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Ensinar Ciências na educação infantil Apresentação Nesta Unidade de Aprendizagem, abordaremos a importância e as possibilidades reais de trabalhar os conteúdos de Ciências com alunos da educação infantil, desmistificando a ideia de serem conteúdos complexos e de difícil assimilação pelas crianças menores. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer os princípios que compõem as Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil, bem como os eixos norteadores da aprendizagem. • Explicar a importância de se trabalhar Ciências na educação infantil.• Construir propostas de trabalho com os conteúdos de Ciências na educação infantil.• Desafio “A interação das crianças com a água propicia, além do prazer pela brincadeira em si, a possibilidade de investigação. Pensar em materiais que as desafiem a relacionar suas ações e o movimento da água é fundamental para o estabelecimento dessas relações referentes à construção do espaço e do tempo, bem como do conhecimento físico. A ideia é disponibilizar os materiais e deixar que as crianças o explorem livremente.” (Revista Pátio, 2014, p. 24 e 25) Baseando-se no texto acima, elabore um roteiro de experiência com a água a ser trabalhado com os alunos da educação infantil. A sua proposta deve ser coerente com os princípios estabelecidos nas Diretrizes Curriculares para a educação infantil, levando-se em conta os estágios de desenvolvimento cognitivo das crianças. Deve evidenciar-se, ainda, a interdisciplinaridade entre os conceitos matemáticos, a linguagem corporal, o conhecimento científico, entre outros. Sugestão: objetos que flutuam e objetos que afundam. Infográfico O infográfico a seguir apresenta alguns pontos sobre o ensino de Ciências na educação infantil. Veja: Conteúdo do livro As interações e brincadeiras constituem os eixos estruturantes para a Educação Infantil, sendo esta uma etapa da Educação Básica de fundamental importância ao desenvolvimento integral da criança. É o primeiro contato da criança com o ambiente escolar, portanto o acolhimento, respeito aos seus saberes devem funcionar como ponto de partida às novas aprendizagens. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é o documento mandatório vigente que apresenta as competências e aprendizagens essenciais a cada uma das três etapas da Educação Básica. Neste documento constam os seis direitos de aprendizagens, os campos de experiência e os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento as três faixas etárias: bebês, crianças bem pequenas e crianças pequenas. Neste capítulo será apresentada da trajetória da Educação Infantil bem como os documentos brasileiros que regulamentam esta etapa de ensino. Em seguida será discutido como os temas relacionados às ciências e suas tecnologias podem ser abordados na Educação Infantil em um contexto não disciplinar, mas sim entrelaçados por todos os Campos de Experiências. Por fim, são trazidas algumas ideias de como o professor pode estruturar suas práticas, explorando o cotidiano da criança por meio do ensino investigativo. METODOLOGIA DO ENSINO DE CIÊNCIAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Reconhecer os princípios que compõem as diretrizes curriculares para a educação infantil, bem como os eixos norteadores da aprendizagem. > Explicar a importância de se trabalhar ciências na educação infantil. > Construir propostas de trabalho com os conteúdos de ciências na edu- cação infantil. Introdução O brincar é muitas vezes entendido como uma simples ação de “passar o tempo”. No entanto, é brincando que a criança aprende a compreender o mundo, esta- belecendo suas primeiras experiências com tudo que é diferente: descobrindo a si mesma, sentindo suas mãozinhas e pés, entendendo que o choro é um modo de chamar a atenção de um adulto às suas necessidades; descobrindo o outro, identificando aqueles que são de seu convívio íntimo e também quem lhe são estranhos; e descobrindo o mundo, com cores, sons, texturas, e assim construindo aos poucos suas experiências de aprendizagem. É um processo próprio de cada criança, que recebe estímulos diferentes em cada núcleo familiar e, posteriormente, na escola. No seu tempo, a criança aprende a linguagem oral, os primeiros passos e passa a interagir gradualmente com o mundo que se abre à sua volta. A educação infantil é uma importante etapa na educação da criança. É o principal ambiente em que ela passa a desenvolver outros vínculos de afeto que não somente com a família. Nessa etapa são construídas relações Ensinar ciências na educação infantil Mônica da Silva Gallon entre aquilo que a criança vivencia com outras aprendizagens, ampliando sua forma de ver o mundo. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é o principal documento no Brasil que indica caminhos à estruturação curricular da educação infantil e demais etapas da educação básica. Para o desenvolvimento de uma cultura científica e tecnológica, a BNCC indica que isso deve ocorrer desde os primeiros anos escolares, assim, per- passando também a educação infantil. Mas de que modo as ciências devem ser desenvolvidas nessa etapa? Neste capítulo você vai ver como a educação infantil está estruturada com relação à BNCC, além de ver a relação entre os direitos de aprendizagem e campos de experiência com os eixos das interações e brincadeiras. Além disso, você vai ver de que modo são desenvolvidos temas relacionados às ciências e suas tecnologias no contexto dessa etapa da educação básica. Para isso, vai estudar a ideia de inserção de atividades investigativas, de modo a agregar o cotidiano da criança e proporcionar a ela as aprendizagens essenciais à sua faixa etária. A educação e a criança: uma breve trajetória histórica às políticas brasileiras O núcleo da família é o primeiro contato social da criança. Tradicionalmente, na história das diferentes sociedades, a responsabilidade pelo processo educativo da criança era