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APG 10 - Meu fígado não passou no teste Objetivos • Entender a epidemiologia, etiologia, transmissão, fatores de risco, fisiopatologia, manifestações clínicas, complicações, diagnóstico e tratamento das hepatites virais. • Entender os aspectos morfológicos dos vírus. Hepatites virais As hepatites virais são subdivididas em agudas e crônicas. A infecção por um vírus hepatotrópico provoca um episódio agudo de inflamação hepática, designada como hepatite aguda, que pode levar à eliminação espontânea do agente infeccioso ou à sua persistência, que, por sua vez, resulta em infecção crônica por um subgrupo desses vírus. Cinco vírus da hepatite são responsáveis pela maioria dos casos de hepatite aguda. A hepatite se refere à inflamação do fígado, a qual pode ser causada por vírus hepatotrópicos que afetam primariamente as células hepáticas (ou hepatócitos); mecanismos autoimunes; reações a fármacos e toxinas; ou outros distúrbios sistêmicos. Os vírus hepatotrópicos conhecidos são os seguintes: vírus da hepatite A (HAV), hepatite B (HBV), vírus da hepatite C (HCV), vírus da hepatite D ou delta (HDV) e vírus da hepatite E (HEV). Embora todos esses vírus causem hepatite aguda, eles diferem quanto ao mecanismo de transmissão e ao período de incubação; ao mecanismo, à gravidade e à cronicidade da lesão hepática; bem como à capacidade de evoluir a um estado de portador. EPIDEMIOLOGIA: De 2000 a 2021, foram notificados 718.651 casos confirmados de hepatites virais no Brasil. Destes, 168.175 (23,4%) são referentes aos casos de hepatite A, 264.640 (36,8%) aos de hepatite B, 279.872 (38,9%) aos de hepatite C e 4.259 (0,6%) aos de hepatite D. BIOPATOLOGIA: A hepatite viral aguda caracteriza-se por necroinflamação aguda do fígado. Como nenhum dos vírus hepatotrópicos é citopático, a lesão hepática é mediada por uma forte reação mediada por linfócitos T citotóxicos contra os hepatócitos infectados, que expressam antígenos virais em sua superfície. As citocinas pró-inflamatórias, as células natural killer (NK) e a citotoxicidade celular dependente de anticorpos também parecem desempenhar um papel na necroinflamação hepática. A eliminação imune bem-sucedida pode levar à depuração viral, que pode ou não estar associada a imunidade permanente, dependendo do agente infeccioso. Algumas vezes, a reação imune é tão potente que o paciente desenvolve hepatite subfulminante ou até mesmo fulminante que exige transplante hepático. Em alguns pacientes – a proporção varia, de acordo com o vírus responsável pela hepatite aguda –, a resposta imune falha e a infecção se torna crônica. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Após a infecção há um período de incubação de alguns dias a várias semanas, dependendo do agente causal. Em geral, esse período de incubação caracteriza-se por sintomas inespecíficos, incluindo fadiga, náuseas, perda do apetite, sintomas gripais e/ou dor no quadrante superior direito do abdome. Com frequência, o período de incubação caracteriza-se por leucopenia e linfocitose relativa. Em 10 a 20% dos pacientes durante a fase pré-ictérica, são observados sinais/sintomas imunomediados, incluindo erupção cutânea, urticária, artralgias, edema angioneurótico e febre. Durante a fase aguda da doença, os sintomas variam muito, desde uma doença assintomática até sintomas subictéricos, ictéricos ou graves. A forma ictérica, que não é frequente, caracteriza-se por fadiga, anorexia, náuseas, disgeusia, icterícia, coluria, acolia e perda de peso. O exame físico revela icterícia e dor à palpação do fígado; podem ser encontradas hepatomegalia e esplenomegalia. A hepatite viral aguda caracteriza-se por elevação dos níveis séricos de bilirrubina (total e direta) e de aminotransferases, que frequentemente são mais de 10 vezes o limite