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INTRODUÇÃO À HEBIATRIA 
 
CONCEITOS 
 A hebiatria, ou medicina do adolescente, é 
uma subespecialidade da pediatria que se 
concentra no cuidado dos pacientes adolescentes. 
O termo vem de “Hébe”, deusa grega da 
juventude, em conjunto com “iatria”, que se 
refere ao ato de cuidar. 
 Adolescência é a fase de transição entre a 
infância e a vida adulta; compreende o período de 
crescimento e desenvolvimento biológico, 
psicológico e social. 
Segundo a OMS, a adolescência engloba 
pacientes entre 10 e 20 anos incompletos. Já para 
o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), são 
adolescentes aqueles que possuem entre 12 e 18 
anos incompletos. Na prática, ambos podem ser 
utilizados como referência. 
Puberdade vem do termo “Pubertas”, que 
em latim se refere a entrada na idade fértil. Esse 
período compreende, portanto, o conjunto de 
manifestações biológicas da adolescência, 
destacando-se o desenvolvimento dos caracteres 
sexuais. 
O conceito de puberdade não envolve, 
portanto, os fatores psicológicos envolvidos na 
adolescência, apenas as mudanças físicas. Sendo 
assim, a adolescência é um conceito muito mais 
amplo, porém intimamente relacionado com a 
puberdade. 
 
ASPECTOS ÉTICOS 
 A estrutura da consulta com o adolescente 
difere da consulta com crianças ou adultos. Isso 
pois, eles têm direito a 4 princípios durante o 
atendimento: 
1. Individualidade: refere-se ao direito de ser 
visto como um indivíduo, ou seja, durante 
a consulta ele é o paciente e não seus pais. 
2. Privacidade: refere-se ao direito de contar 
coisas íntimas para o médico. 
3. Confidencialidade 
4. Sigilo médico: tudo o que for dito durante 
a consulta deverá ficar entre o paciente e o 
médico, exceto em situações em que se faz 
necessária a quebra do sigilo. 
 
Para que o princípio da privacidade seja 
respeitado, é necessário um momento da consulta 
em que apenas ele e o médico estejam presentes, 
sendo neste momento em que devem ser 
questionados pontos como o início da vida sexual, 
 
métodos contraceptivos, uso de álcool e drogas, e 
outras questões pessoais. 
O adolescente pode ser atendido sozinho? 
 O atendimento médico a menor de idade 
desacompanhado pode e deve ser realizado, 
desde que ele tenha capacidade de compreender 
seu problema. Assim, pacientes com síndromes e 
deficiências intelectuais precisarão de um 
acompanhante. 
 Isso está respaldado pelas recomendações 
da SPSP: “o adolescente, desde que identificado 
como capaz de avaliar seu problema e de conduzir-
se por seus próprios meios para solucioná-lo, tem 
o direito de ser atendido sem a presença dos pais 
ou responsáveis no ambiente de consulta, 
garantindo-se a confidencialidade e a execução 
dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos 
necessários”. 
 Essa questão serve para todos os 
adolescentes, ou seja, todos os indivíduos maiores 
de 10 anos (início da adolescência segundo a 
OMS). Abaixo disso, faz-se necessário o 
acompanhamento de um responsável maior de 
idade. 
Sigilo médico 
 O adolescente tem direito ao sigilo médico 
na grande maioria das situações, sendo esse 
direito garantido pelo Código de Ética Médica e 
pelas Recomendações dos Departamentos de 
Adolescência e Bioética da SPSP. 
 
Art. 103 – É vedado ao médico revelar 
segredo profissional referente a paciente 
menor de idade, inclusive a seus pais ou 
responsáveis legais, desde que o menor 
tenha capacidade de avaliar seu problema 
e conduzir-se por seus próprios meios para 
solucioná-lo, salvo quando a não revelação 
possa acarretar danos ao paciente. 
 
 Sendo assim, os pais ou responsáveis só 
são informados sobre o conteúdo da consulta com 
expresso consentimento do adolescente ou 
quando o médico identifica situações de risco. 
Caso a quebra do sigilo seja necessária, o 
adolescente deve ser informado, justificando-se 
os motivos para esta atitude. 
Namoro 
 Quando o adolescente refere um laço 
afetivo, este não deve ser contado para os pais. 
