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1 ANAIS XIII SEMINÁRIO DE PESQUISA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS LITERÁRIOS: RELAÇÕES INTERSEMIÓTICAS E I SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE SEMIÓTICA 15 a 19 de outubro de 2012 UNESP – Universidade Estadual Paulista Faculdade de Ciências e Letras Campus de Araraquara 2 Vice-Reitor no exercício da Reitoria Julio Cezar Durigan Diretor José Luis Bizelli Vice-Diretor Luis Antonio Amaral Comissão Organizadora Adalberto Luis Vicente Brunno Vinicius Gonçalves Vieira Cristiane Passafaro Guzzi Márcio Thamos Marco Aurélio Rodrigues Maria de Lourdes Ortiz Gandini Baldan Maria Teresa de França Roland Comissão Científica Arnaldo Cortina Elisabeth Brait Diana Luz Pessoa de Barros Diana Junkes Martha Toneto Lúcia Teixeira de Siqueira e Oliveira José Luiz Fiorin Jean Cristtus Portela Sérgio Vicente Motta Ivã Carlos Lopes Rejane Cristina Rocha Renata Maria Facuri Coelho Marchezan Tânia Pelegrine Apoio 3 SUMÁRIO Lista de Autores – Projetos de Pesquisa Alejandro Gonzáles Urrego................................................................................................ 7 Alessandro Yuri Alegrette................................................................................................ 11 Alexandre Silveira Campos.............................................................................................. 15 Aline Taís Cara Pinezi ..................................................................................................... 19 Allyne Fiorentino de Oliveira........................................................................................... 27 Amauri Faria de Oliveira Filho ........................................................................................ 32 Ana Carolina Negrão Berlini de Andrade ......................................................................... 37 Ana Paula Dias Ianuskiewtz............................................................................................. 49 André Luiz Rodriguez Modesto Pereira ........................................................................... 58 Andrea Cristina Martins Pereira ....................................................................................... 63 Audrey Castañón de Mattos ............................................................................................. 69 Beatriz Moreira Anselmo ................................................................................................. 77 Candice Angélica Borborema de Carvalho ....................................................................... 82 Carlos Eduardo Monte ..................................................................................................... 91 Cátia Cristina Bocaiuva Maringolo .................................................................................. 99 Cristal Rodrigues Recchia ...............................................................................................103 Cristiane Passafaro Guzzi................................................................................................109 Daiane Rassano...............................................................................................................116 Daniel Rossi ...................................................................................................................123 Daniela Aparecida da Costa ............................................................................................128 Emerson Cerdas ..............................................................................................................139 Érika Bergamasco Guesse...............................................................................................144 Fabiana Abi Rached de Almeida .....................................................................................152 Fabiana Angélica do Nascimento ....................................................................................156 Fábio Gerônimo Mota Diniz ...........................................................................................162 Fabiola Maceres Silva.....................................................................................................173 Fernando Góes................................................................................................................180 Franco Baptista Sandanello .............................................................................................184 Giulliana Santiago...........................................................................................................190 Hellen Viviane Rodrigues ...............................................................................................197 Isabella Unterrichter Rechtenthal ....................................................................................204 Islene França de Assunção ..............................................................................................211 Jacob dos Santos Biziak ..................................................................................................217 Joana Junqueira Borges...................................................................................................222 Joana Prada Silvério........................................................................................................226 João Jorge da Silva Pereira..............................................................................................232 Joyce Conceição Gimenes Romero .................................................................................236 Júlia Mara Moscardini Miguel ........................................................................................242 Julio Cezar Bastoni da Silva............................................................................................247 Kedrini Domingos dos Santos.........................................................................................254 Laura Lopes de Oliveira..................................................................................................257 Leonardo Vicente Vivaldo ..............................................................................................262 Levi Henrique Merenciano..............................................................................................270 4 Ludmila Giovanna Ribeiro de Mello ...............................................................................278 Marco Aurélio Rodrigues................................................................................................284 Marcus Vinícius Benites .................................................................................................291 Mariana Bravo de Oliveira ..............................................................................................299 Mariana Funes ................................................................................................................306 Mariana Veiga Copertino Ferreira da Silva .....................................................................312 Mariângela Alonso..........................................................................................................316 Marília Gabriela Malavolta .............................................................................................320 Marli Cardoso dos Santos ...............................................................................................327 Naiara Alberti Moreno ....................................................................................................335 Natali Fabiana da Costa e Silva.......................................................................................340 Natália Pedroni Carminatti..............................................................................................345 Natasha Vicente da Silveira Costa...................................................................................352 OlíviaDias Queiros ........................................................................................................358 Patrícia Aparecida Antonio .............................................................................................363 Patrícia Helena Baialuna de Andrade ..............................................................................370 Patricia Magazoni Gonçalves ..........................................................................................375 Paula Aparecida Volante.................................................................................................387 