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INTRODUÇÃO À HEBIATRIA CONCEITOS A hebiatria, ou medicina do adolescente, é uma subespecialidade da pediatria que se concentra no cuidado dos pacientes adolescentes. O termo vem de “Hébe”, deusa grega da juventude, em conjunto com “iatria”, que se refere ao ato de cuidar. Adolescência é a fase de transição entre a infância e a vida adulta; compreende o período de crescimento e desenvolvimento biológico, psicológico e social. Segundo a OMS, a adolescência engloba pacientes entre 10 e 20 anos incompletos. Já para o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), são adolescentes aqueles que possuem entre 12 e 18 anos incompletos. Na prática, ambos podem ser utilizados como referência. Puberdade vem do termo “Pubertas”, que em latim se refere a entrada na idade fértil. Esse período compreende, portanto, o conjunto de manifestações biológicas da adolescência, destacando-se o desenvolvimento dos caracteres sexuais. O conceito de puberdade não envolve, portanto, os fatores psicológicos envolvidos na adolescência, apenas as mudanças físicas. Sendo assim, a adolescência é um conceito muito mais amplo, porém intimamente relacionado com a puberdade. ASPECTOS ÉTICOS A estrutura da consulta com o adolescente difere da consulta com crianças ou adultos. Isso pois, eles têm direito a 4 princípios durante o atendimento: 1. Individualidade: refere-se ao direito de ser visto como um indivíduo, ou seja, durante a consulta ele é o paciente e não seus pais. 2. Privacidade: refere-se ao direito de contar coisas íntimas para o médico. 3. Confidencialidade 4. Sigilo médico: tudo o que for dito durante a consulta deverá ficar entre o paciente e o médico, exceto em situações em que se faz necessária a quebra do sigilo. Para que o princípio da privacidade seja respeitado, é necessário um momento da consulta em que apenas ele e o médico estejam presentes, sendo neste momento em que devem ser questionados pontos como o início da vida sexual, métodos contraceptivos, uso de álcool e drogas, e outras questões pessoais. O adolescente pode ser atendido sozinho? O atendimento médico a menor de idade desacompanhado pode e deve ser realizado, desde que ele tenha capacidade de compreender seu problema. Assim, pacientes com síndromes e deficiências intelectuais precisarão de um acompanhante. Isso está respaldado pelas recomendações da SPSP: “o adolescente, desde que identificado como capaz de avaliar seu problema e de conduzir- se por seus próprios meios para solucioná-lo, tem o direito de ser atendido sem a presença dos pais ou responsáveis no ambiente de consulta, garantindo-se a confidencialidade e a execução dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos necessários”. Essa questão serve para todos os adolescentes, ou seja, todos os indivíduos maiores de 10 anos (início da adolescência segundo a OMS). Abaixo disso, faz-se necessário o acompanhamento de um responsável maior de idade. Sigilo médico O adolescente tem direito ao sigilo médico na grande maioria das situações, sendo esse direito garantido pelo Código de Ética Médica e pelas Recomendações dos Departamentos de Adolescência e Bioética da SPSP. Art. 103 – É vedado ao médico revelar segredo profissional referente a paciente menor de idade, inclusive a seus pais ou responsáveis legais, desde que o menor tenha capacidade de avaliar seu problema e conduzir-se por seus próprios meios para solucioná-lo, salvo quando a não revelação possa acarretar danos ao paciente. Sendo assim, os pais ou responsáveis só são informados sobre o conteúdo da consulta com expresso consentimento do adolescente ou quando o médico identifica situações de risco. Caso a quebra do sigilo seja necessária, o adolescente deve ser informado, justificando-se os motivos para esta atitude. Namoro Quando o adolescente refere um laço afetivo, este não deve ser contado para os pais. Todavia, sempre deve-se orientar que o paciente Geovana Sanches, TXXIV converse com seus pais, o que poderá auxiliá-lo em diversos aspectos. Caso os pais questionem ao médico acerca disso, o mesmo não deverá responder nem que sim, nem que não, informando aos mesmos que isso vai contra os princípios do Código de Ética Médica. Entretanto, isso não é uma realidade absoluta, servindo apenas para condições