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Competências para a Vida 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Unidade 1: gerenciamento de emoções 
 
Aula 1: emoções e conhecimento 
 
Vivemos uma época de ampla exposição a telas e formas de interação que modificaram nossa forma de nos relacionar. 
Por um lado, a tecnologia nos permitiu avançarmos em conectividade, por outro, permanecemos com as mesmas 
necessidades e respostas emocionais de nossos ancestrais de 70 mil anos atrás, nem sempre compatíveis com nossa 
experiência. Acima de tudo, somos seres sociais e organizamos a realidade a partir da interação com outras pessoas. 
 
Nesta aula, vamos compreender as rotas evolutivas de nossas emoções, especialmente medo, raiva e tristeza, e como o 
cérebro emocional trabalha para garantir nossa sobrevivência e promover comportamentos adaptativos. 
 
Falaremos da resposta luta-fuga e da síndrome geral de adaptação, entendendo a relação entre nossas emoções e 
nosso corpo físico. Ao final, esperamos que você possa ampliar a própria capacidade de percepção de estados 
emocionais, identificando os sentimentos envolvidos e seu impacto na tomada de decisão e comportamento. 
 
--- 
 
Assimile 
 
Os assuntos desta aula têm a ver com o tema “gerenciamento de emoções”. Você sabe o que é isso? O gerenciamento 
de emoções diz respeito a competências emocionais intra e interpessoais e nos permite lidar com estados emocionais 
positivos e negativos, de forma construtiva e positiva, possibilitando maior abertura à experiência, ao acolhimento 
afetivo e ao bem-estar, além de favorecer processos de desenvolvimento e relacionamentos. Desejamos que o 
conteúdo a ser apresentado contribua para que você saiba como gerir suas emoções. 
 
Reação – luta-fuga 
 
Do conceito – resposta: luta-fuga e estresse 
 
Nossas emoções negativas são provenientes de uma necessidade de sobrevivência; tudo nasceu com a resposta luta-
fuga, que nos prepara para ameaças iminentes. 
 
A resposta luta-fuga, também conhecida como resposta ao estresse agudo, representa as escolhas que nossos 
ancestrais tiveram de fazer quando confrontados com o perigo em seu ambiente: lutar ou fugir. Em ambos os casos, a 
resposta fisiológica e psicológica ao estresse prepara o corpo para reagir ao perigo, sendo liberados hormônios que 
preparam o corpo para confrontar a ameaça ou fugir para um local seguro. 
 
Mais especificamente, o sistema nervoso simpático estimula as glândulas adrenais, desencadeando a liberação de 
adrenalina e noradrenalina, que provoca aumento na frequência cardíaca, pressão arterial e frequência respiratória. A 
resposta de lutar ou fugir pode acontecer diante de um perigo físico iminente (como encontrar um cachorro rosnando 
 
no meio da rua) ou como resultado de uma ameaça psicológica (como se preparar para fazer uma apresentação 
importante na faculdade ou no trabalho). 
 
A resposta luta-fuga pode ocorrer como “alarme”, conhecido como parte do primeiro estágio da síndrome geral de 
adaptação, um padrão específico de resposta comportamental proposto por Hans Selye, em 1936, e que ajuda a 
explicar o efeito do estresse no corpo humano. De acordo com a teoria (Figura 1 a seguir), existem três fases sucessivas 
de resposta diante de um evento estressor: alerta, resistência e exaustão: 
 
Fase de alerta: ocorre quando o indivíduo entra em contato com o agente estressor e o seu corpo perde o equilíbrio. 
Alguns sintomas possíveis são dores no estômago (acidez estomacal), aumento de sudorese, tensão nos ombros, 
insônia, mudança de apetite. 
Fase de resistência: nessa fase, o corpo busca voltar ao equilíbrio. Há um aumento de liberação de cortisol e tem-se 
impressão de controles esporádicos. Alguns sintomas possíveis podem ser cansaço constante, problemas 
dermatológicos, problemas com memória, gastrite prolongada, tonturas, sensibilidade emotiva excessiva e obsessão 
pelo agente estressor. 
Fase de exaustão: na última fase, podem ocorrer diversos comprometimentos físicos em forma de doença. Alguns 
sintomas podem ser: diarreias frequentes, tiques nervosos, problemas dermatológicos prolongados, tonturas 
frequentes, úlcera, impossibilidade de trabalhar, taquicardia, insônia prolongada, formigamento nas extremidades. 
Após a fase de exaustão, podem se instalar no organismo diversas doenças crônicas, como úlceras, hipertensão arterial, 
artrites e lesões miocárdicas. 
 
Figura 1 | Síndrome geral de adaptação. Fonte: adaptada de Healthline (2018). 
A resposta ao estresse é um dos principais tópicos estudados na psicologia da saúde e comportamento humano. A 
compreensão de nossas rotas emocionais e seus efeitos no corpo nos permite encontrar maneiras de combater o 
estresse em direção a uma vida mais saudável e produtiva. Nesse sentido, compreender a resposta natural de luta ou 
fuga do corpo é uma maneira de ajudar a lidar com situações estressantes em nossa vida. 
 
 
 
A tecnologia e o cérebro humano 
 
As últimas quatro décadas trouxeram uma explosão de inovações tecnológicas. Na década de 1980, comemoramos a 
linha telefônica disponível em residências; já na virada do milênio, tivemos computadores individuais; e nas últimas 
décadas, cada pessoa vem carregando consigo um computador com seus e-mails, vídeos preferidos, programação da 
própria dieta, conta bancária e tantas outras funcionalidades de aplicativos de celular. 
 
 Sem dúvida, como sociedade, avançamos muito na acessibilidade de informações que nos são interessantes, no 
entanto, um mecanismo permanece o mesmo há 70 mil anos: nossa capacidade de assimilar, compreender e expressar 
informações emocionais. Sim, nosso cérebro emocional é o mesmo. E isso acarreta uma série de dificuldades em nossa 
relação com nosso mundo interior e as outras pessoas, ou seja, provoca-nos desafios à adaptação. 
 
De acordo com Paul MacLean (1990), a progressão da vida pode ser vista em nosso cérebro a partir dos níveis de 
desenvolvimento que ele possui: reptiliano (primitivo ou instintivo), límbico (emocional) e neocórtex (racional). Nossos 
tecidos corticais são mais complexos, lentos, situam-se na periferia do cérebro (ou topo) e são responsáveis pelas 
nossas funções executivas (tomada de decisão, raciocínio lógico, memória da linguagem). No centro do cérebro, abaixo 
do córtex e acima do tronco cerebral, fica nossa região subcortical, também conhecida como sistema límbico. 
 
No centro do sistema límbico, no meio do caminho entre nossas orelhas e atrás de nossos olhos, está a amígdala 
cerebral, envolvida, principalmente, no processamento de emoções e nas memórias associadas ao medo (Figura 2). Ela 
é peça-chave de como processamos emoções fortes, como medo ou prazer, e responsável por disparar a resposta luta-
fuga. 
 
 
Figura 2 | Amígdala cerebral. Fonte: Goleman (2011, p. 94). 
Podemos não perceber o papel da amigdala em nosso comportamento, no entanto, a título de exemplo, se estamos 
com nossos “sensores de medo” ligados, ficamos mais “desconfiados” e “atentos” a qualquer sinal de desaprovação. 
Isso, por um lado, pode servir para nos tornar mais prudentes, por outro, pode tornar impossível o ato de confiar nas 
pessoas. A amígdala é, ainda, capaz de orientar nossos pensamentos, atenção e percepção, tornando-nos 
instintivamente vigilantes a estímulos que corroborem nossa ideia inicial de ameaça. 
 
Além disso, é interessante o mecanismo de contágio emocional que nosso cérebro sofre. Quando ficamos encantados 
com um bebê sorridente ou quando nos entristecemos diante de uma pessoa em situação vulnerável, estamos nos 
conectando às outras pessoas, e essa também é uma característica de nossa espécie: somos influenciáveis socialmente 
e necessitamos do contato com outras pessoas. Isso ajuda a explicar o fenômeno das redes sociais e seu amplo 
crescimento nas últimas décadas. 
 
O fato de que podemos desencadear qualquer emoção em outra pessoa – e ela em nós – atesta o poderoso mecanismo 
por meio do qual os sentimentosde uma pessoa se espalham para outras. Esses contágios são a principal transação da 
economia emocional, o intercâmbio de sentimentos que acompanha toda interação humana, não importa qual seja o 
tema em questão. (GOLEMAN, 2019, p. 26) 
 
Para compreendermos as implicações do contágio emocional, é interessante falarmos sobre o papel de cada emoção e 
de como elas eliciam nossos comportamentos. 
 
 
 
 
 
 
 
Das emoções básicas ao comportamento 
 
Aprendemos, nesta aula, sobre nosso cérebro emocional e suas respostas evolutivas; para finalizar, vamos falar, 
especificamente, de nossas emoções e de como elas eliciam o comportamento e influenciam nossa resposta diante das 
mais diversas situações. Uma emoção é composta de vários elementos; ela passa por nossa consciência tão 
rapidamente que, por vezes, não a percebemos. Existem, pelo menos, três elementos em cada emoção: o tipo de 
pensamento associado a ela; a resposta fisiológica que ela gera, e o comportamento que assumimos a partir dela 
(GONZAGA, 2021). 
 
De acordo com Paul Ekman (2016), temos emoções universais, ou seja, compartilhadas por toda a espécie a partir de 
cinco rotas evolutivas. A compreensão de nossas cinco rotas emocionais básicas nos permite saber as bases de nosso 
comportamento: 
 
Medo: uma percepção de ameaça real e iminente. 
Raiva: aponta uma percepção de injustiça, algo que nos bloqueia. 
Tristeza: provoca nossa resposta diante da perda de algo de valor. 
Nojo: aponta nossos gostos e preferências pessoais. 
Alegria: indica percepção de algo de valor. 
Cada uma dessas cinco rotas abre caminho para centenas de estados emocionais secundários, como melancolia, 
ansiedade ou frustração, perceptíveis em nossas relações de trabalho. Para cada “família” emocional existem 
determinadas atitudes, e todas as emoções são “úteis” no sentido de que nos trazem informações sobre nossa relação 
com o mundo. No entanto, podemos utilizá-las a nosso favor, de maneira construtiva (visando ao bem-estar e a uma 
melhor relação com a realidade) ou destrutiva (quando não nos desvencilhamos dos estados negativos ou prejudicamos 
outras pessoas). 
 
