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Induzimento, Instigação ou Auxílio ao Suicídio: Disciplina: Direito Penal 111 O suicídio é a deliberada destruição da própria vida. Assim, o suicida é somente aquele que busca direta e voluntariamente a própria morte. - A lei penal não pune o suicídio, mas ela pune o comportamento de quem induz, instiga ou auxilia outrem a suicidar-se. É que, sendo a vida um bem público indisponível, o ordenamento jurídico veda qualquer forma de auxílio à eliminação da vida humana, ainda que esteja presente o consentimento do ofendido. → Delito de suicídio no direito penal A legislação penal pátria não incrimina a conduta de destruir a própria vida. O ordenamento jurídico ao não incriminar o suicídio tem em vista duas razões de índole político-criminal, a primeira diz respeito ao caráter repressivo da sanção penal: não se pode cuidar da pena contra um cadáver; a segunda diz com o caráter preventivo da sanção penal: a ameaça da pena queda-se inútil ante aquele indivíduo que nem sequer teme a morte. → Objeto jurídico Tutela o direito à vida e sua preservação. Assim, a ninguém é dado o direito de ser cúmplice na morte de outrem, ainda que haja consentimento deste, pois a vida é um bem indisponível. → Elementos do tipo O núcleo do tipo é composto por três verbos: induzir, instigar e auxiliar. Entretanto, o agente, ainda que realize todas as condutas, responde por um só crime. - A participação em suicídio pode ser moral, mediante induzimento ou instigação, ou material, que é realizado por meio de auxílio. - O delito em estudo é também classificado como crime de ação livre, pois não exige o tipo qualquer forma especial de execução do delito, podendo este ser praticado por qualquer meio, comissivo ou omissivo, como, fornecer veneno. Três são as ações previstas pelo tipo penal: a) Induzir: significa suscitar a ideia/sugerir o suicídio. Assim, ocorre induzimento quando a ideia de auto destruição é inserida na mente do suicida, que não havia desenvolvido o pensamento por si só. - Exemplo: indivíduo que perde o emprego e é sugestionado pelo seu colega a suicidar- se por ser a única forma de solucionar os seus problemas; b) Instigar: significa reforçar, estimular, encorajar um desejo já existente. Na instigação, o sujeito ativo potencializa a ideia de suicídio que já havia na mente da vítima; c) Prestar auxílio: consiste na prestação de ajuda material, que tem caráter meramente secundário. Assim, o auxílio pode ser concedido antes ou durante a prática do suicídio; d) Auxílio por omissão: se o agente tem o dever de impedir o resultado e a sua omissão acaba sendo causa para a produção do evento, então é possível o auxílio através de uma conduta omissiva. Induzimento, Instigação ou Auxílio ao Suicídio: Disciplina: Direito Penal 111 Os sujeitos podem ser: a) Sujeito ativo: qualquer pessoa que tenha capacidade de induzir, instigar ou auxiliar alguém, de modo eficaz e consciente, a suicidar-se; b) Sujeito passivo: qualquer pessoa pode ser vítima do crime em tela, desde que possua capacidade de resistência e discernimento. Nos casos de ausência de capacidade de entendimento da vítima (louco, criança), o agente será considerado autor mediato do delito de homicídio, uma vez que a vítima, em face da ausência de capacidade penal, serviu como mero instrumento para que o agente lograsse o seu propósito criminoso, qual seja, eliminar a vida do inimputável. Exemplo: fornecer uma arma a um louco e determinar que este atire contra si próprio. - Suicídio é a supressão voluntária e consciente da própria vida e, por isso, é indispensável que a vítima tenha capacidade de discernimento para entender o ato que pratica. Se tal capacidade falta ao sujeito passivo, ou que ele age por erro quanto à ação que compreende, ou coagido, ou se trata de alienação, o crime será sempre o de homicídio. → Elemento subjetivo O elemento subjetivo do delito de participação em suicídio é somente o dolo, direto ou eventual, consistente na vontade livre e consciente de concorrer para que a vítima se suicídio. Observação: a seriedade deve estar presente na conduta do agente, do contrário estará excluído o dolo de participar no delito de suicídio. Assim, se x, em tom jocoso (brincadeira), diz para y que ele deve matar-se, e y vem a consumar o suicídio. É óbvio que x não deverá responder pelo delito do art. 122, na medida em que ele não quis concorrer de modo algum para tal evento. → Momento consumativo Estamos diante de um crime material que exige a produção do resultado morte ou lesões corporais de natureza grave para a sua consumação. Entretanto, se houver lesão corporal leve ou a vítima não sofrer nenhuma lesão, o fato não é punível. Observação: não afasta a caracterização do crime de