de normalidade. Sendo assim, o médico sempre deve questionar detalhes desse relacionamento, tais como as características gerais do parceiro (idade, profissão) e onde eles se conheceram. Isso é essencial para afastar situações de risco. Sexualidade A sexualidade deve ser questionada na consulta da Hebiatria para todas as idades, diferindo a abordagem. Assim, para adolescentes mais jovens, questiona-se por exemplo sobre o primeiro beijo, prática masturbatória, pensamentos acerca da sexualidade, entre outros. Por outro lado, para os mais velhos, já se pode questionar pontos como o início da vida sexual. Sempre que o adolescente relatar que já teve uma relação sexual, é importante questionar quando ela ocorreu, com quem, se está tendo no momento, qual a idade do parceiro, se as relações são consentidas, se ele está feliz e satisfeito, se tem alguma dúvida, entre outras coisas. É importante perguntar também sobre o uso de preservativo e outros métodos contraceptivos. A partir dos questionamentos, caso seja identificada uma condição normal, o sigilo médico é resguardado. Todavia, em qualquer suspeita de violência, independentemente da idade do adolescente, deve-se quebrar o sigilo médico. Quanto mais jovem ele é, maior as chances de estarmos diante de uma violência. A lei brasileira considera como abuso as relações com menores de 14 anos. Entretanto, na prática, isso não é uma regra, apenas um ponto de referência. Prescrição de anticoncepcionais A partir do momento em que a adolescente relata o início da vida sexual, todas as suas dúvidas devem ser sanadas e, após, é indicado um método contraceptivo. Nesse período, geralmente é indicado o uso de preservativos, associado a pílula anticoncepcional combinada. Não é necessário o consentimento dos pais para a prescrição da medicação. Deve-se fazer a receita, explicar como utilizar a medicação e, em um outro momento, ela pode retirá-la na UBS. Apesar disso, é importante orientar que a paciente converse com seus pais, pois esses podem orientá- la e auxiliá-la a tomar o anticoncepcional da maneira correta. Uma condição excepcional é quando a menina apresenta fluxo menstrual intenso ou cólicas exuberantes, o que pode ser utilizado como uma justificativa para o início do uso do anticoncepcional. Todavia, essas questões sempre devem ser discutidas entre o médico e o paciente. Caso a prescrição não seja informada aos pais e eles descubram-na posteriormente, não há problema algum, pois o médico está protegido pela lei. Gravidez Nos casos do diagnóstico de gravidez, mesmo que a paciente não queira, é necessário quebrar o sigilo médico. Deve-se dar a opção para que ela conte aos pais, mas caso ela não o faça, é função do médico informá-los. Isso é essencial pois será necessário o acompanhamento de uma equipe multiprofissional (ginecologista, psicológico, clínico...), além das consultas e exames do pré- natal. Aborto Caso a adolescente mencione a vontade de abortar, isso deve ser rapidamente repudiado por ser uma prática ilegal e contra o código de ética médica vigentes no Brasil. É necessário, ainda, que expliquemos a ela o risco de vida associado ao aborto, devido a qualidade duvidosa dos procedimentos realizados no país. Nos casos de aborto em curso ou apenas a afirmação do desejo de abortar, o sigilo médico deve ser quebrado. Caso a paciente já tenha realizado o aborto e não tenha tido intercorrências que justifiquem a quebra do sigilo, este não deve ser quebrado, tendo em vista que é algo que já ocorreu. ISTs Ao falarmos em infecções sexualmentetransmissíveis, teremos duas condições distintas. Para as doenças mais simples, tratáveis e de fácil resolução, caso a paciente faça o tratamento correto, não é necessário quebrar o sigilo médico. Todavia, quando a doença em questão é crônica, como a AIDS e a hepatite, é necessário a quebra do sigilo médico, tendo em vista que elas estão associadas ao uso de medicações de alto custo e risco de complicações. Outro ponto importante é verificar se a IST em questão não está associada a Geovana Sanches, TXXIV um quadro de violência sexual, sendo que nesse caso, independente da doença, o sigilo sempre deverá ser quebrado. Violência Independente do tipo de violência identificada ou suspeita, o sigilo médico deve ser quebrado, visando sempre a proteção do