Vamos, então, compreender alguns comportamentos possíveis para cada uma das famílias emocionais, explorando 
respostas construtivas ou destrutivas a partir de exemplos: 
 
Ações diante do medo: evitar a ansiedade (medo de uma ameaça imaginada) pode ser construtivo, se nos ajudar a fazer 
uma apresentação para uma sala cheia de pessoas, e destrutivo, se nos impedir de confrontar nosso difícil 
relacionamento com nosso chefe. 
Ações diante da raiva: suprimir nossa frustração pode ser algo construtivo, se nos ajudar a evitar discussões, e 
destrutivo, se estivermos magoados por não falarmos por nós mesmos. 
 
Ações diante da tristeza: renunciar a sentimentos de desamparo pode ser uma ação construtiva para superar um luto 
intenso, porém destrutiva, se não buscarmos apoio quando precisarmos ou se formos vítimas de uma positividade 
tóxica (evitação extrema de sentimentos negativos). 
Ações diante do nojo: evitar a aversão pode ser algo construtivo para superar o preconceito, mas destrutivo se levar a 
um envolvimento com uma pessoa prejudicial. 
Ações diante da alegria: expressar nossa alegria por um comportamento extrovertido e brincalhão pode ser construtivo 
como meio de compartilhar com amigos um final de tarde, mas destrutivo se for em resposta a zombar de alguém. 
Com base nesses exemplos, reflita sobre a forma como você lida com as diferentes emoções, se de maneira construtiva 
ou destrutiva, e qual família emocional (medo, raiva, tristeza, nojo, alegria) representa um desafio à inteligência 
emocional. 
 
Sobre a inteligência emocional e as habilidades que ela traz, trataremos na próxima aula. 
Você já reparou como a tecnologia permite que ampliemos nossas conexões com outras pessoas, mas, ainda assim, 
sofremos de ansiedade, tristeza e frustração entre tantas emoções? Isso porque, por mais que avancemos 
tecnologicamente, permanecemos com as mesmas necessidades emocionais, a partir de milênios de nossa evolução 
humana. 
 
Nesta aula, compreendemos de que forma podemos reagir às ameaças reais ou imaginárias analisando a resposta luta-
fuga e a síndrome geral de adaptação; aprendemos um pouco sobre a amígdala cerebral, integrante de nosso sistema 
límbico, e como nossas emoções são a base para o comportamento; por último, refletimos sobre respostas construtivas 
ou destrutivas a partir de nossas emoções universais. 
Saiba mais 
Navegue pelo Atlas de emoções considerando efeitos físicos, psicológicos e comportamentais das emoções. 
Assista ao documentário O Dilema das Redes, disponível na Netflix, e saiba mais sobre a necessidade de conexão 
emocional que as redes sociais têm buscado atender por meio da tecnologia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Referências 
 
EKMAN, P. A linguagem das emoções. São Paulo: Lua de Papel, 2011. 
 
[EKMAN, P.] Atlas of emotions: Resposta, [2016]. Disponível em: http://atlasofemotions.org/#actions/. Acesso em: 19 
jan. 2022. 
 
GOLEMAN, D. Inteligência social: a ciência revolucionária das relações humanas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2019. 
 
GOLEMAN, D. The brain and emotional intelligence: new insights. 2. ed. Florence: More Than Sound, 2011. 
 
GONZAGA, A. Com que humor eu vou? Newsletter Conexão IE, 2021. Disponível em 
https://www.linkedin.com/pulse/com-que-humor-eu-vou-alessandra-gonzaga-ph-d-
/?trackingId=nlmsi%2B0jTWGGgjFJ7GoBhw%3D%3D. Acesso em: 19 jan. 2022. 
 
HANSON, R. O cérebro de Buda: neurociência prática para a felicidade. São Paulo: Alaúde Editorial, 2011. 
 
HARARI, Y. N. Sapiens: uma breve história da humanidade. Porto Alegre: L&PM, 2015. 
 
MACLEAN, P. D. The triune brain in evolution: role in paleocerebral functions. New York and London: Springer Science & 
Business Media, 1990. 
 
 
 
 
Aula 2 a escola de Harvard de inteligência emocional 
Introdução 
 
Por muito tempo, consideramos inteligência e emoção como áreas de nossa cognição e comportamento totalmente 
distintas e antagônicas. Nos últimos anos, no entanto, a pesquisa e a aplicação de técnicas na área de inteligência 
emocional foram ampliadas consideravelmente. Sim, existe uma maneira inteligente de lidarmos com nossas emoções! 
 
Nesta aula, vamos falar, em primeiro lugar, da escola clássica de inteligência emocional, conhecida como modelo 
quadrifatorial ou de aptidões; em seguida, vamos conhecer a escola de Harvard de inteligência emocional a partir do 
modelo de competências socioemocionais proposto por Daniel Goleman; por fim, esperamos que você reconheça as 
próprias competências emocionais, conectando-as com as atividades de seu dia a dia e refletindo sobre sua aplicação 
nos relacionamentos. 
 
Bons estudos! 
 
Uma inteligência para as emoções 
Demorou muito tempo para que a palavra inteligência se aproximasse de uma visão subjetiva ou emocional. Por muitos 
séculos, o mundo emocional foi associado a nossos instintos e ao homem-animal. Um marco importante para mudar 
isso ocorreu em 1983, quando Howard Gardner apresentou as inteligências pessoais à lista de inteligências múltiplas 
humanas. 
 
Esse par, denominado inteligências "intrapessoal" e "interpessoal” é, atualmente, referida por muitos autores como 
inteligências pessoal e social. 
 
A inteligência intrapessoal de Gardner diz respeito ao "eu localizado no indivíduo", bem como ao “desenvolvimento dos 
aspectos internos de uma pessoa”. Em um ponto-chave, ele observou que ela envolvia, principalmente, acesso à própria 
 
vida sentimental (GARDNER, 2009). Já a inteligência interpessoal é a capacidade de entender as intenções, motivações e 
desejos de outras pessoas e, consequentemente, trabalhar com outras pessoas de maneira eficaz. 
 
Baseados no modelo de Gardner, os pesquisadores John Mayer e Peter Salovey publicaram, em 1990, o primeiro artigo 
científicoque fez menção a uma inteligência emocional, ou seja, a um conjunto de habilidades mentais para se lidar 
com as emoções. Esse modelo ficou conhecido como quadrifatorial ou de ability cuja tradução é melhor definida como 
de aptidões mentais para se lidar com emoções humanas. 
 
De acordo com o modelo quadrifatorial, são quatro as habilidades de inteligência emocional (Figura 1): 
 
Perceber emoções: identificar emoções em si, nos outros e em coisas, bem como expressá-las acuradamente. 
Usar emoções: facilitar o pensamento e o julgamento a partir de estados emocionais. 
Entender emoções: nomear emoções e sentimentos complexos e compreender progressões. 
Administrar emoções: estar aberto aos sentimentos e gerenciar emoções em si e nos outros 
 
Figura 1 | Modelo quadrifatorial de IE. Fonte: elaborada pela autora. 
Em uma revisão do modelo clássico, Mayer e Salovey (1997, p. 10) definem dessa forma a inteligência emocional: 
 
Inteligência emocional é a habilidade de perceber, avaliar e expressar emoções de forma acurada e adaptativa; a 
habilidade de entender a emoção e o conhecimento emocional; a habilidade de acessar ou gerar sentimentos quando 
eles facilitam o pensamento; e a habilidade de regular emoções de maneira a auxiliar o pensamento. 
 
No modelo quadrifatorial, todas as habilidades incluem as faculdades interpessoal e intrapessoal, ou seja, a 
compreensão e a interação com nós mesmos e com os outros. A principal contribuição desse modelo de inteligência 
emocional é considerar que nossas emoções são informações que podemos utilizar para melhor avaliarmos cada 
 
situação da vida e como nos posicionarmos. Para Susan David (2018), nossas emoções podem servir como guias ao 
nosso comportamento, uma vez que sinalizam que valores nossos estão sendo acionados. 
 
Enquanto navegamos pela vida, nós, humanos, temos poucas maneiras de saber que rumo tomar ou o que vem pela 
frente. Não temos faróis que nos mantenham afastados de relacionamentos problemáticos. Não temos vigias na proa 
ou radares na torre atentos a possíveis ameaças submersas que podem afundar nossos planos de carreira. Em vez disso 
temos nossas emoções – sensações como medo, ansiedade, alegria e euforia – um sistema neuroquímico que evoluiu 
para nos ajudar a navegar pelas complexas correntes da vida. (DAVID, 2018, p. 12) 
Do emocional ao social 
 
Em 1995, o então psicólogo e jornalista científico Daniel Goleman lançou o best-seller Inteligência Emocional – a teoria 
revolucionária que redefine o que é ser inteligente, e os estudos na área cresceram em número e complexidade 
impressionantes. Já na época, o escritor trazia algumas provocações sobre a Inteligência Emocional (IE), conectando-a 
ao contexto organizacional e ao exercício da liderança pela primeira vez. Em seu trabalho, Goleman disseminou a 
inteligência emocional em todos os continentes, sendo sua obra uma das mais traduzidas no mundo inteiro. Nos anos 
2000, Goleman se associou à Korn Ferry Hay Group, uma consultoria global de recursos humanos, e desenvolveu, em 
parceria com outros pesquisadores de Harvard, o modelo de competências socioemocionais para explicar sua ideia de 
inteligência emocional. 
 
