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anais-seminario-2012

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1
ANAIS 
 
XIII SEMINÁRIO DE PESQUISA DO PROGRAMA 
DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS LITERÁRIOS: 
RELAÇÕES INTERSEMIÓTICAS E I SEMINÁRIO 
INTERNACIONAL DE SEMIÓTICA 
 
 
15 a 19 de outubro de 2012 
 
 
UNESP – Universidade Estadual Paulista 
Faculdade de Ciências e Letras 
Campus de Araraquara 
 
 
 
 2
Vice-Reitor no exercício da Reitoria 
Julio Cezar Durigan 
 
Diretor 
José Luis Bizelli 
 
Vice-Diretor 
Luis Antonio Amaral 
 
Comissão Organizadora 
 
Adalberto Luis Vicente 
Brunno Vinicius Gonçalves Vieira 
Cristiane Passafaro Guzzi 
Márcio Thamos 
Marco Aurélio Rodrigues 
Maria de Lourdes Ortiz Gandini Baldan 
Maria Teresa de França Roland 
 
Comissão Científica 
 
Arnaldo Cortina 
Elisabeth Brait 
Diana Luz Pessoa de Barros 
Diana Junkes Martha Toneto 
Lúcia Teixeira de Siqueira e Oliveira 
José Luiz Fiorin 
Jean Cristtus Portela 
Sérgio Vicente Motta 
Ivã Carlos Lopes 
Rejane Cristina Rocha 
Renata Maria Facuri Coelho Marchezan 
Tânia Pelegrine 
 
Apoio 
 
 
 3
SUMÁRIO 
 
Lista de Autores – Projetos de Pesquisa 
 
Alejandro Gonzáles Urrego................................................................................................ 7 
Alessandro Yuri Alegrette................................................................................................ 11 
Alexandre Silveira Campos.............................................................................................. 15 
Aline Taís Cara Pinezi ..................................................................................................... 19 
Allyne Fiorentino de Oliveira........................................................................................... 27 
Amauri Faria de Oliveira Filho ........................................................................................ 32 
Ana Carolina Negrão Berlini de Andrade ......................................................................... 37 
Ana Paula Dias Ianuskiewtz............................................................................................. 49 
André Luiz Rodriguez Modesto Pereira ........................................................................... 58 
Andrea Cristina Martins Pereira ....................................................................................... 63 
Audrey Castañón de Mattos ............................................................................................. 69 
Beatriz Moreira Anselmo ................................................................................................. 77 
Candice Angélica Borborema de Carvalho ....................................................................... 82 
Carlos Eduardo Monte ..................................................................................................... 91 
Cátia Cristina Bocaiuva Maringolo .................................................................................. 99 
Cristal Rodrigues Recchia ...............................................................................................103 
Cristiane Passafaro Guzzi................................................................................................109 
Daiane Rassano...............................................................................................................116 
Daniel Rossi ...................................................................................................................123 
Daniela Aparecida da Costa ............................................................................................128 
Emerson Cerdas ..............................................................................................................139 
Érika Bergamasco Guesse...............................................................................................144 
Fabiana Abi Rached de Almeida .....................................................................................152 
Fabiana Angélica do Nascimento ....................................................................................156 
Fábio Gerônimo Mota Diniz ...........................................................................................162 
Fabiola Maceres Silva.....................................................................................................173 
Fernando Góes................................................................................................................180 
Franco Baptista Sandanello .............................................................................................184 
Giulliana Santiago...........................................................................................................190 
Hellen Viviane Rodrigues ...............................................................................................197 
Isabella Unterrichter Rechtenthal ....................................................................................204 
Islene França de Assunção ..............................................................................................211 
Jacob dos Santos Biziak ..................................................................................................217 
Joana Junqueira Borges...................................................................................................222 
Joana Prada Silvério........................................................................................................226 
João Jorge da Silva Pereira..............................................................................................232 
Joyce Conceição Gimenes Romero .................................................................................236 
Júlia Mara Moscardini Miguel ........................................................................................242 
Julio Cezar Bastoni da Silva............................................................................................247 
Kedrini Domingos dos Santos.........................................................................................254 
Laura Lopes de Oliveira..................................................................................................257 
Leonardo Vicente Vivaldo ..............................................................................................262 
Levi Henrique Merenciano..............................................................................................270 
 4
Ludmila Giovanna Ribeiro de Mello ...............................................................................278 
Marco Aurélio Rodrigues................................................................................................284 
Marcus Vinícius Benites .................................................................................................291 
Mariana Bravo de Oliveira ..............................................................................................299 
Mariana Funes ................................................................................................................306 
Mariana Veiga Copertino Ferreira da Silva .....................................................................312 
Mariângela Alonso..........................................................................................................316 
Marília Gabriela Malavolta .............................................................................................320 
Marli Cardoso dos Santos ...............................................................................................327 
Naiara Alberti Moreno ....................................................................................................335 
Natali Fabiana da Costa e Silva.......................................................................................340 
Natália Pedroni Carminatti..............................................................................................345 
Natasha Vicente da Silveira Costa...................................................................................352 
OlíviaDias Queiros ........................................................................................................358 
Patrícia Aparecida Antonio .............................................................................................363 
Patrícia Helena Baialuna de Andrade ..............................................................................370 
Patricia Magazoni Gonçalves ..........................................................................................375 
Paula Aparecida Volante.................................................................................................387 
Pollyanna Souza Menegheti ............................................................................................393 
Priscila Maria Mendonça Machado .................................................................................402 
Rafael Trindade dos Santos.............................................................................................406 
Raíssa Medici de Oliveira ...............................................................................................411 
Regina Alves Mendes .....................................................................................................416 
Renata Acácio Rocha ......................................................................................................422 
Renato Alessandro dos Santos.........................................................................................429 
Rosana Munutte da Silva ................................................................................................436 
Rosária Cristina Costa Ribeiro ........................................................................................444 
Roseli Deienno Braff ......................................................................................................451 
Rosilene Frederico Rocha Bombini.................................................................................460 
Sérgio Luiz Gusmão Gimenes Romero ...........................................................................468 
Sílvio Fávero ..................................................................................................................475 
Tais Matheus da Silva .....................................................................................................481 
Thalita Morato Ferreira ...................................................................................................486 
Thiago Buoro..................................................................................................................491 
Thiago dos Santos Jerônimo............................................................................................501 
Vanessa Aparecida Ventura Rodrigues............................................................................510 
Vanessa Chiconeli Liporaci.............................................................................................515 
Waleska Rodrigues de M. O. Martins..............................................................................522 
 5
Lista de Autores - Comunicações 
 