adolescente. Saúde mental Todos os quadros psíquicos, tais como transtornos alimentares (anorexia, bulimia) e depressivos, devem ser informados a família devido ao envolvimento desta no tratamento e ao risco de piora. Ingestão de álcool Para adolescentes menores de 14 anos, em geral, conta-se aos pais por ser um início muito precoce – quanto mais cedo esse início, maior a probabilidade de aumentar o uso ao longo dos anos ou iniciar o consumo de outras drogas. Em outras condições, deve-se avaliar a frequência do uso, o teor alcoólico ingerido, questões médicas ou necessidade de hospitalização (desmaio, hipoglicemia, convulsão, transtornos psicológicos decorrentes do uso de álcool, violência associada a embriaguez etc.), uso de medicamentos ou doença crônica incompatível com a ingestão de álcool. Caso seja constatada qualquer situação adversa e potencialmente perigosa, o sigilo médico deve ser quebrado. Tabaco O tabaco é uma droga mais aceita na sociedade e, em geral, os adolescentes não escondem quando fumam, por considerarem ato glorioso. Caso o uso seja por um indivíduo abaixo dos 14 anos, o sigilo pode ser quebrado devido ao início muito precoce. Para pacientes maiores, deve-se questionar a frequência do uso e o número de cigarros fumados. A partir disso e de outras perguntas, utilizamos a escala de Fagerstrom para verificar o grau de dependência de nicotina. Caso ela seja alta, o sigilo pode ser quebrado, porém essa situação não é tão comum. Maconha e outras drogas ilícitas Ao nos referirmos a drogas ilícitas, sempre haverá quebra de sigilo caso o início seja anterior aos 14 anos, identificação de escalonamento (aumento do uso ao longo do tempo) e troca para uma droga mais potente (da maconha à cocaína, por exemplo). Nos casos em que isso não se aplica, faz-se uma classificação rápida para decisão: • Usuário experimentador: é aquele que experimentou algumas vezes e não utiliza mais à não há quebra do sigilo • Usuário ocasional: é aquele que utiliza de vez em quando, como numa festa ou outros ambientes sociais; ele não pensa nisso em outros momentos à não há quebra o sigilo, pois caso contrário você perderá o paciente e a oportunidade de ajudá-lo • Usuário funcional: é aquele que se programa a usar de tempos em tempos, como uma vez por semana. Ainda não apresenta sintomas clínicos ou sinais de dependência física, mas por ser algo planejado, há uma certa dependência psicológica à quebra de sigilo • Usuário disfuncional: é aquele que usa a qualquer momento, apresentando sintomas físicos e psicológicos à quebra de sigilo Conclusão As questões de sigilo médica na adolescência nem sempre são simples, especialmente para pacientes com idade limítrofe (próximo aos 18 ou aos 13). Sendo assim, nos casos de dúvida, o médico não precisa tomar a decisão sozinho, podendo discutir o caso com outros profissionais. “TEMPOS” DA CONSULTA A consulta na Hebiatria pode ser dividida em 4 momentos: (1) Anamnese com o adolescente; (2) Anamnese com a família; (3) Exame físico; (4) Hipóteses diagnósticas e consulta. Para tal, uma primeira consulta dura em média 1h e o retorno, cerca de 30 minutos. A frequência das consultas é variável. Para pacientes sem alterações e com completo desenvolvimento puberal, dois encontros ao ano são suficientes. Já para pacientes que estão em desenvolvimento, o ideal é uma consulta de 3 a 4 meses para reavaliação do estadiamento de Tanner. Como já mencionado, caso o adolescente não esteja acompanhado, a consulta pode e deve ser realizada. Todavia, é importante que os pais estejam presentes para que o médico possa conhecê-los e para alguns questionamentos. Anamnese com o adolescente O adolescente, independente da idade, tem o direito a privacidade, ou seja, de ser atendido sozinho, em espaço privado de consulta, Geovana Sanches, TXXIV onde são reconhecidas sua autonomia e individualidade. Essa privacidade envolve um “contrato” entre o adolescente, a família e o médico, de forma que “optar pela privacidade não é sonegar aos pais o direito de participar das vivências do adolescente”. Nos casos em que os pais se recusam em deixar o adolescente sozinho, faz-se o atendimento sem abordar nenhuma questão de sigilo, todavia, orienta-os acerca dessa necessidade. Condição diferente dessa é quando o paciente quer a companhia de seus pais