Faz-se interessante notar que, no modelo de competências, as dimensões intra e interpessoais ganham destaque, 
servindo para separar as competências do ser (self) das competências interpessoais (sociais), tanto para 
reconhecimento como para regulação das emoções. Surge, então, uma nova definição de inteligência emocional, que 
contempla o social: 
 
Inteligência emocional e social é a capacidade de reconhecer nossos próprios sentimentos e de outros, motivar a nós 
mesmos e administrar emoções efetivamente em nós mesmos e outros. (GOLEMAN; BOYATZIS, 2016, p. 2) 
 
 
De forma a promover a avaliação de competências socioemocionais de executivos do mundo inteiro, Goleman e 
Boyatzis (2016) associaram-se à Korn Ferry Hay Group e criaram o assessment ESCI – Emotional and Social Competence 
Inventory, que serve de base para processos de desenvolvimento gerencial e coaching sistêmico em equipes de 
liderança. O instrumento ESCI é uma avaliação 360° que permite que um indivíduo se avalie e seja avaliado por pares, 
clientes, líderes e liderados em relação a 12 competências socioemocionais ligadas ao trabalho nas dimensões de 
autoconsciência, autocontrole, consciência social e gestão de relacionamentos: 
 
Autoconsciência: reconhecer e entender as próprias emoções. Competência emocional associada (1): autoconsciência 
das emoções. 
Consciência social: reconhecer e entender emoções em outros. Competências emocionais associadas (2): empatia e 
consciência organizacional. 
Autocontrole: efetivamente, administrar as próprias emoções. Competências emocionais associadas (4): adaptabilidade, 
otimismo, autocontrole, orientação para resultados. 
Gestão de relacionamentos: aplicar e entender as emoções ao lidar com as emoções de outros. Competências 
emocionais associadas (5): coaching e mentoring, gestão de conflitos, influência, liderança inspiradora, trabalho de 
equipe 
Além do assessment ESCI, existem diversas escalas para avaliação de competências socioemocionais, algumas com 
validação científica, outras não. O que se espera desse tipo de assessment é que possa contribuir para que a 
organização possa medir a inteligência emocional de líderes e liderados, aumentar a conscientização das pessoas a 
respeito de seus comportamentos, desenvolver qualidades específicas para as interações sociais e promover confiança e 
emoções positivas em indivíduos e equipes. 
Bases para avaliar e desenvolver a inteligência emocional 
 
Uma pergunta muito comum para quem trabalha com emoções é: como faço para avaliar minha inteligência emocional? 
Ou, ainda, qual é a competência socioemocional mais importante para o nosso sucesso e como desenvolvê-la? 
 
De acordo com a escola de competências de inteligência emocional, a resposta é: comece por você. Isso significa que a 
competência emocional mais importante para se desenvolver é a autoconsciência das emoções; ela diz respeito à 
capacidade de compreender suas próprias emoções e seus efeitos no raciocínio e na ação. 
 
 
Quando você sabe como se sente e por que sente, ou seja, os motivos por trás de seus sentimentos, fica mais fácil não 
se “deixar levar” pelas situações, mantendo uma atenção flutuante em relação às coisas que acontecem. Quem é 
autoconsciente também tem uma maior clareza de suas forças e fraquezas e consegue direcionar seus esforços de 
aprendizagem; frente a isso, muitos estudos de inteligência emocional estão se direcionando para a compreensão dos 
mecanismos de nossa atenção, uma vez que ela pode promover mudança de comportamento. 
 
O movimento rumo ao próprio desenvolvimento parte da autoconsciência e caminha para as dimensões de 
autocontrole e consciência social, simultaneamente, porque, uma vez que temos maior consciência, passamos, 
também, a regular mais facilmente nossos estados emocionais e, paralelamente, a “reparar” mais nas reações e 
mensagens não verbais das outras pessoas. 
 
Por último, uma vez desenvolvida a nossa dimensão intrapessoal e ampliado o nosso processo empático com outras 
pessoas, passamos a ter maior clareza do efeito que causamos em interações de longo prazo, ou seja, passamos a levar 
inteligência emocional para nossos relacionamentos. 
 
Refletindo sobre a própria Inteligência Emocional (IE) 
 
Uma dificuldade nos programas de desenvolvimento organizacionais é medir o nível de consciência e ação emocional 
das pessoas. Nesse sentido, há uma contradição em relação aos testes de Inteligência Emocional, porque, se de um 
lado, somos pouco acurados em medir nossas próprias habilidades emocionais (na maioria das vezes, quem “menos 
precisa” de Inteligência Emocional é quem mais se beneficia de programas de desenvolvimento), de outro, é 
interessante perguntar aos outros sobre nossocomportamento, e isso faz com que as avaliações por pares ou por 
informantes sejam largamente utilizadas. Porém, para que essas avaliações sejam bem-sucedidas, é preciso 
treinamento quanto à forma de condução e muito zelo com as informações coletadas, a fim de que não promovam um 
clima de desconfiança e perseguição. 
 
Com base em nossa aula, reflita sobre suas competências socioemocionais, iniciando pela autoconsciência: quais são 
suas maiores forças em relação à interação com outras pessoas? E as fraquezas? Em seguida, procure refletir sobre seu 
autocontrole: existem pessoas que acionam seus gatilhos emocionais? Quem são essas pessoas e que valores elas 
violam? 
 
Finalizando a compreensão “intrapessoal” de suas competências, vale a pena escolher um colega ou amigo de confiança 
para perguntar se você é uma pessoa que transmite empatia, como é trabalhar em grupo com você, se você consegue 
influenciar as pessoas a modificar seu comportamento e, ainda, se você contribui para o aprendizado de outras pessoas. 
 
Esse tipo de questionamento ajuda a colocar sua inteligência social em perspectiva, favorecendo o processo de 
autodesenvolvimento. 
Videoaula: A escola de Harvard de inteligência emocional 
Você sabia que o acesso ao nosso mundo emocional requer inteligência? Desde os anos 1990, convivemos com modelos 
de inteligência emocional, compreendendo que existem habilidades mentais e comportamentais específicas às pessoas 
com alta Inteligência Emocional. Mais especificamente, a escola de Harvard de Inteligência Emocional reconhece que 
temos competências socioemocionais, ou seja, existem determinados comportamentos que levam pessoas a uma 
melhor performance social. Nesta aula, vamos conhecer o modelo clássico e o modelo de competências de inteligência 
emocional, bem como falar das implicações para programas de avaliação e desenvolvimento nas organizações. 
 
Saiba mais 
 
Leia artigos sobre inteligência emocional na newsletter semanal da "Conexão Inteligência Emocional". 
Referências 
 
DAVID, S. Agilidade emocional: abra sua mente, aceite as mudanças e prospere no trabalho e na vida. São Paulo: Editora 
Cultrix, 2018. 
 
GARDNER, H. Inteligências múltiplas. Porto Alegre: Penso Editora, 2009. 
 
 
GOLEMAN, D.; BOYATZIS, R. The ESCI Model and Competences. [S. l.]: Korn-Ferry Hay Group, 2016. 
 
GOLEMAN, D.; BOYATZIS, R.; MCKEE, A. O poder da inteligência emocional. Rio de Janeiro: Campus, 2002. 
 
GONZAGA, A. Com que humor eu vou? Newsletter Conexão IE, 2021. Disponível em: 
https://www.linkedin.com/pulse/com-que-humor-eu-vou-alessandra-gonzaga-ph-d-/?originalSubdomain=pt. Acesso 
em: 12 jan. 2022. 
 
MAYER, J. D.; SALOVEY, P. What is emotional intelligence. In: MAYER, J. D.; SALOVEY, P. Emotional development and 
emotional intelligence: educational implications. v. 3. New York: Basic Books, 1997. p. 3-31. 
 
Aula 3 quando falta inteligência emocional 
Introdução 
 
Como percebemos que uma pessoa tem inteligência emocional? Podemos entender as emoções como veículos para 
troca de informações que impactam o nosso desempenho e a qualidade ou eficácia das interações que mantemos com 
as outras pessoas, e uma pessoa com inteligência emocional considera essas informações para moldar o seu 
comportamento e a sua tomada de decisão. 
 
Não existe um comportamento ótimo que sempre provê os melhores resultados numa dada situação; é preciso 
flexibilidade e agilidade emocional para moldar o comportamento e a decisão, conforme o contexto de cada situação. 
 
Uma pessoa com habilidades de inteligência emocional é considerada aquela capaz de processar informações 
emocionais de forma adequada. Nesta aula, vamos debater sobre o tema. 
 
 
Sobre emoções e estados emocionais 
Todos estamos sujeitos a fenômenos afetivos, que, de acordo com o professor Rafael Bisquerra, da Universidade de 
Barcelona, englobam: 
 
Emoções: respostas de nosso organismo aos estímulos que recebemos. 
Sentimentos: tomada de consciência sobre essas emoções. 
Estados emocionais: podem ser entendidos como uma predisposição dos indivíduos para uma determinada atitude, 
comportamento ou decisão. 
Esses fenômenos afetivos são modulados por crenças e valores pessoais, isto é, o mesmo estímulo pode provocar 
respostas distintas nas pessoas, e isso traz impactos não apenas em nosso comportamento individual mas também nos 
relacionamentos interpessoais. Vamos analisar esses impactos a seguir, no curto e no longo prazo. 
 
No curto prazo, esses fenômenos emocionais predispõem nossa intenção de ação, podendo influenciar nossa percepção 
ou predisposição a atuar em favor ou contra uma ideia ou a posição de algum colega ou funcionário sob nossa 
supervisão. Por exemplo: um gestor tomado de um estado emocional de impaciência pode rejeitar novas ideias ou 
estratégias por considerá-las, inicialmente, de alto risco, sendo que, frente a uma análise mais calma e sensata, poderia 
enxergá-las como uma excelente oportunidade. Se esse gestor pudesse perceber como esse estado emocional o 
influencia, talvez, viesse a tomar outra linha de ação em relação a essa situação específica. Para isso, precisaria colocar 
em prática as habilidades de inteligência emocional do modelo dos professores Goleman e Richard Boyatzis que 
aprendemos em nossa última aula, ou seja, ele precisaria: exercitar a autoconsciência de seu estado emocional e 
perceber que sua impaciência dificulta a análise de novos conceitos e ideias; exercer a consciência social, entrando em 
sintonia com as necessidades e expectativas de seus colegas ou funcionários; praticar o autocontrole, regulando sua 
resposta emocional para um estado de maior calma e abertura; por fim, realizar uma boa gestão dos relacionamentos, 
aplicando o entendimento emocional no trato com os outros, mantendo-se assertivo e aberto ao diálogo que pode levá-
lo a decidir por uma nova linha de ação ou decliná-la de forma adequada, sem gerar frustração ou desmotivação em 
seus pares ou funcionários. 
 