Pollyanna Souza Menegheti ............................................................................................393 Priscila Maria Mendonça Machado .................................................................................402 Rafael Trindade dos Santos.............................................................................................406 Raíssa Medici de Oliveira ...............................................................................................411 Regina Alves Mendes .....................................................................................................416 Renata Acácio Rocha ......................................................................................................422 Renato Alessandro dos Santos.........................................................................................429 Rosana Munutte da Silva ................................................................................................436 Rosária Cristina Costa Ribeiro ........................................................................................444 Roseli Deienno Braff ......................................................................................................451 Rosilene Frederico Rocha Bombini.................................................................................460 Sérgio Luiz Gusmão Gimenes Romero ...........................................................................468 Sílvio Fávero ..................................................................................................................475 Tais Matheus da Silva .....................................................................................................481 Thalita Morato Ferreira ...................................................................................................486 Thiago Buoro..................................................................................................................491 Thiago dos Santos Jerônimo............................................................................................501 Vanessa Aparecida Ventura Rodrigues............................................................................510 Vanessa Chiconeli Liporaci.............................................................................................515 Waleska Rodrigues de M. O. Martins..............................................................................522 5 Lista de Autores - Comunicações Alessandro Yuri Alegrette...............................................................................................528 Alexandre Silveira Campos.............................................................................................539 Amauri Faria de Oliveira Filho .......................................................................................545 Ana Carolina de Picoli de Souza Cruz.............................................................................551 Ana Cláudia da Silva ......................................................................................................558 Ana Claudia Rodrigues ...................................................................................................569 Ana Paula Dias Ianuskiewtz............................................................................................583 Andrea C. Martins...........................................................................................................592 Andressa Cristina de Oliveira..........................................................................................597 Ane Carolina Randig Tavares .........................................................................................608 Antônio Jackson de Souza Brandão.................................................................................617 Camila Cristina Branquinho Barbosa Tozzi.....................................................................641 Camila de Araújo Beraldo Ludovice ...............................................................................649 Caroline Talge Arantes ...................................................................................................660 Claudia C. Valladares .....................................................................................................665 Claudia Fernanda de Campos Mauro...............................................................................674 Cleyton Vieira Fernandes................................................................................................684 Cristiane Passafaro Guzzi................................................................................................697 Daiane Carneiro Pimentel ...............................................................................................708 Daniela Aparecida da Costa ............................................................................................723 Daniela Ramos de Lima ..................................................................................................733 Edvanda Bonavina da Rosa.............................................................................................743 Érika Bergamasco Guesse...............................................................................................761 Euzenir Francisca da Silva ..............................................................................................768 Fabiana Abi Rached de Almeida .....................................................................................779 Fabrícia Silva Dantas ......................................................................................................786 Fabrício Floro e Silva......................................................................................................802 Flavia Karla Ribeiro Santos ............................................................................................812 Franco Baptista Sandanello .............................................................................................821 Gabriela Alias Rios .........................................................................................................830 Gabriela Aparecida dos Santos........................................................................................838 Isabella Unterrichter Rechtenthal ....................................................................................845 Jânder Baltazar Rodrigues...............................................................................................851 Jéssica Cristina Celestino ................................................................................................857 Júlia Mara Moscardini Miguel ........................................................................................871 Júlio César Souza de Oliveira..........................................................................................884 Larissa Cristina Arruda de Oliveira .................................................................................891 Leonardo Vicente Vivaldo ..............................................................................................901 Levi Henrique Merenciano..............................................................................................909 Lucas da Silva Roberto ...................................................................................................924Lucas Takeo Shimoda.....................................................................................................933 Luciano Barbosa Justino .................................................................................................948 Luciano Marcos Dias Cavalcanti.....................................................................................957 Ludmila G. Ribeiro de Mello ..........................................................................................966 Luiz Carlos Pedrosa Torelli.............................................................................................982 6 Marco Aurélio Rodrigues ................................................................................................994 Marcos Rogério Martins Costa......................................................................................1002 Maria Goreti Silva Prado ..............................................................................................1017 Mariana Veiga Copertino F. da Silva ............................................................................1032 Mariângela