Alessandro Yuri Alegrette...............................................................................................528 
Alexandre Silveira Campos.............................................................................................539 
Amauri Faria de Oliveira Filho .......................................................................................545 
Ana Carolina de Picoli de Souza Cruz.............................................................................551 
Ana Cláudia da Silva ......................................................................................................558 
Ana Claudia Rodrigues ...................................................................................................569 
Ana Paula Dias Ianuskiewtz............................................................................................583 
Andrea C. Martins...........................................................................................................592 
Andressa Cristina de Oliveira..........................................................................................597 
Ane Carolina Randig Tavares .........................................................................................608 
Antônio Jackson de Souza Brandão.................................................................................617 
Camila Cristina Branquinho Barbosa Tozzi.....................................................................641 
Camila de Araújo Beraldo Ludovice ...............................................................................649 
Caroline Talge Arantes ...................................................................................................660 
Claudia C. Valladares .....................................................................................................665 
Claudia Fernanda de Campos Mauro...............................................................................674 
Cleyton Vieira Fernandes................................................................................................684 
Cristiane Passafaro Guzzi................................................................................................697 
Daiane Carneiro Pimentel ...............................................................................................708 
Daniela Aparecida da Costa ............................................................................................723 
Daniela Ramos de Lima ..................................................................................................733 
Edvanda Bonavina da Rosa.............................................................................................743 
Érika Bergamasco Guesse...............................................................................................761 
Euzenir Francisca da Silva ..............................................................................................768 
Fabiana Abi Rached de Almeida .....................................................................................779 
Fabrícia Silva Dantas ......................................................................................................786 
Fabrício Floro e Silva......................................................................................................802 
Flavia Karla Ribeiro Santos ............................................................................................812 
Franco Baptista Sandanello .............................................................................................821 
Gabriela Alias Rios .........................................................................................................830 
Gabriela Aparecida dos Santos........................................................................................838 
Isabella Unterrichter Rechtenthal ....................................................................................845 
Jânder Baltazar Rodrigues...............................................................................................851 
Jéssica Cristina Celestino ................................................................................................857 
Júlia Mara Moscardini Miguel ........................................................................................871 
Júlio César Souza de Oliveira..........................................................................................884 
Larissa Cristina Arruda de Oliveira .................................................................................891 
Leonardo Vicente Vivaldo ..............................................................................................901 
Levi Henrique Merenciano..............................................................................................909 
Lucas da Silva Roberto ...................................................................................................924Lucas Takeo Shimoda.....................................................................................................933 
Luciano Barbosa Justino .................................................................................................948 
Luciano Marcos Dias Cavalcanti.....................................................................................957 
Ludmila G. Ribeiro de Mello ..........................................................................................966 
Luiz Carlos Pedrosa Torelli.............................................................................................982 
 6
Marco Aurélio Rodrigues ................................................................................................994 
Marcos Rogério Martins Costa......................................................................................1002 
Maria Goreti Silva Prado ..............................................................................................1017 
Mariana Veiga Copertino F. da Silva ............................................................................1032 
Mariângela Alonso........................................................................................................1038 
Natasha Vicente da Silveira Costa.................................................................................1050 
Patrícia Aparecida Antonio ...........................................................................................1056 
Patrícia Margarida Farias Coelho ..................................................................................1063 
Philipe Tocci.................................................................................................................1074 
Raquel Silveira Fonseca................................................................................................1082 
Ravel Giordano Paz ......................................................................................................1091 
Regina Alves Mendes ...................................................................................................1102 
Renata Cristina Duarte ..................................................................................................1110 
Renato Alessandro dos Santos.......................................................................................1120 
Rodrigo Fontanari.........................................................................................................1127 
Roseli Deienno Braff ....................................................................................................1148 
Sandro Tôrres de Azevedo ............................................................................................1153 
Sérgio Mauro ................................................................................................................1162 
Joana Junqueira Borges.................................................................................................1167 
Luiz Henrique Pereira ...................................................................................................1175 
Matheus Nogueira Schwartzmann.................................................................................1175 
 
 7
I – PROJETOS DE PESQUISA 
 
 
 
A CONSTRUÇÃO METAFICCIONAL DO CORPO DE EVITA NO ROMANCE 
SANTA EVITA DE TOMÁS ELOY MARTÍNEZ 
 
Alejandro Gonzáles Urrego 
(PAEDEX) 
Maria Dolores Aybar Ramírez 
Programa de Pós-graduação em Estudos Literários – UNESP / FCLAr 
 
O objetivo da minha pesquisa é analisar a reconstrução metaficcional do corpo de 
Evita Perón no romance Santa Evita (1997), do escritor argentino Tomás Eloy Martínez, 
onde este se converte no personagem principal do enredo. Assim, Martínez reconstrói, com 
ajuda de diferentes elementos metaficcionais, um corpo que em vida adquiriu poder, e 
depois de morto esse poder se tornou ainda maior. 
A obra mostra uma Evita cheia de vida, intrépida, ágil, ativa e, acima de tudo, muito 
querida pelas classes menos favorecidas do povo argentino. Sendo a Primeira Dama da 
Argentina, ela costuma mostrar-se em público sempre mostrando um corpo formoso, com o 
cabelo arrumado vestido com roupas de Cristian Dior, jóias brilhantes; uma atitude que 
demonstrava um propósito muito claro: expressar aos descamisados, que eles também 
podem realizar seus sonhos, escapar da miséria e ter êxito, como ela. 
Mas, por outro lado, Tomás Eloy durante o desenvolvimento da trama, apresenta o 
corpo embalsamado dela, que recobra a voz através da leitura, expõe uma série de 
sentimentos contraditórios. Além disso, Evita mesmo morta, desperta medo nos oligarcas e 
militares, uma vez que eles acreditavam que se em vida ela tinha sido uma poderosa 
inimiga, com sua morte ela se tornaria ainda mais forte. No entanto, para os pobres, Evita 
se converteu em um símbolo de esperança: a ponto de eles a considerarem uma mulher 
santa, capaz de realizar atos milagrosos. 
É a partir desses eventos que o autor faz uma reconstrução metaficcional apoiando-se 
nos testemunhos de pessoas, de diversas camadas sociais e que conviveram com Evita. 
Cada qual, de alguma maneira, manifesta seu direito de propriedade sobre o cadáver 
embalsamado da ex Primeira Dama. 
 8
Além disso, Evita usa sua feminilidade para expressar-se através do corpo, para 
ascender ao poder e penetrar em um mundo controlado pelos homens. Casar-se com Perón 
foi à oportunidade de sua vida, que garantiu o exercício do poder por vontade própria. 
É importante enfatizar que ela também exerceu o poder de maneira radical nas 
pessoas ou instituições que a criticam. Com o apoio do povo argentino, Evita sonha com 
um país igualitário, justo e sem pobres. Mas, para conseguir alcançar esse objetivo, ela tem 
que eliminar aos seus adversários: os oligarcas. 
O cadáver embalsamado de Evita é o desejo de ser lembrada, de nunca ser esquecida, 
expressando a insistência de um espírito que resiste em abandonar a matéria humana. 
Permanecendo assim, imortal e purificada em um corpo espiritual, que o povo acreditava 
ser capaz de convertê-la em uma santa que regressará como a “mãe guiadora e protetora de 
seus filhos”. 
O objetivo desta pesquisa é analisar a reconstrução do corpo de Evita no romance 
Santa Evita de Tomás Eloy Martinez. Assim, se torna necessário primeiro definir 
claramente o conceito de corpo utilizando diferentes abordagens teóricas que nos ajudarão a 
ampliar a visão sobre esse tema. Também pretendo demonstrar o processo de construção 
metaficcional do discurso narrativo do romance. 
A construção metaficcional do corpo de Evita. 
O trabalho de Tomás Eloy Martínez no romance Santa Evita está orientado para 
reconstruir o corpo de Evita em duas etapas: um corpo vivo que adquiriu poder junto com o 
general Perón, mas, quando ficou embalsamada, adquiriu um poder ainda maior. A 
reconstrução metaficcional do corpo de Evita é apresentada no romance através dos 
testemunhos de pessoas que conviveram com ela ou a conheceram em diferentes momentos 
de sua vida. Mas também, as testemunhas das pessoas que ficaram com ela depois de 
embalsamada pelo vente anos seguintes. 
Essa reconstrução não tem um caráter unitário, mas sim se fraciona em lembranças de 
sujeitos que pertencem as diferentes classes sociais, cada um, descrevendo-a de forma 
diferente, de modo a criar uma personalidade multifacetada. 
Para seus fiéis seguidores, as massas e os descamisados, o corpo de Evita se torna um 
símbolo da luta armada nos anos 70; uma luta que também se expressa no slogan “Perón ou 
 9
morte”, variação de “A vida por Perón” e que aparece nas margens do peronismo dissidente 
ansioso por ocupar o centro político. É aqui onde o corpo de Evita recupera sua voz, seu 
desejo de poder, justiça, igualdade e seu grito de guerra. 
Portanto, a reconstrução metaficcional do corpo apresentada no romance, delimita as 
diferentes fases da vida de Evita: de menina pobre e filha bastarda a Primeira Damada 
Argentina, que mesmo depois de morta se transformou em um ícone cultural e político. 
Estágio atual da pesquisa 
No presente momento, o trabalho de pesquisa encontra-se em sua fase inicial. Até 
agora foram realizadas leituras e fichamentos de alguns livros que integram a bibliografia e 
analisam alguns tópicos concernentes à memória, a relação entre a Historia e a ficção e a 
metaficção. São eles: Tempo passado de Beatriz Sarlo, História e Memória de James Le 
Goff, Ficção de Catherine Gallagher, A ficção de Karlheinz Stierle. 
É possível comprovar que os principais temas inseridos nos textos escritos por esses 
autores são: o relato testemunhal, diferentes tipos de memória, e os recursos narrativos 
usados na metaficção. Todos eles pertinentes ao objeto de estudo deste trabalho de 
pesquisa. 
Conclui-se nesta fase inicial da pesquisa que o romance de Martínez propõe a 
reconstrução metaficcional do corpo de Evita Perón, como estratégia para recuperar um 
pensamento nacional e reafirmar o papel da mulher na memória coletiva do povo argentino. 
Bibliografia 
ADORNO, Theodor. Posição do narrador no romance contemporâneo. In: ____ . Notas de 
literatura 1. Trad. Jorge de Almeida. São Paulo: Duas Cidades/Ed. 34, 2003. 
BAUDRILLARD, Jean. A precessão dos simulacros. In: ____ Simulacros e simulação. 
Lisboa: Relógio d´Agua, 1981. 
CHNAIDERMAN, Miriam. Estudos em Teoria Psicanalítica, artigos sobre Esfarelando 
tempos não ensimesmados, Rio de Janeiro: Agora, July/dec 2003, vol. 6 no 2. 
COMPAGNON, A, O trabalho da citação. Trad. Cleonice P.B. Mourão. Belo Horizonte: 
Ed. Da UFMG, 2007. 
 10
 FOUCAULT, Michel. -“Poder-cuerpo” En islas Hilda, de la historia al cuerpo y el 
cuerpo a la danza, Conaculta, México, 2001. 
GALLAGHER, Catherine. Ficção, In: MORETTI, F. (org.) O romance 1: A cultura do 
romance. Trad. Denise Bottman. São Paulo: Cosac Naify, 2009. 
GIVONE, Sergio. Dizer as emoções, a construção da interioridade no romance moderno. 
In: MORETTI, F. (org.). O romance 1: A cultura do romance. Trad. Denise Bottman. São 
Paulo: Cosac Naify, 2009. 
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Traduçao de Beatriz Sidou, São Paulo: 
Centauro, 2006 
HUTCHEON, Linda. Poética do Pós-Modernismo, Trad. Ricardo Cruz. Rio de Janeiro, 
Imago Editora, 1991. 
HUYSSEN, Andreas. Passados presentes. Da sedução pela memória à análise de nós 
mesmos. Tradução de Sergio Alcides. Seleção de Heloisa Buarque de Hollanda. 2ª . Ed Rio 
de Janeiro: Aeroplano, 2000. 
JAMES, Henry. A arte da ficção, Trad. Daniel Piza. Seleção de Antônio Paulo Graça, São 
Paulo, Editora Imaginário, 1995. 
LE GOFF, James. História e Memória. Tradução Bernardo leitão. Campinas, SP Editora da 
UNICAMP, 1990. 
MARTÍNEZ, Tomás Eloy. Santa Evita. Tradução Sérgio Molina. Companhia Das Letras, 
2da Edição, 1997. 
RICOEUR, Paul. A memória, a história o esquecimento. Campinas, SP Editora da 
UNICAMP, 1998. 
SARLO, Beatriz. Tempo passado. Cultura da memória e guinada subjetiva. Trad. Rosa 
freire d`auiar. São Paulo: Cia. Das Letras; Belo Horizonte: UFMG, 2007. 
STIERLE, Karlheinz. A ficção. Novos Cadernos do Mestrado, Trad. Luiz Costa Lima. Rio 
de Janeiro: Caetés, 2006. 
Crítica Literária sobre Evita 
ACOSSANO, Benigno. Eva Perón, su verdadera vida. Editorial Lamas, Buenos Aires, 
Argentina, 1955. 
ALBORNOZ DE VIDELA, Gabriela. Evita. Editorial Luis Lasserre, Buenos Aires, 
Argentina, Sin fecha. 
 11
 
