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HEPATITES 1 HEPATITES HEPATITES VIRAIS AGUDAS infecção com um vírus hepatotrópico, que provoca um episódio agudo de inflamação do fígado, que pode seguir com a eliminação espontânea do agente infeccioso ou a sua persistência, que por sua vez leva a infecção crônica ETIOLOGIA 5 vírus de hepatite são responsáveis pela maioria dos casos de hepatite aguda: vírus da hepatite A (HAV) vírus da hepatite B (HBV) vírus da hepatite C (HCV) hepatite D ou delta vírus (HDV) → viroide defeituoso que usa o antígeno de superfície da hepatite B (HBsAg) como o seu envelope; hepatite E (HEV) outros vírus também podem causar inflamação hepática aguda, incluindo membros da família Herpesviridae, como o citomegalovírus humano, vírus Epstein-Barr ou vírus herpes simples EPIDEMIOLOGIA a incidência mundial de hepatite viral aguda está diminuindo por causa da melhora global das condições de higiene e do desenvolvimento e uso de vacinas eficazes contra HAV e HBV PATOLOGIA hepatite viral aguda é caracterizada por necroinflamação hepática aguda nenhum dos vírus hepatotrópicos é citopático (ataca diretamente a célula hepática) acredita-se que a lesão seja mediada por uma forte reação citotóxica das células T contra hepatócitos infectados que expressam antígenos virais na sua superfície as citocinas pró-inflamatórias, células natural killer, e citotoxicidade celular dependente de anticorpos também parecem desempenhar um papel na necroinflamação hepática a reação imunológica às vezes é tão potente que o paciente desenvolve hepatite subfulminante ou mesmo fulminante que requer transplante hepático a eliminação imune bem-sucedida pode levar à depuração viral, que pode ou não estar associada à imunidade ao longo da vida, dependendo do agente infeccioso quando a resposta imune falha e infecção crônica é estabelecida MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS período de incubação - duração de alguns dias ocorre após a infecção e dura de alguns dias a algumas semanas, dependendo do agente causador geralmente caracterizado por sintomas inespecíficos, incluindo náuseas, fadiga, perda de apetite, sintomas de gripe, e/ou dor no quadrante superior direito sintomas imunomediados, incluindo erupção cutânea, urticária, artralgias, edema angioneurótico e febre são observados em 10% a 20% dos pacientes durante a fase pré-ictérica leucopenia e linfocitose relativa são alterações laboratoriais frequentemente encontradas fase aguda os sintomas podem variar amplamente, desde assintomáticos até subictéricos, ictéricos ou grave e fulminante forma ictérica: não é frequente caracterizada por fadiga, anorexia, náuseas, disgeusia, icterícia, urina escura, fezes de cor clara e perda de peso ao exame físico: icterícia e sensibilidade hepática; hepatomegalia e esplenomegalia podem estar presentes HEPATITES 2 em testes laboratoriais, a hepatite viral aguda é caracterizada pela elevação dos níveis bilirrubina total e direta e níveis de aminotransferases que muitas vezes são mais de 10x o limite superior da normalidade hepatite aguda colestática: frequentemente associada à icterícia e prurido prolongados e flutuantes após 1 a 3 semanas, em média, os sinais clínicos e laboratoriais melhoram progressivamente e voltam ao normal alguns pacientes, entretanto, podem sofrer uma recaída antes da resolução definitiva formas fulminantes: caracterizadas por sinais de insuficiência hepática, incluindo mudanças na personalidade, comportamento agressivo, distúrbios do sono e encefalopatia hepática coma pode sobrevir rapidamente, e hemorragia generalizada pode se desenvolver tabela de manifestações: curso típico da doença: DIAGNÓSTICO suspeitado com base em elevados níveis séricos de aminotransferases (geralmente mais de 10x o limite superior da normalidade) os níveis de bilirrubina total e direta são elevados se a hepatite aguda é subictérica ou ictérica HEPATITES 3 os níveis de fosfatase alcalina podem estar elevados em casos de hepatite colestática o teste sorológico e molecular, eventualmente, identifica o agente causal biópsia hepática geralmente não é necessária todos os casos de hepatite aguda devem ser notificados para o departamento estadual e/ou nacional de saúde o mais cedo possível após o diagnóstico tabela de testes laboratoriais: PROGNÓSTICO depende do grau de prolongamento do tempo de protrombina, bem como quão alto estão os níveis de bilirrubina e lactato um nível de fator V abaixo de 40%, ou quaisquer sinais de encefalopatia são indicações para hospitalização morte é extremamente rara e ocorre apenas em casos fulminantes outros sinais de prognóstico ruim são agravamento persistente da icterícia, ascite e uma diminuição aguda no tamanho do fígado os níveis séricos de aminotransferases e os níveis de viremia não têm valor prognóstico HEPATITE A AGUDA ETIOLOGIA HAV é um membro da família Picornaviridae, gênero Hepatovírus capsídeo icosaédrico não envelopado que expressa o antígeno da hepatite A e contém um genoma RNA de cadeia positiva EPIDEMIOLOGIA as infecções podem ser esporádicas ou ocorrer em surtos epidêmicos a incidência de casos agudos e a soroprevalência variam de acordo com a higiene, saneamento, habitação e padrões socioeconômicos da região transmissão: geralmente via fecal-oral, na maioria das vezes diretamente de pessoa para pessoa ou através da ingestão de alimentos ou água contaminados com fezes pode ocorrer por transfusão de sangue e, mais raramente, transmissão perinatal grupos de alto risco: incluem os viajantes para países em desenvolvimento, crianças em creches e seus pais, homens que fazem sexo com homens, usuários de drogas injetáveis, hemofílicos, que recebem produtos de plasma, e as pessoas em instituições HEPATITES 4 faixa etária mais prevalente: < 10 anos de idade FISIOPATOLOGIA o genoma serve como um RNA mensageiro e contém uma fita aberta de leitura única que codifica tanto as proteínas virais estruturais quanto as não estruturais ligação a um receptor específico na superfície dos hepatócitos → penetração do vírus nas células → vírus é desenvelopado eventos subsequentes que ocorrem exclusivamente no citoplasma: tradução da fita aberta de leitura única em uma poliproteína que é posteriormente processada para gerar as proteínas virais maduras replicação em um complexo de replicação ligada à membrana, que gera novos genomas virais, que são posteriormente utilizados para a produção de proteína viral e montagem de partículas virais acondicionamento de genomas recém-formados em partículas novas que são exportados para fora das células o vírus é secretado na bile e, em menor extensão, no soro MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS tipicamente, o período de incubação é de 15 a 45 dias na maioria dos casos, a infecção aguda leva um curso leve, muitas vezes não reconhecido a incidência de casos sintomáticos, ictéricos, aumenta com a idade no momento da infecção em adultos, pode necessitar de hospitalização cursos prolongados de 6 a 9 meses são mais raros, mas podem ser observados hepatite A é a causa mais comum de hepatite colestática recorrente DIAGNÓSTICO baseado na detecção de anticorpos anti-HAV da imunoglobulina (Ig) M no soro