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Nathália Muniz – Medicina Veterinária UFRB Funções renais ✓ Formação de urina com propósito de eliminar resíduos básicos. ✓ Regulação ácido-base, predominantemente por meio da reabsorção de bicarbonato do filtrado glomerular. ✓ A conversão de água, o sistema tubular através de diversos fatores (ADH, mecanismo de contracorrente na alça de Henle, gradiente de uréia na medular) é capaz de reabsorver até 99% da água do filtrado glomerular. ✓ Manutenção da concentração de potássio no meio extracelular através da reabsorção passiva nos túbulos proximais e secreção tubular nos túbulos distais sob a ação da aldosterona. É importante em situações de insuficiência renal crônica, pois a falha do rim vai causar aumento dos níveis de potássio que vai predispor arritmias. ✓ Função endócrina através de três eixos hormonais: renina-angiotensina, eritropoietina e vitamina D. Portas de entrada Via ascendente: mais comum e pode partir de doença dermatológica (perivulvar), genital (piometra) ou intestinal (diarreia contaminando a vulva). As bactérias são os agentes mais comum nessa forma. Via hematógena: qualquer infecção em qualquer órgão pode consequentemente ascender para os rins, através da via hematógena ascendente. Existe um refluxo da urina para o rim no momento da micção. Isso ocorre porque a musculatura é detrusora e a excitação ocorre de célula a célula, contraindo de uma só vez. Quando isso acontece, um pouco de urina volta para os rins. É comum se ter uma pielonefrite associada a uma cistite por conta desse refluxo urinário. Processamento metabólico nós túbulos renais: pela ativação de produtos nos túbulos renais causando necrose, como por exemplo, mercúrio e cisplatina. Mecanismos de defesa Os mecanismos de defesa renal basicamente são três: • Sistema barreira composto pela membrana basal glomerular capaz de separar moléculas pelo tamanho e carga elétrica. • Sistema monócito –macrófago localizados no mesângio glomerular. • Sistema imune com resposta humoral, celular e inata. Algumas vezes o sistema imune pode ser responsável por lesões renais. Não lesões São estruturas normais que, por serem pouco conhecidas ou semelhantes a lesões, são ocasionalmente interpretadas como tal. Rim pálido dos felinos: o gato acumula gordura no parênquima e ao redor do parênquima. Muco na pelve renal dos equinos: fisiológico. Cavalo não tem urólitos, não faz urolítiase (suínos também não). Distribuição irregular de sangue: não lesão em rim de bovinos. Lesões sem significado clínico Lesões que geralmente não se traduzem em manifestações clínicas, não podem ser associadas às causas da morte. Cicatriz de migração de parasitos: Toxocara canis em cães, indica que o animal teve parasitose quando novo. Alterações post-mortem Alterações que resultam de processos autolíticos ou putrefativos que ocorrem após a morte. - Congestão hipostática - Embebição por hemoglobina - Pseudomelanose - Amolecimento do parênquima renal “rim polposo” Patologia do Sistema Urinário Distúrbios do desenvolvimento Agenesia e aplasia A agenesia e a aplasia renais correspondem à ausência completa ou a rudimentos embrionários de um ou ambos os rins, respectivamente, podendo não haver estrutura renal reconhecível macroscopicamente. Nesses casos, o ureter pode ou não estar presente. Se presente, a extremidade cranial do ureter apresenta-se fechada. Causas: geralmente, é causada pelo desenvolvimento incompleto do pronefro, do mesonefro, ou do botão ureteral ou pela ausência ou degeneração do blastema metanéfrico. Ocorre raramente em todas as espécies domésticas, mas pode haver maior predisposição em famílias de cães das raças Dobermann, Pinscher e Beagle e em suínos Large White. ➢ A aplasia unilateral é compatível com a vida e pode ser imperceptível nos exames clínicos, podendo ser um achado acidental de necropsia desde que o outro rim seja normal. Nesse caso, o rim contralateral aumenta de volume como resultado de hipertrofia compensatória. Lembrando que na hipertrofia renal não há aumento do número de néfrons, e sim do volume das células tubulares e glomerulares. ➢ A aplasia bilateral é incompatível com a vida pós-natal e ocorre esporadicamente. Agenesia renal unilateral em potro. Hipoplasia A hipoplasia renal é o desenvolvimento incompleto do rim, de tal modo que, ao nascimento, há menor número de néfrons, lóbulos e cálices. Causas: pode ser causada pela redução do blastema metanéfrico ou pela incompleta formação do néfron pelo botão ureteral. Pode ser uni ou bilateral, mas ocorre raramente e pode ser de difícil diagnóstico em alguns casos, particularmente quando discreta e bilateral. ➢ Quando unilateral, pode ocorrer hipertrofia compensatória do outro rim. ➢ Quando bilateral, dependendo do grau, pode causar insuficiência renal. O rim hipoplásico parece ser mais suscetível às infecções quando comparado ao rim normal. Macro: na avaliação macroscópica de rins hipoplásicos em bovinos ou suínos, encontra-se redução do número de lóbulos e cálices. Micro: o exame histológico é muito importante para diferenciar hipoplasia e hipotrofia e até mesmo com relação à displasia renal. Na hipoplasia, além de haver redução no número e no tamanho dos glomérulos, poderão ser observados resquícios de estruturas embrionárias. Hipoplasia unilateral em ovino. Displasia A displasia renal pode ser definida como um desenvolvimento anormal do parênquima renal, em decorrência de nefrogênese anômala, com falha na interação entre o botão ureteral e o blastema metanéfrico. A displasia pode ser uni ou bilateral. Causas: não são totalmente conhecidas. Porém, o caráter hereditário e genético tem grandes potenciais na formação de displasia. O crescimento e a ramificação do botão ureteral e a epitelização do mesênquima são regulados por genes específicos. Defeitos ou anormalidades nesses genes causam agenesia, hipoplasia ou displasia renal. Cistos renais São conhecidos três tipos de cistos renais: ➢ Solitários (uriníferos) - Os cistos solitários localizam-se mais frequentemente na cortical. Ocorrem nos suínos, bovinos, cães e, raramente, nos gatos. Pode haver um ou mais cistos na superfície do órgão. Apresentam cápsula transparente ou esbranquiçada e opaca e contêm líquido semelhante à urina. Microscopicamente, são constituídos por membrana conjuntiva revestida por epitélio cúbico com compressão do parênquima renal adjacente. Rim de suíno com cistos solitários. ➢ Múltiplos (rins