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APG 06 – MYRELLA TURBANO A história natural da cardiopatia chagásica compreende uma fase aguda e uma fase crônica; a fase crônica inclui uma forma indeterminada (pré-clínica) e uma determinada (forma clínica) que inclui uma forma de cardiomiopatia isolada, uma forma digestiva isolada e uma forma cardiodigestiva. Aproximadamente um terço a metade dos pacientes com doença indeterminada eventualmente desenvolvem cardiomiopatia chagásica crônica (CCC). A cardiomiopatia crônica da doença de Chagas é resultante de miocardite fibrosante focal de baixa intensidade, mas incessante, causada pela infecção persistente do T cruzi, associada à inflamação mediada por mecanismos imunes adversos. ETIOPATOGENIA FASE AGUDA: Na fase aguda, o dano orgânico é nitidamente associado à infestação e multiplicação parasitária no miocárdio, além de outros tecidos comumente acometidos como o sistema nervoso e aparelho digestivo. A linfadenopatia e o aumento do baço e fígado devem-se à reação imunológica sistêmica e correlacionam-se com a elevada parasitemia. FASE CRÔNICA: Com a remissão da parasitemia e das reações inflamatórias sistêmicas, o paciente adentra a fase crônica da doença, em que se acredita que, desde a forma indeterminada, ocorra um processo de miocardite focal de baixa intensidade, mas incessante, que causa destruição de fibras e fibrose reparativa miocárdica progressivas. Isso provoca danos miocárdico cumulativo, e resulta tardiamente em um quadro de miocardiopatia dilatada, usualmente acompanhada de arritmias graves, complicações tromboembólicas e morte súbita em elevada proporção dos casos. PRINCIPAIS CAUSAS DA CCDC: Acredita-se que a miocardite crônica da doença de Chagas deva-se a dois processos patogenéticos principais: dano miocárdico, associado diretamente à inflamação, causada por parasitismo de fibras cardíacas, em múltiplos focos, mas de baixa intensidade; e à agressão miocárdica causada por reação imune adversa direcionada e, continuamente alimentada, pela reiterada apresentação de antígenos vinculada ao parasitismo cardíaco persistente. FORMA CRÔNICA CARDÍACA A ausência de sintomas é particularidade marcante nos indivíduos que se encontram em estágios incipientes da doença crônica, quando dano miocárdico (discreto) pode ser detectado apenas por alterações em exames complementares, como distúrbios de condução no ECG, alterações segmentares da mobilidade parietal do ventrículo esquerdo no ecocardiograma ou arritmias ao Holter. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Os sintomas e sinais físicos presentes na forma crônica da cardiomiopatia da doença de Chagas derivam de quatro síndromes essenciais, que podem usualmente coexistir no mesmo paciente: A maioria dos pacientes com CCC chega ao atendimento clínico com queixas sintomáticas, geralmente relacionadas a um ou mais dos quatro distúrbios clínicos a seguir: MYRELLA TURUBANO – T12 INSUFICIÊNCIA CARDÍACA NA CCC Cerca de 30% dos infectados desenvolvem, ao longo da vida, a forma crônica cardíaca da doença de Chagas com manifestação clínica proteiforme, que pode incluir morte súbita, sintomas e sinais de insuficiência cardíaca, eventos cardioembólicos, arritmia e sintomas anginoides. A morte súbita e a progressão da insuficiência cardíaca (IC) são os mecanismos mais comuns de óbito nesta condição. Os aspectos prognósticos mais relevantes são sintomas de IC avançada, cardiomegalia, disfunção sistólica do VE e taquicardia ventricular não sustentada. O tratamento da IC na CCDC segue os mesmos princípios aplicados à IC secundária à cardiomiopatia dilatada de outras etiologias. MANIFESTAÇÕES INICIAIS: Nas fases iniciais da manifestação da insuficiência cardíaca por