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Teoria e Prática da Psicopedagogia Clínica

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Programa de Pós-Graduação EAD
UNIASSELVI-PÓS
TEORIA E PRÁTICA DA 
PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA
Autora: Anelise Donaduzzi
370.15
D674t Donaduzzi; Anelise 
 Teoria e prática da psicopedagogia clínica/ 
 Anelise Donaduzzi : UNIASSELVI, 2016.
 
 137 p. : il.
 ISBN 978-85-69910-13-8
 
1.Psicopedagogia. 
I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. 
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel
Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Profa. Bárbara Pricila Franz
 Profa. Cláudia Regina Pinto Michelli
 Prof. Ivan Tesck
 Profa. Kelly Luana Molinari Corrêa
Revisão de Conteúdo: Profa. Fernanda Germani de Oliveira Chiaratti
Revisão Gramatical: Profa. Sandra Pottmeier
Revisão Pedagógica: Bárbara Pricila Franz
Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci
Copyright © Editora Grupo Uniasselvi 2016
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial. UNIASSELVI – Indaial.
Possui graduação em Educação Especial 
pela Universidade Federal de Santa Maria (1990), 
Pós Graduação em Psicopedagogia (1999), Pós 
Graduação em Alfabetização (1995) e mestrado em 
Educação pela Universidade do Vale do Itajaí (2003). 
Atualmente é psicopedagoga clínica em Blumenau, 
professor autor da Fundação Universidade Regional de 
Blumenau, professor do Instituto de Pós Graduação 
e Extensão e professor do Instituto Catarinense 
de Pós- Graduação. Tem experiência na área de 
Educação, com ênfase em Educação Especial e 
Psicopedagogia, atuando principalmente nos 
seguintes temas: psicopedagogia clínica, 
difi culdade de aprendizagem, educação 
especial, inclusão, alfabetização.
Anelise Donaduzzi
Sumário
APRESENTAÇÃO ............................................................................ 7
CAPÍTULO 1
A História da Psicopedagogia Clínica: 
uma prática em construção ........................................................ 9
CAPÍTULO 2
O Processo de Investigação Clínica: 
o diagnóstico psicopedagógico ............................................... 27
CAPÍTULO 3
A Intervenção Psicopedagógica Clínica: 
Ressignificando o Aprender ..................................................... 89
CAPÍTULO 4
Perfil, Competências e Habilidades 
do Psicopedagogo Clínico ...................................................... 123
APRESENTAÇÃO
Caro(a) pós-graduando(a):
Bem-vindo à disciplina de Teoria e Prática da Psicopedagogia Clínica.
Este é o nosso caderno de estudos, material elaborado com muito carinho, 
com o objetivo de contribuir para a realização dos seus estudos e para a ampliação 
de seus conhecimentos sobre a Psicopedagogia Clínica.
Os capítulos foram organizados de forma didática e complementar. Eles 
apresentam as informações básicas, com algumas questões para sua reflexão e 
indicam outras referências que irão complementar seus estudos.
O primeiro capítulo trata da história da psicopedagogia clínica, abordando os 
conceitos fundamentais para a prática psicopedagógica. 
Em seguida, no segundo capítulo, abordaremos as questões pertinentes ao 
diagnóstico avaliativo psicopedagógico: em quê consiste este diagnóstico, quais 
as abordagens que fundamentam essa prática e quais os instrumentos que a área 
da psicopedagogia dispõe para a realização de uma avaliação psicopedagógica. 
Fecharemos este capítulo com a apresentação de um caso para ilustrar o que foi 
discutido anteriormente.
No terceiro capítulo, discutiremos sobre a intervenção psicopedagógica na 
perspectiva preventiva e terapêutica. Analisaremos as principais metodologias e os 
principais instrumentos disponíveis para a realização da prática psicopedagógica na 
proposta interventiva. Novamente, encerraremos o capítulo com a apresentação de 
um caso clínico a fim de relacionar a teoria com a prática psicopedagógica.
Finalmente, no último capítulo, fecharemos o nosso caderno com a discussão 
sobre o perfil, as competências e as habilidades que o psicopedagogo clínico 
deve desenvolver para o exercício pleno do seu trabalho. Levaremos você, caro 
(a) aluno (a), à reflexão (ou a refletir) sobre a postura e habilidades pessoais 
inerentes à prática da psicopedagogia.
Espero que esse caderno corresponda às suas expectativas. Desejo a você 
um bom trabalho e que aproveite ao máximo o estudo dos temas abordados nesta 
disciplina!
A autora.
CAPÍTULO 1
A História da Psicopedagogia Clínica: 
uma prática em construção
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
  Conhecer a história da psicopedagogia clínica;
  Compreender os principais conceitos que fundamentam a prática da 
psicopedagogia clínica;
  Relacionar os conceitos da psicopedagogia clínica com a sua prática.
10
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
11
A HISTÓRIA DA PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA: 
UMA PRÁTICA EM CONSTRUÇÃOCapítulo 1
ConteXtualiZação
Atualmente, a psicopedagogia é um campo do saber amplamente conhecido e 
divulgado. No contexto escolar, hoje em dia, é muito comum haver uma parceria 
entre a escola e o profi ssional da psicopedagogia, principalmente no trabalho com 
alunos com difi culdades de aprendizagem. Acredito que você, aluno, já deva ter 
ouvido diversas pessoas se referirem à psicopedagogia, não é mesmo? Mas, nem 
sempre foi assim... 
Podemos dizer que esta área do conhecimento ainda é relativamente nova 
e seu corpo teórico encontra-se em permanente construção. Esse saber não está 
pronto e acabado, uma vez que dialoga constantemente com as outras áreas do 
conhecimento e recebe infl uência direta delas.
Afi rmamos então, que a psicopedagogia é uma área do conhecimento 
multidisciplinar por receber infl uência e infl uenciar outras áreas, tais como a 
psicologia, a psicanálise, a linguística, a sociologia, a pedagogia, a neurologia, 
entre outras.
Por esta razão, a psicopedagogia, desde os seus primórdios no Brasil, 
passou por várias fases na sua atuação, marcada pelas diferentes concepções 
que embasaram sua prática.
Então, neste capítulo, aprofundaremos o nosso conhecimento sobre a 
trajetória da psicopedagogia no Brasil, até chegarmos ao momento atual. 
Discutiremos, também, os principais conceitos que se encontram presentes 
no fazer psicopedagógico. Com certeza, teremos um importante caminho de 
refl exões e discussões pela frente. Prontos para darmos início a essa jornada?
A Psicopedagogia Clínica e sua História
A maioria das produções científi cas que discutem as ações da 
psicopedagogia, seja no âmbito educacional ou clínico, foca a sua análise no 
processo de aprendizagem ou, mais especifi camente, na análise dos 
problemas de aprendizagem. Tal fato está intimamente relacionado às 
próprias origens da psicopedagogia enquanto área do conhecimento. 
De acordo com Bossa (2011, p. 20), “a psicopedagogia nasceu de 
uma necessidade: contribuir na busca de soluções para a difícil questão 
do problema de aprendizagem.” Portanto, seu surgimento respondeu, 
em primeira instância, a necessidade de melhor compreender as 
Necessidade 
de melhor 
compreender 
as difi culdades 
decorrentes do 
processo de 
aprendizagem.
12
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
difi culdades decorrentes do processo de aprendizagem, para evitar ou tratar os 
problemas que por ventura pudessem surgir.
Num primeiro momento, as ações da psicopedagogia priorizavam, 
geralmente, a dimensão individual e cognitiva no processo de aprendizagem, 
pois a aprendizagem era concebida como um fenômeno que ocorria no interior do 
sujeito. O papel social, da família e das interações entre sujeitos e seu processo 
de aprendizagem, acabavam não sendo levados em consideração ou eram 
deixados para um segundo plano.
Para compreendermos melhor, vamos buscar as origens destadiscussão...
A preocupação com o fracasso escolar e, consequentemente, com as 
difi culdades de aprendizagem é relativamente recente. Somente com a chegada 
da Revolução Industrial, houve preocupação com a produtividade e com tudo o 
que pudesse atrapalhar o desempenho dos funcionários e o ritmo de produção.
Segundo Cordié (1996, p.17), “o fracasso escolar é uma patologia recente. 
Só pôde surgir com a instauração da escolaridade obrigatória no fi m do século 
XIX e tomou um lugar considerável nas preocupações de nossos contemporâneos 
em conseqüência de uma mudança radical na sociedade”. Desde então, a escola 
passa a ser valorizada como um instrumento de ascensão e de prestígio social. 
Entre algumas famílias, a possibilidade de uma escolarização com sucesso 
passou a ser a única forma de vislumbrar um futuro promissor. A partir daí e cada 
vez mais, os alunos com algum tipo de difi culdade na escola passaram a ser 
vistos como os que possivelmente poderiam também, fracassar na vida.
Neste contexto, as difi culdades de aprendizagem se tornam o foco de 
atenção de várias áreas, principalmente da Medicina, que começa a estudar a 
causa dos problemas e suas possíveis correções. A Oftalmologia, a Neurologia, 
a Psiquiatria eram algumas das áreas da Medicina que se ocupavam com esses 
estudos. 
Já no início do século XX, com a primeira guerra mundial em andamento 
na época, existia a oportunidade de se descobrir, no cérebro dos guerrilheiros 
atingidos, a relação das áreas cerebrais danifi cadas com as funções que 
apareciam prejudicadas. Tais descobertas acabaram por alavancar maiores 
pesquisas e publicações na área, chamando atenção de vários profi ssionais, 
entre eles educadores.
Neste sentido, podemos destacar os trabalhos de Janine Mery (1985), 
psicopedagoga francesa que apresenta algumas considerações sobre o termo 
psicopedagogia e sobre a origem dessas ideias na Europa. De acordo com a 
13
A HISTÓRIA DA PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA: 
UMA PRÁTICA EM CONSTRUÇÃOCapítulo 1
autora, os primeiros Centros Psicopedagógicos foram fundados na Europa, a 
partir da segunda metade do século XX, e objetivavam, a partir da integração 
de conhecimentos pedagógicos, psicanalíticos e da medicina, encontrar soluções 
para os problemas de comportamento e de aprendizagem. Desde a sua fundação, 
estes centros apoiavam-se nas áreas médica e pedagógica.