essencialmente da família, “[...] porque era no convívio com os adultos e outras crianças que ela participava das tradições e aprendia as normas e regras da cultura” (PASCHOAL; MACHADO, 2009, documento on-line). De acordo com Paschoal e Machado (2009), com a industrialização, as famílias passaram por uma reestruturação na sua dinâmica de funcio- namento. Antes, mesmo em uma situação em que todos os adultos de uma mesma família tinham alguma ocupação fora de casa, como o trabalho no campo, as crianças estavam sempre junto da família, fazendo suas brincadei- ras em companhia dessas pessoas, que as vigiavam e acabavam por ensinar elementos dos seus ofícios. Com o estabelecimento de fábricas, ocorreu um grande movimento de pessoas em direção aos centros urbanos, inicialmente na Europa, depois, de forma gradual, em outros continentes. Assim surgiu um problema: quem iria cuidar dessas crianças se todos os adultos necessitavam passar longas jornadas de trabalho fora de casa? “As mães operárias que não tinham com quem deixar seus filhos utilizavam o trabalho das conhecidas mães mercenárias. Essas, ao optarem pelo não Ensinar ciências na educação infantil2 trabalho nas fábricas, vendiam seus serviços para abrigarem os filhos de outras mulheres” (PASCHOAL; MACHADO, 2009, documento on-line). Na maioria das situações, o que ocorria era o simples cuidado das necessidades básicas dessas crianças, que conviviam com outras sem propósitos educativos. Maus tratos, incluindo violência física ou negligência com relação à higiene e à alimentação, eram situações comuns (PASCHOAL; MACHADO, 2009), sendo uma forma de tornar as crianças, muitas vezes numerosas sob tutela de uma única pessoa adulta, mais dóceis e obedientes. Nesse período do processo de industrialização, o brincar, o expressar, o participar, ações que atualmente são consideradas como essenciais às crianças, não eram vistos como relevantes, sendo o tratamento garantido aos pequenos quase o mesmo que aos adultos (DUSSEL; CARUSO, 2003).Os ensinamentos sobre os ofícios exercidos pelos adultos de relações próximas às crianças também eram bastante comuns, sendo as crianças precocemente introduzidas ao trabalho, a fim de se ocuparem, mas, prin- cipalmente, de auxiliarem na renda familiar. Assim, ainda muito pequenos, não era incomum que fosse negado à criança o direito às brincadeiras, às aprendizagens escolares, que hoje são vistas como essenciais ao desenvol- vimento de um adulto sadio e feliz. Avançando alguns anos na história, aos poucos, a preocupação com a educação escolar foi ganhando um espaço imprescindível na sociedade. A educação infantil deixou de ser vista como um espaço assistencialista para constituir-se em um ambiente com propósitos de cuidado e educação. Essas mudanças foram fruto do processo de redemocratização do Brasil, com a participação de homens e mulheres e, especialmente, dos profissionais da educação (BRASIL, 2010). Desse modo, a educação infantil passou a vigorar nos documentos oficiais do país, como você verá a seguir. A educação infantil e seus avanços nas políticas brasileiras Na Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), fica estabelecido que o aten- dimento em creches e pré-escolas passa a ser um dever do Estado. Com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394, de 20 de Ensinar ciências na educação infantil 3 dezembro de 1996 (BRASIL, 1996), a educação infantil começa a ser vista como um dos níveis da educação básica. Em 1998, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) estabelece um avanço; todavia não apresenta a criança como foco principal das pautas apresentadas, estando mais voltado a uma orientação aos conteúdos e objetivos de aprendizagem. Em seu terceiro volume, esse documento apresenta seis eixos de trabalho, para o que chama de experiência de conhecimento de mundo (BRASIL, 1998, documento on-line): � Movimento � Música � Artes visuais � Linguagem oral e escrita � Natureza e sociedade � Matemática Perceba aqui a inserção do ensino de ciências, que, no documento, apre- senta objetivos distintos às faixas etárias de 0 a 3 anos e 4 a 6 anos. O RCNEI está estruturado por conteúdos a serem desenvolvidos com essas faixas etárias e apresenta as orientações didáticas para o seu desenvolvimento, indicando modos de introduzir o tema, procedimentos e, em alguns tópicos, sugestões de materiais que podem ser empregados e formas de avaliação. Os conteúdos estipulados para “Natureza e sociedade” estão estruturados da seguinte forma: � Organização dos grupos e seu modo de ser, viver e trabalhar � Lugares e suas paisagens � Objetos e processos de transformação � Seres vivos � Fenômenos da natureza O documento, apesar de representar um avanço na educação infantil com relação ao reconhecimento da sua importância como etapa educativa, remonta a uma construção curricular mais disciplinar, transparecendo maior preocupação com conteúdos do que propriamente com os saberes da criança e sua relação com o mundo em sua realidade. Em 2006, com a modificação da LDB referente à faixa etária de acesso ao ensino fundamental, fica estabelecido o atendimento pela educação infantil de crianças de 0 a 5 anos de idade. A educação infantil como segmento obrigatório Ensinar ciências na educação infantil4 da educação básica vigora na LDB desde 2013; a lei indica como necessária a matrícula de crianças de 4 e 5 anos em escolas de educação infantil. Esse reconhecimento do papel da educação infantil ganha vigor com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI) (BRASIL, 2010), documento legitimado em 2009 e publicado em 2010. Entre os objetivos das DCNEI está a organização de propostas para a educação infantil e orien- tações no que tange esse segmento, devendo estar em consonância com as leis nos âmbitos estadual e municipal. As DCNEI apresentam duas definições importantes (BRASIL, 2010, documento on-line): Educação Infantil: Primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré- -escolas, as quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino submetidos a controle social. Criança: Sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagi- na, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura. Essas duas conceituações articulam-se com o entendimento de currículo e proposta pedagógica. Currículo é o “[...] conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade” (BRASIL, 2010, documento on-line). Proposta pedagógica (ou projeto político-pedagógico, PPP) são as orientações que cabem a cada instituição de ensino, contendo as metas para a aprendizagem e o papel de todos os atores da escola envolvidos no processo educativo. São três os princípios que regem as propostas pedagógicas, de acordo com as DCNEI (BRASIL, 2010, documento on-line): � Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente e às diferentes culturas, identidades e singularidades. � Políticos: dos direitos de cidadania, do exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática. � Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da liberdade de expressão nas diferentes manifestações artísticas e culturais. Ensinar ciências na educação infantil 5 Dentro dessas ideias sobre a criança, a organização do espaço educativo e as dimensões da aprendizagem, você pode perceber que a proposta edu- cativa, indo dos bebês às crianças pequenas, trazem a criança ao centro da sua aprendizagem. As DCNEI apresentam ainda uma série de recomendações quanto à organi- zação do tempo, do espaço e dos materiais a serem explorados no processo de ensino e aprendizagem desse segmento educativo. Dessa forma, a educação infantil não fica à margem de outras questões, como o assistencialismo, nem é transformada em um centro de mero preparo da criança para o ensino fun- damental. Ficam muito claras as intenções de aprendizagem e a necessidade de metodologias adequadas ao desenvolvimento integral dos educandos. No final de 2017, foi homologada a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2017), sendo este [...] um documento com caráter normativo que define o conjunto orgânico e pro- gressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, de modo que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em conformidade ao que preceitua o Plano Nacional de Educação (BRASIL, 2017, documento on-line, grifo nosso). Portanto, a BNCC assegura a todos os estudantes da educação básica uma base de aprendizagens comuns, independentemente da região brasileira. A BNCC não é um manual de como o professor deve ensinar, ela está voltada ao que o estudante deve aprender — o foco é o estudante, estando pautada em princípios éticos, políticos e estéticos (BRASIL, 2017), reiterando o que já estava nas DCNEI (BRASIL, 2010). No que tange a educação infantil, a BNCC primeiramente recomenda um conjunto de competências gerais, comuns a toda a educação básica. A BNCC define competências como “[...] a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania edo mundo do trabalho” (BRASIL, 2017, documento Ensinar ciências na educação infantil6 on-line). Essas competências gerais objetivam garantir “[...] os direitos de aprendizagem e desenvolvimento” (BRASIL, 2017, documento on-line). Resu- midamente, as 10 competências gerais estão voltadas para: 1. Conhecimento 2. Pensamento científico, crítico e criativo 3. Senso estético 4. Comunicação 5. Argumentação 6. Cultura digital 7. Autogestão 8. Autoconhecimento e autocuidado 9. Empatia e cooperação 10. Autonomia Para saber mais sobre o que tratam as competências gerais, direitos de aprendizagem, campos de experiência e objetivos de aprendiza- gem, acesse o documento na íntegra da Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017) — você o encontra facilmente em pesquisa na internet. A partir desse ponto do documento, a educação infantil ganha contornos diferentes do ensino fundamental, voltando-se às interações e à brincadeira, que constituem seus eixos estruturantes (BRASIL, 2017). Além disso, tem como principais propósitos educar e cuidar, entendendo o cuidado como algo indissociável do processo educativo (BRASIL, 2017). Entre as diferenças da educação infantil está a estruturação dos campos de experiência, que resultam nos objetivos de aprendizagem, enquanto no ensino fundamental os campos de experiência são substituídos pelas dife- rentes áreas do conhecimento que abarcam os componentes curriculares, como mostra a Figura 1. Assim, o RCNEI (BRASIL, 1998), as DCNEI (BRASIL, 2010) e a BNCC (BRASIL, 2017) representam a trajetória das políticas públicas voltadas à educação infantil. Acompanhe, no Quadro 1, uma síntese desses três documentos. Ensinar ciências na educação infantil 7 Figura 1. Comparativo entre a estrutura da educação infantil e a do ensino fundamental. Fonte: Adaptada de A BNCC... (2018). Competências gerais Educação infantil Diretrizes de aprendizagem Campos de experiências Áreas do conhecimento Competências específicas Ensino fundamental Quadro 1. Comparação entre RCNEI (BRASIL, 1998), DCNEI (BRASIL, 2010) e BNCC (BRASIL, 2017) quanto a objetivos, organização e concepção de criança RCNEI (BRASIL, 1998) DCNEI (BRASIL, 2010) BNCC (BRASIL, 2017) Co nc ep çã o de c ri an ça O foco está no desenvolvimento integral da criança, mas ela ainda é vista como alguém que responde aos estímulos dados pelos adultos (no caso da escola, os professores). Ampliam o olhar sobre a criança, considerando as interações sociais como condições essenciais para o aprendizado. Ao mesmo tempo, a criança está no centro do processo de aprendizagem, como sujeito das diferentes práticas cotidianas. Tratam a criança com toda complexidade e potência, e situam a educação infantil em relação ao desenvolvimento de princípios éticos, estéticos e políticos. Reforça a visão da criança como protagonista em todos os contextos de que faz parte: ela não apenas interage, mas cria e modifica a cultura e a sociedade. (Continua) Ensinar ciências na educação