cardiomiopatia chagásica, os sintomas mais frequentes são a fadiga e a dispneia aos esforços sendo, contudo, incomum o registro de sintomas mais intensos de congestão pulmonar, como dispneia paroxística noturna e de decúbito com ortopneia. EVOLUÇÃO DA DOENÇA: Na evolução da doença, somam-se os sintomas de congestão venosa sistêmica (turgência jugular, hepatomegalia, edema de membros inferiores e ascite), e a evolução pode ainda progredir para anasarca, adinamia, ou caquexia cardíaca, à semelhança de outras cardiopatias com disfunção ventricular avançada. ACHADOS DO EXAME FÍSICO: Ao exame físico, há ainda sinais de cardiomegalia pelo desvio do ictus cordis; pode haver abafamento de B1 em foco mitral, desdobramento permanente de B2, terceira bulha e sopros regurgitativos de valvas atrioventriculares. PARTICULARIDADE DA ICC CHAGÁSICA: na insuficiência cardíaca de etiologia da doença de Chagas, a congestão pulmonar é comumente discreta nos estágios avançados da doença, frente a mais exuberante congestão sistêmica, podendo ser a semiologia pulmonar mais afetada pelos sinais de derrame pleural que por crepitações, assim como por níveis pressóricos sistêmicos mais baixos neste grupo de pacientes. Mais rara ainda é a evolução para edema agudo de pulmão nestes casos. Geralmente a Insuficiência é biventricular. As manifestações de falha do lado direito são frequentemente mais pronunciadas do que as de falha do lado esquerdo. ARRITMIAS CARDÍACAS NA CCC Podem causar palpitação, tontura, tontura ou síncope. Tonturas e síncope podem ocorrer devido ao bloqueio cardíaco completo ou à taquicardia ventricular (TV). A morte súbita cardíaca é responsável por aproximadamente 55 a 65 % das mortes em pacientes com DC crônica da doença de Chagas e pode ocorrer em indivíduos previamente assintomáticos. ACHADOS DO EXAME FÍSICO: podem ser detectados o desdobramento fixo da segunda bulha em foco pulmonar, irregularidades do ritmo cardíaco, ou mesmo bradicardias, algumas vezes associadas a sinais típicos de ondas ”a” periodicamente incrementadas no pulso venoso jugular, e reforço da primeira bulha (“em canhão”). PARTICULARIDADES ARRITMICAS DA CCDC: A presença e densidade da arritmia, em muitos casos, correlacionam-se com o grau da disfunção ventricular, porém, podem também incidir em pacientes com função ventricular esquerda global ainda preservada, constituindo a "forma arritmogênica isolada" da doença. Essa característica, que distingue a CCDC da doença arterial coronária com disfunção ventricular, bem como de outras cardiomiopatias, e torna os pacientes infectados por T. cruzi especialmente susceptíveis à ocorrência de morte súbita MYRELLA TURUBANO – T12 precoce, deriva de suas peculiaridades fisiopatológicas e de sua peculiar patogênese. TROMBOEMBOLISMO NA CCDC Tromboembolismo sistêmico e pulmonar ocorrem em pacientes com CCC como resultado de trombose intracardíaca e venosa no contexto de disfunção sistólica do ventrículo esquerdo (VE) e câmaras cardíacas dilatadas, muitas vezes com aneurisma apical. ACIDENTES TROMBOEMBÓLICOS: Acidentes tromboembólicos são, muitas vezes, a primeira manifestação da doença e podem ocorrer nos estágios ainda sem disfunção ventricular. Os indivíduos infectados pelo T. cruzi exibem taxas mais elevadas de AVC cardioembólico, dilatação ventricular esquerda, trombose mural VE, aneurisma apical e fibrilação atrial. DOR NO PEITO NA CCDC É comum e pode ser de natureza atípica ou anginosa. Esta dor tem características muitas vezes atípicas para isquemia miocárdica, descrita como em pontada, fugaz, ou, ao contrário, de muito longa duração (horas ou até dias), mal localizada, geralmente não relacionada a esforços, algumas vezes causada por estresse emocional e com padrão recidivante