Mery (1985) adotou o termo “Pedagogia Curativa” para caracterizar uma ação 
terapêutica que considerava aspectos pedagógicos e psicológicos no tratamento 
de crianças com problemas de aprendizagem. Método este, que favorecia a 
readaptação pedagógica do aluno. Segundo ela, tais crianças “experimentam 
difi culdades ou demonstram lentidão em relação aos seus colegas no que diz 
respeito às aquisições escolares” (MERY, 1985, p. 16).
O nascimento da Psicopedagogia 
A Psicopedagogia nasceu na Europa, ainda no século XIX. 
Inicialmente, pensaram sobre o problema de aprendizagem: os 
fi lósofos, os médicos e os educadores. Na literatura francesa 
– encontra-se, entre outros, os trabalhos de Janine Mery, 
psicopedagoga francesa, que apresenta algumas considerações 
sobre o termo Psicopedagogia e sobre a origem dessas idéias na 
Europa, e os trabalhos de George Mauco, fundador do primeiro centro 
médico-psicopedagógico na França onde se percebe as primeiras 
tentativas de articulação entre Medicina, Psicologia, Psicanálise 
e Pedagogia, na solução dos problemas de comportamento e de 
aprendizagem. Janine Mery (1985) aponta o século XIX como aquele 
em que teve início o interesse por compreender e atender portadores 
de defi ciências sensoriais, debilidade mental e outros problemas que 
comprometessem a aprendizagem. Segundo essa autora, no fi nal 
do século XIX, educadores como Itard, Pereire, Pestalozzi e Seguin 
começaram a se dedicar às crianças que apresentavam problemas 
de aprendizagem em razão de vários tipos de distúrbios. Jean Itard 
mobilizou-se com o caso da reeducação de um enfant sauvage, 
Victor, uma história exemplar sob vários aspectos, entre outros pelo 
choque que esse ser real representava aos olhos do ideal romântico 
rousseauniano. Pestalozzi, inspirado nas idéias de Rousseau, fundou 
na Suíça um centro de educação através do trabalho, onde usou o 
método intuitivo e natural, estimulando, em especial, a percepção. 
Educadores como Pereire, Itard e Seguin também se preocuparam, 
principalmente, com a percepção. Mery aponta esses educadores 
como pioneiros no tratamento dos problemas de aprendizagem, 
14
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
observando porém, que eles se preocupavam mais pelas defi ciências 
sensoriais e pela debilidade mental do que propriamente pela 
desadaptação infantil.
Fonte: extraído de Revista de Psicologia: Interface Educação – 
“Análise Histórica do surgimento da Psicopedagogia no Brasil”.
Fonte: Disponível em: <http://idonline.emnuvens.com.br/id/
article/download/234/258>. Acesso em: 10 abr. 2016.
Enfant sauvage, termo francês, que signifi ca criança selvagem. 
São crianças que desde os primeiros anos de vida passaram a viver 
isoladas da humanidade. Por algum motivo, foram privadas do convívio 
sócio-cultural apropriado para o desenvolvimento intelectual e afetivo. 
Nessa mesma época, nos Estados Unidos, o mesmo movimento acontecia, 
porém enfatizava mais os conhecimentos médicos, dando um caráter organicista 
à preocupação com as difi culdades de aprendizagem.
O movimento europeu acabou por originar a Psicopedagogia, 
enquanto que o movimento americano proliferou a crença de que os 
problemas de aprendizagem possuíam causas orgânicas e precisavam 
de atendimento especializado, infl uenciando parte do movimento da 
Psicologia Escolar que, até bem pouco tempo, determinou a forma de 
tratamento dada ao fracasso escolar (BOSSA, 2011).
A corrente europeia infl uenciou a Argentina, que passou a tratar das 
pessoas com difi culdade de aprendizagem, há mais de 30 anos, realizando um 
trabalho na perspectiva reeducativa. “Trabalhavam-se as funções egoicas, como 
memória, percepção, atenção, motricidade e pensamento, medindo-se os défi cits 
e elaborando-se planos de tratamento que objetivavam vencer essas faltas” 
(BOSSA, 2011, p. 62-63).
Nesta mesma época (1956), surge em Buenos Aires, a primeira graduação 
em Psicopedagogia, que também passou por diversas transformações ao longo 
dos anos. 
Na década de 1970, houve a criação dos primeiros Centros de Saúde Mental, 
na cidade de Buenos Aires, na Argentina. Juntamente com outros profi ssionais, 
O movimento 
europeu acabou 
por originar a 
Psicopedagogia.
15
A HISTÓRIA DA PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA: 
UMA PRÁTICA EM CONSTRUÇÃOCapítulo 1
os psicopedagogos atuavam fazendo o diagnóstico e o tratamento nos casos 
de problemas de aprendizagem. Neste período, houve uma grande mudança 
na práxis psicopedagógica: os psicopedagogos começaram a incluir o olhar e a 
escuta clínica da psicanálise no seu trabalho, por perceberem que somente um 
olhar médico e pedagógico não dava conta da diversidade de situações envolvidas 
no trabalho. Com isso, então, o perfi l do psicopedagogo muda de uma postura 
reeducativa para adquirir um olhar mais abrangente sobre o sujeito e o sintoma do 
não-aprender (BOSSA, 2011).
No Brasil, a ideia vigente por muito tempo era de que os problemas de 
aprendizagem seriam consequências de fatores orgânicos, tendo como causa 
principal “[...] uma disfunção neurológica não detectável em exame clínico, [...] 
chamada de disfunção cerebral mínima (DCM)” (BOSSA, 2011, p. 76). Tal 
concepção, organicista e patologizante, foi amplamente difundida e utilizada na 
intenção de rotular todo e qualquer aluno que não conseguisse aprender dentro 
do esperado.
Foi no fi nal da década de 1970, impulsionado por essa concepção de 
problemas de aprendizagem na escola, que surgiram os primeiros cursos de 
especialização em Psicopedagogia no Brasil. Eles foram pensados e idealizados 
para complementar a formação de psicólogos e educadores interessados em 
pensarnas alternativas e soluções para estes problemas. O primeiro curso surgiu 
na Clínica Médico-Pedagógica de Porto Alegre e tinha a duração de dois anos.
Podemos dizer que, assim como a literatura francesa infl uenciou 
as ideias sobre psicopedagogia na Argentina, as ideias presentes neste 
país, infl uenciaram o surgimento e a construção da psicopedagogia no 
nosso país. Portanto, o movimento da psicopedagogia no Brasil, remete 
as concepções e práticas trazidas da Argentina.
Alguns autores e psicopedagogos argentinos marcaram fortemente os ideais 
teóricos e constituíram os primeiros esforços para a divulgação e difusão da 
psicopedagogia no Brasil. Dentre estes autores, podemos citar: Sara Paín, Alícia 
Fernandez, Jorge Visca, entre outros.
Sugiro a leitura do livro da Nádia Bossa (2011), “A 
Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática”, 
para que você possa conhecer mais profundamente a história do 
surgimento da psicopedagogia. Este livro aborda várias questões 
importantes para todos os que estão inseridos nesta área.
O movimento da 
psicopedagogia 
no Brasil, remete 
as concepções e 
práticas trazidas da 
Argentina.
16
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
A seguir veremos uma breve evolução histórica da Psicopedagogia no Brasil:
Quadro 1 – Psicopedagogia no Brasil
1979
Em 1979, foi criado o primeiro curso de psicopedagogia no Instituto Sedes Sapien-
tiae, em São Paulo, pela pedagoga e psicodramatista Maria Alice e pela diretora 
do Instituto Madre Cristina Sodré. O objetivo desse curso era valorizar a ação do 
educador. Ele começou abordando o tema da reeducação em psicopedagogia, de-
pois assumiu um caráter terapêutico com aprofundamento nos aspectos afetivos da 
aprendizagem (BOSSA, 2011).
1979/1980
No Rio Grande do Sul, a PUC realizou cursos de especialização relacionados a re-
educação em linguagem em 1979/80 e curso de psicoeducação em 1982/83. Ela 
mantém, ainda, desde 1972 a área de concentração em aconselhamento psicopeda-
gógico dentro do curso de pós-graduação em Educação.
1980
A Associação Brasileira de Psicopedagogia, com sede em São Paulo, foi fundada no 
final de 1980, com a finalidade de promover o aperfeiçoamento de seus associados 
e a qualidade da prática psicopedagógica mediante a realização de cursos e de en-
contros científicos. Além disto, começou a publicação de um periódico especializado 
na área, com o objetivo de trocar experiências e conhecimentos teóricos entre os 
associados. 
Devemos enfatizar aqui os estados de São Paulo e do Rio Grande do Sul como os 
grandes pioneiros em formação e qualificação de profissionais em psicopedagogia. 
A partir destes estados é que houve a divulgação da profissão e de cursos para os 
outros estados do Brasil.
1984
Em novembro de 1984, aconteceu o primeiro encontro de psicopedagogia em São 
Paulo, inaugurando uma nova etapa no nosso país. Neste encontro, as psicopeda-
gogas Clarissa Golbert e Sonia Kiguel apresentaram trabalhos demonstrando e dis-
cutindo as atividades dos psicopedagogos de Porto Alegre. A partir deste evento foi 
fundado um Grupo de Estudos em Psicopedagogia que se reunia mensalmente, com 
o objetivo de discutir as questões pertinentes ao fazer psicopedagógico. A partir des-
tes encontros criou-se a Associação Brasileira de Psicopedagogia – capítulo gaúcho.
Década de 
1990
Somente na década de 1990, os cursos de especialização Lato Sensu se multiplica-
ram, surgindo cursos por mais estados brasileiros. Hoje, podemos dizer que a psico-
pedagogia está presente em todo o território nacional, seja através da sua atuação 
em vários campos ou de cursos de especialização e aperfeiçoamento.
Fonte: Elaborado pela autora.