por ensaios imunoenzimáticos os níveis séricos de IgM atingem o ponto máximo durante o segundo mês de infecção o RNA do HAV pode ser transitoriamente detectado nas fezes e outros fluidos corporais, por reação em cadeia da polimerase (PCR) 3 a 10 dias antes do início da doença e de 1 a 2 semanas subsequentes geralmente testes de RNA do HAV não são necessários quando a infecção é curada, anti-HAV IgM desaparece após 4 a 12 meses, mas anti-HAV IgG persiste por toda a vida e confere proteção definitiva contra a infecção TRATAMENTO como a infecção pelo HAV é autolimitada, nenhum tratamento antiviral específico é necessário em casos graves, pode ser necessária hospitalização se a função hepática está se deteriorando, os pacientes podem precisar de avaliação para transplante de fígado, que é a única opção terapêutica para insuficiênciahepática aguda PREVENÇÃO VACINA duas doses da vacina em um intervalo de 6 meses são recomendadas é recomendado a aplicação aos 12 e aos 18 meses de idade recomendada para indivíduos não imunes que planejam viajar para países endêmicos, profissionais da saúde, homens que fazem sexo com homens, pessoas que estão em contato com pacientes com hepatite A e os indivíduos com doenças hepáticas crônicas programa de vacinação para crianças é recomendado para controle em países endêmicos PROGNÓSTICO a infecção aguda geralmente desaparece sem complicações em 3 a 4 semanas e nunca evolui para infecção crônica HEPATITES 5 pode haver elevações prolongadas de níveis séricos de aminotransferase e também recaídas algumas semanas após o quadro agudo cursos prolongados podem ocorrer em crianças e indivíduos imunossuprimidos hepatite colestática é incomum e tem um bom prognóstico, com recuperação completa em algumas semanas hepatite A fulminante é rara, ocorrendo em menos de 0,1% dos casos, mas a sua incidência e mortalidade aumentam com o aumento da idade do paciente no momento da aquisição HEPATITE B AGUDA ETIOLOGIA HBV é um membro da família Hepadnaviridae, gênero Hepadnavírus o virion infeccioso possui um envelope e uma cápside ou núcleo que contém o genoma de DNA circular, de fita parcialmente dupla EPIDEMIOLOGIA os virions são produzidos e circulam em quantidades muito elevadas em indivíduos infectados pelo HBV, e são altamente contagiosos transmissão: 4 vias principais de transmissão são responsáveis pelas infecções agudas por HBV: (1) de transmissão sexual - a principal em áreas industrializadas (2) de transmissão da mãe para o bebê perinatal - associado a uma taxa muito elevada (> 90%) de infecção crônica (3) de transmissão horizontal através do contato não sexual interindividual - associada à evolução para a cronicidade em cerca de 15% dos casos (4) transmissão percutânea por sangue e seus produtos, materiais cirúrgicos ou clínicos perigosos ou uso de drogas injetáveis grupos de alto risco: os indivíduos nascidos em áreas onde o HBV é endêmica, incluindo imigrantes e crianças adotadas, os indivíduos que não foram vacinados quando crianças, cujos pais nasceram em regiões onde o HBV é endêmica; contato com familiares e contatos sexuais com indivíduos HBsAg positivos; pessoas que já consumiram drogas injetaveis; pessoas com múltiplos parceiros sexuais ou histórico de doença sexualmente transmissível, homens que fazem sexo com homens; detentos em penitenciárias, pacientes infectados com HCV, ou HIV, pacientes submetidos à diálise renal; receptores de sangue ou hemoderivados antes de 1987, e profissionais de saúde FISIOPATOLOGIA o ciclo de vida do complexo HBV envolve várias etapas: fixação para um complexo receptor na superfície dos hepatócitos; internalização; fusão e liberação do nucleocápside contendo o genoma HBV DNA e associação com a molécula da polimerase do HBV no citoplasma da célula; transporte para o núcleo, onde ocorre descapsidação e o genoma da molécula de DNA é liberado; transformação do genoma viral em um DNA circular covalentemente fechado, que é a forma responsável pela persistência do genoma do HBV no núcleo de hepatócitos infectados; geração de RNAs mensageiros e síntese de proteínas virais; geração de um RNA pregenômico, que serve como um modelo para a transcrição reversa, que gera a fita longa de DNA; degradação do RNA pregenômico; síntese do DNA de cadeia curta complementar nos nucleocápsides recém-formados, pela DNA polimerase dependente de DNA da transcriptase reversa HEPATITES 6 no retículo endoplasmático, maturação e exportação de virions recém-formados MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS tipicamente, o período de incubação é de 30 a 150 dias icterícia tem sido relatada em até um terço dos pacientes adultos com hepatite B aguda, mas a maioria dos casos não é reconhecida entre os pacientes sintomáticos, as manifestações são semelhantes aos de outras causas de hepatite viral aguda DIAGNÓSTICO 4 marcadores devem ser pesquisados para o diagnóstico de hepatite aguda B: HBsAg, anticorpos anti-HBc total, anti- HBc IgM, e anticorpos anti-HBs hepatite B aguda é caracterizada pela presença simultânea de ambos HBsAg e IgM anti-HBc durante a fase de convalescença, os pacientes perdem HBsAg antes do aparecimento de anticorpos anti-HBs; eles podem apresentar anticorpos anti-HBc isolado, e o diagnóstico baseia-se na presença de anti-HBc IgM a recuperação é caracterizada pelo aparecimento de anticorpos anti-HBs a presença de anticorpos tanto anti-HBc total e anti-HBs caracteriza a recuperação da hepatite B aguda o anti-HBc IgG permanece em níveis elevados para toda a vida do paciente, enquanto os títulos de anticorpos anti-HBs podem flutuar e tornar-se indetectáveis após vários anos avaliação quantitativa de HBsAg pode ser útil durante o curso da hepatite B aguda, porque se o nível de HBsAg não diminuir rapidamente, o paciente está em risco para a evolução crônica pacientes que permanecem com HBV-DNA e/ou HBeAg positivo após 6 semanas do início dos sintomas são suscetíveis a desenvolver infecção crônica gráfico dos marcadores: TRATAMENTO infecção aguda por HBV geralmente não requer terapia antiviral, e a maioria dos pacientes se cura espontaneamente da infecção a terapia antiviral com lamivudina pode diminuir os níveis de HBV DNA mais rapidamente, mas não resulta em melhora clínica ou bioquímica e pode estar associada a níveis mais baixos de proteção anti-HBs em 1 ano PREVENÇÃO VACINAÇÃO HEPATITES 7 administração de HBsAg recombinante em três injeções em zero, um e seis meses em adultos uma dose mais baixa é dada em recém-nascidos, crianças e adolescentes adultos em diálise necessitam de quatro injeções nos meses 0, 1, 2 e 6 programa de vacinação infantil rastreamento de indivíduos de alto risco (por exemplo, trabalhadores da saúde, pacientes de diálise, familiares e parceiros sexuais de portadores do HBV, gestantes e homens que fazem sexo com homens) para a infecção HBV por HBsAg e testes de anticorpos anti-HBs, e posterior vacinação das pessoas soronegativas crianças nascidas de mães HBsAg-positivas devem receber imunoglobulina contra hepatite B e ser vacinadas no prazo de 12 horas após o nascimento; este regime reduz a taxa de transmissão do HBV vertical de 95% a menos de 5%. PROGNÓSTICO hepatite fulminante é mais frequente