ARA, Pedro. El caso Eva Perón. Editorial CVS, Madrid, España, 1974. 
BARNES, John. Evita. La biografía. Editorial Thassalia, Barcelona, España, 1997. 
BARNES, John. Eva Perón: la vida legendaria de una mujer; la más amada, la más 
odiada, que todo el mundo conoce como Evita, Hechos reales. Madrid, España, 1979. 
BAUNMGARTNER, Juana M. La anti-virgen Evita. Editorial Parteluz S.L, Madrid 
España, 1997. 
CASTIÑEIRAS, Noemi. Ser Evita, síntesis biográfica. Instituto Nacional de 
Investigaciones”, Buenos Aires, Argentina, 2001. 
DUJOVNE ORTIZ, Alicia. Eva Perón, la biografía. Editorial Aguilar 1ra edición, Buenos 
Aires, Argentina, 1995.
 
 
AS METAMORFOSES GÓTICO-ROMÂNTICAS NO DISCURSO NARRATIVO 
DE WUTHERING HEIGHTS, DE EMILE BRONTË 
 
Alessandro Yuri Alegrette 
(FAPESP) 
Karin Volobuef 
Programa de Pós-graduação em Estudos Literários – UNESP / FCLAr 
 
O objetivo da presente pesquisa é tratar do romance Wuthering Heights – O Morro 
dos Ventos Uivantes (1845), de Emily Brontë. A espinha dorsal de nossa abordagem é 
propor a discussão sobre a configuração gótica específica explorada pela autora no enredo 
de sua narrativa. Para grande parte da crítica literária, o romance de Brontë é uma obra 
híbrida: a primeira parte é gótica e a segunda realista. Por outro lado, outros estudiosos 
afirmaram que existe uma tendência mais forte dessa obra ser plenamente inserida no 
gótico, pois neste romance, Brontë além de ter retomado temas recorrentes nessa 
modalidade literária, tais como, o conflito entre o bárbaro e o civilizado, a dissolução entre 
as fronteiras entre o eu e o outro, o natural e o sobrenatural e motivos que a caracterizam (o 
duplo, fantasmas, criaturas sobrenaturais). 
Do ponto de vista da construção da narrativa, a obra combina essa atmosfera gótica 
com uma vertente romântica que, pode ser definida como “Byroniana”, onde se destaca a 
presença do herói romântico condenado a um pathos trágico e, que se caracteriza por suas 
 12
intensas demonstrações de sensibilidade. Dessa forma, O morro dos ventos uivantes, a 
exemplo de Frankenstein, de Mary Shelley, pode ser considerada uma obra que faz uma 
síntese do chamado “gótico-romântico” no século XIX. Além disso, a autora em seu 
discurso narrativo também faz alusões ao plano metafísico, remetendo assim a vários 
conflitos de oposição, que são sempre destacados no discurso narrativo dos romances 
góticos: o bem e do mal, o céu e o inferno, o natural e o sobrenatural. 
Assim, apesar dessa obra ter sido analisada criticamente em ensaios dentro de 
diferentes abordagens teóricas, mesmo após tanto tempo de sua publicação, O morro dos 
ventos uivantes continua suscitando questionamentos dentro do meio acadêmico sobre seu 
processo de criação, sua configuração gótica específica, que se diferencia de outras 
narrativas inseridas nesse tipo de literatura, seus pontos de intersecção com textos inseridos 
no gótico ou, com outras obras que mantêm uma relação de proximidade com esse gênero 
literário, tornando-se assim objeto de estudo deste projeto de pesquisa. 
Estágio atual da pesquisa 
No presente momento, o trabalho de pesquisa encontra-se em sua fase inicial. Até 
agora foram realizadas leituras e fichamentos de alguns livros que integram a bibliografia e 
analisam a relação de proximidade entre o romance gótico e o romantismo inglês. São eles: 
Gothic, de Fred Botting, The literature of Terror de David Punter, The Cambridge 
companion to gothic fiction, de Jerrold E. Hogle, The romantic agony, de Mario Praz, The 
Gothic Novel, de Victor Sage, The Gothic flame, de Devendra Varma e Introdução à 
literatura fantástica, de Tzvetan Todorov. 
Nessa primeira fase, com o propósito de se verificar como ocorre o diálogo 
intertextual entre a literatura gótica e o movimento romântico, foi iniciada a leitura de obras 
(poemas e dramas em prosa) dos seguintes poetas ingleses: Samuel Colerigde, William 
Wordsworth, Percy Shelley, John Keats e Lord Byron, esse último muito admirado por 
Emile Brontë. 
Ainda sobre Byron é possível constatar que os personagens de seus escritos e, até 
mesmo o próprio poeta, que era conhecido por seu comportamento instável e rebelde, 
teriam servido de inspiração para a criação do protagonista do romance de Emile Brontë: 
Heatchcliff, que se destaca mais pelos seus defeitos que por suas qualidades e também se 
 13
assemelha a outros vilões que aparecem em outras narrativas góticas publicadas na metade 
do século XVIII. 
Também é possível comprovar que os principais temas inseridos nostextos escritos 
por esses autores românticos, tais como: o isolamento, a alienação da realidade, o sublime 
como experiência estética, a rebeldia, a solidão e a morte estão presentes no discurso 
narrativo de Wuthering Heights. 
Conclui-se nesta fase inicial da pesquisa que esse romance de Emile Brontë, além de 
estabelecer pontos de intersecção com Frankenstein, outra obra considerada gótico-
romântica, também pode ter mantido uma relação intertextual com outras obras que 
apresentam elementos românticos, ou góticos em sua composição e foram escritas 
anteriormente à sua publicação. 
Assim, é provável que Wuthering Heights tenha sua origem na combinação da 
configuração gótica, que remonta a metade do século XVIII, com o romantismo inglês do 
século XIX, em sua vertente “Byroniana”, onde se destacam diversas relações de oposição, 
mas que de algum modo se tornam ambivalentes dentro de seu discurso narrativo. 
Bibliografia 
BRAVO, NICOLE. Duplo. In: BRUNEL, Pierre. Dicionário de mitos literários. Tradução 
Carlos Sussekind e outros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1997. 
BOTTING, Fred. Gothic. London: Routledge, 1996. 
BRONTË, Charlote. Jane Eyre. Oxford: Oxford University Press, 1998 [1847]. 
BRONTË, Emile. O morro dos ventos Uivantes. Introdução, tradução, notas e dossiê: 
Renata Maria Parreira Cordeiro e Eliana Gurjão Silveira Alambert. São Paulo: Landy, 
2005. 
______. O morro dos ventos uivantes. Tradução Raquel de Queiroz. Nova Cultural: São 
Paulo, 1995. 
_____. Whutering Heigths. New York: Oxford University Press, 1950 [1847]. 
BRUNEL, Pierre. Dicionário de mitos literários. Tradução Carlos Sussekind e outros. Rio 
de Janeiro: José Olympio, 1997. 
BURKE, Edmund. Uma investigação filosófica sobre a origem de nossas idéias sobre o 
 14
sublime e do belo. Tradução Enid Abreu Dobránzky. Campinas, S. P.: Papirus, 1993. 
COX, Jefrey. Keat’s Poetry and Prose. New York: W. W. Norton & Company, Inc, 2009. 
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GILBERT, Sandra & DUBAR, Susan. Looking Oppositely: Emile Brontë’s Bible of Hell. 
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MITO E METALINGUAGEM EM NIEBLA, DE MIGUEL DE UNAMUNO 
 
Alexandre Silveira Campos 
Maria de Lourdes O. Gandini Baldan 
Programa de Pós-graduação em Estudos Literários – UNESP / FCLAr 
 
A pesquisa tem por um de seus objetivos encontrar no romance Niebla momentos em 