17
A HISTÓRIA DA PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA: 
UMA PRÁTICA EM CONSTRUÇÃOCapítulo 1
Ao longo destes anos todos, desde que se começou a falar em 
psicopedagogia no Brasil, até os dias de hoje, a forma de conceber 
o fracasso escolar e os problemas de aprendizagem mudaram 
signifi cativamente: passaram de uma concepção organicista, que 
explicava tais problemas como resultado de condições orgânicas 
para uma abordagem que concebe a aprendizagem como resultado 
de múltiplos fatores, dentre eles, emocional, social, relacional. Neste 
sentido, o “não aprender” assume um novo sentido e deixa de ser 
compreendido como uma falta. 
Para você pesquisar e se aprofundar sobre o exercício da 
psicopedagogia no Brasil, sobre a luta da classe dos psicopedagogos 
para regularizar a profi ssão, além de ter acesso a vários textos e 
publicações científi cas da área, acesse o site da Associação Brasileira 
de Psicopedagogia: <http://www.abpp.com.br/>. Lá você terá informa-
ções muito importantes sobre a psicopedagogia.
A partir do que foi apresentado até agora, podemos concluir que a 
psicopedagogia nasce e se constitui na área clínica. Somente nos últimos 20 
anos é que a atuação do psicopedagogo se expandiu para outras áreas, como a 
institucional, empresarial e hospitalar. Na próxima seção aprofundaremos os conceitos 
atrelados a psicopedagogia clínica, relacionando-os com a sua prática.
Com todas essas informações, encerramos a primeira parte deste capítulo. 
Que tal organizarmos todas essas informações em uma linha do tempo?
Atividade de Estudos: 
1) Elabore uma linha do tempo, marcando os principais aconteci-
mentos que contribuíram para o surgimento e o fortalecimento 
da psicopedagogia, bem como os respectivos anos de tais 
acontecimentos.
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
Os estados de 
São Paulo e do 
Rio Grande do 
Sul como os 
grandes pioneiros 
em formação e 
qualifi cação de 
profi ssionais em 
psicopedagogia.
18
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
Psicopedagogia Clínica ou Clínica 
Psicopedagógica? - Compreendendo 
Alguns Conceitos.
Conforme vimos na seção anterior, a psicopedagogia é um campo do 
conhecimento relativamente recente no Brasil, apesar de já estar bastante difundida 
e sua prática já ser reconhecida e solicitada. Porém, em função de ser uma ciência 
“jovem”, ainda existem muitas confusões sobre o conceito e o objeto de estudo 
da psicopedagogia, bem como das atribuições do psicopedagogo. Inicialmente, 
apresentaremos alguns conceitos da psicopedagogia como um todo para, em 
seguida, nos aprofundarmos nos aspectos clínicos.
Entendemos a psicopedagogia como área do conhecimento 
que investiga e intervém na relação do sujeito que aprende e o 
conhecimento a ser apreendido. Esta relação pode confi gurar-
se como problemática em razão de seus aspectos pedagógicos, 
cognitivos e/ou afetivos, no âmbito individual e/ ou social/relacional.
Conceituando a Psicopedagogia
De acordo com o que o professor Antonio Joaquim Severino escreveu na 
introdução do livro de Bossa (2011, p. 19):
A Psicopedagogia é tomada como um corpo de conhecimentos, 
construído com vistas a encontrar soluções para os problemas 
da aprendizagem, em uma aplicação que, além da clínica, 
se quer também preventiva. Área recente, multidisciplinar, é 
eminentemente prática, sem deixar de ser simultaneamente, 
campo de investigação e, ainda, saber científi co.
Para aprofundarmos nossa discussão, vamos desmembrar este conceito em 
itens menores e refl etirmos sobre seu signifi cado.
a) Corpo de conhecimentos: este termo nos remete a pensar que a 
psicopedagogia é uma área de caráter multidisciplinar, constituída pelo saber 
de várias outras áreas e não só da psicologia e da pedagogia, como o seu 
nome sugere. As principais teorias que constituem o corpo de conhecimentos 
19
A HISTÓRIA DA PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA: 
UMA PRÁTICA EM CONSTRUÇÃOCapítulo 1
da psicopedagogia são: a psicanálise, a psicologia social, a epistemologia, a 
psicologia genética, a linguística, a pedagogia e a neuropsicologia.b) Aprendizagem: atualmente, a psicopedagogia trabalha com a concepção de 
aprendizagem segundo a qual participam deste processo o sujeito individual, 
através do seu equipamento biológico, afetivo e intelectual, e a relação 
deste sujeito com o seu meio. As trocas entre o sujeito e o seu meio são 
infl uenciadas pelas condições socioculturais, e pelas relações familiares, 
grupais e institucionais.
c) Problemas de aprendizagem: podemos dizer que os problemas de 
aprendizagem são todos os entraves que difi cultam signifi cativamente o 
processo de aprender, determinando um desempenho abaixo do esperado, 
levando-se em consideração a idade e série do aprendente, embora o sujeito 
tenha a necessária capacidade intelectual para tal aprendizado.
d) Aplicação clínica: o sentido deste termo no contexto da defi nição de psico-
pedagogia signifi ca o trabalho de resgate da possibilidade da aprendizagem 
quando já existe um problema instalado. Envolve todas as ações que o 
psicopedagogo faz para diagnosticar e intervir com o objetivo de buscar 
soluções e reverter um quadro de difi culdade. Esse termo não signifi ca que o 
trabalho deva acontecer em um espaço clínico, pois a aplicação do trabalho 
psicopedagógico clínico pode acontecer em diversos espaços.
e) Aplicação preventiva: para a psicopedagogia, o termo prevenção refere-
se ao trabalho no sentido de adequar as condições de aprendizagem de 
forma a evitar possíveis comprometimentos nesse processo. Portanto, o 
trabalho com caráter preventivo acontece quando não existe um problema de 
aprendizagem instalado. A intervenção do psicopedagogo tem o objetivo de 
facilitar o processo de aprendizagem.
f) Área prática, sem deixar de ser um campo de investigação e um saber 
científi co: a psicopedagogia já nasce como uma necessidade prática, uma 
vez que existe uma demanda para isso. Porém, essa prática jamais pode 
ser desvinculada de um saber teórico que a embase e a sustente. Quando 
falamos em “práxis psicopedagógica” é justamente a isso que nos referimos: 
a inter-relação entre teoria e prática, capaz de gerar novos conhecimentos, 
abrindo um vasto campo para a investigação.
Agora que o conceito de psicopedagogia já foi aprofundado, vamos continuar 
discutindo os aspectos pertinentes à psicopedagogia clínica.
20
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
ObJeto de Estudo da Psicopedagogia
Como sabemos o objeto de estudo da psicopedagogia é a 
aprendizagem humana e, consequentemente, os problemas de 
aprendizagem. Tanto no trabalho psicopedagógico clínico, quanto no 
trabalho preventivo, a compreensão de como se dá a aprendizagem 
nas diversas idades e quais habilidades são necessárias para que ela 
aconteça, é de fundamental importância para ambos os trabalhos. Por 
isso é equivocada a ideia de que o psicopedagogo deve estudar e se 
aprofundar somente nos transtornos e problemas de aprendizagem. Em 
primeiro lugar, ele deve compreender sobre a aprendizagem como um todo.
De acordo com Bossa (2011, p.33):
[...] a Psicopedagogia estuda as características da aprendizagem 
humana: como se aprende, como essa aprendizagem varia 
evolutivamente e está condicionada por vários fatores, como se 
produzem as alterações na aprendizagem, como reconhecê-las, 
tratá-las e preveni-las.
 
Conforme foi visto na seção anterior, na sua origem, o trabalho psicopedagógico 
priorizava a reeducação, objetivando vencer as defasagens, pois as difi culdades 
de aprendizagem eram sempre avaliadas em função dos seus défi cits. Atualmente, 
a psicopedagogia vê o “não-aprender” como uma resposta a alguns fatores que 
podem não estar bem por estarem em desacordo com o esperado e estes são 
sempre carregados de signifi cados. Tais fatores podem ser de ordem emocional, 
social, afetivo, pedagógico, cognitivo, relacional, entre outros. Portanto, num 
trabalho de investigação psicopedagógica, deve-se priorizar a busca pelas causas 
da difi culdade e não somente voltar o seu olhar para os défi cits.
A Revista Ciência & Vida Psique (Editora Escala, ano 1, n. 2) 
lançou uma edição especial intitulada PSICOPEDAGOGIA: para 
quê? Esta publicação é formada por diversos artigos escritos 
por psicopedagogos renomados que tratam desde o nascimento 
da psicopedagogia até as contribuições mais recentes da 
neurociência para auxiliar na compreensão de como se processa a 
aprendizagem humana. Vale à pena a leitura!
Agora que já temos claro o conceito de psicopedagogia, bem como o 
seu objeto de estudo, vamos nos aprofundar nos conceitos que constituem a 
psicopedagogia clínica.
O objeto de estudo 
da psicopedagogia 
é a aprendizagem 
humana e, 
consequentemente, 
os problemas de 
aprendizagem.
21
A HISTÓRIA DA PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA: 
UMA PRÁTICA EM CONSTRUÇÃOCapítulo 1
Você já deve ter ouvido os termos “psicopedagogia clínica” e 
“clínica psicopedagógica”, não é mesmo? E será que estes termos 
são sinônimos um do outro e querem dizer a mesma coisa? Ou 
será que são expressões com sentido diferente e que, por falta de 
conhecimento, são utilizadas erroneamente?
A Psicopedagogia Clínica e a Clínica 
Psicopedagógica
O primeiro ponto importante para deixarmos claro nestas refl exões 
é que a psicopedagogia é uma área única do conhecimento e que 
abrange algumas ramifi cações, relacionadas aos campos de atuação 
do psicopedagogo. 
No Brasil, a partir da década de 1990, com a proliferação dos 
cursos de especialização por todo o país, tais cursos começaram 
a ser oferecidos com a nomenclatura de “psicopedagogia clínica”, 
“psicopedagogia institucional” e, mais recentemente, “psicopedagogia 
hospitalar” e “psicopedagogia empresarial”. Estes termos acabaram 
sendo divulgados e bastante falados, mas, muitas vezes, não se tem a verdadeira 
conotação do que eles querem dizer.
