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DINÂMICA Ivan Rodrigo Kaufman Revisão técnica: Eduardo Vinícius Galle Bacharel em Física Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin – CRB 10/2147 D583 Dinâmica / Ivan Rodrigo Kaufmann... [et al.] ; [revisão técnica: Eduardo Vinícius Galle]. – Porto Alegre : SAGAH, 2018. 348 p. : il. ; 22,5 cm ISBN 978-85-9502-365-9 1. Física. I. Kaufmann, Ivan Rodrigo. CDU 531.3 BOOK_Dinamica.indb 2 03/04/2018 17:22:15 Momento de inércia Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identifi car características do momento de inércia de uma determinada superfície. Expressar as funções que defi nem o momento de inércia de diversas formas geométricas. Determinar o momento de inércia de determinados perfi s e da as- sociação de perfi s. Introdução O momento de inércia é muito aplicado para o estudo da distribuição de forças em superfícies e massas. Neste capítulo, estudaremos o momento de inércia e identificaremos as principais características do momento de segunda ordem da seção da viga em relação a determinado eixo. Características do momento de inércia Da mesma forma como um objeto em repouso ou em movimento tende a per- manecer em repouso ou em movimento se nenhuma força externa é aplicada (primeira Lei de Newton), um corpo rígido que tem um movimento de rotação também tende a permanecer em movimento de rotação, ou em repouso, se estivesse inicialmente em repouso. No caso do movimento de rotação, a ação de uma força por meio de um torque induzido é responsável pela mudança no movimento. Essa propriedade de um objeto resistir a uma mudança no movimento de rotação é chamada momento de inércia. O momento de inércia é uma grandeza do quanto a aceleração angular é inversamente proporcional ao torque; ou seja, para um torque constante, quanto maior o momento de U N I D A D E 4 Cap_20_Dinamica.indd 1 23/02/2018 10:46:19 inércia, menor é a aceleração angular. Podemos expressar o momento de força pela seguinte equação: M = Iα onde M é o momento de força resultante, I é o momento de inércia e α é a aceleração angular. Note a similaridade do movimento de translação de um corpo rígido governado por F = m.a, onde a massa é uma medida da resistência do corpo frente à aceleração linear a. O momento de força também é conhecido como Segunda Lei de Newton para o movimento de rotação. Você já deve ter brincado com aqueles carrinhos de brinquedo que, quando impulsionados para adquirir uma velocidade, continuam se movimentando depois de soltos. Como isso é possível, uma vez que o carrinho não possui nenhum tipo de alimentação por meio de pilhas ou qualquer coisa que forneça energia para ele? Internamente, o carrinho tem um sistema de engrenagens. Quando esse sistema de engrenagens é posto a girar por meio do impulso que você oferece ao carrinho, após soltá-lo ele continua o movimento, perdendo lentamente a sua energia rotacional adquirida internamente pelas engrena- gens que o compõem. Isso só é possível porque as engrenagens possuem um momento de inércia relativamente grande para o tamanho do carrinho, de modo que, quando ele é solto por você, utiliza essa energia armazenada para continuar o seu movimento. Outro exemplo parecido é a centrífuga de roupas comum em casa. Quando é posta para girar, adquire uma velocidade angular. Se a energia elétrica que alimenta a centrífuga é cortada, continua a girar e vai perdendo gradativamente a sua velocidade angular (e energia rotacional) até parar. Quanto maior for o momento de inércia rotacional de um objeto, maior é a dificuldade para se modificar o movimento em que o objeto se encontra. Esse conceito é bem conhecido no circo pelos artistas que andam em uma corda que se encontra presa a uma altura muitas vezes assustadora. Para tanto, os artistas usam uma barra fina comprida para se equilibrar. Justamente essa barra dá a segurança para eles realizarem esse movimento. Grande parte da massa da barra está localizada longe do eixo de rotação, localizado no meio da barra, onde o artista a segura. Nesse caso, o momento de inércia da barra é considerável, de modo a resistir a uma mudança no movimento da barra. Quando o equilibrista percebe que está perdendo o equilibro, o momento de inércia da barra dá a possibilidade dele se reequilibrar e não cair. Quanto maior for a barra, maior é o momento de inércia e mais fácil é para o artista se equilibrar. Profissionais mais treinados podem inclusive andar em uma Momento de inércia2 Cap_20_Dinamica.indd 2 23/02/2018 10:46:25 corda-bamba sem mesmo utilizar essa barra rígida, se equilibrando abrindo os braços, simulando a barra rígida, como é mostrado no exemplo da Figura 1. Figura 1. Equilibrista andando em uma corda-bamba (conhecida como slackline) e se equilibrando com os seus braços. Fonte: Vitalii Nesterchuk/Shutterstock.com. A inércia rotacional de um objeto depende do eixo por onde acontece o movimento de rotação. Como exemplo, pegue