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CIÊNCIA DA LITERATURA 2020.1 BIBLIOGRAFIA Bibliografia básica: ANZALDÚA Gloria. “Falandoemlínguas: umacartapara as escritoras do Terceiro Mundo. Online. ARRUZZA, C. ;BHATTCHARYA, T e FRASER, N. Feminismoparaos 99%: um manifesto BUTLER, Judith. Problemas de gênero. Feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015. ---------- . Quadros de guerra. Quando a vida é passível de luto. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015 ----------- e SPIVAK, G. C. Quem canta o Estado-Nação. Brasília: UNB, 2007 CRESHAW, Kimberle .On Intersectionality: Essential Writins. On line DAVIS, Angela Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016 -----------. A liberdade é uma luta constante. São Paulo: Boitempo, 2018 FEDERICI SILVIA. Calibã e a bruxa:mulheres, corpo e acumulação primitive. São Paulo: Martins Fontes, 2017 ok livroBrasil GIUNTA, A. Feminismo y arte latinoamericano. Buenos Aires: SigloVeintiuno. 2018 PROGRAMA: CIÊNCIA DA LITERATURA DISCIPLINA: Teoria literária e ciências humanas PROFESSOR: Beatriz Resende Siape: 8360503 CÓDIGO: LEL 810 PROFESSOR: Siape: PERÍODO: 2020.1 NÍVEL: M/D ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: Teoria Literária/Literatura Comparada HORÁRIO: Sala do PACC, quarta-feira, às 14h TÍTULO DO CURSO: Literatura e feminismo: escritoras contemporâneas de Língua Portuguesa. Ementa: A literatura, a arte e a cultura brasileira contemporâneas propõem, hoje, questionamentos sobre suportes, relações territoriais, linguagem, incluindo uma estética da periferia, que refletem a busca por uma arte que se realize na intersecção entre questões de raça, gênero, sexualidade e classe. Na produção ficcional de mulheres, em diversos países de Língua Portuguesa, tais questões aparecem de forma especialmente enfáticas. O debate mais agudo sobre esta literatura, explicitamente feminista ou não, é trabalho urgente a ser feito. Para tratarmos dos temas, das formas que as obras tomam, da linguagem usada, é preciso recorrer a novas epistemologias, novos estudos, novas teorias. O pensamento teórico feminista interseccional, a reflexão decolonial, a ressignificação de conceitos como marginalidade e subalternidade são instrumentos de leitura necessários à análise de tais contra-narrativas de resistência. O curso vai se ocupar de escritoras brasileiras, portuguesas e africanas que se tornam ainda mais importantes num momento em que o patriarcalismo, o racismo, a homofobia e outros recursos autoritários ressurgem de forma ameaçadora. HILL COLLINS, Patricia.“ A Construção Social do Pensamento Feminista Negro. Online HOLLANDA, Heloisa Buarque. Explosão feminista. São Paulo: Cia das Letras, 2018 ------------. (Org.) Pensamento feminista: conceitos fundamentais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019 ------------. (Org) Pensamento feminista brasileiro: formação e contexto. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019 KILOMBA, Grada. Memórias da plantação. Episódios de racismo cotidiano.Rio de Janeiro: Cobogó, 2019 RAGO, Margareth. A Aventura de contar-se. Feminismos, escrita de si e invenções da subjetividade. São Paulo: Unicamp, 2014 RESENDE, Beatriz. Poéticas do contemporâneo. São Paulo:e-galáxia, 2019 E.book RUBIN Gayle. Políticas do sexo. São Paulo: Ubu, 2017 (OK. LivroBrasil) As leituras de ficção serão decididas em conjunto no início do curso. BIBLIOGRAFIA ADORNO, Theodor. O curioso realista, Novos estudos, São Paulo: CEBRAP, v. 85, nov. 2009, pp. 5-22. PROGRAMA: CIÊNCIA DA LITERATURA