superior da normalidade. Com frequência, a hepatite aguda colestática está associada a icterícia e prurido prolongados e flutuantes. Depois de 1 a 3 semanas, em média, os sinais tanto clínicos quanto laboratoriais melhoram progressivamente e normalizam-se. Entretanto, alguns pacientes apresentam recidiva antes da resolução definitiva. As formas fulminantes de hepatite viral aguda são caracterizadas por sinais de insuficiência hepática, incluindo alterações da personalidade, comportamento agressivo, transtornos do sono e encefalopatia hepática. O coma pode sobrevir rapidamente, e pode haver hemorragia disseminada. • Hepatite A: O HAV é um membro da família Picornaviridae, do gênero Hepatovirus. A partícula viral da hepatite A é um nucleocapsídio icosaédrico não envelopado de 27 nm, que expressa o antígeno da hepatite A e contém um genoma de RNA de fita positiva. Nos seres humanos, já foram descritos três genótipos diferentes do HAV (genótipos I, II e III), com predomínio do genótipo I. EPIDEMIOLOGIA➔ Apresenta uma distribuição mundial e pode ocorrer de forma esporádica ou de surtos epidêmicos. A incidência de casos agudos e a soroprevalência variam de acordo com a higiene, o saneamento, a moradia e os padrões socioeconômicos de determinada região. Nos países em desenvolvimento é comum ocorrer essa infecção na infância, já nos países desenvolvidos pode ocorrer em qualquer idade. TRANSMISSÃO➔ Em geral, o HAV é transmitido por via fecal-oral, com mais frequência diretamente de uma pessoa para outra ou por meio da ingestão de água ou alimentos contaminados com fezes. Já foi relatada a transmissão do vírus por transfusão de sangue, e foram descritos casos isolados de transmissão perinatal aparente. Grupos de alto risco incluem pessoas que frequentam creches, escolas, usuários de subst. Injetáveis etc. BIOPATOLOGIA➔ O genoma é um RNA mensageiro e contém uma única fase de leitura aberta, que codifica proteínas virais tanto estruturais quanto não estruturais. Após fixação a um receptor específico na superfície dos hepatócitos, o vírus penetra nas células e é desenvelopado. Os eventos subsequentes que ocorrem exclusivamente no citoplasma incluem 1)tradução da única fase de leitura aberta em uma poliproteína, que posteriormente é processada para gerar as proteínas virais maduras; 2)replicação em um complexo de replicação ligado à membrana, que gera novos genomas virais, os quais são subsequentemente utilizados para a produção de proteína viral e montagem das partículas virais; e acondicionamento dos genomas recém-formados em novas partículas, que são exportadas para fora das células. O vírus é secretado na bile e, em menor grau, no soro. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O período de incubação é de 15 a 45 dias. Na maioria dos casos, a infecção aguda segue uma evolução leve e que passa despercebida. A incidência de casos ictéricos sintomáticos aumenta com a idade do indivíduo. A hepatite A aguda em adultos exige hospitalização em até 13% dos casos; foram relatados cursos prolongados de 6 a 9 meses em 10% dos pacientes adultos com diagnóstico de hepatite A aguda. A hepatite A é a causa mais comum de hepatite colestática recidivante. DIAGNÓSTICO➔ O diagnóstico de hepatite A aguda baseia-se na detecção da imunoglobulina M (IgM) anti-HAV no soro por imunoensaio enzimático. Os níveis séricos de IgM alcançam um pico durante o segundo mês de infecção. O RNA do HAV pode ser transitoriamente detectado nas fezes e em outros líquidos corporais pela reação em cadeia da polimerase (PCR) 3 a 10 dias antes do início da doença e 1 a 2 semanas depois; entretanto, o teste do RNA do HAV geralmente não é necessário. Com a resolução da infecção, a IgM anti-HAV desaparece depois de 4 a 12 meses, porém a IgG anti-HAV persiste por toda vida e confere proteção definitiva e duradoura contra a infecção. TRATAMENTO➔ Como a infecção é autolimitadanormalmente não é necessário o uso de um antiviral específico. Em casos graves, os pacientes precisam de hospitalização. E caso ocorra diminuição ou piora da função hepática, pode ser necessário um possível transplante de fígado. PREVENÇÃO➔ Realizada através de vacinas. 