uma caneta e faça o movimento de rotação considerando três eixos (ilustrados na Figura 2): o primeiro em torno do eixo que passa ao longo do comprimento da caneta; o segundo perpendicular ao comprimento da caneta; o terceiro em torno de uma das extremidades. Figura 2. Eixo de rotação da caneta a) ao longo do comprimento, b) perpendicular ao comprimento e c) em uma das extremidades. Fonte: IShift/Shutterstock.com. 3Momento de inércia Cap_20_Dinamica.indd 3 23/02/2018 10:46:25 Qual dos movimentos possui a menor e a maior resistência à rotação? In- duzir o movimento de rotação para o primeiro caso é muito mais fácil quando comparado aos outros dois movimentos sugeridos. Já o último movimento de rotação, em torno de uma das extremidades, é o que oferece maior resistência à rotação. O segundo movimento sugerido é o que possui momento de inércia intermediária aos dois outros movimentos. Mas por que essa resistência ao movimento é diferente nos três casos? A grande diferença recai no fato de como a massa da caneta é distribuída em relação ao seu eixo de rotação. No primeiro caso, a massa da caneta está concen- trada mais próxima do eixo de rotação, que é ao longo da caneta. No segundo caso, onde o eixo de rotação é perpendicular ao comprimento da caneta, a massa está distribuída como no caso do artista equilibrista do exemplo acima: metade da massa ao longo da metade do comprimento da caneta para um lado e a outra metade da massa ao longo da outra metade do comprimento da caneta. No terceiro caso, em que o eixo de rotação é em uma das extremidades da caneta, temos uma situação parecida com um pêndulo, no qual toda a massa está distribuída ao longo de todo o comprimento do eixo de rotação até a outra extremidade. Funções matemáticas que definem o momento de inércia de formas geométricas Como você observou, a geometria de um objeto, bem como a localização do eixo de rotação, são fatores importantes que defi nem o momento de inércia. Digamos que um corpo rígido seja constituído de algumas partícula. Nesse caso, o momento de inércia rotacional é defi nido como: na qual mi é a massa de uma das partículas e ri é a distância da localização dessa partícula em relação ao eixo de rotação. Já quando tratamos de um objeto rígido como sendo um contínuo de partículas, no lugar de realizarmos o somatório individual de cada uma das infinitas partículas que o compõem, é mais fácil expressarmos o momento de inércia com uma integral: Essa é a definição matemática do momento de inércia rotacional para um corpo com massa distribuída continuamente. Aqui a distância r é calculada Momento de inércia4 Cap_20_Dinamica.indd 4 23/02/2018 10:46:27 como sendo a distância perpendicular ao eixo de rotação em z, conforme ilustrado na Figura 3. O momento de inércia geralmente é expresso pelas uni- dades de [kg.m2]. Uma vez que r é elevado ao quadrado, o momento de inércia sempre terá um valor positivo. Quando o eixo de rotação passa pelocentro de massa do objeto rígido, o momento de inércia geralmente é denotado como IG. Figura 3. Um corpo rígido qualquer com um elemento de massa dm a uma distância r do eixo de rotação em z. Fonte: Adaptado de Hibbeler (2016, p. 410). Em muitas situações físicas, o corpo rígido pode ter uma distribuição de massa variável, tendo então uma variação da densidade ao longo do corpo rígido. Nesse caso, o infinitesimal de massa dm pode ser expressado de acordo com a sua densidade e volume. Como sabemos que a densidade (ρ) é definida como sendo a massa (m) pelo volume (V), temos que dm = ρ.dV. Agora podemos substituir dm na integral que define o momento de inércia: E agora temos uma integral definida com um elemento infinitesimal de volume. Em alguns casos, a densidade é constante e pode ser retirada de dentro da integral, e a integral pode ser resolvida por meio de uma questão puramente geométrica. 5Momento de inércia Cap_20_Dinamica.indd 5 23/02/2018 10:46:27 Agora vamos aplicar os conceitos matemáticos abordados acima para o cálculo do momento de inércia de um disco de raio R, espessura t, massa total M e um volume total V, conforme ilustrado na Figura 4. Figura 4. Um disco com raio R e espessura t, com eixo de rotação indicado pela linha tracejada em preto, passando pelo centro de massa. O disco pode ser dividido em vários anéis finos de raio dr e espessura t. O volume para cada um desses anéis, de raio r, pode ser escrito como: e a massa de cada um desses anéis pode ser expressa como: onde ρ é a densidade do sólido, dada por ρ = M/V. Uma vez que todas as partículas que compõem um desses anéis está localizada na mesma distância r em relação ao eixo de rotação, o momento de inércia para esse anel pode ser calculada como: Integrando dI para todo o disco, temos: Momento de inércia6 Cap_20_Dinamica.indd 6 23/02/2018 10:46:27 como ρ, 2π e t são constantes, podemos retirá-los da integral, sobrando somente r.r2.dr na parte interna da integral. Por fim, realizamos