo com a realidade social e institucional. A necessidade de aperfeiçoamento dos profissionais partiu do insucesso de modelos de assistência em saúde e formação hospital ocêntricos que possuíam como foco a educação continuada para rápida assimilação de conhecimentos. A educação permanente surge juntamente com a necessidade de mudanças no modelo assistencial, com ampliação de ações assistenciais para uma visão integral dos usuários dos serviços de saúde. Isso fez com que nas décadas de 80 e 90, o conceito de educação permanente fosse trabalhado pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). Após, o Ministério da Saúde (MS) instituiu a Portaria nº 198, de 13 de fevereiro de 2004, que constitui a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS), com a finalidade de formar e capacitar profissionais da saúde para atenderem às reais necessidades populacionais, oferecendo às instituições31 vinculadas ao Sistema Único de Saúde (SUS) financiamento para incentivo de ações que capacitem os funcionários, melhorando seu atendimento, com embasamento teórico-prático, a fim de melhorar o atendimento aos usuários. A educação permanente é um conceito pedagógico, na área da saúde, para efetuar relações orgânicas entre o ensino e as ações e serviços, agregando aprendizado, reflexão crítica do trabalho, e resolutividade da clínica e da promoção da saúde coletiva. Atualmente, a educação permanente tem sido considerada um instrumento importante na construção da competência profissional, contribuindo para a organização do trabalho. As competências pessoais ou profissionais são ações que articulam conhecimentos (o saber), habilidades (o fazer), valores (o ser) e atitudes (o conviver), construídos de forma articulada, voltadas para a contextualização dos serviços de saúde. No entanto, mesmo com a criação da Política Nacional de Educação há mais de dez anos, ainda existem dificuldades para implementá-la nos serviços de saúde, aspecto que impulsionou o desenvolvimento desta investigação. Conforme estudo realizado com profissionais da área da saúde, as maiores dificuldades estão sendo a falta de tempo para reunir a equipe e a falta de organização e planejamento para que ações de educação permanente sejam realizadas. Sendo assim, a educação permanente deve ser vista com prioridade, propiciando o aumento do conhecimento de cada profissional, além de proporcionar a socialização dos saberes, a fim de melhorar o atendimento ao usuário do sistema de saúde. Frente à temática apresentada, optou-se por desenvolver o trabalho em um Hospital de ensino, visto que estes cenários estão envolvidos com o processo de formação profissional e também constituem espaços de educação, formação de recursos humanos, pesquisa e avaliação de tecnologias em saúde para a rede de atenção à saúde (RAS). 32 Frente ao exposto, objetivou-se com o desenvolvimento deste estudo conhecer a visão de enfermeiros de um hospital escola sobre a educação permanente. VISÃO DOS ENFERMEIROS SOBRE EDUCAÇÃO PERMANENTE Os enfermeiros definiram conceitos sobre a educação permanente, conforme suas concepções: Educação permanente é um conjunto de ações na prática cotidiana do serviço, que buscam a qualificação do profissional. Educação permanente, já diz, permanente, deve ser cíclica, e com rotinas bem fixas, pela necessidade da unidade em que tu trabalha, então educação permanente, tu vai sanar algum problema da tua unidade, de conhecimento, tanto teórico como prático, pra que toda equipe, não só o enfermeiro, mas toda a equipe possa participar. Deve ocorrer a partir das necessidades do cotidiano da prática. A partir dos depoimentos, pode-se afirmar que os participantes entendem que a educação permanente deve ser adotada de forma contínua no ambiente de trabalho para que o conhecimento seja utilizado e aplicado em sua prática profissional. A educação permanente é definida como um processo de ensino- aprendizagem, no qual o objetivo é a transformação das práticas profissionais e a sistematização do trabalho a partir das necessidades populacionais e da problematização da saúde, e deve ocorrer no cotidiano das pessoas e organizações. O processo de educação permanente pode facilitar a interação de todos os profissionais da área da saúde e a multidisciplinaridade é uma estratégia importante na formação de profissionais atuantes na consolidação dos princípios do SUS. 33 Sendo assim, a qualificação profissional deve ser uma alternativa de transformação das práticas, tornando-se necessária a disseminação de conhecimento e atividades inerentes ao serviço de forma crítica, reflexiva, compromissada e eficiente. No entanto, também se evidenciou, nos relatos supracitados, que os entrevistados entendem que o objetivo da educação permanente é sanar problemas das unidades assistenciais e que deve ocorrer a partir das necessidades do