DISCIPLINA: Teoria e crítica literária PROFESSOR: Danielle Corpas Siape: 3303029 CÓDIGO: LEL 819 PROFESSOR: Siape: PERÍODO: 2020.1 NÍVEL: M/D ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: Teoria Literária/Literatura Comparada HORÁRIO: Quinta-feira, 14h TÍTULO DO CURSO: Estratégias críticas em tempos de razão turva Ementa: No início da década de 1930, Walter Benjamin estava decidido a redigir um ensaio em torno da tarefa do crítico, um programa para a crítica literária que enfrentasse o “horizonte limitado e abafado” da Alemanha à época da ascensão do nazismo. As anotações para esse projeto nunca concluído sinalizam problemas e propostas que permanecem relevantes para o debate contemporâneo, inclusive no Brasil tomado por forças conservadoras extremistas que não disfarçam suas intenções genocidas. Em contextos nefastos como esses, que tipo de tarefa cabe ao crítico de literatura? Que estratégias podem ser mais eficazes para “exercer a inteligência crítica na luta contra as irracionalidades e as brutalidades deste mundo” (CANDIDO, 2004, p. 108)? Este curso busca inspiração para lidar com inquietações dessa ordem na multifacetada obra de Siegfried Kracauer (1889-1966), crítico pioneiro da cultura de massas, atento às transformações da sociabilidade e da sensibilidade modernas num momento em que a ratio capitalista convergia para o obscurantismo totalitário. Assim como seu amigo Benjamin, Kracauer indagou-se sobre a tarefa do crítico em tempos de “razão turva” e trilhou um caminho a seu modo combativo. Seus artigos dos anos 1920-30 exercitam procedimentos inovadores para lidar com os problemas específicos de sua época, para desvendar nas formas da cultura “segredos rudes” da vida social, conciliando ou alternando análise estética e observação de “discretas manifestações de superfície” (fenômenos da vida cotidiana nos quais se reconhecem determinações gerais da ordem social). O programa do curso se divide em 3 módulos: 1) Introdução – A tarefa do crítico: fragmentos de Walter Benjamin 2) Kracauer e a crítica da superfície: Os empregados, O ornamento da massa 3) Kracauer, crítico de literatura: a recepção de Kafka e outros debates ALBUQUERQUE, Fernando. Coletânea de textos traduzidos de Siegfried Kracauer. In: 10 x Kracauer. Tese de doutorado apresentada ao PPG de Ciência da Literatura da UFRJ, 2018. pp. 27-130. BENJAMIN, Walter. Linguagem, tradução, literatura (filosofia, teoria e crítica). Edição e tradução de João Barrento. Lisboa: Assírio Alvim, 2015a.pp. 113-137. ______. Rua de mão única. Trad. Rubens Rodrigues Torres Filho e José Carlos Martins Barbosa. São Paulo: Brasiliense, 2000. Obras escolhidas, v. 2. _____. Briefean Siegfried Kracauer. Ed. Th. W. Adorno Archiv. Marbach am Neckar: Deutsche Schillergesellschaft, 1987. CANDIDO, Antonio. O gosto pela independência. In: Recortes. 3ª ed. revista pelo autor. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2004. pp. 106-108. CHICOTE, Francisco Manuel García. Objeto y sujeto em Siegfried Kracauer, PandaemoniumGermanicum,São Paulo, v. 23, n. 39, 2020, p. 182-198. CORPAS, Danielle. Siegfried Kracauer e Erich Auerbach: pontos de contato, PandaemoniumGermanicum,São Paulo, v. 22, n. 37, 2019, p. 182-198. CORPAS, Danielle; LEAL, Carlos. Benjamin e Kracauer: algumas passagens,Redobra, Salvador: UFBA, n. 14, ano 5, pp. 48-57, 2014. GAY, Peter. Weimar Culture. The outsider as insider. New York; London: W.W. Norton, 2001. GINZBURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. pp. 143- 179. KAFKA, Franz. O processo. Trad. Modesto Carone. São Paulo: Cia. das Letras, 2005. _____.O castelo. Trad. Modesto Carone. São Paulo: Cia. das Letras, 2008. _____.Narrativas do espólio. Trad. Modesto Carone. São Paulo: Cia. das Letras, 2002. _____.O desaparecido ou Amerika. Trad. Susana Kampff Lages. São Paulo: Editora 34, 2003. KRACAUER, Siegfried. Essays, Feuilletons, Rezensionen. Werke,v. 5. Berlin: Suhrkamp, 2011. 