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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL GUARULHOS – SP 3 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 4 2. HISTÓRIA DA INFÂNCIA 5 2.1. Infância na Antiguidade 6 2.2. Infância na Idade Média 8 2.3. Infância na Modernidade 9 3. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO 11 3.1. A educação na Antiguidade, na Idade Média e na Pós-Modernidade 12 4. A LEGISLAÇÃO QUE EMBASA A EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL 19 4.1. Diretrizes curriculares para a Educação Infantil 20 4.2. Base Nacional Comum Curricular (BNCC) 22 4.2.1. Base Nacional Comum Curricular e Currículos 24 4.2.2. BNCC e Ensino Infantil 27 4.2.3. BNCC e Ensino Fundamental 32 4.2.4. Plano Nacional De Educação (PNE) 35 4.2.5. A educação em tempo integral no Brasil: da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) ao Programa Novo Mais Educação (PNME) 37 5. FORMAÇÃO DOCENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL 43 6. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO E APRENDIZAGEM MOTORA 45 6.1. Conceitos e características e desenvolvimento cognitivo 45 6.2. Conceitos e características do desenvolvimento social 51 7. EDUCAÇÃO INFANTIL AO ENSINO FUNDAMENTAL: CONTINUIDADE DO PROCESSO ALFABETIZADOR 56 7.1 . A importância da continuidade do processo alfabetizador 59 8. A ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NO ENSINO FUNDAMENTAL 62 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 70 4 1. INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 2. HISTÓRIA DA INFÂNCIA Fonte: shre.ink/mXTW A infância como conceito envolve uma certa complexidade, pois a infância é tanto um fato de natureza biológica e psicológica, quanto uma noção cultural que, ao longo dos séculos, foi sujeita a mudanças de percepções, definições e imagens. As crianças mal falam na história, praticamente tudo o que sabemos sobre elas é mediado por adultos, em obras escritas por adultos por meio de histórias de uma perspectiva adulta. Então, como interpretar e compreender o conceito de infância através da história humana? A história da infância é um campo rico e crescente que revela muito sobre as sociedades do passado, mas também sobre as conexões entre o passado e as tendências pós-modernas. Portanto, pode contribuir para uma discussão ativa e interdisciplinar sobre a própria natureza da infância e sobre as diferenças entre regiões e classes sociais. O debate sobre a infância e sua importância é uma área que tem crescido em força e amplitude nas últimas cinco décadas. Mas a infância ainda é um conceito inacabado, pois está sujeito a mudanças e percepções sociais. Ao longo da história humana, a infância passou por três grandes períodos históricos: Antiguidade, Idade Média e Modernidade, cada qual com suas particularidades. 6 2.1. Infância na Antiguidade O conceito de Infância na Antiguidade e no início do cristianismo é tratado com palavras que se referem explicitamente a "criança" e não a "infância". Segundo Sartin (2014), os registros históricos até o presente são baseados em traduções de diários de viagem, os chamados itinerários (rotas de viagem), e até mesmo trechos da Bíblia. Assim, pode-se estabelecer que o Antigo Testamento foi escrito em hebraico e há uma versão grega dele, a Septuaginta, que data do século II a.C. Na Septuaginta há confusão sobre o termo "criança". De acordo com Sartin (2014, p. 294-295): O Itinerarium Burdigalense (às vezes chamado “Itinerarium Hierosolymitanum”) relata uma viagem de Burdigala/Bordegala (Bordeaux) a Hierusalem (Jerusalém), com retorno até Mediolanum (Milão), que ocupou parte dos anos de 333 e 334. Trata-se do mais antigo relato de uma peregrinação cristã à Terra Santa. [...] O Itinerarium Burdigalense foi escrito no que se convencionou denominar “Latim Tardio”, língua viva que progressivamente incorporava mesmo em sua versão escrita cada vez mais elementos do chamado “Latim Vulgar” (termo que a um só tempo se refere à linguagem coloquial e à fala das camadas populares). Deve-se notar, outrossim, que o registro linguístico do trecho relativo a Hierusalem e arredores – o único onde haveria a possibilidade de arroubos retóricos – é baixo mesmo para os padrões do Latim Tardio. Além de indicar um autor pouco letrado, tal fato talvez possa ser interpretado como marca de oralidade. Seria concebível, nesse caso, que o viajante houvesse ditado o texto a um acompanhante. Em uma passagem, o viajante apresenta um elemento de anedota, que envolve uma passagem bíblica do Antigo Testamento, que menciona o profeta Eliseu e uma discussão sobre uma fonte próxima à cidade de Jericó. De acordo com Sartin (2014, p. 376): É muito curioso, de todo modo, que na versão da história contada pelo autor do Itinerarium está explícita a noção de que a terra e água poluídas causam abortos nas mulheres, enquanto na Nova Vulgata isso não fica totalmente claro, possibilitando uma leitura alternativa de que não as mulheres, mas a terra em si ali é estéril. No trecho da tradução, o termo “criança” foi traduzido pelo autor do texto da raiz de outra palavra. Então, o que significava "estéril" e se referia à terra foi traduzido como "aborto" referindo-se à mulher, assim: "a palavra '’ἀτεκνουμένη’', geralmente traduzida como '’estéril’', refere-se a algo como '’aquilo, que não pode gerar filhos’’, porque ‘’τέκνον'’ é ‘’criança’' (SARTIN, 2014, p. 376). Essa desordem ocorreu, talvez, por uma dificuldade causada pelo não domínio do grego falado pelo viajante e, portanto, pode ter resultado em uma polissemia 7 diferente daquela inicialmente mencionada. Além disso, fatos como o citado acima podem ocorrer pelo fato de termos relacionados à infância, em geral, não aparecerem na fala. No entanto, o que se observa é que, de uma forma ou de outra, houve citações linguísticas que têm a ver com “primeira infância” e “a criança”, sem se referir aos termos conceituais de que se fala hoje. Ainda sobre a terminologia, Sartin (2014) destaca que em Roma “Infans” era originalmente um adjetivo derivado dos verbos “para” ou “fari”. Este era um verbo raramente usado, mas significava "falar". Assim, "Puer Infans " e "Puella Infans " eram "menino que não fala" e "menina que não fala", respectivamente. Com o tempo, as pessoas pararam de usar esses termos compostos e passaram a usar apenas "Infans". Então, neste ponto, "Infans" deixa de ser um adjetivo para se tornar um substantivo concreto. Este é um uso comum durante o período "clássico" da literatura latina, de Cícero a Apuleico. Ainda, segundo Sartin (2014), seria teoricamente possível falar em “Infantia” a partir da narrativa literária de Hércules, mencionando, por exemplo, o fato de ter matado as cobras enviadas por Hera quando ainda bebê. Já na “Vida de Carlos Magno” o termo "Infantia" foi aparentemente ampliado para incluir a antiga "Pueritia" e tornado sinônimo de "Adolescentia". Se isso tivesse acontecidona língua teria aí um exemplo de "Infantia" usado para o tempo que hoje chamamos de "infância", transformação que ocorreu no período da Idade Média. Sartin (2014) conta com estudos de tradução muito extensos, realizando uma análise histórica a partir dos documentos originais. Assim, embora Bazzanella e Bazzanella (2018a) apresentem passagens da Bíblia para demonstrar a pureza e a importância das crianças nesse período, mostrando que elas eram socialmente reconhecidas, respeitadas e tinham o legítimo poder de participar, deve-se ter o cuidado ao indicar as passagens que esses autores trazem, já que é a tradução para o português de milênios trazem modificações. Assim, embora a linguagem contenha elementos referentes a "criança" e "infância", supunha-se anteriormente que as crianças, assim como as mulheres e os escravos, careciam de faculdades intelectuais. Portanto, “na antiguidade, crianças, mulheres e escravos eram considerados seres inferiores em relação a dependência com seus senhores” (SNYDERS, 1984, apud BAZZANELLA; BAZZANELLA, 2018a, p. 13). 8 Assim, conforme assinala Niehues e Costa (2012, p. 285): Ao se estudar o tema infância na Roma Antiga, observa-se que o nascimento de uma criança “não era apenas um fato biológico”, mas também um fato de aceitação paterna. Isso porque quando o pai elevava a criança do chão o mesmo estava aceitando criá-la, sendo este um ato de adoção. Neste momento histórico-cultural, o mundo infantil foi condicionado a reproduzir a forma como os adultos viviam, pensavam, agiam e se vestiam. Assim, “não existia o sentido da infância” (BAZZANELLA; BAZZANELLA, 2018a, p. 19), implicando que não havia consciência identificando, particularizando e distinguindo a criança do adulto. Nos tempos antigos, a criança dependia das decisões do pai. Com os romanos, a criança podia ser aceita ou rejeitada, restando-lhe, portanto, caso não fosse aceita, a morte. 