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Trabalho_Produção_Normativa_e_processo_legislativo_Lucas_Jose_Oliveira

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Especialização em Poder Legislativo e Políticas Públicas (Turma 2019/20) 
Disciplina: Produção Normativa e processo legislativo 
Aluno: Lucas José Oliveira 
 
A comunicação de políticas públicas e o discurso técnico das normas 
 
A garantia de um Estado Democrático de Direito está fortemente relacionada ao 
conhecimento das leis pelos cidadãos para que seus direitos fundamentais sejam amplamente 
reconhecidos. Nesse sentido, o princípio da publicidade inscrito na Constituição Federal de 1988 
promove mecanismos de divulgação do arcabouço normativo que não raro está repleto de termos 
e expressões técnicas cuja compreensão pelo indivíduo leigo não é tarefa simples. 
A sociedade trava contato com decisões que interferem na sua vida através de publicações 
oficiais em canais da imprensa oficial, sítios institucionais ou em audiências públicas, consultas 
populares, espaços onde as instituições públicas exprimem os motivos dos seus atos e anunciam 
suas ações ainda que por meio de textos pouco claros como frequentemente pode ser observado 
nas leis e decretos. Assim, a sociedade poderia discutir e contestar as instituições de maneira 
autônoma. 
Porém, a importância das normas no controle social fundada em um passado de 
predomínio de uma elite com formação jurídica ocupando cargos nos vários níveis de governo 
promoveu a criação de um poder peculiar advindo da inacessibilidade de uma linguagem própria 
dos operadores da burocracia estatal, com discurso erudito e vocabulário rebuscado, prática que 
permanece em larga medida na atualidade. De fato, a linguagem empregada na confecção dos 
atos normativos é insensível aos cidadãos iletrados cujas vidas serão afetadas por essa escrita 
difícil que expressa direitos fundamentais para garantir a própria democracia, e que precisam ser 
tornados públicos e de amplo conhecimento. 
Mais do que a comunicação normativa, que expõe ao público a forma que a regulação vai 
ocorrer em uma determinada relação social ou jurídica através de documentos contendo os 
registros dos atos oficiais de maneira cognoscível, a comunicação pública, considerada aquela 
destinada à coletividade, tem a finalidade de promover um espaço para o cidadão de acesso às 
informações sobre políticas públicas promovendo a transparência das atividades do Estado 
devendo a Administração Pública não se limitar à mera publicação, mas é preciso também 
explicar, motivar e fornecer instruções para seu efetivo emprego. 
Aí repousam os ponto nevrálgicos, pois a linguagem empregada nessa divulgação precisa 
ser compreensível e a escrita dos dispositivos legais deve ser adequada para tanto. Mas com o 
predomínio de termos técnicos e vocabulário restrito às equipes especializadas, o cidadão comum 
é afastado do entendimento das normas. Como uma busca de legitimidade e ao mesmo tempo de 
afastamento, a aura de importância do ordenamento jurídico-normativo se estende aos seus 
profissionais dando status de especiais aos burocratas, pois o discurso informativo representa 
uma relação de poder de quem possui a informação sobre aqueles que dependem dela. 
Também boa parte dos documentos da administração são escritos com o objetivo de fazer 
frente a exigências internas ou dos órgãos de controle (Controladorias, Assembleias Legislativas, 
Tribunais de Contas, etc) e se referenciam na própria prática viciada de papéis antigos que 
arrastam uma linguagem anacrônica de outrora. E como consequência da sofisticação da 
linguagem, a falta de clareza das normas dificulta a sua aplicação ao caso concreto afastando a 
própria realidade que se pretendia regulamentar, pois não é atingida por essa deficiência de 
entendimento. 
Nesse sentido, com uma profusão de letras e códigos, o orçamento público é capaz de ser 
classificado quase como uma linguagem a ser traduzida para o português tamanha a sua aridez, 
que inibe a cidadania ativa na análise das peças orçamentárias. Não obstante o "orçamentês", 
neste ano de 2020 a Assembleia Legislativa de Minas Gerais promove como habitualmente faz 
todos os anos a discussão participativa do Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG) 
2020-2023. Contudo, as reuniões dos grupos de trabalho compostos por diversas entidades da 
sociedade civil serão virtuais neste ano e haverá canais online para registrar a participação na 
consulta pública. Mesmo não havendo condições de participações presenciais nesse processo 
devido à pandemia de COVID-19, busca-se garantir a pluralidade desse processo pelos meios de 
tecnologia da informação e comunicação (TIC). 
Vale destacar nessa a importante atividade o papel da Lei de Responsabilidade Fiscal, que 
dispõe sobre princípios de transparência, controle e fiscalização das finanças públicas através de 
instrumentos de gestão fiscal incentivando a participação popular. E também da própria a 
Constituição Federal de 1988 que confere ao plano plurianual (PPA) o instrumento de 
planejamento da ação governamental e de condução da política orçamentária. Para tanto, o PPA 
deve estabelecer, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas para as despesas de 
capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada. 
