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1 Sumário Capítulo 1 - Cadeia produtiva do leite ..................................................................................................................................... 4 Capítulo 2. Principais raças leiteiras ....................................................................................................................................... 7 Capítulo 3. Composição química e propriedades do leite ..................................................................................................... 11 Gordura ............................................................................................................................................................................. 11 Proteína ............................................................................................................................................................................. 12 Carboidrato – Lactose ....................................................................................................................................................... 13 Vitaminas .......................................................................................................................................................................... 14 Minerais ............................................................................................................................................................................ 14 Capítulo 4. Obtenção higiênica do leite: boas práticas agropecuárias ................................................................................... 16 Teste da caneca de fundo preto ......................................................................................................................................... 18 Pré-dipping .................................................................................................................................................................... 19 Pós-dipping ................................................................................................................................................................... 19 Capítulo 5. Ordenha Manual ou Mecanizada ........................................................................................................................ 21 Ordenha manual ................................................................................................................................................................ 22 Ordenha mecanizada ......................................................................................................................................................... 22 Capítulo 6. Processamento do leite ....................................................................................................................................... 25 Armazenamento e conservação do leite cru ...................................................................................................................... 25 Recepção do leite .............................................................................................................................................................. 25 Análises laboratoriais ........................................................................................................................................................ 26 Índice crioscópico ......................................................................................................................................................... 29 Laboratórios da Rede Brasileira de Laboratórios de Controle da qualidade do leite ........................................................ 31 Padronização do leite ........................................................................................................................................................ 32 Pasteurização – Leite pasteurizado e Leite pasteurizado tipo A ....................................................................................... 33 Leite homogeneizado ........................................................................................................................................................ 34 Esterilização - Leite UHT (Ultra Alta Temperatura) ........................................................................................................ 35 Classificação do leite ......................................................................................................................................................... 36 Capítulo 7. Derivados do leite ............................................................................................................................................... 37 Leite condensado ............................................................................................................................................................... 37 2 Doce de leite ...................................................................................................................................................................... 38 Leite em Pó ....................................................................................................................................................................... 39 Leites fermentados ............................................................................................................................................................ 40 Creme de leite ................................................................................................................................................................... 44 Manteiga............................................................................................................................................................................ 45 Nata ................................................................................................................................................................................... 46 Manteiga de garrafa........................................................................................................................................................... 47 Queijos .............................................................................................................................................................................. 47 Queijo Coalho ................................................................................................................................................................... 50 Ricota ................................................................................................................................................................................ 50 Outros queijos ................................................................................................................................................................... 51 3 TECNOLOGIA DE LEITE E PRODUTOS LÁCTEOS 1. INTRODUÇÃO Com o aumento do consumo e da produção do leite, surgiu a necessidade de aprimoramento de técnicas e de higienização na obtenção, transporte e conservação do leite, denominadas de Boas Práticas agropecuárias, com o objetivo de garantir um produto limpo e saudável e com maior tempo de conservação. A coleta, o armazenamento e o transporte do leite são operações que devem ser realizadas com a máxima higiene possível para obter leite cru de alta qualidade microbiológica. É necessário que chegue à indústria no tempo mais curto e à temperatura de refrigeração mais baixa possível para evitar a multiplicação de microrganismos mesófilos. O processamento do leite pode ser feito com duas finalidades: produção de leite para consumo direto ou produção de derivados. Neste livro serão abordados os seguintes temas: Cadeia produtiva do leite, Principais raças leiteiras, Composição química e propriedades do leite, Obtenção higiênicado leite através de boas práticas agropecuárias, Ordenha Manual ou Mecanizada, Processamento do leite e Derivados do leite. 