Podemos afi rmar que todos os campos pertencem a uma só psicopedagogia, 
que compartilham dos mesmos conceitos, dos mesmos referenciais teóricos e a 
mesma conduta ética do psicopedagogo. 
A psicopedagogia clínica refere-se a um dos campos de atuação da 
psicopedagogia. Refere-se também a um saber, a postura clínica que o 
psicopedagogo deve assumir frente ao seu paciente, que envolve o olhar 
e a escuta psicopedagógica clínica. Essa postura deve ser assumida pelo 
psicopedagogo com o seu cliente nos diversos campos de atuação e nos diversos 
espaços que ocupa e não somente no espaço clínico. Portanto, podemos dizer 
que o método utilizado pelo psicopedagogo é o método clínico, por ser um método 
investigativo e de observação da realidade. O psicopedagogo o utiliza como 
instrumento de investigação na coleta de dados para o diagnóstico e intervenção 
nas difi culdades de aprendizagem apresentadas por seus clientes. 
A psicopedagogia 
é uma área única 
do conhecimento 
e que abrange 
algumas 
ramifi cações, 
relacionadas aos 
campos de atuação 
do psicopedagogo.
22
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
O olhar clínico em psicopedagogia é o olhar que tem por objetivo 
compreender como o sujeito aprende, na sua relação com os 
outros sujeitos, com a cultura, com sua história e com os objetos de 
aprendizagem. Este olhar envolve o sujeito como um todo e tenta 
perceber como faz para evitar ou superar suas difi culdades em relação 
à aprendizagem.
De acordo com Fernández (2001a), o termo “psicopedagogia 
clínica” foi utilizado pela primeira vez na década de 1970, pela 
psicopedagoga argentina Blanca Tarnopolsky. Esse enfoque 
passou a reconhecer a existência de fenômenos inconscientes 
e da transferência, ambos os conceitos utilizados pela teoria da 
psicanálise. Para ela, “[...] isso signifi cou um giro de grande importância sobre o 
questionamento de reeducação psicopedagógica que, em geral, está só a serviço 
da exigência de uma adaptação mecanicista” (FERNÁNDEZ, 2001a, p. 49).
• Inconsciente: área do psiquismo que não é acessível à 
consciência do indivíduo. De acordo com a concepção da 
psicanálise, no inconsciente se encontram conteúdos que foram 
reprimidos. O acesso ao inconsciente se abrede preferência 
através de sonhos, atos falhos e sintomas neuróticos.
• Transferência: conceito da psicanálise: processo em grande 
parte inconsciente pelo qual se revivem, nas relações atuais, 
afetos e desejos referentes a relações anteriores (sobretudo 
experiências infantis) dirigidas a objetos (sobretudo pessoas). 
A transferência representa, no âmbito da relação paciente-
terapeuta, um dos meios mais importantes para tornar 
conscientes confl itos inconscientes.
Fonte: Extraído de Brunner e Zeltner (1994).
A postura clínica deve fazer parte do psicopedagogo e de suas ferramentas 
teóricas e deve ser utilizada independente de onde ele estiver trabalhando: seja 
numa escola, num consultório, num hospital ou numa faculdade. Entendemos 
então que, o adjetivo “clínica” faz referência a uma postura, a uma ética e a um 
modo de investigar as situações e de intervir.
Para encerrar esta seção, vamos retomar o questionamento feito 
anteriormente: seria a “psicopedagogia clínica” e a “clínica psicopedagógica” a 
O olhar clínico em 
psicopedagogia 
é o olhar que 
tem por objetivo 
compreender como 
o sujeito aprende, 
na sua relação com 
os outros sujeitos, 
com a cultura, 
com sua história e 
com os objetos de 
aprendizagem.
23
A HISTÓRIA DA PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA: 
UMA PRÁTICA EM CONSTRUÇÃOCapítulo 1
mesma coisa? A resposta é NÃO. Na maioria das vezes, estes dois termos são 
utilizados como sinônimos, mas você já compreendeu que a “psicopedagogia clínica” 
refere-se a uma postura ética, a uma forma de conduzir o trabalho psicopedagógico, 
independente do local de atuação. A “clínica psicopedagógica” refere-se a atuação 
psicopedagógica no espaço clínico, no consultório, sendo portanto, o espaço de 
trabalho do psicopedagogo.
O que entendemos por intervenção psicopedagógica clínica
A intervenção psicopedagógica clínica é muito diferente da 
reeducação, já que esta última tende a corrigir e remediar. Assim, 
muitas crianças são submetidas a métodos reeducativos que tentam 
uma “ortopedia mental” como se fosse possível colocar “próteses 
cognitivas”.
O fracasso escolar ou problema de aprendizagem deve ser 
sempre um enigma a ser decifrado que não deve ser calado, 
mas escutado. Desse modo, quando o “não sei” aparece como 
principal resposta, podemos perguntar-nos o que é que não está 
permitido saber.
Nossa escuta não se dirige aos conteúdos não-aprendidos, nem 
aos aprendidos, nem às operações cognitivas não-logradas ou logradas, 
nem aos condicionantes orgânicos, nem aos inconscientes, mas às 
articulações entre essas diferentes instâncias.
Não se situa no aluno, nem no professor, nem na sociedade, 
nem nos meios de comunicação como ensinantes, mas nas múltiplas 
relações entre eles.
Fonte: Fernández (2001b, p. 38).
Atividade de Estudos: 
1) Neste capítulo, apresentamos vários conceitos importantes para 
o trabalho psicopedagógico. Volte ao texto, leia novamente estes 
conceitos, elabore-os e reescreva-os utilizando-se das suas 
palavras:
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Teoria e prática da psicopedagogia clínica
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Algumas ConsideraçÕes
Este primeiro capítulo tem um caráter um pouco mais teórico, mas é 
de fundamental importância para que você possa compreender a prática da 
psicopedagogia clínica. Todos os conceitos que aqui foram apresentados e 
discutidos estarão presentes ao longo desta disciplina e você, aluno, deve 
ter clareza desse referencial. Ressalto a importância da compreensão de 
determinadas teorias, pois serão elas que orientarão a nossa prática futura.
Como estudante da psicopedagogia, futuro profi ssional psicopedagogo que 
trabalhará com a aprendizagem, você precisa estar sempre atento e refl etir sobre 
como se dá a sua própria aprendizagem. Como foi o seu processo de aprender 
ao longo deste capítulo? Com quais sentimentos você se deparou: angústia, 
medo, insegurança, gratifi cação, prazer? Quais as estratégias você utilizou para 
melhor fi xar tantas informações? Durante o nosso trabalho, é importante que estes 
questionamentos estejam presentes para que você possa se conhecer melhor. 
Não podemos mediar a aprendizagem de outras pessoas se não conseguimos 
compreender a nossa própria. Portanto, fi que atento e se observe...
No próximo capítulo abordaremos o processo do diagnóstico psicopedagógico 
clínico, suas características, as etapas para a realização deste, os instrumentos 
utilizados durante esse processo, bem como as diferentes abordagens que 
fundamentam a investigação psicopedagógica.
25
A HISTÓRIA DA PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA: 
UMA PRÁTICA EM CONSTRUÇÃOCapítulo 1
Referências
BOSSA, Nádia A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 
Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011.
BRUNNER e ZELTNER. Dicionário de psicopedagogia e psicologia 
educacional. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
CORDIÉ, Anny. Os atrasados na existem: psicanálise de crianças com fracasso 
escolar. Porto Alegre: Artmed, 1996.
FERNÁNDEZ, Alicia. O saber em jogo: a psicopedagogia propiciando autorias 
de pensamento. Porto Alegre: Artmed, 2001a.
______. Os idiomas do aprendente: análise das modalidades ensinantes com 
famílias, escolas e meios de comunicação. Porto Alegre: Artmed, 2001b.
MERY, Janine. Pedagogia curativa escolar e psicanálise. Porto Alegre: Artmed, 
1985.
26
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
CAPÍTULO 2
O Processo de Investigação Clínica: 
O Diagnóstico Psicopedagógico
A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
  Conhecer as diversas abordagens que fundamentam o diagnóstico 
psicopedagógico.
  Caracterizar as etapas do diagnóstico psicopedagógico clínico.
  Identifi car os principais instrumentos utilizados no diagnóstico psicopedagógico.
  Relacionar as etapas do diagnóstico psicopedagógico, bem como os 
instrumentos utilizados neste processo com o caso apresentado.
  Elaborar o relatório do diagnóstico psicopedagógico a partir da análise dos 
dados apresentados.
28
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
29
O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
ConteXtualiZação
Você deve estar lembrado, conforme vimos no capítulo anterior, que a 
psicopedagogia busca encontrar soluções para os problemas de aprendizagem. 
E você já parou para pensar como se dá essa busca? Que instrumentos o 
psicopedagogo utiliza para tal fi m? É justamente este o objetivo principal deste 
capítulo: demonstrar e aprofundar os conhecimentos acerca de todo o processo 
do diagnóstico psicopedagógico.
Num primeiro momento, iremos discutir sobre as diferentes abordagens 
teóricas que embasam os procedimentos do diagnóstico psicopedagógico. Em 
seguida, abordaremos todas as etapas para a realização desse diagnóstico, desde 
o primeiro contato telefônico até a elaboração do relatório fi nal. Posteriormente, 
apresentaremos todos os instrumentos que poderão ser utilizados em cada uma 
das etapas do diagnóstico. Dando continuidade, iremos conhecer como se elabora 
o relatório do diagnóstico psicopedagógico a partir da análise de todos os dados 
coletados durante esse processo. E, fi nalmente, apresentaremos um caso, onde o 
passo-a-passo de diagnóstico psicopedagógico estará presente, com objetivo de 
tornar mais concreto todo o conhecimento apresentado até então. 
Acharam muito conteúdo? Com toda certeza... Porém, todo este conteúdo 
éfundamental para a prática psicopedagógica clínica. Nenhuma intervenção 
psicopedagógica pode surtir o resultado desejado, sem que se tenha realizado um 
bom diagnóstico, com uma correta interpretação dos resultados obtidos. Portanto, 
temos sim, muito estudo pela frente. E espero, que quando você, aluno, chegar 
ao fi nal desse capítulo, possa sentir-se seguro para realizar um diagnóstico 
psicopedagógico. Vamos começar?