que as expressões ou motivos míticos encontrem nas formas de construções metafóricas 
uma possibilidade de leitura, ou releitura, original. E, a partir da possível comprovação 
dessa tese – encontrar no texto unamuniano abordagens originais de motivos recorrentes na 
literatura, feitas através de procedimentos metafóricos – levantar questões a cerca da 
relação metalinguagem/metáfora e mito. 
Como por exemplo, a própria dicotomia “mito/literatura”, pensando-se na 
possibilidade de encontrarmos aí alguma maneira de oposição, desloca o mito para um 
lugar que normalmente não é o seu, ou seja, o afasta do pensamento lúdico e parabólico 
para aproximá-lo, por contraposição à linguagem poética, ao pensamento linear e 
denotativo. Porém, ao invés de observarmos isso, pejorativamente, como uma forma de 
enfraquecimento da linguagem mítica, podemos ver tal fenômeno como um 
descortinamento de uma das faces dessa expressão, a qual revela a presença – e a 
importância que deve ser analisada dentro do romance – do logos, no sentido de razão, 
como elemento fundamental na leitura do mito. 
Assim, uma possível questão a ser abordada é como uma narrativa de origem mítica, 
dentro de um universo predominantemente estético, realiza o papel de “voz da razão”, 
aproveitando-se da sua ligação com a metáfora e trazendo para a literatura, ao menos para a 
 16
de Unamuno, a representação do “mundo real”. Em alguns casos, essa aparição do logos (a 
razão ou o plano empírico) no romance será realmente um choque gerador de tensões 
dentro do texto, em outros será o pano de fundo para, mais ainda, destacar (ou, até mesmo, 
criar) a “desconcertância” do mundo irreal. No caso de Niebla, o mundo do real-poético 
unamuniano. 
Acerca dessa proposição a tese trata de alguns temas ou motivos de origem mítica 
que são recorrentes no pensamento de Don Miguel de Unamuno, tais como, o mito da 
imortalidade, ligado ao mito da criação e do Paraíso. Esse é um mito do desejo de 
eternidade que normalmente, na história da literatura, aparece interpretado como a procura 
existencial do homem. O qual é, na verdade, mais um motivo literário que propriamente um 
mito, e que pode ser relacionado a várias imagens, como a rebeldia dos homens perante os 
deuses na Grécia antiga, o mito de Prometeu, ou outros, em que a ousadia do homem que 
quer ser deus é punida. Como talvez seja o caso de Niebla, onde o herói Augusto é punido 
pelo autor pela sua ousadia de desafiar seu poder. 
Parece importante ainda, para o desenvolvimento da tese, ter em vista os textos que 
expressem relevância para o assunto e sejam recolhidos em outras obras e em outros 
momentos da produção crítica, filosófica e literária do autor. Como, por exemplo, o ensaio 
crítico “Como se Hace Una Novela”, publicado em 1927, onde Unamuno vai expor suas 
idéias teórico-narrativas, centrando suas reflexões no conceito do romance como um gênero 
aberto. 
Héteme aquí ante estas blancas páginas - blancas como el negro 
porvenir: ¡terrible blancura!- buscando retener el tiempo que pasa, fijar 
el huidero hoy, eternizarme o inmortalizarme en fin, bien que eternidad e 
inmortalidad no sean una sola y misma cosa. Héteme aquí ante estas 
páginas blancas, mi porvenir, tratando de derramar mi vida a fin de 
continuar viviendo, de darme la vida, de arrancarme a la muerte de cada 
instante. (UNAMUNO, 1999, p.01) 
A pesquisa se dá fundamentalmente pela análise do romance Niebla (névoa) 
(UNAMAUNO, 1914), em linhas gerais do corpo completo do texto, visto como um todo 
coerente e representativo do pensamento unamuniano e, mais detalhadamente de algunsepisódios do romance, considerados importantes para compor uma linha a ser estudada, 
dados os propósitos do trabalho. 
 17
O suporte teórico para o estudo do mito está centrado, principalmente, nas 
proposições de Mircea Eliade, tal como, a noção de “deus vivo” (ELIADE, 2003), onde o 
deus do mito nunca é uma idéia, uma noção abstrata ou uma simples alegoria moral. É, pelo 
contrário, um poder terrível, manifestado na “cólera”, ou no pathos, divino. Também é 
importante a definição de mito que relaciona questões como a construção da narrativa, a 
posição de quem fala, o “de onde se fala”, a ligação íntima da “forma” do relato com o 
modo de rito resultante e as maneiras de recepção do relato mítico, principalmente ao que 
se refere à distinção entre “real” e “simbólico”. Todas estas pontuações podem levar a 
questões instigantes e serem de extrema pertinência na análise da narrativa de Unamuno. A 
exemplo do trecho descrito abaixo, se pensarmos numa relação extensa entre as formas do 
relato mítico e do romance moderno. 
O mito conta uma história sagrada, quer dizer, um acontecimento 
primordial que teve lugar no começo do Tempo, ab initio. Mas contar 
uma história sagrada equivale a revelar um mistério, pois as personagens 
do mito não são seres humanos: são deuses ou Heróis civilizadores. Por 
esta razão suas gesta constituem mistérios: o homem não poderia 
conhecê-los se não lhe fossem revelados. O mito é pois a história do que 
se passou in illo tempore, a narração daquilo que os deuses ou os Seres 
divinos fizeram no começo do Tempo. “Dizer” um mito é proclamar o que 
se passou ab origine. Uma vez “dito”, quer dizer, revelado, o mito torna-
se verdade apodítica: funda a verdade absoluta. (ELIADE, 1996, P.50) 
A abordagem teórico-literária do trabalho consiste em relacionar as teorias de cunho 
histórico e social que tratem do romance como expressão fundamental de um pensamento 
identificável com certa camada social, no caso, a burguesia. E que a partir desse modelo – 
amálgama complexo e talvez irrealizável de muitas formas de escrita: epopéia, romance de 
aventura, romance de formação, etc. – se possa identificar um novo aspecto do romance, 
chamado “romance moderno”. 
Os procedimentos narrativos inovadores e a busca por novas possibilidades de 
expressão dentro de uma fórmula já consagrada são, em Niebla, a concretização de um 
projeto que já apontava, e aflorou no romance de Unamuno, como indicador de novos 
caminhos, de uma nova tradição. Niebla é, assim, um romance, uma nivola, coerente com 
uma “modernidade” que tem como característica fundamental a adoção de valores 
negativos, a ruptura, a fragmentação e a própria crítica do “moderno”, sua autocrítica (PAZ, 
1996). 
 18
Portanto, toda fundamentação teórica que trate da narrativa sob tal perspectiva, seja 
de “poética moderna” como em Octavio Paz (1996), seja de “crise do romance” como em 
Walter Benjamin (1994), e dos caminhos que foram percorridos pela prosa ocidental, a 
partir do início do séc. XX, é pertinente como comprovação ou refutação das proposições 
que surjam a partir da análise do corpus principal da tese. 
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JULES LAFORGUE E CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE: A IRONIA E A 
CONSTRUÇÃO DO GAUCHE 
 