durante a consulta, sendo este um direito dele. Outras exceções além do desejo do acompanhamento são quando o paciente não compreende o seu problema, como nos casos de déficit intelectual relevante e falta de crítica (distúrbios psiquiátricos, drogadição etc.). Princípios • Saber ouvir • Adotar conduta imparcial • Desvencilhar os preconceitos (não julgar) • Respeitar a privacidade do paciente o Confidencialidade o Sigilo Estrutura 1. Chamar o adolescente para o consultório 2. Acolhimento: explicar ao paciente a estrutura da consulta, questões acerca do sigilo médico etc. 3. QD e HPMA (ou motivo da consulta) 4. ISDAS 5. Alimentação: devemos realizar um recordatório alimentar, ou seja, questionar o que comeu no dia anterior e o que costuma comer no dia a dia, desde o café da manhã até o lanche da noite. As quantidades também devem ser mencionadas. 6. História social a. Estrutura familiar: verificar com quem ele mora, como é a relação com seus pais, irmãos ou responsável, como é a casa (se é de alvenaria, quantos dormitórios e com quem ele dorme, se possui saneamento básico, coleta de lixo) b. Condições socioeconômicas c. Escolaridade / Trabalho: questionar em que ele da escola ele está ou se já se formou, se ele teve alguma dificuldade na escola (intelectual ou de relacionamento), se trabalha e qual a área de atuação... d. Religião e. Esportes / Lazer: questionar se e qual atividade física realiza e por quanto tempo, o que ele faz nas horas vagas para se divertir (verificar tempo de tela, videogame, interação com os amigos etc.) f. Avaliação psicológica: pode ser incluída tanto no ISDAS, quanto na história social, a depender da estrutura da consulta. Questionamos se há algo com que ele se incomode acerca da imagem corporal e comportamento; como ele está se sentindo; como ele se enxerga daqui alguns anos, o que ele pretende fazer no futuro (avaliação do planejamento). g. Hábitos de vida h. Sexualidade Em geral, os hábitos de vida relacionado a álcool e drogas e a sexualidade são questionados ao final da consulta com o adolescente, momento em que já há um vínculo formado. É importante lembrar que atenderemos adolescentes entre 10 e 20 anos, de forma que é necessário adaptar as perguntas de acordo com a idade. Para tabaco e álcool, em geral, as perguntas são mais diretas, pois é algo mais comum na sociedade. Para outras drogas, é importante questionar de maneira mais fracionada, perguntando inicialmente se ele tem contato com alguém que utiliza, se alguém já utilizou no mesmo ambiente que ele, se ele já teve curiosidade de utilizar, entre outros. Deve-se evitar questionar tudo ao mesmo tempo pois, caso o faça, é provável que o paciente escolha te contar apenasuma das coisas, ignorando o restante. Após todos esses questionamentos, a anamnese com o adolescente acaba e segue-se para a próxima etapa da consulta, a qual é realizada com os familiares. Anamnese com os familiares A anamnese com os pais deve ser realizada sempre que possível, mesmo para adolescentes com mais de 18 anos. Isso pois, há algumas coisas que apenas os familiares saberão responder. Geovana Sanches, TXXIV É importante lembrar que esse momento serve para complementar a história do adolescente. Todavia, há os extremos em que é necessário tirar toda a história nesse momento ou que o adolescente já contou tudo. Outro ponto importante é que durante a anamnese com os pais, o adolescente permaneça na sala, de forma a passar uma maior segurança para o paciente acerca do sigilo médico. Estrutura 1. Acolhimento dos pais 2. QD e HPMA com a mãe (ou motivo da consulta): deverá complementar as lacunas que restaram durante a história do adolescente. Nos casos em que não há lacunas, pode-se completar essa área com “vide adolescente” 3. Crescimento e desenvolvimento: não precisa ser muito detalhado quanto na consulta pediátrica, registrando apenas marcos importantes. 4. Imunizações 5. Antecedentes Mórbidos Pessoais: doenças na infância, alergias, internações ou cirurgias necessárias... 6. Antecedentes Familiares ou Consanguinidade: cardiopatias, doenças metabólicas, doenças da tireoide, neoplasias... 