Já no longo prazo, precisamos considerar que os fenômenos afetivos constituem aspectos essenciais de nossa 
personalidade. A exteriorização repetida de certas emoções em uma pessoa pode chegar a constituir um traço de sua 
personalidade. 
 
Retomando o nosso exemplo, se um gestor se mostra constantemente impaciente em suas atitudes e posicionamentos, 
isso pode passar a ser percebido como um traço de sua personalidade. Tendemos a identificar as pessoas pela emoção 
predominante em seu comportamento, logo, se um gestor é percebido como impaciente, isso pode levar seus pares ou 
funcionários a nem mesmo cogitar apresentar-lhe uma nova ideia, podendo provocar prejuízos a ele ou ao próprio 
negócio que administra. 
 
Tal situação caracteriza o que a doutora Susan David chama de falta de agilidade emocional. Por mais inteligente e 
capaz que esse gestor de nosso exemplo possa ser, se ele mantém um estado contínuo de impaciência, seus 
sentimentos determinam suas ações, decisões e a forma com que administra seus relacionamentos. É necessário, 
portanto, que ele perceba o seu estado emocional e aja para mudar padrões, hábitos ou comportamentos que o 
impedem de se adaptar às diferentes situações que são apresentadas e de atuar de forma eficaz frente a elas, 
modulando suas respostas emocionais. 
A necessidade de flexibilidade e agilidade emocional 
Vamos reforçar o entendimento das competências que compõem o modelo de inteligência emocional para reconhecer 
e regular emoções em si e nos outros. Considerando nossas respostas aos estímulos internos e externos do ambiente, 
 
precisamos exercer as competências desse modelo de forma balanceada, pois a falta de alguma delas poderá prejudicar 
o processamento e o uso da informação emocional. 
 
Vamos às competências: 
 
Autoconsciência: é a principal competência de inteligência emocional, pois exerce grande influência nas demais, e é 
baseada numavontade de ter acesso a novas perspectivas e no entendimento de si mesmo(a). Pessoas com essa 
habilidade têm maior facilidade para o desenvolvimento pessoal. 
Você demonstra autoconsciência quando: 
 
- Dá-se conta de seus próprios sentimentos. 
 
- Sabe o que causa esses sentimentos. 
 
- Compreende as consequências de seus estados emocionais em seu comportamento ou em suas decisões. 
 
- Conhece suas forças e limites. 
 
- Está aberto ao feedback. 
 
Autocontrole 
O autocontrole provê direção, energia e restrição ao nosso comportamento. 
 
Ele nos permite regular as emoções no cotidiano e ter maior controle das respostas emocionais em situações 
desafiadoras. 
 
Você demonstra autocontrole emocional quando: 
 
- Consegue lidar de forma calma com situações estressantes. 
 
- Consegue regular a intensidade de suas respostas emocionais e controlar seus impulsos. 
 
- Mantém sua positividade e otimismo mesmo perante eventos difíceis. 
 
- Consegue realizar suas entregas mesmo quando envolto em sentimentos negativos. 
 
Consciência social 
 
Consciência social tem a ver com entrar em sintonia com as necessidades, expectativas, comportamentos e estados 
emocionais de outras pessoas. Aqui, é necessário considerar pessoas e contextos. 
 
Você demonstra empatia quando: 
 
- Consegue ler pistas sobre os estados emocionais de outras pessoas de forma precisa. 
 
- Desenvolve escuta ativa. 
 
- Entende as perspectivas e os pontos de vista de outras pessoas. 
 
- Compreende as razões que motivam as outras pessoas. 
 
Você demonstra sensibilidade ao contexto quando: 
 
- Entende as forças políticas em seu trabalho, grupo ou organização. 
 
- Consegue compreender as principais relações de poder existentes. 
 
- Compreende os valores e a cultura de seu grupo ou organização. 
 
- Compreende os processos informais existentes em seu grupo ou ambiente de trabalho. 
 
- Entende quais comportamentos são valorizados e quais são considerados inadequados em seu grupo ou ambiente de 
trabalho. 
 
Gestão de relacionamentos 
A gestão de relacionamentos é a competência que nos permite "fazer a diferença", influenciar e motivar outras pessoas, 
bem como aplicar o entendimento emocional no trato com o outro, mantendo a assertividade e o diálogo fácil para 
objetivos comuns. 
 
Você demonstra uma boa gestão de relacionamentos quando: 
 
- Consegue construir consenso e influenciar pessoas para apoiar suas ideias e sugestões. 
 
- Oferece feedback para melhorar o desempenho de outras pessoas, reconhecendo suas forças e oportunidades de 
desenvolvimento. 
 
 
- Consegue inspirar outras pessoas para atingir metas e objetivos, extraindo o melhor de cada uma delas. 
 
- Consegue promover confiança, cooperação e espírito de equipe nos grupos em que atua. 
Quando falta uma habilidade de inteligência emocional 
Exploramos as competências de inteligência emocional, mas será que ficou claro o que acontece quando essas 
competências não estão presentes? Para reforçar o entendimento, apresentaremos, a seguir, quatro casos de indivíduos 
que encontramos, frequentemente, em organizações. 
 
CASO 1 – “O disperso”: você deve conhecer o perfil desse indivíduo, que apresenta muita dificuldade em manter o foco 
na tarefa. Essa pessoa trabalha com muitas janelas mentais abertas ao mesmo tempo ou se desdobra tentando atender 
a muitas demandas. A fala é acelerada, dificultando o entendimento da ideia que está tentando, efetivamente, 
transmitir, e como não consegue atuar nesse nível de energia por muito tempo, apresenta comportamento inconstante. 
Frente a isso, a competência que falta nesse caso é a autoconsciência, seja por não perceber seu estado, seja por estar, 
propositadamente, tentando ignorar seus limites. E para evitar isso, sempre preste atenção em seu corpo, pois é nele 
que o estresse se manifesta; busque desacelerar com práticas de meditação e peça feedback de pessoas em quem 
confia. 
CASO 2 – “Pavio curto”: emoções acumuladas, irritação com todos, respostas ásperas, comportamento passivo-
agressivo ou agressivo e alta sensibilidade ao que os outros dizem. O que falta neste caso é o autocontrole emocional. 
Procure identificar quais são os gatilhos ou situações que disparam essas reações intensas e busque refletir sobre suas 
causas, bem como modificar seu comportamento. Ajudar outras pessoas a desenvolver seu controle emocional também 
traz benefícios para o nosso próprio autocontrole. 
CASO 3 – “Muito racional”: esse indivíduo tem o comportamento de quem se acha dono da razão, perguntando-nos, às 
vezes, se “queremos que ele desenhe” uma determinada situação, a fim de que a entendamos e concordemos com o 
seu ponto de vista. Esse é um comportamento de desconexão social e de dificuldade de perceber qualquer emoção 
manifestada por outras pessoas. Neste caso, é preciso, preventivamente, pedir feedback contínuo a pessoas de nossa 
confiança, que possam nos fornecer legendas emocionais sempre que deixarmos de compreender o impacto de nossas 
atitudes perante nossos colegas de trabalho. 
CASO 4 – “Muito desconectado”: esse indivíduo apresenta desinteresse pelo grupo do qual participa, tendo dificuldade 
de compor ideias com os outros. Ele é focado apenas no que precisa acontecer, sem considerar que precisa que as 
pessoas compartilhem sua visão e sem se comprometer com os resultados. Neste caso, falta a gestão de 
relacionamentos, e mais do que justificar o que é preciso, corações e mentes precisam ser conquistados. Sempre que 
encontrar resistência as suas ideias e opiniões, busque ouvir ativamente as pessoas que apresentam contrapontos, 
esforce-se em conhecer seus motivos, valores e opiniões e, assim, conseguirá influenciá-los de forma positiva. 
Para compreender melhor a mudança necessária, além de assistir ao Ted recomendado da Dra. Susan David (encontrará 
o link a seguir, em Saiba mais), é importante adotar as seguintes medidas: 
 
Faça um esforço para reconhecer seus padrões de comportamento: precisamos nos dar conta de nossos estados 
emocionais antes de qualquer iniciativa para modificá-los. 
Tenha o hábito de nomear seus pensamentos e emoções: isso o ajudará a separar o estado emocional do indivíduo. 
Aceite seus estados emocionais: desenvolva compaixão por si mesmo em vez de negar tais estados, buscando entender 
suas causas, e aproveite essa informação valiosa para o seu processo de aprendizado e crescimento pessoal. 
Tome decisões e haja com base em valores: esse comportamento representa o que você ou sua organização valoriza ou 
aspira? 
Já as transformações de longo prazo, voltadas ao desenvolvimento da agilidade emocional, requerem a aplicação dessas 
competências de forma continuada. 
 
 
Videoaula: Quando falta inteligência emocional 
Em nosso vídeo resumo, vamos explorar as competências do modelo de inteligência emocional e, por meio de estudos 
de caso, compreender o impacto de sua falta em nossas relações interpessoais, bem como formas de desenvolvê-las. 
Além disso, vamos explorar o desenvolvimento de longo prazo de nossas competências e nossa agilidade emocional. 
Saiba mais 
Com base na obra Agilidade Emocional, o "TED Talk da psicóloga Susan David" explora como a forma de encararmos 
nossas emoções determina tudo aquilo que é importante: os nossos comportamentos, a nossa carreira profissional, as 
nossas relações, a nossa saúde e a nossa felicidade. 
Referências 
BISQUERRA, R. Universo de emociones. Valência: PalauGea, 2015. 
 
DAVID, S. Agilidade emocional: abra sua mente, aceite as mudanças e prospere no trabalho e na vida. São Paulo: Editora 
Cultrix, 2018. 
 
GOLEMAN, D.; BOYATZIS, R.; MCKEE, A. O poder da inteligência emocional. Rio de Janeiro: Campus, 2002. 
 
