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FEBRE SEM SINAIS LOCALIZATÓRIOS DEFINIÇÕES Febre Elevação da temperatura corpórea como parte da resposta inflamatória sistêmica a uma variedade de estímulos, mediada e controlada pelo SNC (centro termorregulador no hipotálamo). • Elevação da temperatura retal > 38ºC o No Brasil, a temperatura é medida na axila, considerando o valor corte de 37,8ºC. Fisiopatologia Processo inflamatório à IL-1, IL-6, TNF, Interferon gama à prostaglandinas (E2) à aumento do Set-Point hipotalâmico à aumento de temperatura, levando a: • Aumento da taxa metabólica o Aumenta frequência cardíaca e respiratória • Aumento do tônus e atividade muscular o Tremores • Vasoconstrição periférica o Extremidades frias e rendilhado na pele Hipertermia Hipertermia e febre não são sinônimos. A hipertermia diz respeito a falha da hemostasia termorreguladora (aumento na produção de calor x diminuição na dissipação de calor); não há alteração hipotalâmica. Exemplo: crianças empacotadas com muitas roupas e consequente elevação na temperatura. Nesses casos, devemos retirar todas as roupas, esperar um período e medir novamente a temperatura. Febre sem sinais localizatórios A febre é uma das causas mais frequentes da procura por serviços pediátricos – cerca de 25% das consultas em emergência pediátrica. A maioria é secundária a quadros virais autolimitados ou infecções bacterianas que podem ser diagnosticadas após anamnese e exame físico. Todavia, cerca de 20% dos casos se classificam como febre sem finais localizatórios (FSSL). Define-se como FSSL a febre com menos de 7 dias de duração em uma criança (até no máximo 3 anos de idade) que mesmo após história clínica e exame físico cuidadosos não tem causa estabelecida. Não há sintomas respiratórios ou diarreia e o exame físico encontra-se normal. O conceito é diferente de febre de origem indeterminada, a qual tem duração maior do que 10 dias e não conseguimos estabelecer a causa diante anamnese e exame físico. Sendo a duração maior, as causas etiológicas são diferentes e a investigação também é diferente. Diante do quadro de FSSL, o principal desafio consiste na diferenciação de processos febris de doença benigna e autolimitada (maioria) de uma doença bacteriana grave. Doença bacteriana grave Qualquer infecção bacteriana em que há atraso no diagnóstico cursa com risco de morbidade ou mortalidade, de forma a se tornar uma doença bacteriana grave. Exemplos: pneumonia, ITU, meningite, artrite, osteomielite, celulite e bacteremia oculta. Bacteremia oculta A bacteremia oculta diz respeito a presença de bactérias em hemocultura (HMC) em criança febril sem infecção localizaca e com pouco ou nenhum achado clínico. EPIDEMIOLOGIA A epidemiologia das infecções bacterianas nas crianças tem mudado com a introdução de algumas vacinas, especialmente contra Haemophilus influenzae tipo b (Hib) e a antipneumocócica 10. < 3 meses > 3 meses (com boa cobertura vacinal) Ø Maior relação com o canal de parto Ø E. coli (56%) Ø Streptococcus grupo B (21%) Ø S. aureus (8%) Ø S. viridans (3%) Ø S. pneumoniae (3%) Ø Klebisiella (2%) Ø Salmonella (2%) Ø S. pyogenes Ø Enterococo Ø N. meningitidis Ø H. influenzae não tipáveis Ø E. coli Ø Moraxella Ø Salmonela Ø S. aureus FSSL e ITU Em crianças febris, a prevalência de infecção do trato urinário é de 5% a 7%. Essa prevalência é maior em alguns grupos, tais como: • Meninos não postectomizados com febre > 24h e maior que 39ºC • Meninas brancas, com menos de 1 mês e febre > 48h e > 39ºC Geovana Sanches, TXXIV FSSL E PNEUMONIA Não é incomum que crianças apresentem pneumonia oculta, ou seja, pneumonia sem sinais ou sintomas respiratórios. Pacientes com vacinação completa anti- pneumocócica (3 doses) e sem sinal ou sintoma respiratório apresentam baixa chance de pneumonia oculta, de forma que os exames subsidiários são questionáveis. Todavia, caso não haja boa cobertura