Aline Taís Cara Pinezi 
(CAPES) 
 20
Guacira Marcondes Machado Leite 
Programa de Pós-graduação em Estudos Literários – UNESP / FCLAr 
 
Após estudos de autores inseridos no Simbolismo brasileiro, o gosto pelo movimento 
cresceu, sobretudo no que diz respeito à escrita irônica. Assim, surgiu o interesse pelo poeta 
francês Jules Laforgue (1860-1887). Jules Laforgue foi um importante 
decadentista/simbolista cuja obra perpassa estes dois movimentos literários; seguiu, 
segundo denominação de Wilson (1967), a corrente “coloquial-irônica” do simbolismo, 
fazendo uso, portanto, de recursos como ironia, crítica, paródia, humor e dissonância. O 
escritor nasceu em Montevidéu, Uruguai, de pais franceses, e aos seis anos de idade 
mudou-se para a França. Por isso, escreveu em francês e também realizou traduções de 
autores estrangeiros para o idioma adotado; dentre estes, Walt Whitman. 
Em 2009, após a conclusão do Mestrado, pensamos em dar continuidade aos estudos 
da ironia e também da oralidade, visto que este é um campo muito vasto, sobretudo no que 
diz respeito às composições do poeta francês, repletas de recursos, de intertextos, de 
vocabulário próprio e de jogo de palavras. No entanto, o objetivo era não somente 
aprofundar as pesquisas laforguianas, mas sim comparar seus poemas a outros de um poeta 
brasileiro que fosse, de fato, leitor e adepto de algumas técnicas presentes em Jules 
Laforgue. Optou-se, então, por Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987), devido à 
ausência de estudos comparativos entre ambos. 
Drummond é, reconhecidamente, um dos grandes nomes da literatura brasileira; e sua 
poética é perpassada por peculiaridades e inovações vocabulares, métricas e estéticas. Um 
dos recursos presentes em seus poemas é a ironia, muito parecida no tom com a utilizada 
por Laforgue. Em vista disso, decidiu-se aproximar as leituras das composições de ambos, a 
fim de comprovar, por meiode exemplos, as semelhanças existentes na poética de ambos. 
Sobre Jules Laforgue, a crítica, desde meados do século XX, tem reconhecido a 
importância para a poesia subsequente à sua, visto que o poeta figurava à frente de seu 
tempo, com relação a características e recursos que utilizava. Ele foi, de certa forma, 
eclipsado pelos seus contemporâneos tão conhecidos: Baudelaire, Mallarmé, Rimbaud e 
Verlaine; todavia pode e deve ser inserido entre os grandes nomes dessa época literária, ou 
seja, da modernidade poética, pois sua obra tem características que perpassam o 
 21
Decadentismo e o Simbolismo. Os escritos surpreendentes e as características inovadoras é 
que fazem dele o inspirador e mestre de poetas como Ezra Pound e T. S. Eliot. 
O Decadentismo foi um movimento anterior ao Simbolismo, com teor mais 
pessimista e negativista. O Simbolismo, contudo, teve duas vertentes: a “sério-estética”, 
comumente estudada, abordando o culto, o sonho, a musicalidade, a sugestão e a 
indefinição; e a menos estudada, a “coloquial-irônica”, segundo denominação de Wilson 
(1967), a qual é representada por Laforgue e Corbière (ambos foram incluídos no 
movimento simbolista por T. S. Eliot, que enxergou na obra deles uma poesia tão 
representativa quanto a de Baudelaire, Rimbaud, Verlaine e Mallarmé), marcada pelo uso 
de temas do cotidiano, pelo emprego da linguagem oral e irônica. Segundo Hamburger 
(2007), estes dois escritores discutiram, em suas composições, a obra inicial de Rimbaud, o 
spleen e o idéal de Baudelaire. A corrente na qual se inseriam, diferente da “sério-estética” 
- que cultiva o mistério, o vago, o indizível, o sonho, o invisível, tendo poetas que se 
habitam “torres de marfim”, à margem da sociedade, pois não encontram nela o seu lugar, 
sendo chamados de nefelibatas - não visava dar um sentido mais puro às palavras; ao 
contrário, pretendia colocar em confronto as torres de marfim e o mundo fin-de-siècle, 
porque se preocupava com o cotidiano e o tematizava. É nesta vertente que se pautam os 
recursos utilizados nas composições de Laforgue. Este possui uma escrita inovadora, na 
qual se reconhece a presença da oralidade, da ironia, do humor e da crítica. Ele consegue 
unir o incompatível, aquilo que parece ser essencialmente diferente: o lirismo e o humor. 
Além disso, utiliza a paródia, a alegoria, o pastiche e a caricatura com o propósito de 
imbuir efeito às suas criações, apresentando um ideal poético que perpassa o discurso 
clownesco, minucioso e excêntrico. 
Seus procedimentos poéticos podem ser encontrados em poetas que o seguiram, entre 
os quais os nossos modernistas Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira. 
Aproximam-se também dos mecanismos empregados por Laforgue os poemas de dois 
simbolistas brasileiros: Pedro Kilkerry (1885-1917) e Marcelo Gama (1878-1915). 
Laforgue exerceu influência sobre grandes autores como Cummings, Willianns, Crane, 
Dylan Thomas, além de Eliot e Pound. Este (1976, p.120) apontou toda a importância que 
deve ser creditada a Laforgue “talvez [...] o mais sofisticado dos poetas franceses”. 
 22
Mário Faustino (1976) diz ainda que o poeta é um jovem de gênio preparando o 
mundo para o que virá; é, portanto, um poeta do século XX, mais do que do XIX, um 
visionário figurando entre os poetas maiores. Este é um dos fatores que ofuscou o poeta 
diante do olhar da crítica; além de ser um dado que o aproxima dos escritos que Drummond 
arriscaria um século depois. 
Os autores da modernidade buscavam revolucionar a linguagem, limpá-la por meio 
do uso do sentido etimológico, da conotação, das combinações inesperadas, entre outros 
procedimentos. Laforgue atinge o mais alto grau na revolução de seu vocabulário. 
Essa peculiaridade do poeta francês pode ser observada e analisada também nos 
poemas de Carlos Drummond de Andrade, como mostra de influência e concordância com 
mecanismos de escrita citados. Dessa forma, o que se pretende neste trabalho é apresentar 
recursos que são caros a ambos os escritores e, após este estudo, analisar comparativamente 
alguns poemas de modo a comprovar a semelhança de ferramentas discursivas como 
formadoras de estilo. 
Vale ressaltar que o intuito principal da comparação do autor francês com o brasileiro 
é aproximar a construção da ironia “fina” presente em Drummond, um dos grandes poetas 
da literatura brasileira, à utilizada por Laforgue, mostrando a semelhança na construção da 
ironia e do humor, bem como o uso particular desses recursos construindo a noção do poeta 
gauche, “torto”, “canhestro”, em face de si e do mundo, que não consegue se encaixar em 
um contexto social, pois apresenta um “eu” insatisfeito com o mundo conflituoso, 
buscando, desejando encontrar um sentido para sua vida. 
Com relação aos poemas de Laforgue, é possível, através deles, enxergar o universo 
decadente do período em que escrevia; o mundo industrial instalando-se e instigando as 
críticas do poeta. Estas recaem não apenas sobre o ritmo acelerado das cidades, mas 
também sobre aqueles que decidem isolar-se da sociedade, sentindo-se alheios ao mundo, 
refugiando-se em torres de marfim. 
Laforgue, diferentemente de outros poetas, desaprova esse isolamento, critica os que 
se prendem a convenções poéticas e, como solução, inova, modifica os moldes vigentes 
inventando uma nova linguagem e, consequentemente, uma nova poesia, utilizando sua 
bagagem intelectual para fazer crítica. Sendo assim, precisa de um leitor que desenvolva 
um atento trabalho de investigação e reflexão. 
 23
O mesmo ocorre em Drummond: seus poemas revelam a agitação do mundo 
moderno, o individualismo decorrente; propõe a liberdade das palavras, a liberdade do 
idioma cativo das convenções poéticas usuais, criando uma modelação poética à margem 
de normas e regras de escrita. Apropria-se do verso livre, flexibiliza o ritmo e mostra que 
não é necessário um metro fixo para se escrever bons poemas. Por conseguinte, 
Drummond, assim como o poeta francês, figura outra face moderna: mais objetiva e mais 
concreta do que lírica. 
Estágio atual da pesquisa 
A pesquisa encontra-se em desenvolvimento. Estou no segundo ano de Doutorado e, 
no momento, cumpro meus créditos obrigatórios e continuo lendo os exemplares que 
constam na bibliografia. Ainda não iniciei as análises comparativas de poemas, de forma 
pontual. Tenho percebido as semelhanças apenas de modo geral. Além disso, por já 
trabalhar com Jules Laforgue anteriormente, minha bibliografia ainda apresenta menos 
textos referentes a Drummond. Vale ainda ressaltar que o Programa de Pós-Graduação 
permite que enviemos somente cinco páginas contendo o andamento da pesquisa e a 
bibliografia, o que dificulta uma descrição detalhada do trabalho. 
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ASPECTOS DO POEMA EM PROSA DE CRUZ E SOUSA E RUBEN DARÍO 
 
