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1 Ginecologia Caio Márcio Silva Cruz Câncer de Colo de útero e Rastreamento de lesões precursoras O colo do útero tem em média 3,5 a 4 cm. Ele tem dois tipos de tecidos, epitélio mais externo (ectocervice) e o endocervice. O Ectocervix é pavimentoso estratificado. O Endocervix é epitélio cilíndrico de apenas uma camada. JEC – Junção escamocolunar O limite entre estes dois epitélios chama-se Junção Escamocolunar – JEC, que é uma linha que pode estar tanto dentro do canal cervical quanto na porção visível do colo, para dentro ou para fora do óstio, dependendo da condição hormonal da mulher, idade e paridade, entre outros fatores. Em uma adolescente, a junção é bem mais interna. Pelo efeito do estrogênio, ela pode ficar um pouco mais externa. Essa JEC é justamente onde acontece uma luta entre os epitélios para a renovação celular. Figura 1 – JEC, na parte superior está o epitélio pavimentoso estratificado e na parte inferior está o epitélio cilíndrico simples. A renovação acontece da parte mais interior. A renovação celular é constante. O epitélio mais interno está mais exposto, pois é mais sensível (parte mais vermelha) e quando ele está mais externo chamamos de Ectopia. E essa parte do epitélio está mais exposto a microbiota vaginal, aos intemperes, o que configura a agressão ao tecido. O tecido responde como um processo de Metaplasia. Desenvolvimento do epitélio metaplásico 1. Surgimento de células de reserva (ou subcapsular) 2. Hiperplasia de células de reserva abaixo do epitélio colunar. a. A agressão ao tecido faz este processo em que o epitélio tenta ficar estratificado como uma defesa, com o surgimento de mais camadas. Nesse processo, existe uma atividade mitótica intensa e é nesse ponto que há o risco de câncer. Agente causal no desenvolvimento de carcinoma cervical Figura 2 – Papiloma humano – HPV. 2 Ginecologia Caio Márcio Silva Cruz DNA vírus sexualmente transmissível e que é responsável por 99,7% dos cânceres do colo de útero. O DNA age no momento favorável que é na Metaplasia do tecido, visto que a atividade mitótica é intensa. Figura 3 – Prevalência mundial de tipos de HPV. Nota: Os tipos 16 e 18 são os principais tipos de causadores de câncer de colo uterino. Carcinogênese Controle do Ciclo celular P53 e Rb = são antioncogênicos. Eles ficam em cada processo e fazem a checagem. O P53 induz a apoptose quando uma célula fica irregular após um erro na divisão celular. O Rb entra no ciclo celular e controla. Saber até quando aquela célula vai entrar de novo no ciclo celular. Organização Geral do genoma do Papilomavírus Genoma é dividido em 3 regiões. Uma região precoce (E) que codifica as proteínas oncogênicas. o Engana as células Uma região tardia que codifica 2 proteínas do capsídeo viral L1 e L2. Uma região regulatória responsável pela replicação viral. Existe uma mistura entre o DNA do vírus e do hospedeiro. Carcinogênese do Colo Uterino Se o E2F estiver ocupado, o Rb não entra no ciclo celular. A proteína E7 bloqueia o Rb e a proteína E6 bloqueia o P53. As células defeituosas continuam se replicando. O E2F vai continuar entrando no ciclo celular. 3 Ginecologia Caio Márcio Silva Cruz Figura 4 – Mecanismo de E6 e E7 na carcinogênese cervical. 1 – HPV de alto risco 2 – Tempo prolongado com carga viral alta. 3 – Imunidade baixa do paciente. Tudo isso precisa para que se desenvolva o câncer de colo de útero. Os tipos 6 e 11 não são tipos de HPV de alto risco. Figura 5 – Evolução da neoplasia intraepitelial cervical até NIC III e as lâminas coradas por Papanicolau correspondente. Incidência mundial estimada do HPV – Doenças e diagnósticos relacionados História natural da infecção pelo HPV de alto risco e sua potencial progressão para o Câncer Cervical Lesões de baixo grau (NIC I) NIC II e III – são as lesões de alto grau e precursoras de câncer; A progressão da doença é lenta e pode demorar de 14 a 21 anos. Fatores associados e envolvidos na carcinogênese do HPV Alta paridade Anticoncepcionais (principalmente o estradiol, deixa o epitélio mais exposto) Tabagismo HIV Co-infecção com outras doenças sexualmente transmissíveis Dieta Hormônios endógenos Fatores genéticos 4 Ginecologia Caio Márcio Silva Cruz Figura 6 – Esquema da batalha da resposta imune. Adenocarcinoma vem do epitélio glandular do útero e acontece em menos de 5% dos casos e não obedece a história natural. O pico de infecção por HPV é nos 20, 22 anos. As lesões precursoras começam a