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1- Historiografia da Língua Portuguesa

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SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 2 
UNIDADE 1 – BREVE HISTÓRIA DO LATIM ............................................................ 5 
1.1 Latim Arcaico ..................................................................................................... 7 
1.2 Latim Clássico ................................................................................................... 8 
1.3 Latim Culto ......................................................................................................... 9 
1.4 Latim Vulgar ....................................................................................................... 9 
1.5 Latim Tardio ..................................................................................................... 10 
UNIDADE 2 – O português europeu ....................................................................... 11 
2.1 Formação histórico-linguística da Península Ibérica ........................................ 11 
2.2 Períodos da Língua portuguesa ....................................................................... 18 
2.3 O português arcaico ........................................................................................ 20 
2.4 Característica do português arcaico ................................................................ 21 
2.5 O português Clássico....................................................................................... 24 
2.6 A maturidade da língua portuguesa depois de 1500 ....................................... 28 
UNIDADE 3 – A língua portuguesa além da Europa e da América ...................... 30 
3.1 O português de África, da Ásia e da Oceania. ................................................. 31 
UNIDADE 4 – O PORTUGUÊS NA AMÉRICA: A LÍNGUA LUSITANA NO BRASIL34 
4.1 A língua portuguesa no Brasil de 1500 ............................................................ 34 
4.2 O século XVIII até à chegada de D. João VI (1808) ........................................ 36 
UNIDADE 5 – A estrutura da língua portuguesa de 1800 a 1950 ......................... 39 
5.1 Fonética e fonologia ........................................................................................ 39 
5.2 Morfologia e sintaxe ......................................................................................... 41 
5.3 Fase de nivelamento (1950 em diante)............................................................ 43 
UNIDADE 6 – A língua portuguesa do Século XXI ................................................ 50 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 57 
 
2 
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eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e 
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
INTRODUÇÃO 
 
Os estudos sobre a Historiografia da Língua Portuguesa visa oferecer um 
panorama sobre as origens da Língua Portuguesa desde sua relação com o Latim, 
passando pelo Árabe, o Basco, o Grego até o nascimento de Portugal, seguindo 
pela expansão da língua na América, na Ásia e na África, até o português falado no 
Brasil de hoje. 
Os estudos deste módulo serão pensados a partir da obra “História concisa 
da língua portuguesa” de BASSO e GONÇALVES (2014), de forma que consigamos 
entender na íntegra a história de nossa língua materna e sua relação com as 
variações regionais no Brasil. Contudo, para chegarmos a este momento, devemos 
acompanhar de perto a trajetória embrionária da origem indo-europeia da língua de 
Roma até o seu desabrochar pelas mãos de dois dos maiores escritores de língua 
portuguesa: o poeta português Luís de Camões e o brasileiro de maior importância 
para a língua portuguesa no Brasil, Machado de Assis. 
Quando estudamos a língua portuguesa com mais profundidade, perguntas 
surgem aos montes, do porquê de determinadas estruturas ou mesmo da formação 
de algumas palavras na língua portuguesa. 
Um estudo mais arraigado da língua permitirá enxergar que o português não 
é apenas um braço de uma família imediata (a das línguas românicas), mas 
pertence também a um tronco mais extenso, com relações com o grego, o búlgaro, o 
lituano, o sânscrito ou o antigo prussiano. 
Se a língua que falamos é o que somos, ou no mínimo faz parte permanente 
da nossa mente, do nosso mundo, estudar sua história nesses termos é não 
somente saber de onde viemos, mas buscar saber fundamentalmente quem somos, 
pois, o estudo da língua permite conhecer também o nosso próprio passado. 
Algumas curiosidades ao longo do estudo historiográfico é a de sabermos, 
por exemplo, que não é mera coincidência que lá na distante Romênia o pronome de 
primeira pessoa singular seja eu e um bar se chamar bodega. 
A movimentação geográfica dos romanos e a língua falada por este povo (o 
latim vulgar), fizeram circular para a Lusitânia, região situada a oeste da Península 
Ibérica (correspondente ao atual Portugal e à região espanhola da Galícia) a língua 
românica. A Península Ibérica, era o meio do caminho, devido a sua posição 
3 
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recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
geográfica, foi constantemente invadida e colonizada por diversos povos que 
falavam línguas diferentes: lígures, tartéssios, fenícios, gregos, bascos, iberos e 
celtas. Por volta do ano 218 a.C., chegaram os romanos, que com o passar dos 
tempos conquistaram esses povos, conseguindo assim, a unificação linguística. Pelo 
fato de o Latim ser uma língua mais organizada e o meio de comunicação mais 
adiantado, ele foi aos poucos se impondo em toda a península, substituindo as 
demais línguas, com exceção do basco. 
Pouco se sabe sobre a Península Ibérica antes da chegada dos romanos. 
Supõe-se que, primitivamente, ela tenha sido habitada por dois povos: o cântabro-
pirenaico e o mediterrâneo, dos quais teriam se originado o povo basco e o ibérico. 
Os tartéssios se alojaram ao sul da península, fundando a cidade de Tarsis, 
aonde, segundo a Bíblia, Salomão ia buscar ouro, prata e marfim. Essas riquezas 
atraíram outros povos: os fenícios, que dominaram o sul, fundando as cidades de 
Cádiz, Málaga e outras, e os gregos, que, derrotados pelos fenícios no sul, foram 
para o leste, fundando, entre outras, a cidade de Alicante. 
Os lígures provavelmente estiveram no norte. Mais tarde, por volta do século 
V a.C., chegaram os celtas, que se fixaram na Galícia e no centro de Portugal. 
No século III a.C., para defender seu poderio no Mediterrâneo poupado por 
Cartago, os romanos desembarcaram pela primeira vez na península. Em 25 a.C., 
toda a faixa ocidental da península já estava conquistada e todos os peninsulares, 
com exceção dos bascos, acabaram por adotar a língua e os costumes dos 
vencedores, ou seja, romanizaram-se. 
O processo de romanização na Península Ibérica não se deu ao mesmo 
tempo em todas as regiões. Nas regiões do norte, onde o processo de romanização 
foi menor, o latim evoluiu de uma maneira mais livre e revolucionária. 
Apesar de haver escolas onde estudaram imperadores, poetas e filósofos, 
dentre eles – Trajano, Adriano, Sêneca e Marcial –, o latim que se impôs não foi o 
clássico, mas sim o vulgar. Este, por sua vez, distanciava-se cada vez mais do latim 
clássico. Portanto, as línguas românicas da península são fruto de evolução do latim 
vulgar em contato com elementospré-românicos e outras influências de povos que 
chegaram mais tarde. 
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direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios 
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e 
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
É importante chamar atenção para o fato de que o processo, tanto do latim 
como do português, não são línguas nascidas e cristalizadas imediatamente com 
sua gramática e seu léxico de uma só vez estabelecidos. As incidências de fatos 
socioculturais são muitas, somadas aos atos políticos. 
O fato do português ser considerado uma língua latina se deve justamente 
porque encontramos no latim as palavras que deram origem ao léxico do português, 
mas também que encontramos certas características sintático-morfo-fonológicas 
específicas do latim e das línguas românicas no português. 
Para entendermos a história do português, será necessário compreender o 
percurso que o latim trilhou até se diferenciar, mesmo porque a língua que resultou 
nas línguas românicas modernas não foi o que chamamos de latim clássico, mas, 
antes, o latim falado pelas pessoas comuns no dia a dia, nas mais diversas 
interações, o chamado latim vulgar. E talvez seja esta a relação que deveremos 
fazer para acompanharmos a história da língua portuguesa e a influência que vem 
sofrendo na contemporaneidade. 
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UNIDADE 1 – BREVE HISTÓRIA DO LATIM 
 
 O latim se desenvolveu e foi falada incialmente na região central da Itália, 
chamada de Lácio, durou em média o primeiro milênio antes de Cristo. Inicialmente, 
tratava-se de uma das línguas itálicas, como o osco e o umbro, faladas em 
pequenas aldeias de origem étnicas e linguísticas variadas: ao sul da Itália, como na 
Sicília ou em Nápoles, já havia colônias gregas desde bem cedo no primeiro milênio 
antes de Cristo; ao centro da península, havia povos de origem linguística próxima 
como oscos, umbros e latinos, e, ao norte, os etruscos, um povo não indo-europeu 
que ocupavam um grande território, além de outros povos como os lígures, os 
réticos e os vênetos, como podemos ver no mapa 1, abaixo: 
Mapa 1 – Línguas da Península Itálica 
 