cotidiano do trabalho, o que se aproxima do conceito de educação continuada, e que em alguns casos pode ser confundida com a educação permanente. Essa equiparação conceitual se dá pelo fato de ambas implicarem na transmissão de conhecimentos, porém a educação permanente possibilita espaços de discussão e de reflexão sobre a prática, o que pode proporcionar maiores resultados qualitativos da assistência prestada pelos profissionais de saúde. Tal fato também pode ser atribuído ao modelo de ensino-aprendizagem instituído desde a formação, em que há um condicionamento para receber informações previamente elaboradas, divididas em temáticas e segmentadas, sendo o pensamento crítico reflexivo pouco estimulado. Logo, ao deparar-se com um modelo de aprendizagem diferente, como é o da proposta da educação permanente, há um estranhamento por parte dos profissionais de saúde, sendo mais fácil a compreensão da educação continuada, pois é mais próximo do modelo aprendido durante o seu processo de formação, por estar centrado em atividades pontuais. Portanto, a educação permanente estimula o pensamento crítico, a construção coletiva do planejamento da assistência em saúde que os profissionais planejam desenvolver e, principalmente, estímulo ao crescimento pessoal e da equipe de trabalho, não ficando apenas restrita à transmissão de conhecimentos. 34 A educação continuada está relacionada com um aprendizado ativo que deve atualizar o indivíduo, voltado ao ambiente de trabalho, e uma forma de atualização relacionada às tecnologias. A importância da educação permanente para a formação pessoal e profissional tem com o objetivo fortalecer o trabalho em equipe e melhorar o cuidado prestado ao paciente e à comunidade. Alguns depoimentos refletem a visão dos enfermeiros sobre esta questão: Por meio dessa educação permanente que os profissionais vão conseguir, além de se qualificarem, e aprenderem a trabalhar em grupo, é uma possibilidade de troca de experiência, possibilidade de ganho de conhecimento e é lógico que isso aqui vai facilitar para nossa prática do cotidiano. EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: INSTRUMENTO DE TRANSFORMAÇÃO DO TRABALHO DE ENFERMEIROS A educação permanente ela vai te deixar mais atualizado, até para melhorar teu desempenho dentro da tua unidade e de conhecimento também, tudo o que tiver de novo sempre agrega. Eu acho muito importante, e eu acho que muitas vezes os profissionais não dão o devido valor a isso. Tu só percebes a importância da coisa quando tu vai, porque tu vê que sempre naquilo que estão falando tem uma coisa que tu não sabe, e tu sempre aprende alguma coisa. Eu acho que é superimportante, pois, na enfermagem, somos acomodados, eu estou dizendo a enfermagem em geral, fazem o curso, e não estudam. 35 Às vezes o técnico te pergunta umas coisas que ele não precisa te perguntar, ele tinha que saber, e eles não estudam, eu acho que assim a gente tem que ter coisas básicas, não são capazes de ler um artigo, eles não se atualizam. Os enfermeiros expressaram a relevância da educação permanente, do aprimoramento e atualização constante envolvendo a promoção, prevenção e reabilitação da saúde contextualizada pelas políticas públicas. A educação permanente tem o compromisso de possibilitar novas atitudes, soluções, ideias, conceitos que sejam capazes de transformar hábitos e comportamentos que torne seu trabalho o mais perfeito possível. Os profissionais acreditam que somente o aprendizado não tem seu devido valor se for de forma individualizada, devendo-se associá-lo à prática cotidiana para que seja totalmente aproveitado, conforme se identifica nos depoimentos: Eu acredito que sim, pra qualificar a assistência, pra valorizar e qualificar a formação dos profissionais, eu acho que é indispensável, muito importante, mas eu achoque tem que ser, não pode ser só uma coisa no papel, tem que ser alguma coisa de qualidade que realmente promova o conhecimento e a formação, uma coisa mais democrática, pra construir o conhecimento e não só repassar, não só palestra, não só repasse de conteúdos, mas que promova a formação mesmo, eu acho importante como discussão e reflexão. Sim, eu acho que além de oportunizar conhecimento, tem que se buscar mexer na estrutura do fazer, do processo do trabalho do fazer, o modo como está sendo feito, o modo como está sendo conduzido, o modo como as equipes se comunicam, as equipes transferem atividades, isso é um ponto bastante importante. Então, educação permanente é boa, mas não basta só conhecer, eu tenho que ter os meios pra prover essa assistência. 