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22 Crimes Contra a Pessoa (SUICÍDIO) - 4 Semestre

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Induzimento, Instigação ou Auxílio ao Suicídio: 
Disciplina: Direito Penal 111 
 O suicídio é a deliberada destruição da própria vida. Assim, o suicida é 
somente aquele que busca direta e voluntariamente a própria morte. 
- A lei penal não pune o suicídio, mas ela pune o comportamento de quem 
induz, instiga ou auxilia outrem a suicidar-se. É que, sendo a vida um bem 
público indisponível, o ordenamento jurídico veda qualquer forma de auxílio 
à eliminação da vida humana, ainda que esteja presente o consentimento do 
ofendido. 
→ Delito de suicídio no direito penal 
 A legislação penal pátria não incrimina a conduta de destruir a própria vida. 
O ordenamento jurídico ao não incriminar o suicídio tem em vista duas 
razões de índole político-criminal, a primeira diz respeito ao caráter 
repressivo da sanção penal: não se pode cuidar da pena contra um cadáver; 
a segunda diz com o caráter preventivo da sanção penal: a ameaça da pena 
queda-se inútil ante aquele indivíduo que nem sequer teme a morte. 
→ Objeto jurídico 
 Tutela o direito à vida e sua preservação. Assim, a ninguém é dado o direito 
de ser cúmplice na morte de outrem, ainda que haja consentimento deste, 
pois a vida é um bem indisponível. 
→ Elementos do tipo 
 O núcleo do tipo é composto por três verbos: induzir, instigar e auxiliar. 
Entretanto, o agente, ainda que realize todas as condutas, responde por um 
só crime. 
- A participação em suicídio pode ser moral, mediante induzimento ou 
instigação, ou material, que é realizado por meio de auxílio. 
- O delito em estudo é também classificado como crime de ação livre, pois 
não exige o tipo qualquer forma especial de execução do delito, podendo este 
ser praticado por qualquer meio, comissivo ou omissivo, como, fornecer 
veneno. 
 Três são as ações previstas pelo tipo penal: 
a) Induzir: significa suscitar a ideia/sugerir o suicídio. Assim, ocorre 
induzimento quando a ideia de auto destruição é inserida na mente do 
suicida, que não havia desenvolvido o pensamento por si só. 
- Exemplo: indivíduo que perde o emprego e é sugestionado pelo seu 
colega a suicidar- se por ser a única forma de solucionar os seus 
problemas; 
b) Instigar: significa reforçar, estimular, encorajar um desejo já 
existente. Na instigação, o sujeito ativo potencializa a ideia de suicídio 
que já havia na mente da vítima; 
c) Prestar auxílio: consiste na prestação de ajuda material, que tem 
caráter meramente secundário. Assim, o auxílio pode ser concedido 
antes ou durante a prática do suicídio; 
d) Auxílio por omissão: se o agente tem o dever de impedir o resultado e a 
sua omissão acaba sendo causa para a produção do evento, então é 
possível o auxílio através de uma conduta omissiva. 
Induzimento, Instigação ou Auxílio ao Suicídio: 
Disciplina: Direito Penal 111 
 Os sujeitos podem ser: 
a) Sujeito ativo: qualquer pessoa que tenha capacidade de induzir, instigar 
ou auxiliar alguém, de modo eficaz e consciente, a suicidar-se; 
b) Sujeito passivo: qualquer pessoa pode ser vítima do crime em tela, desde 
que possua capacidade de resistência e discernimento. Nos casos de 
ausência de capacidade de entendimento da vítima (louco, criança), o 
agente será considerado autor mediato do delito de homicídio, uma vez 
que a vítima, em face da ausência de capacidade penal, serviu como mero 
instrumento para que o agente lograsse o seu propósito criminoso, qual 
seja, eliminar a vida do inimputável. Exemplo: fornecer uma arma a um 
louco e determinar que este atire contra si próprio. 
- Suicídio é a supressão voluntária e consciente da própria vida e, por 
isso, é indispensável que a vítima tenha capacidade de discernimento 
para entender o ato que pratica. Se tal capacidade falta ao sujeito 
passivo, ou que ele age por erro quanto à ação que compreende, ou 
coagido, ou se trata de alienação, o crime será sempre o de homicídio. 
→ Elemento subjetivo 
 O elemento subjetivo do delito de participação em suicídio é somente o dolo, 
direto ou eventual, consistente na vontade livre e consciente de concorrer 
para que a vítima se suicídio. 
 Observação: a seriedade deve estar presente na conduta do agente, do 
contrário estará excluído o dolo de participar no delito de suicídio. Assim, 
se x, em tom jocoso (brincadeira), diz para y que ele deve matar-se, e y vem 
a consumar o suicídio. É óbvio que x não deverá responder pelo delito do art. 
122, na medida em que ele não quis concorrer de modo algum para tal 
evento. 
→ Momento consumativo 
 Estamos diante de um crime material que exige a produção do resultado 
morte ou lesões corporais de natureza grave para a sua consumação. 
Entretanto, se houver lesão corporal leve ou a vítima não sofrer nenhuma 
lesão, o fato não é punível. 