 
 A língua latina, que tem por nascimento a cidade de Roma, segue de perto as 
conquistas dos romanos durante o período inicial da monarquia; atravessa vários 
séculos de república, e chega, finalmente, a grande expansão imperial. A força do 
latim pode ser comprovada pela grande extensão da Europa, pelo norte da África e 
por diversas regiões da Ásia, até se transformar através do curso natural das 
línguas, em dialetos incompreensíveis entre si, que acabaram dando origem às 
línguas românicas. Com a fragmentação do Império romano, após a queda em 476, 
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diante dos invasores germânicos, teria surgido o aparecimento de dialetos bem 
diferentes entre si ao longo da antiguidade tardia. 
A força do Império Romano e de seu poderio, a partir de sua expansão, pode 
ser comprovado no mapa abaixo. Essas regiões pertenceram ao Império na época 
de Trajano, no início do século II d.C., período em que o domínio atingiu sua 
extensão máxima. 
Mapa 2 – O Império Romano no seu apogeu 
 
 
O latim, que ainda hoje estudamos, obedece à variante literária e estilizada de 
um período importante para a construção da história do Ocidente, contudo, um 
período curto, se pensarmos na expansão alcançada pelo Império: este período 
compreende os séculos I a.C. e I d.C. 
Nesse período, grandes autores escreveram obras literárias que ajudaram a 
moldar as bases culturais, políticas, sociais, filosóficas e religiosas da Europa e, 
consequentemente, do mundo Ocidental. Dentre esses autores, podemos destacar o 
poeta Virgílio, que escreveu, entre outras obras, a Eneide, no final do século I a.C. 
Nesse poema, Virgílio narra as origens históricas e mitológicas da grandiosa Roma, 
governada, no seu tempo, por Augusto. 
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1.1 Latim Arcaico 
 Os primeiros registros do latim escrito data de VII ou VI a.C.. Mais tarde, por 
volta do século III a.C., começam a ser produzidos textos literários em latim, em 
grande parte através de um processo de assimilação da cultura e literatura gregas 
do período. 
A expansão de Roma em pouco tempo já somava uma quantidade de 
territórios de culturas diferentes, e por volta do século II a.C., o Mar Mediterrâneo já 
era praticamente dominado pelos romanos. 
Desse período, o documento (texto literário) mais antigo escrito em latim que 
sem tem notícias é uma tradução da Odisseia de Homero, feita por um escravo 
grego chamado Lívio Andronico. O texto fora escrito em versos saturninos e 
sobraram apenas alguns fragmentos, um pouco mais de cem versos. Ainda nesse 
período, outros autores produziram textos mais ou menos adaptados da tradição 
grega, como o poema épico Bellum Punicum de Gneu Névio, os Annales, poema 
épico de Quinto Ênio, tragédias, de Lívio, Pacúvio, Névio e Ênio e as comédias de 
Plauto e Terêncio, de gosto popular, que seguem a tradição da Comédia Nova 
grega. 
Névio e Ênio, seguindo o caminho aberto por Lívio, escreveram os primeiros 
textos épicos. A poesia épica escrita por esses autores contava as origens de Roma 
até as recentes guerras púnicas, contra Cartago (que compreendem três guerras, de 
264 a 146 a.C.), contemporâneas dos dois autores. O latim desse período ainda é 
considerado menos polido e estilizado do que o que viria a ser utilizado no período 
seguinte, quando a língua literária é levada ao seu épico criativo. 
 O texto latino mais antigo de que se tem notícia é uma inscrição curta em uma 
fíbula (uma espécie de broche encontrada em Preneste, na Itália). O artefato, 
preservado no Museo Preistorico Etnográfico Luigi Pigorini, em Roma, pode ser visto 
na imagem abaixo: 
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Fíbula encontrada em Preneste. 
 
 
 Transcrito, o texto diz MANIOS MED FHEFHAKED NVMASIOI (visto da 
direita para a esquerda na imagem). Uma “tradução” para o latim clássico seria 
menius me fecit numerio (“Mânio me fez para Numério”, ou seja, uma assinatura do 
artesão e uma dedicatória na peça para a pessoa que encomendou a peça). Apesar 
de várias dúvidas sobre sua autenticidade desde a descoberta do artefato no século 
XIX, ela ainda é considerada uma peça muito antiga, provavelmente do século VII 
a.C.. Se autêntica, a fíbula apresenta detalhes muito interessanteda estrutura do 
latim arcaico. 
 
1.2 Latim Clássico 
 Convencionou-se chamar de latim clássico o estilo literário culto da língua ao 
longo do primeiro século a.C. até o início do primeiro século da Era Cristã. São 
desse período a prosa elaborada do político, filósofo e orador Cícero, a poesia lírica 
e a épica nacional de Virgílio, com sua Bucólicas e sua Eneida, a lírica amorosa de 
Catulo, Propércio, Tibulo, Horácio e Ovídio, além de textos de historiadores como 
Tito Lívio. Em geral, o latim que se ensina hoje em dia é a língua literária desse 
período, tanto por causa da beleza do estilo cuidadosamente trabalhado desses 
autores quanto pelo fato de que grande parte do corpus mais substancial dos textos 
clássicos é literário, o que nos deixou sem muito acesso aos outros registros 
linguísticos do período. Considera-se, em geral, o latim clássico como modelo de 
excelência linguística e cultural, de modo que quando não se especifica a época ou 
o registro linguístico, chama-se “latim” geralmente a língua usada nos textos desses 
autores “maiores”. 
 
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1.3 Latim Culto 
 Chamamos de latim culto a variedade falada pela classe culta de Roma. Esse 
dialeto era a base real do latim clássico, sua variante literária, mas não se confunde 
com ela. A estrutura gramatical do latim culto, assim como o vocabulário, 
aproximava-se bastante do latim clássico, contudo, menos estilizado. Poucos 
documentos desta época são menos comuns, esse registro encontra-se em cartas 
de autores antigos, como as de Cícero e as de Sêneca, nas quais a estilização e o 
trabalho estético consciente com a linguagem são menos intensos, ainda que 
presentes. Com as cartas, talvez por não haver nenhuma preocupação literária, 
estética, é que o dialeto culto se faz presente. 
 Uma das características mais importantes da prosa culta não literária seria 
uma ordem de palavras bem mais fixa do que a do latim clássico literário. Nas cartas 
de Cícero, por exemplo, ao escrever para os seus parentes, percebe-se o uso de 
diversos coloquialismos, como ouso regular de frequentativos (uma forma verbal que 
indica repetição de um evento, como em “salientar”, frequentativo de “saltar”), troca 
de formas de advérbio e adjetivos, entre outros. 
 
1.4 Latim Vulgar 
 O latim vulgar é a língua do povo, por ser a língua falada pela maior parte da 
população romana em todos os períodos considerados. Os registros dessa língua 
são mais difíceis de encontrar, pois, geralmente a escrita é associada às elites mais 
educadas, o que explica a escassez de registros em latim vulgar, mas aqueles que 
chegaram até nós, dão testemunhos muito interessantes da evolução do latim. As 
inscrições encontradas em muros, em banheiros públicos, e até mesmo em obras 
literárias que tentavam retratar a variedade linguística (como as comédias de Plauto 
ou o romance chamado Satyricon, de Petrônio, autor do século I d.C., que apresenta 
longas passagens que tentam simular a língua do povo de Roma) nos mostram uma 
língua viva, muito frequentemente aberta às mudanças que ocorriam naturalmente 
nas línguas, especialmente em se tratando da língua de um império que se espalhou 
por regiões com substratos linguísticos bastante diferentes. 
 O texto anônimo Appendiz Probi, que é anônimo e provavelmente data do 
século III a.C. contribuiu e muito para chamar atenção da população para as formas 
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corretas e incorretas do latim daquela época. Exemplo interessante é a forma auris 
(“orelha”), do latim culto, possivelmente recebia, na fala popular, o sufixo diminutivo 
–cula, resultando em aricula “orelhinha”. Daí para a forma oricla, que deveria ser 
evitada, temos a mudança do ditongo au para o, e a síncope da vogal u entre c e l. 
Ao estudarmos a passagem do latim para o português, veremos que essa mudança 
de ditongos a vogais plenas é sistemática e regular; além disso, veremos que 
frequentemente, formas como -cla resultam em “-lha” e que vogais como i podem 
resultar em e. Assim, “orelha” em português descende diretamente de auris ou de 
oricla? Parece claro que, ao menos nesse caso, a instrução do Appendix não 
funcionou. Tantos séculos depois, sobrevive a forma então considerada “errada”. 
 