2 doses com intervalo de 6 a 18 meses. • Hepatite B: O HBV é um membro da família Hepadnaviridae, gênero Hepadnavirus. Apresenta um envelope e um capsídio ou cerne que contém o genoma de DNA circular parcialmente de fita dupla e a polimerase do HBV. O genoma do HBV é o menor genoma de vírus humano conhecido. EPIDEMIOLOGIA➔ 2 bilhões de pessoas no mundo já tiveram contato com o HBV e cerca de 250 milhões possuem a forma crônica da doença. Quatro vias principais de transmissão são responsáveis pelas infecções agudas por HBV: (1) a transmissão sexual, que é a principal via nas áreas industrializadas; (2) a transmissão perinatal da mãe para o lactente (transmissão vertical), que está associada a uma taxa muito elevada (> 90%) de infecção crônica e que constitui a principal causa de transmissão do HBV na Ásia; (3) a transmissão horizontal por contato interpessoal não sexual, que é frequente em pessoas jovens na África e (4) a transmissão percutânea por sangue e hemocomponentes, materiais médicos ou cirúrgicos não seguros ou uso de substâncias injetáveis. A doença é altamente prevalente em usuários de drogas ilícitas injetáveis, heterossexuais com vários parceiros sexuais e homens homossexuais. Os profissionais de saúde correm risco de contrair hepatite B em consequência da exposição ao sangue e aos acidentes com agulhas. FISIOPATOLOGIA➔ VHB é um vírus não citopático, e a lesão hepática na infecção aguda é mediada por reações imunes do hospedeiro. Células T CD8+ dirigidas contra vários antígenos do VHB exercem papel fundamental na lesão hepática aguda autolimitada, com efeito citolítico e não citolítico sobre os hepatócitos. O efeito citolítico por linfócitos T citotóxicos (CTL) é decorrente da apoptose mediada por granzimas, perforinas e ligantes Fas (Fas-L). Por outro lado, CTL ativadas secretam interferon-gama e fator de necrose tumoral alfa, que abolem a expressão do VHB e a replicação viral (mecanismos não citolíticos). A hepatite aguda B sintomática evolui de forma limitada em mais de 95% dos casos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS➔ Tipicamente, o período de incubação é de 30 a 150 dias. Foi relatada a ocorrência de icterícia em até um terço dos pacientes adultos com hepatite B aguda, porém a maioria dos casos não é reconhecida. Nos pacientes sintomáticos, as manifestações assemelham-se às de outras causas de hepatite viral aguda. DIAGNÓSTICO➔ Quatro marcadores devem ser pesquisados para o diagnóstico de hepatite B aguda: o HBsAg, anticorpos anti-HBc totais, IgM anti-HBc e anticorpos anti-HBs. A hepatite B aguda caracteriza-se pela ocorrência simultânea de HBsAg e IgM anti-HBc. Os anticorpos anti-HBc totais também são encontrados, mas não os anticorpos anti-HBs. Durante a fase de convalescença, os pacientes perdem HBsAg antes do aparecimento de anticorpos anti-HBs; apresentam anticorpos anti- HBc isolados, e o diagnóstico baseia-se na detecção de IgM anti-HBc. A recuperação caracteriza-se pelo aparecimento de anticorpos anti-HBs. Os anticorpos anti-HBc totais e anti- HBs caracterizam a recuperação da hepatite B aguda. A IgG anti-HBc persiste em títulos altos durante toda a vida do paciente, enquanto os títulos de anticorpos anti-HBs podem flutuar e, algumas vezes, tornam-se indetectáveis depois de vários anos. A avaliação quantitativa do HBsAg pode ser útil durante o curso da hepatite B aguda, visto que, se o nível de HBsAg não diminuir rapidamente, o paciente corre risco de evolução crônica. Os pacientes que permanecem