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I Impacto socioeconômico do acidente de trabalho mpacto socioeconômico do acidente de trabalho O desenvolvimento da saúde do trabalhador no Brasil se intensificou com a 1ª Conferência Nacional de Saúde dos Trabalhadores, que ocorreu em Brasília em 1986. O conceito em si já vinha sendo amadurecido nos anos anteriores e no meio acadêmico e sindical. Mesmo num contexto histórico de transição de um regime político de ditadura militar para a construção da sociedade civil, ganhou força a reivindicação social por meio das novas leis trabalhistas e mudanças nos sistemas institucionais, que contribuiu uma nova visão da relação saúde-mundo do trabalho (MATTOS; MÁSCULO, 2019). A compreensão dessa interface entre saúde e trabalho é a base da Higiene do Trabalho e está envolvida por um conflito de interesse entre a empresa (empregador), o trabalhador (empregado) e a sociedade. O acidente de trabalho corresponde à materialização desse conflito. É por esse motivo que nos próximos tópicos serão explanadas as teorias jurídicas, as responsabilidades civil e social, bem como aspectos relevantes acerca da previdência social, habilitação e reabilitação do trabalhador acidentado (MATTOS; MÁSCULO, 2019). Teorias jurídicas 1 As teorias jurídicas foram determinantes para explicar as causas dos acidentes, bem como para atribuir as parcelas de responsabilidade a cada um dos envolvidos nos mesmos. Conforme comentado anteriormente, a relação saúde-trabalho é pautada por diferentes conceitos e correntes de cunho ideológicos. Com base nestas emergiram três formas de ação e interpretação regidas por uma combinação de conhecimentos advindos dos seguintes campos de estudo: medicina do trabalho, saúde ocupacional e saúde do trabalhador, Ciências Jurídicas e Sociais. As três referidas correntes resultantes são denominadas teoria da culpa, teoria do risco profissional e teoria do risco social (MATTOS; MÁSCULO, 2019). O Quadro 1 descreve aspectos conceituais relativos à cada uma das correntes supracitadas. Quadro 1 - Entendimento dos riscos associados a acidentes de trabalho à luz das teorias jurídicas. Observa-se que, ao conhecer a linha do tempo do desenvolvimento de cada uma das teorias, evidencia-se a relação entre a evolução da ordenação social, política e econômica da sociedade e a elevação da necessidade de proteção e preservação da segurança e saúde dos trabalhadores durante a execução dos afazeres laborais, que provêm a produção de bens e serviços de consumo. Responsabilidades civil e social De acordo com o art. 7º da Constituição Federal (CF) de 1988, o pagamento do seguro contra acidentes de trabalho é uma responsabilidade do empregador e também um direito dos trabalhadores urbanos e rurais. O prêmio é recolhido pelo INSS e corresponde entre 1 a 3% da folha de pagamento das empresas. A definição do percentual de recolhimento é feita em conformidade com o grau de risco da atividade preponderante da empresa, pregada pela Lei 8.212/91, que determinou o seguinte: 1%, quando o risco é leve; de 2%, quando o risco é médio; e 3% para risco grave (POLONI, 1998). Apesar disso, a Lei 8.212/91 não definiu o que seria risco leve, médio ou grave, tampouco atividade preponderante, lacunas estas que foram preenchidas pelo Decreto 612/92. Este delimitou o grau de periculosidade de cada atividade e esclareceu que a atividade principal constitui aquela que ocupa o maior número de funcionários da empresa. Entretanto, ainda assim ocorrem o que podemos chamar de “inadequação” práticas em virtude da interpretação desse decreto, visto que, por exemplo: uma empresa cuja atividade econômica principal se apesar de sua atividade enquadre no grau de risco mais grave (3%), contribuirá ao SAT pela taxa de risco leve (1%), única e exclusivamente devido ao fato de possuir um maior número de empregados alocados nos setores administrativos, de vendas e finanças (POLONI, 1998). Conforme discutido anteriormente, o SAT segue a teoria do risco social, e caracteriza-se como uma responsabilidade objetiva ou sem culpa. A responsabilidade objetiva se dá quando não é necessário comprovar a culpa do empregador, nem do trabalhador, de forma que não se questiona se há ou não culpa, mas sim nexo de causalidade. Existindo nexo de causalidade, é obrigatório indenizar (MATTOS; MÁSCULO, 2019). De acordo com Sérgio Pontes (2018, p.1): Na seara da Responsabilidade Civil, o nexo causal é a ligação entre a conduta do agente e o resultado danoso. Ou seja, é preciso que o ato ensejador da responsabilidade seja a causa do dano e que o prejuízo sofrido pela vítima seja decorrência desse ato. Impõe- se que se prove a ligação causal entre a conduta do agente e o resultado danoso. O nexo causal cumpre uma dupla função: determinar o autor do dano, e verificar a sua extensão, pois serve como medida de indenização (PONTES, 2018, p.1). A CF também considera outras três hipóteses: culpa exclusiva da vítima, caso fortuito ou força maior. A culpa pode constituir uma conduta positiva ou negativa, que conduz a falta de previsão do que é previsível, mesmo que a pessoa não tenha a intenção de desencadear o evento indesejado (MATTOS; MÁSCULO, 2019). Tem-se ainda a responsabilidade civil subjetiva, na qual é dever do empregador indenizar a vítima do acidente quando incorrer em dolo ou culpa. No que tange aos casos de responsabilidade objetiva e subjetiva, em ambos é imprescindível comprovar o nexo de causalidade. A diferença primordial é que na responsabilidade subjetiva é exigida a demonstração do elemento subjetivo – a culpa. Já na responsabilidade objetiva é necessária apenas a presença da conduta, do dano e a comprovação do nexo causal entre o dano e a conduta (MATTOS; MÁSCULO, 2019). Desenvolver uma cultura de responsabilidade social se tornou essencial para a gestão das organizações que desejam se manter competitivas no mercado. A responsabilidade social visa a obtenção de ganhos de cadeia de produção e também para a comunidade, o ambiente, o governo e os consumidores. Sob essa ótica, o objetivo é ser plural, distributiva, sustentável e transparente. Também envolve uma melhor performance nos negócios e, consequentemente, maior lucratividade (MATTOS; MÁSCULO, 2019). Planos de benefícios da previdência social De acordo com a Lei no 8.213, de 24 de julho de 1991: Art. 18. O Regime Geral de Previdência Social compreende as seguintes prestações, devidas inclusive em razão de eventos decorrentes de acidente do trabalho, expressas em benefícios e serviços: I - quanto ao segurado: a) aposentadoria por invalidez; b) aposentadoria por idade; c) aposentadoria por tempo de contribuição; d) aposentadoria especial; e) auxílio-doença; f) salário-família; g) salário-maternidade; h) auxílio-acidente; I - quanto ao dependente: a) pensão por morte; b) auxílio-reclusão; III - quanto ao segurado e dependente: b) serviço social; c) reabilitação profissional. § 1o Somente poderão beneficiar-se do auxílio-acidente os segurados incluídos nos incisos I, II, VI e VII do art. 11 desta Lei (BRASIL, 1991, art. 18). Nos artigos 24 e 26, a Lei no 8.213 define os prazos de carência, ou seja, o número mínimo de contribuições mensais consideradas para que o beneficiário faça jus à percepção do benefício (BARSANO; BARBOSA, 2014). Habilitação e reabilitação do trabalhador acidentado A Lei no 8.213/1991, nos seus artigos 89 a 93 estabelece os principais direitos dos trabalhadores, as obrigações dos empregadores e do Poder Público em garantir condições de trabalho seguras, formas de locomoção adequadas e qualidade de vida, conforme Planos de Benefícios da Previdência Social disposto nesse instrumento normativo. Abaixo seguem alguns trechos relevantes: Art. 89. A habilitação e a reabilitação profissional e social deverão proporcionar ao beneficiário incapacitado parcial ou totalmente para o trabalho, e às pessoas portadoras de deficiência, os meios para a (re)educação e de (re)adaptação profissional e social indicados para participardo mercado de trabalho e do contexto em que vive. [...] Art. 91. Será concedido, no caso de habilitação e reabilitação profissional, auxílio para tratamento ou exame fora do domicílio do beneficiário, conforme dispuser o Regulamento. Assim, o intuito da habilitação e a reabilitação profissional e social é proporcionar condições de recuperação da integridade orgânica dos profissionais beneficiários que estejam incapacitados parcial ou totalmente para o trabalho (BARSANO; BARBOSA, 2014). Atividade Extra Assista ao vídeo “Vitalidade Abril Verde – cuidados com a saúde e segurança do trabalhador”, disponibilizado pela TV Câmara Novo Hamburgo, o qual traz a entrevista com o médico traumatologista Dr. Erik Carvalho, o qual discute as principais consequências dos acidentes de trabalho, a importância da prevenção e aspectos socioeconômicos dos acidentes de trabalho (Link de acesso: https://www.youtube.com/watch? v=uPpdreUaSw4). Referências Bibliográficas BARSANO, P. R.; BARBOSA, R. P. Legislação aplicada à segurança do trabalho. 1 ed. São Paulo: Érica, 2014. BRASIL. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991: Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm >. POLONI, Antonio S. Seguro Acidente de Trabalho - SAT. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 3, n. 27, 23 dez. 1998. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/1439>. PONTES, S. O Nexo de Causalidade. Jusbrasil. Disponível em: < https://sergiopontes.jusbrasil.com.br/artigos/608749366/o-nexo-de- causalidade>. https://www.youtube.com/watch?v=uPpdreUaSw4 MATTOS, U. A.; MÁSCULO, F. S. Higiene e segurança do trabalho. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019. STUMM, S. B. Segurança do trabalho e ergonomia [recurso eletrônico]. Curitiba: Contentus, 2020. Ir para questão
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