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UNICESUMAR - CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE GRADUAÇÃO EM BIOMEDICINA HIPERCOLESTEROLEMIA FAMILIAR: FATOR DE RISCO PARA DESENVOLVIMENTO DE DOENÇA ARTERIAL CORONARIANA. GIOVANA SOUZA MACHADO FRANÇA NATHÁLIA CRISTINA VIEIRA RAMOS MARINGÁ – PR 2018 Giovana Souza Machado França Nathália Cristina Vieira Ramos HIPERCOLESTEROLEMIA FAMILIA: FATOR DE RISCO PARA DESENVOLVIMENTO DE DOENÇA ARTERIAL CORONARIANA. Artigo apresentado ao curso de graduação em Biomedicina da UniCesumar – Centro Universitário de Maringá como requisito parcial para a obtenção do título de bacharela em Biomedicina, sob a orientação da Profa. Dra. Elaine Campana Sanches Bornia. MARINGÁ – PR 2018 HIPERCOLESTEROLEMIA FAMILIAR: FATOR DE RISCO PARA DESENVOLVIMENTO DE DOENÇA ARTERIAL CORONARIANA. Giovana Souza Machado França Nathália Cristina Vieira Ramos RESUMO A hipercolesterolemia familiar é uma desordem no metabolismo lipídico que leva ao acúmulo de colesterol LDL na circulação sanguínea. Está relacionada a mutações no receptor de LDL, na apolipoproteína B100 e na serino-protease PCSK9. A principal complicação decorrente dos elevados níveis de colesterol LDL é o desenvolvimento de placas ateroscleróticas, que está associado a quadros de doença coronariana aguda. Dessa forma, o presente trabalho tem por objetivo compreender os mecanismos de desenvolvimento da hipercolesterolemia familiar, verificar as possíveis maneiras de diagnóstico e tratamento, além de compreender os métodos de acompanhamento. Para isso, utilizou-se, como método de pesquisa, a averiguação de artigos, dissertações e teses referentes a temática (revisão da literatura) entre os anos de 2010 a 2018. Diante disso, verificou-se que as mutações são as principais causas que impedem o colesterol LDL de ser internalizado pelas células, gerando acúmulo na circulação sanguínea. O diagnóstico leva em consideração a elevação sérica do colesterol LDL, o histórico familiar e os sinais clínicos do paciente, sendo o teste genético considerado confirmatório para fechar diagnóstico de hipercolesterolemia familiar. As medidas terapêuticas adotadas consistem em uma associação de hábitos de vida, alteração na dieta, atividade física e medicamentos hipolipemiantes. Baseado na alta incidência de hipercolesterolemia familiar, caracterizada pelos trabalhos avaliados, e o desenvolvimento de doença aterosclerótica precoce, é importante conscientizar e trazer informações à população e aos profissionais de saúde sobre os riscos a que a doença pode expor o paciente, da importância do tratamento precoce e de prevenir o desenvolvimento de doenças arteriais coronarianas. Palavras-chave: Hipercolesterolemia; Lipídios; Colesterol LDL; Aterosclerose; Doença Coronariana. FAMILIAL HYPERCHOLESTEROLEMIA: THE RISK FACTOR FOR THE DEVELOPMENT OF CORONARY ARTERIAL DISEASE. ABSTRACT Familial hypercholesterolemia is a disorder in the lipid metabolism which accumulates the LDL cholesterol in the blood circulation. Mutations are related on the LDL receptor, apolipoprotein B100 and in serine protease PCSK9. The main complication of elevated levels of LDL cholesterol is the development of atherosclerotic plaques which is associated with the acute coronary syndrome. Therefore, the present study aims at understanding the development mechanism of familial hypercholesterolemia, analyze the possible ways of diagnosis and treatment, besides the comprehension of monitoring methods. In this regard, as research method were used articles, dissertations, and thesis about the theme (literature review) between 2010 and 2018. At that, it was analyzed that mutations are one of the main causes that obstruct the LDL cholesterol of being internalized by cells, resulting on plaques in the bloodstream. The diagnostic takes as consideration the serum elevation of the LDL cholesterol, family background and