2.2. Infância na Idade Média Na Idade Média, os germânicos eram constituídos por clãs matriarcais e patriarcais, entretanto, o pai tinha o poder de escolha do filho e de seu destino (ser adotado, renegado, comprado ou vendido). É com o advento do Cristianismo que esse cenário se modifica. O Cristianismo modificou o ideal que se tinha de “criança” e de “infância”, ao delegar uma certa “pureza” e “santidade” a elas. Assim, surge também uma nova perspectiva voltada para a Educação Infantil: a educação doutrinária da religião. Ao contrário do que faziam os romanos e germânicos da época, ou seja, “ao invés de brutalizar o coração das crianças para a guerra a violência, os monges abriam para o amor e a serenidade” (BAZZANELLA; BAZZANELLA, 2018a, p. 26). Nesse contexto, a mulher e a criança passaram a ser valorizadas em relação ao período da Antiguidade. Quanto à educação na Idade Média, compreendia-se que o estudante já tinha um conhecimento inato e cabia ao pedagogo/professor a função de formar esse aprendiz a partir de práticas que o fizessem “acender uma centelha”, ou seja, respondesse ao que o educador esperava como resposta “correta” (BAZZANELLA; BAZZANELA, 2018a, p. 29). Caso a criança-aprendiz não satisfizesse os anseios de seu mestre, eram-lhe aplicados castigos. Assim, a aplicação de castigos significava “criar” um indivíduo moralmente civilizado e doutrinado, conforme aponta Júnior (2009, p. 2): 9 Amor ao próximo, sobriedade e humildade eram virtudes arraigadas nos claustros. Essas eram dádivas que tornavam o homem menos violento e mais propenso ao perdão. Essa busca pelo bem comum reverberou nos ensinamentos oferecidos pelos mestres monásticos. Paradoxalmente, a procura pelo amor fraterno através da educação passava pela punição corporal dos estudantes, sobretudo os jovens e indisciplinados. A “infância”, nesse ínterim, emerge como o período em que será formada a moral e o caráter dos indivíduos, sendo o castigo físico o melhor método disciplinador. Assim o autor aponta: As penas eram aplicadas objetivamente, conforme a idade de cada um, pois o castigo era ineficaz se não compreendido. Aos mais novos, repreensões com varas e privações alimentares; aos mais velhos, cuja compreensão era maior, castigos na alma para provocar amargura na consciência. Ambos os níveis de punição tinham seu intento, porém, era a dor interior que atormentava o infrator, e fazia com que restabelecesse a harmonia com o Criador (JÚNIOR, 2009, p. 4-5). Amor, cuidado e atenção à “criança” na “infância” emergem, portanto, paralelamente ao uso de castigos físicos. Dessa forma, esse discurso se consolidou ao longo dos anos subsequentes, enraizando-se a ideia no inventário sociocultural das sociedades ocidentais e colonizadas que “ensinar é a partir das discussões acima situadas que o Brasil também se situa nos ideais compreendidos para a “criança” e a “infância”. As concepções da Idade Média chegaram a partir da colonização, com a advinda dos jesuítas para que se destinavam a “pregar a palavra de Deus às crianças indígenas, negras e, posteriormente, das classes pobres do país” (BAZZANELLA; BAZZANELA, 2018b, p. 21), implicando, assim, na catequização dos povos que se tornavam submissos e obedientes à coroa portuguesa a partir de uma educação religiosa doutrinadora. Dessa forma, os castigos físicos como modo de civilização dos povos insubmissos e impuros nas terras de Vera Cruz também se concretizaram. 2.3. Infância na Modernidade É a partir da instauração do “cuidado” e da “atenção” às crianças e ao período da “infância” pelo Cristianismo que o “processo civilizador” passa a determinar, cada vez mais, os comportamentos de crianças e relacionadas à infância nas sociedades ocidentais e àquelas colonizadas. Apesar de não se debruçar acerca do papel da 10 criança e da infância, concebe estas como pertencentes e interdependentes das/nas funções sociais. Assim, os indivíduos em sociedade foram impelidos a aderir a normas e condutas racionais, de modo a reprimir comportamentos “repugnantes”. Dessa forma, a distinção entre as classes sociais se intensificou e as novas regras e comportamentos passaram a identificar as novas formas de vida em sociedade. Segundo Tristão (2012, p. 44), “o indivíduo só se torna um ser humano pleno ao modelar-se de acordo com os padrões sociais de controle dos instintos e emoções”. Nos séculos XVI e XVII, modifica-se o ideal acerca do que seria a infância. O primeiro aparece na instituição familiar denominado de “paparicação” relacionado a brincadeira e a distração; o segundo, surge com o propósito de disciplinar, racionalizar, moldar, controlar a criança para conviver em sociedade a partir de uma educação pautada na “moralização”, sentimento este que “inspirou toda a educação até o século XX”, conforme ressaltam Bazzanella e Bazzanella (2018a, p. 20). Ainda de acordo com os autores, a concepção de infância acaba sendo “determinada historicamente pelas modificações das formas de organização da sociedade” (BAZZANELLA; BAZZANELLA, 2018a, p. 20). É nesse contexto que a escola surge como um lugar para a civilização da população. Compreendida como um “vir-a-ser”, a criança demanda cuidados que devem ser repassados a ela no período da infância, ou seja, o “sentimento de cuidado, de cultivo da vida da criança” e a partir disto, um ser social e histórico que precisa de um “lugar especial: a escola” (BAZZANELLA; BAZZANELLA, 2018a, p. 37). Conforme assinalam os autores, a criança deveria ter garantida a sua infância pelo professor, uma vez que com os familiares isso não era possível, uma vez que eles seriam responsáveis por “paparicarem as crianças”. Além disso, a infância é percebida como uma fase negativa (a autonomia vem “de fora para dentro”) por tratar-se de uma fase de rebeldia -, a criança assim, precisa de disciplina, de regras para que venha a tornar-se um adulto bom, um homem bom na sociedade e para saber/conseguirviver em sociedade. Esse papel, o de moldar, disciplinar, controlar esses corpos infantis era legitimado pelo o professor, encarregado dessa transformação. Por fim, na Modernidade, marcada pelas revoluções, guerras e também pelo avanço tecnológico, a educação da criança começa a configurar-se de outra forma. A 11 criança/estudante passa a ser o centro da aprendizagem e são necessárias assim, estratégias mais dinâmicas. Neste sentido, leva-se em consideração o contexto do aluno, as suas vivências na escola e fora dela, portanto, passa-se a pensar nos direitos de aprendizagem desse estudante. O que implica dizer que apenas o professor, alguém que era especializado, poderia e deveria ser esse “guardião da juventude” (BAZZANELLA; BAZZANELLA, 2018a, p. 38). 3. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO Fonte: escolaeducacao.com.br A gênese humana tem sido a base para o desenvolvimento de cada grupo social e a representação da sociedade contemporânea, por isso o conhecimento de sua história e experiências passadas é essencial. Consideramos o patrimônio cultural antigo como a principal fonte de construção da civilização ocidental, e o legado deixado pelas cidades mais importantes da Grécia Antiga, Esparta e Atenas, constitui o princípio organizador. A educação e a sociedade serviram de modelo para muitas sociedades durante séculos. Alguns historiadores argumentam que a educação sempre foi espontânea e dinâmica ao longo do tempo. As interações com o mundo e com outros indivíduos sempre possibilitaram algum tipo de aprendizado, além de observar membros mais velhos da tribo caçando, fenômenos naturais, comportamentos, microrregiões, rituais etc. 12 Segundo Silva e Meideiros (2021), o acesso das pessoas à educação na Grécia Antiga não era adequado para todas as crianças. No entanto, esse acesso depende do poder aquisitivo da controladora e é distribuído de forma desigual e privilegiada. Na Idade Média, a educação romana foi fortemente influenciada pela tradição espartana. Os alunos foram educados de acordo com a mentalidade conservadora da época e a educação foi desenvolvida de acordo com os rígidos ensinamentos da Igreja Católica. O pós-modernismo, influenciado pela revolução industrial e pelo sistema democrático, difundiu-se desde então. O acesso à educação é um direito civil. Dessa forma, o modelo de ensino de conteúdo foi integrado e o ideal de industrialização foi realizado. 