policísticos) - Os rins policísticos apresentam seu parênquima substituído por formações císticas numerosas, pequenas e coalescentes. São mais comuns em bezerro, suíno e gato, mas pode estar presente em qualquer espécie animal. O rim, quando seccionado transversalmente, apresenta aspecto semelhante a favo de mel. Microscopicamente, os cistos são observados nas regiões cortical e/ou medular e suas paredes são constituídas por tecido conjuntivo fibroso revestido internamente por células cúbicas ou achatadas. O tecido renal adjacente também pode mostrar sinais de atrofia por compressão. Rim policístico de suíno. ➢ Cistos de retenção - constituem uma lesão adquirida. Podem ser numerosos ou não e geralmente são menores que os cistos congênitos. Localizam-se nas regiões cortical e/ou medular. Estão presentes nas doenças renais crônicas que resultam em compressão e obstrução dos túbulos renais por tecido conjuntivo fibroso com dilatação da porção tubular anterior à obstrução. - O indivíduo tem fibrose, urólitos, parasita que entrou e ocluiu a passagem da urina, que começa a se acumular. - Em bovinospode se ter apenas um lóbulo acometido e este não apresentar nem sinais clínicos, ao passo que em animais unipiramidais o quadro clinico se altera. - Em gatos persas já se sabe que está relacionado a genética, ocorrendo bilateralmente. Os dois primeiros tipos são anomalias congênitas, mas os cistos de retenção são adquiridos. Rins com várias estruturas cavitárias no córtex interno (Cistos de retenção). Anormalidades hereditárias na função tubular renal Algumas anormalidades na função tubular renal são descritas em animais como, por exemplo, a glicosúria renal primária e a excreção exacerbada de cistina na urina (que predispõem machos a urolitíase), porém essas são doenças infrequentes e de difícil diagnóstico, pois uma vez que o defeito é funcional, lesões histológicas não são esperadas. Insuficiência renal Se instala quando os rins perdem 75% da sua capacidade funcional. Essa perda pode se dar por diversas etiologias, desde que seja grave ou duro tempo suficiente. Uma insuficiência renal aguda pode evoluir para uma crônica. - Quando o rim se torna insuficiente, começam a se acumular no sangue os produtos nitrogenados da degradação proteica, principalmente ureia e creatinina. Isso pode significar uma azotemia ou uma uremia. Azotemia: Quando ocorre o aumento laboratorial, mas o animal não apresenta quadro clinico. Uremia: Quando esse acumulo é tão grave que o animal passa a presentar sinais clínicos (apresenta lesões extra renais associadas a uremia). Causas da Insuficiência Renal Pré-renal: causada por diminuição do aporte vascular para os rins, insuficiência cardíaca congestiva, choque circulatório e hipovolemia (hemorragias e desidratação graves). Essas alterações diminuem a perfusão renal e, consequentemente, reduzem a taxa de filtração glomerular, retendo no sangue as substâncias desnecessárias e tóxicas que deveriam ser eliminadas pela urina. Renal: causada por lesões agudas ou crônicas que reduzem a função renal a níveis incompatíveis com a normalidade. A insuficiência renal aguda caracteriza-se por azotemia, entre outras alterações bioquímicas. A insuficiência renal crônica caracteriza-se por uremia e pode ser utilizada como sinônimo para uremia renal. Pós-renal: causada por obstrução completa do fluxo urinário por causar intrínsecas ao trato urinário inferior (urolítiase, tumores de bexiga e de uretra, etc) ou extrínsecas (tumores de útero, hiperplasia de próstata, prostatite grave, etc). É mais frequente em obstrução da uretra. Insuficiência renal aguda A insuficiência renal aguda (IRA) ocorre devido à redução súbita da função renal. Causas: As causas mais frequentes de IRA são as glomerulonefrites agudas, representadas mais frequentemente pelas glomerulonefrites imunomediadas e pela necrose tubular aguda. Pode ser causada por fatores pré-renais (perfusão renal comprometida), intrarrenais (função renal comprometida) ou pós-renais (obstrução do trato urinário). Manifestações clínicas: Na IRA ocorre oligúria, disúria ou anúria, azotemia, pequena ou nenhuma perda de eletrólitos e hiperpotassemia (hipercalemia). ✓ O quadro é reversível, mas a morte pode ser consequente de cardiotoxicidade pelo excesso de íons potássio e de outros tóxicos no sangue, pela acidose metabólica e edema pulmonar. ✓ As lesões extrarrenais, quando presentes, são discretas. ✓ Começa a diminuir a ultrafiltração, pode ocorrer obstrução intratubular (no túbulo contorcido proximal com a descamação das células), vazamento retrógrado do fluido e vasoconstrição intrarenal (muitas vezes mediado pelos anti-inflamatórios). ✓ Ocorre principalmente por conta de lesão tubular isquêmica, toxica e obstrutiva. As principais alterações patológicas da IRA são: ✓ Diminuição da perfusão renal; ✓ Diminuição da filtração glomerular; ✓ Inflamação; ✓ Edema; ✓ Fibrose. Quando a lesão é por toxicidade ocorre a recuperação pois não ocorre lesão na membrana basal. No caso de uma lesão isquêmica ocorre lesão da membrana basal, tendo por consequência perda daquela parte do rim. Insuficiência renal crônica A insuficiência renal crônica (IRC) ocorre devido à incapacidade dos rins de desempenhar suas funções, como resultado da perda progressiva e gradual do tecido renal por um período prolongado (meses ou anos). Comumente, é irreversível e é o resultado final de muitas doenças renais em geral, mas não necessariamente, crônicas. IRC não é sinônimo de doença renal crônica, de modo que pode haver IRC sem lesão renal crônica, e vice-versa. Pode ser um contínuo patológico da insuficiência renal aguda. ✓ Na IRC podem ser observadas diversas lesões extrarrenais. ✓ Independentemente de a uremia ser ou não de origem renal, as lesões que resultam da uremia são semelhantes, extra-renais e multissistêmicas. ✓ Também pode ser expressada através de alterações patológicas hematógenas, como anemia arregenerativa por conta da falta de eritropoietina. ✓ Além disso o paciente perde antitrombina III resultando na formação de trombos (trombose e necrose). No equilíbrio de base, o cálcio e fósforo são mantidos no organismo na proporção de 2:1. Com a filtração glomerular reduzida, o corpo retém fosforo e o organismo entende essa alteração como hipocalcemia (mesmo que seja apenas relativa) e hiperfosfatemia, resultando na liberação do PTH que vai retirar o cálcio dos ossos e jogar na circulação sanguínea. O resultado é hiperplasia da paratireoide (podendo ser macroscopicamente visível), calcificação metastática, osteodistrofia fibrosa e nefrocalcinose (calcificação do rim). Todos esses fatores estão associados com a insuficiência renal crônica. Cálcio se deposita no rim, no estômago, na laringe, no espaço intercostal, nos grandes vasos, no pulmão. Uremia A uremia é uma síndrome clínica associada a insuficiência renal. Ou seja, engloba várias causas com o mesmo sinal clínico. É representada por anorexia, vômito, diarreia sanguinolenta, prostração, halitose (odor amoniacal - Na boca, as bactérias orais transformam essa ureia em amônia que é caustica, causando lesão por contato) e encefalopatia urêmica, acompanhados de lesões extra-renais de uremia (estomatite e glossite ulcerativa – úlceras longas e rasas ao longo da margem da língua). - O mesmo processo se segue pelo esôfago até o estômago (ulceras longas e hemorragia até o estômago), que também se encontra hiperêmico e com a parede espessada por conta de deposição de cálcio (gastropatia urêmica → estômago fica espesso e o cão vomita). - Laringite necrosante, calcificação e endocardite ulcerativa (podendo gerar trombose, principalmente no átrio). - Edema e aumento da permeabilidade vascular no pulmão (pedra polmes → armado e calcificado, em todos os alvéolos. O animal apresenta dificuldade respiratória, intolerância ao exercício e posição ortopneica). - Nos cães, outra alteração importante é a calcificação intercostal. Estomatite e glossite ulcerativa. Laringite necrosante e calcificação. Distúrbios circulatórios Hemorragias As hemorragias são especialmente comuns no córtex renal em uma variedade de bacteriemias e viremias e, algumas vezes, são encontradas em animais saudáveis abatidos. Causas: podem ser de origem bacteriana (salmonelose, erisipela, clostridiose, leptospirose etc.) e viral (peste suína, febre catarral maligna etc.), mas as intoxicações (dicumarínicos, venenos de cobra do gênero Crotalus etc.), a deficiência de fatores da coagulação sanguínea e os traumatismos são também causas frequentes de hemorragia. ✓ As hemorragias do parênquima renal são do tipo petequial, especialmente na salmonelose ena leptospirose, maiores e irregulares no tamanho e na forma na erisipela suína e, em geral, são hemorragias extensas nas enterotoxemias por Clostridium perfringens, nas intoxicações por dicumarínico e nos traumatismos. ✓ A superfície deve ser cortada a fim de se examinar a profundidade da hemorragia e diferenciá-la de infarto agudo. Herpes vírus caninum tipo 1: hemorragia por diapedese (ruptura do vaso), conhecida como hemorragia equimótica no córtex renal. Tem ganhado importância por conta da criação comercial de cachorros. Em cães esse vírus vai causar uma doença respiratória transitória ou problema reprodutivo (aborto, mortalidade e diminuição do número de partos), entretanto, no filhote é uma doença fatal. No cão adulto é considerada de difícil diagnóstico. É fatal em filhotes pois até 15 dias este possui o centro que controla a temperatura do corpo ineficaz. A diferença de 1° a 1,5° de temperatura do corpo do filhote para o adulto permite que esse vírus se replique no corpo do filhote. Por conta disso, é preciso aquecer o filhote. Com 2 a 5 dias de intervalo morre a ninhada inteira. Filhotes apresentam tensão abdominal e dor abdominal intensa (evolução de até 3 dias). Peste suína: Vai causar uma necrose vascular que vai gerar uma alteração chamada de rim em ovo de perua. Infarto Os infartos renais são áreas de necrose de coagulação resultantes da isquemia por obstrução vascular causada por êmbolos ou trombos localizados nas artérias e nas veias renais ou em suas ramificações. A dimensão do infarto depende do calibre e do número de vasos sanguíneos ocluídos. Assim, se uma artéria arciforme é obstruída, há necrose das regiões cortical e medular e, se há somente obstrução da artéria interlobular, a região de infarto limita-se ao córtex. • O infarto de todo o rim, pela oclusão da artéria renal principal, é raro. Se o material que oblitera o vaso é séptico, formam-se abscessos que podem ser cicatrizados, ser sequestrados ou ser eliminados pela pelve. Causas: Todas as doenças que resultam na formação de tromboêmbolos são causas potenciais de infartos renais, sendo as principais a endocardite valvar, êmbolos assépticos, trombose das veias renais por abscessos, dirofilariose, endarterite das artérias aorta e renais por Strongylus vulgaris (equinos), neoplasias malignas metastáticas e outras. ✓ A trombose das artérias resulta em infartos que são inicialmente vermelhos tornando-se cinza pálido dentro de 2 a 3 dias devido à lise dos eritrócitos e à degradação da hemoglobina. Ao corte, a área infartada apresenta-se em forma de cunha, com a base voltada para a superfície do órgão. ✓ A resolução do infarto ocorre por lise e fagocitose do tecido necrosado e pela substituição por tecido conjuntivo fibroso, deixando áreas esbranquiçadas e deprimidas em relação à superfície do rim. Pode ocorrer também calcificação distrófica em infartos antigos. Aparência macroscópica do infarto: - Infarto agudo: vermelho e com edema. - Infarto 2 - 3 dias: pálido com halo hiperêmico. - Infarto antigo: pálido e fibrose. Infarto recente em rim de cão. Múltiplos infartos antigos em rim de ovino. Infarto antigo com fibrose em rim de lobo- guará. Microscopicamente, os infartos mais recentes têm uma área central de necrose de coagulação circundada por uma zona de hiperemia, hemorragia e por uma zona de infiltração leucocitária. A maioria dos infartos renais não apresenta significado clínico. Infartos extremos são importantes causas de hipertensão arterial e até mesmo de insuficiência renal, quando bilaterais. Necrose das papilas renais As papilas são áreas pálidas que já vivem com pouca irrigação. Com o uso, por exemplo, de anti-inflamatórios, diminui a perfusão da pelve. Se o indivíduo tomar muito anti-inflamatório, com o passar do tempo ele vai apresentar insuficiência renal aguda. A parte descamada da pelve que se desprende também pode servir de núcleo de precipitação para um urólito. Principal causa é a vasoconstrição associada ao uso de anti-inflamatórios. Alterações degenerativas Lesões tubulares Nefrose ou necrose tubular aguda A nefrose é um processo degenerativo das células tubulares que pode causar subsequente necrose tubular. Ambas são causas importantes de insuficiência renal aguda. Causas: Geralmente, a nefrose é o resultado de um insulto tóxico (endógena ou exógena) ou isquêmico (nefrose isquêmica) ao rim. Tanto o insulto tóxico quanto o isquêmico podem alterar a célula tubular, por afetar a respiração celular, alterar o sistema de transporte tubular e danificar as organelas. Ambos os rins podem ser afetados igualmente. As células do epitélio tubular, particularmente aquelas dos túbulos proximais, são mais suscetíveis à isquemia e às nefrotoxinas, por serem metabolicamente muito ativas e pelo grande volume de filtrado glomerular que reabsorvem no processo de formação da urina. A nefrose caracteriza-se morfologicamente pela destruição das células do epitélio tubular, que pode resultar em oligúria ou anúria devido à vasoconstrição da arteríola aferente pela ativação do sistema reninaangiotensina, levando à diminuição da filtração glomerular. Além disso, evidencia a azotemia ou uremia. • Necrose tubular isquêmica (NTI): Ocorre por hipotensão grave, devido a hemorragias extensas e/ou intensas, desidratação e anemias e por insuficiência cardíaca congestiva. Causas: doenças hemolíticas - intoxicação crônica por cobre, babesiose, intoxicação por melitina por picada de abelhas, AHIM e doenças que cursam com necrose muscular grave - rabdomiólise e miopatia de captura em animais silvestres, uso de anti- inflamatórios. Histologia: Caracteriza-se por necrose multifocal ao longo do néfron, em particular dos túbulos proximais e de alguns segmentos dos túbulos distais. Ocorre ruptura da membrana basal tubular (tubulorrexia) e oclusão do lúmen tubular por cilindros. • Necrose tubular nefrotóxica (exógena): Os rins desempenham papel importante na biotransformação de muitas drogas e tóxicos. Essa biotransformação geralmente resulta na formação de metabólitos menos tóxicos e outros mais tóxicos, que podem danificar as células tubulares. A toxicidade de muitos agentes exógenos é exacerbada nos estados de desidratação. Causas: antibióticos, sulfonamidas, antifúngicos, metais pesados, monensina, oxalatos e micotoxinas. Histologia: necrose extensa dos túbulos proximais, mantendo a integridade da membrana basal tubular. • Necrose tubular nefrotóxica (endógena): A hemoglobina, a mioglobina, os pigmentos biliares e a hemossiderina são os principais agentes tóxicos endógenos capazes de causar nefrose → nefrose hemoglobinúrica, nefrose mioglobinúrica, nefrose colêmica e nefrose por hemossiderina. Macroscopicamente: a coloração do rim pode ser muito variável, dependendo da quantidade e do tipo de pigmento acumulado → Rompimento da musculatura por exaustão física, gerando aumento de miolobina. Histologia: a nefrose aguda caracteriza-se por picnose, cariorrexia e cariólise das células tubulares, vacuolização citoplasmática desprendimentos dessas células para dentro do lúmen e formação de cilindros e cristais. ➢ Estabilidade e instabilidade enzoótica: Uma área é considerada de instabilidade enzoótica quando a frequência de anticorpos se apresenta inferior a 75%, quando superior a este valor a área é considerada de estabilidade enzoótica. Em casos de instabilidade enzoótica grave pode haver hemoglobinúria e necrose tubular aguda associada. Assim como nos casos de intoxicação por cobre (hemólise), em que o processo de intoxicação é crônico,mas a apresentação é aguda com necrose tubular aguda (precisa de um evento precipitante/estresse fazendo com que o animal libere o cobre todo de uma vez). A intoxicação por melitina é dose dependente, podendo gerar síndrome do envenenamento, em que a melitina vai fazer hemólise e resultar em necrose tubular aguda. Obs: plantas Amaranthus spp., Thiloa glaucocarpa e compostos antiblásticos (cisplatina) também são causas importantes da necrose tubular nefrotóxica. Independente da planta, os sinais clínicos são os mesmos: edema de declive, proteinúria, podendo ter outros sinais de IR. Regeneração tubular ➢ Animais que sobrevivem à nefrose ou à necrose tubular podem se recuperar sem que haja disfunção renal ou podem desenvolver fibrose renal com subsequente insuficiência renal crônica. Lesões glomerulares O principal achado clínico de lesão glomerular é o vazamento de proteínas (albumina) para o filtrado glomerular. Doenças renais que cursam com proteinúria intensa e crônica podem resultar em hipoproteinemia, redução da pressão coleidoosmótica e perda de antitrombina III (formação de trombo, podendo resultar em oclusão de vasos e áreas de necrose). As doenças renais que resultam em proteinúria são chamadas de nefropatias com perda proteica. Moléculas grandes não passam pelo glomérulo. Quando existe lesão glomerular, a primeira coisa que extravasa é proteína, sendo um sinal fundamental de lesão glomerular. No hemograma pode ser visto hipoproteinemia; em último grau vai resultar em síndrome nefrótica (edema no corpo inteiro associado a hipoproteinemia). Existem três teorias para os mecanismos fisiopatológicos da lesão glomerular: • Hipótese do néfron intacto: propõe que lesão em qualquer porção do néfron afeta todo seu funcionamento. • Hipótese da hiperfiltração: propõe que lesões que cursam com hiperfiltração prolongada como hipertensão e dieta rica em proteína levam a lesão glomerular progressiva e glomeruloesclerose. Por exemplo, se houver impedimento da função de um glomérulo ou um rim, o contralateral precisa compensar. Com o aumento da carga de trabalho, a meia vida das estruturas diminui. • Hipótese da deposição de imunocomplexos: deriva do fato dos glomérulos serem o sitio primário de remoção de macromoléculas como imunocomplexos da circulação e a deposição desses nos glomérulos (subendotelial, subepitelial ou mesangial) libera mediadores químicos que iniciam a inflamação e lesionam as células. Glomerulonefrite está normalmente relacionada a doenças que cursam com antigenemia persistente (as que estão o tempo todo estimulando o sistema imune). ▪ Glomerulite supurativa aguda ▪ Glomerulonefrite - Imunomediada - Viral - Química ▪ Amiloidose Glomerulite supurativa aguda É o resultado de bacteremia, na qual a bactéria se aloja nos glomérulos de forma aleatória e, em menor grau, nos capilares intersticiais, causando a formação de múltiplos focos de inflamação (microabscessos) distribuídos no córtex renal. Causas: Actinobacilus equi (equinos, principalmente potros que tiveram falha na transferência materna da imunidade passiva), Erysipela e Estreptococcus spp. (suínos) e Arcanobacter spp. (suínos e bovinos). - Formação de pus, presença de neutrófilos. - São observados no rim sinais de embolia (centro pálido e cheio de pus se tiver bactéria, e um halo hiperêmico ao redor), sendo multifocal e aleatória. Inicialmente pode ser mais cortical. Se estendem a profundidade do corte. Macroscopicamente: múltiplos focos puntiformes, acastanhados e salientes; são vistos na superfície sob a cápsula e na superfície de corte por todo o córtex renal. Microscopicamente: os capilares glomerulares contêm numerosas colônias de bactérias, entremeadas a debris necróticos e extenso infiltrado neutrofílico, que geralmente oblitera os glomérulos. Hemorragia glomerular ou intersticial também pode ocorrer. Inicialmente o animal vai possuir glomerulite que vai evoluir para glomerulonefrite. Glomerulonefrite imunomediada A patogênese da glomerulonefrite imunomediada envolve a deposição de imunocomplexos solúveis no interior dos glomérulos ou a presença de anticorpos antimembrana basal glomerular (menos comum em animais domésticos). ➢ Glomerulonefrite por imunocomplexos ocorre em associação com infecções persistentes ou outras doenças que caracteristicamente apresentam uma antigenemia prolongada, que aumenta a formação de imunocomplexos solúveis. ➢ Em animais domésticos, a glomerulonefrite por imunocomplexos ocorre mais comumente em cães e gatos. ➢ Está mais associada a infecções virais específicas, como o vírus da leucemia felina (FeLV) ou vírus da peritonite infecciosa felina (FIP), já que irão causar uma lesão piogranulomatosa perivascular. As infecções bacterianas crônicas, como a piometra ou pioderma; parasitismo crônico, como a dirofilariose; doenças autoimunes, como o lúpus eritematoso sistêmico e neoplasia como o mastocitoma também estão associadas. Esses complexos são depositados seletivamente na membrana basal dos capilares glomerulares, com formação de C3a, C5a e C567, que são quimiotáticos para neutrófilos. Durante os estágios iniciais da doença, os neutrófilos, ao fagocitarem os complexos imunes, liberam enzimas que lesionam a membrana basal. Após um tempo, os monócitos são infiltrados nos glomérulos e são responsáveis pela continuidade das lesões. Macroscopicamente a superfície subcapsular é irregular e rugosa. Os rins estão pálidos ou com coloração normal e os glomérulos avermelhados no córtex. Em fase crônica, os rins apresentam- se diminuídos de volume e com superfície irregular ao corte; os glomérulos são visíveis como pontos acinzentados e pálidos. Microscopicamente é classificado em três padrões distintos: - Glomerulonefrite membranosa: predomina o espessamento da membrana basal capilar e da cápsula de Bowman. Forma mais comum em gatos. - Glomerulonefrite proliferativa: é uma forma de doença glomerular por imunocomplexos caracterizada pelo aumento da celularidade do tufo glomerular causado pela proliferação de células endoteliais, epiteliais, mesangiais e glomerulares, influxo de neutrófilos e outros leucócitos, envolvendo tanto as alças capilares como o mesângio. - Glomerulonefrite membranoproliferativa: quando além do aumento dos números de células basais ocorre também o aumento de células inflamatórias. Um passo antes da glimeruloesclerose. Consequências da glomerulonefrite: - Perda de antitrombina III - Insuficiência renal → com oligúria, anúria, azotemia/uremia - Síndrome nefrótica → com proteinúria, hipoalbuminemia, redução da pressão coloidosmótica e edema generalizado. Glomeruloesclerose: hialinização e atrofia; caracterizada por fibrose intersticial e periglomerular e por focos de infiltrado linfocitário e plasmocitário no interstício. Ou seja, há formação de tecido conjuntivo no glomérulo. Glomerulonefrite viral É causada por insulto viral direto ao glomérulo e ocorre em doenças virais sistêmicas como por exemplo: hepatite canina infecciosa aguda (HIC), infecção pelo vírus da arterite equina, peste suína, Newcastle e infecção de suínos neonatos por citomegalovírus. As lesões são discretas e geralmente transitórias e resultam da replicação viral no endotélio capilar. Macroscopicamente apresentam: - Os rins estão ligeiramente edemaciados. - A superfície capsular renal é lisa. - Os rins apresentam uma coloração normal ou discretamente pálida. - Os glomérulos são visíveis como pontos de coloração avermelhada na superfície de corte do córtex.Clinicamente os animais estão doentes pela forma sistêmica da infecção e os sinais glomerulares são específicos de proteinúria transitória. Glomerulonefrite química Embora menos comum, lesões glomerulares causadas por agentes químicos ocorrem. Normalmente as lesões induzidas por fármacos levam a perda irreversível do néfron e hipertrofia compensatória dos outros néfrons, que inicia o ciclo de hipertensão e hiperfiltração, resultando em glomeruloesclerose. Causas: - Lesão direta às células epiteliais glomerulares - Lesão direta às células endoteliais dos glomérulos - Alteração do fluxo sanguíneo renal - Indução de reações imunológicas e respostas inflamatórias Fármacos que induzem lesão glomerular: O aminonucleosídeo puramicima, a adriamicina e os antagonistas da histamina lesam diretamente as células epiteliais glomerulares e geram proteinúria. O fármaco imunossupressivo, ciclosporina A, altera a perfusão renal e, consequentemente, a taxa de filtração glomerular por lesar as células endoteliais glomerulares. Exemplos de substâncias estranhas capazes de produzir imunocomplexos incluem soro hiperimune injetável, ouro e D-penicilamina; etc. Amiloidose A amiloidose é uma doença sistêmica na qual o amiloide é depositado extracelularmente em uma variedade de locais, particularmente no glomérulo renal e na parede de túbulos e vasos. São gerados sempre que houver antigenemia persistente e vão se depositar nos rins. O principal componente do amiloide consiste em proteínas fibrilares. As proteínas fibrilares do amiloide se dividem em dois tipos: - Uma proteína amiloide de cadeia leve (AL) se origina dos plasmócitos e contém fragmentos aminoterminais de cadeias leves de imunoglobulinas. Está associada ao mieloma de plasmócitos e a outras discrasias de linfócitos B. - Uma proteína conhecida como proteína associada ao amiloide (AA), que não é uma imunoglobulina, mas é derivada da proteína sérica associada ao amiloide (SAA). A SAA e o componente P do amiloide são sintetizados pelo fígado em resposta às diversas citocinas, liberadas pelos macrófagos nos processos inflamatórios crônicos. É mais comum em animais domésticos. • A superfície de um órgão com amiloidose, ao ser pincelada com solução de iodo e banhada