4 Capítulo 1 - Cadeia produtiva do leite De acordo com a Instrução Normativa Nº 16 entende-se por leite o produto oriundo da ordenha completa e ininterrupta, em condições de higiene, de vacas sadias, bem alimentadas e descansadas. O leite de outros animais deve denominar-se segundo a espécie de que proceda (BRASIL, 2005). O termo leite é aplicado para a espécie bovina. Leite oriundo de outros animais deve vir acompanhado com a denominação da espécie. Por exemplo, leite de cabra e leite de ovelha. O produto lácteo o produto obtido mediante qualquer elaboração do leite que pode conter aditivos alimentícios e outros ingredientes funcionalmente necessários para sua elaboração (BRASIL, 2005). O Brasil, até o final da década de oitenta, apresentava um sistema de produção leiteira potencialmente de caráter familiar (rudimentar), com baixa produtividade, pouca orientação técnica, pastagens degradadas, quase nenhum controle zootécnico da criação, higiene deficitária e, principalmente, ineficaz fiscalização por parte dos órgãos governamentais quanto à qualidade desse leite, fundamentalmente com relação às inúmeras fraudes a que o produto era submetido. No entanto, a partir de 1990, teve início em nosso país um processo evolutivo na produção leiteira, alavancada pela expansão econômica do Brasil através da sua inserção no MERCOSUL, maior participação no comércio exterior e, principalmente, pela recuperação do poder aquisitivo da população. Com isso, houve um aumento significativo na procura por novos produtos ofertados pelos laticínios, exigindo consequentemente rápidas mudanças na forma de gerir esse seguimento alimentício a fim de atender ao mercado consumidor cada vez mais exigente. A revolução na cadeia produtiva láctea só foi possível devido ao apoio governamental através do Ministério da Agricultura e das Universidades, que apresentaram ao final da década de noventa um termo de cooperação técnica a todos os profissionais envolvidos no ramo de laticínios, criando naquela ocasião o Programa Nacional de Melhoria da Qualidade de Leite (PNQL), que teve como objetivo principal “Promover a melhoria da qualidade do leite e derivados, garantir a saúde da população e aumentar a competitividade dos produtos lácteos em novos mercados”. Até que, em 18 de setembro de 2002, o PNQL foi regulamentado com a publicação da Instrução Normativa N° 51 (BRASIL, 2002). Isso provocou um ajuste não formal, mas sim legal, no processo produtivo da cadeia do leite. Outra importante cooperação do Ministério da Agricultura foi destinar programas de linhas de créditos rurais para que os pequenos e médios produtores tivessem a possibilidade de ajustar-se ao novo sistema produtivo, ora regido pela Instrução Normativa 51, na qual foi revogada pela Instrução Normativa 77 (BRASIL, 2018), que agora traz os critérios e 5 procedimentos para o leite cru em estabelecimentos registrados no serviço de inspeção oficial para produção, acondicionamento, conservação, transporte, seleção e recepção. Assim, ganharam todos os seguimentos dessa cadeia comercial (o governo através dos seus órgãos gestores de fiscalização, a iniciativa privada – indústrias/laticínios e os produtores rurais), ocorreram aumentos significativos da produtividade devido à busca dos produtores por conhecimentos técnicos da criação, aumentaram a oferta de leite aos laticínios, houve uma melhora significativa na qualidade dessa matéria-prima, aumentaram por consequência a rentabilidade dos produtos elaborados, reduziram-se as perdas com matéria-prima de má qualidade, expandiram-se a procura por novos produtos derivados lácteos devido à conquista do poder aquisitivo do consumidor, bem como sua confiança por produtos alimentícios seguros do ponto de vista nutricional e da saúde pública. Traduzindo-se assim em expressivos ganhos ao comércio de uma forma geral pela expansão de produtos ofertados de boa qualidade. É evidente que esse quadro de soerguimento, adaptação e controle da produção e produtividade leiteira não foi conquistado de forma satisfatória e uniforme em todo o Brasil. O que aconteceu com as regiões Norte e Nordeste, em decorrência das várias dificuldades inerentes a essas regiões, tais como: clima, solos e pastagens degradadas, o não acesso a tecnologias e a capacitações apropriadas à melhoria da produção, a falta de um rebanho leiteiro especializado, o grande número de pequenos produtores de baixa renda, colocando-os em dificuldades para adquirirem máquinas e equipamentos necessários à adequação desses ao PNQL. Embora algumas regiões mostrem um cenário desfavorável, são cada vez maiores os esforços por parte dos órgãos governamentais, setor acadêmico e iniciativa privada para reduzir a distância que separa o processo de modernização do setor leiteiro do informal. De acordo com a FAO (2020) o Brasil é o 5º produtor mundial de leite. Aproximadamente 84% da produção mundial de leite é de vaca. 6 Figura1. Produção mundial de Leite Fonte: FAO (2020). De acordo com os dados divulgados pelo IBGE (2021), a produção atual de leite no Brasil totalizou 34,84 bilhões de litros em 2019, 2,7% maior que no ano anterior. O ranking dos maiores produtores de leite do Brasil, chamado de Top 100 maiores produtores de leite, publicado pelo Milkpoint, em 2019 houve crescimento de 8,67% na produção. Em 2020, esta expansão foi de 10,29%. Já em relação ao total produzido no País, entre 2010 e 2019 (último dado disponível do IBGE sobre produção total) a produção de leite cresceu 13,4%. Os cinco maiores Estados produtores concentraram quase 70% do total nacional, sendo que Minas Gerais deteve uma participação de 27,11%, sendo o maior produtor nacional, conforme Tabela 1. Tabela 1 – Produção de leite dos principais Estados no ano de 2019 Fonte: IBGE, 2021. https://www.milkpoint.com.br/top100/2021/ https://www.milkpoint.com.br/top100/2021/ 7 Os municípios de Castro- PR e Patos de Minas são os maiores produtores de leite do país. A Embrapa Gado de Leite/Centro de Inteligência do Leite realizou, por meio das redes sociais, uma pesquisa para acompanhar o comportamento do consumidor brasileiro de leite e derivados durante a pandemia, considerando o consumo domiciliar. Participaram da pesquisa 5.105 consumidores distribuídos em todo o território brasileiro, sendo que os seguintes locais tiveram maior representatividade na pesquisa: Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Distrito Federal, Rio de Janeiro e Goiás. O produto mais consumido foi o queijo, conforme figura 2. Figura 2. Porcentagem de consumidores brasileiros que têm o hábito de comprar os produtos lácteos Fonte: Embrapa Gado de Leite 2021 Capítulo 2. Principais raças leiteiras Atualmente no Brasil as raças mais comuns para investir na atividade leiteira são: Raça Holandesa É a raça europeia mais disseminada no mundo e com maior potencial para a produção de leite. Possui a pelagem branca e preta ou branca e vermelha, são exigentes quanto ao clima, conforto e 8 manejo. É uma matriz muito utilizada em cruzamentos devido ao seu potencial. As novilhas podem ter a primeira cria aos 2 anos de idade. A produção média de leite é de 6 a 10 mil kg em 305 dias de lactação. Figura 3. Raça Holandesa Fonte: Portal Embrapa Raça Jersey É uma raça europeia mais rústica, ou seja, que se adapta mais fácil com uma boa produção de leite, alta fertilidade e grande longevidade, eleita a segunda melhor raça leiteira. É uma raça de pequeno porte com pelagem parda com variação de pardo escuro ao amarelo claro. O leite apresenta elevados teores de proteína e gordura. Devido a precocidade sexual a primeira parição pode ser de 15 aos 18 meses de idade.A produção média de leite é de 3.500 a 5.500 mil em 305 dias de lactação. Figura 4. Raça Jersey Fonte: Portal Embrapa https://www.fundacaoroge.org.br/blog/guia-r%C3%A1pido-de-nutri%C3%A7%C3%A3o-de-vacas-de-leite 9 Raça Pardo Suiço É uma das raças europeias mais antigas do mundo. Podem ser utilizadas para produção de carne, porém a raça é predominantemente usada na produção leiteira. Possui uma pelagem parda clara a cinzenta escura, são animais rústicos e com alta fertilidade e longevidade. A idade das novilhas ao primeiro parto é de 30 meses. A produção média de leite é de aproximadamente 2.500 kg em 200 dias de lactação. Figura 5. Raça Pardo Suíço Fonte: Canal Rural Raças Zebu Leiteiras As raças indianas conhecidas como zebuínas se diferenciam das raças europeias por serem animais que se adaptam mais rápido, com grande resistência ao calor excessivo e à alta umidade do ar. O Gado zebu usufrui com eficiência alimentos com baixa qualidade nutricional. As três raças zebuínas mais comuns são: Gir – é a raça indiana mais utilizada em cruzamentos. Possui grande porte com a pelagem variada. Apresenta longevidade produtiva e reprodutiva além de ter temperamento dócil. A idade do primeiro parto é de aproximadamente 43 meses. Já a produção média de leite é de mais ou menos 777 kg em 286 dias. Guzerá – considerada a primeira raça zebuína utilizada pelo homem possui fácil adaptação e pode ser utilizada para a produção de leite e carne. Uma característica importante é a fertilidade da raça, já que se bem manejada pode fazer um bezerro a cada 13 meses. E a produção média de leite durante o período de lactação de 270 dias é de 2.071 kg. 10 Sindi – adequados para regiões mais secas e de poucos recursos alimentares, como no nordeste brasileiro. Assim como Guzerá também pode ser utilizada na produção de leite e carne. A raça possui um porte pequeno e a pelagem vermelha, variando do mais escuro ao amarelo-alaranjado com pintas brancas com a produção média de leite de 2.266 kg em 250 dias. Figura 6. Raça Zebu leiteira Fonte: Revista Agropecuária Girolando É derivado do cruzamento da raça zebuína Gir com a raça europeia holandesa. A mistura agregou a rusticidade da raça Gir com a alta produção da raça holandesa, além da precocidade sexual, longevidade e fertilidade. Um dos benefícios das raças mestiças é a questão do preço comparado às raças puras, no caso do Girolando o valor é menor e a média de produção de leite é