na infecção por HBV aguda do que em outros tipos de hepatite viral aguda fatores associados a prognósticos adversos da hepatite B aguda incluem a idade avançada, o sexo feminino e talvez algumas cepas do vírus a recuperação espontânea confere imunidade ao longo da vida, o qual é geralmente caracterizado pela presença de anticorpos anti-HBs os títulos de Anti-HBs podem se tornar indetectáveis vários anos após o clareamento viral, mas os pacientes rapidamente produzem anticorpos protetores se forem novamente expostos ao HBV RN é a faixa etária que mais cronifica HEPATITE C AGUDA ETIOLOGIA HCV é um membro da família Flaviviridae, gênero Hepacivírus o genoma é uma molécula de RNA positiva, linear de filamento único, cuja extremidade 5′ contém um local de entrada ribossômica interna envolvido na tradução de poliproteína o genoma está contido em uma proteína da cápside ou do núcleo, que em si é rodeado por um envelope de bicamada lipídica em que são inseridas duas glicoproteínas virais mediante fixação da partícula viral em moléculas receptoras na superfície das células-alvo EPIDEMIOLOGIA nos países industrializados, a incidência de infecção pelo HCV diminuiu consideravelmente devido à triagem de sangue e medidas para prevenir infecções virais em usuários de drogas intravenosas transmissão: quase que exclusivamente por sangue infectado uso de drogas por via intravenosa procedimentos médicos ou cirúrgicos inseguros → transmissão nosocomial através do uso de materiais indevidamente descontaminados ou as mãos contaminadas ou luvas de profissionais de cuidados desaúde é responsável por um número substancial de novas infecções em todo o mundo uso de piercing, tatuagens, acupuntura ou se as precauções-padrão não são implementadas transmissão sexual é incomum, mas surtos de hepatite aguda foram relatados em comunidades HIV-positivas de homens que fazem sexo com homens o risco de transmissão de mãe para lactentes de HCV é inferior a 5% e está geralmente relacionada à exposição a sangue da mãe no período perinatal cesarianas não são recomendadas amamentação não é contraindicada FISIOPATOLOGIA HEPATITES 8 a entrada de HCV em células é dependente do pH através de endocitose mediada por clatrina e é seguida por fusão a decapsidação de nucleocápsides virais libera RNAs genômicos livres para o citoplasma da célula, onde eles servem, junto com RNAs recentemente sintetizadas, como RNAs mensageiros para a síntese da poliproteína do HCV a formação de partículas virais é iniciada pela interação da proteína do núcleo com o RNA genômico MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS o RNA do HCV torna-se detectável no soro de 3 a 7 dias após a exposição níveis de HCV RNA aumentam rapidamente durante as primeiras semanas, seguido dos níveis de transaminases séricas 2 a 8 semanas após a exposição anticorpos anti-HCV surgem no final do curso de hepatite C aguda e podem não estar presentes no início dos sintomas após um período de incubação que varia de 15 a 120 dias, a hepatite C aguda geralmente é assintomática sintomas inespecíficos como fadiga, febre baixa, mialgias, náuseas, vômitos, ou coceira podem estar presentes icterícia ocorre em apenas 20% a 30% dos pacientes, geralmente 2 a 12 semanas após a infecção os níveis de aminotransferase sérica comumente atingem níveis 10x o limite superior do normal na fase aguda, mesmo na ausência de sintomas hepatite C fulminante tem sido relatada, mas parece ser excepcional na ausência de outra doença hepática crônica subjacente DIAGNÓSTICO presença do HCV RNA, na ausência de anticorpos anti-HCV é fortemente indicativo da infecção pelo HCV aguda, que será confirmada pela soroconversão (isto é, o aparecimento de anticorpos anti-HCV) poucos dias ou semanas mais tarde pacientes com infecção aguda podem ter tanto o HCV RNA quanto anticorpos anti-HCV no momento do diagnóstico, neste caso, é difícil distinguir hepatite C aguda de uma exacerbação aguda de hepatite C crônica ou hepatite aguda de outra causa em um paciente com hepatite C crônica padrões dos marcadores: TRATAMENTO deve ser considerado porque impede a infecção crônica, que pode levar a sequelas clínicas graves, e também porque a viremia, que está associada a um risco de transmissão do HCV a outras pessoas, pode ter consequências sociais, legais e econômicas o tratamento é baseado no uso de interferon-α2a ou -α2b peguilado em doses de 180 μg/semana ou 1,5 μg/kg/semana, respectivamente deve ser administrado durante 24 semanas, mas uma duração mais curta pode ser suficiente ribavirina deve ser adicionada em pacientes que têm redução lenta do HCV RNA com o tratamento, infectados pelo genótipo 1 e que têm níveis baixos e/ou normais de alanina aminotransferase se o tratamento falhar para eliminar o vírus, os pacientes podem ser tratados com uma combinação de interferon-α2a peguilado (180 μg/semana) ou -α2b (1,5 μg/kg/ semana) e ribavirina (0,8 g/dia) durante 48 semanas após a exposição acidental com agulha, nem a imunoglobulina nem a terapia preventiva com interferon-α peguilado é recomendada os pacientes devem ser monitorados com HCV RNA e aminotransferases no início, na semana 2 e 4 e 6º mês após a exposição PREVENÇÃO HEPATITES 9 baseada em medidas de precauções-padrão, como o rastreio de sangue e seus produtos, a aplicação de procedimentos-padrão de higiene médica e cirúrgica, e a utilização segura de seringas e materiais para a preparação de medicamentos em usuários de drogas não há vacina disponível PROGNÓSTICO cerca de 50% a 80% dos pacientes são incapazes de eliminar o HCV espontaneamente e desenvolvem infecção crônica recuperação espontânea é mais frequente se a infecção é adquirida no nascimento (aproximadamente 50%) e se a hepatite aguda é sintomática fatores associados a melhores taxas de recuperação espontânea: sexo feminino, o declínio precoce dos níveis de HCV RNA, e altos níveis de transaminases ou bilirrubina pacientes que se recuperam espontaneamente podem apresentar anticorpos anti-HCV detectáveis por anos, mas não estão protegidos contra a reinfecção pelo HCV HEPATITE D AGUDA ETIOLOGIA a HDV, que é um vírus satélite do HBV, pode ser transmitida apenas para os pacientes que estão aguda ou cronicamente infectados com HBV genoma de RNA circular de fita negativa única esse genoma HDV codifica uma única proteína estrutural, a proteína da hepatite D (HD), que expressa HDAg EPIDEMIOLOGIA transmissão: principalmente através da exposição parenteral a prevalência é relativamente mais elevada em HBsAg-positivos usuários de drogas intravenosas FISIOPATOLOGIA o HDV utiliza um RNA polimerase II do hospedeiro para a sua replicação dentro das células, RNA do HDV está associado a múltiplas cópias da proteína de HD para formar um complexo ribonucleoproteína; o qual é exportado pelo envelope do HBV, que contém as três proteínas de envelope de HBV, no aparelho de Golgi, antes de ser segregada MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS pode ser adquirido ao mesmo tempo com o HBV (coinfecção) ou por um portador crônico do HBsAg (superinfecção) coinfecção: caracterizada por um ou dois episódios de hepatite aguda, dependendo das quantidades respectivas de HBV e HDV presentes no inóculo