Alonso........................................................................................................1038 Natasha Vicente da Silveira Costa.................................................................................1050 Patrícia Aparecida Antonio ...........................................................................................1056 Patrícia Margarida Farias Coelho ..................................................................................1063 Philipe Tocci.................................................................................................................1074 Raquel Silveira Fonseca................................................................................................1082 Ravel Giordano Paz ......................................................................................................1091 Regina Alves Mendes ...................................................................................................1102 Renata Cristina Duarte ..................................................................................................1110 Renato Alessandro dos Santos.......................................................................................1120 Rodrigo Fontanari.........................................................................................................1127 Roseli Deienno Braff ....................................................................................................1148 Sandro Tôrres de Azevedo ............................................................................................1153 Sérgio Mauro ................................................................................................................1162 Joana Junqueira Borges.................................................................................................1167 Luiz Henrique Pereira ...................................................................................................1175 Matheus Nogueira Schwartzmann.................................................................................1175 7 I – PROJETOS DE PESQUISA A CONSTRUÇÃO METAFICCIONAL DO CORPO DE EVITA NO ROMANCE SANTA EVITA DE TOMÁS ELOY MARTÍNEZ Alejandro Gonzáles Urrego (PAEDEX) Maria Dolores Aybar Ramírez Programa de Pós-graduação em Estudos Literários – UNESP / FCLAr O objetivo da minha pesquisa é analisar a reconstrução metaficcional do corpo de Evita Perón no romance Santa Evita (1997), do escritor argentino Tomás Eloy Martínez, onde este se converte no personagem principal do enredo. Assim, Martínez reconstrói, com ajuda de diferentes elementos metaficcionais, um corpo que em vida adquiriu poder, e depois de morto esse poder se tornou ainda maior. A obra mostra uma Evita cheia de vida, intrépida, ágil, ativa e, acima de tudo, muito querida pelas classes menos favorecidas do povo argentino. Sendo a Primeira Dama da Argentina, ela costuma mostrar-se em público sempre mostrando um corpo formoso, com o cabelo arrumado vestido com roupas de Cristian Dior, jóias brilhantes; uma atitude que demonstrava um propósito muito claro: expressar aos descamisados, que eles também podem realizar seus sonhos, escapar da miséria e ter êxito, como ela. Mas, por outro lado, Tomás Eloy durante o desenvolvimento da trama, apresenta o corpo embalsamado dela, que recobra a voz através da leitura, expõe uma série de sentimentos contraditórios. Além disso, Evita mesmo morta, desperta medo nos oligarcas e militares, uma vez que eles acreditavam que se em vida ela tinha sido uma poderosa inimiga, com sua morte ela se tornaria ainda mais forte. No entanto, para os pobres, Evita se converteu em um símbolo de esperança: a ponto de eles a considerarem uma mulher santa, capaz de realizar atos milagrosos. É a partir desses eventos que o autor faz uma reconstrução metaficcional apoiando-se nos testemunhos de pessoas, de diversas camadas sociais e que conviveram com Evita. Cada qual, de alguma maneira, manifesta seu direito de propriedade sobre o cadáver embalsamado da ex Primeira Dama. 8 Além disso, Evita usa sua feminilidade para expressar-se através do corpo, para ascender ao poder e penetrar em um mundo controlado pelos homens. Casar-se com Perón foi à oportunidade de sua vida, que garantiu o exercício do poder por vontade própria. É importante enfatizar que ela também exerceu o poder de maneira radical nas pessoas ou instituições que a criticam. Com o apoio do povo argentino, Evita sonha com um país igualitário, justo e sem pobres. Mas, para conseguir alcançar esse objetivo, ela tem que eliminar aos seus adversários: os oligarcas. O cadáver embalsamado de Evita é o desejo de ser lembrada, de nunca ser esquecida, expressando a insistência de um espírito que resiste em abandonar a matéria humana. Permanecendo assim, imortal e purificada em um corpo espiritual, que o povo acreditava ser capaz de convertê-la em uma santa que regressará como a “mãe guiadora e protetora de seus filhos”. O objetivo desta pesquisa é analisar a reconstrução do corpo de Evita no romance Santa Evita de Tomás Eloy Martinez. Assim, se torna necessário primeiro definir claramente o conceito de corpo utilizando diferentes abordagens teóricas que nos ajudarão a ampliar a visão sobre esse tema. Também pretendo demonstrar o processo de construção metaficcional do discurso narrativo do romance. A construção metaficcional do corpo de Evita. O trabalho de Tomás Eloy Martínez no romance Santa Evita está orientado para reconstruir o corpo de Evita em duas etapas: um corpo vivo que adquiriu poder junto com o general Perón, mas, quando ficou embalsamada, adquiriu um poder ainda maior. A reconstrução metaficcional do corpo de Evita é apresentada no romance através dos testemunhos de pessoas que conviveram com ela ou a conheceram em diferentes momentos de sua vida. Mas também, as testemunhas das pessoas que ficaram com ela depois de embalsamada pelo vente anos seguintes. Essa reconstrução não tem um caráter unitário, mas sim se fraciona em lembranças de sujeitos que pertencem as diferentes classes sociais, cada um, descrevendo-a de forma diferente, de modo a criar uma personalidade multifacetada. Para seus fiéis seguidores, as massas e os descamisados, o corpo de Evita se torna um símbolo da luta armada nos anos 70; uma luta que também se expressa no slogan “Perón ou 9 morte”, variação de “A vida por Perón” e que aparece nas margens do peronismo dissidente ansioso por ocupar o centro político. É aqui onde o corpo de Evita recupera sua voz, seu desejo de poder, justiça, igualdade e seu grito de guerra. Portanto, a reconstrução metaficcional do corpo apresentada no romance, delimita as diferentes fases da vida de Evita: de menina pobre e filha bastarda a Primeira Damada Argentina, que mesmo depois de morta se transformou em um ícone cultural e político. Estágio atual da pesquisa No presente momento, o trabalho de pesquisa encontra-se em sua fase inicial. Até agora foram realizadas leituras e fichamentos de alguns livros que integram a bibliografia e analisam alguns tópicos concernentes à memória, a relação entre a Historia e a ficção e a metaficção. São eles: Tempo passado de Beatriz Sarlo, História e Memória de James Le Goff, Ficção de Catherine Gallagher, A ficção de Karlheinz Stierle. É possível comprovar que os principais temas inseridos nos textos escritos por esses autores são: o relato testemunhal, diferentes tipos de memória, e os recursos narrativos usados na metaficção. Todos eles pertinentes ao objeto de estudo deste trabalho de pesquisa. Conclui-se nesta fase inicial da pesquisa que o romance de Martínez propõe a reconstrução metaficcional do corpo de Evita Perón, como estratégia para recuperar um pensamento nacional e reafirmar o papel da mulher na memória coletiva do povo argentino. Bibliografia ADORNO, Theodor. Posição do narrador no romance contemporâneo. In: ____ . Notas de literatura 1. Trad. Jorge de Almeida. São Paulo: Duas Cidades/Ed. 34, 2003. BAUDRILLARD, Jean. A precessão dos simulacros. In: ____ Simulacros e simulação. Lisboa: Relógio d´Agua, 1981. CHNAIDERMAN, Miriam. Estudos em Teoria Psicanalítica, artigos sobre Esfarelando tempos não ensimesmados, Rio de Janeiro: Agora, July/dec 2003, vol. 6 no 2. COMPAGNON, A, O trabalho da citação. Trad. Cleonice P.B. Mourão. Belo Horizonte: Ed. Da UFMG, 2007. 