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SP 1.2 – Pânico em Lisboa (Texto de Mario Prata) Coordenadora: Andreza Guimarães. Secretária: Maria Louyse Lucena. Eram seis e meia da tarde e eu estava no Bingo Belenenses quando comecei a suar frio. Janeiro de 1993. A temperatura lá fora estava perto do zero. Para espanto das bingueiras portuguesas, tirei o casacão, o pulôver, a camisa. Fiquei de camiseta cavada. Meu coração começou a bater muito forte e as minhas mãos suavam frio. Estava pela boa, mas fui ao banheiro passar uma água no rosto. Senti que ia desmaiar. Ou morrer. Na rua, com o rosto molhado e de camiseta, carregando minhas roupas, consegui entrar no meu carro vomitando na sarjeta. Mas, se você conhece Lisboa, sabe que neste horário o trânsito é o pior do mundo. Enfiei o carro em cima de uma calçada e entrei na primeira farmácia. A mocinha, assustada, olhou para minha cara, eu dizendo que estava morrendo. Pelo olhar pesaroso, ela achou que eu estava drogado e disse que só podia me dar uma pica (injeção) com ordem médica. Me indicou um hospital a duas quadras. E foi me avisando: é particular, o senhor vai ter que pagaire! Me segurando nas paredes cheguei no pronto-socorro do tal hospital particular, entrei direto para um corredor, tinha uma maca, deitei. Chegou uma enfermeira gorda e foi logo avisando que era particular e que eu teria que pagar. Dei meu cartão para ela e o telefone de um casal amigo. E disse pela segunda vez: estou morrendo. Me levaram para uma sala e me deram uma injeção. A sensação de morte era incrível, inadiável. A enfermeira ficou assustada porque o batimento não abaixava: 180. Chamaram um especialista em coração. Ele ficou mais assustado do que eu. Falou com a enfermeira e ela se aproximou, definitiva: - Vamos te aplicaire duas picas. Uma no cu (é bunda, em Portugal) e uma subcutânea. Comecei a rir, é claro. E pensei: pelo menos morro rindo. O batimento não caía. Chega o casal meu amigo. Dou os telefones dos meus parentes no Brasil. Me levam para a UTI. Ligam milhares de aparelhos em mim. Colhem meu sangue. Exames urgentes. Não deixam o casal entrar na UTI. Médicos discutem em volta de mim. Chegam os resultados dos exames. O médico se aproxima e diz que estão todos normais, apenas faltando um pouco de potássio dentro de mim. Me sugere comer bananas. Até hoje não sei se ele estava me gozando ou não. Cinco horas depois de entrar no hospital (particular) o batimento volta ao normal. Meia noite. Quero ir embora. Desligar aqueles fios todos. Chamam de novo o médico especialista. Ele não me deixa ir. Tenho que ficar em observação. Ninguém no hospital sabia o que eu tinha. Não, doutor, não há casos de enfarte na família, disse umas dez vezes. A enfermeira, vi ela sussurrar com o médico, desconfiava de alguma droga muito forte. Heroína, coisa mais ou menos comum em Lisboa. Hoje, dez anos depois, tomando remédio todo dia pela manhã, vou vivendo. Normal. Nunca mais tive nada. Nunca mais levei picas subcutâneas. Nem lá. Termos desconhecidos: sem termos. Pontos chaves: · Sudorese · Extremidades frias · Sensação de morte iminente · Taquicardia (180 bpm) · Vômito · Exames normais · Hipocalemia · Medicações IM + SC · Desconfiança do uso de drogas · Tratamento eficaz Hipóteses: 1. Pelos sintomas apresentados, o paciente apresenta crise de pânico (sudorese, taquicardia, vômito). 2. O paciente apresente também uma crise de ansiedade. 3. Os sintomas apresentados se justificam pelo aumento de noradrenalina e cortisol. 4. De acordo com o quadro do paciente, poderia ser feito: acolhimento, medicação (diazepam) + exames (toxicológico, HC, ECG, monitorização, urina), hidratar o paciente com soro glicosado. 5. O uso de entorpecentes não pode ser excluído, pois a crise de pânico pode ser desencadeada pelo seu uso. 6. O paciente faz uso contínuo de antidepressivo. O grupo prescreveu Paroxetina 20mg. 7. O caso abordado é um caso de emergência psiquiátrica. Objetivos: 1. Conceituar crise, transtorno, ataque e síndrome* (de pânico) (2 min) 2. Entender a ansiedade (40 min) a. Epidemiologia b. Etiologia (tipos) c. Fisiopatologia d. Sinais e sintomas e. Diagnóstico e diagnóstico diferencial f. Tratamento farmacológico e não farmacológico 3. Compreender a síndrome do pânico (40 min) a. Epidemiologia b. Etiologia c. Fisiopatologia d. Sinais e sintomas e. Diagnóstico e diagnóstico diferencial f. Tratamento farmacológico e não farmacológico 4. Entender emergências psiquiátricas e como funciona o encaminhamento pelo SUS (10 min)