3.1. A educação na Antiguidade, na Idade Média e na Pós-Modernidade A história da educação em geral avançou gradativamente e de diferentes maneiras devido à relação contraditória dos diferentes modos políticos no Brasil. É preciso compreender os três grandes momentos históricos da história ocidental que contribuíram para as mudanças o sistema educacional, além do desenvolvimento da educação no Brasil: educação na Grécia Antiga, educação na Idade Média e na Modernidade e entender quem eram os professores em cujas mãos o hábito da educação estava centrada. O primeiro modelo de educação, segundo Manacorda (2006) em seu livro “História da Educação: da Antiguidade aos nossos dias", foi desenvolvido na Grécia Antiga, período considerado o berço da civilização grega antiga, como principais representantes: Sócrates, Aristóteles e Platão, agora conhecido como o período Arcaico, durante o século VIII-VI a.C. e trouxe grandes mudanças na esfera social e política: o surgimento da polis, do comércio, das classes sociais e do dinheiro. Essas mudanças foram essenciais para o surgimento do pensamento filosófico. No período clássico (séculos V e IV a.C.), a ideia pedagógica associada à cidadania surgiu em ciências como a astronomia, a geometria e a matemática. Começando desde tempos antigos, cerca de 8 séculos a.C., um poeta chamado Homero, viveu em uma região chamada Quios, uma das ilhas que hoje faz parte da Turquia. Esse grande pensador grego dizia ter sido responsável pela criação das duas 13 obras mais brilhantes do Ocidente, a Ilíada e a Odisseia, modelos educacionais dos antigos gregos. Homero teria sido o grande educador da Grécia Antiga e finalizando o filosofo Platão que viveu três séculos depois dele, para Platão, Homero trouxe uma visão interessante sobre a realidade e interpretação para todos os gregos antigos, Ilíada e odisseia eram livros de cabeceira da juventude de Atenas e de várias outras cidades grega (MANACORDA, 2006). Refletindo sobre esse período, o que é mais marcante e porque uma guerra traria um modelo educacional para a Grécia Antiga, é de suma importância retornar à figura de Aquiles. Ele mesmo era rei de uma cidade chamada Tersalha, discutia e apresentava suas ideias, então também era o herói do campo de batalha, era um guerreiro tutelado pela famosa Paideia (educação integral do homem da época) no início da pedagogia. O pedagogo é o educador que cuida das crianças, que ensina as crianças. A Paideia tornou-se o primeiro modelo educacional na Grécia Antiga. Tinha como princípio a formação de guerreiros educados, a do cidadão, completo e virtuoso. Trata-se de um modelo educacional que inclui corpo e mente. Essa foi a educação de Aquiles. Sobre o termo Paidéia, o modelo ideal de educação grega, explica-se que: Por volta do século V a.C. é criada a palavra Paidéia, que de início significa apenas ‘criação dos meninos’ (pais, paidós, ‘criança’). Mas com o tempo, a palavra adquire nuanças que tornam intraduzível. Werner Jaeger, famoso helenista alemão escreveu uma obra com esse nome, diz: Não se pode evitar o emprego de expressões modernas como civilização, cultura, tradição, literatura ou educação; nenhuma delas, porém, coincide realmente com o que os gregos entendiam por Paideia. Cada um daqueles termos se limita a exprimir um aspecto daquele conceito global e, para abranger o campo total do conceito grego, teríamos de empregá-los todos de uma só vez (ARANHA, 1989, p. 37 apud SILVA; MEIDEIROS, 2021). Portanto, o termo Paideia, segundo o autor, denota a designação do sistema educacional e da constituição ética da Grécia Antiga, que incluía diversas disciplinas voltadas à formação de um cidadão perfeito e completo, disciplina que exigia a habilidade de liderar e ser liderado e ser capaz de desempenhar um papel positivo na sociedade. Este período, conhecido como Homero, era para a instrução dos nobres até os anos em que a criança permanece com a mãe, seguida de sua criação. A infância era uma fase passageira, pois, o menino passava a frequentar lugares propícios ao seu desenvolvimento. Havia uma segregação de gênero na educação, então a menina ficava em casa e aprendia as artes da casa, e sua notoriedade se limitava à 14 participação em atividades físicas e festivais. O guerreiro espartano era educado para suportar a dor e obedecer. Segundo Manacorda (2006), cidades como Atenas e Esparta (cidades-estados) buscavam esse sistema educacional para educar seus filhos porque queriam não apenas pessoas educadas, mas também soldados de preparação motora, intelectual, física e pessoas que estavam em boa saúde mental. Uma máxima que se desvia desse tipo de ensino é: "Corpo são, mente sã", que também vem da história grega. Outra grande contribuição dos antigos gregos foi a filosofia que trouxe para o ocidente uma mentalidade que tem como pano de fundo a razão humana, a interpretação de todas as coisas dada pela mentalidade, o ser humano que passa a questionar toda a realidade local. Atenas, iniciadora do ideal democrático, difundiu a educação entre todos os cidadãos livres, devido a sua enorme influência e sendo o berço da filosofia, o ideal da sociedade ateniense era o culto, os jovens eram doutrinados na literatura e na filosofia, por seus professores, na primeira fase ele foi acompanhado pelo educador cuja tarefa era orientar as primeiras letras e atividade física, e quando completaram 18 anos entraram na vida civil,os professores eram filósofos (MANACORDA, 2006). Neste contexto, não devemos esquecer a figura de Sócrates 570-499 a. C, pai da filosofia, grande pensador, que viveu muitos anos em Atenas, onde é considerado um dos pioneiros dessa nova forma de pensar e ser humano. Um dos métodos pedagógicos desenvolvidos por Sócrates foi a Maiêutica. Sócrates tinha um jeito particular de falar com as pessoas, dizia que sabia pouco das coisas e que sempre teve curiosidade de saber o que não sabia, daí sua máxima "Só sei que nada sei", mostrando que estava sempre em busca de novos conhecimentos, pois tinha o hábito de conversar com todos, desde os escravos até os generais do exército ateniense, e fazia perguntas como: O que é o amor? O que é a amizade? O que é a virtude? E enquanto as pessoas tentavam responder a essas perguntas, Sócrates fazia mais perguntas abertamente até que as pessoas duvidassem se estavam seguindo o caminho certo de suas ideias. A técnica dialógica de Sócrates, como era chamado: A arte de perguntar nomeada pelo próprio filósofo, maiêutica palavra de origem grega que significa "ciência ou arte do parto", ou seja, obstetrícia. Portanto, mesmo que grandes 15 conhecimentos tenham sido adquiridos, é importante continuar a conversa filosófica durante toda a existência para evitar erros, independentemente da idade. O segundo método deste momento é a maiêutica, que seria a busca de novas ideias, a partir do momento que temos consciência de que não sabemos tudo e tudo, através do estudo, pesquisa e todo aquele pensamento racional que a filosofia nos conduziu. Considerando o período clássico (século VI-IV a. C.), durante os grandes desenvolvimentos no campo das descobertas filosóficas e práticas democráticas, os gregos tentaram reformar a cidade em que viviam, a partir de suas ideias e realidades. Nesse contexto, Sócrates assume a tarefa de mostrar a todos os homens que se dizem sábios que não sabiam o que pensavam saber. O objetivo da tarefa pedagógica de Sócrates era levar as pessoas ao autoconhecimento, ou seja, a pensar por si mesmas sem ter que repetir as opiniões dos outros. Sócrates desenvolveu o método maiêutico, a arte de gerar ideias, com o objetivo de desafiar as opiniões dos outros, para expor a ignorância dos supostamente sábios e apontar as contradições sobre a inadequação de sua tese. Ao cumprir sua missão, Sócrates não exigia pagamento por seus ensinamentos. A proposta educacional de Sócrates era diferente das dos sofistas, professores de retórica e oratórias que ensinavam nas praças públicas e que exigiam remuneração pelos conhecimentos dados. Os sofistas não foram suficientemente capazes de consolidar a educação pretendida pelos gregos. Foi nesse contexto que surgiu a figura de Sócrates e seu método maiêutico. Durante a Idade Média, o processo educativo era um compromisso total da Igreja. O funcionamento das escolas estava ligado às catedrais monásticas, e muitos trabalhavam na igreja, que era uma ferramenta muito importante no desenvolvimento do processo educacional da época, a grande divulgadora do conhecimento. De acordo com Cambi (199, p.145), “A Igreja foi o ‘palco fixo’ por trás do qual se moveu toda a história da Idade Média e um dos motores do seu inquieto desenvolvimento [...]”. Segundo o autor, a Igreja Católica detinha o monopólio de toda cultura e educação, foi a instituição por excelência que criou e compilou todos os membros, ensinamentos e práticas que hoje chamamos de conhecimento. Do século VII ao Renascimento no século XV, as instituições educacionais mais importantes da época estavam localizadas nos mosteiros, com princípios muito importantes na época: “Os mosteiros penetraram lentamente no cristianismo e nos 16 valores que transmitiu ao mundo rural, até então não afetado pela nova religião, um mundo com longas tradições e permanência, mas que está se tornando o mundo essencial da sociedade medieval" (LE GOFF, 1995). A transmissão dos ensinamentos estava nas mãos dos monges. Le Goff (1995, p. 8) explica que o monge medieval “é aquele que chora sobre os seus pecados e os pecados dos homens e que por meio de uma vida dedicada à oração, ao recolhimento e à penitência busca a salvação sua e dos homens”. Os mosteiros eram constituídos por pessoas eruditas, sempre se esforçando para encontrar novas teorias e confirmar os dogmas da Igreja Católica. Naquela época não havia restrição nos mosteiros quanto a quem deveria ou não frequentar a escola, por isso era frequentada por noviças que desejavam entrar na vida monástica sem qualquer prioridade de idade. Na escola do mosteiro, crianças, jovens e adultos podiam frequentar a mesma aula. Em relação ao Brasil, os Jesuítas chegaram em 1546. O grupo religioso chegou - junto com o segundo governador-geral, Tomé de Souza, exatamente 10 anos após a fundação da ordem. Era composto por seis religiosos e liderado pelo padre Manoel da Nóbrega. A ordem durou dois séculos e incluiu a província do Brasil e a vice províncias do Maranhão e do Pará, ambas aguardando apoio de Portugal. No entanto, em 1759, por ordem do Marquês de Pombal, os jesuítas foram expulsos do país e de todas as terras portuguesas. Esta ordem religiosa teve a responsabilidade de cuidar de toda a formação dos indígenas que aqui viveram, com o objetivo de catequizar as pessoas. É importante destacar a participação de três grandes sacerdotes que participaram desse processo: Padre Manoel da Nóbrega, Padre Juan de Aspilcueta Novarro e Padre José de Anchieta, padres católicos com formação jesuítica enviados para realizar a missão de catequese dos indígenas aqui no Brasil. Nos cultos dos colonos e na catequese dos índios, os padres dedicavam-se de maneira especial à educação e instrução de crianças e jovens nas chamadas aulas de leitura, escrita e aritmética (SILVA; MEIDEIROS, 2021). Para este propósito eles construíram igrejas, escolas, casas e convenções e estabeleceram missões. No entanto, algumas escolas funcionaram então como verdadeiros centros culturais com atividades literárias, musicais e teatrais, cujo modelo educacional privilegiava os valores religiosos acima dos valores laicos, científicos e racionais. 