GOLEMAN, D. et al. 10 leituras essenciais em inteligência emocional. Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2019 
 
 
Aula 4 como desenvolver a gestão emocional 
Introdução 
Vivemos uma época em quea ansiedade e a depressão alcançam níveis epidêmicos. Segundo a Organização Mundial de 
Saúde, estima-se que uma a cada cinco pessoas desenvolve quadros depressivos durante a vida e uma a cada quatro 
pessoas sofre de ansiedade. 
 
Com a pandemia da Covid-19, essas estimativas ampliaram-se consideravelmente, especialmente entre jovens e 
adolescentes, por conta do excesso de estímulos audiovisuais, do isolamento social, do alto grau de incertezas e de risco 
a que todos estamos submetidos, entre outros fatores. Disso, surgiu a necessidade de compreendermos formas de 
regulação emocional frente às emoções aflitivas, logo, conheceremos alguns conceitos ligados à psicologia positiva e 
falaremos sobre o valor das práticas contemplativas. 
 
Ao final desta aula, esperamos que você descubra formas de acalmar estados ansiosos e garantir o alívio da tristeza a 
partir do acesso a emoções positivas. 
Uma epidemia de ansiedade 
Um fato que intriga pesquisadores de saúde mental é o aumento significativo de quadros de ansiedade nas mais 
diversas culturas e populações. Segundo Leahy (2011), a criança média, hoje, exibe o mesmo nível de ansiedade do 
paciente psiquiátrico da década de 1950! Considerando que, atualmente, temos acesso facilitado a tratamentos 
médicos, as pessoas vivem mais e vivem em melhores condições de saúde, por que isso acontece? 
 
 
Uma explicação para isso está em nosso estilo de vida. Por exemplo: a alta facilidade em nos conectarmos às mais 
diferentes notícias e realidades nos coloca em constante comparação e confusão. Absorvermos informações demais 
sobre fatos e imagens, o que “cansa” nossos sensores emocionais e nos coloca em uma espécie de vertigem, algo típico 
da ansiedade. 
 
De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria (APA), a ansiedade é uma emoção caracterizada por sentimentos 
de tensão, pensamentos preocupados e mudanças físicas, como aumento da pressão arterial. Pessoas com transtornos 
de ansiedade, geralmente, têm pensamentos ou preocupações intrusivas recorrentes; elas podem evitar certas 
situações por preocupação e apresentar sintomas físicos, como sudorese, tremores, tonturas ou taquicardia. 
 
Como outros estados emocionais, a ansiedade pode ser facilitada por questões fisiológicas, mas é, das emoções aflitivas, 
a mais ligada ao modo como projetamos nossa percepção da realidade. Ela é, portanto, uma emoção ancorada no 
tempo futuro, geralmente, ocupando nossa mente com situações sobre as quais não temos controle, mas desejamos 
controlar. 
 
De acordo com Laguaite (2011), são múltiplos os sintomas de ansiedade, entre eles: 
 
Evitar amigos ou família. 
Preocupação constante. 
Choro. 
Sensação de irritação, cansaço ou tensão. 
Sentir que você precisa ser perfeito. 
Ter problemas para dormir. 
Ter problemas para se concentrar ou lembrar das coisas. 
Perder o interesse no seu trabalho. 
Comer demais ou de menos. 
Existem situações que podem disparar nossa ansiedade e nos fazer antecipar nosso desempenho diante de outras 
pessoas. No espaço de trabalho, algumas delas são: 
 
Lidar com problemas de colegas. 
Montar e realizar apresentações. 
Acompanhar e atualizar as redes sociais. 
Reuniões, almoços de equipe e festas de escritório. 
Cumprir e definir prazos em equipe. 
Falar durante as reuniões. 
Certos comportamentos não nos ajudam a lidar com preocupações e ansiedades, como tentar suprimir os pensamentos, 
alienar-se com álcool e outros vícios, superestimar o risco de algo ruim acontecer ou checar repetidamente o status nas 
redes sociais. Ao contrário! O que pode contribuir para a diminuição da ansiedades é ter clareza do que efetivamente se 
pode controlar e uma certa apreciação da experiência, ainda que a vida apresente novos riscos e incertezas a cada dia. 
Em relação aos desafios diários, para diminuir a ansiedade, é importante dedicar-se a uma atividade por vez, buscando 
pausas para observar o que acontece e refazer as energias. 
 
Nosso jeito de viver e a tristeza 
Com a depressão aumentando em todas as faixas etárias e o estresse se tornando algo comum em nossas vidas, é 
seguro supormos que nosso estilo de vida pode estar contribuindo para nos deixar “para baixo”. Ao contrário do que 
parece, o estresse não é um elemento isolado dos estados de abatimento, na verdade, são estados emocionais que 
convivem. A fórmula já conhecemos: um esforço imenso para fazer as atividades mais corriqueiras seguido de um 
cansaço extremo e a vontade de não fazer nada. Em muitas situações, estresse e fadiga são duas faces da mesma 
moeda, assim como ansiedade e depressão. 
 
Todo mundo tem um dia ruim de vez em quando; uma discussão com um cliente, uma briga dolorosa com o cônjuge, a 
perda de um animal de estimação, ser preterido de uma promoção e outras decepções do dia a dia podem fazer com 
que nos sintamos péssimos. A tristeza é uma emoção normal, que deve desaparecer com o tempo, mas quando essa 
melancolia não é temporária, o perigo de depressão pode estar no horizonte. 
 
Existem alguns pontos importantes que apontam a diferença entre a simples tristeza e um quadro depressivo. O Quadro 
1 a seguir explica em que elas se diferem: 
 
Quadro 1 | Diferenças entre tristeza e depressão. Fonte: Botega (2020, p. 23). 
É importante compreendermos que a tristeza é uma emoção humana normal, que todo mundo sente de vez em 
quando. Como vimos na primeira aula, ela está associada a algum tipo de perda, podendo estar vinculada à forma como 
entendemos alguma situação da vida. Uma característica interessante da tristeza é que, quando a sentimos, é como se 
“nunca tivéssemos” sentido a felicidade antes, além disso, facilmente, ela é a emoção dominante. Quando em 
intensidade baixa, a tristeza favorece a análise crítica e a empatia por outras pessoas; por essa razão, a tristeza pode ser 
aliviada quando desabafamos, choramos ou, simplesmente, entramos em contato com nossos sentimentos. 
 
O mais importante em relação à tristeza é que ela é temporária. Se ela se intensificar e não estiver mais vinculada a 
algum fato específico (geralmente de perda), é possível que haja algo mais a se investigar, como uma possível 
depressão, e, nesse caso, o ideal é procurar ajuda de um profissional de saúde mental. 
 
 
Ainda, a depressão pode ser desencadeada por uma predisposição fisiológica, como uma forte alteração hormonal, ou 
devido a circunstâncias externas. O termo "deprimido" é frequentemente mal utilizado e muitas pessoas explicam 
estados de melancolia a partir do sentimento de depressão. A depressão clínica, no entanto, só pode ser diagnosticada 
por um profissional de saúde mental, que pode avaliar os sintomas e recomendar o tratamento adequado. 
Práticas para viver melhor 
Como vimos até aqui, nosso estilo de vida conectado e hiperligado contribui para a perda de bem-estar e satisfação 
pessoal. Por isso, para fazer frente a estados depressivos e ansiosos, muitas pessoas estão se voltando a práticas 
contemplativas, como mindfulness e meditação, que ajudam a diminuir o fardo de nossos embates emocionais 
cotidianos. 
 
Muitas são as práticas contemplativas, podendo ser generativas, quando intentam gerar pensamentos e sentimentos de 
compaixão ou conexão com algo superior (como orações e mantras), de movimento (como caminhadas ou artes 
marciais) ou de quietude, quando buscam promover calma e tranquilidade (como meditação sentada). Elas são 
chamadas "práticas" porque se aperfeiçoam com o tempo e a repetição, modificando a forma como experimentamos a 
realidade. 
 
De acordo com a organização CMind (2021), as práticas contemplativas podem incluir atividades como cantar, tocar 
música e tricotar, bem como práticas como ioga ou tai-chi. Em comum, elas têm a característica de promover uma 
melhora em nossa saúde emocional, afastando-nos de emoções aflitivas e nos aproximando de estados de bem-estar e 
apreciação da vida. 
 
Mindfulness é uma expressãoem inglês melhor traduzida como “atenção plena” e diz respeito a uma observação da 
realidade de forma curiosa e distanciada. Quando estamos “mindful”, percebemos o que acontece de maneira livre de 
julgamentos, por isso, a prática de mindfulness 
 
torna-se uma ferramenta poderosa para nos ajudar a controlar o sofrimento que experienciamos, promovendo calma, 
apreciação da experiência e felicidade. 
 
Não é preciso fechar os olhos para a prática de mindfulness; podemos praticar, por exemplo, a partir de uma 
alimentação consciente, em que cada garfada é apreciada cuidadosamente, bem como o sabor dos alimentos e suas 
diferentes texturas. Outra opção é uma caminhada ao ar livre, de forma que todos os nossos sentidos estejam atentos 
ao ambiente e que possamos “prestar atenção” às nossas passadas sob efeito do vento e das paisagens que 
vislumbramos. 
 
Muitas são as práticas possíveis de meditação. Uma delas é sentar-se confortavelmente por alguns minutos 
diariamente, fechando os olhos para presenciar as diferentes “janelas mentais”, separando sons, percepções do corpo e 
pensamentos, bem como observar a si mesmo com tranquilidade. Outra meditação bastante comum é, simplesmente, 
prestar atenção na respiração, pontuando o ar que entra e o ar que sai, e nas diferentes sensações e nos sentimentos 
que surgirem, sem julgamentos. 
 
Outra opção simples é prestar atenção no seu momento presente. Pratique agora: inspire profundamente pelo nariz e 
exale devagar pela boca, por três inspirações e expirações. Em seguida feche os olhos e deixe o “pensamento flutuar”, 
sem julgar, sem reter nenhuma emoção e sem evitar. Você verá como uma prática tão simples pode nos fazer 
“recuperar o fôlego” e, quem sabe, levar a vida um pouco mais leve. 
 