the clinical signs of the patient, and also the genetic test as the final confirmation of the familial hypercholesterolemia. The therapeutic measures adopted consist in association with lifestyle habits, changes in diet, physical activity, and lipid- lowering medications. Based on the high occurrence of familial hypercholesterolemia, characterized by studies analyzed, and the development of precocious atherosclerotic disease, is important to rise for awareness about the risks of the disease for the population and healthcare professionals, and also the importance of early treatment and prevention of the development of coronary artery diseases. Keywords: Hypercholesterolemia; Lipids; LDL Cholesterol; Atherosclerosis; Coronary Disease. 1 INTRODUÇÃO A hipercolesterolemia familiar (HF) é uma herança genética com caráter autossômico dominante que gera uma desordem no metabolismo lipídico, promovendo uma elevação do colesterol LDL (LDL-C) e colesterol total (CT). É responsável por aumentar, consideravelmente, o risco de desenvolver doenças cardíacas precocemente, uma vez que os altos níveis de colesterol plasmático estão presentes desde o nascimento (PEREIRA et al. 2014; ALVES, 2014; DUARTE, 2017). Nos indivíduos em que se tem apenas um gene mutado, chamados de heterozigóticos, as elevações na taxa de colesterol ocorrem cerca de 2 a 3 vezes mais do que a considerada normal. Em indivíduos que possuem os dois genes acometidos, os homozigotos, essa taxa de elevação pode ser de 5 a 6 vezes maior. Nesses casos, um quadro de infarto agudo do miocárdio pode se desencadear antes dos 20 anos de idade (JACIK, 2014). A principal causa atribuída à HF é uma mutação no gene que codifica o receptor LDL (LDLR), cuja função é remover o LDL-C da circulação sanguínea e permitir sua entrada dentro da célula. Outras causas, menos comuns, que também são atribuídas são a alteração no gene da Apoproteína B – responsável por codificar a apolipoproteína B100 (apo B), que atua como ligante ao LDLR –, ou por mutações no gene da pró-proteína convertase subutiliaina/kexina tipo 9 (PCSK9) – com ganho de função, uma protease serina que tem como função degradar o LDLR (MOLFETTA et al., 2017; CUNHA; RIBEIRO, 2017; DUARTE, 2017; ELBITAR et al., 2018). De acordo com a Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose (2017), estima-se que 20% da população é acometida pela HF, e menos de 10% dos pacientes portadores da doença recebem tratamento. É considerada a doença com caráter genético hereditário com maior prevalência no mundo todo, visto que acomete cerca de 10 milhões de pessoas (CHACRA, 2014). A principal complicação encontrada na HF é a doença arterial coronariana (DAC), que consiste em uma estenose das artérias coronarianas devido à presença de placas ateroscleróticas que reduzem a irrigação sanguínea para o tecido cardíaco (SILVA, 2014). As placas ateroscleróticas são resultantes de um processo inflamatório gerado pelo depósito de lipoproteínas LDL na camada intima do endotélio vascular, que, por sua vez, serão oxidados e desenvolverão estímulos responsáveis por recrutar macrófagos para o local com o objetivo de captar o LDL oxidado, formando as células espumosas (FALUDI et al., 2017). 6 O diagnóstico é realizado através de uma investigação de histórico familiar de HF e DAC prematura, exames laboratoriais, como a avaliação do perfil lipídico e teste genético para identificar mutações, sendo considerado padrão de referência, associado a sinais clínicos, como xantomas tendinosos, xantelasmas e arco corneano, resultante do depósito lipídico em tecidos extra vasculares (CUNHA; RIBEIRO, 2017; DUARTE, 2017; FALUDI et al., 2017). O tratamento da HF é baseadoem dieta alimentar, atividade física e uso de medicamentos, sendo os principais os hipolipemiantes, como as estatinas e as ezetimibas, além de alguns novos medicamentos que foram desenvolvidos para melhorar a vida dos pacientes