 Observação: não afasta a caracterização do crime de participação em 
suicídio o tão só fato de ter transcorrido lapso temporal entre a instigação 
ou auxílio e o suicídio, sendo somente necessário estabelecer o nexo causal 
entre ambos. Desse modo, se o agente auxiliar a vítima fornecendo uma 
arma para que esta se suicide, vindo ela, contudo, a consumar o seu 
propósito seis meses depois, aquele será responsabilizado pelo delito. 
- Veja-se que o crime em questão apenas se configurou no momento em que 
a vítima eliminou a própria vida, devendo o início do prazo prescricional ser 
contado a partir desse evento. 
→ Tentativa de participação em suicídio 
 É inadmissível. Contudo, de acordo com a previsão legal do código, se não 
houver a ocorrência de morte ou lesão corporal de natureza grave, o fato é 
atípico. Desse modo, o ato de induzir, instigar ou prestar auxílio para que 
Induzimento, Instigação ou Auxílio ao Suicídio: 
Disciplina: Direito Penal 111 
alguém se suicide, sem que deles decorram os eventos naturalísticos acima 
mencionados, não constitui crime. 
- Ademais, a tentativa de suicídio é perfeitamente admissível e ocorre na 
hipótese em que o agente é impedido por circunstâncias alheias de suicidar-
se. 
→ Formas 
 Simples: é a figura descrita no caput do art. 122, CP; 
 Qualificada: está prevista no parágrafo único do art. 122, CP. Assim, a 
pena será duplicada/agravada nos seguintes casos: 
a) Motivo egoístico: é aquele que diz respeito a interesse próprio, à obtenção 
de vantagem pessoal. Ou seja, sujeito visa tirar proveito, de qualquer 
modo, do suicídio. Exemplo: recebimento de herança; 
b) Vítima menor: é a menor capacidade de resistência moral da vítima à 
criação ou estímulo do propósito suicida por parte do agente. Assim, se 
a vítima tiver mais de 18 anos, aplica-se o caput; se a vítima não for 
maior de 14 anos, como o seu consentimento é irrelevante, o crime 
cometido será o de homicídio; 
c) Capacidade de resistência diminuída por qualquer causa: diminuição da 
capacidade de resistência por qualquer causa, por exemplo, 
embriaguez, idade avançada, enfermidade física ou mental, etc. 
- Assim, se qualquer desses fatores anular completamente a 
capacidade de resistência, pratica-se o delito de homicídio, como nas 
hipóteses da vítima portadora de insanidade mental completa e criança 
menor de 14 anos. 
→ Suicídio a dois ou pacto de morte 
 Ocorre quando duas pessoas resolvem suicidar-se juntas, em razão de 
dificuldades que não conseguem superar. O caso mais comum é o da sala 
ou quarto com gás aberto, que apresenta as seguintes hipóteses e 
consequências: 
 Havendo sobreviventes 
 Quem abriu a torneira responde pelo crime de homicídio (art. 121, 
CP), pois realizou o ato executório de matar; 
 Quem não abriu a torneira responde pelo crime previsto no art. 122 
do CP. 
 Se os dois sobrevivem, havendo lesão corporal de natureza grave 
 Quem abriu o gás responde por homicídio tentado; 
 Quem não abriu responde pelo crime do art. 122, CP. 
 Se os dois sobrevivem e não há lesão corporal grave 
 Quem abriu o hás responde por tentativa de homicídio; 
 Quem não abriu não responde por nada, pois se trata de fato atípico. 
 Se os dois sobrevivem e ambosabriram a torneira 
 Respondem por homicídio tentado. 
→ Roleta-russa e duelo americano 
Induzimento, Instigação ou Auxílio ao Suicídio: 
Disciplina: Direito Penal 111 
 Na roleta-russa há uma arma, com um só projétil, que deverá ser 
disparada sucessivamente pelos participantes, rolando o tambor cada um 
em sua vez; no duelo americano, tem-se duas armas e apenas uma delas 
está carregada. Em ambos os casos, os sobreviventes respondem por 
participação em suicídio. 
 Observação: se houver fraude indutora de erro no procedimento da vítima 
(exemplo, o agente leva a vítima a disparar arma contra sua cabeça por 
fazê-la supor descarregada) haverá, na exata medida em que não se terá 
pelo ofendido o propósito imanente ao ato suicida, ou seja, a voluntária e 
consciente supressão da própria vida, a vítima, nesse caso, não quis se 
matar, homicídio. 
→ Suicídio não consumado e “aberratio ictus” 
 Há um verdadeiro erro na execução do crime, ou seja, desvio no golpe. 
Assim, se, por não saber manusear devidamente a arma de fogo, o agente 
ao atirar contra si próprio erra o alvo e atinge terceira pessoa, responderá 
pelo delito de homicídio culposo. 
→ Ação penal e procedimento 
 A ação penal é pública incondicionada, ou seja, o ministério público tem a 
atribuição exclusiva para a sua propositura, independentemente de 
representação do ofendido. 
Assim, por se tratar de crime doloso contra a vida, o delito de auxílio, 
induzimento ou instigação ao suicídio insere-se na competência do tribunal 
do júri, de modo que os processos de sua competência seguem o rito 
procedimental independentemente da pena prevista.

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