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Rins - Função: manter volume e composição química dos líquidos no organismo adequados ao funcionamento das células. • Homeostasia; • Poupar água e sais minerais; • Excreção de resíduos tóxicos (ureia, ácido úrico e creatinina); • Excreção de fármacos e seus metabólitos; • Secreção de hormônios; • Produção de glóbulos vermelhos (eritropoietina); • Regulação cálcio e fósforo séricos (vitamina D); • Regulação hemodinâmica renal → sistema renina-angiotensina-aldosterona. - Costumam ser em par e em formato de feijão. - Rim adulto: mede cerca de 11 cm de comprimento, 3 cm de espessura e 5 cm de largura. - Ocupa o espaço entre a 12ª vértebra torácica e a 3ª vértebra lombar. - É importante saber a dimensão dos rins para a identificação de alterações do órgão no estudo de ultrassonografia. Anamnese e exame físico - Anamnese: parte dos pacientes com lesão renal apresentam queixas que não guardam relação direta com os rins ou TGU. Estão relacionadas à função do rim – excretora e retenção de escórias. • Astenia; • Náuseas; • Vômitos; • Anorexia; • Anemia; • Irritabilidade neuromuscular. - Em contrapartida, os pacientes costumam atribuir aos rins sintomas que não decorrem de lesões no sistema urinário. • Dor lombar → alterações da coluna; • Poliúria → devido hiperglicemia em pacientes diabéticos; • Hematúria → causada por distúrbios de coagulação. Sinais e sintomas Alterações da micção e do volume urinário - Condições normais: volume urinário é de 700 a 2000 mL/dia. - Capacidade normal da bexiga: 400 a 600 mL de urina. - Esvaziamento vesical quando o volume atinge aproximadamente 200 mL. - Uma dieta normal requer eliminação de pelo menos 800 mL de urina pelos rins para excretar ureia, eletrólitos e outros metabólitos. • Oligúria - Diurese < 400 mL/dia ou < 20 mL/hora. - Costuma ocorrer por redução do fluxo sanguíneo renal → desidratação, hemorragia, insuficiência cardíaca. - Também pode ocorrer por lesões renais → glomerulonefrite aguda, lesão tubular aguda. Semiologia do Sistema Urinário - A excreção urinária é inferior às necessidades de excreção de solutos. Logo, há retenção de escórias nitrogenadas. • Anúria - Diurese < 100 mL/24h. - Ocorre na obstrução bilateral das artérias renais ou ureteres. - Necrose cortical bilateral. - Insuficiência renal aguda grave. • Poliúria - Diurese > 2500mL/24h. - Mensurada pela urina de 24h. - Ocorre aumento do número de micções. - Mecanismo básico: Diurese osmótica → excreção aumentada de solutos, como a glicose no paciente com DM descompensado. Incapacidade de concentração urinária → diabetes insipidus – central (diminuição da produção de ADH) e nefrogênico (o rim não responde ao ADH secretado pela hipófise). - Devido ao grande volume de líquido perdido, o paciente pode apresentar sinais como aumento da sede, desidratação e hipotensão. • Disúria - Micção associada à dor, queimor ou desconforto. - Ocorre nas infecções do TGI: cistite, prostatite, uretrite, traumatismos geniturinários, ação de irritantes uretrais e reações alérgicas. • Urgência miccional - Necessidade súbita (e imperiosa) de urinar. • Polaciúria - Aumento da frequência miccional – intervalo entre as infecções inferior a 2 horas e sem que haja aumento do volume urinário. - Irritação vesical causada por: infecção, cálculo, obstrução. - Frio e ansiedade também são causas. Poliuria (volume) ≠ polaciúria (nº de micções) • Hesitação - Intervalo maior para que apareça o jato urinário. - Geralmente indica obstrução do trato de saída da bexiga. Ex.: cálculo, coágulo etc. • Nictúria ou noctúria - Alteração do ritmo de diurese e necessidade de esvaziar a bexiga à noite. • Retenção urinária - Incapacidade de esvaziar a bexiga. - Aguda: paciente urinava normalmente e passa a sentir a bexiga distendida, tensa e dolorosa. - Crônica: existe gradual dilatação vesical, geralmente indolor. A bexiga torna-se palpável na região supra púbica. Completa: incapacidade de esvaziar a bexiga. Incompleta: permanência de urina na bexiga depois de finalizado o ato miccional. - Causas: obstrução da uretra ou colo vesical; hipertrofia e hiperplasia prostática; bexiga neurogênica. • Incontinência urinária - Eliminação involuntária de urina. - Ocorre na bexiga neurogênica, cistites e ao esforço físico, por frouxidão do assoalho pélvico. - Comum em mulheres multíparas → frouxidão da musculatura do assoalho da pelve. Cor e aspecto da urina - Urina normal: transparente com tonalidade de amarelo claro a amarelo escuro (conforme esteja diluída ou concentrada). - Urina avermelhada: hematúria, hemoglobinúria, mioglobinúria ou porfinúria. • Hematúria O aspecto da urina depende da quantidade de sangue e pH. - pH ácido: urina com aspecto escuro. - pH alcalino: a Hb conserva sua cor vermelha por mais tempo. - 1 cm3 de sangue em 1,5L de urina lhe confere cor avermelhada - hematúria microscópica → o paciente consegue ver e relata a hematúria. - Hematúria maciça: presença de sangramento vivo e coágulos. - Hematúria microscópica: detectada por meio de fitas reagentes. - Hematúria total: o sangue é visível durante todo ato miccional. - A origem do sangramento é renal, ureteral ou das paredes da bexiga. - Os sintomas que acompanham a hematúria ajudam a suspeitar de sua causa: Hematúria + febre, calafrios e disúria → ITU Hematúria + cólica renal → litíase urinária (cálculo). - Hematúria inicial: lesões da uretra distal e colo vesical. - Hematúria terminal: lesões do trígono vesical. • Hemoglobinúria - Hb livre na urina. - Causas: hemólise intravascular (malária), leptospirose, transfusão incompatível, icterícia hemolítica. • Mioglobinúria → há mioglobina no exame de urina. - Destruição muscular maciça por traumatismo e queimaduras, exercícios intensos, crises convulsivas. • Porfirinúria - Urina com coloração vermelho vinhosa algumas horas APÓS a micção → presença de porfirina na urina. Corantes, medicamentos e fluxo menstrual podem causar falsa hematúria. • Urina turva - Depósito esbranquiçado, odor desagradável → ITU - Piúria: quantidade anormal de leucócitos na urina (infecção). - Cilindros leucocitários: sugere infecções dos rins. • Urina com aumento de espuma - Eliminação aumentada de proteínas na urina → glomerulonefrites, nefropatia diabética. Dor - Dor lombar e no flanco, cólica renal (cíclica e em aperto), dor vesical (bexiga), estrangúria e dor perineal. • Dor lombar - Entre a 12ª costela e a crista ilíaca; pode ocorrer irradiação para a parede anterior do abdome. - Ocorre por distensão da cápsula renal. - Característica: profunda, em peso, fixa e persistente, intensidade variável, piora com a posição ereta. Não costuma associar-se a náusea ou vômitos. - Ocorre na síndrome nefrótica, glomerulonefrites, pielonefrites e obstrução ureteropélvica por cálculo. • Cólica renal - Obstrução do trato urinário com dilatação súbita da pelve renal ou ureter → ocorre contrações da musculatura lisa destas estruturas. - A dor da cólica renal também pode irradiar para a raiz da coxa do mesmo lado da obstrução. • Dor vesical - Dor originada no corpo da bexiga. Dor suprapúbica. • Estrangúria ou tenesmo vesical - Ocorre na inflamação intensa da bexiga com emissãolenta e dolorosa da urina (estrangúria). Espasmo da musculatura do trígono. • Dor perineal - Infecção aguda da próstata → dor em períneo e região sacral → geralmente associado a disúria. Edema - Pode ocorrer em quatro situações clínicas: • Glomerulonefrite aguda; • Síndrome nefrótica; • Insuficiência renal aguda; • Insuficiência renal crônica. - Pode manifestar-se com edema periorbitário pela manhã (frequente nas glomerulonefrites). - Anasarca ocorre principalmente na síndrome nefrótica e na insuficiência renal aguda. Febre e calafrios - Nas infecções agudas do trato urinário; - Febre alta acompanhada de calafrios, dor lombar ou suprapúbica. - Ocorre em pielonefrites, cistite e prostatite. Exame físico - Inspeção do abdome, dos flancos e dorso com o paciente sentado. - Palpação dos ângulos costovertebrais (entre as costelas e a coluna). - Palpação renal. - Palpação da região suprapúbica e pontos ureterais. - Percussão com a face interna da mão fechada (punho- percussão ou manobra de Giordano) → extremamente dolorosa nos casos de pielonefrite e - Ausculta do abdome para verificação de sopros (estenoses de artérias renais). - Geralmente, os rins não são palpáveis. Contudo, o rim direito, por ser mais ptótico, pode ser palpado em indivíduos muito magros. - É importante realizar a palpação renal, pois o rim aumentado é palpável e, geralmente, é patológico. Pielonefrite ou cálculo renal → punho-percussão extremamente dolorosa. Exame dos ureteres - Palpação dos pontos ureterais. • Superiores D e E: pontos localizados no encontro da linha imaginária horizontal passando sobre a cicatriz umbilical com as bordas laterais dos músculos retos do abdome. • Inferiores D e E: pontos localizados no encontro da linha imaginária horizontal passando sobre as cristas ilíacas anterossuperiores com as bordas laterais dos músculos retos do abdome. Exame da bexiga - A bexiga vazia não é palpável. - Em casos de retenção urinária, pode ser percebida à inspeção, palpação e percussão da região suprapúbica. - Na palpação da bexiga distendida, observa-se uma massa lisa e firme na linha média → globo vesical. Exames complementares • Exame simples de urina - Amostra da primeira urina da manhã. Jato urinário médio após higiene da região uretral. - Análise da cor, turvação e odor da urina. - Teste para: análise da densidade e do pH, pesquisa de proteínas, glicose e cetonas. - Análise microscópica do sedimento urinário (após a centrifugação da amostra). - Densidade urinária: varia entre 1,001 à 1,040. Reflete a concentração urinária de solutos. - pH: varia entre 4,5 a 8,0. pH > 8,0 sugere infecção urinária ou alcalose sistêmica. - Glicosúria: reflete níveis de glicose sérica acima de 180mg/dL. - Cetonas: jejum prolongado, cetoacidose alcoólica e descompensação metabólica do diabetes mellitus. - Nitrito: presença de bactérias gram-negativas com capacidade para metabolizar nitrato em nitrito. - É necessário que a urina fique cerca de 4 horas na bexiga para que ocorra esta transformação. - Exame do sedimento urinário: identificar células, cilindros e bactérias. - Hemácias - Normal: até 2 por campo de grande aumento. - > 2 por campo de grande aumento → hematúria microscópica. - Necessário investigar origem da hematúria → pesquisa de dismorfismo eritrocitário (renal ou extrarrenal). - Hemácias eumórficas → origem extraglomerular. - Hemácias dismórficas → doenças glomerulares (passaram pelos capilares glomerulares e foram deformadas). - Leucócitos - Até 3 por campo. - Podem ter origem em qualquer parte do sistema urinário. - Aumentados em infecções → leucocitúria/piúria – chegando a ser incontáveis. Células epiteliais: oriundas de descamação. Encontradas ocasionalmente em mulheres. Sem significado clínico importante. Bactérias e fungos: contaminação durante a coleta ou infecção do trato urinário. Cristais - Ácido úrico – mais comuns. - Fosfato – se formam em urinas alcalinas. - Estruvita – litíases associadas às infecções urinárias por bactérias produtoras de urease: Klebisiella e Proteus. Cilindros São corpos proteicos que assumem a forma