ótima, aproximadamente 5.061 kg em 283 dias. Figura 7. Raça Girolando Fonte: Portal Embrapa https://www.fundacaoroge.org.br/blog/18-custos-da-produ%C3%A7%C3%A3o-de-leite 11 Composição química do leite Água Proteína Lipídio Carboidrato Vitaminas e minerais Capítulo 3. Composição química e propriedades do leite Em termos nutricionais, podemos avaliar o leite como um alimento completo. Uma vez que na sua composição apresenta água, gordura, proteínas, carboidratos, minerais e vitaminas os quais são assim distribuídos quantitativamente: 87 % de água, 3,5 % de gordura, 3,5 % proteínas, 4,7% lactose e 0,8% de minerais. As vitaminas apresentam bastante variação, as lipossolúveis separam com a gordura e as hidrossolúveis permanecem no leite desnatado. Figura 8. Composição química do leite Gordura A gordura do leite, pela indústria de laticínios, é um dos componentes com maior valor agregado. Ela é utilizada na indústria para fabricação de: manteiga, sorvete, nata, creme de leite, entre outros. A gordura do leite tem papel positivo na dieta, como fonte de energia, de vitaminas lipossolúveis e de ácidos graxos essenciais, também contribuindo para a palatabilidade do alimento. O leite bovino contém ácidos graxos saturados, no qual os átomos de carbono são ligados uns aos outros por ligações simples e ácidos graxos insaturados que existem uma ou mais ligações duplas na cadeia de hidrocarbono. E ainda dois ácidos graxos que possuem efeitos benéficos importantes na saúde humana, o ácido linoleico conjugado (cis-9, trans-11 ácido linoleico - C18:2, CLA) e o ácido butírico (C4:0). 12 O Ácido Linoleico Conjugado (CLA) refere-se a uma mistura de isômeros posicionais e geométricos do ácido linoléico. O CLA tem sido associado a importantes atividades biológicas, inclusive à atividade anticarcinogênica, à atividade antiartrogênica e à habilidade de reduzir os efeitos catabólicos. Por sua vez, o Ácido Butírico é descrito como um componente exclusivo da gordura do leite dos animais ruminantes. Além disso, também compõem a gordura alguns fosfolipídios, esteróis, carotenoides e vitaminas lipossolúveis. A gordura do leite é uma mistura de diferentes ésteres de ácidos graxos (mono-, di- e triglicerídeos) unidos por um álcool chamado glicerol. Cada molécula de glicerol pode se unir a três moléculas de ácido graxo. Praticamente toda a gordura do leite encontra-se em glóbulos. Como os glóbulos de gordura são as partículas maiores do leite, elas tendem a subir para a superfície, formando a nata quando o leite não homogeneizado fica parado por certo tempo em um recipiente. A redução da ingestão de leite integral pode, certamente, acarretar menor acesso a nutrientes benéficos e essenciais, como o CLA e o ácido butírico, assim como a vitaminas lipossolúveis. Proteína O organismo necessita dos aminoácidos para manter o metabolismo adequadamente, entretanto, como não é capaz de sintetizar todos eles, precisa obtê-los dos produtos de origem animal, são os denominados aminoácidos essenciais e todos estão presentes nas proteínas do leite. As proteínas são moléculas formadas de unidades menores chamadas de aminoácidos. Uma molécula de proteína consiste em uma ou mais cadeias interligadas de aminoácidos, onde eles estão organizados em ordem específica. Uma molécula de proteína, em geral, contém de 100 a 200 aminoácidos ligados, mas pode conter número maior ou menor. A proteína do leite é composta por caseína 80 % e as do soro 20 %, distribuídas em 16% de albumina e 4% globulina. Possui grande valor de utilização tecnológica, porque é dela que se origina a formação de uma massa branca (quando coagulamos o leite) para fabricação dos queijos. Entre outras funções importantes das proteínas para a indústria, podemos citar: solubilidade, absorção e retenção de água e de gordura, capacidade emulsificante e estabilidade das emulsões, geleificação, melhoria nas propriedades sensoriais e na aceitação dos produtos. A caseína pode ser separada através da acidificação, razão pela qual ocorre a coagulação da mesma durante a acidificação do leite por microrganismos. Existem diversas possibilidades técnicas para precipitarmos/coagularmos a caseína presente no leite: 13 Hidrólise (quebra) da lactose → pela enzima lactase → transformando-a em Ácido Láctico → ꜜPH → coagulação • Através da precipitação natural devido à ação da flora microbiana comum ao leite; • Pela inoculação de fermento láctico; • Pela adição ao leite do “coalho” composto pela enzima renina, também conhecida por quimosina; • Alteração na temperatura (no leite, é necessário 1 hora a 120ºC para sua coagulação; porém, se o leite estiver levemente ácido, pouco calor já é suficiente para sua coagulação). • Redução do pH – a proteína precipita-se em sua forma pura, livre de cálcio e fosfatos, por acidificação do leite até pH 4,6 - 4,7 (adição de ácidos diluídos ou ação de microrganismos). A ação enzimática na coagulação (quebra) da proteína ocorre devido à ação catalisadora (função de só acelerar a reação química, sem compor o produto final) das enzimas proteases através de uma reação de hidrólise. Outro produto derivado lácteo que tem como matéria prima principal a caseína associada a outros componentes do leite é o leite em pó. Já no caso da albumina e globulina(que são as proteínas solúveis do leite e, por esta razão, estão presentes no soro – ex. soro oriundos do processo de elaboração de queijo) e por serem solúveis na água, não se coagula pelo coalho, mas pelo calor (desnatura a temperaturas superiores a 74ºC) e pelos ácidos. Esse fato é perfeitamente observado quando fabricamos queijos do tipo Coalho ou Minas frescal, que após seu processo libera o soro. Nesse soro obtido da preparação desses queijos, há a presença das proteínas também contidas no leite, albumina e globulina. Carboidrato – Lactose A lactose (açúcar formado por uma molécula de glicose + galactose) é o carboidrato com maior quantidade contido no leite e responsável pelo leve sabor adocicado. Para a indústria, sua importância está na condição de ser o precursor do ácido láctico – originado da fermentação microbiana ou da acidificação do leite. Ocorre da seguinte forma: Na indústria, a fermentação da lactose por ação microbiana ocupa lugar de maior destaque, pois o número elevado de microrganismos transforma a lactose em ácido láctico, uma molécula de 14 lactose transforma-se em 4 moléculas de ácido láctico. E, para o processamento do leite nos laticínios, esse ácido láctico tem, dentre outras funções importantes, evitar ou eliminar a carga de microrganismos indesejáveis (pelo rebaixamento do pH do meio) e precipitar as proteínas ocorrendo a coagulação do leite. Outro grande benefício para a indústria está na possibilidade de podermos induzir a fermentação da lactose (através da acidificação do leite em altas temperaturas), pela utilização de fermento lácteo inoculado ao leite com determinado tipo de cultura (microrganismos) selecionada em função da característica do produto que se quer elaborar, tais como: iogurte, leites acidificados, queijos etc. Outra importância produtiva da lactose para a indústria é a sua utilização na fabricação do doce de leite, leite condensado e sorvetes. Vitaminas O leite contém quase todas as vitaminas conhecidas, tais como, as lipossolúveis (associadas à gordura), vitaminas A, D, E e K; e as hidrossolúveis, B1, B2, B6 , B12, ácido pantotênico, niacina e vitamina C. Contudo, as quantidades dessas vitaminas anteriormente citadas e que estão presentes neste alimento ocorrem de forma bastante reduzida. Outro fator a considerar é que quando o leite sofre tratamento térmico várias dessas vitaminas são perdidas, principalmente a C. Minerais Com relação aos minerais, no leite existem em quantidades significativas fósforo, cloro, sódio, cálcio, potássio e magnésio. Além de apresentar em menor quantidade o ferro, alumínio, zinco e manganês. Os minerais ocorrem nos leites solubilizados ou agregados a outros componentes do leite como, por exemplo, as proteínas (cálcio e fósforo associados à caseína) estabilizando-as. Para a indústria láctea, a importância em exercer uma instabilidade das proteínas está em provocar uma coagulação do leite (caseína), conseguida através da acidificação do meio (pH do leite) pela ação da renina, o que faz com que com que haja a perda da capacidade dos fosfatos fixarem o cálcio e, consequentemente, deixar esse cálcio livre. Por estar livre, o cálcio se unirá às micelas da caseína através de “pontes salinas”, formando assim o paracaseinato de cálcio, um coágulo que dará origem à massa para fabricação de queijo. 15 Pode haver variação da composição química do leite decorrente da espécie lactante (bovina, ovina, caprina), raça, idade, estágio de lactação, variações climáticas, alimentação, ordenha e estação do ano. Sendo que, em termos produtivos para a indústria láctea, quanto maior o percentual de extrato seco total (EST), maior rendimento esta matéria-prima terá na elaboração dos produtos lácteos. 