36 Assim, da prática profissional emergem questões que influenciam significativamente no cotidiano dos profissionais de enfermagem, fazendo com que a educação permanente seja proveniente de uma relação da prática com a teoria. Ainda, os trabalhadores devem realizar suas atividades de maneira interdisciplinar, para um processo de trabalho ágil, veloz, de raciocínio rápido e desenvoltura profissional de acordo com o desenvolvimento técnico-científico da profissão. O programa de educação permanente em saúde deve ser oferecido aos profissionais de saúde, baseado no aprendizado em serviço, no qual o aprender e ensinar se incorporam ao cotidiano dos hospitais e das equipes. Sua implementação na prática poderá contribuir para a qualificação do trabalho em saúde, além de fortalecer a valorização profissional. DIFICULDADES RELACIONADAS À EDUCAÇÃO PERMANENTE NA PRÁTICA DOS ENFERMEIROS Sabe-se que existe uma lacuna entre falar sobre a importância da educação permanente e efetivamente implementá-la na prática. Dessa forma, alguns relatos demonstram a dificuldade de alguns profissionais em saírem dos seus setores por falta de pessoas para substituí-los, falta de otimização do seu tempo e também por falta de interesse. Porque eu vejo dificuldade, até pra mim mesma, dificuldade quando a gente precisa vir em um horário fora do turno de trabalho e quando a gente precisa sair do setor, no meu caso que trabalho em setor fechado, em unidade fechada, só sou eu a enfermeira de tarde, não tem ninguém que possa me substituir, mesmo que seja no meu turno de trabalho, tem algum treinamento nesse horário, tenho dificuldade de conseguir sair, participar do treinamento, eu não consigo ficar duas horas, por exemplo, fora do meu setor, um setor de alta complexidade, um setor fechado, não tem quem me substitua no período. 37 Eu nunca participei de nenhuma, porque primeiro nunca teve nenhuma focada para o ambiente no qual eu trabalho e também nunca foi liberado para assistir nenhuma aula, mas eu acho que tem no hospital, eu já vi propagandas e coisas do tipo, informativos, mas nada relacionado a centro cirúrgico e tampouco a gente ser liberado. A gente não tem disponibilidade de sair, porque não tem como eu sair, como a maioria dos funcionários ou eu mesmo, sair e deixar as cirurgias rolando sem que tenha alguém aqui e sempre se tem cirurgia, então é complicado. Indo ao encontro dos relatos, um outro estudo que fala da multiplicação de atividades de educação permanente aponta as dificuldades dos profissionais em aderirem às ações disponibilizadas. Foram citadas: falta de tempo, dificuldade em parar as atividades cotidianas para a realização de abordagens educativas, falta de apoio de gestores, desinteresse de alguns profissionais, falta de recursos humanos, entre outros. Além das dificuldades em participar das ações de educação permanente apresentadas nos depoimentos, alguns enfermeiros também manifestaram obstáculos que impedem a disseminação de conhecimento entre os trabalhadores. É muito difícil trabalhar em um serviço público, é muito difícil. O pessoal se manda, a equipe se manda, não tem uma hierarquia no final, o enfermeiro teoricamente é que coordena o serviço, mas é só teoricamente, o enfermeiro só resolve quando tem problema, então eu acho muito difícil trabalhar em serviço público. Assim, que eles não têm interesse, não é só a instituição que deve dar de mão beijada, eu posso buscar também, mas aí o pessoal não busca, o pessoal da enfermagem é muito acomodado. Na visão dos participantes, a rotatividade dos profissionais e sua característica de ser um hospital público acabam dificultando a implementação da Educação Permanente em Saúde. 38 Resultado semelhante foi evidenciado em uma pesquisa realizada no município de Embu, no estado de São Paulo, em que foi citada a dificuldade dos trabalhadores em aplicar os conceitos na prática, rotina de trabalho intensa, desmotivação de alguns trabalhadores e ampliar a participação dos usuários. Dessa forma, percebe-se que os obstáculos apresentados nos depoimentos e nos estudos apresentados são, na sua maioria, problemas de interesse pessoal, de falta de funcionários e de desorganização da equipe, esses que precisam de um olhar diferenciado da instituição de saúde. ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PELOS ENFERMEIROS PARA A PRÁTICA DA EDUCAÇÃO PERMANENTE A educação permanente tem como foco a transformação das organizações dos serviços e do cotidiano do trabalho, pelo fato de possibilitar a construção de espaços coletivos, reflexão e avaliação dos problemas gerados no ambiente de trabalho, e construir ações de educação permanente para que ocorra a transformação da prática. Porém, para que ela possa se desenvolver como uma prática consistente dentro das instituições de saúde é preciso, após reconhecimento das dificuldades, apresentar alternativas efetivas de planejamento e implementação. Evidencia-se nos depoimentos a seguir que a opinião dos entrevistados demonstra que a instituição deve ter o papel principal de incentivar os seus servidores, a participar e implementar ações de