Todavia, sempre deve-se orientar que o paciente 
Geovana Sanches, TXXIV 
converse com seus pais, o que poderá auxiliá-lo 
em diversos aspectos. 
Caso os pais questionem ao médico acerca 
disso, o mesmo não deverá responder nem que 
sim, nem que não, informando aos mesmos que 
isso vai contra os princípios do Código de Ética 
Médica. 
Entretanto, isso não é uma realidade 
absoluta, servindo apenas para condições de 
normalidade. Sendo assim, o médico sempre deve 
questionar detalhes desse relacionamento, tais 
como as características gerais do parceiro (idade, 
profissão) e onde eles se conheceram. Isso é 
essencial para afastar situações de risco. 
Sexualidade 
 A sexualidade deve ser questionada na 
consulta da Hebiatria para todas as idades, 
diferindo a abordagem. Assim, para adolescentes 
mais jovens, questiona-se por exemplo sobre o 
primeiro beijo, prática masturbatória, 
pensamentos acerca da sexualidade, entre outros. 
Por outro lado, para os mais velhos, já se pode 
questionar pontos como o início da vida sexual. 
 Sempre que o adolescente relatar que já 
teve uma relação sexual, é importante questionar 
quando ela ocorreu, com quem, se está tendo no 
momento, qual a idade do parceiro, se as relações 
são consentidas, se ele está feliz e satisfeito, se 
tem alguma dúvida, entre outras coisas. É 
importante perguntar também sobre o uso de 
preservativo e outros métodos contraceptivos. 
 A partir dos questionamentos, caso seja 
identificada uma condição normal, o sigilo médico 
é resguardado. Todavia, em qualquer suspeita de 
violência, independentemente da idade do 
adolescente, deve-se quebrar o sigilo médico. 
 Quanto mais jovem ele é, maior as chances 
de estarmos diante de uma violência. A lei 
brasileira considera como abuso as relações com 
menores de 14 anos. Entretanto, na prática, isso 
não é uma regra, apenas um ponto de referência. 
Prescrição de anticoncepcionais 
 A partir do momento em que a adolescente 
relata o início da vida sexual, todas as suas dúvidas 
devem ser sanadas e, após, é indicado um método 
contraceptivo. Nesse período, geralmente é 
indicado o uso de preservativos, associado a pílula 
anticoncepcional combinada. 
 Não é necessário o consentimento dos pais 
para a prescrição da medicação. Deve-se fazer a 
receita, explicar como utilizar a medicação e, em 
um outro momento, ela pode retirá-la na UBS. 
Apesar disso, é importante orientar que a paciente 
converse com seus pais, pois esses podem orientá-
la e auxiliá-la a tomar o anticoncepcional da 
maneira correta. 
 Uma condição excepcional é quando a 
menina apresenta fluxo menstrual intenso ou 
cólicas exuberantes, o que pode ser utilizado 
como uma justificativa para o início do uso do 
anticoncepcional. Todavia, essas questões sempre 
devem ser discutidas entre o médico e o paciente. 
 Caso a prescrição não seja informada aos 
pais e eles descubram-na posteriormente, não há 
problema algum, pois o médico está protegido 
pela lei. 
Gravidez 
 Nos casos do diagnóstico de gravidez, 
mesmo que a paciente não queira, é necessário 
quebrar o sigilo médico. Deve-se dar a opção para 
que ela conte aos pais, mas caso ela não o faça, é 
função do médico informá-los. 
 Isso é essencial pois será necessário o 
acompanhamento de uma equipe 
multiprofissional (ginecologista, psicológico, 
clínico...), além das consultas e exames do pré-
natal. 
Aborto 
 Caso a adolescente mencione a vontade de 
abortar, isso deve ser rapidamente repudiado por 
ser uma prática ilegal e contra o código de ética 
médica vigentes no Brasil. É necessário, ainda, que 
expliquemos a ela o risco de vida associado ao 
aborto, devido a qualidade duvidosa dos 
procedimentos realizados no país. 
 Nos casos de aborto em curso ou apenas a 
afirmação do desejo de abortar, o sigilo médico 
deve ser quebrado. Caso a paciente já tenha 
realizado o aborto e não tenha tido intercorrências 
que justifiquem a quebra do sigilo, este não deve 
ser quebrado, tendo em vista que é algo que já 
ocorreu. 