16 Capítulo 4. Obtenção higiênica do leite: boas práticas agropecuárias A obtenção de um leite de boa qualidade se resume na adoção de técnicas higiênico-sanitárias empregadas na ordenha e na manipulação posterior do produto. A higiene deve ser relacionada ao animal (úbere), ao ambiente (área/local) em que é realizada a ordenha, aos equipamentos, utensílios e à própria higiene do ordenador/manipulador. A Instrução normativa Nº 77 (BRASIL, 2018) traz os critérios e procedimentos para a produção, acondicionamento, conservação, transporte, seleção e recepção do leite cru em estabelecimentos registrados no serviço de inspeção oficial. Refere que a sanidade do rebanho leiteiro deve ser acompanhada por médico veterinário, e este deve ter o controle sistemático de parasitoses; o controle sistemático de mastites; e o controle de brucelose e tuberculose. O estabelecimento deve manter como parte de seu programa de autocontrole, o plano de qualificação de fornecedores de leite. Bem como, para obtenção da matéria-prima em condições higiênico-sanitárias adequadas devem ser adotadas boas práticas agropecuárias. As boas práticas agropecuárias é o conjunto de atividades, procedimentos e ações adotadas na propriedade rural com a finalidade de obter leite de qualidade e seguro ao consumidor e que englobam desde a organização da propriedade, suas instalações e equipamentos, bem como formação e capacitação dos responsáveis pelas tarefas cotidianas realizadas. As boas práticas na propriedade rural reduz a contagem de células somáticas (CCS), reduz a contagem bacteriana total (CBT), controla os resíduos de antibióticos utilizados, reduz as bactérias patogênicas e reduz a contaminação por substâncias tóxicas produzidas por fungos. Na coleta e no transporte contribui para que a contaminação do leite seja evitada, com uma correta higiene dos veículos que fazem o transporte. Incentiva a higiene do produtor, transportador e também dos utensílios. Evita, por meio do controle da temperatura do leite, que os microrganismos se multipliquem. Com as práticas aplicadas, otimiza o tempo de transporte. Para o produtor as boas práticas possibilitam maior valorização do leite, em relação ao preço e competitividade no mercado. Contribui para que os animais permaneçam saudáveis, reduzindo os níveis de mastite no rebanho. Auxilia na redução do índice de acidez no leite, fazendo com que o produto tenha maior tempo de vida. Garante maior aceitação e satisfação dos consumidores, ao terem contato com um produto seguro e de qualidade. Para a indústria o leite coletado torna-se mais seguro, com poucos resíduos e baixo nível de toxinas. Possibilita um maior rendimento industrial. Permite que o produto tenha prazo de validade maior. Tanto para o produtor quanto para a empresa, ocorre a valorização do produto frente ao mercado e aos consumidores Aumenta o potencial no mercado externo. 17 Para o consumidor favorece a saúde humana, oferecendo um produto seguro e de qualidade. Melhora consideravelmente o aspecto do leite, sabor, cor e durabilidade nos refrigeradores. Contribui para a diminuição de doenças originadas por alimentos. Eleva o consumo por parte dos consumidores. Um leite considerado de boa qualidade: * Deve apresentar baixa carga microbiana, em coesão com as práticas de higiene necessárias na produção de leite; *Deve ter baixo número de células somáticas relacionado à saúde do úbere; *Deve possuir em sua composição, gordura e proteína; *Não deve possuir resíduos de antibióticos ou agrotóxicos na composição; *Deve ser livre de odores ou aromas estranhos e *Deve estar de acordo com os padrões legais. Abaixo algumas cartilhas disponíveis em acesso livre em formato digital para os produtores. Figura 9. Cartilhas sobre Boas práticas durante a Ordenha O Decreto nº 9.013/ 2017 dispõe sobre o regulamento da inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal, que disciplina a fiscalização e a inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal. Os estabelecimentos de leite e derivados são classificadosem: I - granja leiteira (estabelecimento destinado à produção, ao pré-beneficiamento, ao beneficiamento, ao envase, ao acondicionamento, à rotulagem, à armazenagem e à expedição de leite para o consumo humano direto, podendo também elaborar derivados lácteos a partir de leite exclusivo de sua produção); II - posto de refrigeração (o estabelecimento intermediário entre as propriedades rurais e as unidades de beneficiamento de leite e derivados destinado à seleção, à recepção, à mensuração de peso ou volume, à filtração, à refrigeração, ao acondicionamento e à expedição de leite cru refrigerado, facultada a estocagem temporária do leite até sua expedição); http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEC%209.013-2017?OpenDocument 18 III - unidade de beneficiamento de leite e derivados (o estabelecimento destinado à recepção, ao pré-beneficiamento, ao beneficiamento, ao envase, ao acondicionamento, à rotulagem, à armazenagem e à expedição de leite para o consumo humano direto, facultada a transferência, a manipulação, a fabricação, a maturação, o fracionamento, a ralação, o acondicionamento, a rotulagem, a armazenagem e a expedição de derivados lácteos, permitida também a expedição de leite fluido a granel de uso industrial) ; e IV – queijaria (o estabelecimento destinado à fabricação de queijos, que envolva as etapas de fabricação, maturação, acondicionamento, rotulagem, armazenagem e expedição, e que, caso não realize o processamento completo do queijo, encaminhe o produto a uma unidade de beneficiamento de leite e derivados). Existem três etapas básicas no processo de obtenção higiênica do leite para que possamos garantir um produto de boa qualidade e inocuidade. Quadro 1. Etapas básicas no processo da ordenha ETAPA 1 ETAPA 2 ETAPA 3 Antes da ordenha Durante a ordenha Depois da ordenha - Higienização do local da ordenha - Condições inerentes ao animal (saudável) - Higiene dos equipamentos e utensílios - Higiene do ordenhador - Controle de pragas - Potabilidade da água - Realizar o Teste da Caneca - Pré- dipping - Condutas higiênicas do ordenhador durante a ordenha - Armazenamento refrigerado do leite (sistema de pré-resfriamento ou tanque de expansão de resfriamento) - Realizar o pós-dipping - Higienização dos equipamentos, utensílios e local da ordenha Teste da caneca de fundo preto O teste da caneca de fundo preto para diagnóstico da mastite clínica deve ser realizado em todas as vacas e em todas as ordenhas. Além do teste da caneca, pode ser feita a palpação do úbere nos casos de suspeita de mastite. Úbere mais rígido que o normal, quente e avermelhado é sinal de mastite. As vacas com mastite clínica podem apresentar o úbere inchado e com maior sensibilidade ao toque. O úbere deve ser segurado suavemente e tirado três jatos de leite de cada um dos tetos. O diagnóstico deve ser feito teto por teto. Deve ser checado cuidadosamente se há alguma alteração no 19 leite, como grumos ou pus e se há presença de sangue ou coloração alterada. Caso haja alteração no leite de algum dos tetos, deve ser limpa a caneca antes de continuar o teste. Ao deixar o leite contaminado na caneca corre-se o risco de contaminação dos tetos sadios. Caso a vaca apresente mastite clínica, deve ser registrado a ocorrência e realizado o tratamento indicado pelo veterinário. Pré-dipping É a desinfecção dos tetos antes da ordenha, através da aplicação de algum produto antisséptico, geralmente por imersão dos tetos. Pode ser utilizado uma solução de 75 ml de hipoclorito de sódio (2,5%) e 2 litros de água. Os principais objetivos desta ação são: reduzir a incidência de infecções intramamárias, ajudando a reduzir novos casos de mastite e evitar a contaminação do leite, pois uma carga microbiana menor reduz a contagem de células somáticas (CCS) no tanque. Pós-dipping É a desinfecção após a ordenha, evitando novas infecções nos períodos entre as ordenhas, através de uma proteção química. O pós-dipping é fundamental para remover a película de leite que permanece no teto após a ordenha. O principal objetivo do pós-dipping é prevenir a mastite contagiosa. Figura 10. Fluxograma no processo de obtenção do leite com qualidade Quanto ao local da ordenha: coberto, limpo, arejado, com boa iluminação, livre de barulhos e com piso resistente, antiderrapante e de material lavável. Com disponibilidade de água potável em abundância, distante de fontes de mau cheiro e a higienização deve ser diária. https://www.fundacaoroge.org.br/blog/entenda-melhor-como-avaliar-a-ccs-no-seu-rebanho 20 Quanto ao animal: animal sadio, vacinado e bem alimentado. Aplicação de carrapaticidas, bernicidas e vermífugos de forma planejada, respeitando os prazos de carência para utilização do leite e isentos de doenças infectocontagiosas. Quanto aos equipamentos e utensílios (caneca telada de fundo escuro para teste de mastite, coadores de nylon ou de inox, baldes, de preferência semiabertos, latões, mangueiras de aspersão): Devem estar previamente limpos e o procedimento de sanitização dos que serão usados tem que ser realizado todas às vezes antes dessa atividade. Quanto ao ordenhador: apresentar perfeita saúde, roupas e botas limpas e apropriadas, realizar a higienização de braços e mãos, ter dedicação exclusiva à ordenha, unhas aparadas, cabelos protegidos por touca ou boné, não utilizar fragrâncias fortes, não fumar no ambiente da ordenha, ser paciente e não maltratar o animal. Além disso, realizar a ordenha sempre no mesmo horário. 