que não fazem o uso dos hipolipemiantes (FALUDI et al., 2017). A HF é um problema de saúde mundial reconhecido pela OMS. No Brasil, os dados não são diferentes: estima-se que haja entre 250.000 a 300.000 portadores da doença. Um dado preocupante é a alta incidência de doença aterosclerótica prematura reduzindo a expectativa de vida entre homens e mulheres (FALUDI et al., 2017). Este trabalho pretende esclarecer o desenvolvimento da HF e a relevância de seu diagnóstico e tratamento através da compreensão da fisiopatologia da doença, suas possíveis complicações, quais são os mecanismos que a desencadeiam, especificando os métodos de diagnóstico utilizados e conhecendo os tratamentos desenvolvidos na atualidade como forma de acompanhamento e prevenção da doença arterial coronariana. 2 METODOLOGIA Trata-se de um estudo de revisão bibliográfica, comparativa e com abordagem qualitativa. Foram selecionados artigos entre os anos de 2010 a 2018 em plataformas como BVS (http://brasil.bvs.br/), Bireme (http://www.bireme.br/php/index.php), SciELO (http://scielo.org), PubMed (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed), LILACS (http://lilacs.bvsalud.org/), consulta a livros, entre outros. Os trabalhos foram avaliados quanto aos critérios da fisiopatologia da hipercolesterolemia familiar, suas complicações, métodos de diagnóstico e tratamento. Para a pesquisa dos artigos, foram utilizados os seguintes descritores em ciências da saúde: “Hipercolesterolemia”, “Lipídios”, “Colesterol LDL”, “Aterosclerose”, “Doença Coronariana”. http://brasil.bvs.br/ http://www.bireme.br/php/index.php http://scielo.org/ http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed http://lilacs.bvsalud.org/ 7 3 DISCUSSÃO 3.1 Metabolismo de LDL-C O colesterol LDL é composto por um centro de colesterol esterificado que é originado da transferência de um ácido graxo da enzima Lecitina-colesterol-aciltransferase (LCAT) para o colesterol, tornando-o muito hidrofóbico. O LDL-C é revestido por fosfolipídios – colesteróis não esterificados, que auxiliam no transporte do LDL-C no sangue – e apolipoproteína B100 – que permite que ele entre ou saia das células (MATHEUS, 2013; SILVA, 2015). Esse colesterol pode advir da alimentação e absorção intestinal através das lipoproteínas precursoras ou pode ser originado, também, pela síntese hepática, que se inicia nos hepatócitos com a transformação do acetilcoenzima A (acetil-coA) em mevalonato (molécula com 6 carbonos) por meio da HMG-coA (β-hidroxi-β-metilglutaril-CoA). Depois, o mevalonato é convertido em unidades isoprenoides ativadas (pela adição de ATP que libera 3 grupos fosfatos para a molécula); então, pela condensação de 6 das unidades isoprenoides, ele se torna o escaleno (molécula com 30 carbonos), são formados 4 anéis cíclicos no escaleno, tornando-se lanosterol, passa por 20 reações no retículo endoplasmático, originando o colesterol (MATHEUS, 2013; SILVA, 2015; FALUDI et al., 2017). O LDL-C circula no sangue até que ocorra a interação da apo B100 com o receptor de LDL (LDLR) da célula alvo, e, por meio de invaginação, o LDL-C é englobado e degradado pelas enzimas lisossomais, o colesterol é, então, liberado para uso celular. Quando a concentração sérica de LDL-C é elevada, a célula realiza retroalimentação negativa para LDLR, auxiliada pela PCSK9, uma protease responsável pela degradação desses receptores, e ocorre uma redução de sua disponibilidade na superfície celular, consequentemente, a captação de LDL-C é menor. Quando a concentração desse colesterol é baixa, a célula realiza retroalimentação positiva para LDLR, há mais receptores na superfície celular e a captação de LDL-C é maior (FERREIRA, 2017; DUARTE, 2017). Quando há colesterol em excesso na circulação ou nas células, o HDL (lipoproteína de alta densidade) realiza o transporte reverso (TRC), retirando esse colesterol dos vasos e tecidos periféricos, esterificando com a LCAT para englobar em seu interior, levando ao fígado para ser metabolizado ou excretado. O HDL pode, também, transferir colesterol esterificado, por meio da proteína de transferência de ésteres de colesterol (CETP), para as 8 lipoproteínas com apo B, para serem captadas pelo fígado, retirando-as do sangue. Essa atividade do HDL-C é antiaterogênica, sendo o mais importante papel dessa lipoproteína, principalmente na HF (PATRÍCIO 2010; SILVA et al., 2016). 