17 Naquela época o pensamento religioso era dominante. Os valores que sustentavam a educação no Brasil eram herança da Idade Média. Sempre colocaram a Igreja Católica no centro das decisões educacionais da época. Essa educação jesuíta deu origem ao que hoje chamamos de escola tradicional. É bom lembrar algumas características que ainda estão presentes em nossa história, incluindo a relação aluno-professor em que o professor está no centro do processo de ensino. Assim, cria-se a noção de que o do professor como detentor do saber, transmissor dos conhecimentos e do aluno como alguém passivo que obedece ao professor. Hoje, dentro do contexto pós-moderno de educação, sabe-se que o diálogo é o melhor feedback que o professor pode dar ao aluno. Tornar o aluno protagonista de seu processo de aprendizagem, estimulando-o a buscar informações e construir conhecimento, o que acontece por meio de uma relação de troca com o professor, em uma via de mão dupla onde ambos aprendem e se desenvolvem (SILVA; MEIDEIROS, 2021). Como afirma Paulo Freire (1997), “A Educação não transforma o mundo. Educação muda às pessoas. Pessoas mudam o mundo". E mesmo segundo Freire (1997, p. 55) "As relações entre educadores e alunos são complexas, fundamentais, difíceis, nas quais devemos refletir constantemente", muitas vezes deixam traços negativos ou positivos na vida de ambos. Tudo o que o professor irradia na sala de aula, sua relação e expressão com os alunos devem estimulá-los a aprender. Segundo Freire (1996, p. 96): O bom professor é o que consegue, enquanto fala trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e nãouma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas. Muitas teorias podem ser colocadas no trabalho do professor, mas seu papel sempre será fundamental em todas elas, não há educação sem o educador que pode adquirir diferentes qualidades: mediador, promotor, criador, provedor de conhecimento ou mesmo portador de conhecimento. O educador deve orientar o seu educando pelo caminho de desenvolvimento adequado às suas fases de desenvolvimento, permitindo-lhe grande autonomia e confiança em si mesmo e na sua capacidade de resolver problemas, e o equilíbrio necessário para o sucesso da aprendizagem promover a igualdade. Um ponto importante na profissão docente é o 18 afeto, ele é essencial para o desenvolvimento humano e faz com que o aluno se sinta mais animado e seguro. Segundo Tassoni (2000, p. 3): Toda aprendizagem está impregnada de afetividade, já que ocorre a partir das interações sociais, num processo vincular. Pensando, especificamente, na aprendizagem escolar, a trama que se tece entre alunos, professores, conteúdo escolar, livros, escrita, etc. não acontecem puramente no campo cognitivo. Existe uma base afetiva permeando essas relações. Assim, Wallon (2007) caracteriza os problemas afetivos como gatilhos que estimulam o progresso e o desenvolvimento das pessoas. Fica claro que são ferramentas que nos ajudam a compreender o processo de construção do sujeito na transição de bebê para adulto de acordo com os modelos fornecidos pela cultura de sua época. É de extrema importância entender o ambiente educacional como um lugar rico em analogias produtivas entre alunos e professores na troca e construção de novos conhecimentos. Precisamos também falar do conteúdo, na ênfase e no ensino aprendido, enciclopédico, onde não há lugar para cuidar do corpo somente, com o intelectual, falando também de avaliação, no qual o sistema de avaliação era onde se cobrava bastante a memorização de dados e na famosa sabatina o professor cobra tudo aquilo que ele lhe acredita ser importante para o aluno não há objeção, não há crítica, há apenas obediência. À medida que a educação pós-moderna (1939-1945) inaugura no Ocidente uma nova forma de pensar muito semelhante à dos antigos gregos, temos muitas transformações nos campos da economia, política e ciência descobertas que farão, a humanidade também se preocupa com a educação. É de grande importância destacar dois grandes marcos desse momento: a Revolução Industrial (entre os séculos XVIII e XIX) e a Revolução Francesa (1789), as chamadas revoluções burguesas trouxeram logicamente essas mudanças revolucionárias com a própria educação (SILVA; MEIDEIROS, 2021). A primeira revolução industrial ocorreu na Inglaterra e trouxe uma mudança na forma de produção, além da manufatura, antes da revolução industrial tudo era produzido e fabricado por pessoas, ou seja, artesãos que conheciam todas as etapas da produção processavam e produziam o que consideravam importante e útil para a sociedade. À medida que as máquinas e as indústrias se espalhavam, tinham uma 19 produção mais rápida através dos avanços tecnológicos causados pela Revolução Industrial. Nesse sentido, Iglesias (1981, p. 40-41) explica que: Do século XV ao XVIII verificou-se verdadeira mudança de mentalidade. A mecânica e a técnica, de menosprezadas, passaram a supervalorizadas. Não é generalizada essa aceitação, pois os preconceitos têm raízes fundas, dificilmente removíveis. Ainda no século XVIII e mesmo nos seguintes, até o atual, encontra-se certa atitude de suspeita ante o manual ou mecânico, enquanto se realça o ócio, o lazer, a condição de nobreza, que não trabalha ou só trabalha com a inteligência e exerce o comando. Daí a desconsideração com tarefas como as agrícolas - revolver as terras com as mãos - as artesanais ou manufatureira, ou mesmo as comerciais (...). Curioso lembrar como os médicos, forrados de humanismo, não tinham respeito pelos cirurgiões, pois exerciam labor mecânico. Até 1743 - repare-se a data - eram vistos como espécie de barbeiros. 4. A LEGISLAÇÃO QUE EMBASA A EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL Fonte: topleituras.com/livros A Educação Infantil da forma como é entendida e oferecida no Brasil atualmente teve seu percurso iniciado com a promulgação da Constituição Federal de 1988, que firmou o atendimento em creches e Pré-escolas como direito social das crianças ao reconhecer a oferta da Educação Infantil como dever do Estado. Essa conquista foi fruto da ampla participação dos movimentos de mulheres, de trabalhadores, da redemocratização do país e dos próprios profissionais da educação (BRASIL, 2010). Outro passo importante foi dado em 1996, com a publicação da Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a 20 partir da qual a Educação Infantil passou a ser vista como a etapa inicial da Educação Básica, passando a fazer parte dela juntamente com o Ensino Fundamental e com o Ensino Médio. No art. 29 dessa lei está posto que: [...] a Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco anos), em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade (BRASIL, 1996). Dois anos após a publicação da LDB foram publicados os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 1998), como parte dos documentos dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), que reuniram objetivos, conteúdos e orientações didáticas para a Educação Infantil. Em 7 de abril do ano seguinte, a Resolução CEB nº 1 instituiu as primeiras diretrizes curriculares nacionais para a Educação Infantil a serem observadas na organização das propostas pedagógicas das instituições de Educação Infantil integrantes dos diversos sistemas de ensino (BRASIL, 1999). Em 2006, por conta de uma alteração na LDB, a idade de acesso ao Ensino Fundamental foi alterada para os 6 anos, e a Educação Infantil passou a atender crianças de até 5 anos e 11 meses (BRASIL, 1996). Em 2009, a Emenda Constitucional nº 59 determinou a obrigatoriedade da Educação Infantil para crianças de 4 e 5 anos de idade. Esse documento trouxe duas importantes inovações à Educação Infantil: a proposição das interações e da brincadeira como eixos do trabalho pedagógico e a indissociabilidade entre o cuidar e o educar. 