10 FOUCAULT, Michel. -“Poder-cuerpo” En islas Hilda, de la historia al cuerpo y el cuerpo a la danza, Conaculta, México, 2001. GALLAGHER, Catherine. Ficção, In: MORETTI, F. (org.) O romance 1: A cultura do romance. Trad. Denise Bottman. São Paulo: Cosac Naify, 2009. GIVONE, Sergio. Dizer as emoções, a construção da interioridade no romance moderno. In: MORETTI, F. (org.). O romance 1: A cultura do romance. Trad. Denise Bottman. São Paulo: Cosac Naify, 2009. HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Traduçao de Beatriz Sidou, São Paulo: Centauro, 2006 HUTCHEON, Linda. Poética do Pós-Modernismo, Trad. Ricardo Cruz. Rio de Janeiro, Imago Editora, 1991. HUYSSEN, Andreas. Passados presentes. Da sedução pela memória à análise de nós mesmos. Tradução de Sergio Alcides. Seleção de Heloisa Buarque de Hollanda. 2ª . Ed Rio de Janeiro: Aeroplano, 2000. JAMES, Henry. A arte da ficção, Trad. Daniel Piza. Seleção de Antônio Paulo Graça, São Paulo, Editora Imaginário, 1995. LE GOFF, James. História e Memória. Tradução Bernardo leitão. Campinas, SP Editora da UNICAMP, 1990. MARTÍNEZ, Tomás Eloy. Santa Evita. Tradução Sérgio Molina. Companhia Das Letras, 2da Edição, 1997. RICOEUR, Paul. A memória, a história o esquecimento. Campinas, SP Editora da UNICAMP, 1998. SARLO, Beatriz. Tempo passado. Cultura da memória e guinada subjetiva. Trad. Rosa freire d`auiar. São Paulo: Cia. Das Letras; Belo Horizonte: UFMG, 2007. STIERLE, Karlheinz. A ficção. Novos Cadernos do Mestrado, Trad. Luiz Costa Lima. Rio de Janeiro: Caetés, 2006. Crítica Literária sobre Evita ACOSSANO, Benigno. Eva Perón, su verdadera vida. Editorial Lamas, Buenos Aires, Argentina, 1955. ALBORNOZ DE VIDELA, Gabriela. Evita. Editorial Luis Lasserre, Buenos Aires, Argentina, Sin fecha. 11 ARA, Pedro. El caso Eva Perón. Editorial CVS, Madrid, España, 1974. BARNES, John. Evita. La biografía. Editorial Thassalia, Barcelona, España, 1997. BARNES, John. Eva Perón: la vida legendaria de una mujer; la más amada, la más odiada, que todo el mundo conoce como Evita, Hechos reales. Madrid, España, 1979. BAUNMGARTNER, Juana M. La anti-virgen Evita. Editorial Parteluz S.L, Madrid España, 1997. CASTIÑEIRAS, Noemi. Ser Evita, síntesis biográfica. Instituto Nacional de Investigaciones”, Buenos Aires, Argentina, 2001. DUJOVNE ORTIZ, Alicia. Eva Perón, la biografía. Editorial Aguilar 1ra edición, Buenos Aires, Argentina, 1995. AS METAMORFOSES GÓTICO-ROMÂNTICAS NO DISCURSO NARRATIVO DE WUTHERING HEIGHTS, DE EMILE BRONTË Alessandro Yuri Alegrette (FAPESP) Karin Volobuef Programa de Pós-graduação em Estudos Literários – UNESP / FCLAr O objetivo da presente pesquisa é tratar do romance Wuthering Heights – O Morro dos Ventos Uivantes (1845), de Emily Brontë. A espinha dorsal de nossa abordagem é propor a discussão sobre a configuração gótica específica explorada pela autora no enredo de sua narrativa. Para grande parte da crítica literária, o romance de Brontë é uma obra híbrida: a primeira parte é gótica e a segunda realista. Por outro lado, outros estudiosos afirmaram que existe uma tendência mais forte dessa obra ser plenamente inserida no gótico, pois neste romance, Brontë além de ter retomado temas recorrentes nessa modalidade literária, tais como, o conflito entre o bárbaro e o civilizado, a dissolução entre as fronteiras entre o eu e o outro, o natural e o sobrenatural e motivos que a caracterizam (o duplo, fantasmas, criaturas sobrenaturais). Do ponto de vista da construção da narrativa, a obra combina essa atmosfera gótica com uma vertente romântica que, pode ser definida como “Byroniana”, onde se destaca a presença do herói romântico condenado a um pathos trágico e, que se caracteriza por suas 12 intensas demonstrações de sensibilidade. Dessa forma, O morro dos ventos uivantes, a exemplo de Frankenstein, de Mary Shelley, pode ser considerada uma obra que faz uma síntese do chamado “gótico-romântico” no século XIX. Além disso, a autora em seu discurso narrativo também faz alusões ao plano metafísico, remetendo assim a vários conflitos de oposição, que são sempre destacados no discurso narrativo dos romances góticos: o bem e do mal, o céu e o inferno, o natural e o sobrenatural. Assim, apesar dessa obra ter sido analisada criticamente em ensaios dentro de diferentes abordagens teóricas, mesmo após tanto tempo de sua publicação, O morro dos ventos uivantes continua suscitando questionamentos dentro do meio acadêmico sobre seu processo de criação, sua configuração gótica específica, que se diferencia de outras narrativas inseridas nesse tipo de literatura, seus pontos de intersecção com textos inseridos no gótico ou, com outras obras que mantêm uma relação de proximidade com esse gênero literário, tornando-se assim objeto de estudo deste projeto de pesquisa. Estágio atual da pesquisa No presente momento, o trabalho de pesquisa encontra-se em sua fase inicial. Até agora foram realizadas leituras e fichamentos de alguns livros que integram a bibliografia e analisam a relação de proximidade entre o romance gótico e o romantismo inglês. São eles: Gothic, de Fred Botting, The literature of Terror de David Punter, The Cambridge companion to gothic fiction, de Jerrold E. Hogle, The romantic agony, de Mario Praz, The Gothic Novel, de Victor Sage, The Gothic flame, de Devendra Varma e Introdução à literatura fantástica, de Tzvetan Todorov. Nessa primeira fase, com o propósito de se verificar como ocorre o diálogo intertextual entre a literatura gótica e o movimento romântico, foi iniciada a leitura de obras (poemas e dramas em prosa) dos seguintes poetas ingleses: Samuel Colerigde, William Wordsworth, Percy Shelley, John Keats e Lord Byron, esse último muito admirado por Emile Brontë. Ainda sobre Byron é possível constatar que os personagens de seus escritos e, até mesmo o próprio poeta, que era conhecido por seu comportamento instável e rebelde, teriam servido de inspiração para a criação do protagonista do romance de Emile Brontë: Heatchcliff, que se destaca mais pelos seus defeitos que por suas qualidades e também se 13 assemelha a outros vilões que aparecem em outras narrativas góticas publicadas na metade do século XVIII. Também é possível comprovar que os principais temas inseridos nostextos escritos por esses autores românticos, tais como: o isolamento, a alienação da realidade, o sublime como experiência estética, a rebeldia, a solidão e a morte estão presentes no discurso narrativo de Wuthering Heights. Conclui-se nesta fase inicial da pesquisa que esse romance de Emile Brontë, além de estabelecer pontos de intersecção com Frankenstein, outra obra considerada gótico- romântica, também pode ter mantido uma relação intertextual com outras obras que apresentam elementos românticos, ou góticos em sua composição e foram escritas anteriormente à sua publicação. Assim, é provável que Wuthering Heights tenha sua origem na combinação da configuração gótica, que remonta a metade do século XVIII, com o romantismo inglês do século XIX, em sua vertente “Byroniana”, onde se destacam diversas relações de oposição, mas que de algum modo se tornam ambivalentes dentro de seu discurso narrativo. Bibliografia BRAVO, NICOLE. Duplo. In: BRUNEL, Pierre. Dicionário de mitos literários. Tradução Carlos Sussekind e outros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1997. BOTTING, Fred. Gothic. London: Routledge, 1996. BRONTË, Charlote. Jane Eyre. Oxford: Oxford University Press, 1998 [1847]. BRONTË, Emile. O morro dos ventos Uivantes. Introdução, tradução, notas e dossiê: Renata Maria Parreira Cordeiro e Eliana Gurjão Silveira Alambert. São Paulo: Landy, 2005. ______. O morro dos ventos uivantes. Tradução Raquel de Queiroz. Nova Cultural: São Paulo, 1995. _____. Whutering Heigths. New York: Oxford University Press, 1950 [1847]. BRUNEL, Pierre. Dicionário de mitos literários. Tradução Carlos Sussekind e outros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1997. BURKE, Edmund. Uma investigação filosófica sobre a origem de nossas idéias sobre o 14 sublime e do belo. Tradução Enid Abreu Dobránzky. Campinas, S. P.: Papirus, 1993. COX, Jefrey. Keat’s Poetry and Prose. New York: W. W. Norton & Company, Inc, 2009. FRANK, Katherine. Emily Brontë – A chainless soul. London: Penguin Books, 1992. GILBERT, Sandra & DUBAR, Susan. Looking Oppositely: Emile Brontë’s Bible of Hell. In: ______. The Madwoman in the Acttic: The Woman Writter and the Nineteenth-Century Imagination. New Haven: Yale University Press, 1979. GUINSBURG, J. O Romantismo. São Paulo: Perspectiva, 1978. HOGLE. E. Jerrold. The Cambridge companion to gothic fiction. United Kingdom: Cambrigde University Press, 2002. JENNY, L. et al. Intertextualidades. Coimbra: Livraria Almedina, 1979. (Poétique) v. 27. KADOTA, N.P. A escritura inquieta: linguagem, criação, intertextualidade. São Paulo: Estação Liberdade, 1999. LEVINE, Alice (ed). Byron’s Poetry and Prose. United States: W.W. Norton & Company, Inc, 2010. LONGINO. Do sublime. Trad. Filomena Hirata. São Paulo: Martins Fontes, 1996. LOVECRAFT, H. P. O terror sobrenatural na literatura. Lisboa: Vega, 2003. MENGHAM, Rod. Emily Brontë –Wuthering Heigths. London: Penguin Books, 1989. MILLER, Lucasta, The Brontë myth. London: Vintage, 2002. MILTON, John. Paradise Lost. Oxford: Oxford University Press, 2005. PRAZ, Mário. The romantic agony. London: Oxford University Press, 1958. PUNTER, David. The literature of terror: a history of gothic fiction from 1765 to the present day. 