positivos para o DNA do HBV ou o HBeAg por 6 semanas após o início dos sintomas tendem a desenvolver infecção crônica. TRATAMENTO➔ Infecção normalmente não exige tratamento antiviral, sendo a recuperação espontânea na maioria das vezes. Entretanto, o tratamento antiviral com um análogo de nucleosídio ou de nucleotídio (atualmente, entecavir [0,5 mg/dia] ou tenofovir [fumarato de tenofovir disoproxila, 245 mg/dia, ou tenofovir alafenamida, 25 mg/dia] até regressão dos sinais graves) é recomendado para pacientes com hepatite B aguda grave. A terapia antiviral não faz com que a hepatite B se transforme em infecção crônica. A hepatite fulminante é mais frequente na infecção aguda pelo HBV do que em outros tipos de hepatite viral aguda, com incidência de aproximadamente 0,1%. Os fatores associados a desfechos adversos da hepatite B aguda incluem idade avançada, sexo feminino e, talvez, algumas cepas do vírus. Nos pacientes infectados por ocasião do nascimento, a taxa de recuperação espontânea após infecção aguda pelo HBV é de menos de 5%, enquanto as infecções em adultos apresentam resolução espontânea em 95 a 99% dos casos. A resolução espontânea confere imunidade permanente, que habitualmente se caracteriza por anticorpos anti-HBs e anti-HBc. A prevenção se dá principalmente pelo uso de vacinas. • Hepatite C: O HCV é um membro da família Flaviviridae, gênero Hepacivirus. O genoma é uma molécula de RNA linear, positiva, de fita simples. O genoma está contido em um capsídio de proteína ou cerne, que é circundado por um envelope com bicamada lipídica no interior do qual duas glicoproteínas virais inseridas medeiam a entrada do vírus nas células-alvo. EPIDEMIOLOGIA➔ é encontrada em todos os continentes e estima-se que 71 milhões de indivíduos estejam cronicamente infectados. TRANSMISSÃO➔ O HCV é transmitido quase exclusivamente por sangue infectado. O rastreamento preventivo praticamente eliminou o risco de infecção pós-transfusional pelo HCV. Em consequência, a principal via de transmissão do HCV em países industrializados é, no momento atual, o uso de substância injetáveis, que é responsável por 60 a 80% de novos casos. Além disso, a transmissão hospitalar por meio do uso de materiais inadequadamente descontaminados ou mãos ou luvas contaminadas de profissionais de saúde é responsável por um número alto de novas infecções. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS➔ O RNA do HCV torna-se detectável no soro de 3 a 7 dias após a exposição. Os níveis de RNA do HCV aumentam rapidamente durante as primeiras semanas, seguidos pelos níveis séricos de aminotransferases 2 a 8 semanas após a exposição. Os anticorpos anti-HCV surgem tardiamente na evolução da hepatite C aguda e podem não existir por ocasião do aparecimento dos sintomas e da elevação dos níveis séricos de aminotransferases. Depois de um período de incubação que varia de 15 a 120 dias, a hepatite C aguda habitualmente permanece assintomática e não é diagnosticada. Os pacientes apresentam sintomas inespecíficos, como fadiga, febre baixa, mialgias, náuseas, vômitos ou prurido. Ocorre icterícia em apenas 20 a 30% dos pacientes, habitualmente 2 a 12 semanas após a infecção. Os níveis séricos de aminotransferases geralmente ultrapassam 10 vezes o limite superior da normalidade no estágio agudo, mesmo na ausência de sintomas. A hepatite C fulminante tem sido relatada, mas parece ser excepcional na ausência de outra doença hepática crônica subjacente. DIAGNÓSTICO➔ Quando há suspeita de hepatite C aguda, os pacientes devem efetuar testes para anticorpos anti-HCV por meio de imunoensaio enzimático e RNA do HCV por meio de uma técnica de biologia molecular sensível. Podem ser observados quatro perfis de marcadores, com base no achado ou não de um dos marcadores. O achado de RNA do HCV na ausência de anticorpos