4v. _____. O ornamento da massa. São Paulo: Cosac Naify, 2009. _____. Os empregados. Lisboa: Antígona, 2015. _____. Estética sinterritorio. Murcia: FundaciónCajamurcia, 2006. _____. Rues de Berlin et d’ailleurs.Paris: Gallimard, 1995. KOCH, Gertrude.Siegfried Kracauer: an introduction. Princeton: Princeton University Press, 2000. MACHADO, Carlos Eduardo Jordão; VEDDA, Miguel (Org.). Siegfried Kracauer: un pensador más allá de lasfronteras. Buenos Aires: Gorla, 2010. POOR, Sara; WITTE, Karsten. “Light Sorrow”: Siegfried Kracauer as Literary Critic,New German Critique, n. 54, Special Issue on Siegfried Kracauer, 1991, pp.77-94. SANTOS, Patrícia Silva.Sociologia e superfície: umaleitura dos escritos de Siegfried Kracaueraté 1933. São Paulo: Unifesp, 2016. _____. Benjamin e Kracauer: elementos de uma epistemologia de “trapeiros”, Sociologia & Antropologia, v. 03.06, nov. 2013, pp. 489-508. TRAVERSO, Enzo. Siegfried Kracauer: itinerario de un intelectual nómada. EdicionsAlfons El Magnànim: València, 1998. VEDDA, Miguel. La irrealidad de ladesesperación: estudios sobre Siegfried Kracauer y Walter Benjamin. Buenos Aires: Gorla, 2011. WAIZBORT, Leopoldo. O verdadeiro no mais próximo, Novos estudos, São Paulo: CEBRAP, v. 85, nov. 2009, pp. 47-81. WIZISLA, Erdmut. Crise e Crítica. In: Benjamin e Brecht: história de uma amizade. São Paulo: Editora da USP, 2013. pp. 113-157. PROGRAMA: CIÊNCIA DA LITERATURA DISCIPLINA: Modelos ideológicos de enunciação PROFESSOR: Eduardo Coelho Siape: 2478182 CÓDIGO: LEL 833 PROFESSOR: Siape: PERÍODO: 2020.1 NÍVEL: M/D ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: Teoria Literária/Literatura Comparada HORÁRIO: Sala do PACC, terça-feira, às 17h TÍTULO DO CURSO: Poesia e política literária Ementa: As funções de poeta, editor, artista gráfico, distribuidor, livreiro e crítico se embaralhavam notavelmente desde pelo menos os anos 1970, quando surgiram edições mimeografadas e iniciativas editorais independentes, como a Nuvem Cigana e a Quilombhoje. Ao mesmo tempo, a indústria cultural crescia a passos largos, incorporando, ao mercado, algumas tendências alternativas que por fim abandonaram o embaralhamento de funções na escala de produção e pós-produção do livro. A partir dos anos 2000, o surgimento da cibercultura e as tecnologias digitais de baixo custo reestabeleceram não apenas o embaralhamento de funções, mas também diversificaram seus atores, remodelando prioridades do chamado “sistema literário”. Além disso, as redes sociais se tornaram um meio imprescindível à divulgação tanto da poesia e de “novas” formas da crítica, quanto de posicionamentos relacionados à política específicamente literária, que se apresentam muitas vezes ao lado do “patrulhamento ideológico” e da autoexposição narcísica de poetas e de críticos, sem esquecer da atuação de leitores. Trata-se geralmente da política especificamente literária mobilizada pelas questões identitárias. Em oposição, tendências formalistas se mantêm apegadas ao específico literário e demonstram, consequentemente, um estado de inflexibilidade inadequado à problematização de impasses e da complexidade do nosso tempo. Nesse processo, a indústria