As Diferentes Abordagens 
UtiliZadas no Processo do 
Diagnóstico Psicopedagógico
Para introduzir este capítulo, antes de partimos para as diversas abordagens 
que embasam o processo do diagnóstico psicopedagógico, é muito importante 
que tenhamos clareza sobre alguns conceitos. Em primeiro lugar, o que queremos 
dizer quando falamos em diagnóstico? E diagnóstico psicopedagógico? O que 
signifi cam estes termos?
30
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
De acordo com o “Dicionário de psicopedagogia e psicologia 
educacional”, de Brunner e Zeltner (2000, p. 77 e 78), diagnóstico 
é o resultado de exames psicológicos e médicos. Após aplicação de 
métodos diagnósticos, por exemplo, questionários e testes, torna-se 
possível fazer uma avaliação sobre a existência e a extensão de 
um comportamento desviante ou de uma enfermidade. Além disso, 
deve ser descoberta, enquanto possível, a causa da perturbação ou 
da enfermidade. Um diagnóstico pode ser expresso, por exemplo, 
da seguinte forma: “Estado depressivo ocasionado pela morte 
do parceiro”. O diagnóstico é a base principal para o subsequente 
aconselhamento ou tratamento.
Diagnóstico designa também o exame de questões circunscritas 
na área da medicina, psicologia ou pedagogia por meio de métodos 
diagnósticos. Ao mesmo tempo, o diagnóstico abrange uma área 
especial da psicologia que se ocupa com a teoria e a prática da 
aplicação de métodos diagnósticos. Na psicologia se empregam, 
sobretudo, questionário, observação e aplicação de testes, como o de 
pessoalidade, de desempenho e de desenvolvimento. O diagnóstico se propõe o 
seguinte, entre outras coisas:
1. identifi cação do distúrbio;
2. explicação das causas (nosologia);
3. verifi cação das reações das pessoas frente ao distúrbio;
4. diferenciações entre distúrbios orgânicos e funcionais;
5. elaboração de um prognóstico sobre possibilidades de tratamento e;
6. estabelecimento de bases para o aconselhamento ou tratamento.
Diagnóstico Psicopedagógico
A partir do conceito de diagnóstico, será que você consegue inferir o conceito 
de diagnóstico psicopedagógico? Vamos tentar?
Em primeiro lugar, é importante que você, aluno, tenha muito claro que o 
termo diagnóstico, para a psicopedagogia, não signifi ca que o psicopedagogo 
está habilitado para emitir laudos com diagnósticos fechados. Para nós, da 
psicopedagogia, o diagnóstico refere-se a avaliação diagnóstica que compreenderá 
o levantamento de dados ou hipóteses avaliativas. A partir destas hipóteses, 
Diagnóstico 
é o resultado 
de exames 
psicológicos e 
médicos.
31
O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
caso haja necessidade, o psicopedagogo pode estabelecer parcerias 
com outros profi ssionais, como neurologistas ou psicólogos, que nos 
amparam na busca de um melhor diagnóstico avaliativo.
O diagnóstico psicopedagógico pode ser entendido como um 
processo contínuo, no qual é analisada a situação do aprendente dentro 
do contexto escolar, familiar e social. Esta análise deverá estar embasada 
nos funda-mentos teóricos, e na utilização de atividades e instrumentos 
específi cos e terapêuticos. Através do olhar e da escuta psicopedagógica, 
numa postura clínica, o profi ssional deverá envolver o aprendiz, os pais e 
a escola, e levantar dados sobre como os fatos ocorreram.
De acordo com Sampaio (2012, p. 17), 
O diagnóstico psicopedagógico clínico tem como 
objetivo identifi car as causas dos bloqueios que se apresentam 
nos sujeitos com difi culdades de aprendizagem. Estes 
bloqueios apresentam-se por meio de sintomas que podem se 
manifestar de diferentes maneiras: baixo rendimento escolar, 
agressividade, falta de concentração, agitação, etc.
O sintoma é o que pode ser percebido pelo próprio indivíduo 
ou pelos outros (familiares, professores, colegas). Todo o sintoma 
está relacionado ao signifi cado que a problemática da difi culdade 
de aprendizagem tem para o sujeito. Um sintoma é um sinal, um 
indício de que algo não vai bem com aquele sujeito, por isso, para 
compreendermos, precisamos recorrer à sua história pessoal. Muitas 
vezes, um sintoma pode ser da ordem do inconsciente.
Para que você compreenda melhor o que representa um 
diagnóstico psicopedagógico, podemos fazer uma analogia com um 
trabalho de investigação. O psicopedagogo seria um detetive a procura 
de pistas que o auxiliem na descoberta do que está por trás das queixas 
e dos sintomas presentes no caso.
Para Weiss (1994) todo o diagnóstico psicopedagógico é uma 
investigação, uma pesquisa sobre o que não vai bem com o sujeito 
em relação ao que é esperado na sua aprendizagem. Ainda para esta 
autora, a investigação não pretende rotular o sujeito, mas sim obter 
uma compreensão global da sua forma de aprender e do que está 
difi cultando este processo.
Todo o diagnóstico 
psicopedagógico é 
uma investigação, 
uma pesquisa 
sobre o que não vai 
bem com o sujeito 
em relação ao que 
é esperado na sua 
aprendizagem.
Diagnóstico 
psicopedagógico 
é analisada a 
situação do 
aprendente dentro 
do contexto escolar, 
familiar e social.
O profi ssional 
deverá envolver o 
aprendiz, os pais e 
a escola, e levantar 
dados sobre como 
os fatos ocorreram.
32
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
Realizar um diagnóstico é como montar um grande quebra-
cabeças, pois, à medida que se encaixam as peças, vai se 
descobrindo o que está por trás destes sintomas. As peças 
serão oferecidas pela família, pela escola e pelo próprio 
sujeito, entretanto a maneira de montá-las só depende do 
psicopedagogo e, para que este tenha um bom resultado, 
precisa levar em conta os aspectos objetivos e subjetivos 
observados nos diversos âmbitos: cognitivo, familiar, 
pedagógico e social (SAMPAIO, 2012, p. 17).
Fernández (1991), afi rma que o diagnóstico deve ter a função de dar suporte 
ao psicopedagogo, para que este faça todos os encaminhamentos necessários, 
assim como uma rede dá o suporte para um equilibrista. Destaca ainda, ser um 
processo que permite ao profi ssional investigar, levantar hipóteses provisórias 
que serão ou não confi rmadas ao longo do processo. Para ela, o diagnóstico está 
relacionado a conhecimentos práticos e teóricos.
Atividade de Estudos: 
1) A partir do que foi estudado até agora, elabore, com as suas 
palavras, o conceito de: Diagnóstico e Diagnóstico Psicopedagogo.
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Cabe aqui ressaltar que “o sucesso de um diagnóstico não reside no grande 
número de instrumentos utilizados, mas na competência e sensibilidade do 
terapeuta em explorar a multiplicidade de aspectos revelados em cada situação” 
(WEISS, 1994, p.16).
Gostaria de lembrá-los que muitos profi ssionais também utilizam o termo 
avaliação psicopedagógica para referir-se ao diagnóstico psicopedagógico, por 
considerarem que o termo diagnóstico tem uma forte conotação médica, centrado 
na classifi cação de doenças e que o termo avaliação estaria mais ligado à área 
educacional. Porém, na nossa disciplina, considero que ambos os termos estão 
corretos e podem ser utilizados como sinônimos.
33
O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃOCLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
Abordagens Que Embasam o 
Diagnóstico Psicopedagógico
Retomando ao que já vimos no primeiro capítulo deste caderno 
de estudo, a psicopedagogia é uma área de caráter multidisciplinar, 
constituída pelo saber de várias outras áreas. Este corpo teórico que 
embasa o fazer psicopedagógico, acabou constituindo os diferentes 
caminhos que possibilitam a realização do diagnóstico psicopedagógico. 
Dito de outra maneira, o profi ssional psicopedagogo irá optar por uma 
abordagem que indicará o caminho a ser seguido. Tal abordagem está 
fundamentada em uma ou outra abordagem teórica que servirá como 
pano de fundo para o seu fazer (BOSSA, 2011).
No quadro a seguir, apresentarei todas as teorias que fundamentam o fazer 
psicopedagógico:
Quadro 2 – As teorias que fundamentam a psicopedagogia
TEORIA CONTRIBUIÇÃO
Psicanálise
A Psicanálise encarrega-se do mundo inconsciente, das representações 
profundas, operantes através da dinâmica psíquica que se expressa por 
sintomas e símbolos, permitindo-nos levar em conta a face desejante do 
homem.
Psicologia Social
A Psicologia Social encarrega-se da constituição dos sujeitos, que res-
pondem a relações familiares, grupais e institucionais, em condições 
socioculturais e econômicas específicas e que contextualizam toda a 
aprendizagem.
Epistemologia e 
Psicologia Genética
A Epistemologia e a Psicologia Genética se encarregam de analisar e 
descrever o processo construtivo do sujeito cognoscente em interações 
com os outros e com objetos.
Linguística
A Linguística traz a compreensão da linguagem como um dos meios 
que caracterizam o sujeito como tipicamente humano e cultural: a língua 
enquanto código disponível a todos os membros da sociedade e a fala 
como fenômeno subjetivo, evolutivo e de acesso a toda estrutura simbólica.
Pedagogia
A Pedagogia contribui com as diversas abordagens do processo ensino-
-aprendizagem, da didática e das diversas metodologias, analisando-as do 
ponto de vista de quem ensina e de quem aprende.
Neuropsicologia
Os fundamentos na Neuropsicologia possibilitam a compreensão dos 
mecanismos cerebrais que subjazem ao aprimoramento das atividades 
mentais, indicando-nos a que correspondem, do ponto de vista orgânico, 
todas as alterações ocorridas.
Fonte: Bossa (2011).