7. Antecedentes obstétricos: verificar se o parto foi normal ou cesária, se o paciente nasceu a termo ou prematuro, entre outras coisas Com esses apontamentos e a complementação da história do paciente, a anamnese com os familiares está finalizada. Exame físico Durante o exame físico, é altamente recomendada a presença de um acompanhante, sobretudo se o paciente for menor de 18 anos. Caso o paciente tenha vindo sozinho, deve-se solicitar que alguém da equipe (enfermagem, auxiliar, secretária, colega etc.) entre no consultório para esse momento. Quando o médico é do sexo oposto ao do paciente, se possível, deve-se solicitar a entrada de alguém do mesmo sexo para acompanhar o atendimento, o que geralmente deixa o paciente mais confortável e atua como um facilitador do exame físico. Essa é uma recomendação do Código de Ética Médica e de Conselhos Regionais de Medicina, tendo como principal função a proteção do médico. Isso pois, podem ocorrer erros de interpretação durante o exame, com consequentes processos judiciais. Um ponto importante é que o adolescente tem o direito de recusar o exame físico, especialmente quando se trata da genitália. Nesses casos, deve-se informar acerca da importância do exame e, se a recusa persistir, isso deve ser registrado em prontuário. A estrutura do exame físico do adolescente é muito semelhante ao da clínica médica, incluindo o exame geral e a análise dos sistemas. Exame físico geral • Estado geral • Antropometria: os dados encontrados são colocados nas curvas para verificação da normalidade. o Peso: para a pesagem, não é necessário que o adolescente retire a roupa, apenas o excesso delas e o tênis. o Estatura o IMC o Circunferência abdominal • Sinais vitais o Pressão arterial o Frequência cardíaca o Frequência respiratória o Temperatura axilar Exame físico específico • Cabeça e pescoço: avaliação do couro cabeludo, mucosa oral, gengivas, dentes, amígdala, exame de orofaringe, inspeção nasal, otoscopia, palpação de tireoide e de cadeias linfonodais • Cardiovascular: ausculta dos focos cardíacos • Pulmonar: ausculta anteroposterior e em perfil. Realiza-se o exame completo apenas no caso de alteração ou queixa do paciente • Abdome: inspeção, ausculta, percussão, palpação superficial e profunda, palpação de fígado, baço e intestino • Osteomuscular: avaliação da coluna, joelhos ou algum local de queixa • Avaliação de membros: palpação de pulsos periféricos, análise de edema, etc Avaliação do estado nutricional Exame ginecológico e andrológico Durante o exame ginecológico e andrológico, um dos pontos essenciais é Geovana Sanches, TXXIV determinar o estágio de maturação sexual (Tanner), o qual está relacionado a puberdade e, consequentemente, ao crescimento. Para adolescentes do sexo feminino, o exame das mamas é exame de rotina. Ele inclui: • Inspeção: deve ser feita com a paciente sentada na mama, verificando-se assimetria, alterações de pele (dermatite é comum na adolescência) e classificando o desenvolvimento mamário através do estadiamento de Tanner • Palpação: solicita-se que a paciente se deite na maca. Todos os quatro quadrantes da mama devem ser palpados, verificando a presença de pontos dolorosos, alterações de pele, hipersensibilidade mamária (especialmente no início da adolescência), presença de nódulos. o O aparecimento de nódulos nas mamas, especialmente de fibroadenomas, é frequente em mulheres no menacme. A conduta é expectante, verificando o crescimento desse nódulo. o Sempre devemos questionar a paciente se ela tem o costume de palpar as mamas e se já notou alguma alteração. Caso a resposta seja “não”, deve-se ensiná-la a palpar e explicar a importância do auto-exame. Após a palpação das mamas, solicitamos que a paciente se vista na porção de cima, para prosseguir com o exame genital. Na hebiatria, não é de rotina a realização do toque ou exame especular, tendo em vista que caso haja necessidade, a paciente deve ser encaminhada para o ginecologista. Sendo assim, o exame ginecológico consiste na inspeção dos genitais, verificando especialmente a porção anatômica. Devemos verificar a estrutura dos grandes e pequenos lábios, além de possíveis alterações (dermatite, lesão de pele, vesículas, ulcerações, malformação, hipertrofia, presença de leucorreia, entre outros). Para o sexo masculino, são avaliados principalmente o pênis e os testículos. Quanto ao pênis, é importante verificar: • Exposição da glande: devemos pedir para que o adolescente faça o movimento e, apenas