3.2 Fisiopatologia da Hipercolesterolemia Familiar Várias mutações são associadas à HF, sendo que os pacientes podem ser homozigotos (HoHF) – apresentam dois genes mutados – ou heterozigotos (HeHF) – quando apenas um gene é mutado (WIEGMAN et al., 2015). Na HF causada por alteração do LDLR, as mutações são variadas, sendo conhecidas mais de 1600 tipos de mutações somente nesse gene, em que, na maioria dos casos, a mutação torna o receptor afuncional ou faz com que ele exerça a sua função de maneira defeituosa, assim, se não houver a internalização do LDL-C na célula, há um aumento em sua concentração sérica (ALVES, 2014; ELIKIR; STOLL, 2015). Já na doença causada por alterações na apo B100, em geral, a mutação ocorre por uma substituição no aminoácido glicina pela arginina na posição 3500 do gene, que leva a uma alteração conformacional da molécula, o que gera a diminuição da ligação entre o LDL-C e o LDLR, aumentando o nível plasmático de LDL-C (ALVES, 2014). E, por último, a HF pode ser causada devido à uma mutação no gene da PCSK9, que passa a degradar mais LDLR do que o necessário, levando ao acúmulo de LDL-C na circulação sanguínea, pela falta de captação celular através de LDLR (JACIK, 2014). 3.3 Doença Arterial Coronariana A HF é considerada fator de risco para desenvolvimento de doença arterial periférica, acidente vascular encefálico e eventos cardiovasculares, sendo a doença arterial coronariana a principal complicação da HF, caracterizada pela obstrução das artérias coronárias devido à formação de placas ateroscleróticas, que comprometem a irrigação sanguínea do coração e levam a quadros de isquemias (PEREIRA et al., 2014; SILVA, 2014; CABRAL; KLEIN, 2017). Segundo FALUDI (2017), o depósito de C-LDL na parede arterial é proporcional à sua concentração plasmática. O desenvolvimento da placa aterosclerótica ocorre na túnica íntima das artérias; com o depósito de LDL-C na região íntima vascular, aumenta-se o 9 consumo de óxido nítrico e liberação de radicais livres, promovendo a oxidação da LDL-C. A LDL oxidada, por sua vez, é citotóxica às células endoteliais e promove a liberação de quimiocinas recrutadoras de leucócitos, em especial, os monócitos, que, após realizarem diapedese, diferenciam-se em macrófagos e realizam fagocitose da LDL oxidada, formando as células espumosas. A inflamação gerada promove a migração e proliferação das células lisas, desenvolvendo um substrato fibroso, constituindo a placa aterosclerótica (MARTELLI, 2014; GONDIM et al., 2016; MATOS et al., 2016). Naqueles casos em que os pacientes com HF apresentem sinais clínicos sugestivos de aterosclerose, em que o mais característico é a angina, há alguns métodos não invasivos que podem ser utilizados para avaliação do risco cardiovascular, auxiliando na prevenção e no tratamento da DAC, como é o caso da proteína C reativa de alta sensibilidade (PCR-as), um método que possui um limiar de detecção mais baixo em relação à técnica de PCR convencional, sendo em torno de 0,3 mg/L. Esse biomarcador inflamatório tem sido associado à estabilidade da placa de ateroma, de modo que permita fazer um prognóstico de eventos cardíacos. Métodos de imagem também podem ser utilizados, como o teste ergométrico,ecocardiograma de estresse, cintilografia miocárdica e ressonância magnética cardíaca, que é considerada padrão-ouro para avaliar a viabilidade miocárdica com o uso do contraste gadolínio (SILVA; LACERDA, 2012; CESAR et al., 2014; SANTOS; BIANCO, 2018). 