do segmento do néfron em que são formados. - Cilindros hialinos: formados pela precipitação proteica no lúmen tubular. São encontrados em ausência de lesão renal. - Cilindros granulosos: indicam lesão tubular e glomerular, presentes na necrose tubular aguda. - Cilindros céreos: ocorrem na doença renal crônica, necrose tubular aguda, glomerulonefrite aguda. - Cilindros leucocitários: vistos na pielonefrite. - Cilindros hemáticos: indicam glomerulonefrite em atividade. - O exame de urina simples é feito através de tira reagente. A análise (densidade, pH, presença de proteínas, glicose e corpos cetônicos) é feita por meio da tabela de cores. Exame de urina simples (urina I) - EAS Interpretação do exame de exemplo: infecção do trato geniturinário. • Aspecto ligeiramente turvo → urina turva indica infecção / presença de leucócitos. • Presença de nitritos → bactérias. • Contagem de leucócitos aumentada → leucocitose → infecção urinária. • Bactérias abundantes. • Proteinúria - Presença de mais de 150 mg/dia na urina → anormalidade. -Pesquisa de microalbuminúria em diabéticos e hipertensos é marcador precoce de comprometimento renal. - Indicado quando se observa presença persistente de proteína em exames de urina. - Avaliado pela proteinúria na urina de 24 horas. - A proteinúria decorre de três principais mecanismos: 1. Glomerular: por aumento patológico da permeabilidade glomerular e ocorre filtração de macromoléculas como albumina (geralmente não filtráveis). Causa mais comum de proteinúria → glomerulonefrites e síndrome nefrótica. 2. Tubular: incapacidade de o túbulo proximal reabsorver proteínas que geralmente são filtradas. - Síndrome de Fanconi 3. Hiperproteinemia: doenças que produzem proteínas de baixo peso molecular em excesso. Ocorre filtração pelos glomérulos e eliminação na urina. Exemplo: imunoglobulinas de cadeias leves → mieloma múltiplo. Proteína de Bence Jones Precipita quando a urina é aquecida em uma proveta em temperatura entre 45º e 60ºC para depois se redissolver à temperatura de fervura da urina. Presente no mieloma múltiplo. • Provas de função renal - Dosagem de creatinina e ureia: Creatinina: sua fonte de produção é constante e oriunda do tecido muscular. É livremente filtrada pelo glomérulo e secretada pelo tubo proximal. - Nível sérico normal: entre 0,6 e 1,2 mg/dL. Quanto maior o nível de creatinina sérica, menor a filtração glomerular. - Clearance de creatinina: estipulado pela equação de Cocrokft e Gault. Demonstra o ritmo de filtração glomerular, ou seja, o quanto de creatinina é depurada por ml/kg. Clearance de creatinina = (140-idade) x peso (Kg)/ creatinina x 72 Mulher: resultado x 0,85 (subtrair 15% do valor encontrado, devido a menor massa muscular em relação aos homens). Ureia: a concentração de ureia depende de sua produção pelo organismo, da ingesta de proteínas, do índice de filtração glomerular e do estado de hidratação do paciente. Ureia aumentada → menor filtração glomerular. - Formada no fígado, eleva-se com a ingesta proteica ou com o aumento do catabolismo proteico (febre, estado séptico) e com a presença de sangramento no trato digestivo → nestas situaçõesa ureia sanguínea eleva-se independente da filtração glomerular. - Ocorre diminuição da ureia quando há redução do catabolismo proteico → desnutrição, alcoolismo. • Exame bacteriológico de urina; - Compreende a microscopia direta e a cultura. - A urina deverá ser examinada ou preparada para cultura em tempo inferior à 30 minutos. - A análise do sedimento urinário com bactérias e mais de 10 leucócitos por campo indica infecção urinária. Cultura: - Inoculação da urina em meio próprio. - Número maior ou igual a 100.000 colônias/mL → infecção. - Discos contendo antibiótico → quanto maior o alo, maior a sensibilidade da bactéria ao antibiótico. • Ultrassonografia - Recurso não invasivo para avaliação renal, vesical (bexiga) e prostática. - Identificação de obstrução, diagnóstico diferencial de lesões sólidas e císticas, avaliação de insuficiência renal aguda e crônica e guia para procedimentos invasivos, como a biópsia. Ex.: rim diminuído → sugere lesão crônica. A. Rim normal; B. Rim diminuído de tamanho e com parênquima afilado; C. Dilatação do sistema coletor urinário → cálices e pelve renal bem dilatados. Ocorre quando há obstrução na pelve renal, no ureter ou mesmo na bexiga. • Exame radiológico; - Radiografia convencional: método de baixa acurácia, porém disponível no atendimento de emergência. É muito utilizada para a pesquisa de cálculo renal. - Na radiografia acima: cálculos no rim esquerdo e no interior da bexiga. - Nem todos os cálculos aparecem na radiografia, a exemplo dos cálculos de cristais de ácido úrico (aparecem na US). Os cálculos radiopacos são compostos de oxalato de cálcio. • Urografia excretora - Foi por muitas décadas a principal modalidade de imagem para a investigação do trato urinário. - O exame baseia-se na capacidade renal de filtrar e concentrar substâncias radiopacas (contraste iodado) → verifica-se obstruções e a anatomia renal. • Tomografia computadorizada - Com o advento da TC computadorizada, a urografia excretora deixou de ser padrão-ouro para a análise da anatomia renal. - Padrão-ouro para a investigação de litíase urinária (TC sem contraste). - TC com contraste iodado é o método de escolha para a avaliação da maioria das lesões focais renais. - Imagem acima: ureter direito dilatado e um cálculo impactado na transição do ureter para a bexiga. • Ressonância magnética - Melhor definição de unidades pielocalicinais e ureteres. - Informações sobre tumores, estenoses e obstruções. • Cintigrafia renal - Radiomarcador é injetado por via endovenosa e é captado pelas células renais. - A principal indicação é para detectar anormalidades corticais relacionadas à infecção renal → sensível tanto na pielonefrite aguda quanto na crônica. Avaliação de sequelas corticais. - Para detectar rins ectópicos e exclusão funcional de rins multicísticos. - Cistocintigrafia: avaliação de refluxovesicoureteral. • Biopsia renal • Endoscopia - Citoscópio e ureteroscópio. - Visualização interna da uretra, da bexiga e porções iniciais dos ureteres. - Identificação de neoplasias, cálculos, realização de biópsias e extração de cálculos. - Realização de pielografia ascendente – injeção de contraste. - Confirmar refluxo vesicoureteral, ou seja, o refluxo de urina do interior da bexiga de volta para o ureter → causa importante de infecção do TU. - Na imagem acima: divertículo (invaginação da parede da bexiga) e lesão vegetante na parede da bexiga (neoplasia). • Angiografia. Síndrome nefrítica Edema + HAS + hematúria (tríade clássica) - Processo inflamatório do capilar glomerular → comprometimento da filtração glomerular, retenção de líquido e formação de edema, perda de hemácias e proteínas na urina → insuficiência renal de grau variável. - Quadro clínico: disfunção renal de início abrupto, por graus variáveis de: • Hematúria; • Cilindros hemáticos; • Edema; • Hipertensão arterial; • Oligúria; • Proteinúria subnefrótica. Causas - Infecções bacterianas (estreptococcias, endocardite bacteriana). - Deposição de imunocomplexos nos capilares glomerulares (lúpus eritematoso sistêmico). - Anticorpos circulantes que lesam a membrana basal glomerular (síndrome de Goodpasture) → anticorpos anti membrana basal glomerular → geram processo inflamatório no capilar → comprometimento da filtração glomerular. Caso clínico FSS, 4 anos, feminina, branca, natural e residente de Xonim de Baixo. - Criança apresentou quadro de piodermite há cerca de 3 semanas. Há 2 dias está apresentando edema generalizado progressivo e urina escura. - Foi atendida na emergência de um serviço de saúde, sendo detectado PA=150 x 100 mmHg e observado edema de face e MMII. - Exame físico: demais aparelhos e sistemas sem alterações. - Exames laboratoriais: Exame de urina: proteinúria +, numerosas hemácias e leucócitos. ASLO: 300 ui Todd (pesquisa de anticorpos contra Estreptococos beta-hemolíticos do grupo A de Lancefield). - Referência: > 250 ui Todd. Creatinina: 0,5 mg/dL (função renal preservada). Suspeita: histórico de piodermite → síndrome nefrítica por estreptococcia (edema + HAS + hematúria). - Glomerulonefrite aguda pós-estreptocócica → é uma causa de síndrome nefrítica. - As manifestações clínicas dessa glomerulopatia costumam ter início súbito, com aparecimento de hematúria macroscópica e edema cerca de 1 a 3 semanas após uma infecção estreptocócica da garganta ou de pele. - É mais comum em crianças de 2 a 6 anos, mas pode ocorrer em pessoas de -qualquer idade. - A patogênese da glomerulonefrite aguda pós- estreptocócica é representada por uma reação inflamatória dos glomérulos renais em resposta à infecção por cepas nefritogênicas de estreptococos beta-hemolíticos do grupo A de Lancefield. - O período de latência entre a infecção e o aparecimento das lesões corresponde ao tempo de formação e posterior deposição dos imunocomplexos nos glomérulos. - Em 80% dos pacientes, é possível caracterizar a resposta imunitária do organismo à infecção estreptocócica, pela determinação do título de antiestreptolisina O (ASLO). • Enzima produzida pelo estreptococo beta- hemolítico. Quando positiva, indica uma infecção recente por este microrganismo. Doenças dos rins e vias urinárias Investigação laboratorial • Exame de urina: - Hematúria (dismórfica) – a hemácia perdida pela urina passa pelo capilar glomerular, sendo deformada. Normalmente as hemácias não passam nos capilares glomerulares, mas o processo inflamatório culmina no aumento da permeabilidade desses capilares. - Proteinúria – também devido ao aumento da permeabilidade dos capilares. - Leucocitúria - Cilindros hemáticos - Ureia e creatinina – a depender da gravidade do quadro. - ASLO Quadro Clínico - Edema - Hipertensão arterial - Hematúria - Oligúria: insuficiência renal (nos casos mais graves). - Congestão circulatória: ICC - Antecedente estreptocócico Tratamento - Dieta hipossódica - Restrição hídrica: em razão do menor funcionamento renal. - Diuréticos: furosemida (escolha). - Anti-hipertensivos - Penicilina Benzatina – casa ainda haja foco infeccioso. SíndromeNefrótica Consiste na associação das seguintes manifestações: - Proteinúria: superior a 3,5 g/24 h → - Hipoalbuminemia: albumina sérica inferior a 3,5 g/dL → edema (por descontrole da pressão oncótica). - Alterações da permeabilidade da membrana basal glomerular são responsáveis pela perda de proteínas na urina, fator determinante das manifestações clínicas da síndrome nefrótica. - Na síndrome nefrótica o comprometimento da permeabilidade glomerular é muito maior do que o comprometimento inflamatório que ocorre na síndrome nefrítica. Portanto, na síndrome nefrótica há uma perda muito grande de proteínas pela urina que não acontece na síndrome nefrítica. - Na tentativa de equilibrar a pressão oncótica, o organismo lança mão de alguns mecanismos compensatórios, como a hiperlipidemia. - Quando a proteinúria é superior a 3,5 g/24h, a excreção urinária de albumina ultrapassa a capacidade do fígado de sintetizar essa proteína, ocasionando hipoalbuminemia. - A diminuição dos níveis plasmáticos de proteínas ocasiona também redução das substâncias transportadas ligadas à albumina. - Desse