com ácido sulfúrico diluído, cora- se por azulvioleta, o que é um resultado positivo da presença de amido. Macroscopicamente, os rins com amiloidose podem apresentar-se pálidos, aumentados de volume e com consistência mais firme. Histologicamente, o amiloide é depositado no mesângio, no subendotélio dos capilares glomerulares, na membrana basal dos túbulos renais e na parede vascular. Depósitos de amiloide no interior dos glomérulos. Lesões tubulointersticiais Nefrite intersticial É o resultado de septicemias bacterianas e virais. Nessas septicemias, os agentes bacterianos infectam os rins e induzem uma resposta inflamatória no interstício. Pode ser aguda, subaguda ou crônica. As causas comuns são: - Septicemia bacteriana (E. Coli): “rim manchado de branco” em bovinos jovens e imunossuprimidos. Geralmente decorre de um abscesso e quando há colonização de E. Coli, Salmonella spp. ou Brucella spp. nos rins. As bactérias se alojam nos tufos glomerulares e capilares peritubulares, produzindo nódulos brancos no córtex. - Leptospirose: ocorre comumente em cães, cursa como uma doença hepatorrenal de difícil tratamento. A Leptospira icterohemorragica (e L. caninula) é uma bactéria disseminada pela urina dos ratos, causando nefrite intersticial aguda. As toxinas produzidas causam dissociação dos hepatócitos e hemorragia distribuída no corpo inteiro, sendo perceptível nas mucosas (cavidade oral e pulmonar). Além disso, as toxinas causam degeneração e necrose nas células tubulares. Trajeto da lesão tubulointersticial pela leptospira: cavidade oral → rim → interstício → luz tubular → eliminação pela urina. Alguns sinais bioquímicos de falha do sistema hepático e renal são aumento de componentes importante na circulação sanguínea, como ureia, creatinina, ST e LT. Macroscopicamente: rim amarelo, com nefrose colêmica (bilirrubina) e hemorragia. Microscopicamente: nos rins os túbulos encontram-se destruídos (nefrite intersticial aguda). No fígado há dissociação dos hepatócitos com perda do cordão de hepatócitos, resultando em bilestase e icterícia. - Febre catarral maligna: nefrite supurativa → necrose fibrinoide, processo inflamatório nos rins. Nefrite granulomatosa Nefrite granulomatosa pode ser vista em uma grande quantidade de doenças infecciosas e tóxicas. Como PIF não efusiva em felinos, Micobacteriose, Aspergilose, histoplasmose, algas como Prototheca sp., protozoários como Encephalitozoon cuniculi, larvas de nematóides como Toxocara canis e doenças tóxicas como a toxicose causada pela ingestão de ervilhaca (Vicia vilosa → causa perda de pelo, prurido, reação de hipersensibilidade do tipo IV e formação de granulomas principalmente nos rins e no coração). Essas doenças tem em comum a formação de múltiplos granulomas macroscopicamente visíveis distribuídos de forma aleatória por todo o rim, mas principalmente no córtex, que variam em sua composição histológica dependendo da etiologia. Larvas migratórias de Toxocara canis podem induzir pequenos granulomas cinzas ou brancos, dispersos aleatoriamente por toda a superfície subcapsular do córtex renal de cães. Bovino – Intoxicação por ervilhaca (Vicia sp.): As lesões são caracterizadas microscopicamente por infiltrados multifocais e coalescentes de monócitos, linfócitos, plasmócitos, eosinófilos e células gigantes multinucleadas. Lesões da pelve renal Pielonefrite Pielite: inflamação da pelve Pielonefrite: inflamação da pelve e parênquima renal. É a inflamação da pelve e do parênquima renal (túbulos e interstício) resultante da ascensão de infecção do trato urinário inferior, embora possa também ocorrer raramente por infecção hematogênica e por parasitas que se alojam na pelve renal, como o Dioctophyme renale, que parasita cães. Ag. Etiológicos: habitantes normais do trato intestinal → Escherichia coli, Staphylococcus sp., Streptococcus sp., Enterobacter sp., Proteus mirabillis, Klebsiella, Acinetobacter sp. e Pseudomonas sp. Fatores predisponentes: - Doenças do trato urinário inferior, como obstrução urinária causada por anomalia ureteral em animais jovens, urolitíases, tumores e hiperplasia prostática. Obs: As fêmeas são mais predispostas à infecção do trato urinário inferior por apresentarem uretra mais curta, por alterações hormonais que afetam a aderência das bactérias à mucosa e por serem mais suscetíveis aos traumas uretrais durante o coito. - Cistite e ureterite associada ao refluxo vesicouretral (refluxo anormal de urina contaminada pelas bactérias do trato urinário inferior para a pelve renal e túbulos coletores). - Inibição da função neutrofílica (amônia e osmolaridade interfere na função dos neutrófilos). Macroscopicamente: membranas da pelve e ureteres hiperêmicas ou hemorrágicas, revestidas por exsudato (purulento, hemorrágico, fibrinoso...). Ao perder a pelve renal, o rim também perde sua funcionalidade. Rim de cão com pielonefrite purulenta. Hidronefrose É dada pela dilatação da pelve e dos cálices renais decorrentes da obstrução do fluxo urinário associada à progressiva atrofia do parênquima renal. A obstrução urinária pode ocorrer por: - Forma rápida ou lenta - Completa ou parcial - Unilateral ou bilateral Além disso, pode se localizar desde a uretra até a pelve renal, representada por lesões intrínsecas ao trato urinário ou por lesões extrínsecas que comprimem o ureter e a uretra.Em seguida à obstrução, há dilatação tubular renal associada ao aumento da pressão intratubular. Hidronefrose unilateral: é causada pela obstrução dos ureteres em qualquer ponto por todo o seu comprimento ou na entrada da vesícula urinária. - O aumento pélvico do rim pode se tornar extenso, cístico, antes que a lesão seja reconhecida clinicamente. - Se a obstrução for unilateral, o rim não acometido poderá compensar totalmente a perda da função do rim afetado, impedindo a ocorrência de azotemia e uremia. Hidronefrose bilateral: pode ser causada pela obstrução uretral, obstrução ureteral bilateral ou lesões da vesícula urinária centradas no trígono. - Se o processo obstrutivo causar bloqueio parcial ou intermitente, a hidronefrose bilateral pode se tornar notável por causa da produção contínua da urina e do acúmulo de urina na pelve em expansão. - Quando a obstrução é completa e bilateral, a morte ocorre como resultado da uremia, antes que o aumento pélvico se torne evidente. Macroscopicamente: dilatação progressiva da pelve e dos cálices renais, fazendo com que o rim adquira um formato mais arredondado, com