infantil8 RCNEI (BRASIL, 1998) DCNEI (BRASIL, 2010) BNCC (BRASIL, 2017) O bj et iv o Esclarecer o que deve ser ensinado nessa etapa da educação básica. Trazer mais subsídios sobre como a criança aprende para que, a partir daí, possa-se pensar em como garantir o que ela tem direito de aprender, nessa fase. Reforçar a importância de o aluno ter acesso ao conhecimento cultural e científico e ter contato com a natureza, porém preservando o modo de a criança aprender. A partir de um significativo avanço no entendimento de como a criança aprende, oferecer referências para a construção de um currículo, baseadas em direitos de desenvolvimento e aprendizagem bem definidos. O rg an iz aç ão Em eixos, que devem ser considerados de forma integrada: movimento, identidade e autonomia, conhecimento de mundo, artes visuais, música, linguagem oral e escrita, natureza/ sociedade e matemática. Consideram, como eixos estruturantes, a interação e a brincadeira, mas propõem a articulação das diferentes linguagens para a organização curricular e didática. As diversas áreas de conhecimento e as diferentes linguagens são integradas por meio dos campos de experiência. Parte-se do pressuposto de que a criança aprende por meio das experiências vividas no contexto escolar. Fonte: Adaptado de Trevisan (2018). Os direitos de aprendizagem e os campos de experiência A BNCC reestrutura o modo de pensar a educação infantil, trazendo a cen- tralidade à criança; desse modo, todas as práticas educativas seguem como premissa os eixos das interações e brincadeiras, demonstrando a importância da convivência com o adulto e outras crianças, bem como da ludicidade para um aprendizado com significado. Em vista disso, o documento apresenta seis direitos de aprendizagem, que asseguram, na educação infantil, as condições (Continuação) Ensinar ciências na educação infantil 9 para que as crianças aprendam “[...] em situações nas quais possam desem- penhar o papel ativo em ambientes que as convidem a vivenciar desafios e a sentirem-se provocadas a resolvê-los, nas quais possam construir significados sobre si, os outros e o mundo social e natural” (BRASIL, 2017, documento on-line). São seis os direitos de aprendizagem, como mostra o Quadro 2. Quadro 2. Direitos de aprendizagem para a educação infantil de acordo com a BNCC Direitos de aprendizagem 1 Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas. 2 Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais. 3 Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando. 4 Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia. 5 Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens. 6 Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário. Fonte: Adaptado de Brasil (2017). Ensinar ciências na educação infantil10 A organização apresentada pela BNCC, baseada na convivência, observação, questionamentos e aquisição de conhecimentos, por exemplo, não deve partir de uma ação desconexa e sem propósitos, pelo contrário, “impõe a necessi- dade de imprimir uma intencionalidade educativa às práticas pedagógicas [...] tanto na creche quanto na pré-escola” (BRASIL, 2017, documento on-line). Essa intencionalidade consiste na organização e proposição, pelo educador, de experiências que permitam às crianças conhecer a si e ao outro e de conhecer e compreender as relações com a natureza, com a cultura e com a produção científica, que se traduzem nas práticas de cuidados pessoais (alimentar-se, vestir-se, higienizar- -se), nas brincadeiras, nas experimentações commateriais variados, na aproximação com a literatura e no encontro com as pessoas (BRASIL, 2017, documento on-line). O professor, portanto, tem como suas atribuições “[...] refletir, selecionar, organizar, planejar, mediar e monitorar um conjunto de práticas e interações, garantindo a pluralidade de situações que promovam o desenvolvimento pleno das crianças” (BRASIL, 2017, documento on-line). Assim as práticas partem do cotidiano da criança, mas, por meio da intencionalidade do professor, ganham significado e se constituem em novas aprendizagens. Na BNCC, essas expe- riências associadas aos conhecimentos essenciais compõem os campos de experiência, que estão organizados em o eu, o outro e o nós; corpo, gestos e movimentos; traços, sons e formas; escuta, fala e imaginação; e espaços, tem- pos, quantidades, relações e transformações, como você pode ver na Figura 2. Figura 2. Campos de experiência para a Educação Infantil de acordo com a BNCC. Interações e brincadeiras O eu, o outro e o nós Espaço, tempos, quantidades, relações e transformações Corpo, gestos e movimentos Traços, sons cores e formas Escuta, fala, pensamento e imaginação Ensinar ciências na educação infantil 11 Os campos de experiência rompem com a lógica disciplinar e artificialmente organizada do conhecimento, tal como estabelecida nas outras etapas da educação básica (FOCHI, 2016). É a vida cotidiana que rege as aprendizagens, nas experiências vividas dentro e fora do ambiente da escola. Fochi (2016) afirma que a pedagogia dos campos de experiência é relacional, produzida entre a criança com ela mesma, com adultos e outras crianças e com o mundo. Não há um campo de experiência mais importante do que o outro, e eles não devem ser abordados de forma desarticulada, dividido por turnos, períodos, etc. Uma investigação sobre a vida das formigas ou a observação do caminho que a criança realiza até a escola, por exemplo, são atividades que, quando tomadas com a intencionalidade de ensinar, mobilizarão deter- minado campo de experiência (ou vários). Nessa construção, as ciências não se estruturam como um campo disciplinar, estando seus princípios e práticas entrelaçados em todos os campos de experiência vividos pela criança, como você verá a seguir. O vídeo A BNCC para Educação Infantil, realizado pelo professor Paulo Fochi, esclarece a ideia de campos de experiência e apresenta uma série de sugestões para a mobilização dos campos à aprendizagem