Este corpo teórico 
que embasa o fazer 
psicopedagógico, 
acabou constituindo 
os diferentes 
caminhos que 
possibilitam a 
realização do 
diagnóstico 
psicopedagógico.
34
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
Decorrentes dessa diversidade de campos teóricos, surgiram 
diferentes possibilidades de atuação e “caminhos” a serem trilhados, 
que embasam a ação psicopedagógica, durante o processo diagnóstico 
ou de avaliação. Os caminhos mais conhecidos e utilizados entre os 
psicopedagogos são propostos por:
• Maria Lúcia Weiss;
• Transtorno da clínica psicológica – segue o modelo médico;
• Epistemologia Convergente - Jorge Visca;
• Edith Rubinstein;
• Sara Pain / Alícia Fernandez.
Vamos conhecer, a seguir, cada um desses modelos?
a) Sequência diagnóstica proposta por Weiss (1994):
Este primeiro modelo, proposto por Maria Lúcia Weiss, é apresentado no livro 
“Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica”. Nele, a autora faz um recorte de 
como os aspectos que levam um sujeito ao histórico de fracasso escolar, podem 
ser detectados através do diagnóstico psicopedagógico. Apresentaremos, a 
seguir, a sequência proposta por ela.
1º Entrevista Familiar Exploratória Situacional (E.F.E.S.) (WEISS, 1994)
Nessa entrevista o psicopedagogo reúne-se com os pais e com a criança 
ou adolescente para uma sessão conjunta, com duração de 50 minutos 
aproximadamente.
A E.F.E.S. tem como objetivos a compreensão da queixa 
nas dimensões familiar e escolar, a captação das relações e 
expectativas familiares centradas na aprendizagem escolar, a 
expectativa em relação à atuação do terapeuta, a aceitação e o 
engajamento do paciente e seus pais no processo diagnóstico 
e o esclarecimento do que é um diagnóstico psicopedagógico 
(WEISS, 1994, p. 36).
Para esta entrevista, é necessário que exista um clima de confi ança 
para que haja liberdade de informações e sentimentos. O foco principal 
é o momento presente. O registro fi el do que foi falado também é muito 
importante, para que o terapeuta, em outro momento, possa analisar 
tudo o que foi dito.
É necessário que 
exista um clima 
de confi ança para 
que haja liberdade 
de informações e 
sentimentos.
Diferentes 
possibilidades 
de atuação e 
“caminhos” a serem 
trilhados.
35
O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
2º Anamnese (WEISS, 1994)
Essa entrevista tem o objetivo de colher os dados importantes 
e signifi cativos sobre a história de vida do sujeito. Ela possibilita a 
integração das dimensões de passado, presente e futuro do paciente. 
Normalmente é realizada com os pais, mas quando outra pessoa 
(avó, babá, madrinha etc) também acompanhou e participou do 
desenvolvimento da criança, é importante que ela se faça presente, 
sempre que possível. 
3º Sessões Lúdicas centradas na aprendizagem (para crianças) (WEISS, 1994)
Essa sessão tem o objetivo de obter dados sobre os aspectos 
afetivos para a aprendizagem, tais como: exploração do novo, 
criatividade, vinculação com os objetos, modalidade de aprendizagem. 
Além disso, também favorece a interação e a vinculação paciente/
terapeuta.
4º Complementação com provas e testes (WEISS, 1994)
Este momento compreende várias sessões (de 3 a 4 sessões) que 
serão destinadas a realização de provas e testes específi cos para o 
diagnóstico psicopedagógico. Eles serão selecionados de acordo com 
a necessidade e com as hipóteses levantadas nas sessões anteriores.
5º Síntese Diagnóstica – Prognóstico (WEISS, 1994)
Este é o momento em que o profi ssional deve debruçar-se sobre 
todo o material colhido durante as sessões com o paciente e com 
as entrevistas e analisá-los criteriosamente. É o momento em que 
faz a análise de toda a problemática para, em seguida, se chegar às 
conclusões pertinentes ao caso.
6º Devolução - Encaminhamentos (WEISS, 1994)
A devolução é uma comunicação verbal feita ao fi nal de toda a 
avaliação em que o psicopedagogo relata aos pais e ao paciente os 
resultados obtidos ao longo de todo o processo. Esse encontro pode 
ser realizado em conjunto (pais e paciente) ou em momentos separados, 
de acordo com cada caso em específi co. Neste encontro também são 
dadas as orientações necessárias e são feitos os encaminhamentos para 
outros profi ssionais, quando houver necessidade.
Objetivo de 
colher os dados 
importantes e 
signifi cativos sobre 
a história de vida 
do sujeito.
Objetivo de obter 
dados sobre 
os aspectos 
afetivos para a 
aprendizagem.
Serão selecionados 
de acordo com 
a necessidade e 
com as hipóteses 
levantadas nas 
sessões anteriores.
Faz a análise de 
toda a problemática 
para, em seguida, 
se chegar às 
conclusões 
pertinentes ao 
caso.
Relata aos pais 
e ao paciente os 
resultados obtidos 
ao longo de todo o 
processo.
36
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
Para você conhecer melhor a sequência diagnóstica proposta 
por Weiss, leia o livro:
 WEISS, Maria Lucia L. Psicopedagogia Clínica: uma visão 
diagnóstica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
Lá a autora descreve detalhadamente e com vários exemplos, 
cada uma das etapas do diagnóstico. Vale a pena ler!
b) Sequência Diagnóstica Tradicional – Modelo Médico
O modelo diagnóstico tradicional, segue o modelo médico, com a sequência 
de passos propostos pela medicina. Este foi um dos primeiros modelos utilizados 
na psicologia clínica e também na psicopedagogia.
1º Anamnese
É o momento em que o profi ssional vai entrar em contato com a 
situação e conhecer a história do sujeito. Participam desta entrevista, 
os pais e/ou algum responsável que conheça a história do paciente e 
possa repassar as informações importantes.
2º Testagem e provas pedagógicasEste momento acontece em várias sessões com o paciente, 
individualmente. Tem por objetivo conhecer a situação e tentar identifi car 
que áreas estão comprometidas, difi cultando o aprender. Busca 
compreender a causa da difi -culdade de aprendizagem.
3º Laudo
O momento do laudo é o momento em que o profi ssional elabora 
a síntese das suas conclusões, reunindo todas as informações 
importantes sobre o caso, para ser repassado à família. Esta etapa 
também abrange o momento do prognóstico, isto é, o momento em que 
o psicopedagogo traça o provável desenvolvimento futuro, baseando-
se no desempenho verifi cado a partir dos testes e das provas que 
foram aplicadas durante as sessões de diagnóstico.
Vai entrar em 
contato com 
a situação e 
conhecer a história 
do sujeito.
Tentar identifi car 
que áreas estão 
comprometidas, 
difi cultando o 
aprender.
O profi ssional 
elabora a 
síntese das suas 
conclusões, 
reunindo todas 
as informações 
importantes sobre 
o caso, para 
ser repassado à 
família.
37
O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
4º Devolução 
A devolução é o momento da verbalização do laudo ao paciente e/
ou aos pais. Neste momento, são esclarecidas as dúvidas e discutido o 
prognóstico do caso em questão.
c) Sequeência Diagnóstica proposta pela Epistemologia Convergente
O modelo proposto pela Epistemologia Convergente foi, originalmente, 
pensado por Jorge Visca e difundido no Brasil, pelo próprio autor. Hoje, é um 
dos modelos mais utilizados pelos psicopedagogos brasileiros, pois possui 
uma fundamentação teórica bastante consistente. Visca baseou-se nas teorias 
psicanalítica, piagetiana e da psicologia social.
1º Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem - E.O.C.A. (VISCA, 1987)
Esta entrevista é utilizada como um instrumento que possibilita a 
sondagem da problemática da aprendizagem e auxilia o profi ssional 
a delinear o que mais necessita ser investigado. Normalmente se dá 
em uma única sessão. A partir deste momento, o profi ssional elabora 
o seu 1º sistema de hipóteses, defi ne as linhas de investigação e 
escolhe os instrumentos que irá utilizar para confi rmar, ou não, o seu 
1º sistema de hipóteses.
2º Testes (VISCA, 1987)
Neste momento, o psicopedagogo aplica os testes defi nidos na etapa 
anterior, da E.O.C.A. Não existe uma bateria de testes pré-defi nidos 
e fi xos, pois estes são defi nidos a partir de cada caso. O profi ssional 
pode levar várias sessões para concluir esta etapa. Elabora-se, então, 
o 2º sistema de hipóteses a partir do que foi levantado na testagem 
realizada e defi nem-se novas linhas de investigação sobre o caso.
3º Anamnese (VISCA, 1987)
Este modelo propõe que a anamnese seja uma entrevista aberta, 
ou seja, não dirigida; e situacional, isto é, que leve em consideração 
os fenômenos do passado e do presente. Neste modelo, a anamnese 
acontece ao fi nal das sessões com o paciente para que o profi ssional 
não se “contamine” com a história apresentada pelos pais e possa ser o 
mais neutro possível frente ao caso. Neste momento, o psicopedagogo 
irá verifi car o 2º sistema de hipóteses e formular o 3º sistema com as 
hipóteses que se mantiveram.
Momento da 
verbalização do 
laudo.
Que possibilita 
a sondagem da 
problemática da 
aprendizagem 
e auxilia o 
profi ssional a 
delinear o que 
mais necessita ser 
investigado.
Aplica os testes 
defi nidos na etapa 
anterior.
Anamnese seja 
uma entrevista 
aberta, ou seja, 
não dirigida; e 
situacional, isto 
é, que leve em 
consideração os 
fenômenos do 
passado e do 
presente.
38
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
4º Elaboração do Informe Psicopedagógico (VISCA, 1987)
É o momento em que se elabora a imagem do sujeito que 
articula os aspectos da aprendizagem com os aspectos estruturais e 
emocionais que a condicionam. Essa imagem é repassada aos pais e 
a escola e é a partir dela que se inicia o processo corretor.
Para você conhecer mais sobre a Epistemologia Convergente, 
teoria proposta por Jorge Visca, poderá consultar o livro:
 VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica: epistemologia conver- 
gente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.