vacinal, devemos pensar nessa hipótese. DIAGNÓSTICO DE FSSL Não existe nenhum exame que isoladamente consiga avaliar o risco para doença bacteriana grave ou bacteremia oculta. Sendo assim, a avaliação atual leva em consideração: • Estado geral • Faixa etária • Temperatura aferida o T > 39ºC traz maior preocupação • Estado vacinal individual e populacional • Alteração de exames complementares Critérios para investigação da criança febril • Doenças de base que causem imuno- comprometimento o Exemplo: anemia falciforme, AIDS, síndrome nefrótica, neoplasias etc. • Toxemia ou mau estado geral • Contato com pessoa doente por alguma agente transmissível o Exemplo: meningococo • Criança < 36 meses em BEG e temperatura > 39ºC Exames subsidiários • Hemograma o Leucócitos < 5.000 ou > 15.000 o Relação bastonetes/neutrófilos > 0,2 § Risco aumentado para doença bacteriana grave • Hemocultura • Provas de atividade inflamatória o PCR, VHS, ferritina, procalcitonina • Urina I e urocultura o Coleta via sonda o Nessa faixa etária, ainda não há controle esfincteriano, de forma que a coleta da urina deve ser feita via sonda vesical de alívio • Raio-X de tórax o Crianças > 3 meses só se temperatura > 39ºC e leucócitos > 20.000 • Leucócitos nas fezes o Bebês < 3 meses, com diarreia o Cuidado para não confundir diarreia com número elevado de evacuações decorrente do aleitamento materno exclusivo. • Líquido cefalorraquidiano (LCR) MANEJO PARA BEBÊS MENORES DE 2 MESES O protocolo é semelhante para todos os menores de 2 meses, alterando-se o antibiótico de escolha devido a não adequação do uso de ceftriaxona em neonatos pelo risco barro biliar e icterícia, podendo complicar com kernicterus. Além disso, por se tratar de uma faixa etária de risco para doença bacteriana grave, a internação está sempre recomendada. Neonatos (< 28 dias) • Coletar hemograma, hemocultura, urina I, urocultura, LCR e raio-X de tórax • Internação • Antibioticoterapia o Cefotaxima o + ampicilina se alteração no LCR o + aciclovir se fator de risco para herpes 28 dias – 2 meses • Coletar hemograma, hemocultura, urina I, urocultura, LCR e raio-X de tórax • Alterados o Internação o Antibioticoterapia § Ceftriaxone § + ampicilina se alteração no LCR • Normais o Recomendação: internação e antibioticoterapia (ceftriaxone) Geovana Sanches, TXXIV o Opção: alta com ou sem antibioticoterapia (ceftriaxone) MANEJO PARA BEBÊS DE 2 A 3 MESES Entre os 2 aos 3 meses, indica-se que a coleta de hemograma, hemocultura, urina I e urocultura. A criança deve ser mantida internada até o resultado de todas as culturas ou até estar em bom estado geral e sem febre. • Exames normais o Alta sem antibiótico o Reavaliação em 24h • Urina alterada + hemograma normal o Tratar ITU § Cefuroxime § Amoxicilina + clavulanato • Urina normal + hemograma alterado o Raio-X de tórax e LCR o Antibioticoterapia § Ceftriaxone o Internação MANEJO PARA CRIANÇAS ENTRE 3 MESES AOS 3 ANOS Para crianças em mal estado geral, devemos ignorar o fluxograma e coletar todos os exames. CRITÉRIOS DE ROCHESTER Os critérios de Rochester buscam separar os lactentes jovens em dois grupos: alto e baixo risco para presença de bacteremia e doença bacteriana grave na vigência de FSSL. Para que crianças abaixo de 60 dias de vida sejam consideradas de baixo risco, todos os critérios devem ser preenchidos; caso contrário, ela já será considerada de alto risco. Clínicos • Previamente saudável • RNT se sem intercorrências no berçário • BEG sem evidência de infecção bacteriana ao exame físico • Sem doença crônica Laboratoriais • Leucócitos: 5.000 – 15.000 • Bastonetes < 1.500 • Urina < 10 leucócitos/campo • Fezes < 5 leucócitos/campo CONCLUSÃO A partir da identificação de algum sítio de infecção, caso isso ocorra, a criança deixa de ter febre semsinais localizatórios e passa a ter uma infecção estabelecida.
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