3.4 Diagnóstico O diagnóstico da HF é realizado através da associação de um grupo de fatores, cujo primeiro indício de alerta é a alteração nos níveis de colesterol. Na forma heterozigótica, o LDL-C, quando não tratado, é sempre superior a 190 mg/dL, e, na forma homozigótica, geralmente, está acima de 500 mg/dL, podendo ultrapassar 1000 mg/dL na ausência de tratamento (ELIKIR; STOLL, 2015; SILVA, 2015; DUARTE, 2017). A investigação do histórico familiar é importante naqueles casos em que o paciente apresenta alterações no LDL-C e possui parentes de primeiro ou segundo graus portadores de HF ou casos de DAC precoce na família – antes dos 55 anos para homens e antes dos 60 anos para mulheres. Diante disso, é recomendado realizar o rastreamento universal – em que é feita a medição dos níveis de colesterol em todos os indivíduos com idade superior a 10 anos – ou o rastreamento seletivo – que deve ser realizado a partir dos 2 anos de idade quando esse indivíduo já apresenta sinais clínicos ou seus dois progenitores são afetados pela doença. 10 Outra estratégia é o rastreamento em cascata, em que se faz a determinação dos níveis de colesterol de todos os parentes de primeiro grau daquele indivíduo, que é o caso índice (CI), ou seja, aquele que é o primeiro membro da família diagnosticado através do teste genético com HF (CHACRA; SANTOS, 2014; ELIKIR; STOLL, 2015; FALUDI et al., 2017; CUNHA; RIBEIRO, 2017). Com o aumento da disponibilidade plasmática do LDL-C, começa a haver um depósito dessa lipoproteína nos tecidos, levando aos achados clínicos característicos, porém não exclusivos da HF, pois podem estar presentes em outras desordens do metabolismo lipídico. Dentre eles, estão os xantomas tendinosos, mais comuns no tendão calcâneo, mas, também, podem ser encontrados nos tendões patelares e do tríceps. Pode-se encontrar, também, xantelasmas de pálpebras, que têm grande valor clínico quando encontrados em indivíduos entre 20 e 25 anos; e o arco corneano, que pode ser parcial ou total e consiste em um acúmulo lipídico na córnea, e, quando encontrado antes dos 45 anos de idade, é sugestivo de HF (CHACRA; SANTOS, 2014; FALUDI et al., 2014; ELIKIR; STOLL, 2015). A associação desses fatores indica a presença de HF, porém o padrão ouro para fechar o diagnóstico é por meio de testes genéticos, através de técnicas de sequenciamento da região codificadora do gene LDLR, e de polimorfismo do gene APOB e PCSK9, que são os principais genes a qual se atribuem as mutações responsáveis pela HF. Contudo, a presença de HF não pode ser excluída caso o teste genético seja negativo (CHACRA, 2014; FALUDI et al., 2017). Segundo Chacra e Santos (2014), em cerca 60% dos casos, os testes genéticos não conseguem encontrar a mutação nos pacientes portadores de HF. 3.5 Tratamento O tratamento da HF é feito em conjunto à prevenção da DAC, e, como no controle de outras dislipidemias, o tratamento não farmacológico também deve ser realizado por meio do controle da alimentação, evitando o consumo de alimentos gordurosos e calóricos, além de atividade física aeróbica, devendo-se evitar consumo alcoólico e tabagismo. No entanto, apenas esses hábitos não diminuem significativamente o LDL-C na HF, em conjunto, são utilizados medicamentos, como as estatinas, que inibem a síntese de colesterol, por competirem com a enzima 3-hidroxi-3-metilglutaril coenzima A redutase (HMG-CoA), e induzem o aumento da expressão de LDLR na superfície celular, acarretando em uma maior retirada do LDL-C da circulação, e que, segundo Duarte (2017), podem apresentar redução nos níveis de LDL-C em cerca de 40 a 60%. Porém, as estatinas podem apresentar efeitos 11 adversos como mialgia, rabdomiólise – que gera intensa dor muscular e até necrose –, além de mioglobinúria – que pode gerar insuficiência renal –, além disso, as estatinas podem apresentar também