das crianças. Se quiser assistir ao vídeo, pesquise por “A BNCC para Educação Infantil” e “Paulo Sérgio Fochi” em seu mecanismo de busca na internet, que você deve localizá-lo facilmente. As ciências na educação infantil Todo indivíduo é um cientista desde muito pequeno. Quando, ainda bebê, leva objetos à boca e descobre que alguns não têm um sabor tão gostoso assim, de algum modo está aprendendo por meio da experimentação sobre sabores e texturas. As crianças realizam seus testes, exploram seu entorno, formulam e comprovam hipóteses e, desse modo, vão construindo seu conhecimento científico intuitivo. Pozo (2012, p. 6) argumenta que avançar da ciência intui- tiva das crianças requer “[...] construir novas competências ou capacidades cognitivas — além de novas linguagens e sistema de representação”. Ensinar ciências na educação infantil12 Entretanto é preciso ter cuidado com relação ao ensino de certos conceitos, pois muitos deles requerem competências ou capacidade cognitiva, além de uma linguagem própria ao que se deseja ensinar ou aprender, para a qual uma criança ainda não está preparada intelectualmente. Por exemplo, átomo, energia, calor são conceitos baseados em construções mentais e que exigem um grau de abstração ainda não desenvolvido de modo suficiente na faixa etária da educação infantil (POZO; GÓMEZ CRESPO, 2009). Pozo (2012, p. 6) diz que “[...] a dificuldade da educação científica residiria na necessidade de construir essas funções sofisticadas que tornam possíveis o pensamento científico e que, segundo esse argumento, não estariam disponí- veis na mente das crianças nem dos cidadãos não educados cientificamente”. Todavia, para o desenvolvimento do ensino de ciências e a construção gradual de um pensamento científico, [...] é preciso assentar previamente a ciência intuitiva dos alunos. E essa deve ser [...] uma das funções essenciais da educação científica nos primeiros anos de vida. Antes de ensinar-lhes o que é a ciência e suas diferenças entre modelos e explicações científicas e suas intuições, é necessário que as crianças se aprofundem nessas intuições, na ciência que trazem do berço, que a compreendam melhor e que sejam capazes de falar sobre ela e de explorar seus limites. Só assim o conhecimento científico será necessário para elas (POZO, 2012, p. 6). Em outras palavras, ter um trabalho pautado em disciplinas na educação infantil, como, por exemplo, ter uma matéria específica dedicada às ciências, não contribuiria de modo real para o desenvolvimento científico das crianças. Além disso, todas as experiências que elas trazem à escola, aquilo que elas vivenciam em seu dia a dia, seria deixado de lado em prol de conceitos que talvez não fizessem sentido na fase de desenvolvimento em que se encontram. Desse modo, a organização por campos de experiência traz ao protagonismo, primeiramente, a criança e, por consequência, suas experiências, de modo a dar significado a elas e a aprender de acordo com a faixa de desenvolvimento. A BNCC organiza, dentro de cada campo de experiência, um conjunto de ob- jetivos de aprendizagem e desenvolvimento. Essas aprendizagens essenciais abrangem tanto “[...] comportamentos, habilidades e conhecimentos quanto vivências que promovem aprendizagens e desenvolvimento nos diversos cam- pos de experiência” (BRASIL, 2017, documento on-line). Para isso, o documento organiza os objetivos em grupos por faixa etária, que correspondem “[...] às possibilidades de aprendizagem e às características do desenvolvimento das crianças” (BRASIL, 2017, documento on-line), abrangendo dos 0 meses a 5 anos e 11 meses, como mostra o Quadro 3. Ensinar ciências na educação infantil 13 Quadro 3. Faixas etárias da educação infantil de acordo com a BNCC Creche Pré-escola Bebês (zero a 1 ano e 6 meses) Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) Crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses) Fonte: Adaptado de Brasil (2017). Sendo assim, no Quadro 4, você pode ver um exemplo da organização adotada dentro do campo de experiência “espaços, tempos, quantidades, relações e transformações”. Uma construção gradual do conhecimento é sugerida, de modo a considerar o que a criança já viveu ou tem condições de compreender de acordo com sua idade. Quadro 4. Exemplo de objetivo de aprendizagem e desenvolvimento e sua complexificação de acordo com as faixas etárias Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento Bebês (zero a 1 ano e 6 meses) Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) Crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses) Explorar e descobrir as propriedades de objetos e materiais (odor, cor, sabor, temperatura). Explorar e descrever semelhanças e diferenças entre as características e propriedades dos objetos (textura, massa, tamanho). Estabelecer relações de comparação entre objetos, observando suas propriedades. Fonte: Adaptado de Brasil (2017). Então, o que é possível trabalhar no universo da criança? Tudo! Partir do cotidiano das crianças e expandir com novas aprendizagens, de forma mais sistematizada, porém de acordo com cada faixa etária é o que melhor se enquadra nas interações e brincadeiras. Práticas investigativas, explorando os questionamentos das crianças, as hipóteses que elas apresentam aos problemas e os testes que desenvolvem a determinado experimento (“e se eu colocar sal na geleia, o que acontece?”) pode ser um excelente caminho para explorar os diferentes campos de experiência e atenderaos objetivos de aprendizagem traçados a cada faixa etária. Ensinar ciências na educação infantil14 Acompanhe, a seguir, algumas sugestões de como explorar esse universo de possibilidades de trabalho, envolvendo as ciências não como uma disciplina, mas como um campo de estudos dos temas que ela abarca. Educação infantil e práticas investigativas para o ensino de ciências As crianças são naturalmente curiosas e, de uma simples pergunta sobre o formigueiro que estava no pátio da escola, pode emergir um grande projeto, comparando tamanhos, explorando as trilhas, conversando sobre a alimen- tação desses insetos e sobre seu modo organizado de vida em sociedade. Uma forma de pensar em como explorar elementos da educação científica e tecnológica (e também explorar a intencionalidade das atividades) é pensar no eu, no outro e no mundo, sempre perpassando pelas interações e o lúdico. Desenvolver práticas investigativas pode ser uma boa alternativa ao professor. O eu, o outro e o mundo O eu pode vir com situações do tipo “por que os dedos murcham quando estamos no banho?”, uma pergunta que pode exigir, inclusive, uma pesquisa da professora e uma transposição da resposta à uma linguagem adequada à criança. Podem ser perguntas envolvendo, sons, percepções sobre o fun- cionamento do próprio corpo, como “profe, como é que nós enxergamos?”