 
No Saiba mais desta aula, sugerimos que você construa a árvore de práticas contemplativas, descobrindo o seu jeito de 
estabelecer uma conexão saudável com suas emoções. 
Videoaula: Como desenvolver a gestão emocional 
Vivemos em uma época acelerada, em que o isolamento social e o excesso de informações nos tornam cada vez mais 
estressados e ansiosos. Nesta aula, falamos sobre ansiedade e depressão, compreendendo as características que 
desafiam nossas mentes a lidar com a realidade; ao final, apresentamos algumas formas de fazer frente às emoções 
aflitivas, a partir de práticas contemplativas de mindfulness e meditação. 
Saiba mais 
Baixe o aplicativo Cíngulo em seu celular e acompanhe, diariamente, sua evolução na gestão de emoções aflitivas. Existe 
uma versão gratuita do “app” que dá direito a uma série de dicas para gestão emocional. 
 
Assista, também, ao documentário Em busca do bem-estar (2020), na Netflix, e acompanhe a jornada de um homem 
estressado ao lado do monge francês Matthieu Ricard, considerado “o homem mais feliz do mundo”. 
 
Por fim, baixe a sua "árvore de práticas contemplativas" e preencha-a com suas atividades preferidas de meditação, 
mindfulness ou outras que possibilitam a você um contato saudável com suas emoções. 
Referências 
BOTEGA, N. J. A tristeza transforma, a depressão paralisa. São Paulo: Saraiva Educação S.A., 2020. 
 
CMIND. The tree of contemplative practices illustrates some of the many contemplative practices used in education and 
secular organizations. [s. d.]. Disponível em: https://www.contemplativemind.org/practices/tree. Acesso em: 13 jan. 
2022. 
 
KINGSLAND, J. Budismo e meditação mindfulness: a neurociência da atenção plena e a busca pela iluminação espiritual. 
São Paulo: Editora Cultrix, 2018. 
 
LAGUAITE, M. How to deal with anxiety at work. 2021. Disponível em: https://www.webmd.com/anxiety-
panic/features/workplace-anxiety. Acesso em: 13 jan. 2022. 
 
LEAHY, R. L. Como lidar com as preocupações: sete passos para impedir que elas paralisem você. Porto Alegre: Artmed 
Editora, 2016. 
 
LEAHY, R. L. Livre de ansiedade. Porto Alegre: Artmed Editora, 2012. 
 
Unidade 2 pensamento criativo e oportunidade para resolução de problemas 
Aula 1 facilitação emocional do pensamento criativo 
Introdução 
Você já reparou em algum artista realizando uma performance, como um dançarino ou um pintor? Já se envolveu em 
uma atividade e não viu o tempo passar? Essas situações podem indicar o estado de flow, um estado de espírito em que 
ficamos totalmente imersos no que fazemos e podemos criar o novo em atividades que já temos amplo domínio. 
 
 
Vamos falar nesta aula sobre isso e sobre a formação de indivíduos criativos, compreendendo o papel do ambiente e de 
nossas relações afetivas, inclusive com a própria tarefa. Por último, vamos conhecer uma técnica para facilitação de 
nossas emoções de forma a promover a criatividade. 
 
Ao final da aula espera-se que você perceba mais atentamente seus processos criativos e facilite humores positivos para 
que novas soluções possam chegar a seu campo cognitivo. 
 
O processo de flow 
 
É encantador observar os movimentos de uma bailarina em uma apresentação de alto desempenho. A fluidez na pista 
faz parecer fácil a condução dos passos e por mais força que ela coloque em seus músculos, o que conseguimos 
perceber é leveza. Se perguntarmos para a bailarina como ela se sente no momento da performance, ela dirá que é 
como se o tempo parasse ou como se não tivesse percepção alguma de tempo. Outra característica é que ela não 
perceberia seus pensamentos, como se nesse momento o eu se fundisse com a tarefa, ou seja, ela se tornasse a dança. 
Esse estado de espírito em que estamos totalmente imersos em uma atividade é chamado de flow, ou fluxo. 
 
Para chegar ao desempenho em flow em processos criativos são necessárias muitas horas de treinamento. De acordo 
com o psicólogo positivo Mihaly Csikszentmihaliy (2020), que estuda o processo de flow nos últimos 30 anos, são 
necessários 10 anos de dedicação a um determinado tema ou atividade para que se possa criar algo totalmente novo a 
respeito. E aqui o autor faz uma conexão entre o flow e a criatividade: é preciso muito envolvimento com uma atividade 
para que se possa ser criativo em relação a ela. É como se a mente precisasse de muitos registros de uma determinada 
ação para que pudesse automatizar totalmente o processo e então fluir de forma mais independente, sem programar os 
pensamentos. 
 
Ao realizar uma tarefa em estado flow, a pessoa sente-se “livre” de ter de pensar e simplesmente flui. Csikszentmihaliy 
explica que mesmo atividades consideradas repetitivas, burocráticas ou cansativas, pode oportunizar momentos de 
criatividade, gerando satisfação posterior. Para isso acontecer, é necessário que os indivíduos dessas atividades tenham 
o chamado perfil autotélico, que consegue reconhecer oportunidades onde outros não reconhecem e tirar bem-estar 
psicológico a partir de atividades consideradas difíceis para outras pessoas. A pessoa autotélica cria condições para o 
flow acontecer. Outros exemplos são as atividades de “abrir a massa” feita em algumas pizzarias artesanais ou de 
“soprar o vidro” feita em vidraçarias tradicionais. Essas são tarefas aparentemente banais que são transformadas 
criativamente por pessoas autotélicas, que retiram satisfação e promovem um toque artístico no que fazem. 
 
Algumas outras definições ajudam a compreender melhor o flow. É necessário que a pessoa se sinta desafiada pela 
tarefa e, ao mesmo tempo, tenha condições de executá-la. Daí a importância do amplo tempo de dedicação para que se 
chegue ao flow. Se temos muito domínio sobre uma atividade e não somos desafiados por ela, é fácil cair em um estado 
de tédio. Já se temos pouca habilidade e o desafio da tarefa é muito grande, entramos em estado de preocupação ou 
ansiedade, uma vez que não vemos saída fácil. Essas diferentes relações entre o desafio e a habilidade são explicadas 
pela Figura 1. 
 
 
Figura 1 | Estado de flow. Fonte: adaptada de Csikszentmihalyi (2020). 
O que se pode resumir é que duas condições são necessáriaspara que o flow possa acontecer: a pessoa sentir-se 
altamente motivada para a atividade e com capacidade ou competência para realizá-la a contento. Nesse caso, há um 
grande investimento de energia e concentração, até que se perca a noção do tempo ou do pensar. Passa-se a tão 
somente executar, com espaço para criar. Daí a satisfação decorrente. 
O indivíduo criativo em formação 
Inspirado na teoria de Csikszentmihalyi, Howard Gardner explorou as condições necessárias para as pessoas serem 
criativas. Ele analisou a vida de sete personalidades criativas: Freud, Einstein, Picasso, Stravinsky, Eliot, Graham e Gandhi 
e chegou à conclusão de que a criatividade não é um fato isolado e restrito a indivíduos geniais, ao contrário, depende 
das condições de formação do indivíduo criativo, do ambiente em que cresceu, do afeto que recebeu e das 
oportunidades que encontrou. 
 
Para explicar essas condições, Gardner (1996) propôs o triângulo da formação (Figura 2), que traz três elementos 
centrais: 
 
Da criança ao mestre – compreensão de como o indivíduo passa de criança a mestre, como os talentos foram 
identificados e que meios encontraram para florescer. 
Campo de domínio – a relação entre o indivíduo e o trabalho em que se envolveu. 
Ambiente-comunidade – a relação entre o indivíduo e outras pessoas que fazem parte do seu mundo, tais como 
familiares e professores. 
A interconexão desses três elementos faz com que se compreenda as bases do processo de criatividade no decorrer de 
uma vida, inclusive todos os afetos envolvidos. 
 
 
Figura 2 | Triângulo da formação. Fonte: Gonzaga e Rodrigues (2018, p. 22). 
Dessa forma, o triângulo da formação engloba aspectos individuais (herança genética, temperamento, constituição 
básica); aspectos do ambiente (influência de pais, professores e demais pessoas que julgam ou emitem opiniões sobre o 
comportamento do indivíduo); e o domínio (o estágio de desenvolvimento de uma dada disciplina em uma determinada 
época). O mesmo triângulo já havia sido utilizado por Gardner para explicar o conceito de Inteligências Múltiplas. 
 
Alguns achados na formação do indivíduo criativo 
 
De acordo com Gardner, todos os mestres criativos estudados mostraram dons formidáveis na infância, havendo 
especial destaque para o nível de habilidade do jovem Picasso. Um desenhista talentoso na primeira década de sua vida, 
ele estava no final da adolescência pintando com tanta sutileza quanto qualquer outro artista de sua época – e lançando 
as bases para mais 75 anos de produtividade. Picasso oferece a oportunidade de considerar as contribuições da 
prodigiosidade para as primeiras realizações deslumbrantes e sua transmutação em uma forma que permite a 
realização de contribuições mais duradouras. 
 
Outra característica compartilhada pelos mestres criativos é que vivenciaram diferentes culturas e contextos, não 
ficando restritos aos códigos sociais de uma determinada região ou cidade e havendo inclusive participado de 
movimentos criativos de seu tempo. O autor cita o exemplo do escritor T.S. Eliot, que se tornou de certa forma 
“marginal” em sua própria era, mesclando estilos diversos em sua obra. 
 
Por último, todos os criadores tinham algum tipo de sistema de suporte significativo. Isso incluiu apoio afetivo de 
alguém de quem colhia suporte emocional e cognitivo. Em algumas situações, a mesma pessoa supria ambas as 
necessidades, em outras ocasiões, foi necessária mais de uma pessoa para os diferentes suportes. A relação entre o 
indivíduo criativo e esse “outro significativo” se compara em utilidade a outros dois tipos de relacionamento: a relação 
entre o cuidador e a criança no início da vida, e a relação entre um jovem e seu ou seus amigos no decorrer do 
crescimento. Em alguns aspectos, essa relação passa por algum tipo de embate, em que o mestre tenta introduzir um 
novo jeito de ver as coisas e seu amigo-confidente é o zelador da língua e cultura existente. O que se reforça é que a 
criatividade passa pela ação de forças sociais e afetivas, que agem no desenvolvimento do indivíduo criativo. 
 