cultural tem se pautado mediante polêmicas, de modo a recompor-se dentro do sistema ao incorporar, ao mercado, poetas reativos ao status quo. Enquanto a história da poesia e do mercado se repete, a crítica acadêmica se vê desidratada e sobretudo não lida, ocupando sobretudo a função de prestadora de serviços da indústria cultural ou confinada ao espaço estritamente universitário, sem interlocutores para além de si mesma. Este curso pretende discutir a política específicamente literária dos anos 70 ao dias atuais através da leitura de poemas, cartas, entrevistas, ensaios, artigos, resenhas, memórias, depoimentos e postagens de poetas e críticos em redes sociais, com ênfase nas transformações e contradições do sistema reveladas nesse período. BIBLIOGRAFIA RESUMIDA AGUIAR, Vera Teixeira de; CECCANTINI, João Luís (organizadores). Teclas e dígitos: leitura, literatura & mercado. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. ARRAES, Jarid. “Uma mulher negra escrevendo em busca de casa”. In BRAVO, Taís; MELO, Seane; ROSA, Estela; SILVA, Natasha. Mulheres que Escrevem: ensaio. Rio de Janeiro: Mulheres que Escrevem, 2018. COELHO, Eduardo; PEDROSA, Celia. “Entrevista com a Oficina Experimental de Poesia”, Revista Alere, Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários– PPGEL, ano 11, vol. 18, no 2, p. 337-368, dez. 2018. COHN, Sergio (org.). Nuvem Cigana: poesia & delírio no Rio dos anos 70. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2007. DOMENECK, Ricardo. “Ideologia da percepção ou algumas considerações sobre a poesia contemporânea no Brasil”, Inimigo Rumor, no 18, 2o semestre de 2005/1o semestre de 2006. GALVÃO, Walnice Nogueira. “Indústria cultural e globalização”. As musas sob assédio. Literatura e indústria cultural no Brasil. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2005. Coleção Série Livre Pensar, 18, p. 15-40. GASPARI, Elio; HOLLANDA, Heloisa Buarque de; VENTURA, Zuenir. Cultura em trânsito: da repressão à abertura. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2000. HOLLANDA, HeloisaBuarque de; PEREIRA, Carlos Alberto Messeder. Patrulhas ideológicas: arte e engajamento em debate. São Paulo: Brasiliense, 1980. ______. Impressões de viagem: CPC, vanguarda e desbunde, 1960/1970. Rio de Janeiro: Rocco, 1992. ______ (org.). 26 poetas hoje. 4aedição. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2001. ______ (org.). Esses poetas. 2aedição. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2001. ______. Onde é que eu estou? Heloisa Buarque de Hollanda 8.0. Organização de André Botelho, Cristiane Costa, Eduardo Coelho e Ilana Strozenberg. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019. LEONE, Luciana di. Poesia e escolhas afetivas: edição e escrita na poesia contemporânea. Rio de Janeiro: Rocco, 2014. Coleção Entrecríticas. LOPES, Silvina Rodrigues. “Impróprio para consumo”. A anomalia poética. Belo Horizonte: Chão de Feira, 2019. p. 125-141. LÓPEZ WINNE, Hernán; MALUMIÁN, Víctor. Independentes ¿de qué? Hablan los editores de América Latina. México: FCE, 2016. Coleção Libros sobre Libros. MOISÉS, Carlos Felipe. Poesia para quê? A função social da poesia e do poeta. São Paulo: Editora Unesp, 2019. MORICONI, Ítalo. “Entrevista com Ítalo Moriconi” [por Márcio Junqueira, Lucas Matos e Luciana di Leone], Bliss: revista de poesia,organização de Lucas Matos, Clarissa Freitas e Márcio Junqueiro, Rio de Janeiro, 7Letras, p. 55-77, 2009. PEDROSA, Celia; MATOS, Cláudia; NASCIMENTO, Evando (org.). Poesia hoje. Niterói: EdUFF, 1998. Coleção Ensaios, 13. PUCHEU, Alberto. Apoesia contemporânea. Rio de Janeiro: Azougue, 2014. RESENDE, Beatriz. “A indisciplina dos Estudos Culturais”. Apontamentos de crítica cultural. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2002. p. 9-54. REZENDE, Renato. Poesia brasileira contemporânea: crítica e política. Rio de Janeiro: Azougue, 2014. Coleção Invenção e Crítica. RISÉRIO, Antonio. Sobre o relativismo pós-moderno e a fantasia fascista da esquerda identitária. Rio de Janeiro: Topbooks, 2019. ZARVOS, Guilherme. Branco sobre branco: Centro de Experimentação Poética 20.000. Centro de Experimentação Pensamento: uma rota possível. Rio de Janeiro: Editora NONOAR, 2009. PROGRAMA: CIÊNCIA DA LITERATURA DISCIPLINA: Poesia e modernidade PROFESSOR: EDUARDO GUERREIRO BRITO LOSSO Siape: 1721533 CÓDIGO: LEL 852 PROFESSOR: Siape: PERÍODO: 2020.1 NÍVEL: M/D ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: Teoria Literária HORÁRIO: Quinta-feira, 17h TÍTULO DO CURSO: Tradição delirante: aspiração de liberdade na linguagem e no comportamento Ementa: Em diferentes momentos da história, poetas, utopistas e místicos manifestaram o desejo de libertação de convenções da linguagem e de comportamento. Frequentemente uma ousadia estética esteve diretamente ligada a um desejo dedesembaraço de coerções sociais e um gesto pessoal de ruptura cedo ou tarde contribui para um estímulo de transformação social. Considerado por muitos como o primeiro movimento feminista europeu, a associação das beguinas foi um movimento de mulheres que dedicavam sua vida tanto a ajudar desamparados quanto a labores intelectuais e práticas espirituais. Uma das mais importantes, Marguerite Porete (1250-1310), foi queimada publicamente em Paris em 1310, sob acusação de heresia. As visões que se traduziam em escritos extravagantes e reflexões poéticas, para além da doutrinação e da racionalidade, orientavam-se para um novo modo de vida, diferenciado do patriarcalismo eclesiástico. A partir daí,toda uma tradição neoplatônica do uso da analogia vai radicalizar o pensamento filosófico renascentista com o uso de associações poéticas que buscam uma experiência mágica com a natureza. Em tempos modernos, simbolistas e surrealistas herdam o desejo de experimentar alucinações com a linguagem, aquilo que Benjamin chama de iluminação profana, e pretendem secularizar a prática das correspondências num mundo metropolitano e laico. É nesse contexto que vai surgir, de um simbolista como Cruz e Sousa (o nosso Dante negro), da simbolista feminista Gilka Machado, de modernistas como Murilo Mendes, Cecília Meireles e Jorge de Lima, da geração paulista de Roberto Piva e Claudio Willer, até as tendências psicodélicas do tropicalismo e da geração marginal, desembocando na poética contemporânea que retoma relações com a poesia e o pensamento ameríndio. O curso pretende explorar não só a dimensão estética da linguagem extravagante, como também sua busca por uma arte de viver diferente das normas e hábitos dominantes - nobres, burgueses ou eclesiásticos - contra a tecnocracia racionalista e em direção a uma outra relação com o ambiente e a natureza. É no exercício de um permanente estudo de si mesmo para elaborar a solidão, a convivência com outros próximos e com a sociedade em geral que escritoras e escritores subversivos propõem modos de vida diferentes, nos quais o curso vai se debruçar. BIBLIOGRAFIA ADORNO, Theodor. Dialética negativa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009. BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. Ensaios sobre