ISTs 
 Ao falarmos em infecções sexualmentetransmissíveis, teremos duas condições distintas. 
Para as doenças mais simples, tratáveis e de fácil 
resolução, caso a paciente faça o tratamento 
correto, não é necessário quebrar o sigilo médico. 
Todavia, quando a doença em questão é crônica, 
como a AIDS e a hepatite, é necessário a quebra 
do sigilo médico, tendo em vista que elas estão 
associadas ao uso de medicações de alto custo e 
risco de complicações. Outro ponto importante é 
verificar se a IST em questão não está associada a 
Geovana Sanches, TXXIV 
um quadro de violência sexual, sendo que nesse 
caso, independente da doença, o sigilo sempre 
deverá ser quebrado. 
Violência 
 Independente do tipo de violência 
identificada ou suspeita, o sigilo médico deve ser 
quebrado, visando sempre a proteção do 
adolescente. 
Saúde mental 
 Todos os quadros psíquicos, tais como 
transtornos alimentares (anorexia, bulimia) e 
depressivos, devem ser informados a família 
devido ao envolvimento desta no tratamento e ao 
risco de piora. 
Ingestão de álcool 
 Para adolescentes menores de 14 anos, em 
geral, conta-se aos pais por ser um início muito 
precoce – quanto mais cedo esse início, maior a 
probabilidade de aumentar o uso ao longo dos 
anos ou iniciar o consumo de outras drogas. 
 Em outras condições, deve-se avaliar a 
frequência do uso, o teor alcoólico ingerido, 
questões médicas ou necessidade de 
hospitalização (desmaio, hipoglicemia, convulsão, 
transtornos psicológicos decorrentes do uso de 
álcool, violência associada a embriaguez etc.), uso 
de medicamentos ou doença crônica incompatível 
com a ingestão de álcool. Caso seja constatada 
qualquer situação adversa e potencialmente 
perigosa, o sigilo médico deve ser quebrado. 
Tabaco 
 O tabaco é uma droga mais aceita na 
sociedade e, em geral, os adolescentes não 
escondem quando fumam, por considerarem ato 
glorioso. Caso o uso seja por um indivíduo abaixo 
dos 14 anos, o sigilo pode ser quebrado devido ao 
início muito precoce. 
 Para pacientes maiores, deve-se 
questionar a frequência do uso e o número de 
cigarros fumados. A partir disso e de outras 
perguntas, utilizamos a escala de Fagerstrom para 
verificar o grau de dependência de nicotina. Caso 
ela seja alta, o sigilo pode ser quebrado, porém 
essa situação não é tão comum. 
Maconha e outras drogas ilícitas 
 Ao nos referirmos a drogas ilícitas, sempre 
haverá quebra de sigilo caso o início seja anterior 
aos 14 anos, identificação de escalonamento 
(aumento do uso ao longo do tempo) e troca para 
uma droga mais potente (da maconha à cocaína, 
por exemplo). Nos casos em que isso não se aplica, 
faz-se uma classificação rápida para decisão: 
• Usuário experimentador: é aquele que 
experimentou algumas vezes e não utiliza 
mais à não há quebra do sigilo 
• Usuário ocasional: é aquele que utiliza de 
vez em quando, como numa festa ou 
outros ambientes sociais; ele não pensa 
nisso em outros momentos à não há 
quebra o sigilo, pois caso contrário você 
perderá o paciente e a oportunidade de 
ajudá-lo 
• Usuário funcional: é aquele que se 
programa a usar de tempos em tempos, 
como uma vez por semana. Ainda não 
apresenta sintomas clínicos ou sinais de 
dependência física, mas por ser algo 
planejado, há uma certa dependência 
psicológica à quebra de sigilo 
• Usuário disfuncional: é aquele que usa a 
qualquer momento, apresentando 
sintomas físicos e psicológicos à quebra 
de sigilo 
Conclusão 
 As questões de sigilo médica na 
adolescência nem sempre são simples, 
especialmente para pacientes com idade limítrofe 
(próximo aos 18 ou aos 13). Sendo assim, nos 
casos de dúvida, o médico não precisa tomar a 
decisão sozinho, podendo discutir o caso com 
outros profissionais. 