. A criança vai aos poucos construindo a percepção sobre seu próprio corpo, sobre como reage a determinadas situações e do que é capaz de fazer. Muitas vezes ela compara (testa) suas habilidades com outros colegas, argumenta sobre o que conseguiu realizar e assim desenvolve conhecimentos com relação a si mesma, em atitudes que também podem envolver o outro. Na aprendizagem sobre o outro, a interação com os colegas e com os adultos leva as crianças a compreenderem que a diversidade de ideias é importante, e que essas interações também promovem a construção de novos conhecimentos. Realizar um pequeno experimento sobre misturar as tintas e com- parar os resultados diferentes que os colegas obtiveram propicia a argumentação e a curiosidade por entender o que está acontecendo. Dessa forma, o intermédio do professor é relevante, ampliando o entendimento sobre o que ocorreu. Ensinar ciências na educação infantil 15 O explorar o mundo promove possibilidades infinitas. Pode-se, por exemplo explorar o ambiente ou propiciar atividades experimentais para a verificação da ocorrência de algum fenômeno. Essas situações também podem vir à sala de aula por meio das experiências vividas pelas crianças fora de sala de aula, como em suas casas, ou serem proporcionadas intencionalmente pelo professor. Uma criança ficou curiosa sobre uma flor que viu, com muitas abelhas ao seu redor. É possível abordar tópicos sobre o funcionamento da planta, que produz o néctar para atrair esses insetos, ou sobre a diminuição das abelhas no mundo em função dos agrotóxicos. Outra possibilidade é explorar a cidade como ambiente de aprendizagem. Observar ruas, carros, arborização, o caminho realizado até a escola traz uma noção para além da ciência das coisas, mas também de localização geográfica, espaço e tempo. Além disso, é possível proporcionar uma ideia de pertencimento e cuidado com o ambiente (“professor, e aquele riacho no caminho da escola, por que não tem peixes?”). Tudo isso é importante para a construção de um indivíduo responsável, desenvolvendo noções de cidadania e responsabilidade socioambiental. Outra criança estava assistindo a um vídeo com o irmão mais velho sobre uma atividade prática envolvendo a tintura de uma flor com corante azul, por meio do seu caule. Como isso acontece? Trata-se de um experimento que envolve o conceito de transporte de seiva pelo caule da planta. É possível desenvolver este assunto partindo de ideias como a nutrição das plantas, na qual elas precisam distribuir o alimento por todo o seu corpo. Nesse caso, o professor deve refletir sobre o uso da terminologia científica. Ao mesmo tempo que a criança não tem um aparato intelectual ainda formado para compreender conceitos que exigem um pouco de abstração, é necessário introduzir gradualmente termos científicos, pois isso auxilia a ampliar seu repertório científico. Trabalhar questões cotidianas, sejam elas oferecidas pelo professor, sejam pelas próprias crianças, promove a mobilização dos diferentes campos de experiências. Esses campos, na intencionalidade do professor, ajudam no desenvolvimento dos objetivos de aprendizagem. Ensinar ciências na educação infantil16 As práticas investigativas no contexto da educação infantil A BNCC sugere, em diferentes pontos do documento, o desenvolvimento do ensino voltado à investigação, a exemplo da competência geral 2: […] exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas. (BRASIL, 2017, documento on-line). Para o desenvolvimento de um trabalho pautado na investigação, é im- prescindível que a curiosidade da criança sobre aquilo que lhe é apresentado (ou apresentado por ela própria) seja o objeto central do estudo. De acordo com Carvalho (2013), para o desenvolvimento de um ensino investigativo, parte-se de um problema, ou seja, uma situação a qual ainda não se tem respostas prontas e, para se obter respostas, é preciso uma investigação. O problema pode ser experimental ou não experimental. São problemas experimentais aqueles que precisam ser testados, ne- cessitam o desenvolvimento de um experimento, como no exemplo da flor que muda de cor. Esse experimento pode ser realizado pelo professor, como um experimento demonstrativo, em que a criança observa e o professor executa o passo a passo, ou pode ser um experimento investigativo, no qual o professor dá as condições para que a criança o realize, mediando a ação, e intervindo quando necessário. Os problemas não experimentais são aqueles que não necessitam de um experimento, mas ainda assim promovem excelentes investigações. Por exemplo, uma investigação sobre os tipos de animais que habitam o pátio da escola (que requer observação) ou a comparação de diferentes folhas e texturas (estimula os sensos de comparação, de proporção), a separação dos resíduos produzidos pelas crianças durante o lanche (categorização), e assim por diante. Aos bebês e crianças bem pequenas, os diferentes estímulos como texturas, sons, oralização são caminhos para esse desenvolvimento; com isso eles são introduzidos às atividades experimentais. Seguido a próxima etapa do trabalho