educação permanente no ambiente de trabalho. [...] aqui a instituição permite isso e coloca o funcionário como parte integrante da educação permanente, isso é bem interessante aqui dentro. E a gente tem um contato e tem uma supervisora, aqui, direto da UTI, que também procura nos manter atualizados, trazer assuntos, e a gente, na medida do possível, se divide para fazer educação permanente no setor. Tem um 39 programa, de cada um fazer uma aula, uma dinâmica, fazer alguma coisa assim, trazer alguma coisa diferente aqui dentro da UTI. [...] praticamente diário, mais de uma vez por dia, surgiu uma situação ali, já lança, já se discute, já busca uma solução, por quê? Porque aproveita o momento para o aprendizado. Sempre se procura oportunizar isso, procura se discutir isso, que se aborde essa constante. Eu sou um enfermeiro prático, sou assistencialista e prático, meu negócio é cuidar, estar na cabeceira do paciente, planejar esse cuidado, planejar essa alta, planejar, isso eu sei fazer, conjuntamente com as intervenções necessárias para melhorar a condição dele. A educação permanente deve ter o apoio da gestão institucional, dos enfermeiros e demais profissionais atuantes, deve-se incentivar a participação de todos que fazem parte do cuidado com o paciente, no planejamento e na realização das ações. Alguns pontos significativos para a implementação da educação permanente foram apontados por uma pesquisa, abordando entre eles: comprometimento do gestor e realização de ações de educação a partir da problemática levantada pelas unidades de saúde. Os problemas levantados em cada setor servem como orientação para a realização das ações educativas, evidenciado no depoimento a seguir: A educação permanente aqui, eu fiquei um ano, mas já faz alguns anos, logo que surgiu a política de educação permanente. Então eu trazia material, na época não tinha muitos artigos, eram mais livros, distribuíapara o pessoal, eles liam e faziam como se fossem resenhas, resumo sobre aquilo ali, depois a gente discutia, porque eram diferentes literaturas, e a partir daquilo ali a gente via o que era mais adequado para nossa realidade. A gente está montando esses protocolos de úlcera de pressão, a gente está padronizando o que vai usar, o grupo já está bem coeso com isso, assim 40 que a gente conseguir terminar esses protocolos, a gente já vai socializar com os setores. A motivação dos profissionais para o planejamento e realização da educação permanente é um ponto principal, pois devem ser os sujeitos ativos tanto para o levantamento dos temas mais relevantes, quanto para a tomada de decisão da forma mais adequada de desenvolvimento das atividades de educação. O enfermeiro, por ser o líder da equipe de enfermagem, deve ser visto como peça chave de disparador dessa motivação dentro da equipe de enfermagem. Do mesmo modo, o processo de ensino aprendizagem deve formar profissionais com uma visão mais ampla, que refletem em atitudes crítico reflexivas, e uma finalidade de enfrentar obstáculos de forma consciente e de maneira sistemática. Assim, pode-se observar nos depoimentos a seguir, que o enfermeiro consegue realizar o planejamento de suas ações de maneira eficaz, que contempla a todos os funcionários do seu setor. Toda uma orientação nas primeiras quimioterapias deles, pelo menos nas três primeiras, até eles se adaptarem, verem como realmente é o tratamento, explica tudo, fala como é o tratamento, como que é a terapia, a medicação específica que ele está fazendo, o protocolo que ele vai fazer, é bom poder explicar, ao paciente, numa linguagem bem simples, bem básico, o que é a quimioterapia, o que é o câncer, como a quimioterapia pode ser feita, tem umas orientações bem simples do dia a dia. Neste último relato, o enfermeiro planeja suas ações de maneira muito inteligente, incorporando o paciente como principal ator do seu cenário profissional, tornando-o importante, promovendo sua adesão ao tratamento e dando a ele autonomia para que seu processo de internação seja o mais esclarecido possível. 41 Além disso, estimular a participação efetiva do paciente neste processo, preparando-o para o retorno a sua rotina diária, levando em conta sua realidade, vai ao encontro da proposta e diretrizes da Política Nacional de Educação Permanente em saúde, que preconiza que as reflexões, assim como as ações, devem ser problematizadas e sistematizadas com todos envolvidos no cuidado. Para que ocorra um bom desempenho profissional, é essencial que o trabalhador amplie sua capacidade de atuação, dessa forma se faz necessária uma atualização contínua que proporcione eficácia no planejamento, execução e avaliação situacional. É importante uma tomada de decisões no momento em que se torna necessária uma intervenção rápida, para um desempenho responsável e eficaz de suas habilidades. Percebe-se nos relatos