anti-HCV indica fortemente infecção aguda pelo HCV, o que será confirmado por soroconversão (i. e., aparecimento de anticorposanti-HCV) alguns dias a semanas mais tarde. Os pacientes com infecção aguda podem apresentar RNA do HCV e anticorpos anti-HCV por ocasião do diagnóstico; neste caso, é difícil diferenciar a hepatite C aguda de uma exacerbação aguda da hepatite C crônica ou de hepatite aguda de outra causa em um paciente com hepatite C crônica. A hepatite C aguda é muito improvável se não forem detectados anticorpos anti-HCV e RNA do HVC, ou se forem detectados anticorpos anti- HCV na ausência de RNA do HCV. Entretanto, os pacientes incluídos neste último grupo devem fazer outro exame após algumas semanas, visto que o RNA do HCV pode estar temporariamente indetectável, em decorrência do controle parcial transitório da replicação viral antes de a infecção se tornar crônica. Além desses casos, o achado de anticorpos anti-HCV na ausência de RNA do HCV é comum em pacientes que se recuperaram de infecção anterior por HCV. Entretanto, esse padrão não pode ser diferenciado de um resultado falso-positivo do imunoensaio enzimático, cuja prevalência exata é desconhecida. TRATAMENTO➔ O tratamento da hepatite C aguda deve ser considerado não apenas pela sua capacidade de prevenir a infecção crônica pelo HCV, que pode ter graves sequelas clínicas. Cerca de 20 a 50% das pessoas eliminam o vírus de forma espontânea, sem necessitar de tratamento. A combinação em dose fixa administrada 1 vez/dia de sofosbuvir (400 mg) e velpatasvir (100 mg) para todos os genótipos; ou a combinação em dose fixa (3 comprimidos pela manhã) de glecaprevir (100mg) e pibrentasvir (40 mg) para todos os genótipos são opções de tratamento. A cura da infecção pelo HCV deve ser avaliada pelo desaparecimento do RNA do HCV do soro ou do plasma dentro de 12 e 24 semanas após o tratamento, visto que foi relatada a ocorrência de recidivas tardias. Durações mais curtas do tratamento estão em fase de estudo. A prevenção da transmissão do HCV baseia-se em precauções-padrão, não há vacina. Cerca de 50 a 80% dos pacientes não eliminam o HCV de maneira espontânea e desenvolvem infecção crônica. A recuperação espontânea é mais frequente se a infecção for adquirida ao nascimento (cerca de 50%) e se a hepatite aguda for sintomática. Ainda não foi esclarecido se o genótipo influencia as taxas de recuperação. Outros fatores associados a taxas melhores de recuperação espontânea incluem sexo feminino, declínio precoce dos níveis de RNA do HCV e níveis elevados de aminotransferases ou bilirrubina. Os pacientes com recuperação espontânea podem manter anticorpos anti-HCV detectáveis por vários anos a décadas, porém eles não estão protegidos contra uma reinfecção pelo HCV. • Hepatite D (delta aguda): O HDV, que é um vírus satélite do HBV, só pode ser transmitido para pacientes que apresentam infecção aguda ou crônica pelo HBV. Possui genoma de RNA. EPIDEMIOLOGIA➔ Cerca de 10% dos portadores crônicos do HBV ou mais de 30 milhões de indivíduos em todo o mundo também estão infectados pelo HDV. TRANSMISSÃO➔ MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS➔ O HDV pode ser adquirido ao mesmo tempo que o HBV (coinfecção) ou por um portador crônico de HBsAg (superinfecção). A coinfecção caracteriza-se por um ou dois episódios de hepatite aguda, dependendo das concentrações respectivas de HBV e HDV existentes no inóculo; a hepatite aguda pode variar de leve a fulminante. Em contrapartida, quando portadores crônicos do HBV são superinfectados pelo HDV, a hepatite D aguda é geralmente grave, com frequência fulminante e, em geral, crônica. DIAGNÓSTICO➔ Três marcadores de infecção pelo HDV são os anticorpos anti-HD totais, a IgM anti-HD e o RNA do HDV; este último pode ser detectado e quantificado por PCR em tempo real. Todos os