Facilitação emocional para criar 
 
 
Será que existe um jeito de pensar que facilita a criatividade? A resposta é sim e esse jeito envolve determinados 
humores e suas formas análogas de pensar. Antes de mais nada é preciso deixar de encarar as emoções como visitas 
inoportunas que atrapalham nosso pensamento e começar a considerá-las como componentes-chave para despertar 
nossa cognição. Uma das mensagens mais importantes para nosso melhor desempenho em tarefas cognitivas de criação 
é de que as emoções podem melhorar nosso raciocínio. 
 
Isso acontece porque nossos humores têm impacto direto sobre o pensamento. Conforme nosso humor se altera, o 
mesmo ocorre com o pensamento. Assim, se somos capazes de perceber como estamos nos sentindo e em seguida 
conseguirmos alterar esse sentimento, facilitamos o espaço para pensarmos criativamente. Porque a cada mudança de 
humor muda também a forma como analisamos a realidade. E esse é exatamente o “pulo do gato” que favorece o novo 
chegar. E melhor ainda se estivermos sob efeito de emoções positivas. 
 
Os humores positivos ajudam nossa mente a “abrir janelas” e pensar em novas possibilidades. Por exemplo, se estamos 
de “bom humor” de repente nos vemos elaborando com facilidade um determinado plano de marketing, já que esse 
bem-estar fornece segurança psicológica e favorece que pensemos sobre coisas que “não estão ali”. Quando nos 
sentimos alegres e confiantes olhamos para fora da caixa, arriscamos dar uma opinião em uma apresentação coletiva, 
topamos um passeio diferente, acreditamos que as coisas “podem dar certo” e diminuímos a percepção de risco. 
 
O contrário acontece com os humores negativos. Eles nos abrem os olhos para tudo que pode dar errado e nesse 
sentido podem ser um empecilho a novas ideias. Mas se houver uma leve mudança de um estado negativo pode-se 
abrir espaço para a criatividade, especialmente para questões de organização e ordenamento. E eis que numa tarde um 
tanto melancólica olhamos para as gavetas e, no meio de uma motivação momentânea, nos vemos descobrindo uma 
forma criativa de disposição das peças. Foi nosso humor que teve uma leve alteração, suficiente para que o “pop up” 
mental da criação pudesse acontecer. 
 
A pausa também pode ser um facilitador emocional para a criatividade. Muitas vezes simplesmente pausar e ficar sem 
“fazer nada” é suficiente para construir as bases para que uma nova ideia possa surgir. Eis aqui uma prática revelada por 
 
muitos criativos: não é só buscando a solução que a encontramos. Vale a pena se “abastecer de informações” a respeito 
do que queremos resolver, mas também deixar um tempo de folga para que a mente intuitiva possa trabalhar 
subliminarmente e, sem que possamos antecipar, a solução simplesmente “aparece” no campo mental. 
 
Eis então uma proposta de atividade para promover sua troca de humor e consequente abertura à criatividade. De 
acordo com Caruso e Salovey (2007), uma das estratégias mais eficazes para alterar o humor é simplesmente repetir 
declarações positivas. O efeito é sutil, mas bastante eficaz. O ideal é que você leia essas declarações em voz alta ou 
silenciosamente para si mesmo: 
 
Me sinto muito bem hoje. 
Estou muito feliz. 
As coisas estão melhorando. 
É fácil fazer essa tarefa, eu consigo. 
Este é um grande dia. 
Estou muito alegre hoje. 
Desejamos uma boa prática das estratégias que estudamos e ótimas criações! 
 
Videoaula: Facilitação emocional do pensamento criativo 
Na primeira parte de nossa aula vamos falar sobre flow, um estado de espírito em que estamos totalmente imersos em 
uma atividade e não percebemos o tempo passar. Em seguida, conheceremos o processo de desenvolvimento de uma 
pessoa criativa e o triângulo da formação. Encerraremos a aula compreendendo o papel das emoções na facilitação do 
pensamento,de como nossos humores afetam nossa criatividade. 
Saiba mais 
1. Baixe gratuitamente o livro: 
 
GONZAGA, A. R.; RODRIGUES, M. C. "Inteligência emocional nas organizações". Canos, RS: Editora Unisalle, 2018. 
 
2. Assista também ao TED com Mihaly Csikszentmihalyi: 
 
CSIKSZENTMIHALYI, M. Fluidez, o segredo da felicidade. "TED Talk", 2004. 
 
Referências 
CARUSO, D. R.; SALOVEY, P. Liderança com inteligência emocional: liderando e administrando com competência e 
eficácia. São Paulo: M. Books, 2007. 
 
CSIKSZENTMIHALYI, M. Flow: a psicologia do alto desempenho e da felicidade. Edição revista e atualizada. Rio de 
Janeiro: Objetiva, 2020. 
 
 
GARDNER, H. Mentes que criam: uma anatomia da criatividade observada através das vidas de Freud, Einstein, Picasso, 
Stravinsky, Eliot, Graham e Gandhi. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. 
 
GONZAGA, A. R.; RODRIGUES, M. C. Inteligência emocional nas organizações. Canos, RS: Editora Unisalle, 2018. 
Disponível em: https://revistas.unilasalle.edu.br/index.php/books/article/view/4709/2127. Acesso em: 18 jan. 2022. 
Aula 2 grupos criativos e solução de problemas 
Introdução 
Será que a criatividade é algo que já trazemos de nascença ou pode ser desenvolvida? Embora existam talentos que já 
trazemos conosco, todos nós podemos ser criativos porque criatividade diz respeito a um processo, não a uma 
determinada forma de perceber a realidade. Nesta aula, vamos aprender sobre os obstáculos à criatividade e como o 
diálogo é a porta de entrada para a criação compartilhada em grupos humanos. 
 
Em seguida, vamos conhecer os elementos que fazem parte do processo criativo, entendendo o papel da razão e da 
emoção em nossas inovações e propostas de solução de problemas. Por último, teremos a sugestão de duas práticas 
que prometem acelerar os processos criativos. 
Obstáculos à criatividade e o valor do diálogo 
 
Todos podemos ser criativos, mas o que separa os grandes autores e artistas dos que não criam é a crença na própria 
criatividade. É verdade, no entanto, que existem alguns obstáculos à criatividade, desde bloqueios simples de atenção 
até mais complexos. Eis aqui alguns deles: 
 
Obstáculos da percepção – são aqueles provocados pelo próprio ego, embates do raciocínio. A análise crítica, o 
julgamento e as percepções negativas podem atrofiar o processo de criação. 
Obstáculos emocionais – a emoção que mais bloqueia a criatividade é o medo, em suas mais diversas formas: medo de 
errar, medo do desconhecido e principalmente medo da rejeição. Algumas pessoas dizem “tenho medo de falhar” e isso 
as paralisa. 
 
Obstáculos intelectuais – nesse caso não há apenas a barreira do ego, mas sim dificuldades de construção do raciocínio. 
Um exemplo é algum tipo de bloqueio da linguagem e conotações específicas. Por isso é tão difícil criar um texto em 
uma língua que não dominamos. 
Obstáculos culturais – muitas vezes ficamos presos à nossa própria cultura. Barreiras culturais podem impedir o acesso a 
novas possibilidades de ação e de pensamento. 
Obstáculos ambientais – restrições de acesso, ação ou presença de outras pessoas e dificuldades tecnológicas são 
exemplos de barreiras à criação que independem da ação do criativo. 
Muitos dos obstáculos são atitudes de autodefesa em que o indivíduo procura evitar sentimentos ansiosos e interrompe 
a criação. Às vezes, a remoção ou o afastamento dos obstáculos requer criatividade. 
 
Mas como podemos então gerar novas ideias? De onde elas vêm? Um bom lugar para se começar é nossa memória. Por 
isso, quanto mais experientes somos também maior é nosso arquivo de base criativa (SEAWARD, 2009). As ideias 
podem vir de diferentes recursos: livros, filmes, conversas com os amigos, posts de redes sociais e até mesmo aquele 
episódio preferido da Netflix. Para sermos criativos é necessária uma postura de abertura à experiência, um certo 
espírito explorador, em que deixamos de lado a censura mental e nos tornamos curiosos à novidade. 
 
E os grupos humanos, podem cocriar juntos? 
 
William Isaacs, pesquisador há mais de 30 anos de grupos humanos entende que é possível promover a arte de pensar 
juntos, a partir do diálogo. Segundo ele, problemas entre gerentes e funcionários, cidadãos e autoridades eleitas e 
nação e nação muitas vezes derivam de incapacidade de conduzir um diálogo bem-sucedido. O diálogo envolve 
aprender a abandonar as reações iniciais diante da posição de outras pessoas e tomar consciência de um fluxo de novas 
possibilidades (ISAACS, 1999). 
 
Alguns empecilhos para o bom diálogo são o excesso de preparação – chegamos prontos para falar, não para ouvir – e o 
pensamento rígido a respeito dos temas a serem tratados. Pessoas que pensam e conversam com eficácia, favorecendo 
o processo criativo de um grupo, possuem as seguintes qualidades: 
 
Escuta – Devemos ouvir não apenas os outros, mas a nós mesmos, abandonando nossas suposições, resistências e 
reações. 
Respeito – Devemos permitir ideias diferentes das nossas serem expressas, ao invés de tentar mudar as pessoas com 
um ponto de vista diferente. 
Observação – Devemos suspender nossas opiniões, recuar, mudar de direção e ver com novos olhos. 
Autonomia – Devemos falar nossa própria voz, sem termos agendas predeterminadas com alguém ou alguma 
instituição. Encontrar a própria autoridade é também desistir da necessidade de dominar. 
A concretude da criatividade 
Há um certo consenso de que os indivíduos criativos, sejam eles artistas, líderes ou cientistas, têm em comum uma 
ampla capacidade de observação, uma motivação e energia ímpar e às vezes uma forma particular de viver e tomar 
decisões. Entende-se que seu pensamento é mais livre e menos dependente da lógica, mais inclinado ao sonho e à 
fantasia. 
 