Neste livro você encontrará a fundamentação teórica e a 
explicação detalhada de cada um dos momentos propostos acima.
d) Sequência Diagnóstica proposta por Rubinstein
Edith Rubinstein, uma das precursoras da psicopedagogia no Brasil e 
uma grande mestra, também trouxe a sua contribuição sobre o diagnóstico 
psicopedagógico. Para ela, “[...] no diagnóstico psicopedagógico pretende-
se diagnosticar as condições de aprendizagem do aprendiz.” (RUBINSTEIN, 
1999, p. 130).
1º Entrevista com a Família (RUBINSTEIN, 1999)
Este modelo propõe que a entrevista com a família se dê em três momentos 
distintos. Estes momentos são:
• Contatos anteriores a consulta – são os primeiros contatos 
realizados pela família e podem ser via telefone, internet ou mensagem.
• Escuta do motivo da consulta – primeiro contato presencial com 
a família na qual o profi ssional vai escutar o motivo pelo qual estão 
buscando o trabalho psicopedagógico.
• História vital ou anamnese – seria o momento da anamnese 
propriamente dita, onde o profi ssional irá escutar a história do sujeito.
Contatos anteriores 
a consulta, Escuta 
do motivo da 
consulta e História 
vital ou anamnese.
Elabora a imagem do 
sujeito que articula 
os aspectos da 
aprendizagem com os 
aspectos estruturais 
e emocionais que a 
condicionam.
39
O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
2º Entrevista com o sujeito (RUBINSTEIN, 1999)
Esta segunda etapa é quando acontecem todos os encontros com o paciente, 
normalmente de 6 a 8 encontros. Este modelo propõe que as sessões sejam 
divididas em três fases:
• Escuta do motivo da consulta – acontece quando o psicopedagogo 
vai escutar do próprio paciente o motivo da procura pelo atendimento 
psicopedagógico.
• Instrumentos escolhidos pelo psicopedagogo com base nas 
necessidades do sujeito – é o momento da aplicação das provas e 
testes selecionados.
• Devolutiva ao sujeito – momento em que o psicopedagogo 
irá conversar individualmente com o sujeito e apontar suas 
potencialidades, seu estilo de aprendizagem e suas habilidades.
3º Contato com a escola (RUBINSTEIN, 1999)
Este é um momento prévio ao fi nalizar, em que o psicopedagogo 
entra em contato com a escola e escuta os professores do aluno em 
questão, sobre as suas queixas escolares.
4º Contato com outros profi ssionais (RUBINSTEIN, 1999)
Posterior e logo em seguida ao contato com a escola, o 
psicopedagogo também entra em contato, para trocar informações, com 
os outros profi ssionais envolvidos no caso (psicólogo, fonoaudiólogo, 
psiquiatra, médico pediatra ou neuropediatra etc). 
5º Devolutiva e encaminhamentos à família (RUBINSTEIN, 1999)
No último momento, após ter conversado e escutado todos os 
outros profi ssionais e professores envolvidos no caso, o psicopedagogo 
conversa com a família para dar a devolutiva do que foi avaliado e fazer 
os encaminhamentos necessários.
e) Sequência Diagnóstica proposta por Pain / Fernández (1992)
A sequência diagnóstica proposta, originalmente, por Sara Pain e, mais tarde, 
complementada por Alícia Fernández, baseou-se nos pressupostos da psicanálise e 
da psicologia genética de Piaget. Para esta proposta, a aprendizagem é o resultado 
da utilização dos aspectos orgânicos, cognitivos, afetivos e culturais (PAIN, 1992). 
Escuta do motivo 
da consulta.
Instrumentos 
escolhidos pelo 
psicopedagogo 
com base nas 
necessidades do 
sujeito.
Devolutiva ao 
sujeito.
O psicopedagogo 
entra em contato 
com a escola 
e escuta os 
professores.
Trocar informações, 
com os outros 
profi ssionais 
envolvidos no caso.
Conversa com a 
família para dar 
a devolutiva do 
que foi avaliado 
e fazer os 
encaminhamentos 
necessários.
40
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
1º Entrevista de “motivo da consulta” (PAIN, 1992)
Este primeiro momentoé quando o psicopedagogo recebe a 
queixa que a família traz sobre o paciente e explora o que esta queixa 
signifi ca. O profi ssional pode pedir que a família descreva alguma 
situação que fi que evidenciado o que está sendo exposto. Esta 
entrevista “motivo da consulta” também é feita com o paciente.
2º Entrevista “História Vital” (PAIN, 1992)
É o momento em que o psicopedagogo escuta toda a família, 
inclusive os irmãos, sobre a situação “problema de aprendizagem” e 
investiga a história do paciente. Tenta também compreender o lugar 
do sintoma do não-aprender para este grupo familiar.
3º Sessão “Hora do Jogo” (PAIN, 1992)
A “hora do jogo” é utilizada para compreender alguns processos 
que podem ter levado ao surgimento de patologias no aprender. 
Este modelo vê o espaço de aprendizagem e o espaço de jogar 
como coincidentes. Normalmente esse momento é realizado em um 
encontro com o paciente individualmente.
4º Provas Psicométricas (PAIN, 1992)
É o momento em que o psicopedagogo irá fazer uso de alguns 
testes e provas para avaliar as questões intelectuais como, por 
exemplo, a utilização do Diagnóstico Operatório de Piaget (D.O.P.). 
Essas provas oferecem uma visão do sujeito em função do rendimento 
apresentado e do comportamento apresentado.
5º Provas Projetivas (PAIN, 1992)
É o momento em que utilizamos o desenho como um instrumento 
para o diagnóstico psicopedagógico com o objetivo de verifi car 
quais as situações que o sujeito projeta no seu desenho e quais os 
conteúdos estão presentes aí. Estas provas tentam desvendar como 
o sujeito se vê enquanto aprendente e qual a relação que estabelece 
com a aprendizagem.
6º Provas Específi cas (PAIN, 1992)
O momento da utilização das provas específi cas tem como 
objetivo identifi car o nível de conhecimento que o sujeito possui. 
O psicopedagogo 
recebe a queixa que 
a família traz sobre 
o paciente e explora 
o que esta queixa 
signifi ca.
É o momento em que 
o psicopedagogo 
escuta toda a família.
Sobre a situação 
“problema de 
aprendizagem” e 
investiga a história 
do paciente.
Compreender alguns 
processos que 
podem ter levado 
ao surgimento 
de patologias no 
aprender.
Uso de alguns 
testes e provas para 
avaliar as questões 
intelectuais.
Desenho como 
um instrumento 
para o diagnóstico 
psicopedagógico 
com o objetivo de 
verifi car quais as 
situações que o 
sujeito projeta no 
seu desenho e quais 
os conteúdos estão 
presentes aí.
Tem como objetivo 
identifi car o nível de 
conhecimento que o 
sujeito possui.
41
O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
Normalmente, são avaliadas as áreas de leitura, escrita, cálculo e, 
quando necessário, algumas provas psicomotoras.
7º Hipótese Diagnóstica (PAIN, 1992)
É o momento em que o psicopedagogo reúne todo o material 
produzido pelo paciente e o analisa, bem como realiza a análise das 
entrevistas e da “hora do jogo”. Desta análise, o psicopedagogo levanta 
hipóteses sobre os motivos da difi culdade e busca compreender o 
sintoma do não-aprender.
8º Devolução Diagnóstica (PAIN, 1992)
É o momento em que o psicopedagogo “devolve” à família o que 
vem a ser a difi culdade de aprendizagem do paciente e resgata a 
queixa inicial trazida na primeira entrevista. 
Para que você possa se aprofundar neste modelo diagnóstico, 
sugiro a leitura de dois livros básicos e de leitura obrigatória para 
todo psicopedagogo. São eles:
 PAIN, Sara. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de 
Aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.
 FERNÁNDEZ, Alicia. A Inteligência Aprisionada: abordagem 
psicopedagógica clínica da criança e sua família. Porto Alegre: 
Artes Médicas, 1991.
Quanta informação, não é mesmo? Que tal organizarmos estes 
novos conhecimentos? Então, mãos à obra...
Atividade de Estudos: 
1) Proponho que você complete a tabela abaixo com cada 
um dos momentos propostos pelos modelos de diagnóstico 
psicopedagógico estudados anteriormente.
O psicopedagogo 
levanta hipóteses 
sobre os motivos 
da difi culdade e 
busca compreender 
o sintoma do não-
aprender.
O psicopedagogo 
“devolve” à família 
o que vem a ser 
a difi culdade de 
aprendizagem do 
paciente e resgata 
a queixa inicial 
trazida na primeira 
entrevista.
42
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
SEQUÊNCIA DIAGNÓSTICA
MOMENTOS
Proposta de 
Weiss
Modelo 
Médico 
Tradicional
Proposta da 
Epistemologia 
Convergente
Proposta de 
Rubinstein
Proposta 
de Pain e 
Fernández
1º momento
2º momento
3º momento
4° momento
5º momento
6º momento
7º momento
8º momento
De acordo com o que estudamos até agora, você pôde conferir que o 
profi ssional da área da psicopedagogia dispõe de diferentes possibilidades que 
nortearão a realização do diagnóstico. Mas, vale lembrar que, independente da 
sua futura escolha, aluno, é importante que o seu “fazer psicopedagógico” seja 
sempre pautado numa postura ética para com o sujeito aprendente. 
Na próxima sessão deste capítulo, vamos conhecer e estudar cada uma 
das etapas que compõe a realização do diagnóstico avaliativo. Espero que esse 
estudo seja muito proveitoso!
Etapas do Diagnóstico Avaliativo
Você já sabe que a realização de um bom diagnóstico é de grande 
relevância para todo o processo de intervenção psicopedagógica, não 
é mesmo? Já estudou também que existem vários caminhos possíveis 
para a realização deste diagnóstico, e que essa escolha depende da 
postura teórica adotada e da concepção que o profi ssional mais se 
identifi ca. É importante aqui ressaltar que as diferenças existentes 
entre uma ou outra abordagem e o modelo de diagnóstico escolhido, 
não devem alterar o resultado da avaliação, porém é preciso que o profi ssional 
acredite na linha que escolheu e se aprofunde nesta abordagem.