 
“TEMPOS” DA CONSULTA 
 A consulta na Hebiatria pode ser dividida 
em 4 momentos: (1) Anamnese com o 
adolescente; (2) Anamnese com a família; (3) 
Exame físico; (4) Hipóteses diagnósticas e 
consulta. Para tal, uma primeira consulta dura em 
média 1h e o retorno, cerca de 30 minutos. 
 A frequência das consultas é variável. Para 
pacientes sem alterações e com completo 
desenvolvimento puberal, dois encontros ao ano 
são suficientes. Já para pacientes que estão em 
desenvolvimento, o ideal é uma consulta de 3 a 4 
meses para reavaliação do estadiamento de 
Tanner. 
 Como já mencionado, caso o adolescente 
não esteja acompanhado, a consulta pode e deve 
ser realizada. Todavia, é importante que os pais 
estejam presentes para que o médico possa 
conhecê-los e para alguns questionamentos. 
Anamnese com o adolescente 
 O adolescente, independente da idade, 
tem o direito a privacidade, ou seja, de ser 
atendido sozinho, em espaço privado de consulta, 
Geovana Sanches, TXXIV 
onde são reconhecidas sua autonomia e 
individualidade. Essa privacidade envolve um 
“contrato” entre o adolescente, a família e o 
médico, de forma que “optar pela privacidade não 
é sonegar aos pais o direito de participar das 
vivências do adolescente”. 
 Nos casos em que os pais se recusam em 
deixar o adolescente sozinho, faz-se o 
atendimento sem abordar nenhuma questão de 
sigilo, todavia, orienta-os acerca dessa 
necessidade. Condição diferente dessa é quando o 
paciente quer a companhia de seus pais durante a 
consulta, sendo este um direito dele. 
 Outras exceções além do desejo do 
acompanhamento são quando o paciente não 
compreende o seu problema, como nos casos de 
déficit intelectual relevante e falta de crítica 
(distúrbios psiquiátricos, drogadição etc.). 
Princípios 
• Saber ouvir 
• Adotar conduta imparcial 
• Desvencilhar os preconceitos (não julgar) 
• Respeitar a privacidade do paciente 
o Confidencialidade 
o Sigilo 
Estrutura 
1. Chamar o adolescente para o consultório 
2. Acolhimento: explicar ao paciente a 
estrutura da consulta, questões acerca do 
sigilo médico etc. 
3. QD e HPMA (ou motivo da consulta) 
4. ISDAS 
5. Alimentação: devemos realizar um 
recordatório alimentar, ou seja, questionar 
o que comeu no dia anterior e o que 
costuma comer no dia a dia, desde o café 
da manhã até o lanche da noite. As 
quantidades também devem ser 
mencionadas. 
6. História social 
a. Estrutura familiar: verificar com 
quem ele mora, como é a relação 
com seus pais, irmãos ou 
responsável, como é a casa (se é de 
alvenaria, quantos dormitórios e 
com quem ele dorme, se possui 
saneamento básico, coleta de lixo) 
b. Condições socioeconômicas 
c. Escolaridade / Trabalho: questionar 
em que ele da escola ele está ou se 
já se formou, se ele teve alguma 
dificuldade na escola (intelectual 
ou de relacionamento), se trabalha 
e qual a área de atuação... 
d. Religião 
e. Esportes / Lazer: questionar se e 
qual atividade física realiza e por 
quanto tempo, o que ele faz nas 
horas vagas para se divertir 
(verificar tempo de tela, 
videogame, interação com os 
amigos etc.) 
f. Avaliação psicológica: pode ser 
incluída tanto no ISDAS, quanto na 
história social, a depender da 
estrutura da consulta. 
Questionamos se há algo com que 
ele se incomode acerca da imagem 
corporal e comportamento; como 
ele está se sentindo; como ele se 
enxerga daqui alguns anos, o que 
ele pretende fazer no futuro 
(avaliação do planejamento). 
g. Hábitos de vida 
h. Sexualidade 
 
Em geral, os hábitos de vida relacionado a 
álcool e drogas e a sexualidade são questionados 
ao final da consulta com o adolescente, momento 
em que já há um vínculo formado. 