1.5 Latim Tardio 
Após o período do latim clássico, temos o chamado “latim imperial” que 
abrange os dois primeiros séculos da Era Cristã, com grande produção literária (a 
chamada “idade de prata” das letras latinas), com as obras de Lucano, Sêneca, 
Petrônio, entre outros. Conforme o império perde força, a produção literária decai, e, 
ao longo dos séculos da antiguidade tardia, a língua da administração do império e 
das novas instâncias socioculturais, como a Igreja Católica, é chamada de modo 
genérico de “latim tardio”. O latim (assim com o inglês hoje) foi usado ao longo de 
muitos séculos como língua universal para relações internacionais, para a ciência, 
para administração do Império e da Igreja, e ao longo da Antiguidade e da Idade 
Média, todos os documentos importantes eram escritos em latim. 
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UNIDADE 2 – O português europeu 
 
2.1 Formação histórico-linguística da Península Ibérica 
Os romanos chegaram à Península Ibérica por volta de 218 a.C., durante a 
Segunda Guerra Púnica, contra os cartagineses, seus maiores rivais no momento. 
Os cartagineses eram um povo fenício que ocupava o norte da África, com 
capital em Cartago, no atual território da Tunísia, e que começou a se mostrar 
ameaçador aos romanos ao iniciar a conquista de vários territórios ao redor do 
Mediterrâneo, especialmente a Sicília, a partir do século III a.C., e, a partir daí, 
passaram a colocar em perigo a soberania comercial dos romanos no Mar 
Mediterrâneo. 
Os cartagineses ocupavam parte da península, mas, em 209 a.C., os 
romanos os derrotam na Espanha e iniciaram a ocupação do território. 
Primeiramente, a península foi dividida em Hispânia Citerior (literalmente “Hispânia 
mais próxima” na região nordeste) e Hispânia Ulterior (literalmente “Hispânia mais 
distante, na região sudeste), como podemos ver no mapa abaixo. 
Posteriormente, sob o império de Augusto, a Hispânia Ulterior é dividida em 
duas províncias: a Lusitânia, ao norte, e a Baetica, ao sul. Ainda mais tarde, a 
Hispânia Citerior é transformada na província Terraconensis, e separa-se da 
província da Gallaetia, ao norte. 
Mapa 3 - Hispânia Romana 
 
As conquistas demoraram, pois, do final do século III a.C., quando os 
romanos derrotaram os cartagineses, até a pacificação completa da Hispânia, foram 
necessárias várias campanhas, incluindo as de Júlio César em 61 a.C., que 
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prepararia a província para a pacificação completa por Augusto, em 27 d.C.. O 
resultado, no Império de Diocleciano, é a seguinte configuração de províncias: 
Mapa 4 – Hispânia Romana sob o Império de Diocleciano (244-311 d.C.) 
 
 
O resultado desse laborioso processo de conquista romana são os diferentes 
graus de romanização das províncias. Naquelas em que os romanos chegaram 
primeiro, os dialetos românicos desenvolvidos foram mais conservadores. 
Também contribui para essa diferenciação, a distância com relação à Roma e 
a dificuldade de acesso a algumas regiões. O tipo de romanização que se deu nas 
províncias também foi diferente. Na Baetica, por exemplo, pelo isolamento, falava-se 
um latim mais conservador e purista, em oposição ao falado no nordeste, na 
província Terraconensis, que era rota de legionários, o que gerou mais instabilidade 
e mudança na língua falada na região, como consequência do dinamismo da 
variedade mais popular de latim falada pelos legionários. Assim, os centros mais 
urbanizados da península acabaram por se influenciar pelo latim culto da Baetica, e 
a Terraconensis acabou por desenvolver inovações típicas do latim vulgar, que se 
refletiram nas línguas desenvolvidas ali posteriormente, como o catalão. 
Ao longo dos séculos V, VI, e VII da Era Cristã, como parte do movimento de 
inversões bárbaras que deram fim ao Império Romano do Ocidente, os visigodos 
sobrepujaram vários outros reinos germânicos e tentaram unificar a Península 
Ibérica, dominando grande parte dela. Ao longo de todo esse período de 
instabilidade política, que se inicia já no século IV d.C., o dialeto germânico 
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visigodos pouco influenciaram as línguas românicas que ali viriam a desenvolver, 
com exceção de alguns empréstimos lexicais, topônimos e antropônimos. 
Um dos reinos germânicos conquistados pelos visigodos ao longo desses 
séculos foi o dos suevos, que constituíram um domínio cujas fronteiras eram quase 
coincidentes com as da anterior província da Gallaecia. A permanência deles ali, até 
a conquista dos visigodos, apenas em 574, permitiu um relativo isolamento 
linguístico que acabou por proporcionar certos desenvolvimentos no latim vulgar 
dessa região, que num estágio muito antigo do português – quando este ainda se 
confundia com o galego –, dos outros dialetos românicos da península. Esse 
isolamento teria grande influência no desenvolvimento do galego-português, pois 
algumas dessas mudanças, como as quedas de l e n intervocálicos (luna > lua, soles 
> sóis, por exemplo) e a mudança dos grupos cl, pl e fl para ch (como em pluvia > 
chuva, clavis > chave, por exemplo) já se manifestavam no período romano (por 
influência dos substratos linguísticos da região). 
O domínio visigodo mantém-se por algum tempo, até que, no início do século 
VII, mais precisamente em 711, os árabes invadem a península. Esses árabes 
mulçumanos, comandados pelo governador da província da África, Tarik Ibn-Ziad, 
associam-se ao visigodo Ágila II, a pedido deste, contra seu oponente Rodrigo, 
último rei visigodo de Toledo, na disputa pelo trono do reino. Com a vitória de Ágila, 
este recebe o trono, mas os árabes conquistam outros territórios, e acabam por 
dominar grande parte da península, com exceção de uma parte das Astúrias, ao 
norte, que resistiu sob o comando do visigodo Pelágio. Por sua vez, Palágio iniciou, 
a partir de 722, o longo movimento denominado de Reconquista, que foi a lenta e 
gradual retomada dos territórios da Península Ibérica pelos cristãos. A reconquista 
só viria a se consolidar em 1492, com a tomada de Granada, último reduto mouro na 
Península Ibérica. 
Assim, os árabes representam um momento crucial na história das línguas 
ibero-românicas, pois, com a resistência dos reinos cristãos ao norte, o movimento 
de Reconquista precisou retomar todo o centro-sul da península, e, como vimos, 
isso demorou sete séculos, nos quais ocorrem diversas batalhas, mas também, em 
alguma medida, a convivência pacífica entre os cristãos e os mulçumanos em 
diversos territórios. 
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Os dialetos românicos da península, no início do século VIII, já se delineavam 
em uma faixa setentrional, em três grupos difusos, que viriam a se tornar as três 
línguas românicas principais: no noroeste, o galego-português, no centro, em 
contato com o substrato basco, o castelhano, e, no leste, o aragonês e o catalão. No 
centro e no sul, com a permanência dos árabes no território da Andaluzia, a 
ocupação era basicamente de mulçumanos e mouros (berberes conquistados pelos 
árabes e principalmente islamizados), falantes de árabe, e um grupo de hispano-
godo-romanos subjugados pelos mulçumanos, falantes do dialeto chamado 
moçárabe (derivado do árabe, “submetido ao árabe”), além dos judeus, que, na 
época, eram vistos pelos árabes como merecedores de direitos iguais, pois eram 
considerados o “povo do livro” (a Bíblia). 
O árabe, por sua vez, foi um superstrato importante na formação das línguas 
românicas da península, e muitas palavras do português contemporâneo são 
empréstimos diretos do árabe. 
O movimento de Reconquista, como vimos, foi muito lento, e levou os reinos 
católicos para o sul, juntamente com suas línguas, ao longo dos sete séculos que 
foram necessários para a retomada integral dos territórios. No entanto, é exatamente 
ao longo desse período que se desenha o mapa geopolítico e linguístico da 
península, já que os reinos cristãos de Portugal, a oeste, Leão e Castela, no centro, 
e Aragão, a leste, cada um a seu modo, ao conquistarem territórios árabes, 
repovoavam os locais e ampliavam reestabelecendo as monarquias, de modo 
bastante diverso das tendências de formação de estado germânico anteriores à 
chegada dos árabes. A Reconquista leva progressivamente os dialetos românicos 
para o sul, definindo as fronteiras finais das línguas portuguesas, espanhola e 
catalã, conforme podemos ver na sequência de mapas abaixo. O Primeiro, Teyssier 
(1997 apud BAÇO e GONÇALVES, 2014), apresenta as regiões conquistadas pelos 
árabes durante algumas batalhas da Reconquista na região de Portugal. 
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Mapa 5 – Datas de batalhas da Reconquista que reconfiguraram o território de 
Portugal 
 
 
Nos anos iniciais do movimento da Reconquista, como se pode ver pelo mapa 
acima, o galego-português, às vezes chamado de galaico-português, ocupa uma 
área bastante avantajada com relação aos outros dialetos. No entanto, os 
movimentos políticos vão determinar uma outra configuração em pouco mais de um 
século, como podemos ver na sequência no mapa nº 6 abaixo. 
O reino de Leão e Castela inicia um movimento que não vai apenas ao sul, 
mas também acaba por conquistadas pelos outros reinos, gerando uma divisão que 
diminui oterritório aragonês, relegando às faixas orientais da península. 
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Mapa 6 – Sobre as Reconquistas nos anos de 790, 900, 1150 e 1300 
 
 
É possível perceber que, por volta de 1300, o desenho político da península já 
apontava para o estado atual da distribuição das línguas românicas ali, como mostra 
o mapa a seguir. 
 