Allyne Fiorentino de Oliveira 
Adalberto Luis Vicente 
Programa de Pós-graduação em Estudos Literários – UNESP / FCLAr 
 
O estudo da literatura da metade a fins do século XIX encontra sempre uma 
relevância multidisciplinar por ser a base da literatura moderna, sobretudo o movimento 
denominado Simbolista, que possui autores importantes e inovadores. A quebra da 
formalidade poética proporcionou novas experimentações no fazer poético, alcançando a 
hibridação de gêneros e maior liberdade criadora para os poetas. Um dos gêneros cultivados 
pelos simbolistas foi o poema em prosa, pois sua estrutura permitia uma maior liberdade 
rítmica, sendo que mais tarde, no Modernismo, isso se desenvolveria para outras 
experimentações poéticas mais ousadas. Portanto, os estudos literários sobre o simbolismo, 
contribuem para a compreensão das bases fundadoras da literatura moderna e 
contemporânea. 
 28
Em nosso projeto de pesquisa buscamos analisar e comparar os poemas em prosa do 
autor brasileiro João da Cruz e Sousa e do nicaraguense Ruben Darío, fazendo sempre um 
paralelo com a teoria já publicada acerca desse gênero. O cotejo dos dois poetas certamente 
permitirá avaliar aspectos importantes do simbolismo nas Américas, bem como verificar 
como nos dois autores o poema em prosa se faz um gênero poético moderno. 
Como a pesquisa ainda se encontra em estágio inicial nossos objetivos estavam 
focados em três pontos principais, sendo eles: leitura e conhecimento das obras a serem 
analisadas; leitura de algumas obras teóricas relacionadas ao período literário em que as 
obras estão inseridas (Simbolismo) e obras teóricas sobre o gênero poema em prosa. 
No projeto inicial nos propusemos a analisar a obra “Missal” (1893) de João da Cruz 
e Sousa, composta de 45 poemas em prosa voltados para o lado estético e impressionista 
que se assemelham mais aos poemas em prosa de Ruben Darío. Já os poemas em prosa do 
autor nicaraguense estão distribuídos por várias de suas obras, dentre elas: Azul (1888), 
Cantos de vida y de esperanza (1895), El canto errante (1907), Prosa dispersa (1919) e 
alguns sobre o nome de Cuentos y crônicas no volume XIV de suas Obras Completas, 
dificultando a restrição do corpus em relação a datas de publicação. A partir das leituras e 
pesquisasdesse semestre optamos então por utilizar um livro argentino cuja primeira 
publicação data de 1948 e contém uma compilação de 25 poemas em prosa retirados de 
diversas obras de Darío. Foram feitas leituras dos poemas de ambos os poetas e anotações 
acerca das primeiras impressões e das possíveis aproximações entre os autores para que 
sejam a base do aprofundamento que será realizado posteriormente. O que pudemos notar 
de início é que a linguagem de Cruz e Sousa é bem mais rebuscada que de Ruben Darío, 
trazendo mais elementos pictóricos e sonoros. Apesar de Darío também utilizar o pictórico 
e o sonoro, suas imagens poéticas são embasadas mais nas referencias intertextuais e 
culturais, ou seja, ele constrói as imagens através de elementos culturais, veja-se um 
exemplo: 
Es un mar de pizarra, con una multitud de florecimientos de nieve, 
es un mar gris oscuro, con mil puntos en donde estallan copos de 
espuma. 
Chente Quirós me llamó poeta niño. ¡Pornógrafo! 
No me subleva el adjetivo. Víctor Hugo da ese nombre al 
formidable anciano Homero. 
 29
Pero en el Océano me siento niño. Siento siempre aquella primera 
impresión de las potentes aguas inmensas; siento lo que tan 
admirablemente expresó Pierre Loti (…). 
(Trecho do poema “En el mar” de Ruben Darío) 
 