É importante lembrar que atenderemos 
adolescentes entre 10 e 20 anos, de forma que é 
necessário adaptar as perguntas de acordo com a 
idade. 
Para tabaco e álcool, em geral, as perguntas são 
mais diretas, pois é algo mais comum na 
sociedade. Para outras drogas, é importante 
questionar de maneira mais fracionada, 
perguntando inicialmente se ele tem contato com 
alguém que utiliza, se alguém já utilizou no mesmo 
ambiente que ele, se ele já teve curiosidade de 
utilizar, entre outros. Deve-se evitar questionar 
tudo ao mesmo tempo pois, caso o faça, é 
provável que o paciente escolha te contar apenasuma das coisas, ignorando o restante. 
Após todos esses questionamentos, a anamnese 
com o adolescente acaba e segue-se para a 
próxima etapa da consulta, a qual é realizada com 
os familiares. 
Anamnese com os familiares 
 A anamnese com os pais deve ser realizada 
sempre que possível, mesmo para adolescentes 
com mais de 18 anos. Isso pois, há algumas coisas 
que apenas os familiares saberão responder. 
Geovana Sanches, TXXIV 
 É importante lembrar que esse momento 
serve para complementar a história do 
adolescente. Todavia, há os extremos em que é 
necessário tirar toda a história nesse momento ou 
que o adolescente já contou tudo. 
 Outro ponto importante é que durante a 
anamnese com os pais, o adolescente permaneça 
na sala, de forma a passar uma maior segurança 
para o paciente acerca do sigilo médico. 
Estrutura 
1. Acolhimento dos pais 
2. QD e HPMA com a mãe (ou motivo da 
consulta): deverá complementar as 
lacunas que restaram durante a história do 
adolescente. Nos casos em que não há 
lacunas, pode-se completar essa área com 
“vide adolescente” 
3. Crescimento e desenvolvimento: não 
precisa ser muito detalhado quanto na 
consulta pediátrica, registrando apenas 
marcos importantes. 
4. Imunizações 
5. Antecedentes Mórbidos Pessoais: doenças 
na infância, alergias, internações ou 
cirurgias necessárias... 
6. Antecedentes Familiares ou 
Consanguinidade: cardiopatias, doenças 
metabólicas, doenças da tireoide, 
neoplasias... 
7. Antecedentes obstétricos: verificar se o 
parto foi normal ou cesária, se o paciente 
nasceu a termo ou prematuro, entre 
outras coisas 
 
Com esses apontamentos e a 
complementação da história do paciente, a 
anamnese com os familiares está finalizada. 
Exame físico 
 Durante o exame físico, é altamente 
recomendada a presença de um acompanhante, 
sobretudo se o paciente for menor de 18 anos. 
Caso o paciente tenha vindo sozinho, deve-se 
solicitar que alguém da equipe (enfermagem, 
auxiliar, secretária, colega etc.) entre no 
consultório para esse momento. 
 Quando o médico é do sexo oposto ao do 
paciente, se possível, deve-se solicitar a entrada 
de alguém do mesmo sexo para acompanhar o 
atendimento, o que geralmente deixa o paciente 
mais confortável e atua como um facilitador do 
exame físico. 
 Essa é uma recomendação do Código de 
Ética Médica e de Conselhos Regionais de 
Medicina, tendo como principal função a proteção 
do médico. Isso pois, podem ocorrer erros de 
interpretação durante o exame, com 
consequentes processos judiciais. 
 Um ponto importante é que o adolescente 
tem o direito de recusar o exame físico, 
especialmente quando se trata da genitália. 
Nesses casos, deve-se informar acerca da 
importância do exame e, se a recusa persistir, isso 
deve ser registrado em prontuário. 
 A estrutura do exame físico do adolescente 
é muito semelhante ao da clínica médica, 
incluindo o exame geral e a análise dos sistemas. 