a integral variando o elemento dr de 0 a R e obtemos: Como o volume do disco é dado por , e ρ.V = M, temos que . Por fim: Momento de inércia de determinados perfis e associação de perfis O exemplo da Figura 1C mostra a caneta com eixo de rotação localizado em uma das extremidades. Nesse caso, o eixo de rotação não passa pelo centro de massa do objeto, e os cálculos do momento de inércia a partir da equação que a defi ne podem se tornar um pouco mais complexos. O teorema dos eixos paralelos pode ser aplicado nessas situações, facilitando o cálculo. Digamos que temos um objeto rígido de massa , ilustrado na Figura 5. Figura 5. Um corpo rígido qualquer com eixo de rotação em torno de P. 7Momento de inércia Cap_20_Dinamica.indd 7 23/02/2018 10:46:28 O centro de massa desse objeto é indicado por G. Adotamos um sistema de coordenadas com origem no centro de massa. Você quer descobrir o momento de inércia desse corpo rígido para um eixo de rotação passando pelo ponto P, paralelo a um eixo passando pelo centro de massa, com posição em (xp,yp) e com distância d em relação à origem do sistema de coordenadas. Para tanto, somamos todos os momentos de inércia para cada uma das enésimas massas do corpo rígido. A distância ao quadrado do ponto P em relação a uma dessas massas mi (ri 2) é dada por: ri 2 = (xi − xp) 2 + (yi − yp) 2. E assim calculamos o momento de inércia para o ponto P: Rearranjando os termos: é igual ao momento de inércia em relação ao centro de massa (IG) e é igual a d 2. O somatório da multiplicação entre as massas mi e xi e mi e yi é igual a zero, pois, como as massas estão distribu- ídas igualmente no sentido positivo e negativo de x e y, o somatório recai no centro de massa do objeto, que está localizado na origem do sistema de coordenadas (x = 0 e y = 0). Por fim, temos a prova do teorema dos eixos paralelos, representado por: Portanto, o momento de inércia de um objeto rígido com eixo de rotação paralelo a um eixo passando pelo centro de massa é igual ao momento de inércia do centro de massa somado a Md2, sendo d a distância que separa os dois eixos de rotação. Agora vamos aplicar esse teorema para calcular o momento de inércia do pêndulo da Figura 6. A barra rígida PA tem massa de 3 kg e comprimento de LPA = 0,5 m e a barra BC está presa no ponto A e tem massa de 7 kg e comprimento de LBC = 0,6 m. O pêndulo está fixado em P. Momento de inércia8 Cap_20_Dinamica.indd 8 23/02/2018 10:46:28 Figura 6. Um pêndulo preso em P composto de duas barras rígidas PA e BC. Primeiramente calculamos o momento de inércia para a barra PA. Pelo teorema dos eixos paralelos, temos: sendo IPA_G o momento de inércia da barra PA com eixo de rotação no centro de massa. Como a massa MPA da barra PA se distribui uniformemente ao longo da barra, a densidade linear é a massa da barra dividido pelo comprimento LPA da barra: λ = MPA/LPA. Para um pedaço infinitesimal de massa (dm) localizado em um pequeno pedaço infinitesimal (dx) da barra, temos que λ = dm/dx. Logo, dm = λ.dx = MPA.dx/LPA. Substituímos dm na equação para o cálculo do momento de inércia do centro de massa: Calculando para a barra presa em P (d = LPA/2): 9Momento de inércia Cap_20_Dinamica.indd 9 23/02/2018 10:46:28 Para a barra BC girando em torno do eixo P, temos: O momento de inércia total é a soma dos momentos Neste link você encontrará um relatório experimental de laboratório onde dois cilindros diferentes, mas com mesma massa, mesmos diâmetro e volume, são presos por pesos e medidos parâmetros físicos pertinentes para a determinação do momento de inércia de cada um: https://goo.gl/mgS7yf 1. Qual é o momento de inércia da superfície sombreada em relação ao eixo x? a) b) c) d) e) 2. Obtenha o raio de giração polar e o momento de inércia, tendo como referência o Momento de inércia10 Cap_20_Dinamica.indd 10 23/02/2018 10:46:31 ponto C da figura pintada. a) b) c) d) e) 3. Calcule o momento de inércia em x, em relação ao centro O, os seus eixos centroidais perpendiculares e paralelos à base AB da área sombreada da figura. Considere que, para secções retangulares, a fórmula do momento de inércia é: a) b) c) d) e) 4. Calcule o raio de giração da superfície sombreada em relação ao eixo y e calcule o momento de inércia. a) b) c) d) e) 5. Calcule o raio de giração da superfície sombreada em relação ao eixo x e calcule o momento de inércia. a) b) c) d) e) 11Momento de inércia Cap_20_Dinamica.indd 11 23/02/2018 10:46:32 HIBBELER, R. C. Statics and dynamics. 14. ed. New Jersey: Pearson, 2016. Leituras recomendadas BEER, P. F. et al. Vector mechanics for engineers: statics and dynamics. 9. ed. New York: McGraw-Hill, 2010. WALKER, J.; HALLIDAY, D.; RESNICK, R. Fundamentals of physics. 10. ed. New Jersey: John Wiley & Sons, 2014. Referência Momento de inércia12 Cap_20_Dinamica.indd 12 23/02/2018 10:46:33 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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