Contrapondo em parte essa visão, o sociólogo Domenico De Masi (2003) desenhou um modelo para explicar grupos 
criativos que equilibram razão e emoção, fantasia e realidade. De acordo com o autor, existem quatro forças entre as 
 
quais a criatividade atua: a) o pensamento primário, b) o pensamento secundário, c) a esfera emotiva e d) a esfera 
racional. 
 
O pensamento primário tem a ver com o funcionamento inconsciente da psique, em que prevalece o sonho e algumas 
psicoses. Já o pensamento secundário diz respeito ao funcionamento da mente desperta e serve-se da lógica comum. A 
esfera emotiva é composta de emoções, sentimentos e atitudes e a esfera racional de conhecimentos e habilidades. 
 
Das intersecções entre esses quatro fatores surgem as condições para a criatividade acontecer, conforme apresentado 
na Figura 1. Da intersecção entre a esfera emotiva e o pensamento secundário surge a (1) área das emoções 
administradas. Um exemplo dessa primeira intersecção são os diálogos em torno de nossos sentimentos ou a 
dramatização em forma de arte. Da união entre a racionalidade e a mente consciente surge a (2) área da concretude, 
em que as soluções e inovações tornam-se materiais e reais. Na intersecção entre emotividade e a mente inconsciente 
está a (3) área da fantasia, em que os primeiros movimentos involuntários do processo criativo podem surgir e entre a 
esfera racional, e no pensamento primário está a (4) área das técnicas introjetadas, como aqueles sonhos que não 
servem para o campo da realidade. 
 
Assim, entende-se que a criatividade não se caracteriza apenas pela imaginação e fantasia, mas também pelo 
movimento para sua realização (concretude), ainda que na síntese do entroncamento entre fantasia e concretude, entre 
emoções administradas e técnicas introjetadas instala-se a criatividade, conforme resumido na figura a seguir. 
 
igura 1 | Processo criativo para De Masi (2003). Fonte: De Masi (2003, p. 571). 
Por último, vale reforçar que o movimento da inspiração e realização não é necessariamente linear. Espera-se que toda 
grande criação parta de um arroubo de intuição fantasiosa para depois se planificar. Nem sempreesse é o caso, 
também o inverso pode acontecer. Um exemplo de obra que partiu da concretude para a fantasia é do auditório de 
Oscar Niemeyer na cidade de Ravello, na Itália. Conforme resgata De Masi (2003), segundo o arquiteto, na proposta de 
projeto já se sabia que a inclinação do terreno era irregular e estreita. Percebendo a dificuldade da obra e o custo de 
aplainar o espaço, o artista aproveitou a inclinação para definir a localização da plateia, fazendo com que essa 
característica servisse de ponto de partida para o desenho do restante do projeto. 
 
 
O encontro com o artista 
A arte é uma atividade do cérebro artista e sua linguagem é a imagem e o símbolo. Por isso a linguagem do artista é 
sensual, alimentada pela experiência e os cinco sentidos. Para Seaward (2009), as atividades criativas envolvem uma 
combinação das funções dos hemisférios direito e esquerdo do cérebro humano. Maslow (1987) concluiu que o 
processo criativo e o caminho para a autorrealização eram o mesmo. Antecedendo o pensamento de De Masi, ele 
dividiu o processo criativo em duas partes: primária e secundária. A criatividade primária é a origem das ideias: uma 
espécie de playground da mente em que as imagens são geradas, ainda incipientes e não necessariamente úteis. Já a 
criatividade secundária é o momento do processo criativo em que é traçado um plano estratégico para que a ideia 
selecionada funcione na realidade, quando ela é posta em ação. 
 
Considerado pelo diretor Martin Scorsese como uma ferramenta valiosa para se conectar com a própria criatividade, o 
livro O Caminho do Artista, de Julia Cameron, propõe uma jornada de atividades para recuperação de nosso eu criativo. 
Na base de todas as reflexões, Cameron (2019) propõe duas ferramentas para o despertar criativo: as páginas matinais 
e o encontro com o artista. 
 
As páginas matinais são três páginas escritas à mão com livre associação. Simplesmente isso, sem um plano prévio e 
sem necessidade de editar o texto. A intenção é liberar as preocupações cotidianas ou as histórias que passam em nossa 
cabeça, de forma que sobre o espaço para a criatividade acontecer. As páginas permitem que nos afastemos de nossos 
censores ou críticos internos e vão aos poucos permitindo que nos livremos de medos, dúvidas, negatividade e outros 
humores que impeçam nossa ação criativa. 
 
Todas essas coisas que lhe provocam raiva, irritação e implicância, escritas pela manhã, são um obstáculo entre você e 
sua criatividade. Preocupações com o emprego, a lavanderia, o barulho esquisito que o carro está fazendo, o olhar 
diferente do seu namorado – isso tudo fica se revolvendo em seu subconsciente e enlameando seus dias. Deixe tudo no 
papel. (CAMERON, 2019, p. 35) 
 
A ferramenta de encontro com o artista é um tempo, talvez duas horas por semana, reservado para alimentar a 
consciência criativa e o artista interior. É uma hora “para brincar”, só que planejada com antecedência. No momento do 
encontro é importante não ser interrompido. 
 
Alguns exemplos de atividades de encontro com o artista são: uma visita a uma loja de artigos de segunda mão, um 
passeio na praia, assistir a um filme antigo, um passeio no parque. São coisas que custam tempo, e não dinheiro. 
Conforme aponta Cameron (2019, p. 44): “passar um tempo a sós com sua criança artista é essencial para nutri-la”. 
 
Achou isso tudo interessante? Então agora é sua vez: separe um caderno específico para a sua prática criativa e nele 
passe a produzir suas páginas matinais. Também uma vez ao menos por semana, por pelo menos uma hora, garanta seu 
encontro com o artista, consigo mesmo. 
 
Bons estudos e boa prática criativa! 
Videoaula: Grupos criativos e solução de problemas 
Em nossa aula falamos sobre os obstáculos à criatividade e de que forma os processos criativos podem ser incentivados 
quando a tarefa é de um grupo de pessoas. Vamos também desmistificar algumas ideias do que compõe a criatividade 
em si e compreender como a razão e a emoção podem colaborar para produzir novas ideias. Por último, nosso convite é 
à prática de estratégias de resgate do artista que mora em cada um de nós. 
 
Saiba mais 
Assista a este TED, com Marily Oppezzo: 
 
OPPEZZO, M. Quer ser mais criativo? Faça uma caminhada. "TEDxStanford", 2017. 
Referências 
CAMERON, J. O Caminho do Artista. Portugal: Leya, 2019. 
 
CARUSO, D. R.; SALOVEY, P. Liderança com inteligência emocional: liderando e administrando com competência e 
eficácia. São Paulo: M. Books, 2007. 
 
DE MASI, D. Criatividade e Grupos Criativos. Rio de Janeiro: Sextante, 2003. 
 
DE MASI, D.; PALIERI, M. S. O ócio criativo. Rio de Janeiro: Sextante, 2000. 
 
ISAACS, W. Dialogue and the art of thinking together: A pioneering approach to communicating in business and in life. 
[S. l.]: Broadway Business, 1999. 
 
MASLOW, A. Motivation and Personality. 3. ed. New York: Harper & Row, 1987. 
 
O’MEARA, R. Pausa – O poder transformador de reservar um tempo para si mesmo. São Paulo: Benvirá, 2019. 
 
SEAWARD, B. L. Stress - Aprenda a lidar com as tensões do dia-a-dia e melhore sua qualidade de vida. São Paulo: Editora 
Novo Conceito, 2009. 
Aula 3 heurísticas e vieses 
Introdução 
O conceito de Homo Economicus foi introduzido por John Stuart Mill no século XIX. Ele se baseia no pressuposto de 
racionalidade perfeita do indivíduo, isto é, assume que somos capazes de decidir sobre questões complexas de forma 
ótima. Para isso, parte-se do princípio de que seremos sempre capazes de analisar e julgar todos os caminhos ou opções 
possíveis e escolher o curso de ação que trará o melhor resultado. 
 
Embora hoje saibamos que esse indivíduo não existe, isso não quer dizer que estudar a forma como realizamos 
julgamentos e tomamos decisões não seja importante. Segundo Herbert Simon, Nobel de Economia em 1978, 
compreender os processos de decisão e estudar se os mesmos processos levam a boas decisões, estão entre os tópicos 
de pesquisa mais relevantes na área de gestão. 
 
Das formas de pensar aos processos de tomada de decisão, serão objetos de estudo nesta aula. 
 
Desejamos uma excelente imersão na temática heurísticas e vieses. 
 
Os processos de tomada de decisão 
Métodos racionais de tomada de decisão 
 
Para muitos de nós, existe a percepção – e podemos dizer que, às vezes, a esperança – de que o processo de tomada de 
decisão eficaz possa ter como base uma escolha racional, que envolve identificação, escolha e aplicação da melhor 
alternativa possível. Os métodos racionais são estruturados geralmente no seguinte conjunto de etapas, conforme 
Figura 1: 
 
Identificar um problema ou uma oportunidade de maneira clara: por vezes, agimos sem ter um entendimento completo 
do problema, o que nos leva a resolvê-lo de maneira errada. 
Definir o método a ser utilizado: identificação e priorização de todos os objetivos por meio de critérios de avaliação para 
selecionar a melhor opção considerando todos os aspectos envolvidos. 
Desenvolver possíveis escolhas ponderadas pela utilização dos critérios: é recomendado envolver as equipes na tarefa 
de atribuir peso relativo a cada problema para classificá-lo e priorizá-lo. 
Identificar a solução otimizante: realizadas as primeiras etapas, esta resultaria teoricamente do julgamento natural 
fundamentado nas anteriores, facilitando o consenso. Recomenda-se fazer previsões sobre eventos futuros, tentando 
avaliar as consequências potenciais das escolhas. 
Implementar a solução selecionada: deve-se avaliar, sempre que possível, tanto a aderência aos planos quanto aos 
resultados obtidos em relação aos esperados, propondo ajustes quando necessário. 
Avaliar a escolha selecionada: é recomendado que haja um aprendizado sobre todo o processo, incluindo fatores não 
previstos durante a implantação e diferenças de resultados entre planejado e realizado, buscando-se aprimorar 
métodos e critérios para processos futuros.

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