4.1. Diretrizes curriculares para a Educação Infantil Com o objetivo de orientar as políticas públicas, a elaboração, o planejamento, a execução e a avaliação das propostas pedagógicas e curriculares voltadas para a Educação Infantil, a Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009, fixou as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI) (BRASIL, 2009). No documento, a Educação Infantil é considerada a primeira etapa da Educação Básica oferecida em creches e Pré-escolas, caracterizadas: [...] como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou 21 parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social (BRASIL, 2009). As diretrizes reafirmam o dever do Estado, anteriormente previsto na Constituição Federal, de garantir a oferta de uma Educação Infantil pública, gratuita e de qualidade, sem requisito de seleção. Além disso, o DCNEI (2009), no artigo 4º, reconhece a criança como sujeito histórico e de direitos: [...] que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questionae constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura (BRASIL, 2009). O currículo é concebido como um conjunto de práticas que visam a promover a articulação entre as experiências e os saberes infantis e os conhecimentos que fazem parte do patrimônio (cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico) da humanidade, de modo a promover o desenvolvimento integral das crianças desde o nascimento até os 5 anos de idade. A proposta pedagógica ou projeto pedagógico deve ser constituída como o plano orientador das ações que serão desenvolvidas nas instituições de Educação Infantil, definindo as metas pretendidas para a aprendizagem e para o desenvolvimento das crianças que nelas são educadas e cuidadas. Essa proposta deve ser elaborada coletivamente, envolvendo todos os atores do processo educativo (equipe gestora, professores e comunidade escolar), que de acordo com o art. 8º da DCNEI (2009), tem com o objetivo: [...] garantir à criança acesso a processos de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens, assim como o direito à proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à convivência e à interação com outras crianças (BRASIL, 2009). Uma das principais contribuições das DCNEI (BRASIL,2009) para as práticas pedagógicas diz respeito ao estabelecimento de dois eixos norteadores: as interações e a brincadeira. Esses eixos foram incorporados às propostas apresentadas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2017), documento orientador da organização curricular no Brasil, desde a sua publicação em dezembro de 2017. 22 4.2. Base Nacional Comum Curricular (BNCC) Fonte: pinimg.com A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento regulamentário que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver nas fases e modalidades da Educação Básica para que possam garantir seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, de acordo com o disposto no Plano Nacional de Educação (PNE). De acordo com Lei de Diretrizes e Bases da Educação (BRASIL, 1996), a BNCC deve nortear os currículos dos sistemas de ensino (municipal, estadual e federal) e as propostas pedagógicas das instituições públicas e privadas de ensino básico (BRASIL, 2017). Referência nacional para o desenvolvimento dos currículos das redes de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e das propostas pedagógicas dos estabelecimentos de ensino, a BNCC integra a política nacional de Educação Básica e contribui ao alinhamento de outras políticas e ações, nas esferas federal, estadual e municipal, relativas à formação de professores, avaliação, desenvolvimento de conteúdos educacionais e critérios para oferecer infraestrutura adequada ao pleno desenvolvimento da educação. Nesse sentido, a BNCC (2017) visa ajudar a superar a fragmentação da política educacional, promover o fortalecimento da cooperação entre os três poderes e ser um guia para a qualidade da educação. Portanto, além de garantir o acesso e permanência na escola, os sistemas, redes e escolas devem garantir um nível comum de aprendizagem para todos os alunos, tarefa para a qual a BNCC é uma ferramenta fundamental. No decorrer da Educação Básica, as aprendizagens essenciais definidas na BNCC (2017) devem concorrer para que os alunos desenvolvam dez competências 23 gerais, que consubstanciam, no contexto pedagógico, os direitos à aprendizagem e ao desenvolvimento. Nesse documento, a competência é definida como a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho. Ao definir essas competências, a BNCC (2017) reconhece com base nos documentos da Secretaria de Direitos Humanos e da Organização das Nações Unidas que: a “educação deve afirmar valores e estimular ações que contribuam para a transformação da sociedade, tornando-a mais humana, socialmente justa e, também, voltada para a preservação da natureza” (BRASIL, 2013), mostrando-se também alinhada à Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) (ONU, 2015) (BNCC, 2017, p. 8). As competências gerais da Educação Básica apresentadas na BNCC foram elaboradas de forma didática e estão interrelacionadas às três etapas da Educação Básica: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Elas se articulam de forma que possibilitem a construção de conhecimentos, o desenvolvimento de habilidades e a formação de atitudes e valores, nos termos da LDB. As 10 competências Gerais da Educação Básica (BNCC, 2017, p. 9) são: 1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. 2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas. 3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico- cultural. 4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens 24 artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. 5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. 6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. 7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. 8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. 10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. 4.2.1. Base Nacional Comum Curricular e Currículos A BNCC (2017) explica que ela e os currículos se identificam integralmente com os princípios e valoresque orientam a LDB e as DCN. Por tanto, esse documento 25 reconhece que a educação tem responsabilidade com a formação e o desenvolvimento humano global, considerando as dimensões intelectual, física, afetiva, social, ética e simbólica. Além do mais, afirma-se que tanto a BNCC quanto os currículos têm funções complementares para garantir as aprendizagens essenciais para cada etapa da Educação Básica, “uma vez que tais aprendizagens só se materializam mediante o conjunto de decisões que caracterizam o currículo em ação” (BNCC, 2017, p. 16). São essas escolhas que vão adaptar as propostas da BNCC à realidade local, levando em consideração a autonomia dos sistemas ou redes de ensino e dos estabelecimentos escolares, bem como o contexto e as características dos alunos. Essas decisões, fruto da participação da família e da comunidade, referem-se a (BRASIL, 2017, p. 16): ➢ Contextualizar o conteúdo do componente curricular, identificar estratégias para apresentar, representar, ilustrar, conectar e dar sentido com base na realidade do lugar e do tempo em que a aprendizagem ocorre; ➢ Decidir formas de organização interdisciplinar dos componentes curriculares e fortalecer a competência pedagógica das equipes escolares para adotar estratégias mais dinâmicas, interativas e colaborativas relacionadas à gestão de ensino e aprendizagem; ➢ Escolher e aplicar diferentes métodos e estratégias didático-pedagógicas, utilizando diferentes ritmos e conteúdos complementares quando apropriado, de forma a responder às necessidades dos diferentes grupos de alunos, suas famílias e culturas de origem, suas comunidades, seus grupos de socialização, etc.; ➢ Projetar a implementação de situações e procedimentos para motivar e envolver os alunos na aprendizagem; ➢ Criar para aplicar processos de treinamento ou procedimentos de avaliação de resultados que levem em conta os contextos e as condições de aprendizagem, usando esses registros como referência para melhorar o desempenho da escola, do professor e do aluno; ➢ Selecionar, produzir, aplicar e avaliar recursos de ensino e tecnologia para apoiar o processo de ensino e aprendizagem; 26 ➢ Criação e fornecimento de materiais de orientação para professores e manutenção de processos permanentes de formação de professores que possibilitem a melhoria contínua dos processos de ensino e aprendizagem; ➢ Manter processos de aprendizagem contínua sobre gestão pedagógica e curricular para outros educadores da área de escolas e sistemas educacionais. De acordo com a BNCC (2017), essas decisões também precisam ser consideradas quando se organizam os planos de estudos e as propostas relativas às diferentes modalidades de ensino (Educação Especial, Educação de Jovens e Adultos, Educação do Campo, Educação Escolar Indígena, Educação Escolar Quilombola, Educação a Distância), conforme as orientações das Diretrizes Curriculares Nacionais. Ao falar da Educação Escolar Indígena, a BNCC explica que para garantir as competências específicas, precisa-se ter como base os princípios da: coletividade, reciprocidade, integralidade, espiritualidade e alteridade indígena, a serem desenvolvidas a partir de suas culturas tradicionais reconhecidas nos currículos dos sistemas de ensino e propostas