modo, os níveis de tiroxina, vitamina D, transferrina e antitrombina III podem estar baixos, causando distúrbios metabólicos como: • Hipotireoidismo; • Hiperparatireoidismo; • Anemia; • Hipercoagulabilidade. Caso clínico - RVS, 5 anos, masculino, negro, natural e procedente de Xonim de Cima. - Criança apresentou edema de face há 7 dias, que progrediu para MMII e anasarca. Refere urina escura e com volume diminuído. - Foi atendida na emergência de um serviço de saúde, sendo observada anasarca, PA = 90 x 40 mmHg (não há hipertensão). Exames laboratoriais: - Sumário de urina: proteinúria +++/4+, cilindros hialinos. - Ureia: 60 mg/dl – função renal preservada. - Creatinina: 0,5 mg/dl - função renal preservada. - Proteína total / albumina - 4,5 / 1,5 g% - Colesterol total - 335 mg/dL (até 200 mg/dL). - Triglicerídios - 240 mg/dL (até 150 mg/dL). - Protenúria 24 horas: 3,850mg/24 horas (até 3,5 mg). - Aguardando procedimento de biopsia renal → para identificar a etiologia da síndrome nefrótica. Lembrar: “A síndrome nefrótica é o conjunto de sinais e sintomas secundários ao aumento da permeabilidade renal à filtração de proteínas”. Etiologia da síndrome nefrótica Causas primárias – relacionadas ao funcionamento dos glomérulos renais. A etiologia não é bem esclarecida. • Lesão Mínima • Glomeruloesclerose segmentar e focal • GN proliferativa mesangial • GN membrano proliferativa • GN membranosa • Esclerose mesangial difusa Insuficiência Renal Aguda - A insuficiência renal aguda (IRA) ou lesão renal aguda (LRA) é uma síndrome que se define: • Rápido declínio da taxa de filtração glomerular (FG); • Acúmulo no sangue de produtos do metabolismo nitrogenado, como a ureia e a creatinina; • Incapacidade de manter o equilíbrio hidroeletrolítico e acidobásico; • Acompanhada ou não de redução da diurese. - As síndromes nefrítica e nefrótica são causas de insuficiência renal aguda. Mecanismos de insuficiência renal • IRA pré - renal - É a etiologia mais comum de lesão renal aguda - LRA (55 a 60%); - Não há defeito estrutural nos rins → a insuficiência é causada pela diminuição do fluxo sanguíneo que chega aos rins, de modo que eles não têm o que filtrar. - A filtração glomerular é rapidamente restabelecida após correção da perfusão renal. História clínica: - Vômito intenso → desidratação, hipotensão; - Diarreia intensa → desidratação, hipovolemia; - Hemorragia, como nos politraumas; - Sepse e/ou diminuição da ingestão oral; Resultado: hipovolemia associada à oligúria; Achados do exame físico: em razão da hipovolemia - Taquicardia, membranas mucosas secas, olhos encovados, alterações da pressão arterial ortostática e diminuição do turgor da pele. Rim não tem o que filtrar → redução do débito urinário, retenção de escórias nitrogenadas etc. • IRA renal: - Incluem-se todas as manifestações de lesões recentes ao parênquima renal (glomérulo, túbulo, interstício ou vasos). - A LRA mais frequente é a necrose tubular aguda (NTA). - A NTA, pode ser desencadeada por isquemia (igual a LRA pré - renal) ou nefrotoxinas (meios de contraste, antibióticos, ciclosporina, quimioterápicos, paracetamol, rabdomiólise intensa). - Difere da LRA pré - renal por não reversão imediata após a remoção da causa inicial, já que houve agressão direta do tecido renal. • IRA pós-renal - Obstrução no trato urinário: cálculo, coágulo, tumor, aumento importante da próstata, por exemplo. - Somente a remoção da causa obstrutiva possibilita o restabelecimento da função do órgão. - Como o paciente tem uma obstrução depois do rim, como no ureter ou na uretra, vai cursar com: - Anúria; - Dor suprapúbica ou em flanco (a depender do local da obstrução); - Polaciúria; - Hesitação urinária na obstrução prostática. - A palpação e a percussão suprapúbica podem revelar bexiga distendida e dolorosa se o sítio de obstrução for o óstio uretral. - À palpação abdominal, é possível identificar aumento dos rins devido a hidronefrose → a urina não consegue escoar, se acumulando na bexiga e acarretando distensão de todo o sistema coletor. - O diagnóstico da obstrução é, em geral, feito pela ultrassonografia, com sensibilidade e especificidade de 98% e 78%, respectivamente. - Apresenta a menor prevalência dentre os 3 tipos de LRA (< 5%). - Para que uma obstrução resulte em LRA, é necessária a ocorrência de obstrução com repercussão renal bilateral, ou unilateral com rim único. - A obstrução de colo vesical é a causa mais comum, em geral decorrente de doenças prostáticas e bexiga neurogênica. Caso clínico 1 - A.C.M., 4 anos, natural e procedente de Alpercata. - QP: febre há 5 dias. - Criança iniciou quadro de diarreia há 6 dias, associado a vômitos esporádicos. Há 5 dias associou-se quadro de febre de 38 - 39° C, taquidispneia e sonolência. Mãe procurou assistência na Unidade Básica de origem que encaminhou ao Hospital Municipal. - Deu entrada no HMGV com desidratação grave, respiração acidótica, extremamente sonolenta. - Feito hidratação venosa vigorosa. - Colhidos exames laboratoriais com gasometria arterial (pH 6,9; bicarbonato 9) → acidose metabólica. - Iniciada a antibioticoterapia com Ceftriaxon (tratamento da infecção intestinal) e a correção da acidose metabólica. - Indicado UTI: criança em estado grave. Resultado dos exames laboratoriais - Leucócitos aumentados → diarreia bacteriana. 