participação em suicídio o tão só fato de ter transcorrido lapso temporal entre a instigação ou auxílio e o suicídio, sendo somente necessário estabelecer o nexo causal entre ambos. Desse modo, se o agente auxiliar a vítima fornecendo uma arma para que esta se suicide, vindo ela, contudo, a consumar o seu propósito seis meses depois, aquele será responsabilizado pelo delito. - Veja-se que o crime em questão apenas se configurou no momento em que a vítima eliminou a própria vida, devendo o início do prazo prescricional ser contado a partir desse evento. → Tentativa de participação em suicídio É inadmissível. Contudo, de acordo com a previsão legal do código, se não houver a ocorrência de morte ou lesão corporal de natureza grave, o fato é atípico. Desse modo, o ato de induzir, instigar ou prestar auxílio para que Induzimento, Instigação ou Auxílio ao Suicídio: Disciplina: Direito Penal 111 alguém se suicide, sem que deles decorram os eventos naturalísticos acima mencionados, não constitui crime. - Ademais, a tentativa de suicídio é perfeitamente admissível e ocorre na hipótese em que o agente é impedido por circunstâncias alheias de suicidar- se. → Formas Simples: é a figura descrita no caput do art. 122, CP; Qualificada: está prevista no parágrafo único do art. 122, CP. Assim, a pena será duplicada/agravada nos seguintes casos: a) Motivo egoístico: é aquele que diz respeito a interesse próprio, à obtenção de vantagem pessoal. Ou seja, sujeito visa tirar proveito, de qualquer modo, do suicídio. Exemplo: recebimento de herança; b) Vítima menor: é a menor capacidade de resistência moral da vítima à criação ou estímulo do propósito suicida por parte do agente. Assim, se a vítima tiver mais de 18 anos, aplica-se o caput; se a vítima não for maior de 14 anos, como o seu consentimento é irrelevante, o crime cometido será o de homicídio; c) Capacidade de resistência diminuída por qualquer causa: diminuição da capacidade de resistência por qualquer causa, por exemplo, embriaguez, idade avançada, enfermidade física ou mental, etc. - Assim, se qualquer desses fatores anular completamente a capacidade de resistência, pratica-se o delito de homicídio, como nas hipóteses da vítima portadora de insanidade mental completa e criança menor de 14 anos. → Suicídio a dois ou pacto de morte Ocorre quando duas pessoas resolvem suicidar-se juntas, em razão de dificuldades que não conseguem superar. O caso mais comum é o da sala ou quarto com gás aberto, que apresenta as seguintes hipóteses e consequências: Havendo sobreviventes Quem abriu a torneira responde pelo crime de homicídio (art. 121, CP), pois realizou o ato executório de matar; Quem não abriu a torneira responde pelo crime previsto no art. 122 do CP. Se os dois sobrevivem, havendo lesão corporal de natureza grave Quem abriu o gás responde por homicídio tentado; Quem não abriu responde pelo crime do art. 122, CP. Se os dois sobrevivem e não há lesão corporal grave Quem abriu o hás responde por tentativa de homicídio; Quem não abriu não responde por nada, pois se trata de fato atípico. Se os dois sobrevivem e ambosabriram a torneira Respondem por homicídio tentado. → Roleta-russa e duelo americano Induzimento, Instigação ou Auxílio ao Suicídio: Disciplina: Direito Penal 111 Na roleta-russa há uma arma, com um só projétil, que deverá ser disparada sucessivamente pelos participantes, rolando o tambor cada um em sua vez; no duelo americano, tem-se duas armas e apenas uma delas está carregada. Em ambos os casos, os sobreviventes respondem por participação em suicídio. Observação: se houver fraude indutora de erro no procedimento da vítima (exemplo, o agente leva a vítima a disparar arma contra sua cabeça por fazê-la supor descarregada) haverá, na exata medida em que não se terá pelo ofendido o propósito imanente ao ato suicida, ou seja, a voluntária e consciente supressão da própria vida, a vítima, nesse caso, não quis se matar, homicídio. → Suicídio não consumado e “aberratio ictus” Há um verdadeiro erro na execução do crime, ou seja, desvio no golpe. Assim, se, por não saber manusear devidamente a arma de fogo, o agente ao atirar contra si próprio erra o alvo e atinge terceira pessoa, responderá pelo delito de homicídio culposo. → Ação penal e procedimento A ação penal é pública incondicionada, ou seja, o ministério público tem a atribuição exclusiva para a sua propositura, independentemente de representação do ofendido. Assim, por se tratar de crime doloso contra a vida, o delito de auxílio, induzimento ou instigação ao suicídio insere-se na competência do tribunal do júri, de modo que os processos de sua competência seguem o rito procedimental independentemente da pena prevista.
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