hepatotoxicidade, sendo essa de forma mais rara (BRASIL, 2016; CABRAL; KLEIN, 2017; DUARTE, 2017). Outro medicamento são as ezetimibas, que atuam de forma seletiva no bloqueio da absorção intestinal de colesterol, vindo da dieta e da bile, e leva à diminuição no colesterol da circulação entero-hepática, de modo que induz as células hepáticas a produzirem mais LDLR e captar mais colesteróis plasmáticos. As ezetimibas podem ser efetivas quando utilizadas em monoterapia, em concentrações baixas, sendo o primeiro fármaco de escolha naqueles casos em que o paciente portador de HF tem contraindicação ou intolerância às estatinas. De acordo com Faludi (2017), quando combinado as ezetimibas com as estatinas, os resultados são mais satisfatórios do que a monoterapia, de modo que pode haver uma redução de cerca de 15 a 20% dos níveis de LDL-C, além de reduzir os riscos de eventos cardiovasculares (BERTOLAMI, 2014; DUARTE, 2017; FALUDI et al., 2017). Os sequestradores de ácidos biliares, as resinas, também são amplamente utilizadas. Esse fármaco se liga aos ácidos biliares e diminuem a sua absorção intestinal, resultando em uma redução da concentração de colesterol intracelular; em resposta, há um aumento de LDL- R na superfície dos hepatócitos, e, consequentemente, faz com que diminua o LDL-C na circulação sanguínea. A eficácia desse fármaco na redução dos níveis de colesterol LDL, apontada por Duarte (2017), é de 18 a 25% (FERNANDES, 2011; DUARTE, 2017; FALUDI et al., 2017). Em pacientes portadores da DAC, os tratamentos variam de acordo com o grau de acometimento, mas podem ser realizadas revascularização cardíaca, angioplastias com colocação de stent, reconstrução de arco aórtico e troca valvar, quando apresentam muitas placas de ateroma calcificadas danificando o fluxo sanguíneo. Após o tratamento cirúrgico, os pacientes devem ter sempre o acompanhamento médico, controle alimentar, realizar atividade física e fazer o uso de hipolipemiantes e antiplaquetários (BERTOLAMI, 2014; FALUDI et al., 2017). 3.5.1 Perspectivas Futuras no Tratamento da Hipercolesterolemia Familiar Atualmente, foram desenvolvidos novos medicamentos para o tratamento da HF, como o inibidor da PCSK9, que bloqueia a ligação da PCSK9 com o LDLR e evita que haja a 12 sua degradação. O LDLR é, então, reciclado, impedindo que os níveis de LDL-C plasmáticos se elevem (DUARTE, 2017; FALUDI et al., 2017; BEHR, et al, 2018). O inibidor da proteína de transferência de triglicerídeos microssomal (MTP), também chamado de Lomitapida, promove a inibição da MPT. Ele não permite que haja a transferência de triglicerídeos para Apolipoproteína B e leva à redução da formação de todas as lipopoteínas que possuem apo B em sua composição, como consequência, ocorre uma redução dos níveis de LDL séricos. Esse medicamento é indicado para HoHF (BERTOLAMI, 2014; PEREIRA, 2012; FALUDI et al., 2017). O inibidor da esqualeno sintetase é um medicamento que inibe a última enzima da cascata da biossíntese de colesterol, assim há a diminuição de LDL sanguíneo devido à falha na produção do colesterol (BERTOLAMI, 2014; PEREIRA, 2012). Outro medicamento que vem sendo utilizado para o controle dos níveis de LDL-C é o mipomersen, que, de acordo com Duarte (2017): O mipomersen é um oligonucleotídeo antisense, complementar à região do ácido ribonucleico (RNA) mensageiro da apoB, concebido para bloquear a sua produção, principal componente do C-LDL, de lipoproteínas de densidade intermédia e de VLDL. Ao bloquear a tradução, o Mipomersen impede a produção de apoB e promove a redução destas lipoproteínas na circulação. (PEREIRA, 2017, p.14) O mipomersen é administrado via subcutânea e é útil tanto para indivíduosHeHF quanto para os indivíduos HoHF que não obtiveram reduções satisfatórias no LDL-C mesmo utilizando doses máximas dos demais hipolipemiantes convencionais. Porém, o mipomersen é um medicamento que apresenta como principal efeito adverso a toxicidade, que pode acarretar danos hepáticos, em especial, a esteatose hepática, que pode evoluir para cirrose, sendo necessário realizar um acompanhamento das enzimas hepáticas, aspartato aminotransferase (AST) e alanina aminotransferase (ALT) para controlar o risco de hepatotoxicidade (BERTOLAMI, 2014; BRASIL, 2016; DUARTE, 2017). 