investigativo, a criança seria con- duzida a sistematizar esses aprendizados adquiridos, por meio de desenhos, pequenas palavras (quando essas já fazem parte do seu repertório de apren- dizagens), maquetes, recorte, enfim, transpondo aquilo que aprenderam a uma materialidade. Nessa fase podem surgir novas perguntas e, com isso, Ensinar ciências na educação infantil 17 o professor pode replanejar suas práticas de modo a atender a essas curio- sidades em consonância à sua intenção. Por fim, a criança deve comunicar suas descobertas a outras pessoas (MORAES, GALIAZZI; RAMOS, 2012), o que pode ser feito para o grupo de colegas, para a família ou para a comunidade escolar. Uma boa forma de estimular essa divulgação é por meio de feiras de ciências, eventos em que as crianças podem expor a diferentes públicos aquilo que aprenderam, contando para cada pessoa que vem assisti-lo mais sobre aquilo que produziu. São situações que promovem a autonomia e a autoconfiança e agregam diferentes conhe- cimentos, além de agregar, dentro das condições da criança, o letramento científico. O letramento científico é considerado pela BNCC (BRASIL, 2017, docu- mento on-line) como “[...] a capacidadede compreender e interpretar o mundo (natural, social e tecnológico), mas também de transformá-lo com base nos aportes teóricos e processuais das ciências”, ou seja, ele vai além do aprender os conteúdos científicos — é saber utilizá-los na resolução dos problemas cotidianos. No contexto da educação infantil, ele é estimulado de modo a sempre considerar os saberes da criança, adensando aos poucos com novos conhecimentos, capazes de se conectarem aos campos de experiência e aos objetivos de aprendizagem. É muito importante que as perguntas trazidas pelas crianças sejam ex- ploradas. Elas podem surgir antes, durante ou mesmo depois do desenvolvi- mento da atividade investigativa. Essas perguntas vão indicar aquilo que as crianças já sabem a respeito de determinado assunto, aquilo que desperta a sua curiosidade ou o que é uma dúvida e as motivam a buscar a resposta. Nessa hora, o educador não deve dar as respostas prontas às crianças, mas incentivá-las a formularem suas próprias respostas, às vezes devolvendo com outra pergunta, às vezes auxiliando na construção dessas argumentações. Nesse momento, a interação com outras crianças é importante, pois ela permite desenvolver o respeito à ideia do outro e encorajar a criança a colaborar com a “chuva” de perguntas que pode surgir. Sobre isso, Moraes (1992) afirma que a função do professor é criar condições para que a criança construa seus conhecimentos, desafiando-a e convidando-a a descobrir com ele. De forma a ilustrar perguntas que podem estimular ainda mais a criança, Ensinar ciências na educação infantil18 Pozo (2012, p. 6) sugere questionamentos com estruturas como “O que acon- tece se você...?”, “Você consegue fazer com que isso...?”, “Como faz para...?” ou “Por que tem que fazer dessa forma?”. Outros modelos de perguntas vão emergir à medida que o professor também se estimule a elaborar perguntas investigativas às crianças. Trabalhar com as perguntas das crianças costuma ser bastante rico para o desenvolvimento de práticas investigativas. É possível, por meio de situações cotidianas como o ato de preparar uma salada de frutas, tornar esse momento uma aula, em que o professor pode ir mostrando o passo a passo de modo detalhado, estimulando as crianças a externalizarem suas inquietações. A partir dessas perguntas, o professor pode fazer um novo planejamento, inserindo as dúvidas e curiosidades trazidas pelas crianças. A avaliação de toda a sequência de atividades pode ser feita por meio de observações realizadas pelo professor sobre os avanços da criança e suas relações, registrando as possíveis aprendizagens adquiridas pela criança. É possível também analisar as novas perguntas realizadas pelas crianças, perguntas estas provavelmente mais elaboradas, envolvendo novos conceitos. O registro dessas atividades pode ocorrer por meio de sistematizações gráfi- cas, portfólios, relatórios, fotografias, textos e desenhos ou comportamentos e atitudes que demonstrem essas novas aquisições. Nesse sentido, [...] a escola infantil deve proporcionar o cenário para que a criança compreenda melhor como percebe o mundo e como acredita que as coisas acontecem – sua ciência intuitiva – e, ao mesmo tempo, comece a explorar seus limites e então se veja obrigada a compartilhar ou comparar esses conhecimentos com os de outras crianças, o que a obrigará a manejar novas linguagens (palavras, desenhos, ima- gens, números) que a ajudem a expressar, mas também a compreender melhor suas ideias (POZO, 2012, p. 7). Assim, em um cenário de interações e brincadeiras, a criança aprende que a ciência está em tudo, que o seu cotidiano é rodeado de coisas que exigem testagens e a elaboração de novas hipóteses, estimulando a curiosidade e autonomia desde os primeiros anos, a serem levadas para uma vida inteira. Ensinar ciências na educação infantil 19 Referências A BNCC para a Educação Infantil. 1 vídeo (17 min 16 seg). [S. l.: s. n.], 21 jul. 2018. Publicado pelo canal Paulo Sergio Fochi. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=HLk7hsj3LUk. Acesso em: 13 abr. 2021. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Presidência da República, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 13 abr. 2021. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educar é a base. Brasília: MEC/CONSED/UNDIME, 2017. 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O ensino de ciências e a proposição de sequências didáticas investigativas. In: CARVALHO, A. M. P. de. Ensino de ciências por investigação: condições para a implementação em sala de aula. São Paulo: Cengage Learning, 2013. p. 1–20. DUSSEL, I.; CARUSO, M. A Invenção da sala de aula: uma genealogia das formas de ensinar. São Paulo: Moderna, 2003. FOCHI, P. S. A didática dos campos de experiência. Revista Pátio Educação Infantil, n. 49, p. 4–7, out./dez. 2016. MORAES, R. Ciências para as séries iniciais e alfabetização. Porto Alegre: Sagra Lu- zzatto, 1992. MORAES, R.; GALIAZZI, M. do C.; RAMOS, M. G. Pesquisa em sala de aula: fundamentos e pressupostos. In: MORAES, R.; LIMA, V. M. do R. Pesquisa em sala de aula: tendência para a educação em novos tempos. 