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Gandini Baldan Programa de Pós-graduação em Estudos Literários – UNESP / FCLAr A pesquisa tem por um de seus objetivos encontrar no romance Niebla momentos em que as expressões ou motivos míticos encontrem nas formas de construções metafóricas uma possibilidade de leitura, ou releitura, original. E, a partir da possível comprovação dessa tese – encontrar no texto unamuniano abordagens originais de motivos recorrentes na literatura, feitas através de procedimentos metafóricos – levantar questões a cerca da relação metalinguagem/metáfora e mito. Como por exemplo, a própria dicotomia “mito/literatura”, pensando-se na possibilidade de encontrarmos aí alguma maneira de oposição, desloca o mito para um lugar que normalmente não é o seu, ou seja, o afasta do pensamento lúdico e parabólico para aproximá-lo, por contraposição à linguagem poética, ao pensamento linear e denotativo. Porém, ao invés de observarmos isso, pejorativamente, como uma forma de enfraquecimento da linguagem mítica, podemos ver tal fenômeno como um descortinamento de uma das faces dessa expressão, a qual revela a presença – e a importância que deve ser analisada dentro do romance – do logos, no sentido de razão, como elemento fundamental na leitura do mito. Assim, uma possível questão a ser abordada é como uma narrativa de origem mítica, dentro de um universo predominantemente estético, realiza o papel de “voz da razão”, aproveitando-se da sua ligação com a metáfora e trazendo para a literatura, ao menos para a 16 de Unamuno, a representação do “mundo real”. Em alguns casos, essa aparição do logos (a razão ou o plano empírico) no romance será realmente um choque gerador de tensões dentro do texto, em outros será o pano de fundo para, mais ainda, destacar (ou, até mesmo, criar) a “desconcertância” do mundo irreal. No caso de Niebla, o mundo do real-poético unamuniano. Acerca dessa proposição a tese trata de alguns temas ou motivos de origem mítica que são recorrentes no pensamento de Don Miguel de Unamuno, tais como, o mito da imortalidade, ligado ao mito da criação e do Paraíso. Esse é um mito do desejo de eternidade que normalmente, na história da literatura, aparece interpretado como a procura existencial do homem. O qual é, na verdade, mais um motivo literário que propriamente um mito, e que pode ser relacionado a várias imagens, como a rebeldia dos homens perante os deuses na Grécia antiga, o mito de Prometeu, ou outros, em que a ousadia do homem que quer ser deus é punida. Como talvez seja o caso de Niebla, onde o herói Augusto é punido pelo autor pela sua ousadia de desafiar seu poder. Parece importante ainda, para o desenvolvimento da tese, ter em vista os textos que expressem relevância para o assunto e sejam recolhidos em outras obras e em outros momentos da produção crítica, filosófica e literária do autor. Como, por exemplo, o ensaio crítico “Como se Hace Una Novela”, publicado em 1927, onde Unamuno vai expor suas idéias teórico-narrativas, centrando suas reflexões no conceito do romance como um gênero aberto. Héteme aquí ante estas blancas páginas - blancas como el negro porvenir: ¡terrible blancura!- buscando retener el tiempo que pasa, fijar el huidero hoy, eternizarme o inmortalizarme en fin, bien que eternidad e inmortalidad no sean una sola y misma cosa. Héteme aquí ante estas páginas blancas, mi porvenir, tratando de derramar mi vida a fin de continuar viviendo, de darme la vida, de arrancarme a la muerte de cada instante. (UNAMUNO, 1999, p.01) A pesquisa se dá fundamentalmente pela análise do romance Niebla (névoa) (UNAMAUNO, 1914), em linhas gerais do corpo completo do texto, visto como um todo coerente e representativo do pensamento unamuniano e, mais detalhadamente de algunsepisódios do romance, considerados importantes para compor uma linha a ser estudada, dados os propósitos do trabalho. 17 O suporte teórico para o estudo do mito está centrado, principalmente, nas proposições de Mircea Eliade, tal como, a noção de “deus vivo” (ELIADE, 2003), onde o deus do mito nunca é uma idéia, uma noção abstrata ou uma simples alegoria moral. É, pelo contrário, um poder terrível, manifestado na “cólera”, ou no pathos, divino. Também é importante a definição de mito que relaciona questões como a construção da narrativa, a posição de quem fala, o “de onde se fala”, a ligação íntima da “forma” do relato com o modo de rito resultante e as maneiras de recepção do relato mítico, principalmente ao que se refere à distinção entre “real” e “simbólico”. Todas estas pontuações podem levar a questões instigantes e serem de extrema pertinência na análise da narrativa de Unamuno. A exemplo do trecho descrito abaixo, se pensarmos numa relação extensa entre as formas do relato mítico e do romance moderno. O mito conta uma história sagrada, quer dizer, um acontecimento primordial que teve lugar no começo do Tempo, ab initio. Mas contar uma história sagrada equivale a revelar um mistério, pois as personagens do mito não são seres humanos: são deuses ou Heróis civilizadores. Por esta razão suas gesta constituem mistérios: o homem não poderia conhecê-los se não lhe fossem revelados. O mito é pois a história do que se passou in illo tempore, a narração daquilo que os deuses ou os Seres divinos fizeram no começo do Tempo. “Dizer” um mito é proclamar o que se passou ab origine. Uma vez “dito”, quer dizer, revelado, o mito torna- se verdade apodítica: funda a verdade absoluta. (ELIADE, 1996, P.50) A abordagem teórico-literária do trabalho consiste em relacionar as teorias de cunho histórico e social que tratem do romance como expressão fundamental de um pensamento identificável com certa camada social, no caso, a burguesia. E que a partir desse modelo – amálgama complexo e talvez irrealizável de muitas formas de escrita: epopéia, romance de aventura, romance de formação, etc. – se possa identificar um novo aspecto do romance, chamado “romance moderno”. Os procedimentos narrativos inovadores e a busca por novas possibilidades de expressão dentro de uma fórmula já consagrada são, em Niebla, a concretização de um projeto que já apontava, e aflorou no romance de Unamuno, como indicador de novos caminhos, de uma nova tradição. Niebla é, assim, um romance, uma nivola, coerente com uma “modernidade” que tem como característica fundamental a adoção de valores negativos, a ruptura, a fragmentação e a própria crítica do “moderno”, sua autocrítica (PAZ, 1996). 18 Portanto, toda fundamentação teórica que trate da narrativa sob tal perspectiva, seja de “poética moderna” como em Octavio Paz (1996), seja de “crise do romance” como em Walter Benjamin (1994), e dos caminhos que foram percorridos pela prosa ocidental, a partir do início do séc. XX, é pertinente como comprovação ou refutação das proposições que surjam a partir da análise do corpus principal da tese. Bibliografia BACHELARD, G. A Poética do Espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1989. 