Exame físico geral 
• Estado geral 
• Antropometria: os dados encontrados são 
colocados nas curvas para verificação da 
normalidade. 
o Peso: para a pesagem, não é 
necessário que o adolescente retire 
a roupa, apenas o excesso delas e o 
tênis. 
o Estatura 
o IMC 
o Circunferência abdominal 
• Sinais vitais 
o Pressão arterial 
o Frequência cardíaca 
o Frequência respiratória 
o Temperatura axilar 
Exame físico específico 
• Cabeça e pescoço: avaliação do couro 
cabeludo, mucosa oral, gengivas, dentes, 
amígdala, exame de orofaringe, inspeção 
nasal, otoscopia, palpação de tireoide e de 
cadeias linfonodais 
• Cardiovascular: ausculta dos focos 
cardíacos 
• Pulmonar: ausculta anteroposterior e em 
perfil. Realiza-se o exame completo apenas 
no caso de alteração ou queixa do paciente 
• Abdome: inspeção, ausculta, percussão, 
palpação superficial e profunda, palpação 
de fígado, baço e intestino 
• Osteomuscular: avaliação da coluna, 
joelhos ou algum local de queixa 
• Avaliação de membros: palpação de pulsos 
periféricos, análise de edema, etc 
Avaliação do estado nutricional 
Exame ginecológico e andrológico 
 Durante o exame ginecológico e 
andrológico, um dos pontos essenciais é 
Geovana Sanches, TXXIV 
determinar o estágio de maturação sexual 
(Tanner), o qual está relacionado a puberdade e, 
consequentemente, ao crescimento. 
 Para adolescentes do sexo feminino, o 
exame das mamas é exame de rotina. Ele inclui: 
• Inspeção: deve ser feita com a paciente 
sentada na mama, verificando-se 
assimetria, alterações de pele (dermatite é 
comum na adolescência) e classificando o 
desenvolvimento mamário através do 
estadiamento de Tanner 
• Palpação: solicita-se que a paciente se 
deite na maca. Todos os quatro quadrantes 
da mama devem ser palpados, verificando 
a presença de pontos dolorosos, alterações 
de pele, hipersensibilidade mamária 
(especialmente no início da adolescência), 
presença de nódulos. 
o O aparecimento de nódulos nas 
mamas, especialmente de 
fibroadenomas, é frequente em 
mulheres no menacme. A conduta 
é expectante, verificando o 
crescimento desse nódulo. 
o Sempre devemos questionar a 
paciente se ela tem o costume de 
palpar as mamas e se já notou 
alguma alteração. Caso a resposta 
seja “não”, deve-se ensiná-la a 
palpar e explicar a importância do 
auto-exame. 
Após a palpação das mamas, solicitamos que a 
paciente se vista na porção de cima, para 
prosseguir com o exame genital. Na hebiatria, não 
é de rotina a realização do toque ou exame 
especular, tendo em vista que caso haja 
necessidade, a paciente deve ser encaminhada 
para o ginecologista. 
Sendo assim, o exame ginecológico consiste na 
inspeção dos genitais, verificando especialmente a 
porção anatômica. Devemos verificar a estrutura 
dos grandes e pequenos lábios, além de possíveis 
alterações (dermatite, lesão de pele, vesículas, 
ulcerações, malformação, hipertrofia, presença de 
leucorreia, entre outros). 
Para o sexo masculino, são avaliados 
principalmente o pênis e os testículos. Quanto ao 
pênis, é importante verificar: 
• Exposição da glande: devemos pedir para 
que o adolescente faça o movimento e, 
apenas caso ele não saiba como, o médico 
poderá realizá-lo. 
• Pilificação: inicia-se na base do pênis 
• Lesões: coloração e lesões de pele, como 
vesículas e machucados. 
• Meato uretral: verificar se este é 
anatomicamente normal, se há sinais 
flogísticos, etc 
• Assepsia: orientar a higiene adequada 
• Tamanho do pênis: na rotina médica, não é 
necessário medir o pênis, pois apenas na 
inspeção já é possível verificar se há 
alteração. 
o Verificar presença de micro-pênis 
(menor do que 4 cm) 
o Caso o paciente tenha queixas 
quanto ao tamanho, o pênis pode 
ser medido utilizando-se uma 
régua ou fita métrica. É necessário 
que a medida seja feita a partir da 
base do pênis, sendo que para isso 
é necessário rebaixar a sínfise 
púbica. 
§ Existem gráficos que 
relacionam a média do 
tamanho do pênis e a idade, 
mas isso não é utilizado 
rotineiramente, apenas 
quando há uma queixa, 
encaminhamento ou 
suspeita de alteração. 