pedagógicas das instituições escolares. Significa também, em uma perspectiva intercultural, considerar seus projetos educativos, suas cosmologias, suas lógicas, seus valores e princípios pedagógicos próprios (em consonância com a Constituição Federal, com as Diretrizes Internacionais da OIT – Convenção 169 e com documentos da ONU e Unesco sobre os direitos indígenas) e suas referências específicas, tais como: construir currículos interculturais, diferenciados e bilíngues, seus sistemas próprios de ensino e aprendizagem, tanto dos conteúdos universais quanto dos conhecimentos indígenas, bem como o ensino da língua indígena como primeira língua (BNCC, 2017, p. 17- 18). Também cabe aos órgãos federais, responsáveis pela implementação da BNCC, reconhecer a experiência curricular existente em seu campo de atuação e até mesmo conhecer as especificidades das diferentes modalidades. Muitas escolas públicas e privadas também adquiriram experiência no desenvolvimento curricular e na criação de materiais de apoio curricular, assim como as instituições de ensino superior adquiriram experiência em consultoria e apoio técnico ao desenvolvimento curricular. Fazer um balanço e avaliar todas essas experiências pode ajudar a aprender com os acertos e os erros e integrar as práticas que levaram a bons resultados (BNCC, 2017). Finalmente, cabe aos sistemas e redes educacionais, bem como às escolas, nas suas respectivas áreas de autonomia e competência, incorporar nos currículos e 27 propostas pedagógicas a abordagem dos problemas atuais que afetam a vida humana em o nível local, regional e global, preferencialmente de forma transversal e integrativa. Entre esses temas, destacam-se (BNCC, 2017, p. 19): ➢ direitos da criança e do adolescente (Lei nº 8.069/199016), ➢ educação para o trânsito (Lei nº 9.503/1997) (BRASIL, 1997), ➢ educação ambiental (Lei nº 9.795/1999, Parecer CNE/CP nº 14/2012 e Resolução CNE/CP nº 2/2012) (BRASIL, 1999; BRASIL, 2012), ➢ educação alimentar e nutricional (Lei nº 11.947/2009) (BRASIL, 2009), ➢ processo de envelhecimento, respeito e valorização do idoso (Lei nº 10.741/2003) (BRASIL, 2003), ➢ educação em direitos humanos (Decreto nº 7.037/2009, ➢ Parecer CNE/CP nº 8/2012 e Resolução CNE/CP nº 1/2012) (BRASIL, 2012), ➢ educação das relações étnico-raciais e ensino de história e cultura afro- brasileira, africana e indígena (Leis nº 10.639/2003 e 11.645/2008, ➢ Parecer CNE/CP nº 3/2004 e Resolução CNE/CP nº 1/2004) (BRASIL, 2003; BRASIL, 2008; BRASIL, 2004), bem como saúde, vida familiar e social, educação para o consumo, educação financeira e fiscal, trabalho, ciência e tecnologia e diversidade cultural (Parecer CNE/CEB nº 11/2010 e Resolução CNE/CEB nº 7/2010) (BRASIL, 2010). Na BNCC, essas questões são abordadas nas competências dos componentes curriculares e cabe aos sistemas de ensino e às escolas abordá-las contextualmente de acordo com suas especificidades (BNCC, 2017). 4.2.2. BNCC e Ensino Infantil Com a Constituição Federal de 1988, as creches e Pré-escolas para crianças de 0 a 6 anos foram transferidas para o estado. Mais tarde, com a entrada em vigor da LDB em 1996, a Educação Infantil passou a integrar o Ensino Fundamental e foi equiparada ao Ensino Fundamental e Médio. E desde a alteração da LDB em 2006, 28 que permitiu o acesso ao Ensino Fundamental a partir dos 6 anos, a Educação Infantil passou a abranger a faixa etária de 0 a 5 anos (BNCC, 2017). Embora reconhecida como direito de todas as crianças e dever do Estado, a Educação Infantil para crianças de 4 e 5 anos só se tornou obrigatória com a Emenda Constitucional nº 59/2009, que estabelece a obrigatoriedade da escolaridade de 4 a 17 anos de idade. Essa extensão obrigatória está incluída na LDB (2013) e consagra a obrigatoriedade da matrícula de todas as crianças de 4 e 5 anos na Educação Infantil. Com a inclusão da Educação Infantil na BNCC, mais um passo importante é dado nesse processo histórico de integração a toda a Educação Básica (BNCC, 2017). A Educação Infantil, como primeiro nível da Educação Básica, é o início e a base do processo educativo. Na maioria dos casos, o ingresso na creche ou Pré- escola significa que a criança primeiro desvincula-se de seus vínculos familiares afetivos para integrá-la em uma situação estruturada de socialização. Nas últimas décadas, consolidou-se o conceito de articulação entre educação e cuidado na Educação Infantil, em que o cuidado é entendido como algo indissociável do processo educativo (BNCC, 2017). Nesse contexto, as creches e pré-escolas,pretendem alargar o universo de vivências através da construção das experiências e saberes que as crianças têm no ambiente familiar e no contexto da sua comunidade, os seus saberes e competências em introduzir e articular as propostas pedagógicas dessas crianças, diversificação e consolidação de novos aprendizados, ações complementares à educação familiar, principalmente em relação à educação de bebês e crianças pequenas, o que implica aprender próximo aos dois contextos (família e escola), tais como socialização, autonomia e comunicação. Nessa direção, para melhorar a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças, é essencial a prática do diálogo e da partilha de tarefas entre a instituição de Educação Infantil e a família. Além disso, a instituição deve conhecer e trabalhar com culturas plurais e dialogar com a riqueza/diversidade cultural das famílias e comunidades. Nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI, Resolução CNE/CEB nº 5/2009) (BRASIL, 2009) no artigo 4º a criança é definida como: Sujeito histórico e de direitos, que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e 29 constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura (BRASIL, 2009). Conforme afirmado pela DCNEI no artigo 9º, os eixos estruturantes das práticas pedagógicas neste nível da Educação Básica são as interações e brincadeiras, experiências nas quais as crianças podem construir conhecimentos e aquisições, e interações com pares e adultos que as possibilitem para aprender ativar desenvolvimento e socialização. A interação durante a brincadeira molda a vida cotidiana das crianças e traz consigo muitas aprendizagens e oportunidades para o seu desenvolvimento integral. Por exemplo, ao observar as interações e brincadeiras entre crianças/crianças e entre crianças/adultos, podem ser identificadas demonstrações de afeto, mediação de frustração, resolução de conflitos e regulação de emoções (BNCC, 2017). Tendo em vista os eixos estruturantes das práticas pedagógicas propostas pela BNCC (2017) e as competências gerais da Educação Básica, seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento na educação inicial (conviver; brincar; participar; explorar; expressar; conhecer-se) garantem as condições para que as crianças aprendam em situações que lhes permitam jogar um papel ativo em ambientes, que os convidem a vivenciar desafios e sejam motivados a resolvê-los, nos quais possam construir significados para si mesmos, para os outros e para o mundo social e natural (BNCC, 2017). A noção da criança que comparece no documento é como um ser que observa, questiona, formula hipóteses, lista conclusões, faz julgamentos e aceita valores, constrói conhecimentos e adquire conhecimentos sistematizados, por meio de ações e interações com o mundo físico e o social. Não se deve limitar esse aprendizado a um processo de desenvolvimento natural ou espontâneo. Ao contrário, se deve reforçar a necessidade de trazer a intencionalidade pedagógica para as práticas de sala de aula tanto na Educação Infantil quanto na Pré-escola (BNCC, 2017). Esta intenção consiste na organização e disponibilização por parte do educador de experiências que permitam às crianças conhecer a si e aos outros, conhecer e compreender as relações com a natureza, com a cultura e com as práticas de cuidados pessoais (alimentação, vestuário, higiene), brincando, experimentando diferentes materiais, aproximando-se da literatura e conhecendo pessoas. 30 Parte do trabalho do educador é refletir, organizar, planejar, selecionar, mediar e monitorar a variedade de práticas e interações para garantir um leque de situações que apoiam o pleno desenvolvimento das crianças, como a história de cada criança e de todo o grupo e suas conquistas, progressos, oportunidades e experiências de aprendizagem. Através de diversos registros feitos em diferentes momentos tanto pelos professores quanto pelas crianças (como fotos, relatórios, portfólios, desenhos e textos), é possível mostrar os avanços realizados durante o período observado. Classificar as crianças como aptas e inaptas, prontas ou não, maduras ou imaturas. Trata-se de conectar elementos para reorganizar espaços, tempos e situações que garantam os direitos de aprendizagem de todas as crianças (BNCC, 2017). Com o objetivo de regulamentar e organizar a Educação Infantil, o Ministério da Educação (MEC) publicou alguns documentos. Entre eles, pode-se considerar: ➢ As Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 1998a, 1998b, 1998c), em três volumes, dois Planos Nacionais de Educação (BRASIL, 2001, 2014); ➢ Os Parâmetros de Qualidade para a Educação Infantil (BRASIL, 2006); Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2010); ➢ A Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017). Acerca da Educação Infantil, na BNCC há como proposição os direitos de aprendizagem e desenvolvimento e os campos de experiências, que se subdividem nas seguintes faixas etárias: 01 = Bebês (zero a 1 ano e 6 meses) 02 = Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) 03 = Crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses) (BRASIL, 2017, p. 26). No Quadro 1, a seguir, se pode ver a estrutura da Educação Infantil por faixa etária. 