a hepatite aguda pode variar de leve a fulminante quando portadores crônicos do HBV são superinfectados pelo HDV, a hepatite D aguda é geralmente grave, muitas vezes fulminante e crônica DIAGNÓSTICO 3 marcadores de infecção HDV são: anticorpos anti-HDV total, anti-HDV- IgM, e HDV RNA; cada um pode ser detectado e quantificado por PCR em tempo real todos os pacientes HBsAg-positivos devem ser testados em pacientes com coinfecção HBV-HDV, o RNA do HDV é apenas transitoriamente presente e muitas vezes passa despercebido o anti-HBc IgM indica concomitante infecção aguda por HBV na superinfecção por HDV de um portador de HBsAg crônico, nenhum anti-HBc IgM está presente HEPATITES 10 o RNA do HDV é encontrado no soro ou plasma, antes e durante o episódio agudo, enquanto ambos os anticorpos anti-HDV totais e anti-HDV IgM estão presentes durante a fase aguda ambos os marcadores sorológicos permanecem em níveis elevados se a doença se torna crônica TRATAMENTO não há PREVENÇÃO VACINAÇÃO do HBV → indivíduos protegidos contra o HBV não podem ser infectados com HDV em portadores crônicos de HBsAg, higiene e precauções-padrão de comportamento devem ser praticadas para evitar a superinfecção com HDV PROGNÓSTICO em pacientes que estão agudamente coinfectados com HBV e HDV, apenas cerca de 2% tornam-se portadores crônicos HDV quando a infecção é adquirida HDV por portadores crônicos de HBV, cerca de 90% também se tornam portadores crônicos de HDV HEPATITE E AGUDA ETIOLOGIA o HEV é o único membro conhecido do Hepevírus no gênero na família Hepeviridae HEV é um vírus, pequeno não envelopado genoma formado de fita positiva única de RNA EPIDEMIOLOGIA transmissão: principalmente por via fecal-oral pode ser favorecida pelo consumo de carne crua e contato direto com animais infectados HEV é endêmico na maioria das áreas em desenvolvimento do mundo, onde as infecções agudas são esporádicas ou ocorrem durante grandes epidemias relacionadas à contaminação da água potável FISIOPATOLOGIA produz inflamação e necrose do fígado MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS o período de incubação é 15 a 60 dias a infecção provoca apenas sintomas leves, inespecíficos, na maioria dos casos, especialmente se a infecção é adquirida precocemente na vida indivíduos imunocompetentes eliminam o vírus espontaneamente o pico de viremia ocorre cedo durante a infecção, enquanto o picode atividade de aminotransferase é atingido cerca de 6 semanas após a infecção doença grave é mais frequente em gestantes e em pacientes com doença hepática crônica subjacente, que raramente pode progredir para insuficiência hepática fulminante DIAGNÓSTICO baseado na detecção de anticorpos anti-HEV IgM o RNA do HEV também pode ser detectado nas fezes, soro ou plasma, onde a sua presença é transitória anti-HEV IgG geralmente persiste por toda a vida após a infecção aguda TRATAMENTO não é recomendado porque a maioria dos pacientes se recupera espontaneamente HEPATITES 11 PREVENÇÃO melhora da higiene pública em áreas com HEV endêmica, cuidar com a água que se bebe e a ingestão de alimentos crus PROGNÓSTICO casos agudos podem ser graves em pacientes idosos, e os casos fulminantes são frequentes entre as gestantes que são infectadas durante epidemias transmitidas pela água HEV comumente não evolui para infecção crônica, mas os pacientes imunossuprimidos e indivíduos HIV-positivos podem tornar-se portadores crônicos HEPATITES CRÔNICAS necroinflamação hepática crônica que pode ser decorrente de diversas causas, incluindo vírus hepatotrópicos, autoimunidade, álcool e doenças metabólicas EPIDEMIOLOGIA a infecção crônica pelos vírus da hepatite é, de longe, a causa principal de hepatite crônica em todo o mundo as hepatites virais crônicas B e C são a principal causa de cirrose e de carcinoma hepatocelular em todo o mundo a infecção crônica pelo HBV pode estar associada à infecção pelo vírus da hepatite D (HDV) o vírus da hepatite A não causa hepatite crônica; nem vírus da hepatite E (HEV), exceto raramente em pacientes que se submetem a transplante de fígado MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS os sintomas clínicos da hepatite crônica viral e da hepatite autoimune são tipicamente inespecíficos, e muitos pacientes não têm sintomas fadiga, distúrbios do sono e dor no hipocôndrio direito podem estar presentes sintomas mais avançados: falta de apetite, náuseas, perda de peso, fraqueza muscular, prurido, urina escura e icterícia os pacientes podem evoluir para cirrose plenamente estabelecida, com as suas manifestações clínicas típicas se a cirrose estiver presente, fraqueza, perda de peso, aumento do volume abdominal, edema, facilidade de aparecimento de equimoses, hemorragia gastrointestinal e encefalopatia hepática com confusão mental podem ocorrer outros achados podem incluir aranhas vasculares, eritema palmar, ascite, edema e escoriações da pele DIAGNÓSTICO muitas vezes é feito quando anormalidades hepáticas são identificadas por exames de sangue durante uma avaliação de saúde de rotina ou para apreciação de um problema não relacionado ao fígado ou no momento da doação voluntária de sangue testes: HEPATITES 12 os níveis de alanina aminotransferase (ALT) e aspartato aminotransferase (AST) são geralmente de 2 a 5 vezes o limite superior do normal o nível de ALT é geralmente maior do que o nível de AST, mas ambos podem ser normais na doença leve ou inativa ou 10 a 25 vezes o limite superior do normal durante as exacerbações agudas níveis de fosfatase alcalina e γ-glutamil transpeptidase estão em geral minimamente elevados, a menos que a cirrose se encontre presente níveis séricos de bilirrubinas e de albumina e do tempo de protrombina são normais, a menos que a doença seja grave ou avançada níveis séricos de imunoglobulinas estão levemente elevados ou normais na hepatite viral crônica, mas podem estar muitos elevados na hepatite autoimune o grau histológico de hepatite crônica pode ser determinado mediante combinação de pontuações para necrose e inflamação periportal, necrose e inflamação lobulares, e inflamação portal US do fígado: pode determinar a textura e o tamanho do fígado e do baço, excluir massas hepáticas, e avaliar a vesícula biliar, vias biliares intra-hepáticas e fluxo venoso portal TC e RM do fígado: úteis se uma massa ou outra anormalidade for evidenciada pela US elastografia hepática: pode estimar a rigidez do fígado como um marcador de fibrose biópsia hepática: é geralmente decisiva para o diagnóstico e para definir o estádio da doença pode excluir outros diagnósticos que podem confundir com a hepatite crônica, incluindo doença hepática gordurosa alcoólica e não alcoólica, doença hepática induzida por fármacos, colangite esclerosante, sobrecarga de ferro, e doença venoclusiva pacientes com suspeita de hepatite crônica viral ou hepatite autoimune devem ser avaliados com cuidado para doença hepática gordurosa alcoólica e não alcoólica ou induzida por fármacos, doenças hepáticas metabólicas, cada qual podendo coexistir com a hepatite viral TRATAMENTO infecção crônica pelo HBV não é curável, mas geralmente pode ser controlada por medicamentos antivirais adequados infecção por HCV é curável, mas menos