pacientes HBsAg-positivos devem ser testados, e o diagnóstico de infecção pelo HDV baseia-se no achado de anticorpos anti- HD. Em pacientes com coinfecção autorresolutiva por HBV-HDV, o RNA do HDV e a IgM anti-HD existem apenas transitoriamente e, com frequência, passam despercebidos. A IgM anti-HBc indica infecção aguda concomitante pelo HBV. Na superinfecção por HDV de um portador de HBsAg crônico, não se observa IgM anti-HBc. O RNA do HDV é encontrado no soro ou no plasma, antes e durante o episódio agudo, enquanto os anticorpos anti-HD totais e a IgM anti-HD são encontrados durante a fase aguda. Os anticorpos anti-HD e, algumas vezes, a IgM anti-HD permanecem elevados se a doença se tornar crônica. TRATAMENTO➔ Não existe nenhum tratamento de benefício comprovado para a hepatite D aguda. A maneira mais efetiva de prevenção da infecção pelo HDV é a vacinação contra HBV, visto que os indivíduos que estão protegidos contra o HBV não podem ser infectados pelo HDV. Em pacientes com coinfecção aguda pelo HBV e HDV, apenas cerca de 2% tornam-se portadores crônicos de HDV. Por outro lado, quando a infecção pelo HDV é adquirida por portadores crônicos de HBV, aproximadamente 90% também se tornam portadores crônicos de HDV e o risco de desenvolver cirrose quadruplica. • Hepatite E O HEV é um membro do gênero Orthohepevirus, da família Hepeviridae. O HEV é um pequeno vírus não envelopado. Seu genoma é uma molécula de RNA de fita simples. Foram descritos oito genótipos (1 a 8) do HEV: os genótipos 1 e 2 parecem estar mais relacionados com humanos, enquanto os genótipos 3 a 8 parecem ser de origem animal, mas também podem infectar seres humanos. A transmissão do HEV é principalmente por via fecal-oral. O HEV é endêmico na maioria das áreas do mundo em desenvolvimento, onde as infecções agudas são esporádicas ou ocorrem durante grandes epidemias relacionadas com a contaminação da água potável. A transmissão pode ser favorecida pelo consumo de carne crua e pelo contato direto com animais infectados. Acredita-se agora que seja a causa mais comum de hepatite viral aguda no mundo. Além disso, infecção aguda pelo HEV pode ocorrer em pacientes imunocomprometidos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS➔ O período de incubação é de 3 a 8 semanas. A infecção por HEV provoca apenas sintomas leves e inespecíficos na maioria dos casos, particularmente se a infecção for adquirida no início da vida. Os indivíduos imunocompetentes eliminam o vírus de maneira espontânea. O pico da viremia ocorre precocemente durante a infecção, enquanto o pico de atividade de aminotransferase é alcançado cerca de 6 semanas após a infecção. A doença grave é mais frequente em gestantes e em pacientes com doença hepática crônica subjacente, que raramente evolui para a insuficiência hepática fulminante. DIAGNÓSTICO➔ Os pacientes com hepatite aguda devem efetuar um teste para hepatite E. O diagnóstico de hepatite E aguda baseia-se na detecção de anticorpos IgM anti-HEV, que surgem nas primeiras 6 semanas e persistem por 3 a 12 meses. O RNA do HEV também pode ser detectado nas fezes, no soro ou no plasma, onde sua presença é transitória. Em geral, a IgG anti-HEV persiste durante toda a vida após a infecção aguda. TRATAMENTO➔ O tratamento da hepatite E aguda não é recomendado, visto que a maioria dos pacientes se recupera de maneira espontânea. Os casos graves e fulminantes devem ser encaminhados a unidades especializadas, onde a monoterapia com ribavirina pode ser realizada. As melhores defesas contra a hepatite E consistem em melhorar a higiene pública e consumir carne bem cozidas. Os casos agudos podem ser graves em pacientes idosos, e os casos fulminantes são frequentes em gestantes que são infectadas durante epidemias em grande escala transmitidas pela água. As taxas globais de mortalidade variam de 