31 Quadro 1: Estrutura da Educação Infantil (BNCC) Fonte: BNCC (2017) A BNCC (2017) tem a concepção de criança que rompe com a visão “adultocêntrica” de educação, que anula as potencialidades das crianças e entende que a criança é protagonista. As crianças recebem uma cultura construída pela sociedade. Contudo, ao serem expostas e encorajadas a realizar atividades em uma instituição de Educação Infantil, podem transformar essa produção cultural, interpretando-a e integrando-a por meio de suas práticas (SARMENTO, 2013). Conforme esses direitos, princípios pedagógicos e com base na pedagogia das infâncias, a BNCC (2017) organiza a proposta curricular para a educação infantil através dos cinco campos de experiência. Eles são: ➢ o eu, o outro e o nós — interação consigo mesmo e com os pares, cultivando o respeito às diferenças; ➢ corpo, gestos e movimentos — expressão corporal, mais criatividade e maior habilidade na resolução de problemas; ➢ traços, sons, cores e formas — interação com manifestações artísticas, desenvolvimento da própria perspectiva cultural e apropriação cultural; ➢ escuta, fala, pensamento e imaginação — contato com o alfabeto, concepção da língua escrita e expressão de sentimentos, emoções e percepções próprios por meio da língua oral e da escrita espontânea; ➢ espaços, tempos, quantidades, relações e transformações — estabelecimento de relações sociais com os pares, primeiros entendimentos sobre o mundo sociocultural e curiosidade com o mundo além da própria casa. 32 4.2.3. BNCC e Ensino Fundamental A educação primária é o nível mais longo da Educação Básica, com nove anos e atende alunos entre 6 e 14 anos. Portanto, há crianças e adolescentes que vivenciam uma série de mudanças nesse período, relacionadas a aspectos físicos, cognitivos, afetivos, sociais e emocionais, entre outros. Conforme estabelecido nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica de Nove Anos (Resolução CNE/CEB nº 7/2010) (BRASIL 2010), essas mudanças colocam desafios ao desenvolvimento curricular para esse nível escolar, para superar as rupturas que ocorrem na transição não apenas entre os níveis da Educação Básica, mas também entre as duas fases do Ensino Fundamental: Anos Iniciais e Anos Finais. A BNCC (2017) dos anos iniciais do Ensino Fundamental, valorizando as situações lúdicas de aprendizagem, visa a necessária articulação com asexperiências vividas na Educação Infantil. Essa articulação deve propiciar tanto a sistematização progressiva dessas experiências quanto o desenvolvimento, pelos alunos, de novas formas de relação com o mundo, novas possibilidades de leitura e formulação de hipóteses sobre os fenômenos, de vivê-los e de refutá-los. Este documento, valorizando as situações lúdicas de aprendizagem, visa a necessária articulação com as experiências vividas na Educação Infantil. Essa articulação deve propiciar tanto a sistematização progressiva dessas experiências quanto o desenvolvimento, pelos alunos, de novas formas de relação com o mundo, novas possibilidades de leitura e formulação de hipóteses sobre os fenômenos, de vivê-los, de refutá-los, numa atitude ativa na construção do conhecimento; a afirmação de sua identidade em relação ao grupo ao qual pertence leva a uma relação mais ativa com esse grupo e com as regras que regem as relações entre as pessoas dentro e fora da escola, por meio do reconhecimento de suas potencialidades e do acolhimento e valorizando as diferenças. As experiências também se tornam elementos importantes para a aquisição do sistema de escrita alfabética e outros sistemas de representação, como signos matemáticos, registros artísticos, cientistas, meios e formas para o desenvolvimento da oralidade e dos processos de percepção, compreensão e representação do tempo e do espaço. Os alunos são expostos a uma variedade de situações que empregam conceitos e práticas científicas, o desenvolvimento de observações, análises, 33 argumentos e o refinamento de descobertas. As vivências das crianças no seu contexto familiar, social e cultural, as suas memórias, a sua atribuição ao grupo e a sua interação com as mais diversas tecnologias de informação e comunicação são fontes que estimulam a sua curiosidade e a formulação de questões. Estimular o pensamento criativo, lógico e crítico, construindo e fortalecendo a capacidade de formular perguntas e avaliar respostas, de raciocinar, de interagir com as diferentes produções culturais e de utilizar as tecnologias de informação e comunicação possibilita aos alunos ampliar a compreensão de si mesmo, do mundo natural e social, das relações humanas entre si e com a natureza (BNCC, 2017). As características dessa faixa etária exigem um trabalho no ambiente escolar organizado em torno dos interesses das crianças, suas experiências mais imediatas, para que, a partir dessas experiências, elas ampliem gradativamente sua compreensão do que está acontecendo e suas habilidades mobilizam operações de complexidade e sensibilidade crescentes para entender, expressar e responder ao mundo. Durante os dois primeiros anos do Ensino Fundamental, a ação pedagógica deve se concentrar na alfabetização, a fim de proporcionar aos alunos amplas oportunidades de articular a aquisição do sistema de escrita alfabética com o desenvolvimento de outras habilidades de letramento e articular sua participação nas várias práticas de letramento. Conforme refere o Parecer CNE/CEB nº 11/2010, “os conteúdos dos vários componentes curriculares são [...], ao descortinarem às crianças o conhecimento do mundo por meio de novos olhares, lhes oferecem oportunidades de exercitar a leitura e a escrita de um modo mais significativo” (BRASIL, 2010). Durante o Ensino Fundamental - Anos Iniciais, o avanço do conhecimento ocorre por meio da consolidação das aprendizagens anteriores e da ampliação das práticas linguísticas e da experiência estética e intercultural das crianças, utilizando- se tanto de seus interesses quanto de suas expectativas, pois o que ainda é necessário é ser considerado aprendido. Ampliam-se a autonomia intelectual, a compreensão das normas e interesses da vida social, o que lhes permite abordar sistemas mais amplos que afetam as relações dos sujeitos entre si, com a natureza, com a história, com a cultura, com as tecnologias e com o meio ambiente. Além destes aspectos relacionados com a aprendizagem e o desenvolvimento, na concepção dos planos de estudos e propostas pedagógicas, devem também ser 34 inclusas medidas para garantir que os alunos tenham um percurso de aprendizagem contínuo entre as duas fases do ensino básico, a fim de alcançar uma integração mais forte entre eles. Assim, esta transição é caracterizada por mudanças pedagógicas na estrutura educacional, que resultam principalmente da diferenciação dos componentes curriculares. Como aponta o Parecer CNE/CEB nº 11/2010, “os alunos, ao mudarem do professor generalista dos anos iniciais para os professores especialistas dos diferentes componentes curriculares, costumam se ressentir diante das muitas exigências que têm de atender, feitas pelo grande número de docentes dos anos finais” (BRASIL, 2010). Fazer os ajustes e articulações necessários tanto no 5º como no 6º ano, para apoiar os alunos neste processo de transição, pode evitar interrupções no processo de aprendizagem e garantir-lhes uma maior chance de sucesso (BNCC, 2017). Ao longo do Ensino Fundamental-Anos Finais, os alunos enfrentam desafios mais complexos, principalmente pela necessidade de se apropriar das diferentes lógicas de organização do conhecimento relacionadas aos domínios. Face a esta especialização acrescida, importa reintroduzir e ressignificar, nos vários componentes do currículo, as aprendizagens do ensino básico no contexto das diferentes áreas de forma a aprofundar e alargar o repertório dos alunos. Nesse sentido, também é importante fortalecer a autonomia desses jovens, proporcionando-lhes condições e ferramentas de acesso crítico e interação com diferentes fontes de conhecimento e informação. Os alunos dessa fase estão em uma faixa etária que corresponde à transição entre a infância e a adolescência, caracterizada por intensas mudanças decorrentes de transformações biológicas, emocionais, sociais e psicológicas. Neste período da vida, conforme Parecer CNE/CEB nº. 11/2010, os adolescentes enfatizam os laços sociais e afetivos, as possibilidades intelectuais e a capacidade de pensar de forma mais abstrata. Os alunos se tornam mais capazes de ver e avaliar os eventos da perspectiva uns dos outros praticando a capacidade de desfocar, importante para construir autonomia e adquirir valores