literatura e cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994. BORGES, Jorge Luis. Prólogos: com um prólogo dos prólogos. Rio de Janeiro: Rocco, 1985. CERTEAU, Michel de. A fábula mística séculos XVI e XVII: volume 1. Rio de Janeiro: Forense, 2015. DELEUZE, Gilles. Crítica e clínica. São Paulo: 34, 1999. FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas.Uma arqueologia das ciências humanas. São Paulo: Martins Fontes, 2000. LÖWY, Michael. Redenção e utopia. O judaísmolibertário na Europa central: um estudo de afinidade eletiva. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. LÖWY, Michael. A estrela da manhã: surrealismo e marxismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. PAZ, Octavio. Os filhos do barro: do romantismo à vanguarda. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. VELOSO, Caetano. Verdade Tropical. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. PROGRAMA: CIÊNCIA DA LITERATURA DISCIPLINA: Obra, interpretação e ética PROFESSOR: João Camillo Penna Siape:1311027 CÓDIGO: LEL 862 PERÍODO: 2020.1 NÍVEL: Mestrado/Doutorado ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: Teoria Literária, Literatura Comparada, Poética. HORÁRIO: 5a feira – 14:00h TÍTULO DO CURSO: As muitas coisas de Clarice Lispector II LOCAL: EMENTA:Segunda parte de um curso em progresso dedicado ao estudo das coisas na obra de Clarice Lispector. O projeto é ler em sala juntos, com um certo vagar, textos fundamentais da obra de Clarice, a começar pelos romances. Nesse semestre começaremos com A maçã no escuro e seguiremos em ordem aproximadamente cronológica. O projeto do curso parte de uma observação aparentemente paradoxal: desde a morte de Clarice, em dezembro de 1977, a sua obra não parou de crescer e se modificar. No que toca à produção universitária, por exemplo, observou-se uma importante multiplicação de análises e abordagens explorando cada recanto de seus textos, além da publicação de três biografias. Um segundo aspecto é a publicação de uma parte bastante significativa de sua obra que permanecia até pouco tempo oculta ou acessível apenas a pesquisadores, como a correspondência, a totalidade de suas contribuições a jornais e revistas, inclusive femininas, etc. À luz dessas “modificações”, faz-se necessário retornar à letra dos textos de Clarice, que ao que parece não perderam o travo de seu enigma inicial. O curso se propõe a atravessar a obra de Clarice a partir dos anos 1950, em vistas a dar a ver o contorno de uma problemática única que se desdobra neles. Refiro-me à questão da “coisa”– bichos, plantas e objetos cotidianos, o relógio, o telefone, o ovo– que modulam uma relação polêmica entre real e linguagem, experiência e forma, matéria e imaterialidade. Bibliografia básica Espinosa. Ética. Tradução: Tomaz Tadeu. Belo Horizonte: Autêntica, 2016. Lacan, Jacques. O seminário: Livro I: Os escritos técnicos de Freud. Trad. Betty Milan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1986. Lispector, Clarice. A cidade sitiada. Lispector, Clarice. A maçã no escuro. Lispector, Clarice. A paixão segundo G.H. Lispector, Clarice. O lustre. Lispector, Clarice. Perto do coração selvagem. Nascimento, Evando. Clarice Lispector: uma literatura pensante. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012. Nodari, Alexandre. “O indizível manifesto: sobre a inapreensibilidade da coisa na ‘dura escritura’ de Clarice Lispector”. Revista Letras, UFPR, 2019.https://revistas.ufpr.br/letras/article/view/66898 Nunes, Benedito. Leitura de Clarice Lispector. São Paulo: Quíron, 1973. Sousa, Carlos Mendes. Clarice Lispector. Figuras da escrita. Minho: Universidade do Minho/Centro de Estudos humanísticos, 2000. Viveiros de Castro, Eduardo. “Rosa e Clarice, a fera e o fora”. Revista Letras, UFPR, 2019.https://revistas.ufpr.br/letras/article/view/65767 https://revistas.ufpr.br/letras/article/view/66898 https://revistas.ufpr.br/letras/article/view/65767 Wisnik, José Miguel. “Diagramas para uma trilogia de Clarice”. Revista Letras, UFPR, 2019. https://revistas.ufpr.br/letras/article/view/69666 https://revistas.ufpr.br/letras/article/view/69666 PROGRAMA: Ciência da Literatura DISCIPLINA: Poesia: sagrado e mito CÓDIGO: LEL 859 PROFESSOR: Marco Lucchesi e Walter Boechat SIAPE: 0365916 PERÍODO: 2020.1 ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: Teoria Literária/Literatura comparada NÍVEL: M/D TÍTULO DO CURSO: Onirocrítica: As metáforas do Sonho e a Linguagem Poética do Inconsciente. Horário: terça-feira 9:00 EMENTA: O mundo onírico e suas vertentes. Perspectivas junguianas do universo literário. Poéticas do Inconsciente. O Sonho e a parcela mítica. O desenvolvimento do psiquismo no campo literário. Pré-requisito: não há BIBLIOGRAFIA BÁSICA ASSIS, Machado de. Um sonho e outro sonho. In: Relíquias de casa velha. Rio de Janeiro: W.M.Jackson, 1938. BACHELARD, Gaston. A poética do devaneio.São Paulo: Martins Fontes, 2006. BOECHAT, Walter. A mitopoese da psique. Petrópolis: Vozes, 2008. BORGES, Jorge Luis& FERRARI, Osvaldo.Sobre sonhos e outros diálogos. São Paulo: Hedra, 2009. BRANDÃO, Junito. Mitologia gregavol II. Petrópolis: Vozes, 1987. __________. Cap. III: O mito de apolo: epidauro e o oráculo de delfos. CARROLL, Lewis. Alice: edição comentada e ilustrada.Rio de Janeiro: Zahar, 2013. FARIA, D. L., FREITAS, L. V., GALBACH, M. Sonhos na psicologia junguiana. São Paulo: Paulus, 2014. FUENTES, Lygia - Imagens absurdas e paradoxais nos sonhos. Rio deJaneiro: texto em pdf. HILLMAN, James. O sonho e o mundo das trevas. Petrópolis: Vozes, 2013. JUNG, C. G. O uso prático da análise dos sonhos. In: A Prática da Psicoterapia. Obras completas,vol. 16/2. Petrópolis: Vozes, 2011. JUNG, C. G.Aspectos gerais da psicologia do sonho. In: A Natureza da Psique. Obras completas, v. 8/2. Petrópolis: Vozes, 2011. JUNG, C. G. Da essência dos sonhos. In: A Natureza da Psique. Obras completas, vol 8/2. Petrópolis: Vozes, 2011. JUNG, C.G. et al. Chegando ao inconsciente. In: O Homem e Seus Símbolos. Rio de Janeiro: HarperCollins Brasil, 2016. KAST, Verena.Sonhos: a linguagem enigmática do inconsciente. Coleção reflexões junguianas. Petrópolis: Vozes, 2010. KOPENAWA, Davi, ALBERT Bruce. A queda do céu. Palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. LOBATO, Monteiro. O saci-pererê:resultado de um inquérito. São Paulo: Globo Livros, 2008. SILVEIRA, Nise da. Jung: vida e obra. São Paulo: Paz e Terra, 2000. BIBLIOGRAFIA DE CONSULTA BENJAMIN, Walter.Magia, técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1994. BORGES, Jorge Luís. El aleph. Buenos Aires: Ed. Emecé, 2007. BRANDÃO, Junito. Dicionário mítico-etimológico. Petrópolis: Vozes,1991. BRANDÃO, Junito. Teatro grego: tragédia e comédia.Petrópolis: Vozes, 1978. DODDS, E. R. Os gregos e o irracional.São Paulo: Escuta, 2002. CASTRO, Eduardo Viveiros de. Tão humanos quanto animais. texto em pdf. ÉSQUILO. Coéforas.Trad. JaaTorrano. São Paulo: Iluminuras, 2004. EURÍPEDES. Medéia. Rio de Janeiro: Martin Claret, 2005. GATTAI, Zélia. Anarquistas, graças à deus. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2009. HESÍODO. Teogonia. Trad. JaaTorrano. São Paulo: Iluminuras, 2006. HOMERO. Ilíada. Trad. Haroldo de Campos. São Paulo: Editora Arx, 2002. _________. Odisseia. Trad. Donaldo Schüler. Porto Alegre: L&PM, 2007. VIEIRA,Maressa de Freitas. O saci na tradição local no contexto da mundialização e da diversidade cultural. Tese de Doutorado, da Faculdade de Filosofia, Letras eCiências Humanas, São Paulo, 2009. Acesso em 11 de novembro de 2011 noendereço https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8142/tde- 22022010-145342/ptbr.php https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8142/tde-%2022022010-%20145342/pt%20br.php VON FRANZ, Marie-Louise. Sonhos : um estudo dos sonhos de jung, sócrates, decartes e outras figuras históricas. Coleção Reflexões Junguianas. Petrópolis: Vozes, 2011. ZAMBRANO, María. O sonho criador. Lisboa: Assírio & Alvim, 2006. COLONNA, Francesco (atrib.) Batalha de amor em sonho de Poliphilo. Tradução de Cláudio Giordano. São Paulo: Imprensa Oficial, 2013. FERENCZI, Sandor. Thalassa. São Paulo: Martins Fontes, 1990. FREUD, Sigmund. Obras completas. (trad de Luis Lopez-Ballesteros y De Torres). Madrid: Biblioteca Nueva, 1973. HARRIS, William V.Dreams and experience in classical antiquity. Harvard: Harvard University Press, 2009. JASPERS, Karl. Strindberg y van Gogh. (trad. Manuel Vargas). Barcelona: Nuevo Arte Thor, 1986. SILVEIRA, Nise. Imagens do inconsciente. 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Bruno Latour, ao inventar um diálogo entre os colonizadores portugueses e os “fetichistas” da Guiné em Reflexão sobre o culto moderno dos deuses fe(i)tiches, argumenta que os “modernos” portugueses imputaram aos “bárbaros” africanos a denominação de fetichistas sem reconhecer que seus próprios ícones eram fetiches. Para os colonizadores portugueses, e comerciantes franceses, não é possível cultuar objetos fabricados por mãos humanas e manter seu caráter verdadeiramente divino, há que se escolher- sendo a escolha imputada apenas ao outro, ao colonizado. Para Latour, o fetiche, sendo um objeto que fala e também que é fabricado, reúne em uma só expressão dois sentidos: um artifício que se apresenta enquanto tal e também uma coisa encantada. O fetiche seria um fazer-falar. Ao tomar a perspectiva de Latour, o curso pretende problematizar que o desenvolvimento da terminologia não se refere apenas ao objeto mas a um modo de apreensão do objeto quando derivado para “fetichismo”. O “erro interpretativo”, segundo Vladimir Safatle, de Charles de Brosses em Du culte des dieux fétiches ou Parallèle de l'ancienne religion de l'Égypte avec la religion actuelle de Nigritie, que colocou a noção em termos de um “problema ligado à imanência da crença” é ponto de partida para percorrermos seus usos e recorrências nos estudos literários em articulação com a antropologia, sociologia e a psicanálise. O curso prevê a participação de professores e pesquisadores convidados. BIBLIOGRAFIA INICIAL (outras obras serão apresentadas durante o curso) De Brosses, Charles. Du culte des dieux fétiches ou Parallèle de l'ancienne religion de l'Égypte avec la religion actuelle de Nigritie (1760). Latour, Bruno. Reflexão sobre o culto moderno dos deuses fe(i)ches. Tradução Sandra Moreira. Bauru, São Paulo: EDUSC, 2002. Morris, Rosalind; Leonard, Daniel. The returns of fetishism: Charles de Brosses and the afterlives of an idea. Chicago; London: The University of Chicago Press, 2017. Safatle, Vladimir. Fetichismo: colonizar o outro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.