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Avaliação 1- GHE

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Avaliação 1- GHE
Bernardo Barbosa Oliveira/ 180147455
A perspectiva geográfica fornece noções essenciais para as Ciências Sociais, como o
conceito de território que nos informa que há neste espaço processos de construção e
transformação do espaço geográfico relacionado ao espaço apropriado e delimitado a partir
de uma relação de poder nesse espaço.
Podemos analisar por exemplo, a uberização do trabalho. Nessa discussão pensando
a geografia como uma relação entre o espaço geográfico e a relação com a humanidade,
podemos observar como o trabalho é uma questão que afeta a todos nós uma hora ou outra
e como ele vêm mudando ao longo do tempo.
Dentro da Geografia quando se fala de trabalho, logo vêm a nossa cabeça uma
revolução muito importante que modificou bastante as relações de produção, tanto do
espaço quanto dos produtos e das mercadorias e das relações sociais, que foi a Revolução
Industrial, ocorrida no século XVIII e se expandiu muito a partir do sec. XIX, começa no
Reino Unido, depois vai para a Alemanha, para a França, para os EUA, Japão, e continua
durante o século XX se expandindo para países chamados subdesenvolvidos atualmente,
mas que eram países que haviam a pouco tempo deixado de ser colônias e que buscavam
seu projeto de desenvolvimento e de industrialização.
Na época da industrialização, os trabalhadores e trabalhadoras tinham jornadas de
trabalho muito cansativas, exaustivas, e justamente nesse momento as primeiras reflexões
acerca dos direitos trabalhistas, ou seja, dispositivos e garantias para assegurar que o
trabalhador e a trabalhadora tivesse condições de dignidade, de manter sua saúde e uma
remuneração pelo menos um pouco mais justa em troca do seu trabalho, que pudesse de
fato compensar as horas e horas dedicadas aos locais onde trabalhavam. É nesse momento
que o capitalismo industrial vai se consolidar. Aquele modelo onde o capitalista, que é dono
dos meios de produção paga pelo trabalho dos proletários que vão vender sua mão-de-obra
e não vão ser donos daquilo que produzem, mas recebem em troca um salário que é uma
parte da produção que pertence ao dono do meio de produção, ou o capitalista. No Brasil
esse processo de industrialização ocorre um pouco depois, por conta do atraso do modelo
colonial imposto na América Latina e só lá em meados dos anos 1930 é que o Brasil começa
de fato a se industrializar num modelo conhecido como desenvolvimentismo, característico
da época de Getúlio Vargas, foi o nome que trouxe o Estado empresário, e que conduziu
através da criação de grandes empresas estatais, como um projeto de nação
desenvolvimentista.
Em 1° de maio de 1943, Getúlio Vargas trouxe a consolidação das leis de trabalho
durante um período muito complicado, já dentro do Estado Novo, quando Vargas recebeu
uma série de críticas por conta das medidas autoritárias e do caráter antidemocrático do
governo que à época ele conduzia, e ele traz como uma característica do populismo alguns
agrados, algumas contrapartidas às imposições políticas que ele acabava colocando em
pauta no país, como foi o caso do voto feminino, da garantia dos direitos trabalhistas, a
instituição do 13° salário, a instituição do pagamento de férias, algumas garantias como o
próprio salário mínimo e outras começam a ser pensadas nesse período, não à toa, hoje se
comemora no dia 1° de maio o Dia do Trabalhador.
Quando a legislação trabalhista foi criada, todos os empregadores tiveram que se
comprometer com esses direitos básicos garantidos a qualquer trabalhador ou trabalhadora
com registro porque é obrigatório por lei, o problema é que com o avanço do capitalismo, a
Divisão Internacional do Trabalho trouxe novas demandas para as empresas que passaram
a competir umas com as outras não só localmente, mas também em nível internacional.
Logo os capitalistas perceberam que uma das formas mais fáceis de aumentar sua
competitividade, ou seja, baixar seu custo de produção para vender um produto mais barato
e ao mesmo tempo aumentar seus lucros seria diminuir o pagamento dos trabalhadores/as.
Uma vez que a tecnologia avança de forma quase homogênea em várias empresas e a
matéria prima se torna igualmente escassa para todos os grandes ciclos empresariais e
grande oligopólios que existem no mundo hoje em dia, a variável do pagamento da mão de
obra, que precisa ser qualificada mas também precisa ser flexível, barata e disponível acaba
se tornando um ponto chave na discussão dessas novas relações de trabalho que vão ser
produzidas na Divisão Internacional do Trabalho.