adelgaçamento da medular e do córtex. No estágio mais avançado, o rim apresenta-se semelhante a um saco. Alterações proliferativas (Neoplasias) Primárias: são de rara ocorrência (em cães menos de 1% das neoplasias). São divididas em: • Epiteliais: Adenoma (raro); Carcinoma. • Mesenquimais: Fibroma; Fribrossarcoma; Hemangioma; Hemangiossarcoma; Leiomioma. • Embrionárias: Nefroblastoma. Metastáticas: são as mais comuns. Os rins compreendem o terceiro órgão para metástase. Localizam- se especialmente no córtex e, em geral, são bilaterais. Obs: o cistoadenocarcinoma é uma dermatofibrose nodular na pele que é indicativo de carcinoma renal. Alterações do Trato Urinário Inferior Distúrbios do desenvolvimento Agenesia ureteral A agenesia ureteral é um distúrbio raro e geralmente ocorre em associação com agenesia renal. Pode ser uni ou bilateral. Se não se formar ureteres e bexiga é considerado incompatível com a vida. Hipoplasia Não desenvolvimento completo do órgão. Ureter ectópico A ocorrência de ureter ectópico é a anomalia ureteral mais importante. Já foi descrito em bovinos, equinos, cães e gatos, porém, são encontrados mais frequentemente em cães. Raças, como os Husky Siberianos estão sob maior risco. Pode ser uni ou bilateral e a incontinência urinária que se inicia logo após o nascimento é a manifestação clínica mais frequente. O ureter ectópico esvazia-se na uretra, na vagina, no colo da bexiga, na próstata, no ducto deferente e, raramente, na cérvix, no útero ou na tuba uterina. Os ureteres ectópicos podem contaminar-se mais facilmente por bactérias, predispondo o animal à pielite e à pielonefrite. Úraco patente ou persistente Ocorre quando o úraco fetal deixa de se fechar, formando um canal direto entre o ápice da bexiga e o umbigo. Os animais afetados apresentam maior suscetibilidade às infecções bacterianas da bexiga e à toxemia e/ou septicemia. Os potros são geralmente mais afetados que os bezerros, apresentando o coto umbilical sempre úmido. Em alguns casos, há gotejamento contínuo de urina pelo umbigo, e o animal, durante a micção, pode eliminar urina tanto pela uretra quanto pelo umbigo, através do úraco aberto. Alterações degenerativas Urolitíase Urolitíase é a presença de cálculos nas vias urinárias (urólitos). Cálculos são concreções formadas pela precipitação de sais de ácidos orgânicos e inorgânicos ou por outros elementos, tais como cistina, xantina, fosfato, carbonato, sílica ou uratos, em associação a uma matriz orgânica (proteína). Os cálculos podem ser encontrados na pelve renal no ureter, na uretra e na bexiga: Urólitos pélvicos: Em cães pode tomar a forma de “chifre de veado”, pois envolve toda a estrutura de cálices renais. Já em bovinos urólitos na pelve renal pode ser de menor gravidade do que em cães, visto que o rim desses animais é multilobado. Urólitos vesicais: Solitários ou múltiplos, de tamanho variável, com superfície lisa ou áspera. Nestes casos, a vesícula costuma pressionar os cálculos causando dor no animal (disúria). Urólitos uretrais: Machos no geral possuem maior facilidade em obstruir, por obter uma uretra longa e curva. O local mais comum para a localização do cálculo uretral nos machos difere para cada espécie animal. Em ruminantes, são encontrados mais frequentemente no arco isquiático, na flexura sigmoide ou no processo uretral (caprinos e ovinos) e, em caninos, na base do osso peniano. Nos felinos, alojam-se ao longo de toda a uretra. Em equinos e suínos, os cálculos são observados com menor frequência. Rim de cão com vários urólitos na pelve. Rim de bovino com vários urólitos na pelve. Bexiga de cão com urólitos grandes. Urólito uretral em macho. Vários fatores podem predispor à precipitação dos solutos, com subsequente formação de cálculos, entre eles: • pH urinário: Em presença de pH ácido, sais de oxalatos precipitam-se mais facilmente. Em pH alcalino, sais de estruvita e de carbonato precipitam-se de maneira mais fácil. • Infecções bacterianas: As infecções bacterianas predispõem particularmente à formação de cálculos de estruvita. • Fatores nutricionais: A composição dos cálculos pode refletir o tipo de dieta que o animal recebe. São importantes na gênese da urolitíase: alimentos ricos em fosfato, ingestão de plantas contendo oxalatos, deficiência de vitamina A (induz alterações metaplásicas no epitélio de transição das vias urinárias e subsequente descamação epitelial) e dietas comerciais ricas em magnésio. Estas predispõem, em gatos, à formação de cálculos de estruvita, que, em associação com o processo inflamatório, desencadeia a síndrome urológica felina. Essa síndrome se caracteriza por disúria, hematúria e obstrução uretral em machos. • Consumo de água: ingestão reduzida de água favorece a eliminação de urina concentrada, predispondo à precipitação dos constituintes dos cálculos. • Estrógeno: a ingestão de estrógeno presente no trevo subterrâneo e a implantação ou as injeções de estrógeno podem predispor, principalmente os ovinos, à formação de cálculos. • Defeitos hereditários: Cálculos de uratos são encontrados mais frequentemente em cães da raça Dálmata, apesar de essa raça apresentar quantidade normal de uricase nos rins, enzima que converte o ácido úrico em alantoína. Esses cães excretam elevadas concentrações de ácido úrico na urina devido a um defeito hepatocelular, ainda desconhecido, que resulta em incompleta conversão do ácido úrico em alantoína, que é mais solúvel. Esse defeito é resultado de herança autossômica recessiva. Tipos de cálculos urinários mais frequentes nas espécies domésticas: • Sílica: são firmes, esbranquiçados ou escuros, frequentemente laminados e radiopacos. São comuns em ruminantes e raros em equinos e em cães. • Estruvita: São os urólitos mais comuns. Animais com infecção do trato urinário são mais suscetíveis a esse tipo de cálculo. Normalmente são acinzentados, macios e quebráveis, podendo ser únicos e grandes ou numerosos e arenosos. • Oxalato: dietas pobres em cálcio podem predispor à formação de cálculos de oxalato devido ao aumento da reabsorção óssea. • Xantina: é um metabólito das purinas e raramente aparece na urina, porque normalmente é degradada a ácido úrico pela xantinaoxidase. • Uratos: são encontrados mais frequentemente em cães da raça Dálmata, que excretam elevadas concentrações de ácido úrico na urina devido a um defeito hepatocelular que resulta em incompleta conversãodo ácido úrico em alantoína. Ocorrência quanto à espécie: Em cães: estruvita, oxalatos e purinas (urato, ácido úrico, xantina). Em gatos: estruvita e oxalato. Em bovinos: estruvita e oxalato (sílica em algumas pastagens). Em ovinos: estruvita, oxalato e carbonato. Em cavalos: carbonato. Urólitos de estruvita em cães: Os fatores de risco em casos de urólitos de estruvita são: - Aumento do pH urinário (cão, especialmente associado a cistite); - Urina concentrada; - Aumento do teor dietético de magnésio e fósforo (gatos). Bactérias produtoras de urease (Staphylococcus intermedius e Proteus ssp): ocorre principalmente em fêmeas em que há aumento do pH urinário → diminuição da solubilidade + saturação da urina com estruvita → favorece a formação do urólito. Urólitos de estruvita x DTUIF (Doença do Trato Urinário Inferior de Felinos): Na maioria dos casos ocorre pela alta ingestão de magnésio. Gatos cuja dieta contenha 0,15 a 1% de magnésio também podem apresentar esse tipo de cálculo. Na DTUIF existe a forma obstrutiva e a forma não obstrutiva. Forma obstrutiva → ocorre principalmente em machos, castrados, de meia idade e a obstrução é desencadeada por um tampão uretral proteinácio com vários cristais de pequenos urólitos ocluindo toda a uretra. Forma não obstrutiva → não tem distinção sexual, podendo ocorrer em fêmeas e machos, de 4 a 10 anos. Os cálculos se localizam discretamente na bexiga. Sinais clínicos da DTUIF: os principais são anúria, hematúria e disúria. A principal causa da morte no animal é o acúmulo de potássio por não urinar, o que resulta possivelmente em arritmias (cardiotoxicidade), hipercalemia e insuficiência renal aguda (IRA). Urólitos em pequenos ruminantes Decorre principalmente da ingestão exacerbada de alimentos concentrados. Todos os grãos são naturalmente desequilibrados em cálcio e fósforo. Com isso, há um aporte excessivo de fósforo (fosfatemia), o fosfato circula no sangue, há o excesso de fosfato na urina o que irá predispor a formação do urólito de estruvita. Outros fatores predisponentes para a formação dos urólitos são: baixo consumo de água, altas temperaturas e pH urinário alcalino, que é diferente dos carnívoros e favorece a precipitação do cálculo. Achados de necropsia - Distensão ou rompimento da bexiga, com subsequente peritonite química aguda - Ureteres distendidos (hidroureter) - Hidronefrose - No local da obstrução, pode ocorrer necrose, presença de fibrina, hemorragia e ulceração da mucosa, favorecendo o crescimento bacteriano, com o desencadeamento de uretrite, cistite e pielonefrite. - Possível aumento de volume na região da bexiga e edema no pênis. Alterações inflamatórias Cistite A infecção do trato urinário inferior (ITU) se dá quando as bactérias conseguem ultrapassar os vários mecanismos de defesa que incluem: micção frequente, urina ácida nos carnívoros, mucina secretada que inibe adesão bacteriana e concentração de uréia na urina. Entre os fatores que favorecem a colonização bacteriana, predispondo os animais à cistite, estão: Retenção urinária: é um dos fatores mais importantes. Ocorre devido a obstruções (urolitíases, tumores, inflamações etc). Traumatismos na mucosa vesical: por cálculos, cateterismo inadequado etc. Micção incompleta: pode ocorrer como resultado de divertículo de bexiga e de refluxo vesicoureteral. Uretra curta: as fêmeas apresentam uretra mais curta, formando uma barreira menos eficaz às infecções ascendentes. Infecção umbilical: em bezerros, cistites estão comumente associadas às infecções umbilicais e à persistência de úraco. Outros fatores incluem cateterização e vaginoscopia, administração prolongada de antibióticos que podem causar resistência bacteriana e glicosúria em casos de diabetes melito. • Causas químicas ou tóxicas: são pouco comuns. • Causas virais: estão normalmente associadas a doenças virais sistêmicas. • Causas bacterianas: são as mais importantes. As bactérias mais frequentes incluem: E. coli em diferentes espécies, Corynobacterium renale em bovinos e Eubacterium suis em suínos. Menos frequentemente Proteus sp., Staphylococcus e Streptococcus são descritas. O Corynobacterium renale e Eubacterium suis são bactérias produtoras de uréase e hidrolisam a uréia presente na urina, liberando grande quantidade de amônia que lesa a mucosa vesical e inicia o processo. • Causas fúngicas: A cistite micótica ocasionalmente é vista em animais domésticos quando fungos oportunistas, como Candida albicans ou Aspergillus sp., colonizam a mucosa da bexiga urinária. Tais infecções fúngicas usualmente ocorrem secundárias à cistite bacteriana crônica, especialmente quando os animais são imunossuprimidos ou submetidos a prolongado tratamento antibacteriano. Aspectos macroscópicos Cistite aguda: Macroscopicamente a cistite aguda é descrita como hemorrágica, fibrinopurulenta, necrosante e ulcerativa dependo da evolução do processo inflamatório. Cistite crônica: também pode ocorrer de diversas formas. A mais simples ocorre em associação com cálculos vesicais. Há formação de folículos linfoides. - Cistite crônica folicular: é comum em cães e caracteriza-se pela presença de formações nodulares brancoacinzentadas localizadas na mucosa, frequentemente circundadas por um halo de hiperemia ou hemorragia. - Cistite crônica polipoide: é comum em algumas espécies, principalmente nos bovinos. Caracteriza-se pelo espessamento da mucosa, com presença de pólipos constituídos por tecido conjuntivo fibroso e revestidos por epitélio, e pela infiltração de células inflamatórias. Causa hematúria intermitente. - Cistite crônica difusa: se dá por uma mucosa irregularmente avermelhada e espessada. A submucosa se apresenta infiltrada por células inflamatórias com poucos neutrófilos, resultando em um espessamento da submucosa e hipertrofia da camada muscular. Alterações proliferativas As neoplasias do trato urinário inferior são mais comuns nos bovinos com hematúria enzoótica e nos cães. Embora as neoplasias da bexiga sejam as mais frequentes do trato urinário inferior, provavelmente por armazenar temporariamente a urina, possibilitando maior contato entre os agentes carcinogênicos e o epitélio, constituem menos de 1% do total das neoplasias caninas. A intoxicação por Piteridium aquilinum causa hematúria enzoótica bovina. Ocorre em indivíduos que comem menos de 100kg por um período longo (mais de dois anos de idade). Evidencia vários neoplasmas na bexiga, podendo até ter 8 tipos diferentes de tumores com presença de coágulos.
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