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Mapa 7 – As línguas faladas na Península Ibérica 
 
 Além dos movimentos linguísticos, a Reconquista foi um período muito 
importante para o estabelecimento das unidades políticas da península, como o 
estado monárquico de Portugal. 
 Um dos momentos mais importantes da história de Portugal se deu em virtude 
das alianças políticas derivadas dos movimentos de Reconquista. Assim, em virtude 
de seu sucesso na luta contra os árabes, Dom Raimundo e seu primo Dom 
Henriques receberam, respectivamente, de Dom Afonso VI, rei de Leão e Castela, 
sua filha Urraca e a região da Galiza, e sua filha bastarda Tareja e a região 
desmembrada da Galiza, chamada Condado Portucalense. 
Dom Henrique administra o condado sob tutela de Dom Raimundo, de modo 
que o condado ainda continue submisso à Galiza. No entanto, Dom Henrique, ao 
morrer, deixa o comando do condado à sua mulher, Tareja. Seu filho, Dom Afonso 
Henriques, descontente com a nova vida amorosa de sua mãe, vence, em 1128, a 
Batalha de São Mamede e se proclama rei. Em 1143, Afonso VII, rei de Leão, 
reconhece sua realeza, que foi ratificada pelo Papa Alexandre III em 1173. Portugal 
passa a ser, então, independente da Galiza, e Dom Afonso Henriques continua a 
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expansão em direção ao sul, que, em 1250, Dom Afonso III completa, com a 
conquista do Algarve, de modo a fixar as fronteiras atuais de Portugal do galego-
português, e progressivamente chegando ao Portugal propriamente dito. 
 
2.2 Períodos da Língua portuguesa 
 Seria possível determinar exatamente quando a língua portuguesa nasceu? 
Ou seja, quando precisamente as pessoas que habitavam a atual região de Portugal 
deixaram de falar o latim (ou algum estágio do latim) e passaram a falar português? 
Será que existe uma data? Certamente, não. Não é possível afirmar quando 
exatamente, a partir de uma data, nasceu a língua portuguesa. E não é possível pelo 
fato de as línguas serem dinâmicas, assim como seus falantes e suas histórias. 
Sendo assim, não há nenhum momento ou ponto preciso no tempo que sirva como 
um marco para uma mudança linguística específica, simplesmente porque a língua 
muda inerentemente. Contudo, para a história, é importante que haja um ponto de 
partida, em geral, as datas escolhidas são aquelas que têm alguma relevância 
histórica, seja do ponto de vista político, cultural ou outro. 
 Isso significa, entre outras coisas, que diferentes pesquisadores podem, em 
princípio, usar diferentes marcos históricos em suas periodizações da história. 
Basso e Gonçalves (2014) apresentam as seguintes periodizações a partir 
do quadro abaixo. Na primeira coluna, indicam datas e na primeira linha o nome do 
pesquisador responsável pela periodização, logo abaixo de seu nome: 
 
 Leite de 
Vasconcelos 
Serafim da 
Silva Neto 
Pilar Vásques 
Cuesta 
Luís-Felipe 
Lindley-Cintra 
Até o século IX 
(882) 
Português 
pré-histórico 
(até 882). 
Português 
pré-histórico 
(até 882). 
Português 
pré-literário 
(até 1216). 
Português 
pré-literário 
(até 1216). 
900-1200 Português 
proto-histórico 
(882 até 
1214/1216). 
Português 
Proto-histórico 
(até 1214/1216). 
 
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1200-1300 Português 
arcaico 
(1216 até 
1385-1412). 
Português 
Trovadoresco 
(1216 até 1420). 
Galego-
português 
(1216 até 
1385/1420). 
Português antigo 
(1216 até 
1385/1420). 
1300-1400 Português 
Trovadoresco 
(1216 até 1420). 
Galego-
português 
(1216 até 
1385/1420). 
Português antigo 
(1216 até 
1385/1420). 
1400-1500 Português 
comum (1420 
até 1536/1550). 
Português pré- 
Clássico (1420 
até 1536/1550). 
Português 
Médio (1420 
até 1536/1550). 
1500-1600 Português 
moderno. 
Português 
moderno. 
Português 
clássico (1420 
até século XVIII). 
Português 
clássico (1550 
até o século 
XVIII). 
1600-1700 
1700-1800 
De 1800 em 
diante 
 Português 
moderno. 
Português 
moderno. 
 
Podemos considerar o português arcaico o período que vai do nascimento 
da língua portuguesa (ao menos dos textos mais antigos escritos em português), ou 
seja, fins do século XII e início do século XIII, até o início das grandes navegações 
portuguesas, em torno de 1415 (data da tomada de Ceuta, no norte da África, pelos 
portugueses). 
O período clássico tem início justamente por volta de 1415 e vai até a 
publicação do poema épico Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, datado de 1572. 
Nesse período, relativamente curto, várias inovações e consolidações importantes 
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ocorreram na língua portuguesa, e ela aproximou-se, bastante da língua que 
falamos hoje. 
O português moderno inicia-se em 1572 e segue seu curso, de modo 
diferente no Brasil, em Portugal, África e Ásia – até os dias de hoje. 
 
2.3 O português arcaico 
 Este período consiste da passagem do latim ao romance falado na Galiza, de 
datação incerta, devido à ausência de documentos escritos. Devemos levar em 
consideração as primeiras manifestações escritas do português até fins do século 
XIV e início do XV. Devemos considerar a Carta da Fundação das Igrejas de 
Lordosa (escrita em uma mistura de latim vulgar e romance galego-português, de 
882), além dos textos escritos em português arcaico propriamente dito, que datam 
do século XII e início do XIII, como a Notícia de Torto, datada entre 1210 e 1216, e a 
Demanda do Santo Graal (texto literário traduzido dos romances de cavalaria 
franceses, escrito ao longo da primeira metade do século XIII). 
 As características morfológicas do português pré-literário seguem as 
tendências do latim, e, portanto, as mudanças ocorridas são semelhantes as dos 
outros dialetos românicos da península, como o castelhano. 
 A língua portuguesa, nascida do português medieval do norte, é levada ao sul 
com os movimentos da Reconquista,e, com a capital transferida para Lisboa, em 
1255, a fixação da língua culta não mais seguirá os desenvolvimentos dos dialetos 
do norte, mas sim da zona de influência da capital e de Coimbra. 
Os textos desse período são variados, e os principais gêneros podem ser 
classificados em: 
1) Poesia lírica trovadoresca – a poesia lírica provençal influenciará um 
período bastante fértil de produção de literatura em galego-português. Os três 
cancioneiros editados desse período são o Cancioneiro da Ajuda (de fins do século 
XIII), o Cancioneiro da Vaticana e o Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa. 
São compilações de poesias de trovadores classificadas em cantigas d’amigo 
(poemas de amor com eu lírico feminino); cantigas d’amor, mais eruditas (com o eu 
lírico masculino); cantigas de escárnio e maldizer; poemas satíricos de invectiva, 
mais grosseiros que os anteriores. Os poemas trovadorescos mais antigos datam do 
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início do século XIII, e o gênero desaparece em meados do século XIV, com o último 
trovador, Dom Pedro de Barcelos, filho bastardo de Dom Dinis. 
 