 
Ó mar! Estranho Leviatã verde! Formidável pássaro selvagem, que 
levas nas tuas asas imensas, através do mundo, turbilhões de pérolas 
e turbilhões de músicas! 
Órgão maravilhoso de todos os nostalgismos, de todas as 
plangências e dolências… 
Mar! Mar azul! Mar de ouro! Mar glacial! 
 (Trecho do poema “Oração ao mar” de Cruz e Sousa) 
A partir desses pequenos trechos tirados de dois poemas que tem como temática o 
mar, já podemos notar que a escrita de Darío utiliza bem mais elementos intertextuais, pois 
somente nesse trecho há quatro citações extratextuais (Chente Quirós, Victor Hugo, 
Homero e Pierre Loti). O eu lírico não nos diz claramente aquilo que sente em relação ao 
mar, diz sentir aquilo que Pierre Loti1 expressou em seus poemas, ou seja, o sentimento do 
eu lírico é criado através das suas referências culturais e não somente pelo seu sentimento 
frente ao objeto poético. As referências intertextuais são bastante abundantes nos poemas 
em prosa de Darío, enquanto que Cruz e Sousa explorava a intertextualidade em imagens 
poéticas por meio de comparações como em “Leviatã verde”, comparando o mar à criatura 
mitológica. Note-se também que o ritmo dos dois poemas são diferentes, no primeiro o tom 
prosaico é mais notável “No me subleva el adjetivo. Víctor Hugo da ese nombre al 
formidable anciano Homero”, a construção da frase é mais linear e direta, enquanto que no 
segundo a evocação ao sol e os ritmos binários dão um tom mais poético ao texto como em 
“Órgão maravilhoso de todos os nostalgismos, de todas as plangências e dolências”. 
Das obras relacionadas ao período literário, aprofundamos algumas leituras prévias 
como “El movimiento Simbolista” de Anna Balakian e “O castelo de Axel” de Edmund 
Wilson, fazendo uma leitura mais atenta, resumindo as obras e retirando conceitos 
importantes para a compreensão do período denominado Simbolista. O movimento 
Simbolista tinha como uma das propostas mais importantes a expressão da musicalidade da 
 
1 Pierri Loti foi um escritor francês do período do Romantismo. Por ser da marinha, sempre utilizava a vida no 
mar como tema de suas obras. 
 
 30
poesia. Desprezando aquilo que era visível nas coisas, procuravam sugerir ao invés de 
mostrar. Ferramentas abstratas como a música e os símbolos seriam mais propícias para 
isso. “Para os simbolistas, portanto, fazer poesia implica a tentativa de expressar fugidia, 
que merece necessariamente uma forma de expressão condizente com ela, também vaga, 
indecisa” (BALAKIAN, 1985, p.28). As bases para o Simbolismo e, consequentemente, 
para a poesia moderna remontam ao Romantismo, que já apresentava o início tímido das 
quebras com o passado poético, iniciando uma pequena inovação. Isso permitiu um legado 
de consciência de representação poética que seria trabalhado pelas gerações de poetas 
futuros, sendo modificadas e aprofundadas. Segundo FRIEDRICH (1956, p.30) “a poesia 
moderna é o Romantismo desromantizado”. 
Sobre o gênero poema em prosa, nossa pesquisa foi enriquecida com a leitura da obra 
principal sobre o assunto “Le poème em prose de Baudelaire jusqu’à nos jours” de Suzanne 
Bernard, uma obra importante e pioneira que procura abranger a teoria sobre o gênero e 
ainda enumera vários autores que se dedicaram a escrita do poema em prosa, demonstrando 
as características inerentes a cada um. Além dessa obra também houve a leitura de outras 
obras relevantes para a pesquisa como “Lire le poème em prose” de Michel Sandras e 
“Configurações do poema em prosa” de Ângela Varela, ambos seguindo o estilo de 
Suzanne Bernard, apresentando uma parte teórica e discussões sobre o gênero poema em 
prosa desde a origem até os dias de hoje, passando pelas diferenciações entre poesia e prosa 
e finalizando com o estudo individual de alguns autores demonstrando as várias formas que 
o poema em prosa pode assumir dependendo do autor e da época. Isso nos possibilitou 
compreender a criação poética e as variadas formas de representação do poema em prosa 
em autores de diferentes períodos literários. Algo que nos preocupa também no projeto é a 
discussão sobre os limites entre poesia e prosa e assim poder demonstrar o poema em prosa 
enquanto gênero independente e não somente fusão entre poesia e prosa. Apesar de tão 
enraizada na Literatura Francesa, a questão do poema em prosa continua, ainda hoje, em 
aberto, suscitada pela controversa delimitação dos modos literários (VARELA, 2011, p.66). 
Também foram de grande valia as leituras de teses e dissertações acerca do tema, 
destacando a tese de doutoramento “Pela volúpia do vago: O Simbolismo. O poema em 
prosa nas literaturas portuguesa e brasileira” do professor Doutor Antonio Donizeti Pires 
em que ele discorre sobre o gênero estudado em nossa pesquisa, fazendo uma abordagem 
 31
bastante completa de forma histórica e teórica sobre o tema, além de fazer o estudo da obra 
“Missal” de Cruz e Sousa. Outra tese interessante foi “Um poeta simbolista na República 
Velha: literatura e sociedade em Missal de Cruz e Sousa” de Jefferson Agostini Mello que 
nos possibilitou outra visão acerca da obra de Cruz e Sousa diferente da primeira tese 
citada. Teses e trabalhos específicos sobre o poema em prosa de Ruben Darío são bem 
escassas no Brasil, sendo que nos parece que o interesse por essa parte da obra do poeta é 
maior nas Universidades estrangeiras, dos EUA e da Espanha. 
Com a evolução da pesquisa espera-se elucidar os pontos que ainda estão em fase 
inicial, levantando hipóteses e discussões para que sejam aplicados ao corpus 
posteriormente, visando sempre contribuir para os estudos sobre o Simbolismo e do gênero 
poema em prosa. 
Bibliografia 
BALAKIAN, Anna. El movimiento simbolista. Madrid: Ediciones Guadarrama, 1969. 
BERNARD, Suzanne. Le poème em prose de Baudelaire jusqu’à nos jours. Paris : 
Nizet, 1959. 
CRUZ E SOUSA, João da. PÉREZ, José (org.). Missal, Evocações. In: Cruz e Sousa: 
Prosa. 2 ed. São Paulo : Cultura, 1945. v. 2. pp.5-126. (Série Clássica Brasileiro-
Portuguesa, Os mestres da língua, 14). Versão online disponível em 
http://www.4shared.com/file/mExm2uIi/Missal-CruzeSousa-wwwLivrosGra.html Acesso 
em 20/08/2011. 
DARÍO, Ruben. Obras completas. Madrid: Editorial Mundo Latino, s/d. 
DARÍO, Ruben. Poemas en prosa. 2ª ed. Buenos Aires: Colección Austral, 1948. 
FRIEDRICH, Hugo. Estrutura da lírica moderna: da metade do século XIX a meados do 
século XX. 2.ed. SP: Duas Cidades, 1991. 
GALE, Leonore V. Ruben Darío y el poema en prosa modernista. The City University 
of New York. Versão online. Disponível no endereço eletrônico 
www.ucm.es/BUCM/.../ALHI7575110367A.PDF.Acesso em 22/08/2011 
MELLO, Jefferson Agostini. Um poeta simbolista na República Velha: Literatura e 
sociedade em Missal de Cruz e Sousa. Universidade de São Paulo, 2004. (Tese de 
doutoramento). 
 32
MURICY, José Cândido de Andrade. Para conhecer melhor Cruz e Sousa. Rio de 
Janeiro: Bloch Editores, s/d. 
PAZ, Octavio. O arco e a lira. Tradução de Olga Savary. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 
1982. (Coleção Logos) 
PIRES, Antônio Donizeti. Pela volúpia do vago: O Simbolismo. O poema em prosa nas 
literaturas portuguesa e brasileira. 2002. Tese (Doutorado em Estudos Literários) – 
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Araraquara. v. 1 e 2. 
SANDRAS, Michel. Lire le poème en prose. Paris: Dunod, 1995. (Coll. Lettres Sup). 
TORREMOCHA, María Victoria Utrera. Teoría del poema en prosa. Sevilla: Universidad 
de Sevilla, 1999. 
VARELA, Ângela. Configurações do poema em prosa: de Notas Marginais de Eça ao 
Livro do Desassossego de Pessoa. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da moeda, 2011. 
WILSON, Edmund. O castelo de Axel: Estudo sobre a literatura imaginativa de 1870 a 
1930. São Paulo : Companhia das Letras, 2004. 
 