de 50% dos pacientes que têm acesso à terapia são curados hepatite autoimune responde à imunossupressão com corticosteroides e azatioprina HEPATITE B CRÔNICA infecção crônica pelo HBV é definida pelo estado do portador do HBsAg por mais de 6 meses após o episódio agudo EPIDEMIOLOGIA HBV é a principal causa de câncer primário de fígado (carcinoma hepatocelular) em todo o mundo FISIOPATOLOGIA HBV não é um vírus citopático a lesão do fígado na hepatite B crônica é uma consequência da resposta imune local na fase de imunoeliminação relacionada a células T citotóxicas que reconhecem e eliminam hepatócitos infectados que expressam antígenos do HBV em sua superfície e com a produção local de citocinas a inflamação crônica desencadeia fibrogênese pela ativação de células estreladas hepáticas a proteína X do HBV pode também ativar diretamente a fibrogênese por isso, muitos pacientes com hepatite B crônica têm fibrose progressiva, podendo evoluir para cirrose HEPATITES 13 marcadores: o HBeAg, quando presente, define a hepatite B crônica, HBeAg positivo, que pode ser clareado, tornando o paciente positivo para o anti-HBe, o que é definido como a soroconversão HBe HBeAg pode estar ausente, enquanto anticorpos anti-HBe estão presentes, o que define hepatite B crônica, HBeAg negativo pacientes com hepatite B crônica HBeAg positivo são infectados com vírus do tipo selvagem e secretam a proteína HBe pacientes com hepatite B crônica HBeAg negativo são infectados com vírus com mutação pré-core, que não produzem a proteína HBe, porque eles têm um códon de parada no gene pré-C, e/ou com vírus com mutação no promotor core, que produzem consideravelmente menor quantidade de proteína HBe os portadores crônicos de HBsAg tipicamente evoluem em 3 fases: imunotolerância: é geralmente curta se a infecção ocorreu durante a idade adulta, mas ela persiste por anos a décadas em pacientes infectados ao nascimento ou durante a primeira infância a resposta imune do hospedeiro “tolera” a infecção pelo HBV e não causa inflamação do fígado ou destruição dos hepatócitos é caracterizada pela presença do antígeno e HBeAg, níveis muito elevados do HBV DNA no sangue, níveis normais de aminotransferases e nenhuma ou mínima atividade inflamatória à biópsia hepática imunoeliminação: tem duração variável, desde poucas semanas a várias décadas caracterizada por uma resposta imune ativa que provoca lesões necroinflamatórias e desencadeia fibrogênese hepática e fibrose progressiva os níveis de ALT e AST estão aumentados, mas os níveis do HBV DNA são mais baixos do que durante a fase de imunotolerância e frequentemente flutuam inativa: é o resultado da eliminação imune bem-sucedida o que leva a soroconversão do HBe os níveis de ALT e AST são normais, o HBV DNA é indetectável ou em níveis muito baixos, e pacientes sem cirrose preexistente podem ter histologia do fígado normal MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS geralmente assintomática o sintoma mais comum é a fadiga, mas distúrbios do sono, dificuldade de concentração e dor no hipocôndrio direito são frequentemente observados é caracterizada biologicamente por elevados níveis de aminotransferasese os níveis de ALT podem variar substancialmente durante a fase de imunoeliminação colestase moderada, com níveis discretamente elevados de fosfatase alcalina e de γ-glutamil transpeptidase, pode também estar presente, especialmente em pacientes com cirrose hepatite crônica B HBeAg negativo é geralmente mais grave do que a variedade HBeAg positivo após a soroconversão HBe frequentemente se observa elevação transitória da ALT alguns pacientes evoluem para o estado de portador do HBsAg inativo, enquanto outros evoluem para forma de hepatite crônica B HBeAg-negativo, com níveis elevados de ALT e quantificação do DNA do HBV superior a 2.000UI/mL o risco de cirrose é de 2 a 4 vezes maior em pacientes HBeAg negativo em comparação a HBeAg positivo, provavelmente porque eles são mais velhos e têm doença mais grave no momento do diagnóstico raramente a infecção crônica pelo HBV está associada a manifestações extra-hepáticas, incluindo glomerulonefrite, mais frequentemente em crianças, e poliarterite nodosa, principalmente em adultos DIAGNÓSTICO HEPATITES 14 marcadores sorológicos utilizados para diagnosticar a hepatite B crônica: HBsAg, anti-HBs, anti-HBc total e anti-HBc IgM, HBeAg e anti-HBe os marcadores moleculares incluem DNA do HBV e as substituições de resistência do HBV; ensaios com a reação em cadeia da polimerase (PCR) em tempo real são a melhor maneira de detectar e quantificar o HBV DNA os níveis séricos ou plasmáticos da ALT e do HBV DNA são importantes marcadores de gravidade e prognóstico a avaliação da gravidade, incluindo o grau de necroinflamação e o estádio de fibrose, baseia-se nas alterações histológicas encontradas na biópsia do fígado avaliação não invasiva por meio de marcadores sorológicos ou por elastografia hepática transitória pode discriminar cirrose de hepatite discreta e fibrose leve embora eles não sejam suficientemente precisos para estádios intermediários, esses métodos no futuro provavelmente irão substituir a biópsia hepática na avaliação da gravidade pré-tratamento da hepatite B crônica TRATAMENTO pacientes com hepatite B crônica devem ser vacinados contra a hepatite A, abster-se do álcool e evitar terapias imunossupressoras, a menos que sejam absolutamente necessárias pacientes infectados com o HBV, pacientes que necessitam de corticoides ou quimioterapia para outras condições devem receber lamivudina 100 mg por dia como profilaxia contra a reativação da hepatite B objetivos: suprimir a replicação do HBV, reduzir a atividade inflamatória histológica da hepatite crônica e diminuir o risco de cirrose e carcinoma hepatocelular a infecção pelo HBV não pode ser completamente erradicada por causa da persistência do DNA circular covalentemente fechado (cccDNA) nos núcleos dos hepatócitos infectados por isso, a terapia visa reduzir os níveis de DNA do HBV, de preferência, abaixo do limite de detecção dos ensaios de PCR em tempo real (10 a 15 UI/mL), para garantir um grau de supressão viral que conduza à remissão bioquímica, melhora histológica e prevenção de complicações existem dois tipos diferentes de fármacos para o tratamento de hepatite B crônica; o interferon-α (IFN-α) peguilado e os análogos de nucleosídeos/nucleotídeos IFN-α 2a peguilado, administrado por via subcutânea na dose de 180 μg 1x por semana durante 48 semanas, melhora vários marcadores de infecção pelo HBV em ambos os grupos de pacientes HBeAg positivo e HBeAg negativo efeitos colaterais mais frequentes de IFN-α são os sintomas gripais após as injeções, fadiga, anorexia, perda de peso e alopecia efeitos colaterais mais preocupantes são neutropenia, trombocitopenia, ansiedade, irritabilidade, depressão e até mesmo ideação suicida análogos de nucleosídeos (lamivudina, telbivudina e entecavir) requerem fosforilação tripla para serem ativos, enquanto análogos de nucleotídeos (adefovir e tenofovir) só precisam de duas fosforilações esses fármacos são administradas oralmente 1 vez ao dia nas seguintes dosagens: 100 mg de lamivudina, 600 mg de telbivudina, 0,5 mg de entecavir, 