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(1ª ed.: 1914) JULES LAFORGUE E CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE: A IRONIA E A CONSTRUÇÃO DO GAUCHE Aline Taís Cara Pinezi (CAPES) 20 Guacira Marcondes Machado Leite Programa de Pós-graduação em Estudos Literários – UNESP / FCLAr Após estudos de autores inseridos no Simbolismo brasileiro, o gosto pelo movimento cresceu, sobretudo no que diz respeito à escrita irônica. Assim, surgiu o interesse pelo poeta francês Jules Laforgue (1860-1887). Jules Laforgue foi um importante decadentista/simbolista cuja obra perpassa estes dois movimentos literários; seguiu, segundo denominação de Wilson (1967), a corrente “coloquial-irônica” do simbolismo, fazendo uso, portanto, de recursos como ironia, crítica, paródia, humor e dissonância. O escritor nasceu em Montevidéu, Uruguai, de pais franceses, e aos seis anos de idade mudou-se para a França. Por isso, escreveu em francês e também realizou traduções de autores estrangeiros para o idioma adotado; dentre estes, Walt Whitman. Em 2009, após a conclusão do Mestrado, pensamos em dar continuidade aos estudos da ironia e também da oralidade, visto que este é um campo muito vasto, sobretudo no que diz respeito às composições do poeta francês, repletas de recursos, de intertextos, de vocabulário próprio e de jogo de palavras. No entanto, o objetivo era não somente aprofundar as pesquisas laforguianas, mas sim comparar seus poemas a outros de um poeta brasileiro que fosse, de fato, leitor e adepto de algumas técnicas presentes em Jules Laforgue. Optou-se, então, por Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987), devido à ausência de estudos comparativos entre ambos. Drummond é, reconhecidamente, um dos grandes nomes da literatura brasileira; e sua poética é perpassada por peculiaridades e inovações vocabulares, métricas e estéticas. Um dos recursos presentes em seus poemas é a ironia, muito parecida no tom com a utilizada por Laforgue. Em vista disso, decidiu-se aproximar as leituras das composições de ambos, a fim de comprovar, por meiode exemplos, as semelhanças existentes na poética de ambos. Sobre Jules Laforgue, a crítica, desde meados do século XX, tem reconhecido a importância para a poesia subsequente à sua, visto que o poeta figurava à frente de seu tempo, com relação a características e recursos que utilizava. Ele foi, de certa forma, eclipsado pelos seus contemporâneos tão conhecidos: Baudelaire, Mallarmé, Rimbaud e Verlaine; todavia pode e deve ser inserido entre os grandes nomes dessa época literária, ou seja, da modernidade poética, pois sua obra tem características que perpassam o 21 Decadentismo e o Simbolismo. Os escritos surpreendentes e as características inovadoras é que fazem dele o inspirador e mestre de poetas como Ezra Pound e T. S. Eliot. O Decadentismo foi um movimento anterior ao Simbolismo, com teor mais pessimista e negativista. O Simbolismo, contudo, teve duas vertentes: a “sério-estética”, comumente estudada, abordando o culto, o sonho, a musicalidade, a sugestão e a indefinição; e a menos estudada, a “coloquial-irônica”, segundo denominação de Wilson (1967), a qual é representada por Laforgue e Corbière (ambos foram incluídos no movimento simbolista por T. S. Eliot, que enxergou na obra deles uma poesia tão representativa quanto a de Baudelaire, Rimbaud, Verlaine e Mallarmé), marcada pelo uso de temas do cotidiano, pelo emprego da linguagem oral e irônica. Segundo Hamburger (2007), estes dois escritores discutiram, em suas composições, a obra inicial de Rimbaud, o spleen e o idéal de Baudelaire. A corrente na qual se inseriam, diferente da “sério-estética” - que cultiva o mistério, o vago, o indizível, o sonho, o invisível, tendo poetas que se habitam “torres de marfim”, à margem da sociedade, pois não encontram nela o seu lugar, sendo chamados de nefelibatas - não visava dar um sentido mais puro às palavras; ao contrário, pretendia colocar em confronto as torres de marfim e o mundo fin-de-siècle, porque se preocupava com o cotidiano e o tematizava. É nesta vertente que se pautam os recursos utilizados nas composições de Laforgue. Este possui uma escrita inovadora, na qual se reconhece a presença da oralidade, da ironia, do humor e da crítica. Ele consegue unir o incompatível, aquilo que parece ser essencialmente diferente: o lirismo e o humor. Além disso, utiliza a paródia, a alegoria, o pastiche e a caricatura com o propósito de imbuir efeito às suas criações, apresentando um ideal poético que perpassa o discurso clownesco, minucioso e excêntrico. Seus procedimentos poéticos podem ser encontrados em poetas que o seguiram, entre os quais os nossos modernistas Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira. Aproximam-se também dos mecanismos empregados por Laforgue os poemas de dois simbolistas brasileiros: Pedro Kilkerry (1885-1917) e Marcelo Gama (1878-1915). Laforgue exerceu influência sobre grandes autores como Cummings, Willianns, Crane, Dylan Thomas, além de Eliot e Pound. Este (1976, p.120) apontou toda a importância que deve ser creditada a Laforgue “talvez [...] o mais sofisticado dos poetas franceses”. 22 Mário Faustino (1976) diz ainda que o poeta é um jovem de gênio preparando o mundo para o que virá; é, portanto, um poeta do século XX, mais do que do XIX, um visionário figurando entre os poetas maiores. Este é um dos fatores que ofuscou o poeta diante do olhar da crítica; além de ser um dado que o aproxima dos escritos que Drummond arriscaria um século depois. Os autores da modernidade buscavam revolucionar a linguagem, limpá-la por meio do uso do sentido etimológico, da conotação, das combinações inesperadas, entre outros procedimentos. Laforgue atinge o mais alto grau na revolução de seu vocabulário. Essa peculiaridade do poeta francês pode ser observada e analisada também nos poemas de Carlos Drummond de Andrade, como mostra de influência e concordância com mecanismos de escrita citados. Dessa forma, o que se pretende neste trabalho é apresentar recursos que são caros a ambos os escritores e, após este estudo, analisar comparativamente alguns poemas de modo a comprovar a semelhança de ferramentas discursivas como formadoras de estilo. Vale ressaltar que o intuito principal da comparação do autor francês com o brasileiro é aproximar a construção da ironia “fina” presente em Drummond, um dos grandes poetas da literatura brasileira, à utilizada por Laforgue, mostrando a semelhança na construção da ironia e do humor, bem como o uso particular desses recursos construindo a noção do poeta gauche, “torto”, “canhestro”, em face de si e do mundo, que não consegue se encaixar em um contexto social, pois apresenta um “eu” insatisfeito com o mundo conflituoso, buscando, desejando encontrar um sentido para sua vida. Com relação aos poemas de Laforgue, é possível, através deles, enxergar o universo decadente do período em que escrevia; o mundo industrial instalando-se e instigando as críticas do poeta. Estas recaem não apenas sobre o ritmo acelerado das cidades, mas também sobre aqueles que decidem isolar-se da sociedade, sentindo-se alheios ao mundo, refugiando-se em torres de marfim. Laforgue, diferentemente de outros poetas, desaprova esse isolamento, critica os que se prendem a convenções poéticas e, como solução, inova, modifica os moldes vigentes inventando uma nova linguagem e, consequentemente, uma nova poesia, utilizando sua bagagem intelectual para fazer crítica. Sendo assim, precisa de um leitor que desenvolva um atento trabalho de investigação e reflexão. 23 O mesmo ocorre em Drummond: seus poemas revelam a agitação do mundo moderno, o individualismo decorrente; propõe a liberdade das palavras, a liberdade do idioma cativo das convenções poéticas usuais, criando uma modelação poética à margem de normas e regras de escrita. Apropria-se do verso livre, flexibiliza o ritmo e mostra que não é necessário um metro fixo para se escrever bons poemas. Por conseguinte, Drummond, assim como o poeta francês, figura outra face moderna: mais objetiva e mais concreta do que lírica. Estágio atual da pesquisa A pesquisa encontra-se em desenvolvimento. Estou no segundo ano de Doutorado e, no momento, cumpro meus créditos obrigatórios e continuo lendo os exemplares que constam na bibliografia. Ainda não iniciei as análises comparativas de poemas, de forma pontual. Tenho percebido as semelhanças apenas de modo geral. Além disso, por já trabalhar com Jules Laforgue anteriormente, minha bibliografia ainda apresenta menos textos referentes a Drummond. Vale ainda ressaltar que o Programa de Pós-Graduação permite que enviemos somente cinco páginas contendo o andamento da pesquisa e a bibliografia, o que dificulta uma descrição detalhada do trabalho. Bibliografia ALLEMANN, B. De l’ironie en tant que príncipe littéraire. In: Poétique. nº 36, nov. 1978. ANDRADE, Carlos Drummond de. Farewell. Rio de Janeiro: Record, 1996. ANDRADE, Carlos Drummond de. Literatura Comentada. Seleção de textos, notas, ANDRADE, Carlos Drummond de. Obra completa. 5. ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1979. ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundo. 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Um dos gêneros cultivados pelos simbolistas foi o poema em prosa, pois sua estrutura permitia uma maior liberdade rítmica, sendo que mais tarde, no Modernismo, isso se desenvolveria para outras experimentações poéticas mais ousadas. Portanto, os estudos literários sobre o simbolismo, contribuem para a compreensão das bases fundadoras da literatura moderna e contemporânea. 