A partir de agora, detalharemos cada uma das etapas do diagnóstico 
psicopedagógico, para que você, aluno, consiga compreender e aplicar cada 
uma delas.
Queixa fundamental 
a difi culdade de um 
de seus membros 
diante da sua 
aprendizagem.
43
O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
a) A queixa
Como já visto anteriormente, a procura pelo trabalho psicopedagógico 
acontece quando uma família tem como queixa fundamental a difi culdade de um 
de seus membros diante da sua aprendizagem, sendo, portanto, a aprendizagem 
e suas relações a porta de entrada para a compreensão do caso que se apresenta.
Durante a entrevista, na qual o profi ssional está explorando a queixa, é 
importante que ele fi que atento as diferentes formulações feitas pelos pais, pela 
escola e pelo próprio paciente em sua autovisão, para que sejam analisadas nos 
seus diferentes signifi cados. Nessas frases há diversas pistas que contribuem 
para o diagnóstico, trazendo à tona o signifi cado do sintoma da difi culdade no 
aprender. É importante que você perceba, aluno, que a “queixa” não é apenas uma 
frase falada no primeiro contato, ela precisa ser escutada ao longo das diferentes 
sessões, sendo fundamental refl etir sobre o seu signifi cado (WEISS, 1994).
 Durante a conversa para explorar a queixa, o psicopedagogo deve manter 
o foco no paciente e na sua problemática. Uma queixa nunca é isolada, existem 
todos os desdobramentos desta queixa e que devem ser apurados no momento 
do diagnóstico. 
Exemplos de queixas trazidas pelas famílias:
• Ele não faz nada na sala, não fi xa em nada, não presta atenção na aula.
• Lê bem, mas não consegue escrever. É ótimo na matemática, mas sempre foi 
mal em português.
• Vai sempre mal na escola, mas eu também era assim e hoje estou muito bem. 
Estou aqui porque a escola mandou.
Exemplos de queixas trazidas pelo próprio paciente:
• Erro na escrita porque faço muito rápido, não sei fazer devagar. Não gosto de 
ler livro. O que eu gosto mais é da aula de música. Não gosto de dividir, não 
sei conta de dividir.
• Estudo, na hora da prova dá nervoso e eu esqueço. Estou me esforçando. 
Nas matérias não vou nada bem. Não sei se vou conseguir resultadomelhor. 
Não gostei da professora, gritava muito.
• Eu não queria aprender a ler e a escrever. Tenho medo de tirar nota baixa, 
repetir ano e perder os amigos. Tive difi culdade no colégio A, não era bom o 
ensino; aí, minha mãe me tirou e pôs em outra escola; aí, o segundo colégio 
não era bom e minha mãe botou em outro; aí, ela não gostou e eu voltei para 
o primeiro.
44
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
Atividade de Estudos: 
1) Escolha uma das queixas dos exemplos dados acima e elabore 
três hipóteses que possam justifi car tal queixa.
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
Devemos receber a queixa trazida pelos pais e pedir que estes desenvolvam 
uma descrição sobre o que querem dizer essas palavras, quem as diz, por que o 
dizem, que pensam eles do por quê disto e o que essa difi culdade signifi ca para 
eles. Podemos solicitar que descrevam alguma cena familiar em que fi que em 
evidência a queixa, para que o profi ssional consiga perceber no concreto 
as situações que causam incômodo para a família e para o paciente.
Para fi nalizar esse primeiro contato, o psicopedagogo deve 
investigar com os pais e com o próprio paciente o que eles esperam 
do atendimento psicopedagógico e quais as suas fantasias sobre 
o trabalho pois, é fundamental que o profi ssional saiba quais são as 
expectativas da família/paciente sobre o seu trabalho. 
b) Anamnese
A realização de uma anamnese completa é um dos pontos cruciais de um 
bom diagnóstico. Ela objetiva colher dados signifi cativos sobre a história de vida 
do paciente.
Da análise do seu conteúdo obtemos dados para o levantamento 
de hipóteses sobre a possível origem do caso, bem como sobre os seus 
desdobramentos. É necessário que a mesma seja bem conduzida e 
registrada. Porém, seu registro não deve inibir ou interferir no momento 
da conversa por isso, orienta-se que durante a sessão, seja registrado 
somente o mais importante para, logo após o término, a conversa ser 
transcrita na íntegra.
O psicopedagogo 
deve investigar com 
os pais e com o 
próprio paciente o 
que eles esperam 
do atendimento 
psicopedagógico.
Da análise do seu 
conteúdo obtemos 
dados para o 
levantamento de 
hipóteses sobre a 
possível origem do 
caso.
45
O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
É ela que possibilita a integração das dimensões de 
passado, presente e futuro do paciente, permitindo perceber 
a construção ou não de sua própria continuidade e das 
diferentes gerações [...]. A visão familiar da história de vida 
do paciente traz em seu bojo seus preconceitos, normas, 
expectativas, a circulação dos afetos e do conhecimento, além 
do peso das gerações anteriores que é depositado sobre o 
paciente (WEISS, 1994, p.48). 
Para Weiss (1994), durante a realização dos encontros com a família, 
é importante que o psicopedagogo tenha em mente dois grandes eixos que 
nortearão as conversas e possibilitarão uma posterior análise. Em primeiro lugar, 
deve estar presente o eixo horizontal, onde se explora basicamente o momento 
presente. Este eixo permite que se realize a contextualização do problema 
existente no “aqui e agora”. O eixo vertical é o eixo histórico e onde se busca a 
construção geral do sujeito e do seu problema.
• 1º Horizontal – A-Histórico – Visão do Presente; “AQUI, AGORA, 
COMIGO”.
• 2º Vertical – Histórico – Visão do Passado, Visão da Construção do 
Sujeito (WEISS, 1994, p. 15).
Figura 1 – Eixo Horizontal e Eixo Vertical
Fonte: WEISS (1994, p. 16).
Devemos ter claro que os dados obtidos na anamnese estarão contaminados 
pela percepção que os pais têm dos fatos e o entrevistador estará construindo uma 
imagem do sujeito sob a ótica dos pais, se este momento acontecer nos primeiros 
encontros. Em função de não se “contaminar” pelo que é dito sobre o sujeito que 
a proposta da Epistemologia Convergente opta por realizar a anamnese depois de 
todos os encontros com o sujeito. 
Visão do Presente.
Visão do Passado
46
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
A entrevista deve ser conduzida pelo psicopedagogo, de forma 
que possa deixar a família a vontade, para que não se sintam como 
se estivessem respondendo a um questionário rígido e formal. O 
modelo de anamnese que deve ser seguido é o modelo de entrevista 
semi-aberta, onde o entrevistado tem maior liberdade para falar. Sob 
hipótese alguma a anamnese, em atendimento clínico, pode ser feito 
por meio de perguntas e respostas. 
É importante que o psicopedagogo tenha um roteiro em mãos 
em que possa se basear enquanto realiza a entrevista e onde possa ir 
anotando, à medida que a família vai expondo. De acordo com Sampaio (2012, 
p. 143) “deixá-los falar espontaneamente permite ao psicopedagogo avaliar o que 
eles recordam para falar, qual a sequência e a importância dos fatos”.
ROTEIRO DA ANAMNESE
Gravidez / Parto;
Alimentação;
Primeiras aprendizagens informais;
Desenvolvimento geral da criança;
Sono;
História clínica;
História escolar;
Comportamento;
Independência;
Rotina; 
Aspectos social/afetivo.
Fonte: A autora.
A partir deste roteiro, o psicopedagogo deverá fi car atento ao que é dito e por 
quem é dito, e investigar os seguintes pontos, conforme Sampaio (2012, p. 145):
• Há consciência da família em relação às difi culdades da 
criança?
• A família auxilia o desenvolvimento da autonomia?
• Os pais são muito autoritários e causam medo na criança?
• A família participa e incentiva descobertas pela criança?
• Há estímulos em casa relacionados a aprendizagem?
• Nesta família circula a afetividade, ou só há cobranças?
• Os limites são impostos e como são colocados?
• Qual a forma de punição dada por esta família? 
O modelo de 
anamnese que 
deve ser seguido 
é o modelo de 
entrevista semi-
aberta, onde o 
entrevistado tem 
maior liberdade 
para falar.
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O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
Neste site, você encontra um roteiro bastante completo e detalhado 
de uma anamnese psicopedagógica. Segue o link: <http://loanycosta.
blogspot.com.br/2011/08/historia-de-vida-ou-anamnese.html>.
c) Sessão Lúdica Centrada na Aprendizagem ou “A Hora do Jogo”
Com toda a certeza, podemos afi rmar que observar uma criança brincando 
é uma grande oportunidade para conhecer e compreender seu modo de agir e de 
pensar. Quando uma criança interage com brinquedos, ela expressa a realidade 
do seu mundo interno e a sua relação com o mundo externo através do brincar.
Brincar é uma forma de expressão, pois através do jogo a criança 
defi ne seus papéis, seu espaço, mostrando suas relações interpessoais. 
Concordo com Fernández (1991), quando afi rma que o espaço de 
aprendizagem e o espaço de jogar/brincar são coincidentes, já que a 
criança utiliza as mesmas estruturas mentais em ambos os casos.
De acordo com Caierão (2013, p. 49):
A Psicopedagogia, cuja função é mediar o processo de 
aprendizagem de quem se encontra impossibilitado de fazê-
lo e resgatar o prazer de aprender, fazendo-se autor do seu 
próprio aprender, encontra na ação do brincar os principais 
fundamentos para a sua prática emancipatória com crianças, 
pois não há como fazer Psicopedagogia fora da perspectiva 
lúdica, já que a ludicidade implica construção, autoria e prazer.
A observação lúdica é uma técnica de coleta de dados que auxilia o 
psicopedagogo a investigar os aspectos mais signifi cativos do brincar para a 
formulação das suas hipóteses sobre o quadro de difi culdade de aprendizagem 
que a criança vem enfrentando. Contudo, o profi ssional precisa saber “ler”

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