partir dos 30 anos e na quarta década de vida, o câncer começa a aparecer. Carcinoma de células escamosas invasivo É o tipo mais comum de câncer cervical Na América do Sul a incidência é de 100 novos casos anualmente para cada 100.00 mulheres. A invasão estromal progride, tornando a lesão visível ao exame especular. O câncer avançado pode ser endofítico, exofítico ou a combinação de ambos. Carcinoma Epidermóide do colo Macro Estágios iniciais: lesão mal definida, granular e erodida ou como uma massa anular e exofítica. Se dentro do canal endocervical: como uma massa endofítica, infiltrando o estroma e provocando aumento difuso e endurecimento da cérvice (cérvice em forma de barril). Adenocarcinoma invasivo Macro Aparece como uma massa polipoide, tubular. O aspecto macroscópico “colo em barril” é próprio do adenocarcinoma. Em 5% dos tumores cervicais. Média de idade: 56 anos Tipo mais comum: mucinoso Com frequência associados a adenocarcinoma in situ e HPV dos tipos 16 e 18. Estadiamento do Câncer de Colo Uterino 5 Ginecologia Caio Márcio Silva Cruz Prognóstico O estádio clínico do tumor é o melhor índice prognóstico de sobrevida; A taxa de sobrevida geral é de 60% e para cada estádio é: o I: 90% o II: 75% o III: 35% o IV: 10% Cerca de 15% das pacientes desenvolve recidivas na parede vaginal, pelve ou reto em 2 anos de tratamento adequado. Tratamento Depende do estadiamento do câncer: Tumor localizado: histerectomia radical Tumor mais avançado: RTX ou RTX+Histerectomia. Diagnóstico das Neoplasias Intraepiteliais História clínica Quadro clínico Complementares o Citologia o Colposcopia o Histologia – Biopsia e LEC Biologia molecular Finalidades do exame citopatológico 1 – Pesquisar células neoplásicas ou pré- neoplásicas do colo uterino, antes que progridam para carcinoma invasor. 2 – Avaliação da microflora 3 – Auxílio na avaliação hormonal É necessário fazer uma boa coleta, tanto dos epitélios quanto da JEC. Prevenção sob a lógica do risco e relação custo-benefício/efetividade. Anualmente, por dois anos consecutivos, a a partir dos 25 anos de idade ou começo da vida sexual, e caso esses exames sejam negativos, a cada três anos até os 64 anos. Depois dessa idade, não precisa mais fazer. Na menopausa a divisão celular diminui pela diminuição do estradiol. Todos os locais diminuíram, porém no Brasil, as taxas são altas pois o rastreio aqui é oportunista e não otimizado. Qualidade da coleta Para que o teste seja eficiente. O esfregaço cérvico-vaginal deve conter células representativas do ectocervice e do endocervice. As lesões malignas ou precursoras do colo de útero somente poderão ser detectadas se o esfregaço for de boa qualidade incluindo elementos representativo de todas as áreas de risco. A coleta inadequada éa maior causa de falsos resultados (negativo: +/- 15%; positivo: +/- 4%) Existem muito poucos falso positivos, pela especificidade que é 90%. Por isso, em caso de dois testes, com um positivo e um negativo, existe a maior probabilidade do segundo ser um falso negativo. 41% das coletas no Maranhão não tinham células da zona de transformação. Tem mais chances de detectar em locais de melhor coleta. A sensibilidade dos testes ainda é baixa, pela questão de coleta. O rastreamento oportunístico – colhe de quem aparece. 6 Ginecologia Caio Márcio Silva Cruz Figura 7 – Rastreamento otimizado que foi realizado na Inglaterra. Mapeamento das mulheres na região e a busca ativa por elas. Alterações na Colposcopia Alterações na citologia Aspecto suspeito do colo uterino Resultados insatisfatórios da citologia Infecção por HPV oncogênico Orientação da biópsia. Duas substâncias são importantes na Colposcopia, o Ácido acético – tem preferência por proteína e a coagula. Assim, a região fica branca na coloração - e o Lugol – solução de iodo 1%, e tem tropismo pelo glicogênio, e o tecido capta o iodo, que fica marrom. No iodo +, fica branco, pois as células alteradas consomem o glicogênio presente. Alterações: Biópsia da lesão que aparece e faz o exame histopatológico, que é o padrão ouro no diagnóstico. Biologia Molecular Mostra qual tipo de HPV está presente a também a carga viral. Tratamento Individualizar tratamento o Pacientes imunodeprimidas o Gestantes o Acesso ao tratamento médico o Recursos disponíveis Encaminhar pacientes com doença invasiva o mais breve possível. Tratar infecções concomitantes Considerar o tipo de LIE. Tratamento das lesões precursoras
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