28 Em nosso projeto de pesquisa buscamos analisar e comparar os poemas em prosa do autor brasileiro João da Cruz e Sousa e do nicaraguense Ruben Darío, fazendo sempre um paralelo com a teoria já publicada acerca desse gênero. O cotejo dos dois poetas certamente permitirá avaliar aspectos importantes do simbolismo nas Américas, bem como verificar como nos dois autores o poema em prosa se faz um gênero poético moderno. Como a pesquisa ainda se encontra em estágio inicial nossos objetivos estavam focados em três pontos principais, sendo eles: leitura e conhecimento das obras a serem analisadas; leitura de algumas obras teóricas relacionadas ao período literário em que as obras estão inseridas (Simbolismo) e obras teóricas sobre o gênero poema em prosa. No projeto inicial nos propusemos a analisar a obra “Missal” (1893) de João da Cruz e Sousa, composta de 45 poemas em prosa voltados para o lado estético e impressionista que se assemelham mais aos poemas em prosa de Ruben Darío. Já os poemas em prosa do autor nicaraguense estão distribuídos por várias de suas obras, dentre elas: Azul (1888), Cantos de vida y de esperanza (1895), El canto errante (1907), Prosa dispersa (1919) e alguns sobre o nome de Cuentos y crônicas no volume XIV de suas Obras Completas, dificultando a restrição do corpus em relação a datas de publicação. A partir das leituras e pesquisasdesse semestre optamos então por utilizar um livro argentino cuja primeira publicação data de 1948 e contém uma compilação de 25 poemas em prosa retirados de diversas obras de Darío. Foram feitas leituras dos poemas de ambos os poetas e anotações acerca das primeiras impressões e das possíveis aproximações entre os autores para que sejam a base do aprofundamento que será realizado posteriormente. O que pudemos notar de início é que a linguagem de Cruz e Sousa é bem mais rebuscada que de Ruben Darío, trazendo mais elementos pictóricos e sonoros. Apesar de Darío também utilizar o pictórico e o sonoro, suas imagens poéticas são embasadas mais nas referencias intertextuais e culturais, ou seja, ele constrói as imagens através de elementos culturais, veja-se um exemplo: Es un mar de pizarra, con una multitud de florecimientos de nieve, es un mar gris oscuro, con mil puntos en donde estallan copos de espuma. Chente Quirós me llamó poeta niño. ¡Pornógrafo! No me subleva el adjetivo. Víctor Hugo da ese nombre al formidable anciano Homero. 29 Pero en el Océano me siento niño. Siento siempre aquella primera impresión de las potentes aguas inmensas; siento lo que tan admirablemente expresó Pierre Loti (…). (Trecho do poema “En el mar” de Ruben Darío) Ó mar! Estranho Leviatã verde! Formidável pássaro selvagem, que levas nas tuas asas imensas, através do mundo, turbilhões de pérolas e turbilhões de músicas! Órgão maravilhoso de todos os nostalgismos, de todas as plangências e dolências… Mar! Mar azul! Mar de ouro! Mar glacial! (Trecho do poema “Oração ao mar” de Cruz e Sousa) A partir desses pequenos trechos tirados de dois poemas que tem como temática o mar, já podemos notar que a escrita de Darío utiliza bem mais elementos intertextuais, pois somente nesse trecho há quatro citações extratextuais (Chente Quirós, Victor Hugo, Homero e Pierre Loti). O eu lírico não nos diz claramente aquilo que sente em relação ao mar, diz sentir aquilo que Pierre Loti1 expressou em seus poemas, ou seja, o sentimento do eu lírico é criado através das suas referências culturais e não somente pelo seu sentimento frente ao objeto poético. As referências intertextuais são bastante abundantes nos poemas em prosa de Darío, enquanto que Cruz e Sousa explorava a intertextualidade em imagens poéticas por meio de comparações como em “Leviatã verde”, comparando o mar à criatura mitológica. Note-se também que o ritmo dos dois poemas são diferentes, no primeiro o tom prosaico é mais notável “No me subleva el adjetivo. Víctor Hugo da ese nombre al formidable anciano Homero”, a construção da frase é mais linear e direta, enquanto que no segundo a evocação ao sol e os ritmos binários dão um tom mais poético ao texto como em “Órgão maravilhoso de todos os nostalgismos, de todas as plangências e dolências”. Das obras relacionadas ao período literário, aprofundamos algumas leituras prévias como “El movimiento Simbolista” de Anna Balakian e “O castelo de Axel” de Edmund Wilson, fazendo uma leitura mais atenta, resumindo as obras e retirando conceitos importantes para a compreensão do período denominado Simbolista. O movimento Simbolista tinha como uma das propostas mais importantes a expressão da musicalidade da 1 Pierri Loti foi um escritor francês do período do Romantismo. Por ser da marinha, sempre utilizava a vida no mar como tema de suas obras. 30 poesia. Desprezando aquilo que era visível nas coisas, procuravam sugerir ao invés de mostrar. Ferramentas abstratas como a música e os símbolos seriam mais propícias para isso. “Para os simbolistas, portanto, fazer poesia implica a tentativa de expressar fugidia, que merece necessariamente uma forma de expressão condizente com ela, também vaga, indecisa” (BALAKIAN, 1985, p.28). As bases para o Simbolismo e, consequentemente, para a poesia moderna remontam ao Romantismo, que já apresentava o início tímido das quebras com o passado poético, iniciando uma pequena inovação. Isso permitiu um legado de consciência de representação poética que seria trabalhado pelas gerações de poetas futuros, sendo modificadas e aprofundadas. Segundo FRIEDRICH (1956, p.30) “a poesia moderna é o Romantismo desromantizado”. Sobre o gênero poema em prosa, nossa pesquisa foi enriquecida com a leitura da obra principal sobre o assunto “Le poème em prose de Baudelaire jusqu’à nos jours” de Suzanne Bernard, uma obra importante e pioneira que procura abranger a teoria sobre o gênero e ainda enumera vários autores que se dedicaram a escrita do poema em prosa, demonstrando as características inerentes a cada um. Além dessa obra também houve a leitura de outras obras relevantes para a pesquisa como “Lire le poème em prose” de Michel Sandras e “Configurações do poema em prosa” de Ângela Varela, ambos seguindo o estilo de Suzanne Bernard, apresentando uma parte teórica e discussões sobre o gênero poema em prosa desde a origem até os dias de hoje, passando pelas diferenciações entre poesia e prosa e finalizando com o estudo individual de alguns autores demonstrando as várias formas que o poema em prosa pode assumir dependendo do autor e da época. Isso nos possibilitou compreender a criação poética e as variadas formas de representação do poema em prosa em autores de diferentes períodos literários. Algo que nos preocupa também no projeto é a discussão sobre os limites entre poesia e prosa e assim poder demonstrar o poema em prosa enquanto gênero independente e não somente fusão entre poesia e prosa. Apesar de tão enraizada na Literatura Francesa, a questão do poema em prosa continua, ainda hoje, em aberto, suscitada pela controversa delimitação dos modos literários (VARELA, 2011, p.66). Também foram de grande valia as leituras de teses e dissertações acerca do tema, destacando a tese de doutoramento “Pela volúpia do vago: O Simbolismo. O poema em prosa nas literaturas portuguesa e brasileira” do professor Doutor Antonio Donizeti Pires em que ele discorre sobre o gênero estudado em nossa pesquisa, fazendo uma abordagem 31 bastante completa de forma histórica e teórica sobre o tema, além de fazer o estudo da obra “Missal” de Cruz e Sousa. Outra tese interessante foi “Um poeta simbolista na República Velha: literatura e sociedade em Missal de Cruz e Sousa” de Jefferson Agostini Mello que nos possibilitou outra visão acerca da obra de Cruz e Sousa diferente da primeira tese citada. Teses e trabalhos específicos sobre o poema em prosa de Ruben Darío são bem escassas no Brasil, sendo que nos parece que o interesse por essa parte da obra do poeta é maior nas Universidades estrangeiras, dos EUA e da Espanha. Com a evolução da pesquisa espera-se elucidar os pontos que ainda estão em fase inicial, levantando hipóteses e discussões para que sejam aplicados ao corpus posteriormente, visando sempre contribuir para os estudos sobre o Simbolismo e do gênero poema em prosa. Bibliografia BALAKIAN, Anna. El movimiento simbolista. Madrid: Ediciones Guadarrama, 1969. BERNARD, Suzanne. Le poème em prose de Baudelaire jusqu’à nos jours. Paris : Nizet, 1959. CRUZ E SOUSA, João da. PÉREZ, José (org.). Missal, Evocações. In: Cruz e Sousa: Prosa. 