21 Capítulo 5. Ordenha Manual ou Mecanizada A ordenha deve ter regularidade nos horários das operações diárias. Isso porque os animais em produção também passam a adequar seu organismo para as reações de expulsão do leite através da liberação condicionada do hormônio responsável por essa ejeção, que é a oxitocina. Tais reflexos acontecem quando a vaca lactante é condicionada a receber estímulos que podem ocorrer: através do som (mugido do bezerro, barulho dos equipamentos); no toque das mãos do ordenhador ao lavar a região da glândula mamária; ao fornecer a ração no horário próximo da ordenha; até mesmo através de uma música de ritmo suave que é tocada todas as vezes que a vaca está sendo ordenhada. Isso acontece pela estimulação dos receptores nervosos localizados na pele do úbere, sensíveis à pressão. Essa estimulação mecânica emite impulsos para a glândula pituitária, também conhecida por hipófise, localizada no cérebro, que libera o hormônio oxitocina. Esse hormônio é transportado para o úbere através da corrente sanguínea. Na glândula mamária, o hormônio provoca a contração das células mioepiteliais que envolvem os alvéolos fazendo com que o leite que está no seu interior seja pressionado, fluindo para os ductos condutores e em seguida para a cisterna. O tempo entre o início da estimulação e a ejeção do leite (“descida do leite”) se dá em torno de 30 a 60 segundos, e o fluxo do leite (ordenha) tem duração de 4 a 7 minutos. Ação da ejeção do reflexo do leite: É a estimulação da região da glândula mamária, causada pela força da transmissão do impulso nervoso via cordão espinhal para a glândula pituitária (localizada na região posterior do crânio animal), onde a oxitocina é produzida e depois transportada para o úbere através do sangue. Na fase de lactação, deve-se ter atenção especial com a mastite, doença que causa grandes prejuízos para a atividade leiteira. A mastite pode ser classificada como clínica e subclínica. Mastite clínica: é mais fácil de ser percebida, geralmente causa diminuição na ingestão de alimentos, a vaca fica com o úbere inflamado (com aumento de volume, avermelhado e quente) e o leite com grumos, pus ou sangue. Para melhor controle deste tipo de mastite deve-se fazer o teste da canecade fundo preto em todas as ordenhas. Mastite subclínica: é mais difícil de ser percebida, pois a vaca não apresenta sintomas claros do problema, a não ser, pequena queda na produção de leite. A mastite subclínica pode ser detectada 22 pela contagem de contagem de células somáticas no leite (CCS) ou pelo Califórnia Mastite Teste (CMT). A ordem com que as vacas são ordenhadas é chamada de linha de ordenha. Esta é geralmente definida com base no diagnóstico de mastite, realizando a ordenha na seguinte sequência: 1. Vacas primíparas (de primeira cria), sem mastite. 2. Vacas pluríparas que nunca tiveram mastite. 3. Vacas que já tiveram mastite, mas que foram curadas. 4. Vacas com mastite subclínica. 5. Vacas com mastite clínica. Este é um esquema lógico que deve ser aplicado com a finalidade de evitar a transmissão da mastite contagiosa no momento da ordenha. Quando for esquematizar a linha de ordenha, deve ser respeitada a individualidade das vacas, não misturando na mesma bateria animais que não são companheiros. A ordenha pode ser realizada de forma manual ou mecanizada. A escolha do tipo de ordenha depende de vários fatores, dentre eles: número de vacas em lactação, capacidade de investimento do produtor, disponibilidade de pessoas capacitadas para realizar a ordenha e, por fim, o nível de produção das vacas. Ordenha manual Este é o sistema mais antigo de ordenha, no entanto ainda frequente, principalmente em pequenos rebanhos. O investimento em equipamentos é baixo, mas exige maior esforço do ordenhador. A estrutura para realizar a ordenha manual geralmente é bastante simples, podendo ser feita em um piquete, no curral ou em um galpão. Há situações em que as vacas ficam soltas, sem nenhum tipo de contenção e, em outras as vacas ficam presas com correntes ou com canzis. É comum “amarrar as pernas traseiras” no momento da ordenha manual. Ordenha mecanizada A ordenha mecanizada possibilita a extração do leite mais rápida do que a ordenha manual e, quando bem realizada, tem menor risco de contaminação. Geralmente, é feita em um local específico, a sala de ordenha, que pode variar tanto no tipo quanto na dimensão. 23 Importante: A ordenha pode ser pelo método manual ou mecânica. Em ambos, devem ser seguidos os seguintes passos: - Retirar os 3 primeiros jatos de leite de cada teto e realizar o teste da caneca de fundo preto; - Imergir os tetos em solução desinfetante (75ml de hipoclorito de sódio para cada 2 litros de água potável); - Secar os tetos com papel toalha descartável. Não deve ser utilizado panos para secar os tetos. - Iniciar a ordenha. Proceder de forma completa e ininterrupta. - Após a ordenha deve ser realizado a higienização de todos os utensílios utilizados. Tipos de ordenha mecanizada: 1) A ordenha com balde-ao-pé é o tipo mais simples e mais barato de ordenha mecanizada, podendo ser empregada tanto em galpões simples (mais comum) quanto em salas com fosso. Seu uso é mais frequente em rebanhos pequenos. Quando realizada em locais sem o fosso, o posicionamento do ordenhador durante o procedimento de ordenha é dificultado, podendo resultar em problemas de saúde. 2) Na sala de ordenha tipo espinha-de-peixe os animais ficam posicionados diagonalmente em relação ao fosso de ordenha, o que facilita a visualização do úbere e dos tetos. Além disso, as vacas ocupam menor espaço na lateral do fosso. A sala espinha-de-peixe pode ser unilateral, com as vacas posicionadas em apenas um dos lados do fosso; ou bilateral, quando elas ficam posicionadas nos dois lados do fosso. 3) Na sala de ordenha tipo tandem (fila indiana), as vacas ficam dispostas uma à frente da outra, em posição paralela ao fosso. É o único modelo que possibilita a ordenha mecanizada com bezerro ao pé. Nesse tipo de sala de ordenha, as vacas ocupam espaço maior na lateral do fosso, o que torna difícil adotá-lo em rebanhos grandes, pois exige uma sala muito comprida, que dificulta o trabalho do ordenhador. 4) Na sala de ordenha tipo lado-a-lado as vacas ficam em posição perpendicular ao fosso, uma ao lado da outra. Com esse posicionamento há redução no espaço ocupado por vaca durante a ordenha. Mas, por outro lado, as vacas ficam de costas para o fosso, o que dificulta a visualização completa do úbere e dos tetos. Há ainda outros tipos de ordenhas mecanizadas, como por exemplo, as ordenhas em carrossel e robotizada, que são sistemas mais sofisticados e, portanto, mais caros. 24 Figura 11. Fluxograma do processamento do leite 25 Capítulo 6. Processamento do leite Armazenamento e conservação do leite cru Após a ordenha deve ser realizada a primeira retenção de sujidade ao coar o leite, utilizando- se coadores de náilon, alumínio, aço inoxidável ou plástico atóxico. Deve-se ter o cuidado de evitar ao máximo o uso de pano. Depois de coado, o leite deverá ser levado imediatamente para o tanque de refrigeração para ser armazenado em baixa temperatura até o momento de ser transportado para os laticínios. Tal procedimento objetiva evitar a proliferação da carga microbiana do leite e, por consequência, preservar sua qualidade. O leite deverá ser transportado das unidades produtoras (fazendas ou granjas leiteiras) para os laticínios em caminhões isotérmicos específicos para o translado de leite a granel. Esse serviço terá que ser realizado por funcionários treinados para a execução de procedimentos padrões, como: saber operar de forma higiênica durante a transferência do leite do tanque de expansão para o tanque do veículo; conhecer os procedimentos necessários para coleta de amostra do leite de cada propriedade; identificar e registrar as amostras do leite; controlar a temperatura de resfriamento do tanque do caminhão para que o leite não sofra variações térmicas até sua chegada ao laticínio; saber realizar os chamados “testes rápidos” do leite (ex.: teste de acidez) para avaliar as condições qualitativas em que se encontra essa matéria-prima antes e depois do transporte. Recepção do leite O leite após ter passado pela obtenção higiênica (ordenha), ter sido coletado na fazenda e transportado em carro refrigerado chega ao laticínio. Logo ao ser recebido na plataforma de recepção, é submetido a algumas análises preliminares antes de ser liberado para seguir no fluxo da linha de produção dentro do laticínio. Evidentemente que esses caminhos a serem percorridos pelo leite vão depender da estrutura da indústria e de quais setores de processamento essa matéria-prima será destinada. De acordo com o Regulamento técnico de identidade e qualidade de leite cru refrigerado que consta na Instrução Normativa 76 (BRASIL, 2018), o leite cru refrigerado é o leite produzido em propriedades rurais, refrigerado e destinado aos estabelecimentos de leite e derivados sob serviço de inspeção oficial. 