10 mg de adefovir (administrado como o pró-fármaco adefovir dipivoxil), e 300 mg de tenofovir (administrado como o pró-fármaco fumarato de disoproxilo de tenofovir) HEPATITES 15 todos têm benefícios a curto prazo em vários marcadores da infecção pelo HBV em pacientes HBeAg positivo e HBeAg negativo PROGNÓSTICO cada ano, cerca de 0,5% dos portadores inativos de HBsAg perdem espontaneamente o HBsAg, e a maioria deles desenvolve anti-HBs reativações são possíveis em portadores inativos do VHB, especialmente se ele se tornam imunossuprimidos, como durante a quimioterapia ou com a administração de corticosteroides reativações do HBV muitas vezes evoluem para formas subfulminantes ou fulminantes risco de cirrose em hepatite B crônica está significativamente associada a níveis mais altos do DNA do HBV, idosos, consumo de álcool, coinfecção com outros vírus hepatotrópicos, e coinfecção com o HIV complicações da cirrose, incluindo o carcinoma hepatocelular, estão entre as principais causas de mortalidade em pacientes infectados pelo HBV HEPATITE C CRÔNICA infecção crônica pelo HCV é definida pela persistência do RNA do HCV por mais de 6 meses FISIOPATOLOGIA a infecção aguda pelo HCV evolui para formas crônicas em 50% a 80% dos casos pacientes que espontaneamente se curam e mantêm anticorpos anti-HCV detectáveis não estão protegidos contra a reinfecção a persistência da infecção está relacionada a resposta alterada qualitativa e quantitativamente de células T auxiliares CD4+ e de linfócitos T citotóxicos que falham em erradicar a infecção a infecção pelo HCV é responsável por lesões necroinflamatórias de gravidade variável, por vezes associadas à esteatose, que é o acúmulo de triglicérides nos hepatócitos HCV não é um vírus citopático → a lesão hepática está relacionada à ação de efetores imunes que reconhecem e eliminam os hepatócitos infectados que expressam antígenos do HCV em sua superfície a inflamação crônica desencadeia fibrogênese mediante ativação de células estreladas hepáticas a fibrose progride em taxas não lineares, que são geralmente mais rápidas em pacientes mais idosos, no sexo masculino, e na presença de ingestão crônica de álcool, coinfecções virais ou imunossupressão a inflamação crônica e a progressão da fibrose predispõem os doentes à cirrose e ao carcinoma hepatocelular MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS o sintoma mais comum associado à infecção crônica pelo VHC é a fadiga, mas pode permanecer inaparente durante anos os níveis de ALT estão geralmente moderadamente elevados e flutuam, mas podem permanecer normais por semanas a meses, apesar de hepatite se mostrar ativa na biópsia hepática colestase moderada pode estar presente em pacientes com cirrose os pacientes com cirrose e/ou carcinoma hepatocelular têm sinais típicos associados a essas condições HCV é a principal causa de crioglobulinemia mista dos tipos II III menos de 1% dos pacientes infectados pelo HCV desenvolve sintomas de vasculite crioglobulinêmica incluindo fadiga, mialgias, artralgias, rash (púrpura, urticária e vasculite leucocitoclástica), neuropatia e glomerulonefrite membranoproliferativa crioglobulinemia pode ser grave e evoluir com insuficiência renal ou neuropatias graves, e a crioglobulinemia de evolução prolongada tem sido associada a linfomas não Hodgkin de células B DIAGNÓSTICO em pacientes com sinais clínicos e/ou bioquímicos de doença hepática crônica, a hepatite C é diagnosticada pela presença simultânea de anticorpos anti-HCV e do RNA do HCV HEPATITES 16 a detecção de replicação do HCV na ausência de anticorpos anti-HCV é observada quase exclusivamente em pacientes que estão profundamente imunossuprimidos, em hemodiálise ou agamaglobulinêmicos o genótipo do HCV, que tem importantes implicações terapêuticas, deve ser determinado TRATAMENTO a infecção crônica pelo HCV é curável objetivo: alcançar uma resposta virológica sustentada, definida pela não detecçãodo RNA do HCV após 24 semanas do fim da terapia utilizando um ensaio sensível de detecção do RNA do HCV com limite inferior de 50 UI/mL ou menos a decisão de tratar a hepatite C crônica depende de uma avaliação mais precisa da gravidade da doença hepática, da presença de contraindicações absolutas ou relativas à terapia, e da disposição do paciente em ser tratado a decisão de tratar geralmente requer uma biópsia do fígado, mas os marcadores sorológicos de fibrose hepática e/ou fibrogênese e a elastografia hepática transitória foram validados em grandes séries de pacientes com hepatite C crônica pacientes sem indicação de tratamento ou com contraindicações para serem tratados, avaliações repetidas dos níveis de aminotransferases são recomendadas periodicamente avaliação da inflamação e da fibrose hepática por biópsia ou por testes sorológicos não invasivos ou por exame ultrassonográfico do abdome está indicada em pacientes com níveis de aminotransferases persistente ou intermitentemente elevados tratamento-padrão atual da hepatite C crônica é a combinação de ribavirina (0,75 a 1,5 g/dia por via oral) com IFN peguilado α-2a (180 μg por via subcutânea 1 vez/semana) ou com o IFN peguilado α-2b (1,5 μg/kg por via subcutânea 1 vez/semana) algoritmo de tratamento: PROGNÓSTICO estima-se que 20% dos pacientes com hepatite C crônica desenvolvem cirrose e isso ocorre, em média, 20 anos após o início da infecção essa cirrose permanece compensada por muitos anos na maioria dos pacientes, mas a descompensação ocorre a uma taxa anual de 2% a 5% depois da primeira descompensação, a taxa de mortalidade relacionada à hipertensão portal, a insuficiência hepatocelular e o carcinoma hepatocelular é de 10% ao ano, com taxa de sobrevida de 50% em 5 anos o risco de morte aumenta com o avanço da idade, sexo masculino, e a gravidade da cirrose carcinoma hepatocelular é raro em pacientes com hepatite C crônica sem cirrose HEPATITES 17 o HCV não retorna em mais de 99% dos pacientes que obtiveram resposta virológica sustentada, mesmo naqueles que são imunodeprimidos ou que recebem quimioterapia doença hepática pode continuar a evoluir, mesmo após a infecção ter sido erradicada pacientes com hepatite C crônica devem se abster de álcool e, a menos que haja outras contraindicações, devem ser vacinados contra as hepatites A e B HEPATITE D CRÔNICA EPIDEMIOLOGIA ocorre apenas em portadores do HBsAg somente cerca de 2% dos pacientes coinfectados de forma aguda com HDV e HBV desenvolvem hepatite D crônica em portadores crônicos do HBV com superinfecção pelo HDV, no entanto, 90% dos pacientes tornam-se portadores crônicos do HDV MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS é geralmente grave, com mais de 80% dos pacientes desenvolvendo cirrose em comparação a pacientes que têm apenas hepatite B crônica, os pacientes com infecção crônica por ambos, HBV e HDV, têm probabilidade três vezes maior de desenvolver carcinoma hepatocelular e são duas vezes mais propensos a morrer DIAGNÓSTICO os marcadores de infecção pelo HD após devem ser procurados pelo menos uma vez em cada portador crônico do HBsAg ambos os anticorpos anti-HDV total e anti-HDV IgM permanecem em altos níveis na infecção crônica pelo HDV, e o RNA do HDV está presente