caso ele não saiba como, o médico poderá realizá-lo. • Pilificação: inicia-se na base do pênis • Lesões: coloração e lesões de pele, como vesículas e machucados. • Meato uretral: verificar se este é anatomicamente normal, se há sinais flogísticos, etc • Assepsia: orientar a higiene adequada • Tamanho do pênis: na rotina médica, não é necessário medir o pênis, pois apenas na inspeção já é possível verificar se há alteração. o Verificar presença de micro-pênis (menor do que 4 cm) o Caso o paciente tenha queixas quanto ao tamanho, o pênis pode ser medido utilizando-se uma régua ou fita métrica. É necessário que a medida seja feita a partir da base do pênis, sendo que para isso é necessário rebaixar a sínfise púbica. § Existem gráficos que relacionam a média do tamanho do pênis e a idade, mas isso não é utilizado rotineiramente, apenas quando há uma queixa, encaminhamento ou suspeita de alteração. Após exame do pênis, segue-se para o exame dos testículos, o qual inclui a verificação de: • Presença de hérnias: solicitamos que o paciente faça a manobra de valsalva. Não é rotineiro, porém importante numa primeira consulta. • Presença de varicocele: verificar ambos os lados da bolsa escrotal, sendo que caso uma delas esteja mais espessa, pode ser sinal de uma dilatação por regurgitamento venoso. A confirmação é feita por ultrassom doppler. o Existem vários graus de varicocele e a partir disso, a conduta pode ser tanto especular, quanto cirúrgica. o Trata-se da principal causa de infertilidade na vida adulta. • Consistência testicular: o normal é que eles sejam fibroelásticos. Devemos verificar a presença de tumorações, consistência pétrea, etc. • Volume testicular: é comum que haja assimetria entre os dois testículos, mas Geovana Sanches, TXXIV essa alteração não pode ser tão exuberante (ex.: um testículocom 10 mL e outro com 30 mL). Na prática, o volume testicular pode ser medido com o orquidômetro comparando-se as porções do aparelho com o tamanho do testículo palpado. • Alterações o Anorquia: ausência de testículo o Criptorquidia: testículo fora da bolsa testicular, porém na correta região anatômica o Testículo ectópico: está anatomicamente fora do seu percurso, como na coxa ou dentro do abdome. O tratamento é cirúrgico, com remoção desse testículo (alta taxa de malignização) o Testículo retrátil: está dentro da bolsa escrotal, mas apresenta fragilidade ligamentar, de forma que ele pode se locomover, chegando ao ápice da bolsa e dificultando sua palpação. Avaliação das mamas em meninos Quando identificamos um menino com nódulo mamário, devemos verificar a presença de ginecomastia. Hipóteses diagnósticas Nas hipóteses diagnósticas, sempre devem ser incluídos quatro diagnósticos essenciais: (1) Diagnóstico antropométrico, incluindo peso, estatura e IMC; (2) Diagnóstico puberal, relatando se o paciente é impúbere, está com a puberdade adequada, precoce ou tardia. O estadiamento de Tanner deve ser incluído; (3) Diagnóstico nutricional, mencionado se a alimentação do paciente é ou não adequada. Nos casos em que não está adequada, deve-se relatar o que há de errado. Exemplo: ingestão excessiva de açúcar, pouca ingestão de fibras, entre outros (4) Diagnóstico vacinal, informando se o calendário está em dia ou quais as vacinas que faltam. Caso o médico não tenha visto a carteira vacinal, pode mencionar o que foi informado pelo paciente (desde que deixe isso claro no pronturário) ou colocar “a esclarecer”. Outra possível estrutura 1) Queixa principal ou motivo da consulta e os sintomas relatados na HPMA 2) Sintomas relatados no ISDA 3) Alterações ou achados no exame físico 4) Diagnósticos em acompanhamento ou tratamento 5) Aspectos Alimentares 6) Aspectos Familiares 7) Situações de Risco (Drogas, DSTs, Gravidez) 8) Avaliação nutricional 9) Desenvolvimento puberal 10) Imunização Conduta Na conduta, deve-se seguir uma ordem, agrupando exames cujo material de coleta é o mesmo. 1) Instituição de Tratamento 2) Solicitação de Exames Subsidiários e de rotina o Sangue: hemograma, ferro sérico, ferritina ou transferrina, Glicemia de Jejum, Tipagem Sanguínea o Urina: urina I, urocultura, antibiograma o Fezes: Protoparasitológico de fezes (PPF) o Exames de imagem 3) Encaminhamento para Avaliação e Acompanhamento Especializado 4) Orientações 5) Retorno