 
TRAJETÓRIA DE UM CRESCIMENTO: CAMINHOS EMPÍRICOS, 
PRAGMÁTICOS E INTUITIVOS 
 
Amauri Faria de Oliveira Filho 
Maria Célia de Moraes Leonel 
Programa de Pós-graduação em Estudos Literários – UNESP / FCLAr 
 
O presente estudo volta-se para a análise dos recursos narrativos e poéticos da prosa 
de Guimarães Rosa, especificamente na novela “Campo geral” com o propósito de 
configurar a sensibilidade e intuição do protagonista, em seu processo de amadurecimento, 
que ganha vida na voz de um narrador com o qual, por vezes, se confunde. Para tal, o 
trabalho assume como base a obra Discurso da Narrativa de Gerard Genette [197-], na qual 
o teórico francês aponta a voz, o modo e o tempo como os aspectos constitutivos e 
geradores de sentido no texto literário. 
No primeiro momento da pesquisa, foram levantados os aspectos narrativos e seus 
efeitos de sentido na obra em questão. Em “Campo geral”, Rosa destramente brinca com o 
que Genette chamou de “[...] fronteira oscilante, mas sagrada, entre dois mundos: aquele 
em que se conta, aquele que se conta (GENETTE, [197-], p. 235). O narrador é 
 33
heterodiégetico e, portanto, não participa da história. A focalização da narrativa, no entanto, 
é interna fixa, pois ele assume o ponto de vista do menino de apenas oito anos, adotando 
seu código de valores em construção e os impasses de seu aprendizado e amadurecimento, 
na busca de um entendimento sobre o mundo e sobre os homens. Essa característica, aliada 
ao trabalho com a linguagem na prosa poética peculiar do escritor mineiro, concede um 
caráter peculiar ao texto preenchendo-o de possibilidades de leitura. 
Esses primeiros estudos conduziram a revelação de que se, no que diz respeito ao 
tempo da narração, em “Campo geral” predomina a narrativa ulterior, posição clássica da 
instância narrativa, com diversos movimentos anacrônicos de analepse como é comum no 
romance, foi possível observar que nesses momentos, o narrador mimetiza a memória do 
protagonista que, por se tratar de uma criança, tem maiores dificuldades em conseguir 
recuperar por inteiro o passado vivido do que o adulto. A instância narrativa, construtora de 
um discurso que narra uma história rica, apresenta-a porém, repleta de lacunas, tanto do 
passado quanto do presente, pois visa reconstituir o quadro de uma memória ora dotada de 
clareza, ora vaga para resgatar o vivido pela criança. Esse vazios, longe de serem um revés 
ao entendimento do texto, preenchem-no de potencialidades, fazendo de cada leitura uma 
descoberta. 
No nível narrativo, “Campo geral” apresenta um narrador extradiegético, modulado 
pelo olhar do protagonista intradiegético que, por sua vez, assume, em certos momentos, o 
papel de contador de histórias aos irmãozinhos em nível hipodiegético. Novamente, há total 
harmonia entre os recursos utilizados, pois o fato de entreter os irmãos com suas 
fantasias/mentiras ajuda a construir a imagem de uma personagem que não é apenas ator da 
diegese, mas também participa da criação. 
De volta à categoria tempo, no que diz respeito à relação entre a duração da história e 
a do discurso, de acordo com as proposições de Genette (197-, p.85), é possível notar em 
“Campo geral” que há situações de aceleração e desaceleração da velocidade da narrativa, 
particularmente em ocasiões em que algum acontecimento na vida de Miguilim afeta sua 
própria percepção do tempo. Assim, na ocasião em que Tio Terêz lhe pede para levar um 
bilhete secreto para sua mãe e trazer a resposta no dia seguinte, a dúvida moral sobre ser 
fiel ao tio ou ao pai, a dúvida respeito de “[...] como é que a gente sabe certo como não 
 34
deve de fazer alguma coisa, mesmo os outros não estando vendo” (ROSA, 2001, p. 86), 
impregna o texto de lentidão – são necessárias treze páginas para a passagem de um dia. 
Por outro lado, a cena do encontro com o doutor José Lourenço, a revelação da sua 
miopia e a decisão e partir para a cidade (marcando o encerramento da história), cuja 
duração também é de apenas um dia, se desenrola em plena aceleração em quatro páginas. 
Esses exemplos de anisocronias entre o tempo da história e o tempo do discurso na 
narrativa cujo protagonista é o menino Miguilim apontam para as peculiaridades do mundo 
da criança, construindo seu universo de valores em contato com adultos, particularmente no 
que se refere a tomar decisões. A resolução sobre a partida pertence, de fato, à Mãe, que 
chega a lhe perguntar se ele que ir, mas demonstra claramente que já decidiu a respeito do 
destino do filho. Já deliberar sobre a entrega do bilhete de Tio Terêz é uma atividade 
solitária, que não pode ser compartilhada nem com Dito, sob pena de romper a promessa 
feita ao tio. Decidir sozinho, quando se tem apenas oito anos ou pouco mais, requer tempo 
e muita coragem. 
Finalmente, ainda quanto à categoria do tempo, mas agora em relação à frequência, 
vale ressaltar que alguns fatos que passaram uma vez, aqueles mais marcantes, são 
contados várias vezes. Entre eles está o episódio da cachorrinha Cuca Pingo-de-Ouro, o 
mais querido entre todos os animais que viveram com a família e que o pai “tinha dado para 
estranhos” (ROSA, 2001, p.35) e com maior destaque a astúcia, os ensinamentos e a 
saudade de Dito, que, ao morrer, deixa vazio o mundo de Miguilim: “Os lugares, o Mutúm 
– se esvaziavam, numa ligeireza, vagarosos.” (ROSA, 2001, p. 122). 
A despeito das repetições, os episódios recontados não são monótonos. A cada 
recontar, lança-se sobre o evento uma nova luz, um novo olhar, um novo entendimento que 
buscam sugerir ao leitor o caminho de amadurecimento do protagonista. 
Cotejando os ensinamentos de Genette com as considerações que Auerbach (1971) 
tece a respeito da objetividade e da subjetividade no romance moderno, particularmente em 
relação ao romance “To the lighthouse” de Virginia Woolf, levantei, ainda no primeiro 
momento dos estudos, relações entre os movimentos de aproximação e afastamento 
presentes em “Campo geral”. O jogo com a distância imprime ao texto rosiano, a princípio, 
um caráter enigmático a respeito do papel do narrador que dá vida à diegese, por meio do 
ato narrativo produtor do discurso, e aquele que vê. Assim, aquele que fala e o que vê ora 
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se aproximam e se imbricam, ora se afastam. Além disso, essa característica imprime 
dinamismo e subjetividade à obra, pois não há uma câmera fixa, que de forma isenta ou 
imparcial, acompanha o desenrolar das ações. 
Em “Campo geral”, a narrativa alterna momentos em que imperam os conhecimentos 
objetivos do narrador heterodiegético tradicional e momentos em que os pensamentos e 
sentimentos do protagonista imprimem subjetividade unipessoal ao texto. Da leitura de 
texto de Auerbach (1971) sobreposta à novela rosiana emerge a seguinte questão:

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