ao longo do dia. Pacientes com DC crônica confirmada por sorologia devem ser submetidos a anamnese, exame físico e eletrocardiograma (ECG) de 12 derivações em repouso, preferencialmente com tira de ritmo de 30 segundos derivação II para avaliar evidências de envolvimento cardíaco. Embora a ecocardiografia não seja um componente da avaliação clássica, também realizamos ecocardiografia nessespacientes. → Se algum achado da avaliação inicial for sugestivo de doença cardíaca, é necessária uma avaliação cardíaca adicional, incluindo monitoramento ambulatorial de ECG de 24 horas. → Se as imagens ecocardiográficas não forem diagnósticas, a ressonância magnética cardiovascular (RMC) é recomendada para avaliar a estrutura ventricular e a estrutura e o grau de fibrose miocárdica. Se a RMC não estiver disponível ou for contraindicada, a cintilografia com radionuclídeos pode ser usada para avaliar o tamanho e a função biventricular e a cintilografia de perfusão miocárdica com radionuclídeos também pode auxiliar na detecção de fibrose miocárdica. → O teste de estresse é indicado em pacientes selecionados com DC crônica com sintomas e/ou sinais que podem ser causados por cardiopatia isquêmica ou CCC. Se o teste de estresse for indeterminado, a angiografia coronariana é útil para distinguir a doença coronariana epicárdica da CCC. Um diagnóstico clínico de CCC é feito em pacientes com DC crônica confirmada quando um ou mais dos seguintes sinais- chave de cardiopatia chagásica estão presentes e outras causas desses sinais: → Anormalidades no ECG e/ou no ECG ambulatorial (Holter): bradicardia sinusal com frequência cardíaca <40 batimentos por minuto ou disfunção do nó sinusal sintomática, bloqueio de ramo direito (BRD) com hemibloqueio anterior esquerdo (HBAE), novo BRD, prematuro ventricular frequente prematuro batimentos cardíacos, ondas Q anormais, bloqueio atrioventricular de segundo grau MYRELLA TURUBANO – T12 ou bloqueio cardíaco completo ou TV (não sustentada ou sustentada). → Imagem cardíaca (ecocardiografia e/ou RMC): disfunção sistólica regional ou global do VE e/ou ventrículo direito, aneurisma ventricular (tipicamente apical do VE) ou trombo intracavitário (tipicamente apical). ACHADOS RADIOLÓGICOS RADIOGRAFIA DE TÓRAX — fases avançadas da doença são marcadas por cardiomegalia, muitas vezes massiva, que pode incluir os sinais de aumento não só de VE como também de VD e de ambos os átrios. A congestão pulmonar em muitos casos é ausente ou leve. O padrão típico de cardiomegalia com campos pulmonares relativamente claros em pacientes com DC crônica é geralmente devido à disfunção ventricular direita com insuficiência tricúspide. Derrame pericárdico (que contribui para o aparecimento de cardiomegalia) e/ou derrame pleural podem estar presentes. PROTEÇÃO RADIOLÓGICA EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO Cada especialidade exige Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) de acordo com a nocividade dos procedimentos que são realizados cotidianamente. De maneira geral, os principais EPIs para a área da Radiologia são: 1. Avental; 2. Óculos; 3. Luvas; 4. Protetor de tireoide; 5. Biombo. DOSIMETRIA O dosímetro é um dispositivo que deve ser usado na altura do tórax, por fora do avental. Serve para medir a exposição de um indivíduo à radiação durante um período de tempo. Mensalmente, o equipamento deve ser enviado para leitura e, caso as doses constatadas estejam acima do limite permitido, o profissional deve ser afastado, até o restabelecimento dos índices normais. SUPERVISÃO PROFISSIONAL Além de disponibilizar dosímetros e EPIs adequados, cada departamento de Radiologia deve ter um Supervisor das Aplicações das Técnicas Radiológicas (SATR), que é responsável