26 Na refrigeração do leite e no seu transporte até o estabelecimento devem ser observados os seguintes limites máximos de temperatura conforme descritos na Instrução normativa nº 76/ 2018 e Instrução normativa nº 55/2020. Quadro 2. Temperaturas para recebimento e conservação do leite cru Recebimento do leite no estabelecimento Posto de refrigeração (Conservação e expedição) Usina de beneficiamento ou fábrica de laticínios (Conservação do leite antes da pasteurização) 7,0° C, com tolerância até 9,0° C; 5,0° C 5,0° C Além disso, o leite cru refrigerado deve ser um líquido branco opalescente homogêneo e ter odor característico. Análises laboratoriais Além das análises de acidez e densidade realizadas nas amostras do leite coletadas do caminhão, novas provas dessa matéria-prima também são recolhidas agora no tanque de expansão. Essas amostras são encaminhadas para o laboratório instalado na área de recepção dos laticínios, onde são realizadasanálises complementares, dentre elas podemos citar: teor de gordura, índice crioscópico, Extrato Seco Total (EST), Extrato Seco Desengordurado (ESD), acidez Dornic e proteína, de acordo com os métodos legais de análises. Acidez Avalia a qualidade do leite quanto ao aspecto tecnológico, por meio do equipamento chamado acidímetro DORNIC. Este equipamento tem a finalidade de verificar o grau de metabolização da lactose a ácido láctico, que é baseado na titulação com solução básica do ácido láctico da amostra na presença do indicador. O teste do alizarol baseia-se na ocorrência de coagulação por efeito da elevada acidez ou do desequilíbrio salino, quando se promove desestabilização das micelas pelo álcool, e na mudança de 27 colocação da mistura pela alizarina, como indicador de pH, auxiliando a diferenciação entre o desequilíbrio salino e a acidez excessiva. Consiste em colocar em um tubo de ensaio partes iguais de leite e de uma solução alcoólica de alizarina a 2% (para obter essa solução de alizarol, previamente dissolve-se alizarina a 2% em álcool a 72%). Mistura-se 5 mL de leite em igual quantidade de solução de alizarol em um tubo de ensaio, em seguida, realiza-se a interpretação dos dados: a) Vermelho-lilás (cor de tijolo) sem coagulação = leite normal com acidez entre 14 a 18° D. b) Vermelho-castanho com coagulação fina = leite com pequena acidez de 19 a 21° D. c) Amarelo coagulado = leite com acidez superior a 21º D. d) Violeta sem coagulação = leite alcalinizado ou fraudado. Quando se deseja conhecer com exatidão a acidez do leite, essa determinação é realizada no laboratório do laticínio, utilizando-se o processo Dornic, que consiste em saber até que ponto a lactose é transformada em ácido láctico. O teste do alizarol pode apresentar resultados alterados nas seguintes condições: elevada acidez do leite; índice de mastite do rebanho elevado; vacas próximas da secagem ou recém-paridas; e desequilíbrio salino (excesso de cálcio e magnésio em relação a fosfato e citrato). O leite que coagula nessa prova não resiste ao calor, portanto, não pode ser misturado aos demais. Dessa forma, o leite ácido não resistiria aos tratamentos térmicos utilizados pelas indústrias, sendo então uma importante característica a ser controlada. A acidez do leite varia de 14 a 18ºD (graus Dornic). A acidez do leite é expressa na escala Dornic (º D) que corresponde a: 1º D → 0,1g de ácido láctico/litro. A aceitação do leite na indústria obedece à seguinte especificação: Leite normal: 14º a 18º D Leite ácido: > 18º D Leite alcalino: < 14º D Obs.: outra forma de avaliar a presença de ácidos no leite é a determinação do pH. Em condições normais, o pH apresenta-se em 6,7. Leites provenientes de animais com infecções no úbere (mamite) apresentam comportamento alcalino, podendo atingir pH 7,5. A acidez do leite ocorre porque os microrganismos presentes no leite consomem a lactose como fonte de energia, convertendo-a em ácido láctico. Essa concentração elevada de acido láctico reduz o pH do meio provocando por consequência a acidez do leite. Observe o esquema abaixo: Microrganismos Lactose Ácido Láctico Redução do Ph Acidez do leite . 28 Densidade Consiste em determinar se houve fraude no leite por adição de água ou retirada de gordura (desnate prévio). Assim, se for adicionada água, haverá abaixamento da densidade, uma vez que a água tem densidade menor que a do leite. Se houve desnate prévio, haverá aumento da densidade, tendo em vista que é retirado do leite o componente menos denso. Pode ocorrer uma dupla fraude quando se adiciona água e retira-se gordura ou adiciona-se junto com a água um reconstituinte de densidade (amido, urina, sacarose, sal de cozinha), que a faz ficar dentro dos padrões da densidade na faixa da normalidade. Observa-se que a alteração na densidade (alta ou baixa) é um indicativo de fraude, mas quando normal haverá necessidade de outras análises complementares, como a determinação de gordura e Extrato Seco Total (EST) para confirmar a qualidade do leite ausente ou não de adulterações. Para a determinação da densidade, utiliza-se o equipamento denominado de termolactodensímetro uma proveta e amostra de leite previamente homogênea e representativa. A amostra de leite é colocada lentamente na parede da proveta objetivando evitar formação de espuma no seu interior. Em seguida, coloca-se o termolactodensímetro dentro da proveta e realiza-se a leitura no equipamento (densidade X temperatura). Com auxílio da tabela de correção de densidade à temperatura de 150°C, contendo em uma coluna (vertical) a temperatura, e em outra (horizontal) a densidade, é possível determinar a densidade final do leite após cruzar os dados. A densidade deve estar entre 1,028 e 1,034 a temperatura de 15ºC, o que significa que um litro de leite deve pesar entre 1028 e 1034 gramas. A amostra fraudada com água terá densidade menor do que a amostra normal. Como a densidade da água é estabelecida em 1,0, o resultado final no leite tende a se aproximar desse valor. Leite com alto teor de gordura apresenta maior densidade em relação a leite com baixo teor de gordura, em razão do aumento do extrato seco desengordurado. 29 Determinação da gordura no leite Baseia-se no ataque seletivo da matéria orgânica por meio de ácido sulfúrico, com exceção da gordura que será separada por centrifugação, auxiliada pelo álcool amílico que modifica a tensão superficial. No entanto, dentre os componentes do leite, a gordura é o mais variável e geralmente o primeiro a sofrer alterações diante de qualquer fator de origem genética, ambiental e fisiológica que esteja afetando o metabolismo normal da vaca. O limite de teor original da matéria gorda g/100g é de no mínimo 3,0g. Índice crioscópico Corresponde à medição do ponto de congelamento ou da depressão do ponto de congelamento do leite em relação ao da água. O limite do índice crioscópico é a 0,530° H (equivalente a -0,512º C). Uma das principais e mais frequentes falsificações do leite é a aguagem. Essa aguagem irá fazer com que o leite congele mais rapidamente, ficando com um ponto de congelamento mais próximo da água. Abaixo as características físico-químicas do leite cru refrigerado conforme a Instrução Normativa 76 (BRASIL, 2018): teor mínimo de gordura de 3,0g/100g teor mínimo de proteína total de 2,9g/100g teor mínimo de lactose anidra de 4,3g/100g teor mínimo de sólidos não gordurosos de 8,4g/100g teor mínimo de sólidos totais de 11,4g/100g acidez titulável entre 0,14 e 0,18g de ácido lático/100 mL estabilidade ao alizarol na concentração mínima de 72% v/v densidade relativa a 15/ 15ºC entre 1,028 e 1,034 índice crioscópico entre -0,530ºH e -0,555°H equivalentes a -0,512ºC e a -0,536ºC, respectivamente 30 O leite cru refrigerado, estocado nos tanques de refrigeração e o recebido em latões devem ser coletados para análise mensal em laboratório da Rede Brasileira de Laboratórios de Controle da qualidade do leite (RBQL) para avaliação dos seguintes parâmetros: teor de gordura, teor de proteína total, teor de lactose anidra, teor de sólidos não gordurosos, teor de sólidos totais, contagem de células somáticas, contagem padrão em placas, resíduos de produtos de uso veterinário e outros que venham a ser determinados em norma complementar. A determinação dos teores de gordura, lactose, proteína, sólidos totais e sólidos desengordurados são análises que informam a composição do leite entregue para a indústria, quantificando o valor nutritivo do produto. Esses componentes do leite são responsáveis pelo seu valor nutritivo e, quanto maior a quantidade desses componentes, maior será o rendimento na fabricação dos derivados de leite. Diversos são os fatores que provocam alteração na quantidade desses componentes, entre elesdestacam-se as deficiências