3. ed. Porto Alegre: Edipucrs, 2012. p. 11–20. PASCHOAL, J. D.; MACHADO, M. C. G. A história da Educação Infantil no Brasil: avanços, retrocessos e desafios dessa modalidade educacional. Revista HISTEDBR On-line, n. 33, p. 78–96, 2009. 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Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Ensinar ciências na educação infantil 21 Dica do professor No vídeo a seguir veremos a importância do ensino de Ciências na educação infantil. Serão abordados também os princípios estabelecidos pelas Diretrizes CurricularesNacionais para a educação infantil e as possibilidades de trabalho com os conteúdos de Ciências com estes alunos pequenos. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/c2b7e4524ecf7f954db6d55914d07de2 Exercícios 1) De acordo com (PASCOAL & MACHADO, 2009) com o advento da industrialização, muitas famílias migraram para os centros urbanos em busca de trabalho nas fábricas, o que resultava em longas jornadas de trabalho dos adultos fora de casa. A partir desse contexto surgiram as “mães mercenárias”, ou seja, mulheres que não optavam pelo trabalho nas fábricas, mas vendiam seus serviços para abrigarem os filhos das mulheres operárias. Mediante esse cenário marque a alternativa que apresenta como as crianças eram vistas nessa época histórica: A) As crianças não eram negligenciadas com relação a higiene e a alimentação. B) Os cuidados das crianças aconteciam de forma muito simples, atendendo apenas as suas necessidades básicas. C) O brincar era visto como um direito assegurado às crianças. D) Os propósitos educativos eram evidentes, no atendimento às crianças da época. E) Havia uma equipe de profissionais capacitados para o atendimento às crianças. 2) Qual foi o importante documento, que assegurou a garantia da Educação Infantil como um direito das crianças, um dever do estado e uma opção das famílias? A) Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) B) Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (1998) C) Base Nacional Comum Curricular (2017) D) Constituição Federal (1988) E) Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010) A Base Nacional Comum Curricular (2017) se refere a um documento normativo para as redes de ensino e suas instituições públicas e privadas como referência obrigatória para a construção dos currículos e das propostas pedagógicas da Educação Básica. Para a primeira 3) etapa da Educação Básica, Educação Infantil, a Base Nacional Comum Curricular propõe uma organização curricular por Campos de Experiências, levando em consideração a intencionalidade das práticas pedagógicas a partir do entendimento, que as crianças aprendem e se desenvolvem a partir de experiências cotidianas. De acordo com as características de cada Campo de Experiência relacione a primeira coluna com a segunda e a seguir marque a alternativa correspondente: (1) O Eu, o outro e o nós (2) Corpo, gestos e movimentos (3) Traços, sons, cores e formas (4) Escuta, fala, pensamento e imaginação (5) Espaço, tempos, quantidades, relações e transformações ( ) Se constitui como uma linguagem, na qual as crianças se expressam, se comunicam e aprendem sobre si e sobre o universo social e cultural através das experiências, que se estabelecem com os gestos, posturas e movimentos. ( ) Está relacionado à observação, manipulação de objetos, levantamento de hipóteses e busca por respostas. ( ) Refere às experiências no que se refere à música, à dança, ao teatro, às artes plásticas e à literatura. ( ) Está de acordo com as experiências cotidianas realizadas a partir da interação entre as crianças e delas com os adultos, construindo um modo próprio de agir e ao mesmo tempo descobrindo e respeitando outros modos de vida. ( ) Envolve situações de fala, escuta e imersão na cultura escrita. A) 2 – 5 – 3 – 1– 4 B) 5 – 1 – 3 – 2 – 4 C) 3 – 1 – 4 – 5 – 2 D) 2 – 4 – 3 – 1 – 2 E) 4 – 2 – 1 – 3 – 5 4) De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010) a criança começa a ocupar o lugar central, no processo de desenvolvimento da aprendizagem. Sendo assim, as práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da Educação Infantil, tem como eixos norteadores: A) o cuidar e o educar B) o educar e a brincadeira C) as interações e a brincadeira D) as experiências e as interações E) a autonomia e o educar 5) De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (2017) o exercício da curiosidade intelectual imersa nas práticas investigativas das ciências, na Educação Infantil, é imprescindível para o desenvolvimento da aprendizagem das crianças. Sendo assim é possível dizer que toda ação educativa parte de um problema, podendo esse ser experimental ou não experimental. Marque “V” para a alternativa verdadeira e “F” para a alternativa falsa: ( ) O problema não-experimental dispensa o desenvolvimento de um experimento. ( ) As hipóteses de um problema experimental não necessitam ser testadas. ( ) O problema experimental pode ser realizado pelo professor, como um experimento demonstrativo ou experimento investigativo. A) F - F - V B) V - F - V C) V - V - V D) F - V - F E) V - F – F Na prática Veja um bom exemplo de como ensinar Ciências na educação infantil. Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Pensamento Infantil - A noção de tempo Em conversas com crianças de 3 a 6 anos, a educadora Monique Deheinzelin evidencia a forma como os pequenos se relacionam com o tempo - uma noção aque ainda constroem. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. https://www.youtube.com/embed/nW04XyqpUSA
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