0 a 10%. Hepatite Viral Crônica A hepatite crônica é definida pela ocorrência de necroinflamação crônica do fígado e pode ser decorrente de várias causas, incluindo vírus hepatotrópicos, autoimunidade,álcool, distúrbios metabólicos e outros. A infecção crônica por vírus da hepatite é, sem dúvida, a principal causa de hepatite crônica no mundo inteiro, com mais de 300 milhões de indivíduos cronicamente infectados pelo vírus da hepatite B (HBV) ou com pelo vírus da hepatite C (HCV). As hepatites B e C crônicas representam a principal causa de cirrose e de carcinoma hepatocelular em todo o mundo e respondem por mais de 1 milhão de mortes por ano. A infecção crônica pelo HBV pode estar associada à infecção pelo vírus da hepatite D (HDV). O vírus da hepatite A não provoca hepatite crônica e em geral, o vírus da hepatite E (HEV) não causa hepatite crônica, exceto em pacientes imunossuprimidos. • Aproximadamente 292 milhões de indivíduos ou 4% da população mundial são portadores crônicos do HBV. • O HBV é a principal causa de câncer de fígado primário. O carcinoma hepatocelular tem mais probabilidade de ocorrer quando há cirrose subjacente, porém o HBV tem propriedades oncogênicas, e pode-se observar a ocorrência de carcinoma hepatocelular em pacientes não cirróticos com HBV. • A hepatite C crônica é responsável pela maioria dos casos de hepatite viral crônica. • A infecção pelo HCV torna-se crônica em 60 a 85% dos casos. • Em geral, a infecção crônica causada por esse vírus tem evolução latente ao longo dos anos, destruindo silenciosamente os hepatócitos. A maioria dos pacientes com hepatite C crônica é assintomática, e o diagnóstico geralmente é firmado depois da detecção de níveis séricos altos de aminotransferases séricas ou queixas de fadiga ou fraqueza inespecífica. Como a evolução da hepatite C aguda geralmente é branda, muitos pacientes não se recordam dos eventos associados à infecção aguda. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS➔ Os sintomas clínicos da hepatite viral crônica e da hepatite autoimune são tipicamente inespecíficos, e muitos pacientes não apresentam sintomas. Os pacientes podem se queixar de fadiga, transtornos do sono e dor no quadrante superior direito do abdome. Com frequência, o diagnóstico é estabelecido quando são identificadas anormalidades hepáticas com base em exames de sangue durante uma avaliação de saúde de rotina, investigação de algum distúrbio não relacionado ou por ocasião de doação voluntária de sangue. As manifestações mais avançadas incluem inapetência, náuseas, perda de peso, fraqueza muscular, prurido, coluria e icterícia. Os pacientes podem evoluir para cirrose com suas manifestações clínicas típicas. Na cirrose, os pacientes podem apresentar fraqueza, perda de peso, aumento do abdome, edema, equimoses espontâneas ou com microtraumatismos, sangramento gastrintestinal e encefalopatia hepática com confusão mental. Outros achados podem incluir angioma aracneiforme, eritema palmar, ascite, edema e escoriações na pele. DIAGNÓSTICO➔ Os níveis séricos de alanina aminotransferase (ALT) e de aspartato aminotransferase (AST) estão habitualmente elevados (em geral, duas a cinco vezes o limite superior da normalidade), porém podem permanecer dentro da faixa normal por longos períodos em pacientes com hepatite B ou C crônica. Em geral, o nível de ALT é maior do que o nível de AST. Ambos podem alcançar 10 a 25 vezes o limite superior do normal (LSN) durante exacerbações agudas. Os exames biológicos podem estabelecer o diagnóstico. Em geral, os níveis de fosfatase alcalina e de gamaglutamil transpeptidase estão minimamente elevados, a não ser que haja cirrose. Os níveis séricos de bilirrubina e de albumina e o tempo de protrombina estão normais, a menos que o paciente tenha cirrose avançada. Os níveis séricos de imunoglobulinas