Após exame do pênis, segue-se para o exame dos 
testículos, o qual inclui a verificação de: 
• Presença de hérnias: solicitamos que o 
paciente faça a manobra de valsalva. Não é 
rotineiro, porém importante numa 
primeira consulta. 
• Presença de varicocele: verificar ambos os 
lados da bolsa escrotal, sendo que caso 
uma delas esteja mais espessa, pode ser 
sinal de uma dilatação por regurgitamento 
venoso. A confirmação é feita por 
ultrassom doppler. 
o Existem vários graus de varicocele e 
a partir disso, a conduta pode ser 
tanto especular, quanto cirúrgica. 
o Trata-se da principal causa de 
infertilidade na vida adulta. 
• Consistência testicular: o normal é que eles 
sejam fibroelásticos. Devemos verificar a 
presença de tumorações, consistência 
pétrea, etc. 
• Volume testicular: é comum que haja 
assimetria entre os dois testículos, mas 
Geovana Sanches, TXXIV 
essa alteração não pode ser tão 
exuberante (ex.: um testículocom 10 mL e 
outro com 30 mL). Na prática, o volume 
testicular pode ser medido com o 
orquidômetro comparando-se as porções 
do aparelho com o tamanho do testículo 
palpado. 
 
• Alterações 
o Anorquia: ausência de testículo 
o Criptorquidia: testículo fora da 
bolsa testicular, porém na correta 
região anatômica 
o Testículo ectópico: está 
anatomicamente fora do seu 
percurso, como na coxa ou dentro 
do abdome. O tratamento é 
cirúrgico, com remoção desse 
testículo (alta taxa de malignização) 
o Testículo retrátil: está dentro da 
bolsa escrotal, mas apresenta 
fragilidade ligamentar, de forma 
que ele pode se locomover, 
chegando ao ápice da bolsa e 
dificultando sua palpação. 
Avaliação das mamas em meninos 
 Quando identificamos um menino com 
nódulo mamário, devemos verificar a presença de 
ginecomastia. 
Hipóteses diagnósticas 
 Nas hipóteses diagnósticas, sempre devem 
ser incluídos quatro diagnósticos essenciais: 
(1) Diagnóstico antropométrico, incluindo peso, 
estatura e IMC; 
(2) Diagnóstico puberal, relatando se o paciente é 
impúbere, está com a puberdade adequada, 
precoce ou tardia. O estadiamento de Tanner deve 
ser incluído; 
(3) Diagnóstico nutricional, mencionado se a 
alimentação do paciente é ou não adequada. Nos 
casos em que não está adequada, deve-se relatar 
o que há de errado. Exemplo: ingestão excessiva 
de açúcar, pouca ingestão de fibras, entre outros 
(4) Diagnóstico vacinal, informando se o 
calendário está em dia ou quais as vacinas que 
faltam. Caso o médico não tenha visto a carteira 
vacinal, pode mencionar o que foi informado pelo 
paciente (desde que deixe isso claro no 
pronturário) ou colocar “a esclarecer”. 
Outra possível estrutura 
1) Queixa principal ou motivo da consulta e os 
sintomas relatados na HPMA 
2) Sintomas relatados no ISDA 
3) Alterações ou achados no exame físico 
4) Diagnósticos em acompanhamento ou 
tratamento 
5) Aspectos Alimentares 
6) Aspectos Familiares 
7) Situações de Risco (Drogas, DSTs, Gravidez) 
8) Avaliação nutricional 
9) Desenvolvimento puberal 
10) Imunização 
Conduta 
 Na conduta, deve-se seguir uma ordem, 
agrupando exames cujo material de coleta é o 
mesmo. 
1) Instituição de Tratamento 
2) Solicitação de Exames Subsidiários e de 
rotina 
o Sangue: hemograma, ferro sérico, 
ferritina ou transferrina, Glicemia 
de Jejum, Tipagem Sanguínea 
o Urina: urina I, urocultura, 
antibiograma 
o Fezes: Protoparasitológico de fezes 
(PPF) 
o Exames de imagem 
3) Encaminhamento para Avaliação e 
Acompanhamento Especializado 
4) Orientações 
5) Retorno

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