Daí também a Constituição do Estado de Minas Gerais define o Plano Plurianual de Ação 
Governamental (PPAG) como o principal instrumento da administração pública estadual que 
normatiza o planejamento de médio prazo sendo referência para a formulação dos programas 
governamentais, orientando precipuamente as proposições de diretrizes orçamentárias (LDO) e 
das leis orçamentárias anuais (LOA), que estima receitas e fixa as despesas para um determinado 
exercício financeiro. 
O PPAG define qual será o escopo de atuação do estado definindo os programas e ações 
de governo, com suas respectivas metas físicas e orçamentárias, que serão executados durante o 
período de quatro anos contemplando as ações compreendidas no orçamento fiscal, as ações do 
orçamento de investimento das empresas controladas pelo Estado e as ações não orçamentárias e 
suas respectivas metas físicas e orçamentárias. 
Nessa breve apresentação dos instrumentos de planejamento do orçamento público restou 
evidente a necessária promoção da participação estruturada do cidadão como a que ocorre 
atualmente na discussão participativa do PPAG, pois a assimetria de informações sobre o 
orçamento pode prejudicar a compreensão do papel do Estado e de sua real atuação na sociedade. 
E para garantir a implementação do orçamento de maneira transparente foi criado no âmbito do 
Governo do Estado de Minas Gerais o Sistema de Informações Gerenciais e de Planejamento 
(SIGPlan) para sistematizar informações sobre o desenvolvimento dos programas e ações 
governamentais, propiciar seu monitoramento, modificações e adequações. Assim, a exigência de 
plena disponibilidade de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira 
em meios eletrônicos de acesso público é de grande valor quando da realização de audiências 
públicas, durante os processos de elaboração e de discussão do PPAG, LDO e LOA. 
Como unidade básica do PPAG, funcionando como elemento integrador do planejamento, 
do orçamento e da gestão, o programa é o instrumento de organização da ação governamental 
buscando enfrentar um problema, fruto do reconhecimento de carências, demandas 
administrativas, sociais e econômicas e de oportunidades mensurados por indicadores 
estabelecidos no plano plurianual. Sob essa sistemática, os órgãos e entidades deverão elaborar a 
sua programação formulando e revisando qualitativamente seus programas, indicadores e ações e 
detalhando os valores físicos e orçamentários das ações formuladas ou revistas no âmbito do 
PPAG e da proposta orçamentária alvo das rodadas de discussões e sugestões elaboradas pelos 
cidadãos e instituições sociais participativas. 
Como exemplo de clareza da informação orçamentária, as principais resultados deum 
programa do Governo do Estado de Minas Gerais são lançados no referido SIGPlan de forma 
objetiva e em tópicos, anunciando diretamente as principais realizações. Dessa forma, com 
especial atenção para a concisão e correção gramatical da linguagem para indicar alguma ação ou 
efeito começa-se por um substantivo como: construção, reforma, ampliação, elaboração, etc. A 
inclusão de comentários, avaliações ou justificativas excessivas são evitadas para não ofuscar as 
principais entregas e carregar excessivamente o texto que se pretende ser claro e objetivo. Do 
mesmo modo, caso seja necessário o uso de siglas, essas são sempre antecedidas pela respectiva 
descrição e as principais obras realizadas pelo órgão ou entidade de governo são registradas, 
sempre que possível, com a identificação dos municípios beneficiários. 
Esse cuidado corre o risco de parecer prescritivo demais, mas é fundamental em razão da 
preocupante realidade brasileira de baixa capacidade que a população demonstra em compreender 
textos simples e os números; grande parcela não possui a habilidade de interpretação de textos e 
de realizar operações matemáticas; nem possuem uma educação fiscal, tão necessária, para 
avaliar as finanças públicas. E esse cenário fica ainda mais grave frente a uma comunicação 
pública de órgãos de governo fortemente calcada numa linguagem obscura fruto de uma erudição 
desnecessária e de redações truncadas com origem no estamento burocrático brasileiro. 
 
Referências Bibliografias 
 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 
1988. 
 
BRASIL. Lei Complementar 101, de 04 de maio de 2000. Estabelece normas de finançaspúblicas 
voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal.Brasília, DF, 2000. 
 
BRASIL. Ministério de Estado do Orçamento e Gestão. Portaria 42, de 14 Abril 1999. Atualiza 
adiscriminação da despesa por funções de que tratam o inciso I do § 1º do Art. 2º e § 2º do Art. 
8º,ambos da Lei 4320, de 17 de março de 1964, estabelece os conceitos de função, 
subfunção,programa, projeto, atividade, operações especiais, e dá outras providências. Brasília, 
DF, 1999. 
 
HASWANI, Mariângela. O discurso obscuro das leis. In: Matos, Heloiza (org.). Comunicação 
pública: interlocuções, interlocutores e perspectivas. São Paulo: ECA/USP, 2012. 
 
MINAS GERAIS.Constituição (1989). Constituição do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte, 
1988. 
 
MINAS GERAIS. Decretonº 44.014, de 19 de abril de 2005. Dispõe sobre o Sistema de 
Informações Gerenciais e dePlanejamento - SIGPLAN, e disciplina sua implantação.Belo 
Horizonte, 2005.