estão discretamente elevados ou normais na hepatite viral crônica, porém podem estar muito elevados na hepatite autoimune. Os resultados que sugerem fibrose avançada consistem em contagem de plaquetas inferior a 160.000, níveis de AST mais elevados do que os níveis de ALT, elevação da bilirrubina sérica, diminuição da albumina sérica, prolongamento do tempo de protrombina, aumento dos níveis de alfafetoproteína e níveis elevados de globulinas. A ultrassonografia (US) do fígado consegue determinar a textura e as dimensões do fígado e do baço, excluir massas hepáticas e avaliar a vesícula biliar, os ductos biliares intra- hepáticos e o fluxo da veia porta. A TC e a RM do fígado são úteis quando se detecta massa ou outra anormalidade na ultrassonografia. A biopsia hepática tem sido de importância crítica para o diagnóstico e para definir a gravidade da doença. Tipicamente, a necrose hepatocelular caracteriza-se por degeneração eosinofílica ou por degeneração por balonização em todo o parênquima, maior na região periporta, irregular ou em saca-bocado. A fibrose também começa, caracteristicamente, nessas regiões e pode conectar áreas porta adjacentes ou áreas porta e centrais (fibrose coalescente), distorcer a arquitetura hepática e levar à cirrose e à hipertensão portal. O grau histológico de hepatite crônica pode ser determinado pela combinação dos escores para necrose e inflamação periporta, necrose e inflamação lobulares e inflamação porta. Entender os aspectos morfológicos dos vírus Definição e propriedades de um vírus: • Os vírus são agentes filtráveis. • Os vírus são parasitas intracelulares obrigatórios. • Os vírus não podem produzir energia ou proteínas independentemente de uma célula hospedeira. • Os genomas virais podem ser constituídos de RNA ou DNA, mas não ambos. • Os vírus têm um capsídio desnudo ou uma morfologia de envelope. • Os componentes virais são montados e não se reproduzem por “divisão”. Os vírus mais simples consistem em um genoma de ácido desoxirribonucleico (DNA) ou ácido ribonucleico (RNA) empacotado em um envoltório protetor de proteína e, em alguns vírus, em uma membrana. Possuem partículas chamadas vírion que tem como função carrear o genoma viral para dentro da célula, a fim de ser replicado e amplificado. Os vírions maiores podem abrigar um genoma maior, capaz de codificar mais proteínas, sendo eles geralmente mais complexos. A camada externa do vírion é o capsídeo ou envelope. Essas estruturas são o pacote, a proteção e o veículo de liberação durante a transmissão do vírus de um hospedeiro para outro. O capsídeo é uma estrutura rígida capaz de resistir a severas condições ambientais. Os vírus com capsídeos sem cobertura são geralmente resistentes ao ressecamento, ao ácido e a detergentes, incluindo o ácido e a bile do trato gastrointestinal. Os vírus cujos capsídeos não são envoltos por um envelope são conhecidos como vírus não envelopados, “nus” ou “descobertos”. Nesse caso, o capsídeo protege o ácido nucleico viral do ataque das nucleases presentes nos fluidos biológico e promove a ligação da partícula às células suscetíveis. Cada capsídeo é composto de subunidades proteicas, denominadas capsômeros. O envelope é uma membrana composta de lipídios, prteínas e glicoproteínas, que pode ser mantida apenas em soluções aquosas. Como consequência, vírus envelopados devem permanecer úmidos e são geralmente transmitidos em fluidos, sangue e tecidos. Dependendo do vírus, os envelopes podem ou não apresentar espículas, constituídas por complexos carboidrato – proteína que se projetam da superfície do envelope. Alguns vírus se ligam à superfície da célula hospedeira através das espículas, que são características tão marcantes de alguns vírus que podem ser utilizadas para a sua identificação.
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