embora todos os portadores crônicos pelo HDV sejam também portadores crônicos do HBsAg, eles geralmente têm níveis baixos ou indetectáveis do DNA do HBV, porque o HDV inibe a replicação do HBV TRATAMENTO doses elevadas de IFN-α convencional não peguilado resulta na normalização sustentada dos níveis de ALT após 24 semanas do final da terapia em aproximadamente 50% dos casos, por vezes, por até 20 anos alguns pacientes eliminam o RNA do HDV e, finalmente, o HBsAg o IFN-α 2b peguilado, 1,5 μg/kg 1x por semana por 12 meses, fornece uma resposta virológica sustentada em 20% a 40% dos casos embora não haja consenso, a maioria dos especialistas recomenda atualmente 1 ano de IFN-α peguilado como tratamento de primeira linha da infecção pelo HDV crônica PREVENÇÃO infecção crônica pelo HDV é mais bem evitada prevenindo-se contra a infecção primária pelo HBV, porque os indivíduos que estão protegidos contra o HBV não se infectam com o HDV em portadores crônicos do HBsAg, a higiene-padrão e precauções comportamentais devem ser praticadas para evitar a superinfecção com o HDV uma vez que a infecção aguda pelo HDV ocorre, nenhuma estratégia de prevenção secundária é bem-sucedida HEPATITE E CRÔNICA embora se pensasse que a infecção pelo HEV fosse autolimitada, ela pode persistir e causar inflamação hepática em receptores de transplante de órgãos sólidos que abrigam o RNA do HEV no sangue e no fígado, tanto a partir de um vírus latente reativado pela imunossupressão quanto por vírus transmitido no momento do transplante EPIDEMIOLOGIA todos os casos de infecção crônica foram documentados em pacientes imunossuprimidos HEPATITES 18 DIAGNÓSTICO baseado na detecção de anticorpos anti-HEV IgM, mas faltam sensibilidade e especificidade aos testes disponíveis o RNA do HEV também pode ser detectado no sangue ou nas fezes, onde a sua presença é transitória os receptores de órgãos sólidos transplantados com hepatite E crônica mantêm repetidamente reatividade dos anticorpos anti-HEV e do RNA do HEV no sangue TRATAMENTO não há tratamento validado da infecção crônica pelo HEV HEPATITE AUTOIMUNE distúrbio inflamatório crônico do fígado, caracterizado pela presença de autoanticorpos no soro, níveis séricos elevados de imunoglobulinas, e uma frequente associação com outras doenças autoimunes EPIDEMIOLOGIA apresenta-se tipicamente entre as idades de 15 e 25 anos ou entre as idades de 45 e 60 anos, e é mais comum em mulheres FISIOPATOLOGIA acredita-se que seja causada por reações autoimunes contra hepatócitos normais em pessoas geneticamente predispostas ou em pessoas expostas a agentes não identificados desencadeantes de um processo autoimune contra antígenos do fígado MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS tende a ser mais grave em seu início do que as hepatites crônicas B ou C, e progride para a fase final da doença hepática se não for tratada com imunossupressão embora seja ocasionalmente detectada por elevados níveis séricos de aminotransferases em uma avaliação de saúde de rotina, a maioria dos pacientes apresenta fadiga e icterícia elevações nos níveis de bilirrubina ou de fosfatase alcalina indicam doença mais grave ou avançada pacientes tipicamente têm elevações importantes nos níveis séricos de gamaglobulinas, especificamente nos níveis de imunoglobulina G, bem como de autoanticorpos dirigidos a constituintes celulares não órgão-específicos DIAGNÓSTICO hepatite autoimune tipo 1 (clássica): caracterizada pela presença de anticorpos antinuclear, antimúsculo liso com títulos ≥1:80 (>1:20 em crianças), antiactina e de anticorpos antirreceptores de asialoglicoproteína hepatite autoimune tipo 2: caracterizada por elevações similares de anticorpo Antimicrossoma de fígado-rim tipo 1 e anticorpo anticitosol hepático tipo 1, usualmente sem anticorpos antinucleares ou antimúsculo liso biópsia hepática: mostra alterações que são típicas de todos os tipos de hepatite crônica, exceto pelo exuberante infiltrado de células plasmáticas e pela presença de hepatócitos em rosetas TRATAMENTO os sintomas clínicos e as alterações dos exames hepáticos relacionados à hepatite autoimune geralmente melhoram rapidamente após a administração de prednisona, geralmente na dose de 20 a 30 mg/dia, com diminuição nos níveis séricos de aminotransferases para valores normais ou quase normais em 1 a 3 meses doses maiores podem ser necessárias em pacientes com doença mais grave ausência de resposta bioquímica ou clínica deve levar a uma reavaliação do diagnóstico azatioprina na dose de 50 a 100 mg/dia pode ser associada à prednisona desde o início ou adicionada posteriormente para reduzir os efeitos colaterais dos esteroides a longo prazo doses de manutenção, que são geralmente necessárias indefinidamente,são 5 a 10 mg/dia de prednisona com 50 a 150mg/dia de azatioprina às vezes os pacientes podem ser mantidos com azatioprina (2 mg/kg/dia) em monoterapia depois de 3 anos ou mais de remissão, a terapia pode ser cuidadosamente retirada, mas exacerbações graves e mesmo fatais podem ocorrer semanas a meses mais tarde HEPATITES 19 PROGNÓSTICO geralmente relacionado à fase histológica da doença pacientes que inicialmente responderam a terapia podem permanecer controlados por muitos anos e os que evoluem para fase final da doença hepática necessitam de transplante de fígado HEPATITE MEDICAMENTOSA qualquer grau de lesão hepática causada por medicamentos EPIDEMIOLOGIA é uma causa frequente de lesão hepática aguda FISIOPATOLOGIA biotransformação: processo pelo qual os agentes terapêuticos lipofílicos tornam-se mais hidrofílicos pelo fígado, resultando em excreção na urina ou na bile promove a alteração do composto não polar em um composto polar seguindo várias etapas um único fármaco pode causar efeitos tóxicos de várias maneiras metabólitos instáveis de alta energia do medicamento original, resultantes da ativação dos citocromos (CYP), ligam- se a proteínas celulares ou ao DNA e danificam a função celular fatores que podem influenciar a destruição metabólica de fármacos: idade: pessoas idosas parecem ser acometidas mais frequentemente ingestão de álcool aguda e crônica: a indução do CYP2E1 altera o metabolismo de drogas metabolizadas por essa via gênero: mulheres são afetadas mais habitualmente do que os homens gravidez doenças hepáticas pré-existentes: doenças hepáticas podem proteger contra reações idiossincrásicas e podem potencializar a toxicidade de hepatotoxinas dependentes da dose doença renal: a metabolização lenta dos compostos originais produz concentrações mais altas que afetam o P- 450 determinados alimentos uso concomitante de drogas: interações entre fármacos são causa comum de efeitos adversos fatores genéticos: polimorfismos enzimáticos e fenótipos de HLA os produtos do metabolismo do CYP P-450 – intermediários altamente reativos formados dentro dos microssomas – ligam-se covalentemente à própria enzima para formar um composto de adição droga-hapteno do medicamento que bloqueia a enzima e lesa a célula essa haptenização, então, provoca uma resposta imunológica diretamente contra o antígeno recentemente formado ou neoantígeno os citocromos P-450 deslocam-se para a membrana plasmática e, como