por: 1. Supervisionar e orientar a aplicação das técnicas radiológicas, para garantir a eficiência dos procedimentos, o bom funcionamento do serviço e para assegurar a proteção radiológica de profissionais e de pacientes; 2. Atuar na área de saúde de forma interdisciplinar e multiprofissional, estabelecendo interfaces com os demais profissionais, seguindo princípios éticos e de segurança; TRATAMENTO DA DC A terapêutica da doença de Chagas continua parcialmente ineficaz, apesar dos grandes esforços que vêm sendo desenvolvidos por A radiografia de tórax em um paciente com cardiopatia chagásica crônica e insuficiência cardíaca classe III, mostra cardiomegalia acentuada com praticamente nenhum sinal de congestão pulmonar. MYRELLA TURUBANO – T12 vários laboratórios e pesquisadores, em especial de brasileiros, argentinos, chilenos. CASOS AGUDOS Apesar de todos esses problemas, entre as inúmeras drogas testadas, duas têm sido usadas, com cautela e acompanhamento criterioso. São o nifurtimox (Lampit) e o benzonidazol (Rochagan). Estes medicamentos são indicados especialmente nos casos agudos que tenham ocorrido por transmissão natural, por transfusão sanguínea ou acidental, reagudização por qualquer droga ou doença imunossupressora e na prevenção da transmissão por transplantes de órgãos. NIFURTIMOX: age contra as formas sanguíneas e parcialmente contra as formas teciduais. É administrado via oral, sob a forma de comprimido. Esta droga foi recentemente retirada do mercado (não é encontrada no Brasil. → Nitro-derivado que age através da produção de radicais livres. O parasita é mais sensível devido a uma deficiência no seu repertorio de enzimas anti-oxidantes; → Efeitos adversos: anorexia, náusea, vômitos e reações alergicaas. → Parcialmente efetivo na fase aguda. → Inativo na fase crônica. → Tratamento prolongado (90 dias). → 100 mg/kg por dia; → Somente disponível no Canada e EUA. BENZONIDAZOL: possui efeitos apenas contra as formas sanguíneas. Deve ser empregado em comprimidos, por via oral. → Modo de ação ainda não é completamente claro. Parece inibir a síntese de RNA e proteína; → Efeitos adversos frequentes: anorexia, cefaleia, dermatopatia, gastralgia, insônia, náuseas, perda de peso, polineuropatia e vômitos. → Inativo na fase crônica. → Tratamento prolongado (até 60 dias). → Adultos: 5 mg/kg por dia; → Crianças: 5-10mg/kg por dia. CASOS CRÔNICOS Nos casos crônicos, apesar da pouca eficiência dos medicamentos, aconselha-se o seu emprego, principalmente em crianças ou nos acometidos com a forma indeterminada da doença ou formas cardíacas ou digestivas leves, paralisando, assim, sua evolução. Deve- se, por outro lado, esclarecer ao paciente o penodo prolongado de uso, as reações de toxicidade que provocam e que diminuindo a parasitemia e os ciclos endógenos haverá, pelo menos, redução da evolução da doença. PROFILAXIA Conforme vimos na epidemiologia, a profilaxia da doença de Chagas está intimamente ligada a melhoria das condições de vida de nosso camponês, bem como a modificação do hábito secular de destruição da fauna e da flora. Sabemos que para se alcançar isto será necessário modificar a estrutura, agrária brasileira e a educação sanitária. → Combate ao vetor; → Criação de vacinas; → Melhoria no controle dos bancos de sangue; → Cuidados com alimentos de origem vegetal; → Diagnostico efetivo. REFERÊNCIAS Morris AS. Pathophysiological insights in the cardiomyopathy of Chagas´disease. Circulation 1990; ALMEIDA, Dirceu Rodrigues. Insuficiência cardíaca na doença de Chagas. Revista da Sociedade de, 2004. SIMÕES, Marcus Vinicius et al. Cardiomiopatia da doença de Chagas. International Journal of Cardiovascular Sciences, v. 31, n. 2, p. 173-189, 2018. SITE MEDICINA NET:.