nutricionais, a desatenção nos cuidados higiênico-sanitários da ordenha, a ocorrência de mastites e a refrigeração ineficiente do leite. O leite é uma emulsão composta por uma parte úmida, que representa, aproximadamente, 88% e outra sólida. Como é um produto de alto teor de água, se mais água for adicionada o peso será alterado e os constituintes sólidos diluídos, o que constitui fraude. A parte sólida é formada por dois grupos: o extrato seco total e o extrato seco desengordurado. O teor de sólidos no leite determina o seu valor industrial, pois quanto mais gordura e proteína, maior o rendimento que a indústria terá ao fabricar os derivados lácteos. Extrato seco total (EST) - leite sem a água - é a soma do teor de gordura, carboidratos (açúcar), proteínas e sais minerais. Quanto maior o extrato seco do leite, maior será o rendimento dos produtos. Extrato seco desengordurado (ESD) - leite sem água e sem gordura - a legislação brasileira permite ao industrial proceder apenas à retirada da gordura do leite. Esse processo utiliza as desnatadeiras e o produto é destinando à fabricação de leite em pó, leite condensado, doces, iogurtes e queijos magros. Gordura - é o componente mais importante do leite. O leite enviado à indústria deve conter, no mínimo, 3% de gordura. Na indústria, a gordura dá origem à manteiga, sendo o seu teor um dos responsáveis pelo diferencial no preço do leite pago ao produtor. A Contagem Bacteriana Total (CBT) indica a contaminação do leite por bactérias. Quanto menor a contagem, maior rigor higiênico existiu nas etapas de obtenção do leite. Indica a contagem do número de Unidades Formadoras de Colônias (UFC), presentes na amostra de leite, depois de semeada em meio de cultivo próprio e incubada a 32º C por 24- 48 horas. A CBT tem relação direta com as condições de higiene da ordenha, limpeza dos equipamentos e resfriamento adequado do leite. A Contagem de Células Somáticas (CCS) é a quantidade de células presentes no leite, sendo uma parte proveniente do tecido interno do úbere e outra de células de defesa do animal. Quando as 31 bactérias causadoras da mastite atacam o úbere, as células de defesa imunológica passam do sangue para o úbere, tentando combater esses agentes bacterianos. Quanto maior a proliferação bacteriana, maior será a contagem de células somáticas no leite. Este é um teste rápido e facilmente obtido para determinar a qualidade do leite e avaliar a saúde da glândula mamária. A principal medida para redução da CCS é um programa eficiente de terapia da vaca seca, utilizado em todos os animais por ocasião da secagem, além do programa de vacinação contra mastites. O descarte de vacas com frequentes quadros recidivos de mastite, o manejo adequado de ordenha, equipamentos bem regulados e dimensionados representam importante passo para a redução de CCS. Amostras de leites coletadas nas fazendas são enviadas aos laboratórios credenciados devido aos interesses comuns, tanto os produtores como os laticínios precisam saber oficialmente das reais condições da qualidade do leite negociado. Atualmente a forma de remuneração do leite ao produtor, estipulada pelo PNQL, tem como base a qualidade na composição físico-química e microbiológica do mesmo. Por isso, regularmente são enviadas amostras dos leites adquiridos pelas indústrias aos laboratórios de sua região que integram o Programa do Leite. Laboratórios da Rede Brasileira de Laboratórios de Controle da qualidade do leite Os laboratórios que fazem parte da RBQL (MAPA, 2021): *São Paulo Clínica do leite- Piracicaba/SP) *Santa Catarina Laboratório estadual da qualidade do leite – Lab. Leite UNC- Concórdia/SC *Rio Grande do Sul Centro de pesquisa em alimentação – CEPA - Passo Fundo/RS ; Laboratório de prestação de serviços da Univates- Lajeado/RS; Laboratório de qualidade do leite – Pelotas/RS; Laboratório de análises de alimentos e bebidas – Frederico Westphalen/RS) *Paraná Laboratório centralizado de análise de leite do programa de análise de rebanhos leiteiros do Paraná – Curitiba/ PR) *Minas Gerais Laboratório de análise da qualidade do leite da escola de veterinária da UFMG- Belo Horizonte/ MG; Laboratório de qualidade do leite professor José de Alencar- Juiz de Fora/ MG) *Goiás Centro de pesquisa em alimentos- Goiânia/GO) *Espirito Santo Gerência de diagnóstico laboratorial – GEDLAB- Cariacica/ ES). 32 De posse do resultado das análises do leite, o produtor, a indústria e o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) monitoram em tempo real a qualidade do leite produzido no Brasil, bem como possibilitam rastrear as condições sanitárias do rebanho leiteiro nacional. Padronização do leite O principal objetivo da padronização do leite é a obtenção de um produto com composição química definida (quantidade de gordura), a qual atenda aos requisitos básicos para elaboração de diversos produtos lácteos (manteiga, sorvete, leite em pó, etc.). Quando o leite chega ao laticínio, parte da gordura é retirada desse leite (para elaboração de outros produtos) por um procedimento chamado de desnate, o que ocorre através de um equipamento chamado de desnatadeira. Nesse processo, a gordura se separa da parte aquosa do leite em forma de creme. O leite é bombeado do tanque de expansão para a desnatadeira, sendo que este equipamento possui duas saídas: uma para o creme (gordura) e outra para o leite desnatado. Esse equipamento funciona com base em um princípio simples: ao ser acionada a desnatadeira, o leite é submetido a movimentos de rotação e passa por diversos discos internos. Por possuírem baixa densidade, os glóbulos de gordura presentes no leite concentram-se na superfície desses discos e, devido à gravidade, o creme formado é removido automaticamente. Se o objetivo do laticínio é produzir o leite integral não é necessário o uso da desnatadeira. Uma vez que o leite, do tanque de expansão segue direto para o pasteurizador, envase, armazenamento e expedição. Tecnicamente, o procedimento de pasteurização só deve ocorrer após o leite ter passado previamente pelo processo de desnate, que é a separação/ retirada da gordura (em forma de creme). Tendo como objetivo (do desnate) padronizar, ou seja, uniformizar a composição de toda matéria- prima que será utilizada na elaboração de vários produtos lácteos com suas devidas especificações de composição. 33 Pasteurização – Leite pasteurizado e Leite pasteurizado tipo A Por definição pasteurização é o emprego conveniente do calor, com o fim de destruir todos os microrganismos patogênicos, bem como a maior parte dos microrganismos presentes, sem alteração sensível da constituição física e equilíbrio químico do leite e sem prejuízo de seus elementos bioquímicos, assim como de suas propriedades sensoriais normais. Os tratamentos térmicos aplicados na pasteurização dividem-se em: *Pasteurização lenta (LTH): aquecimento do leite à temperatura de 62°C a 65°C por 30 minutos. Vantagem: conserva as propriedades do leite, cor e sabor. Desvantagens: Requer muito tempo, grande quantidade de energia, muito espaço e oneroso. Pode desenvolver microrganismos termófilos. Praticamente fora de uso na indústria. *Pasteurização rápida (HTST): Consiste no aquecimento do leite em fluxo contínuo com trocadores de calor entre 72ºC a 75ºC durante 15 a 20 segundos. Após a pasteurização deve ser refrigerado imediatamente (4ºC). Esse processo acontece através do pasteurizador de placas onde ocorre uma troca indireta de calor entre o leite e o meio de aquecimento. No mesmo equipamento, o leite é refrigerado trocando calor com água fria. Para verificar se a pasteurização está sendo realizada corretamente, é rotina na indústria a análise das enzimas fosfatase alcalina e peroxidase. Uma pasteurização eficaz garante fosfatasealcalina negativa e peroxidase positiva. A pasteurização permite a permanência de termófilos (Bacillus e Clostridium) e termodúricos (Streptococcus e Lactobacillus), o que exige, portanto, a manutenção do leite sob refrigeração após pasteurização. Na conservação do leite pasteurizado devem ser atendidos os seguintes limites máximos de temperatura, segundo a Instrução normativa nº 76 (BRASIL, 2018). Quadro 3. Limites máximos de temperatura para leites pasteurizados. Refrigeração após a pasteurização Estocagem em câmara frigorífica e expedição Entrega ao consumo 4,0° C 4,0° C 7,0° C Existem dois tipos de leite que passam pelo processo de pasteurização: o leite pasteurizado e o leite pasteurizado tipo A. 34 O leite pasteurizado é o leite fluido submetido a um dos processos de pasteurização, envasado automaticamente em circuito fechado e destinado a consumo humano direto, sendo proibido a pasteurização do leite previamente envasado. O leite pasteurizado tipo A é o leite fluido, produzido, beneficiado e envasado exclusivamente em Granja Leiteira, submetido a um dos processos de pasteurização previstos na legislação vigente e destinado ao consumo humano direto. O leite pasteurizado tipo A deve ser envasado automaticamente em circuito fechado. Os leites pasteurizados devem atender os seguintes