No Brasil esses direitos sociais para os trabalhadores/as podem representar um
avanço, podem representar uma série de benefícios, de garantias como o próprio nome
sugere, no caso de ela ser demitida sem justa causa, no caso de ela ter um descanso
remunerado, um salário adicional que vai compensar a folha de pagamento que geralmente
está baseada em quatro semanas, quando em um mês nó temos 30 dias, que é um pouco
mais do que quatro semanas, indenização no caso de a pessoa sofrer acidentes,
afastamento pelo INSS caso ela se machuque, tudo isso cria algumas garantias e os
chamados direitos trabalhistas. Mas para os empresários isso representa muitas vezes um
excesso de burocracia e um impedimento, já que especialmente os pequenos empresários
veem como um custo muito elevado manter o empregado com todos esses direitos vigentes.
Nesse sentido mais de uma vez, a discussão sobre flexibilizar as leis trabalhistas aconteceu
e esse processo de flexibilização se materializou em 2017 e começa com a história da
Reforma Trabalhista, inclusive aprovada ainda na época do governo Temer e vai se
prolongar para outras áreas. Então essa flexibilização das leis trabalhistas facilitaria a
contratação de trabalhadores/as que abririam mão ou que não teriam mais direito a essas
garantias sociais consolidadas pela CLT.
Se por um lado fica mais barato contratar um funcionário, a gente também têm
que pensar que essa flexibilização pode precarizar e muito o trabalho e é nesse sentido que
temos o termo uberização do trabalho.Termo cunhado exatamente com base na empresa
que transmutou o modelo de organização de trabalho reduzindo drasticamente as
condições sociais e humanas de trabalho.É só pensarmos em um profissional autônomo,
ou microempreendedor, onde alguns têm uma estrutura maior mas motoristas de aplicativo
têm que arcar com todas as despesas de seu trabalho. Então ele pagar pelo carro, que
muitas vezes é financiado ou alugado, pagar pelo IPVA, celular, bolsa térmica e jaquetas,
seja na eventualidade de um acidente de trabalho, estando completamente
desprotegidos, tendo que pagar pelo seguro, pelo combustível, que depende
exclusivamente do rendimento dele para conseguir uma renda que muitas vezes é
insuficiente para pagar o aluguel e colocar comida na mesa. Não somente motoristas como
vendedoras de Mary Kay, Avon, professores que dão aulas particulares e se cadastram em
aplicativos aulas particulares e outros. As grandes empresas se apropriam desses
aplicativos e ganham uma parte considerável da receita que vêm desse trabalho. Muitas
pessoas que têm trabalhado desta forma, trabalham 10,12,14,16 horas por dia e no fim do
dia não conseguem sequer bancar sua refeição.
Nos EUA a uberização do trabalho aconteceu de forma muito intensa com o
governo Trump, e ao mesmo tempo em que o emprego foi drasticamente reduzido, houve
também um aumento no número dos moradores de rua no país, o que reflete a uberização,
porque muita gente está trabalhando mas o salário não é suficiente para que as despesas
básicas sejam pagas.
Uma coisa parecida nós vamos ver na América Latina. A Convulsão social da
grande marcha no Chile mostra um pouco disso: Pessoas que trabalham, mas que não têm
garantias principalmente após se aposentarem e que ficam descobertas quando estão em
períodos de doenças ou afastadas por algum motivo e acabam sendo dispensadas sem
haver qualquer garantia de que no período em que não podem continuar trabalhando, vão
ter alguma receita, uma vez que independente do que aconteça,as contas continuam
chegando, especialmente com alimentação, despesas médicas e com moradia.
A questão da uberização nos traz para esse debate: Ao mesmo tempo em que
as empresas estão buscando flexibilizar as leis, e os empresários principalmente os
menores dizem que criar emprego no Brasil é muito custoso, muito oneroso, há também a
questão de que essa ultra flexibilização pode criar empregos ruins, empregos precários de
modo parecido com o que vemos na época da Revolução Industrial, guardadas as devidas
proporções. Achar um equilíbrio é muito difícil, pensar que o mercado vai se auto regular é
complicado, porque mesmo que os empregadores paguem salários justos e dignos para os
trabalhadores, precisamos lembrar que essas pessoas por mais bem intencionadas e justas
que possam ser, estarão competindo com outras que veem na exploração do trabalho a
oportunidade para aumentar a margem de lucro e colocar produtos muito baratos no
mercado e dessa forma falirem ou competirem de forma desleal com quem realmente
cumpre a lei e valoriza os trabalhadores/as que estão no seu empreendimento.

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