15.900 (72 segmentados, 07 bastonetes, 17 linf, 02 meta) - Ureia: 117 (até 50). - Creatinina: 5.1 (0,6 até 1,2). Urina I: - Densidade: 1.030 – urina bem concentrada, traduzindo quadro de desidratação, no qual o organismo tenta poupar líquidos. - Cor escura – relacionada ao aumento de soluto. - Cilindros: ausentes - Leucócitos: ausentes - Hemácias: ausentes - Flora bacteriana: normal Após a hidratação venosa vigorosa e a antibioticoterapia a criança evoluiu bem, com reestabelecimento da volemia → os rins voltaram a ser perfundidos adequadamente → função renal reestabelecida → insuficiência renal aguda de causa pré - renal. Após 24h → melhora completa da função renal. Caso clínico 2 - A. M. S., 73 anos, natural e procedente de São Vitor. - QP: Dificuldade de urinar. - HMA: Paciente refere que há 3 semanas começou com hesitação e jato urinário fino. Relataurina clara e com odor característico. - APP: hipertenso controlado em uso irregular de Hidroclorotiazida. - Relata acompanhamento com urologista devido crescimento da próstata, mas não realiza consulta há 1 ano. Exame físico: - Bem, corado, hidratado, acianótico, afebril, eupneico, bastante irritado e durante o exame pediu várias vezes para urinar. Jato diminuído, diurese em gotas, de cor clara. - Aparelho respiratório: sem alterações. - Aparelho cardiovascular: sem alterações. - Abdome: flácido, plano, doloroso em hipogástrio, presença de massa palpável em região supra púbica em linha média, cerca de 3 cm abaixo da cicatriz umbilical (globo vesical). Exames complementares: - Ureia: 120 - prejuízo da filtração renal. - Creatinina: 2,5 - prejuízo da filtração renal. - Urina I: sem alterações - Realizada sondagem vesical de alívio com esvaziamento da bexiga e desaparecimento da massa em região suprapúbica. - Paciente encaminhado ao exame de ultrassonografia que confirmou aumento prostático. - Realizado cateterismo vesical de demora → paciente apresentou novamente retenção urinária. - Aguardando avaliação pelo urologista. - Melhora da função renal nos exames subsequentes. Paciente com obstrução da uretra por aumento da próstata → prejuízo no escoamento da urina → diminuição do débito urinário → urina retida em bexiga, ureter e até nos rins → rim deixa de filtrar o sangue, já que o gradiente de pressão se iguala, ou seja, a pressão exercida pelo sangue ao entrar no capilar glomerular e a pressão de saída do filtrado se igualam → diurese e função renal reestabelecidas após a sondagem → insuficiência renal aguda de causa pós - renal. Caso Clínico 3 - Paciente feminina, 60 anos, picada por animal peçonhento desconhecido, procurou atendimento médico apenas 24h após acidente → vômitos, dor; edema discreto no local da picada. - Realizado apenas tratamento sintomático e hidratação endovenosa. - Paciente com diagnóstico prévio de hipertensão e diabetes controlado. - Aproximadamente 40h após, o médico assistente faz contato com Centro de Informação Toxicológica que, de acordo com história, levantou a hipótese de acidente botrópico, orientando avaliação dos exames da coagulação e função renal. - Resultados do TP e TTPA incoaguláveis, plaquetas 5.000/mm3 e creatinina de 4,39 mg/dL. - Paciente transferida para o hospital de referência para receber tratamento específico com soro antiveneno. - Chegou ao hospital com hematúria. - Presença de cilindros granulosos e dor moderada no local da picada. - Recebeu 8 ampolas de soro antibotrópico (SAB) cerca de 50h após a picada. - Os exames de 12h após o SAB apresentavam uma recuperação da coagulação, mas uma piora da função renal, TAP 54%, plaquetas 40.000/mm3, creatinina 6,3mg/dL. - Exames de 24h: TAP 84,46%, plaquetas 32.000/mm3 e creatinina 6,9 mg/dL. - Somente 72h após o SAB, com piora progressiva da função renal (creatinina 8,5mg/dL), foi iniciada a hemodiálise. - Realizadas 7 sessões de hemodiálise durante a internação, evoluindo com melhora clínica e laboratorial. Recebeu alta após 26 dias com creatinina de 1,8 mg/dL e acompanhamento ambulatorial. - Veneno nefrotóxico → lesão glomerular → insuficiência renal aguda → hemodiálise → causa renal. Curiosidade! - Acidente botrópico. - Possuem cauda lisa, não tem chocalho e as suas cores variam muito, dependendo da espécie e da região onde vivem. - São popularmente conhecidas como jararaca, ouricana, jararacuçu, urutu-cruzeira, jararaca do rabo branco, malha de sapo, patrona, surucucurana, combóia e caiçaca. - Sua peçonha possui importantes atividades fisiopatológicas, com lesões locais e destruição tecidual (ação proteolítica). Ativa a cascata da coagulação, podendo induzir incoagulabilidade sanguínea por consumo de fibrinogênio (ação coagulante), promove liberação de substâncias hipotensoras e provoca lesões na membrana basal dos capilares por ação das hemorragias (ação hemorrágica), que associada à plaquetopenia e alterações da coagulação, promovem as manifestações hemorrágicas, frequentes neste tipo de acidente. Doença Renal Crônica - Doença renal crônica (DRC) é definida como: 1. Lesão do parênquima renal - evidenciada por anormalidades histopatológicas ou por marcadores de lesão renal. 