2) Documentos oficiais e particulares – trata-se de leis, cartas forais, 
testamentos, títulos públicos, entre outros. Desse grande gênero, temos dois dos 
textos mais antigos escritos em português que sobraram até hoje, o Testamento de 
Afonso II e a Notícia do Torto, ambos com datação mais provável de 1214. Além 
disso, há uma grande quantidade de documentos escritos em latim mesclado com 
romance galego-português desde finais do século XI até os séculos XIII e XIV, 
quando a maioria dos textos já era escrita predominantemente em português. 
 
3) Prosa literária – o século XIII viu o início da tradição da prosa literária em 
português. Os romances de cavalaria do ciclo arturiano foram traduzidos para o 
português. A novelística bretã aparece representada, sobretudo, pelo ciclo de 
novelas do qual mais conhecida é a Demanda do santo Graal, cujas duas primeiras 
partes são o Livro de José de Arimatéia e o Merlim. Além disso, ao longo do século 
XIV temos os documentos Livro de Linhagens, de Dom Pedro, conde Barcelos, e a 
Crônica geral de Espanha, de 1344, primeiros textos da historiografia escrita em 
português. 
 
4) Textos religiosas – há diversas vidas de santos e obras de espiritualidade 
nesse período, como a Regra de São Bento, do início do século XIV de São Nicolau 
de Myra, e Vida de Cristo, do início de meados do século XV. 
 
2.4 Característica do português arcaico 
 É na segunda metade do século XIII que se estabelecem certas tradições 
gráficas. O testamento de Afonso II (1214) já utiliza ch para a africada [tš] – ex.: 
Sancho, Chus –, consoante diferente do [š], ao qual se aplica a grafia x. Este ch, de 
origem francesa, já era usada em Castela com o mesmo valor. Para “n palatal” e “l 
palatal”, é somente após 1250 que começam a ser usadas as grafias de origem 
provençal nh e lh; ex.: ganhaar, velha. O til (~), sinal de abreviação, serve 
frequentemente para indicar a nasalidade das vogais, que pode vir também 
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representada por uma consoante nasal; ex.: razõ, razom ou razon. Apesar das suas 
imprecisões e incoerências, a grafia do galego-português medieval aparece como 
mais regular e “fonética” do que aquela que prevalecerá em português alguns 
séculos mais tarde. (TEYSSIER, 1997) 
a) Fonética e fonologia 
O quadro de vogais do português arcaico já era bastante próximo do 
português moderno, com as sete vogais orais tônicas derivadas do latim vulgar 
(após a perda da distinção de duração das vogais do latim clássico): /a/, /e/, /ɛ/, /o/, 
/ɔ/, /i/, /u/. As vogais átonas finais do português arcaico eram bastante reduzidas: /i/ 
(pleno, não reduzido como no português moderno), /a/, /e/ e /o/. Em oposição não 
final, as vogais átonas eram /a/, /e/, /i/, /o/ e /u/. Esse sistema segue, de maneira 
geral, o sistema de sete vogais tônicas da maior parte das línguas românicas (com 
exceção, por exemplo, do romeno, do sardo e do siciliano). 
 O sistema consonantal era bastante próximo do moderno, com as importantes 
exceções dos pares /ts/, /dz/ e /tʃ/ /dʒ/, como eram çapato /tsa-pato, fazer/ fadzer/, 
chaga / tʃaga/, já / dʒá/. O primeiro par de consoantes apresentava-se em oposição 
a /s/ e /z/, como em cem /tsn/ X sem /sem/, e cozer /codzer/ X coser /cozer/. Já /tʃ/ 
apresentava-se em opisição a /ʃ/, grafado /x/. A africada /dʒ/, por sua vez, 
apresentava flutuação em alguns casos em que a oclusiva inicial não era 
pronunciada, e acabou por perder a oclusão por completo, resultando em /ʒ/ no 
português moderno. Assim, o português de então apresentava um sistema de 
consoantes que opunha os pares /ts/ e /dz/, /tʃ/ e /dʒ/, /s/ e /z/, e /ʃ/ e /ʒ/. 
 O surgimento das cinco vogais nasais se deu pela perda de consoantes 
nasais que as seguiam, o que foi grafado no começo pelo til, que representava 
incialmente um n abreviado acima da vogal como sinal diacrítico. Em muitos casos, 
as consoantes nasais não caíram na ortografia, e o predomínio inicial do n final foi 
sendo substituído por um m final, que acabou sendo a consoante nasal final em 
todos os casos. Os hiatos nasais criados pela queda do /n/ intervocálico acima 
geraram instabilidade em muitos casos, como em vĩ-o e pĩ-o, que se resolvem com a 
epêntese de semivogal da consoante palatal /ɲ/ em vinho e pinho, ou com a queda 
da nasalização, como em bõ-a > boa. Em outros casos de palatização, ocorre ainda 
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a epêntese da semivogal /j/ a fim de resolver o ditongo, como em lat. alienus > port. 
alheo > alheio. 
 A grande quantidade de hiatos criados pelas quedas de consoantes 
intervocálicos como /n/, /l/, /g/ (como legere > leer) e /d/ (sedere > seer), ainda 
permanece durante esse período, e resolvem-se posteriormente dos modos que 
vimos no parágrafo anterior, ou ainda em crase das vogais, como leer > ler e seer > 
ser. 
b) Morfologia e sintaxe 
A seguir mostraremos alguns exemplos significativos deste período: 
I) As já mencionadas quedas /l/ e /n/ intervocálicos têm consequências 
para a morfologia dos plurais: assim, os nomes terminados em l mantêm a 
consoante no singular, mas a perdem no plural, como vemos em sol > sol, mas soles 
> soes (port. arc.) > sóis (port. moderno). 
Os substantivos derivados das terminações latinas -anus, -anis, e -onis têm 
seus singulares e plurais formados a partir dos seguintes movimentos: manus > 
mano > mão X manos > mã-os (port. arc.) > mãos; leo > leon(e) > leon (port. arc.) > 
leão X leones > leõ-es (port. arc.) > leões. Podemos perceber, aqui, que a queda do 
/n/ intervocálico criou os hiatos arcaicos, que iriam se resolver em ditongos nasais 
posteriormente. No singular, o n final não cai, sendo pronunciado como consoante 
por um bom tempo, vindo a se transformar em ditongo nasal somente muito depois. 
II) Os pronomes possessivos possuíam formasdiferentes tônicas e átonas no 
feminino, como se pode ver abaixo: 
Masculino Feminino 
Tônicos Átonos 
meu mia, mia, minha mia, mha, ma 
teu tua ta 
seu sua sa 
III) O sistema de pronomes dêiticos (demonstrativos e advérbios de lugar) 
organizam-se da seguinte forma: este/aqueste X esse X aquel(e), já antecipando a 
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forma atual de distinção entre este, esse e aquele; quanto aos advérbios de lugar, 
temos aqui/acá/acó X ali/alá/aló. 
IV) Havia, também, dois advérbios anafóricos derivados do latim que eram muito 
frequentes em português arcaico: (h)i “aí/ aqui”, derivado do latim ibi “aí, lá”, e 
ende/en, “daí, a partir de” derivado do latim inde “daí, a partir de”. 
O sistema verbal já era praticamente idêntico ao do português moderno, com 
algumas peculiaridades, tais como: 
I) O infinito flexionado, um traço específico do português, já era 
encontrado em formas como (teer, teerdes, teermos, entre outras). Essa 
característica não se desenvolveu no leonês e no castelhano. 
II) As formas etimológicas da segunda pessoa do plural em -des, 
derivadas do latim -tis, ainda se mantinham: amades, seerdes (futuro) e leixedes 
(subjuntivo). 
III) As terceiras pessoas do singular do perfeito apresentavam flutuações 
de formas, como em fizo e fez, de “fazer”, disso/dixo e disse, de “dizer”, entre outras. 
IV) Os verbos da segunda conjugação formavam particípio em -udo, como 
creúdo, de creer, conheçudo (ou conhoçudo), de conhocer, entre outros. 
V) As formas de tratamento eram apenas as de segunda pessoa, tu 
(pessoal) e vós (plural e deferência), de modo que ainda se desconheciam formas 
como vossa mercede > vosmecê > você. 
 