consequência, permitem que o complexo droga-P450 se torne o alvo de ataque citolítico subsequente independentemente se uma droga isolada causa necrose celular importante, o composto de adição P-450-droga pode desencadear uma resposta imunológica qualquer complexo subsequente P-450-medicamento presente na superfície do hepatócito desencadearia uma resposta posterior → as respostas podem ser mediadas por anticorpos ou podem ocorrer por ataque citolítico direto dos linfócitos T TIPOS DE REAÇÕES MEDICAMENTOSAS: a maioria das lesões hepáticas envolva necrose ou apoptose direta do hepatócito (lesão hepatocelular), mas alguns medicamentos preferencialmente lesam os ductos ou canalículos biliares, causando colestase sem dano significativo do HEPATITES 20 hepatócito; outros fármacos lesam as células sinusoidais ou apresentam padrão particular de lesão hepática em que ocorre comprometimento de vários tipos de células (tipo misto) reações hepatocelulares: caracterizadas por alterações de enzimas hepáticas que refletem lesão hepatocelular geralmente, a melhora é rápida com sua suspensão (um a dois meses) e apenas alguns pacientes desenvolvem insuficiência hepática aguda fulminante com encefalopatia hepática achados histológicos incluem necrose e infiltração celular → a necrose pode ser zonal (circunscrita a uma área) ou difusa, e pode causar insuficiência hepática aguda e morte; e a resposta inflamatória consiste em linfócitos ou eosinófilos reações colestáticas: insucesso da bile em alcançar o duodeno os sintomas comuns são a icterícia e o prurido colestase pura: não tem sinais de necrose hepatocelular; é quase que exclusivamente observada em pacientes que usam contraceptivos orais, esteroides anabolizantes, antagonistas dos hormônios sexuais hepatite colestática aguda: caracterizada histologicamente por colestase (canalículos dilatados, grânulos marrons no citoplasma dos hepatócitos), algum grau de necrose hepatocelular e lesão dos ductos biliares e infiltração inflamatória por leucócitos polimorfonucleares geralmente, colestase induzida por drogas leva mais tempo para regredir do que a hepatotoxicidade induzida por drogas em alguns casos, os segmentos da árvore biliar intra-hepática podem ser destruídos progressivamente, e, assim, a chamada síndrome de desaparecimento dos ductos biliares (síndrome ductopênica) que ocorre após um tratamento prolongado (> 6 meses) de colestase induzida por drogas resultado: colestase crônica reações imunoalérgicas: reações de hipersensibilidade, como febre, eosinofilia e erupções cutâneas, são comuns características sistêmicas de reação alérgica podem não ser óbvias, mesmo quando a eosinofilia ou o granuloma estiverem presentes na biópsia hepática esteato-hepatite: pode estar presente sob as formas microvesicular ou macrovesicular esteatose macrovesicular: a forma mais comum; caracterizada histopatologicamente por hepatócitos contendo vacúolo único de gordura que preenche o hepatócito e desloca o núcleo para a periferia da célula a fisiopatologia envolve o acúmulo de fosfolipídios no fígado, olhos, tireoide e pele esteatose microvesicular: os hepatócitos contêm inúmeras pequenas vesículas de gordura que não deslocam o núcleo as duas lesões podem ser observadas concomitantemente em alguns pacientes, e as lesões microvesiculares estão associadas, na maior parte das vezes, a pior prognóstico efeitos dos esteroides sexuais: esteroides anabólicos podem causar colestase androgênios podem causar peliose hepática e tumores benignos ou malignos contraceptivos orais podem acarretar colestase, adenomas hepáticos ou síndrome de Budd-Chiari (trombose da veia hepática) antiandrogênios usados para tratar o câncer de próstata, como a flutamida e a nilutamida, e os fármacos anti- hipofisários, como o acetato de ciproterona, também estão associados à lesão hepatocelular grave outras reações medicamentosas: menos graves; incluem reações granulomatosas, fibrose, lesão isquêmica e lesão hepática crônica autoimune AGENTES HEPATOTÓXICOS agentes intrínsecos = dependentes da dose reações idiossincráticas: infrequente intervalos de tempo variados entre a exposição inicial e a ação gravidade variável das reações entre os indivíduos afetados HEPATITES 21 similaridades: “efeitos de classe” (medicamentos semelhantes exibem características similares), padrão consistente para cada medicamento, e o fato de que a reexposição com um agente responsável geralmente desencadeia reação mais grave, com latência mais curta comparada com a exposição inicial medicamentos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), antibióticos e anticonvulsivantes estão associados a maior frequência à doença hepática induzida por medicamentos, ao contrário dos hormônios, os fármacos anti-hipertensivos, a digoxina e os fármacos antiarrítmicos, que raramente estão implicados MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS frequentemente, os pacientes apresentam poucas queixas ou elas são inespecíficas há níveis elevados de aminotransferases, em geral desproporcionais aos sintomas relatados características clínicas: náuseas, fadiga, dor ocasional no quadrante superior direito e sintomas inespecíficos similares a outras formas de hepatite febre ou a faringite (tipicamente encontradas nas reações à fenitoína) podem estar presentes nenhum achado físico específico é encontrado, exceto possivelmente por erupção cutânea que levante a suspeita de intoxicação medicamentosa qualquer paciente que desenvolva icterícia está sujeito a apresentar evolução grave ou fatalda doença, no entanto, os pacientes que continuam o uso do medicamento, apesar da icterícia, possuem esse risco mais alto DIAGNÓSTICO níveis anormais de aminotransferases concomitantes ao uso de um medicamento recém-administrado devem levantar suspeita de reação induzida pelo medicamento e seu uso deve ser interrompido imediatamente, em vez de aguardar por exames diagnósticos que confirmem ou excluam a hipótese inicial a descontinuação imediata do medicamento no primeiro sinal de doença hepática pode prevenir lesões hepáticas potencialmente fatais a avaliação de um paciente com suspeita de reação medicamentosa é direcionada para o estabelecimento da relação com todos os medicamentos ou produtos fitoterápicos que o paciente possa ter ingerido os medicamentos responsáveis geralmente foram utilizados entre cinco e 90 dias antes do início dos sintomas diagnóstico diferencial: hepatite viral, cálculos biliares, doença hepática alcoólica, gravidez, insuficiência cardíaca direita grave ou um período de hipotensão; com menor frequência, citomegalovírus, o vírus de Epstein-Barr, ou o herpes-vírus podem causar lesões hepáticas, principalmente em indivíduos imunossuprimidos biópsia hepática possui valor limitado porque o quadro histopatológico, na maioria das lesões hepáticas induzidas por medicamentos, não é diferente do encontrado na hepatite viral TRATAMENTO interrupção imediata do medicamento suspeito é mandatória tratamento geral de suporte varia de reposição de líquidos intravenosos até a monitoração e tratamento intensivo de pacientes com encefalopatia hepática na insuficiência hepática aguda transplante de fígado pode ser necessário em muitos casos