2. FG menor que 60 mL/min, por um período igual ou superior a 3 meses. Fórmula de Cockcroft-Gault: Depuração de creatinina = 140 - idade (anos) x peso (Kg) / 72 x creatinina (x 0,85 se mulher) - Pacientes com IRC (FG menor que 15 mL/min) necessitarão de diálise ou de transplante renal para sobreviver. - IRC tende a evoluir durante anos, e mesmo décadas, até chegar ao estágio terminal da função renal. - As causas mais frequentes são: • Diabetes melito (nefropatia diabética); • Hipertensão arterial (nefroesclerose); • Glomerulonefrite crônica; • Doença cística dos rins; • Uropatia obstrutiva. - A síndrome urêmica é a manifestação clínica de falência renal grave e resulta na retenção de substâncias tóxicas (toxinas urêmicas) que afetam o funcionamento das células, envolvendo os sistemas cardiovascular gastrintestinal, hematopoiético, imune, nervoso e endócrino. Quando a filtração glomerular atinge os estágios 4 ou 5 e as escórias nitrogenadas estão muito acumuladas no sangue, há um prejuízo do funcionamento das células → colapso cardiovascular, sintomas gastrintestinais, anemia, irritabilidade → síndrome urêmica. • Estágios 1 e 2: os pacientes são assintomáticos e ureia e creatinina são normais. Há lesão renal sem comprometimento grave da sua função, sendo observado, principalmente, a redução da taxa de filtração glomerular. • Estágio 3 (3A e 3B): os pacientes costumam ser assintomáticos, mas já é possível observar elevação de ureia e creatinina, aparecimento de anemia e alterações do cálcio, fósforo e paratormônio, além de hipertensão arterial. - O rim é responsável pela produção de EPO → deficiência de EPO causa anemia. - A vitamina D é sintetizada pelos rins → alteração do metabolismo de cálcio e fósforo. - Desequilíbrio do sistema renina-angiotensina- aldosterona → hipertensão arterial. • Estágio 4: os sinais e sintomas são mais evidentes com anemia mais grave, acidose metabólica, hipocalcemia, hiperfosfatemia e hiperpotassemia. • Estágio 5 (fase final): FG < 15 ml/min, os pacientes estão sintomáticos, com sinais e sintomas evidentes de síndrome urêmica. Sintomas: • Fraqueza, adinamia e fadiga fácil; • Queixas de prurido, edema e pele seca; • Anorexia, náuseas e vômitos, soluços; • Sangramento digestivo; • Dispneia progressiva, por retenção hídrica e edema pulmonar; • Dor retroesternal pode estar presente devido à pericardite – o paciente também pode cursar com edema pericárdico; • Noctúria; • Dor, dormência e cãibras nas pernas; • Impotência e perda da libido; • Irritabilidade fácil, dificuldade de concentração, distúrbio do sono, em especial a inversão do ciclo sono-despertar; • Pernas inquietas; Sinais: - Podem ocorrer alterações ungueais do tipo unha meio a meio (ou unhas de Lindsay) → o leito ungueal distal apresenta tonalidade vermelho-rósea à castanha por hiperpigmentação melânica. - A neve urêmica, uma das mais raras apresentações descritas na uremia, apresenta-se como um depósito branco na superfície cutânea, secundário à deposição de cristais de ureia excretada pelo suor, podendo ocorrer também em fases avançadas. - - Hálito com odor de urina. - Xerodermia.Infecção Urinária - A infecção do trato urinário é de ocorrência muito comum na prática diária. - Elevada incidência em mulheres de todas as idades e, no homem, nos extremos da vida. - A infecção pode apresentar-se de diversas maneiras, localizações e modos de evolução. - O termo pielonefrite aguda indica infecção bacteriana do trato urinário alto (rins e pelve renal), ocasionando síndrome clínica caracterizada por: • Febre alta de aparecimento súbito; • Calafrios; • Dor no flanco. - As infecções do trato urinário baixo (cistite, uretrite, prostatite) caracterizam-se por disúria, polaciúria e urgência. - Cistite e pielonefrite aguda podem ocorrer conjuntamente. Há duas formas de infecção do trato urinário alto: - Chegada da bactéria nos rins pela via hematogênica. - Ascenção da bactéria pela uretra, bexiga, ou ureteres, por exemplo, até os rins → mais comum em mulheres, devido a uretra menor. - Recidiva: recorrência de bacteriúria ocasionada pelo mesmo microrganismo, a despeito do tratamento, nas 3 semanas após o tratamento. - Reinfecção: ocorre após a cura aparente, mas com cepas diferentes. - No sexo feminino, a pielonefrite é comum na primeira infância ou no início da fase de atividade sexual, porque a uretra, sendo mais curta e sujeita a traumas, toma-se mais vulnerável à infecções. - O germe mais frequentemente encontrado é a Escherichia coli, presente em 75% dos casos. - A pielonefrite caracteriza-se pelo aparecimento súbito de febre (39 a 40°C), calafrios, náuseas e vômitos. Além disso, o paciente pode evoluir com prostração, taquicardia e hipotensão arterial. Logo, o paciente pode ter uma sepse de origem urinária. - Dentre os dados laboratoriais, destaca-se, ao exame de urina, a presença de piócitos, cilindros leucocitários e bactérias. - Cistite e uretrite: infecção urinária restrita à bexiga e/ou uretra. - Caracterizada por polaciúria, disúria, urgência e piúria. A cistite provoca desconforto e sensação dolorosa na região suprapúbica. - A irritação da parede vesical causa contração espasmódica da bexiga, fazendo com que o paciente apresente desejo intendo de urinar acompanhado de dor mesmo quando o órgão está vazio ou imediatamente após a micção (estrangúria). - A urina pode apresentar-se turva e com odor desagradável. Piócitos, hemácias, células epiteliais e bactérias são encontrados no exame do sedimento urinário. - Na uretrite aguda, observa-se queimor intenso ou dor durante a micção. - Observa-se, também, corrimento uretral purulento entre as micções. • Na mulher, é complicado diferenciar cistite de uretrite devido a uretra ser curta → uretrite e cistite são quase que concomitantes. • No homem, a uretra é mais longa. Sendo assim, na uretrite, a queixa é mais voltada para a uretra (queimor intenso, dor, disúria e corrimento ureteral purulento entre as micções → pode ser causada por DST’s como clamídia, gonorreia, por exemplo. Prostatite - Caracteriza-se por dor na região sacra e perineal, acompanhada de desconforto retal e testicular. - No exame de urina há presença de piúria e hematúria. - A prostatite bacteriana aguda produz manifestações sistêmicas de bacteremia com febre alta e calafrios, acompanhando-se de disúria e polaciúria. - O toque retal acompanha-se de dor intensa, devido ao aumento de volume da próstata, o que toma a cápsula tensa. Caso Clínico - Jovem, 16 anos, acompanhada pelo pai, deu entrada no ambulatório para consulta médica. - Refere intenso ardor ao urinar, sensação de urgência e aumento da frequência urinária, que interfere no padrão de sono. Nega dor lombar, comorbidades e tratamento medicamentoso. História - Relata hábito de retardar a micção quando está ocupada. - Estima ingestão hídrica inferior a 800 ml/dia. Exame físico - Abdominal: plano, flácido e doloroso na região suprapúbica - Ruídos hidroaéreos (RHA) presentes. - PA = 110 x 70mmHg - FC = 102 bpm - FR = 20 irpm - T º= 36,8º C (sem febre). - Demonstra irritabilidade e inquietação. Hipótese diagnóstica - Infecção do trato urinário baixo: cistite Exames - Urinálise: leucocitúria - Urocultura: Escherichia Coli Analisando - A infecção de trato urinário é o termo utilizado para descrever colonização por agentes infecciosos, com invasão tecidual, em qualquer parte do trato urinário. A cistite bacteriana é a síndrome clínica caracterizada por resposta inflamatória do urotélio vesical à invasão bacteriana. - Em cerca de 80% dos casos de ITU, o agente etiológico encontrado é a Escherichia Coli. - A incidência é maior em mulheres, uma vez que a uretra (via de acesso comum para a entrada de micro- organismos na bexiga) tem trajeto relativamente curto e reto. - Bactérias provenientes da flora intestinal e da área genital colonizam a região periuretral, ascendem pela uretra e alcançam a bexiga, onde podem proliferar e invadir o tecido vesical. Sinais e sintomas - Disúria – dor e ardor à micção. - Polaciúria – micção frequente. - Urgência urinária – vontade imperiosa de urinar - Dor suprapúbica - Odor forte na urina Litíase urinária - Chama-se de litíase urinária a formação de concreções calculosas nos rins e vias urinárias. - Em cerca de 70 a 80% dos casos, são formadas por sais de cálcio (oxalato, fosfato), e os 10%, por ácido úrico e outros sais; - A tomografia computadorizada helicoidal sem contraste é o exame de escolha por apresentar alta sensibilidade e especificidade para o diagnóstico de litíase urinária. • O cálculo renal, a cólica renal e a dor em flanco pode irradiar para a região anterior do abdome, bolsa escrotal, raiz da coxa ou grande lábio do mesmo lado. • No exame de urina, além dos cristais de oxalato de cálcio ou fosfato de cálcio, por exemplo, pode aparecer hematúria, provocada pelo deslocamento dos cálculos pelo rim, pelve renal e ureter. • Não há bactérias, cilindros ou leucócitos. Uropatia obstrutiva - O impedimento ao livre fluxo da urina causa alterações dos rins e vias urinárias. - Geralmente, a origem da obstrução é mecânica, podendo ocorrer em qualquer segmento do trato urinário. - Mais frequentemente, é ocasionada por afecções do próprio trato urinário, como litíase, neoplasias, cicatrização de infecções e anomalias congênitas; - Podem decorrer também de causas extrínsecas como neoplasias e fibroses (intra ou retroperitoneal). - Pode ser consequência de distúrbios funcionais, como é o caso da bexiga neurogênica, observada em traumas com lesões neurológicas, e de diabetes melito. - Os efeitos da obstrução do fluxo urinário sobre a função renal decorrem do aumento da pressão hidrostática que é transmitida à pelve renal e aos túbulos, provocando dilatação e achatamento da papila renal. - A elevação da pressão intratubular, sem correspondente aumento da pressão intraglomerular, resulta na redução do índice de filtração glomerular com elevação dos níveis de ureia, creatinina e ácido úrico. - A doença obstrutiva pode ser causa de insuficiência renal aguda ou crônica. - A desobstrução das vias urinárias é muito importante para recuperação da função renal. - Quando a lesão está acima da bexiga, geralmente é unilateral, produzindo hidroureter (dilatação limitada ao ureter), ou hidronefrose (quando a dilatação chega aos cálices renais). - Se a obstrução estiver localizada no colo vesical ou na uretra, a dilatação é bilateral. - A dor é um sintoma comum devido à distensão da cápsula e dos cálices renais. - A obstrução ureteral aguda determina dor tipo "cólicarenal'. Quando a obstrução é crônica, causando hidronefrose, o paciente relata dor contínua ou peso no flanco. Tuberculose renal - A tuberculose renal é o 3° tipo mais frequente de tuberculose extrapulmonar. - Deve ser considerada em todos os casos de piúria sem bacteriúria e em casos de ITU não responsiva ao tratamento. - A tuberculose renal é sempre secundária à tuberculose pulmonar, na qual o bacilo alcança o rim a partir do pulmão pela via hematogênica. - A lesão inicial é glomerular com glomerulite assintomática; a porção medular é afetada, provocando inflamação granulomatosa, necrose caseosa, formando, às vezes, grandes cavidades caseosas. - Os principais sintomas são disúria (34%), hematúria (27%), dor no flanco (lO%) e piúria (5%). É assintomática em 1/5 dos casos. Doença Renal Policística - Os cistos renais simples são lesões renais benignas, ocorrendo em aproximadamente 25% da população → não há com o que se preocupar! - No adulto, a doença renal policística autossômica dominante → histórico familiar. • Múltiplos cistos nos rins, invadindo o parênquima e causando compressão dos glomérulos → prejuízo à filtração glomerular. - Constitui uma anormalidade da estrutura tecidual renal, que pode associar-se a outras anormalidades congênitas, como fígado policístico. - Néfrons são comprimidos pelos cistos, ocorre deterioração da função renal, e as manifestações de insuficiência renal crônica passam a dominar o quadro clínico. - O diagnóstico é feito por ultrassonografia e TC.
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