2.5 O português Clássico 
 O período clássico vai de 1415 até 1572, coincide com o início das grandes 
navegações portuguesas e culmina com a publicação do poema épico Os Lusíadas, 
de Luís Vaz de Camões. 
 Para além de empréstimos das mais variadas línguas, o léxico passou por 
grandes mudanças. Com a perda do gênero neutro, muitas palavras apresentaram 
flutuações de gênero, de modo que ora eram masculinas, ora femininas. Nos 
períodos anteriores, inclusive, diversos itens lexicais terminados em consoantes não 
possuíam formas diferentes para o masculino e o feminino. Um desses itens, muito 
frequente no período do português arcaico, é a forma de senhor, usada tanto para o 
masculino quanto para o feminino. Ao longo do século XV, no entanto, inicia-se um 
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movimento de regularização dos gêneros, de modo que, possivelmente por causa da 
influência da nova forma senhora para o feminino, vários nomes terminados em 
consoante começam a receber uma forma feminina em –a – não deve espantar, 
portanto, que mesmo um particípio presente como “presidente” possa receber uma 
marcação de gênero feminino (já dicionarizada há muito tempo) como “presidenta”. 
Esse processo analógico se estende a outras formas, como as terminadas em -
agem, que flutuavam em gênero, e passariam todas a ser femininas (linguagem e 
linhagem, por exemplo, eram masculinas anteriormente). 
 O português do século XV começa a receber muitos empréstimos latinos, do 
ponto de vista lexical, em virtude da chegada do Renascimento a Portugal, em boa 
parte devido à atuação de escritores e pensadores, com a ínclita Geração dos 
príncipes de Avis e Luís de Camões. Muitos desses latinismos virão a se fixar como 
formas principais, enquanto outras sobreviverão lado a lado com as formas mais 
antigas que derivam do latim vulgar. 
 É possível perceber algumas mudanças iniciadas nesse período no plano 
fonológico, como veremos a seguir: 
a) Sincope do /d/ na segunda pessoa do plural – em Dom Diniz e 
Fernão Lopes já é possível perceber que o d da segunda pessoa do plural estava 
resolvendo da seguinte maneira: estades > estaes > estais, vendedes > vendees > 
vendeis. Um dado interessante a respeito dessa mudança especiífica é o fato de 
que, nas peças do dramaturgo Gil Vicente (c. 1465-c. 1536), o /d/ intervocálico de 
algumas formas verbais da segunda pessoa do plural aparece como marca de 
arcaísmo na fala de pessoas mais velhas, o que demonstra que, para o público de 
período, essa característica era percebida como um traço de arcaísmo. 
b) Eliminação dos hiatos – como vimos, uma grande quantidade de 
hiatos foi criada com as quedas dos /l/, /n/, /d/ e /g/ intervocálicos. Além disso, a 
recente perda /d/ na segunda pessoa do plural aumentou a quantidade de hiatos. No 
período clássico, os hiatos foram resolvidos através de três processos principais: 
monotongação, a ditongação e a epêntese. Vejamos alguns exemplos: 
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Monotongação 
• Quando o hiato consistia de vogais idênticas, ocorria a crase: dolore > door 
> dor. 
• Quando o hiato consistia de vogais diferentes, em alguns casos houve 
inicialmente a assimilação de uma das vogais, com posterior crase: 
palumbu > pa-ombo > poombo > pombo. 
 
Ditongação 
• Uma das vogais do hiato passa inicialmente a semivogal, com posterior 
ditongação: nebula > /nevu.a/ > /nevual/. 
 
Epêntese 
Há dois tipos de epêntese para resolver os hiatos: a vocálica, criando ditongos, 
e a consonantal. 
• A epêntese vocálica inicial permite a criação de ditongo posteriormente: 
credo > cre-o > creio. 
• As epênteses de consoantes preenchem o hiato com uma consoante 
diferente da que havia sido sincopada anteriormente: vinu > vĩ-o > vinho 
(epêntese de /ɲ/, uma > ũ-a > uma (epêntese de /m/). 
 
c) Nasalização – outro fenômeno importante do período foi a unificação 
das terminadas em ditongo nasal. Formas variadas como leõ (leão) e cã (cão), entre 
outras, resultariam no ditongo -ão /ɐ w/. Vejamos o quadro a seguir: 
 
Latim Português arcaico Português clássico 
tam 
-am 
 
 
 -ã 
tã 
 
 
 
 
 
dant -ant dã 
pane 
-ane 
pã 
sum 
-um 
 sõ 
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sunt 
-unt 
 
 -õ 
 sõ -ɐw 
oratione -one oraçõ 
multitudine 
-udine 
Multidõe > 
multidõ 
veranu -anu 
 
 -ã-u 
 verão 
vadut adunt vão 
 
 
d) Sibilante – o sistema de sibilante também apontava para simplificação. 
Nesse período, as sibilantes /ts/ e /dz/ já começavam a perder a oclusiva incial, 
gerando algumas confusões por causa de homofonia com formas em /s/ e /z/. No 
século XV, no entanto, é possível afirmar que o sistema de quatro sibilantes ainda 
era /ts/, /dz/, /s/ e /z/, devidamente marcadas ortograficamente, gerando a seguinte 
oposições: 
/ts/ - /dz/ aceite – azeite 
/s/ - /dz/ assar – azar/ts/ - /s/ cela – sela 
/s/ - /z/ cassa – casa 
/ts/ - /z/ caça – casa 
/dz/ - /z/ cozer – coser 
 
A mudança para um sistema com apenas duas sibilantes, /s/ e /z/, completou-
se em torno do século XVII. Porém, o sistema antigo continua registrado em nossa 
ortografia, o que é fonte de várias confusões na escrita. 
 
e) Morfologia – do ponto de vista morfológico, as mudanças mais 
importantes no século XV foram as seguintes: 
• o desaparecimento dos particípios em -udo da segunda conjugação, que 
se regularizam em -ido, como os outros; 
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• regularização dos paradigmas verbais de verbos com crescer, parecer, 
arder e perder. O subjuntivo desses verbos (paresca, nasca) e indicativo 
(arço e perço) foram substituídos pelas formas pareça e nasça, e ardo e 
perdo (a forma atual é perco). 
 
Com o nascimento de uma literatura mais sólida e com o fortalecimento do 
estado nacional, vemos na fase do português clássico as primeiras gramáticas 
portuguesas e também, como apresentamos acima, preocupação com o idioma 
nacional. 
Desta época temos algumas gramáticas e textos dedicados à língua 
portuguesa no período clássico: 
1536 – Gramática da linguagem portuguesa, de Fernão de Oliveira; 
1540 – Gramática/diálogo em louvor da nossa linguagem, de João de Barros; 
1576 – Ortografia da língua portuguesa, de Duarte Nunes de Leão. 
 
2.6 A maturidade da língua portuguesa depois de 1500 
 Em fins do século XVI já é possível encontrar textos com o sentimento de 
modernidade por conta das mudanças na língua. A história da língua, como toda 
História, optou por fincar uma data para marcar as mudanças que já iam dando 
sinais na língua, e esta coincide com a publicação, em 1572, de Os Lusíadas, de 
Luís de Camões. 
 Até a sua consolidação, o português sofreu uma série de transformações, do 
século XIV ao XVI, que tiveram como efeito fixar a morfologia e a sintaxe de tal 
maneira que, daí por diante, pouca variação, até o português atual. A morfologia do 
nome e do adjetivo absorve as consequências das evoluções fonéticas: os plurais 
dos nomes em -ão são fixados (tipo mãos, cães, leões), assim como o feminino. 
Vejamos a seguir algumas dessas mudanças em relação, primeiramente, à 
estrutura fonético-fonológica do português. 
a) O ditongo /ow/ sofreu monotongação para /o/, além de alternar-se, às 
vezes, com /oj/, como em touro – toro, louro – loiro; essas mudanças 
também ocorreram por volta do século XVII. 
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b) Ainda no século XVII, a africada [tʃ] simplificou-se em [ʃ]; tal modificação 
aplica-se a casos como macho, chave. 
c) Passando ao século XVIII, encontramos a pronúncia “chiante” de /s/ e /z/ 
em finais de sílaba e de palavras, como em dois [‘doiʃ], mesmo [‘meʒmu], 
paz [‘paʃ]. 
Das mudanças enumeradas até agora, as duas primeiras também ocorreram 
no português do Brasil de maneira generalizada. A realização “chiante” de /s/ e /z/ 
em finais de sílaba e de palavra é o caso, atualmente, em duas situações: 
1) De maneira bastante generalizada: Rio de janeiro, Belém, algumas 
cidades litorâneas em diferentes graus (Piçarras, Garopaba, Florianópolis, 
Santos, Recife). 
2) De maneira tendencial, mas não generalizada: região Nordeste, entre a 
Bahia e o Maranhão, e região Norte (Belém). 
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UNIDADE 3 – A língua portuguesa além da Europa e da 
América 
 