4 CONCLUSÃO A hipercolesterolemia familiar é uma das doenças genéticas hereditárias com maior prevalência em todo o mundo, responsável por aumentar consideravelmente o risco de desenvolvimento de manifestações cardiovasculares precocemente. Trata-se de uma doença que ainda é subdiagnosticada. A expressão da doença varia de indivíduo para indivíduo, pois, 13 além do fator genético, também há a atuação do fator ambiental, portanto não são todos os indivíduos afetados pelo gene causador HF que irão desenvolver a doença. Em famílias que possuem suspeita de HF, recomenda-se que seja feito o monitoramento do perfil lipídico desses indivíduos, assim como a prática de hábitos de vida saudáveis. No entanto, a falta de informação e conhecimento da população em muitos casos e a negligência do diagnóstico da HF têm agravado os índices de morbidade e mortalidade, mas, com a terapêutica e o tratamento adequado, podem melhorar os índices de expectativa de vida desse paciente. Desse modo, é possível visualizar a importância de se realizar a investigação da doença de forma sistemática, diagnóstico precoce e tratamento adequado, além de levar informação à população a respeito da HF, pois somente dessa forma os riscos de eventos cardiovasculares, óbitos precoces e terapias invasivas serão reduzidos. REFERÊNCIAS ALVES, A. C. dos S. Base genética da Hipercolesterolemia Familiar. 2014. 241f. Tese (Doutorado em Bioquímica) – Universidade de Lisboa, Lisboa, 2014. BRASIL. SCTIE/ MS. Nota nº 171 de 23 de agosto de 2016. Informações técnicas sobre o medicamento Mipomersen (Kynamro®) para o tratamento da Hipercolesterolemia familiar homozigótica. Disponível em: <https://goo.gl/CsFG9b>. Acesso em: 25 set. 2018. BEHR, Paulo Eduardo Ballvé et al. Indicações do Uso de Inibidores da PCSK9 em Pacientes com Alto Risco e Muito Alto Risco Cardiovascular. Arq. Bras. Cardiol., São Paulo, v. 111, n. 1, p. 104-108, jul. 2018. BERTOLAMI, A., BERTOLAMI, M. C. Dislipidemias. Revista Brasileira de Medicina. v.71, n.12, p.68-77, 2014. CABRAL, E.C.; KLEIN, M. R. S. T. Fitosteróis no Tratamento da Hipercolesterolemia e Prevenção de Doenças Cardiovasculares. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Rio de Janeiro, v. 109, n. 5, p. 475- 482, maio/jul. 2017. CESAR, L. A., et al. Diretriz de Doença Coronária Estável. Arquivos Brasileiros de Cardiologia: Sociedade Brasileira de Cardiologia, v. 103, n.2, p. 1 – 59, 2014. CHACRA, Ana Paula Marte, SANTO, Raul D. Hipercolesterolemia Famíliar: história natural. Revista da Sociedade da Cardiologia do Estado de São Paulo. Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo. v.24, n.4, p. 10 – 17, 2014. CUNHA, Ana F. C.; RIBEIRO, Iliana. Familial Hypercholesterolemia: the Importance of Early Diagnosis and Management. International Journal of Cardiovascular Sciences, Rio de Janeiro, 2017. p. 550-553. Edição 30.6. 14 DUARTE, R. A. S. Hipercolesterolemia Familiar: uma nova abordagem no tratamento. 2017. 42f. Dissertação (Mestre em Medicina) - Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar - Universidade do Porto, 2017. ELBITAR, S., et al. New sequencing technologies help revealing unexpected mutations in autosomal dominant hypercholesterolemia. Scientific reports - Nature. [S. I.] Sine loco. 31 jan. 2018. Disponível em: < goo.gl/AkWJRG>. Acesso em: 24 mar. 2018. ELIKIR, Gerardo; STOLL, Mário. Diagnóstico clínico e genético da hipercolesterolemia familiar. In: SANTOS, R. D.; MATA, P.; STOLL, M. Hipercolesterolemia Familiar. 1.ed. 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