que os enfermeiros julgam o aprendizado muito importante para sua formação pessoal e profissional. Cabe salientar que eles consideram a busca pelo aperfeiçoamento qualquer forma que seja capaz de incorporar a educação no cotidiano. Assim, foram citados como forma de adquirir conhecimento: a participação em palestras, a elaboração de protocolos e aulas dentro dos setores, discussão de casos, leitura de livros e artigos, a proporção de material para troca de experiências, sendo que deve ser realizado de forma permanente, diariamente. A educação permanente compreende um processo político-pedagógico em que se torna importante o trabalho em equipe, a ampliação da cidadania e a autonomia dos usuários trabalhadores. Neste contexto, o levantamento das necessidades e a análise dos resultados esperados com as ações educativas aplicadas são relevantes para que o processo seja realizado como um todo. 42 A partir de sua implementação na prática, poderá ser criado um ambiente de construção e socialização do conhecimento, com vistas à qualificação profissional e assistencial. As principais dificuldades enfrentadas pelos enfermeiros do estudo em relação à educação permanente estão relacionadas com a sua operacionalização. A falta de interesse dos profissionais, a falta de tempo e o pouco incentivo dos gestores das instituições podem contribuir para o fazer da educação permanente nas organizações de saúde hospitalares. Percebe-se, na fala dos depoentes, que sua visão acerca da Educação Permanente no trabalho está voltada ainda para uma atualização constante do saber, sendo o ponto de partida os enfermeiros das equipes. Porém, o grande nó crítico da operacionalização da EPS se dá pelo fato não apenas da dificuldade de compreensão dos profissionais sobre os objetivos da EPS, mas principalmente por não compreenderem a proposta desta metodologia inovadora de ensino. O profissional enfermeiro, realidade da maioria das escolas de formação, ainda é condicionado, ao longo de sua graduação, a desenvolver instrumentos muito fechados, tais como: protocolos, manuais, normas e rotinas, e este tipo de metodologia não se aplica na EPS, pois a dinâmica é outra, como rodas de conversa, interconsultas, reuniões breves para discussões de casos. Diante disso, o ponto de partida para sua efetivação são os trabalhadores da saúde, com suas necessidades e experiências, para mediar a possibilidade de formar um espaço coletivo saudável e democrático. No que se refere às estratégias utilizadas pelos enfermeiros para implementar a educação permanente, evidencia-se como importante o planejamento de ações por parte do enfermeiro - líder, incentivando sua equipe na participação do processo de educação permanente. 43 O fomento, por parte da instituição, também se mostrou relevante, visto que poderá estimular os colaboradores a realizarem sua atualização, favorecendo a qualificação da assistência em saúde. Assim, sabe-se que as estratégias apontadas no estudo colaboram para maior credibilidade e visibilidade dos profissionais em relação ao seu trabalho e para a organização de saúde, pois proporciona um trabalho qualificado, mais humanizado e seguro. Conforme identificado no estudo, as equipes se reúnem com mais frequência e discutem a prática de trabalho, dessa forma, a operacionalização da educação permanente nos Hospitais de Ensino proporciona uma aproximação maior dos sujeitos envolvidos no cuidado, fazendo com que os problemas e as necessidades sejam discutidos e amenizados através do diálogo em grupo. Portanto, a Política de Educação Permanente em Saúde deve ser entendida pelos profissionais como um espaço de possibilidades de mudanças no processo de trabalho, no saber-fazer de cada um no seu cotidiano. A mesma auxilia a equipe de enfermagem quanto ao entendimento de sua importância no contexto das organizações de saúde, promovendo uma postura diferenciada e compromissada com as pessoas de quem cuidam. Contudo, torna-se importante que se realizem outros estudos que aprofundem esta reflexão acerca da educação permanente, despertando um olhar crítico sobre como essas estratégias estão sendo colocadas em prática nos demais hospitais escolas do país, assim como o impacto que esta nova metodologia de ensino aprendizagem está produzindo nas práticas de cuidado 44 REFERÊNCIAS Farah BF. Educação em serviço, educação continuada, educação permanente em saúde: sinônimos ou diferentes concepções? Rev APS. 2003; 6 (2):123-5. Paschoal AS, Mantovani MF, Meier MJ. Percepção da educação permanente, continuada e em serviço para enfermeiros de um hospital de ensino. Rev Esc de Enferm USP. 2007; 41 (3): 478-484. Cotrim-Guimarães IMA. Programa de educação permanente e continuada da equipe de enfermagem da clínica médica do Hospital Universitário Clemente de Faria:
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