Entre os séculos XV e XVI, Portugal viveu o período conhecido como 
Grandes Navegações, mais precisamente entre 1415 (conquista Ceuta, na África) e 
1543 (chegada à Ilha Tanegashima, no Japão). A busca por riquezas e rotas 
comerciais fizeram dos portugueses, neste período, um dos povos que mais longe 
chegaram; a proeza desse povo foi tamanha que em pouco mais de um século 
haviam chegado a todos os lugares do globo. 
Mapa 8 – Navegações portuguesas 
 
 
Este período sem dúvida permitiu a Portugal status de grande país, além de 
sua sustentação por muitos séculos. Contudo, muitas consequências se seguiram 
por conta desse sucesso todo, afinal, os territórios “descobertos” sofreram com os 
saques. No Brasil, os exemplos são muitos, a quase extinção da madeira de lei 
(pau-brasil), dos inúmeros índios mortos e escravizados, dos metais preciosos 
levados para a Europa, dos africanos trazidos para servir de mão de obra, entre 
outros. É claro que houve o legado cultural e linguístico em boa parte dos territórios 
onde os portugueses aportaram. 
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O mapa-múndi e sua distribuição geográfica servem de testemunho da 
potência marítima e exploradora que foi Portugal. A força da língua fez com que, em 
1996, fosse criada a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (a CPLP), da 
qual fazem parte Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, 
São Tomé e Príncipe e Timor Leste (este último a partir de 2002). 
Segundo relata a CPLP (www.cplp.org), em termos de quilometragem, são 
“10.742.000 Km2 de terras, 7,2 por cento da terra do planeta (148.939.063 Km2) 
espalhadas por quatro Continentes – Europa, América, África e Ásia”. Com base no 
número da população existente em cada país lusófono, conforme o quadro abaixo, a 
língua portuguesa é a sétima língua mais falada do planeta. 
 
Países População em 2010 
Angola 19.081.912 
Brasil 194.946.670 
Cabo Verde 495.599 
Guiné-Bissau 1.515.224 
Moçambique 23.390.765 
Portugal 165.397 
São Tomé e Príncipe 165.397 
Timor-Leste 1.124.355 
Total 250.866.964 
 
Além dos países apresentados acima, ainda temos os territórios de Goa, na 
Índia, e de Macau, na China. 
 
3.1 O português de África, da Ásia e da Oceania. 
 No estudo das formas que veio a assumir a língua portuguesa em África, na 
Ásia e na Oceania, é necessário distinguir, preliminarmente, dois tipos de 
variedades: as Crioulas e as não-Crioulas. 
As variedades Crioulas resultam do contato que o sistema linguístico 
português estabeleceu, a partir do século XV, com sistema linguístico indígena. 
Talvez todas elas derivam do mesmo Proto-Crioulo ou Língua Franca que, durante 
os primeiros séculos da expansão portuguesa, serviu de meio de comunicação entre 
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as populações locais e os navegadores, comerciantes e missionários ao longo dascostas da África Ocidental e Oriental, da Arábia, da Pérsia, da Índia, da Malásia, da 
China e do Japão. Aparecem-nos, atualmente, como resultados muito diversificados, 
mas com algumas características comuns – ou, pelo menos, paralelas –, que se 
manifestam numa profunda transformação da fonologia e da morfossintaxe do 
português que lhes deu origem. O grau de afastamento em relação à língua-mãe é 
hoje de total ordem que, mais do que como Dialetos, os crioulos devem ser 
considerados como Língua derivadas do português. 
1. Crioulos do Arquipélago de Cabo Verde, com as duas variedades: 
a) De Barlavento, ao norte, usada nas ilhas de Santo Antão, São Vicente, 
São Nicolau, Sal e Boavista. 
b) De Sotavento, ao sul, utilizada nas ilhas de Santiago, Maio, Fogo e Brava. 
2. Crioulos das ilhas do Golfo da Guiné: 
a) De São Tomé. 
b) Do Prícipe. 
c) De Ano Bom (ilha que pertence à Guiné Equatorial). 
3. Crioulos continentais: 
a) Da Guiné-Bissau; 
b) De Casamance (no Senegal). 
 
Dos crioulos da Ásia subsistem apenas: 
a) O de Malaca, conhecido pelas denominações de papiá cristão, 
malaqueiro, malaquês, malaguenho, malaquense, serani, babasa geragau e 
português basu. 
b) O de Macau, macaísta ou macauenho, ainda falado por algumas famílias 
de Hong-Kong. 
c) O de Siri-Lanka, falado por famílias de Vaipim e Batticaloa. 
d) Os de Chaul, Korlai, Tellicherry, Cannor e Cochim, no território da União 
Indiana. 
Na Oceania, sobrevive ainda o crioulo de Tugu, localidade perto de Jacarta, 
na ilha de Java. 
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Quanto às variedades Não-Crioulas, há que considerar não só a presença do 
português que é a língua oficial das repúblicas de Angola, de Cabo Verde, da Guiné-
Bissau, de Moçambique e de São Tomé e Príncipe, mas as variedades faladas por 
uma parte da população destes Estados e, também, de Goa, Damão, Diu e Macau, 
na Ásia, e Timor, na Oceania. Trata-se de um português com base na variedade 
europeia, porém mais ou menos modificado, sobretudo pelo emprego de um 
vocabulário proveniente das línguas nativas, e a que não falam algumas 
características próprias no aspecto fonológico e gramatical. 
Estas características, no entanto, que divergem de região para região, ainda 
não foram suficientemente observadas e descritas, embora muitas delas 
transpareçam na obra de alguns dos modernos escritores desses países. 
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UNIDADE 4 – O PORTUGUÊS NA AMÉRICA: A LÍNGUA 
LUSITANA NO BRASIL 
 
Os portugueses quando aqui chegaram o Brasil não era um território 
despovoado em 1500. Estima-se de 2 a 6 milhões de pessoas. Essa população, 
apesar da unidade tupi-guarani no litoral e em parte do interior, era bastante 
diversificada em termos culturais e linguísticos, e alguns pesquisadores creem que 
havia aqui nada menos que mil línguas indígenas no tempo do descobrimento. 
Existe uma larga diferença entre o português do Brasil e o português 
europeu. Essas diferenças começam já pela extensão do Brasil em relação à 
Portugal; na Europa, o português sofreu influência por séculos de outras línguas até 
a sua formação; o português no Brasil sofreu influência de línguas indígenas, 
africanas, de outros imigrantes, resumindo, o português quando aqui chegou com o 
português já era uma língua relativamente definida, já no Brasil ela começaria a 
ganhar outras contribuições pelo contato direto com o próximo e constante com 
outras línguas. 
Com uma fauna e flora muito diferente do território português, houve a 
necessidade de especificar o que se via, e como não havia palavras na língua 
portuguesa que definissem essa realidade, tomou-se emprestado de pronto a língua 
indígena, adaptando a língua as necessidades daquele momento, daí explica-se 
uma grande quantidade de nomes indígenas para a fauna e flora que usamos até 
hoje, todos os dias. A partir daí podemos começar a entender a diferença entre o 
português do Brasil (PB) e o português europeu (PE), ou seja, não é somente 
lexical, mas também gramatical. 
 
4.1 A língua portuguesa no Brasil de 1500 
Quando Pedro Álvares Cabral chega ao Brasil, a variedade de português que 
traz consigo é o português clássico. Poderemos conferir este português através da 
Carta a El-Rei de Portugal Dom Manuel, de Pero Vaz de Caminha, escrivão da 
esquadra de Cabral. Antes, porém, um pouco sobre as ortografias do português, 
encontradas em Basso e Gonçalves (2014). 
 Segundo os autores, costuma-se dividir a história da ortografia do português 
em três grandes períodos: 
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1) Período da Ortografia Fonética: séculos XIII a XVI. 
2) Período da Ortografia Pseudoetimológica: séculos XVI a XX. 
3) Período das Reformas Ortográficas: do século XX em diante. 
O primeiro desses períodos é caracterizado por uma grande oscilação na 
grafia de uma série de palavras, causada por alguns motivos, como: fala de uma 
norma portuguesa; inspiração na norma latina, que não servia mais para o 
português; mudanças estruturais da pronúncia portuguesa; variedades regionais de 
pronúncia. Como exemplo dessas oscilações temos: gerra por guerra, algem por 
alguém, língoa por língua, amigua por amiga, alguo por algo, cinquo por cinco, 
nunqua por nunca, agia por haja, mangar por manjar, fugo por fujo, sabha por sabia, 
mha por mia, escripto por escrito, aya por haja, iulgar por julgar, oye por hoje, ljuro 
por livro, ãno e año por ano, caminho por caminho, cimco por cinco, grãde por 
grande, hũildade por humildade, tẽpo por tempo, razõ por razão, nocte por noite, 
feicto por feito, e inúmeros outros. 
A ortografia pseudoetimológica, como o próprio nome diz, baseia-se na ideia 
de guardar na escrita das palavras parte de sua origem etimológica em detrimento 
de sua transparência sonora. Essa ortografia é, em parte, o resultado da chegada do 
Renascimento a Portugal, que levou os portugueses a quererem afirmar sua origem 
romana (e também grega) através do resgate da ortografia dessas línguas. Além 
disso, essa ortografia é também motivada pelo uso da prensa e pela necessidade de 
padronização, somado ao desejo (ou necessidade) de se distanciar do espanhol, 
que prezava por uma ortografia fonética. Esse tipo de ortografia é pouco racional e 
por vezes se fundamenta em bases irreais, com objetivos, no mínimo, equivocados, 
como garantir uma origem intelectual e cultural através da forma gráfica de certas 
palavras. 
 