morais e éticos. As mudanças inerentes a esse período da vida implicam na compreensão do adolescente como um sujeito em evolução, com particularidades e formações de identidade e cultura que exigem uma prática escolar diferenciada, capaz de levar em conta suas 35 necessidades e diferentes formas de convivência social. Como as DCN reconhecem, muitas vezes é nessa fase que se: observa forte adesão aos padrões de comportamento dos jovens da mesma idade, o que é evidenciado pela forma de se vestir e também pela linguagem utilizada por eles. Isso requer dos educadores maior disposição para entender e dialogar com as formas próprias de expressão das culturas juvenis, cujos traços são mais visíveis, sobretudo, nas áreas urbanas mais densamente povoadas (BRASIL, 2010). Em todos os níveis escolares, mas principalmente entre os alunos deste nível do Ensino Fundamental, esses fatores tendem a dificultar a convivência e a aprendizagem, levando ao desinteresse, à alienação e não raramente à agressividade e ao fracasso escolar. Consciente das culturas diversas, heterogêneas ou contínuas dos alunos nesta fase, é necessário que a escola se engaje em diálogo com a diversidade de formações e experiências para enfrentar com sucesso os desafios de seus propósitos educacionais. Entendendo os alunos como sujeitos com histórias e conhecimentos construídos nas interações com outras pessoas, tanto no ambiente social mais próximo quanto no universo da mídia e da cultura digital, fortalece o potencial da escola como formadora do espaço e orientadora de cidadania consciente,crítica e participativa. Assim, no Ensino Fundamental - Anos Finais, a escola pode contribuir para a formação do projeto de vida dos alunos, fazendo uma articulação não só com as aspirações desses jovens em relação ao seu futuro, mas também com a continuidade de seus estudos no Ensino Médio. Esse processo de reflexão sobre o que cada jovem quer ser no futuro e planejamento de ações para construir esse futuro pode ser mais uma oportunidade de desenvolvimento pessoal e social (BNCC, 2017). 4.2.4. Plano Nacional De Educação (PNE) A elaboração de um Plano Nacional de Educação (PNE) está diretamente relacionada à perspectiva de construção de um projeto de educação para o País, objetivando enfrentar os desafios necessários para a efetivação da educação pública e gratuita como um direito de todos (COELHO, 2016). Deste modo, a aprovação do PNE (2014-2014), por meio da Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, pode ser compreendido com um esforço fundamental para a continuidade dos avanços das políticas de consolidação de direitos educacionais em curso no Brasil (MOLL, 2014). 36 Fonte: shre.ink/mwUj O PNE (2014-2024) foi organizado em 20 metas e 254 estratégias objetivando, entre outros aspectos, a erradicação do analfabetismo, a universalização do atendimento escolar e a melhoria da qualidade da educação (BRASIL, 2014). Entre as referidas metas está a de número 6 (seis) que determinou: “oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) das escolas públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% (vinte e cinco por cento) dos (as) alunos (as) da Educação Básica” (BRASIL, 2014). Especificamente em relação a essa meta, o Ministério da Educação (MEC) assumiu um papel de grande articulação para que as estratégias associadas ao tempo integral, presentes no referido plano, viessem ao encontro da experiência colocada em curso por meio do Programa Mais Educação (PME) (PARENTE, 2017), estratégia indutora de educação integral em tempo integral criada e operacionalizada pelo governo federal. A aprovação do PNE (2014-2014) trouxe à cena dois grandes desafios. O primeiro deles está associado ao fato de que a Lei que aprovou o Plano também determinou que a instâncias subnacionais devessem elaborar ou adequar os seus planos de educação, em conformidade com o Novo PNE, no prazo de um ano (BRASIL, 2014, Art. 8º). Esse processo enfrentaria desafios para a sua consolidação, em razão das dificuldades relacionadas à elaboração e aprovação dos planos no nível dos estados, dos municípios e do Distrito Federal (SOUZA; MENEZES, 2015). O segundo desafio está relacionado ao processo de efetivação do PNE 2014- 2024, uma vez que após o golpe sofrido pela presidenta Dilma Rousseff, as 37 ações do MEC apontaram para “a secundarização do PNE, seus comandos, dispositivos e prazos” (DOURADO, 2018). 4.2.5. A educação em tempo integral no Brasil: da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) ao Programa Novo Mais Educação (PNME) Apesar do governo federal ter empreendido, na década de 1990, duas “tentativas de implementação de programa de educação integral e(m) tempo integral” (COSTA, 2019, p. 143), a saber: o Programa Minha Gente (PMG) (BRASIL, 1991), no governo Collor; e, na sequência, o Programa Nacional de Atenção à Criança e ao Adolescente (Pronaica) (BRASIL, 1993), no governo Itamar Franco, foi apenas no ano de 1996 que a LDBEN 9394/96, estabeleceu que “a jornada escolar no Ensino Fundamental incluirá pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula, sendo progressivamente ampliado o período de permanência na escola” (BRASIL, 1996). Ainda assim, a determinação da referida lei não apresentava uma definição sobre a métrica associada ao tempo integral. Essa regulamentação ocorreu no ano de 2001, por meio do Plano Nacional de Educação (PNE/2001-2010), que dimensionou o tempo integral para, ao menos, sete horas diárias de atividades escolares (BRASIL, 2001). Afora essa definição, o PNE (2001-2010) determinou ainda a priorização das crianças das camadas mais vulneráveis da população (BRASIL, 2001), revelou alinhamento com determinação de organismos internacional, em especial a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) que editou orientações (UNESCO, 1984; 1996; 2002) que expressam consenso sobre o potencial da ampliação da jornada escolar diária dos estudantes, como estratégia voltada para o enfretamento das desigualdades educacionais e para a proteção social das camadas mais vulneráveis da população (DINIZ JÚNIOR, 2020). A priorização determinada pelo PNE (2001-2010) já sinalizava que a(s) políticas(s) de educação em tempo integral no Brasil não seriam universais, ou seja, atenderiam a uma parcela do quantitativo de estudantes da educação pública brasileira e ainda, teriam como foco a população mais pobre da sociedade. Apesar da definição expressa no PNE (2001-2010), acerca da educação em tempo integral, foi apenas no ano de 2007 que o governo federal empreendeu duas ações que viabilizavam esse atendimento. 38 Em relação à Educação Infantil, no referido ano foi instituído pelo governo federal, no âmbito do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) o Programa Nacional de Reestruturação e Aparelhagem da Rede Escolar Publica de Educação Infantil (Proinfância) que visa a garantir o acesso de crianças a creches e Pré-escolas, bem como a melhoria da infraestrutura física da rede de Educação Infantil em todo Brasil (BRASIL, 2007b). Operacionalizado por meio de transferências voluntárias de recursos, da União para os municípios, o programa busca corrigir as desigualdades de acesso e de permanência na Educação Infantil, através da ampliação do número de vagas nesta etapa, da adequação da rede física das escolas da Educação Infantil e, dentre outros elementos, da oferta de educação em tempo integral (FALCIANO; NUNES: DOS SANTOS, 2019). Ainda que seu foco não fosse exclusivamente a oferta da educação em tempo integral, é possível depreender que o referido programa se constituiu como uma importante ação para a oferta desta modalidade na Educação Infantil do país. No âmbito do Ensino Fundamental o governo federal criou Programa Mais Educação (PME), por meio da Portaria Interministerial n° 17/2007 (BRASIL, 2007) que foi, posteriormente, disposto pelo Decreto nº 7.083/2010 (BRASIL, 2010), com o objetivo de se constituir como a ação indutora de políticas de tempo integral. Os Manuais do PME (BRASIL, 2008; 2009; 2010; 2011; 2012; 2013; 2014a), sinalizaram para a focalização em grupos sociais mais vulneráveis ao estabelecerem critérios para a adesão ao programa, por parte das escolas e ainda, para a seleção dos estudantes a serem atendidos na ampliação da jornada escolar. Esses critérios, que apontavam para a priorização nas camadas sociais mais vulneráveis, buscavam articular políticas sociais sob a perspectiva do binômio educação e proteção social (SILVA, 2018), inserindo-se no contexto das políticas redistributivas de combate à pobreza e à vulnerabilidade social (CARVALHO; RAMALHO; SANTOS, 2019). No ano de 2014, o PNE (2014-2024), de forma inédita, apresentou meta exclusiva associada à educação em tempo integral, tendo estabelecido, conforme apresentado anteriormente, que, ao final do seu período de vigência, sua oferta deverá contemplar, no mínimo, 50% das escolas públicas de modo a atender, pelo menos, 25% dos estudantes da Educação Básica (BRASIL, 2014). A referida meta reforça aquilo que já estava apontando no PNE (2001-2010) e, posteriormente, no 39 PME, a respeito do atendimento em tempo integral não se constituir
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