2 ed. São Paulo : Cultura, 1945. v. 2. pp.5-126. (Série Clássica Brasileiro- Portuguesa, Os mestres da língua, 14). Versão online disponível em http://www.4shared.com/file/mExm2uIi/Missal-CruzeSousa-wwwLivrosGra.html Acesso em 20/08/2011. DARÍO, Ruben. Obras completas. Madrid: Editorial Mundo Latino, s/d. DARÍO, Ruben. Poemas en prosa. 2ª ed. Buenos Aires: Colección Austral, 1948. FRIEDRICH, Hugo. Estrutura da lírica moderna: da metade do século XIX a meados do século XX. 2.ed. SP: Duas Cidades, 1991. GALE, Leonore V. Ruben Darío y el poema en prosa modernista. The City University of New York. Versão online. Disponível no endereço eletrônico www.ucm.es/BUCM/.../ALHI7575110367A.PDF.Acesso em 22/08/2011 MELLO, Jefferson Agostini. Um poeta simbolista na República Velha: Literatura e sociedade em Missal de Cruz e Sousa. Universidade de São Paulo, 2004. (Tese de doutoramento). 32 MURICY, José Cândido de Andrade. Para conhecer melhor Cruz e Sousa. Rio de Janeiro: Bloch Editores, s/d. PAZ, Octavio. O arco e a lira. Tradução de Olga Savary. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982. (Coleção Logos) PIRES, Antônio Donizeti. Pela volúpia do vago: O Simbolismo. O poema em prosa nas literaturas portuguesa e brasileira. 2002. Tese (Doutorado em Estudos Literários) – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Araraquara. v. 1 e 2. SANDRAS, Michel. Lire le poème en prose. Paris: Dunod, 1995. (Coll. Lettres Sup). TORREMOCHA, María Victoria Utrera. Teoría del poema en prosa. Sevilla: Universidad de Sevilla, 1999. VARELA, Ângela. Configurações do poema em prosa: de Notas Marginais de Eça ao Livro do Desassossego de Pessoa. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da moeda, 2011. WILSON, Edmund. O castelo de Axel: Estudo sobre a literatura imaginativa de 1870 a 1930. São Paulo : Companhia das Letras, 2004. TRAJETÓRIA DE UM CRESCIMENTO: CAMINHOS EMPÍRICOS, PRAGMÁTICOS E INTUITIVOS Amauri Faria de Oliveira Filho Maria Célia de Moraes Leonel Programa de Pós-graduação em Estudos Literários – UNESP / FCLAr O presente estudo volta-se para a análise dos recursos narrativos e poéticos da prosa de Guimarães Rosa, especificamente na novela “Campo geral” com o propósito de configurar a sensibilidade e intuição do protagonista, em seu processo de amadurecimento, que ganha vida na voz de um narrador com o qual, por vezes, se confunde. Para tal, o trabalho assume como base a obra Discurso da Narrativa de Gerard Genette [197-], na qual o teórico francês aponta a voz, o modo e o tempo como os aspectos constitutivos e geradores de sentido no texto literário. No primeiro momento da pesquisa, foram levantados os aspectos narrativos e seus efeitos de sentido na obra em questão. Em “Campo geral”, Rosa destramente brinca com o que Genette chamou de “[...] fronteira oscilante, mas sagrada, entre dois mundos: aquele em que se conta, aquele que se conta (GENETTE, [197-], p. 235). O narrador é 33 heterodiégetico e, portanto, não participa da história. A focalização da narrativa, no entanto, é interna fixa, pois ele assume o ponto de vista do menino de apenas oito anos, adotando seu código de valores em construção e os impasses de seu aprendizado e amadurecimento, na busca de um entendimento sobre o mundo e sobre os homens. Essa característica, aliada ao trabalho com a linguagem na prosa poética peculiar do escritor mineiro, concede um caráter peculiar ao texto preenchendo-o de possibilidades de leitura. Esses primeiros estudos conduziram a revelação de que se, no que diz respeito ao tempo da narração, em “Campo geral” predomina a narrativa ulterior, posição clássica da instância narrativa, com diversos movimentos anacrônicos de analepse como é comum no romance, foi possível observar que nesses momentos, o narrador mimetiza a memória do protagonista que, por se tratar de uma criança, tem maiores dificuldades em conseguir recuperar por inteiro o passado vivido do que o adulto. A instância narrativa, construtora de um discurso que narra uma história rica, apresenta-a porém, repleta de lacunas, tanto do passado quanto do presente, pois visa reconstituir o quadro de uma memória ora dotada de clareza, ora vaga para resgatar o vivido pela criança. Esse vazios, longe de serem um revés ao entendimento do texto, preenchem-no de potencialidades, fazendo de cada leitura uma descoberta. No nível narrativo, “Campo geral” apresenta um narrador extradiegético, modulado pelo olhar do protagonista intradiegético que, por sua vez, assume, em certos momentos, o papel de contador de histórias aos irmãozinhos em nível hipodiegético. Novamente, há total harmonia entre os recursos utilizados, pois o fato de entreter os irmãos com suas fantasias/mentiras ajuda a construir a imagem de uma personagem que não é apenas ator da diegese, mas também participa da criação. De volta à categoria tempo, no que diz respeito à relação entre a duração da história e a do discurso, de acordo com as proposições de Genette (197-, p.85), é possível notar em “Campo geral” que há situações de aceleração e desaceleração da velocidade da narrativa, particularmente em ocasiões em que algum acontecimento na vida de Miguilim afeta sua própria percepção do tempo. Assim, na ocasião em que Tio Terêz lhe pede para levar um bilhete secreto para sua mãe e trazer a resposta no dia seguinte, a dúvida moral sobre ser fiel ao tio ou ao pai, a dúvida respeito de “[...] como é que a gente sabe certo como não 34 deve de fazer alguma coisa, mesmo os outros não estando vendo” (ROSA, 2001, p. 86), impregna o texto de lentidão – são necessárias treze páginas para a passagem de um dia. Por outro lado, a cena do encontro com o doutor José Lourenço, a revelação da sua miopia e a decisão e partir para a cidade (marcando o encerramento da história), cuja duração também é de apenas um dia, se desenrola em plena aceleração em quatro páginas. Esses exemplos de anisocronias entre o tempo da história e o tempo do discurso na narrativa cujo protagonista é o menino Miguilim apontam para as peculiaridades do mundo da criança, construindo seu universo de valores em contato com adultos, particularmente no que se refere a tomar decisões. A resolução sobre a partida pertence, de fato, à Mãe, que chega a lhe perguntar se ele que ir, mas demonstra claramente que já decidiu a respeito do destino do filho. Já deliberar sobre a entrega do bilhete de Tio Terêz é uma atividade solitária, que não pode ser compartilhada nem com Dito, sob pena de romper a promessa feita ao tio. Decidir sozinho, quando se tem apenas oito anos ou pouco mais, requer tempo e muita coragem. Finalmente, ainda quanto à categoria do tempo, mas agora em relação à frequência, vale ressaltar que alguns fatos que passaram uma vez, aqueles mais marcantes, são contados várias vezes. Entre eles está o episódio da cachorrinha Cuca Pingo-de-Ouro, o mais querido entre todos os animais que viveram com a família e que o pai “tinha dado para estranhos” (ROSA, 2001, p.35) e com maior destaque a astúcia, os ensinamentos e a saudade de Dito, que, ao morrer, deixa vazio o mundo de Miguilim: “Os lugares, o Mutúm – se esvaziavam, numa ligeireza, vagarosos.” (ROSA, 2001, p. 122). A despeito das repetições, os episódios recontados não são monótonos. A cada recontar, lança-se sobre o evento uma nova luz, um novo olhar, um novo entendimento que buscam sugerir ao leitor o caminho de amadurecimento do protagonista. Cotejando os ensinamentos de Genette com as considerações que Auerbach (1971) tece a respeito da objetividade e da subjetividade no romance moderno, particularmente em relação ao romance “To the lighthouse” de Virginia Woolf, levantei, ainda no primeiro momento dos estudos, relações entre os movimentos de aproximação e afastamento presentes em “Campo geral”. O jogo com a distância imprime ao texto rosiano, a princípio, um caráter enigmático a respeito do papel do narrador que dá vida à diegese, por meio do ato narrativo produtor do discurso, e aquele que vê. Assim, aquele que fala e o que vê ora 35 se aproximam e se imbricam, ora se afastam. Além disso, essa característica imprime dinamismo e subjetividade à obra, pois não há uma câmera fixa, que de forma isenta ou imparcial, acompanha o desenrolar das ações. Em “Campo geral”, a narrativa alterna momentos em que imperam os conhecimentos objetivos do narrador heterodiegético tradicional e momentos em que os pensamentos e sentimentos do protagonista imprimem subjetividade unipessoal ao texto. Da leitura de texto de Auerbach (1971) sobreposta à novela rosiana emerge a seguinte questão:
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