Carta de Pero Vaz de Caminha 
Vejamos agora um trecho da carta de Pero Vaz de caminha, na qual ele 
descreve os habitantes nativos do Brasil, mantendo o original, e sua transcrição com 
a ortografia ora usada no Brasil logo abaixo. 
 
Afeiçam deles he serem pardos maneira dauerme Ilhados de boõs rrostros 
e boos narizes bem Feitos. / amdam nuus sem nenhuu[m]a cuberta. Nem 
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eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e 
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
estimam nuhuu[m]a coussa cobrir nem mostrar suas vergonhas. e estam 
acerqua disso com tamta jnocemçia como teem em mostrar orrostro. / 
traziam ambos os beiços de baixo furados e metidos por eles senhos osos 
doso bramcos de compridam dhuu[m]a mão travessa. 
 
 
A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e 
bons narizes, bem feitos. / andam nus, sem nenhuma cobertura, nem 
estima nem uma coisa cobrir nem mostrar suas vergonhas. e estão acerca 
disso com tanto inocência como têm em mostrar o rosto. / traziam ambos os 
beiços de baixo furados e metidos por cada um deles ossos brancos de 
compridão de uma mão travessa. 
 
 Embora seja um texto escrito em 1500, é possível entender uma boa parte de 
seu conteúdo. É claro que muitas coisas nos soam estranhas, mas é perceptível o 
uso ainda de algumas palavras em nosso vocabulário. 
 Se o português clássico é a variedade de português que primeiro chega na 
América, ele não é certamente o ponto final da história, pois o fluxo de portugueses 
para o Brasil, ao longo do período colonial (1500-1822) foi mais ou menos constante, 
tendo seu pico no chamado Ciclo do Ouro, período que vai, segundo alguns 
historiadores, de 1697 a 1810. Aliás, os ciclos econômicos servem como um 
excelente guia para entendermos como se deu a ocupação do território nacional, os 
contatos com as populações indígenas e a dinâmica da escravidão no Brasil, pois os 
escravos, sendo a mão de obra por excelência da colônia portuguesa na América, 
acompanhavam esses ciclos, inclusive durante o Período Imperial. (BASSO E 
GONÇALVES, 2014) 
 
4.2 O século XVIII até à chegada de D. João VI (1808) 
 No século XVIII, a exploração do ouro determina a ocupação do território do 
atual estado de Minas Gerais. Mas em todo o período de colônias, o Brasil 
permanece um país essencialmente rural. As duas capitais sucessivas – Salvador, 
depois a partir de 1763, Rio de Janeiro – e algumas vilas de importância média com 
que conta a colônia preenchem apenas funções políticas, administrativas e 
religiosas: o seu papel intelectual e cultural é dos mais limitados. O Brasil não possui 
nenhuma universidade (os jovens brasileiros vão formar-se em Coimbra) nem 
tipografia, essa é uma diferença fundamental que distingue a América portuguesa da 
América Espanhola. 
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 Segundo Teyssier (1997), este período pode ser resumido da seguinte forma: 
os “Colonos” de origem portuguesa falam o português europeu, mas evidentemente 
com traços específicos que se acentuam no decorrer do tempo. As populações de 
origem indígena, africana ou mestiça aprendem o português, mas manejam-no de 
uma forma imperfeita. Ao lado do português existe a língua geral, que é o tupi, 
principal língua indígena das regiões costeiras, mas um tupi simplificado, 
gramaticalizado pelos jesuítas e, deste modo, tornado uma língua comum. 
 Durante muito tempo o português e o tupi viveram lado a lado como línguas 
de comunicação. Mas com a chegada de imigrantes portugueses seduzidos pelas 
descobertas das minas de ouro e diamantes, e o Diretório criado pelo marquês 
Pombal, em 3 de maio de 1757, onde obrigava o uso da língua geral ser oficialmente 
a língua portuguesa. Não demorou muito e cinquenta anos depois, o tupi viria a ser 
extinto de vez da língua portuguesa, ficando apenas certo de número de palavras 
integradas ao português local e muitos topônimos. 
Ainda no século XVIII aparecem os primeiros documentos aludindo aos traços 
específicos do português falado no Brasil. Em 1767, Frei Luís do Monte Carmelo 
(Compendio de Orthographia) assinala pela primeira vez um traço fonético dos 
brasileiros, que é o de não fazerem distinção entre pretônicas abertas (exemplos: 
padeiro, pregar, còrar) e as fechadas (exemplos: cadeira, pregar, morar). Jerónimo 
Soares Barbosa, segundo Teyssier (1997), em sua “Grammatica Philophica, 1822” 
consegue especificar que os brasileiros dizem minino (por menino), mi deu (por me 
deu); e que não chiam os -s implosivos (mistério, fasto, livros novos). Os melhores 
registros desse falar brasileiro aparecerão em textos de teatro, como “O Miserável 
Enganado” (1788), em “Periquito ao Ar” ou “O Velho Usuário”, de Manuel Ribeiro 
Maia. Aparecem lá, por exemplo, mi diga (diga-me), di lá (de lá), sinhorinho, 
emprego generalizado de você, entre outros. 
Com a chegada de D. João VI, ainda príncipe regente, no Brasil, faz do Rio de 
Janeiro a capital da monarquia de Bragança. Suas iniciativas ativam com mais 
rapidez o progresso material e cultural. Os 15.000 portugueses que chegam com a 
Corte contribuem para “relusitanizar” o Rio de Janeiro. O progresso prepara a capital 
para mais um capítulo da história do Brasil, ao voltar para Portugal, D. João deixa 
pronta a cidade para a independência. 
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Em 1822, o Brasil torna-se independente, e começa, a partir deste 
movimento, a valorizar tudo o que o distingue da antiga metrópole, particularmente 
as suas raízes indígenas. Dessa forma volta-se mais para a cultura da França, e 
acolhe os imigrantes europeus de nacionalidades diversas da portuguesa, como os 
alemães e os italianos que chegam em grande número. Como o tráfico de negros 
africanos cessou por volta de 1850, e como os índios se diluíram na grande 
mestiçagem brasileira, essas vindas maciças de imigrantes europeus acabaram por 
contribuir para “branquear” o Brasil até o período de 1950. Em duas gerações, os 
novos habitantes aculturam-se e fundem-se na sociedade brasileira. Ao mesmo 
tempo, o polo de desenvolvimento desloca-se para o Centro-Sul. 
Finalmente, a urbanização e a industrialização transformam inteiramente a 
aparência do país. Com explosão demográfica e o crescimento econômico, o antigo 
Brasil rural transformou-se, nos nossos dias, num “subcontinente”, onde zonas 
desenvolvidas de civilização urbana coexistem com regiões subdesenvolvidas. É 
nas vastas megalópoles de São Paulo (hoje com mais de 11 milhões de habitantes) 
e do Rio de Janeiro (com um pouco mais de 6 milhões de habitantes), assim como 
nas outras cinco cidades de mais de um milhão de habitantes (Porto Alegre, Belo 
Horizonte, Salvador, Recife e Fortaleza), que se elabora, nos dias de hoje, a forma 
particular de português que é a língua do Brasil. 
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UNIDADE 5 – A estrutura da língua portuguesa de 1800 a 
1950 
 
5.1 Fonética e fonologia 
 Do ponto de vista da estrutura, os principais fenômenos encontrados no 
português brasileiro a partir de 1800 são os seguintes: 
• a queda do /r/ final, principalmente nos verbos, ocorre em todo o território 
nacional, e também em alguns substantivos: “buscar” como /bus’ca/ (grafada 
às vezes como <busca>,

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