parâmetros físico-químicos: acidez de 0,14 a 0,18 em g de ácido láctico/100mL densidade relativa 15/15°C: 1,028 a 1,034 para o integral e 1,028 a 1,036 para o semidesnatado ou desnatado índice crioscópico entre -0,530°H e -0,555°H equivalentes a -0,512°C e a -0,536°C, respectivamente teor de sólidos não gordurosos: mínimo 8,4 g/100g (integral) e para os demais o valor deve ser corrigido pela fórmula 8,652 - (0,084 x Gordura g/100g) proteína total mínima de 2,9g/100g lactose anidra mínima de 4,3g/100g testes enzimáticos: prova da fosfatase negativa e prova de peroxidase positiva Não é permitida a utilização de aditivos e coadjuvantes de tecnologia no leite cru refrigerado, pasteurizado e pasteurizado tipo A. Leite homogeneizado É um processo físico que consiste em submeter o leite a uma pressão e velocidade elevadas resultando no rompimento dos glóbulos de gordura, subdividido-os em glóbulos de menor diâmetro. De tal forma, que as gorduras não conseguem mais aglutinar-se em novas placas lipídicas no meio aquoso do leite. A homogeneização mantém a estabilidade da emulsão e não ocorre a separação de fases. Não é uma prática obrigatória no leite pasteurizado. Entretanto, é obrigatória a homogeneização do Leite pasteurizado tipo A integral e semi-desnatado, e tsmbém, o leite UHT. Dentre várias vantagens do processo de homogeneização, podemos destacar: 35 • Impede a formação de nata no leite pasteurizado. • Melhora a consistência e o sabor. • Nos produtos fermentados diminui a perda de soro e impede a formação de sobrenadantes de gordura (nata). • Proporciona aumento na digestibilidade da parte lipídica no organismo, devido ao aumento da superfície de contato dos glóbulos de gordura. Esterilização - Leite UHT (Ultra Alta Temperatura) É o leite homogeneizado que foi submetido, durante 2 a 4 segundos, a uma temperatura entre 130° C e 150° C, mediante um processo térmico de fluxo continuo, imediatamente resfriado a uma temperatura inferior a 32° C e envasado sob condições assépticas em embalagens estéreis e hermeticamente fechadas (Portaria MAPA n°370, de 04 de setembro de 1997 - Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade do Leite U.H.T (U.A.T). Os sistemas de processamento UHT para o leite podem ser indiretos (trocador de calor a placas e trocador de calor tubular) ou diretos (injeção de vapor e infusão de vapor). O leite tipo UHT apresenta esterilidade comercial. Ao contrário do que se pensa, o leite requer melhor qualidade para este tipo de tratamento para evitar coagulação e, consequentemente, entupimento das placas e/ ou tubos do equipamento de esterilização. Algumas formas esporuladas podem eventualmente sobreviver, mas são formas termófilas que não conseguem se desenvolver a temperatura ambiente. Em geral, apresentam 99,99% de eficiência. A esterilização tem como objetivo a destruição de todos os microrganismos, inclusive as formas esporuladas, obtendo um produto bacteriologicamente estéril. O resultado é destruição total dos micro-organismos com um produto final de alta qualidade e com vida de prateleira, em temperatura ambiente, de até 180 dias. A esterilização apresenta como vantagens proporcionar maior vida útil, limitada pela estabilidade físico-química em 4 meses, não necessita de refrigeração, não obriga distribuição diária e pode ser transportado a grandes distâncias. No entanto, apresenta instalação e processo mais caro do que a pasteurização; resulta em caramelização parcial que leva a alteração da cor; alterações maiores nas vitaminas e gosto residual leve de cozido. Da mesma forma que para a pasteurização também exige leite de elevada qualidade higiênica. Para controlar o grau de aquecimento do leite, as enzimas fosfatase alcalina e peroxidase presentes no leite cru, são utilizadas. A fosfatase alcalina é destruída pela ação do calor no processo de pasteurização rápida ou lenta. A presença desta enzima em uma amostra de leite pasteurizado indica que o leite não sofreu tratamento térmico adequado. Já a peroxidase serve para controlar a 36 pasteurização a uma temperatura de 85-90°C durante 20 segundos, de estar presente no leite pasteurizado. Já no leite esterilizado as duas enzimas serão ausentes. É permitido no leite UHT a adição de aditivos ou coadjuvantes de tecnologia. Pode ser utilizado o Citrato de sódio, Monofosfato de sódio, Difosfato de sódio e o Trifosfato de sódio no máximo de 0,1 g/100ml para estabilizar a proteína. O "Leite UHT (UAT) parcialmente desnatado" ou "Leite UHT (UA1) semidesnatado" deve demonstrar na parte frontal do rótulo a percentagem da matéria gorda correspondente. Além disso, no Leite UHT de acordo com a Portaria 31 (1998) podem ser fortificados ou enriquecidos com outros nutrientes. Por exemplo, Leite com cálcio, Leite com ferro, Leite com Ômega, Leite com baixo teor de lactose, Leites com vitamina, Leites fortificados ou enriquecidos e Leite enriquecido com fibras alimentares. Classificação do leite Baseado nos Regulamentos Técnicos de Qualidade e Identidade do Leite, os leites são classificados em: - Leite cru refrigerado; - Leite pasteurizado; - Leite pasteurizado tipo A; - Leite UHT. Figura 12. Tipos de Leites fluidos Além disso, são classificados conforme o teor de gordura em: - Leite desnatado (máximo de 0,5% de gordura); - Leite semi-desnatado (0,6% a 2,9% de gordura) e - Leite integral (mínimo de 3% de gordura). 37 Capítulo 7. Derivados do leite Muitos são os processos tecnológicos pelos quais o leite pode ser submetido, o que permite a elaboração de diversos derivados como: queijos, doces, iogurtes, leite em pó, leite condensado, manteiga, sorvete e muitos outros produtos. Leite condensado De acordo com a Instrução Normativa 47 (Brasil, 2018) Leite condensado é o produto resultante da desidratação parcial do leite, leite concentrado ou leite reconstituído, com adição de açúcar, podendo ter seus teores de gordura e proteína ajustados unicamente para o atendimento das características do produto. O leite condensado apresenta como ingredientes obrigatórios o leite fluido ou o leite concentrado ou ambos e sacarose. Admite-se a substituição parcial do teor de sacarose por outros monossacarídeos ou dissacarídeos ou ambos. Figura 13. Fluxograma do Leite condensado Na elaboração do leite condensado, a sacarose pode ser adicionada em diferentes momentos: 38 Antes do pré-aquecimento: produto menos viscosoe a sacarose se dissolverá facilmente. Incovenientes: risco de caramelização aumentam (2 tratamentos térmicos: preaquecimento e evaporação) e o efeito microbicida será menor por ter acrescentado um soluto em grande quantidade. Antes da evaporação: pode-se adicionar a sacarose cristalina que se distribuirá de forma rápida e homogênea e se dissolverá facilmente. Incoveniente: viscosidade do leite aumentará e o trânsito no evaporador será dificultado, a transmissão de calor será mais lenta e o risco de caramelização é maior podendo formar crostas no interior do evaporador. Depois da evaporação: evitam-se todos os inconvenientes citados nas fases anteriores. Porém, neste caso, o leite concentrado estará viscoso (por ter perdido água) e não se pode adicionar o açúcar em forma sólida (má distribuição, não dissolução). Portanto, é necessário adicionar sacarose na forma de xarope concentrado. A lactose tem uma solubilidade muito baixa, rapidamente cristaliza, quando ocorre a evaporação e a adição de sacarose aumenta a probabilidade de cristalização. Então, a adição de lactose no leite condensado é para controlar o processo de cristalização. No momento da adição de lactose aumenta a cristalização, formando grandes núcleos de cristais de tamanhos reduzidos de forma que sejam imperceptíveis no paladar. A textura do leite condensado fica aveludada e macia. Se a cristalização ocorrer apenas de forma natural, sem a adição da lactose, os cristais formados serão de tamanho maiores, sendo perceptíveis pelo consumidor no momento do consumo. A textura fica grosseira e arenosa. O leite condensado classifica-se conforme o conteúdo de matéria gorda láctea, em: com alto teor de gordura (mínimo de 16,0g/100g), integral (mínimo de 8,0g/100g), parcialmente desnatado ou semidesnatado (superior a 1,0g/100g) ou desnatado (máximo 1,0g/100g). O percentual de matéria gorda deve constar no painel principal do rótulo. Não se admite o uso de gordura ou óleo vegetal, maltodextrina e amidos, modificados ou não. O leite condensado deve ter consistência viscosa e semilíquida, cor branca amarelada, odor e sabor próprios e textura homogênea com ausência de arenosidade. Doce de leite Segundo a Portaria 354 (Brasil, 1997), Doce de Leite é o produto, com ou sem adição de outras substâncias alimentícias, obtido por concentração e ação do calor a pressão normal ou reduzida do leite ou leite reconstituído, com ou sem adição de sólidos de origem láctea e/ou creme adicionado de sacarose (parcialmente substituída ou não por monossacarídeos elou outros dissacarídeos). 39 Ingredientes obrigatórios: Leite elou leite reconstituído e Sacarose no máximo 30 Kg/100 L de Leite. Figura 14. Fluxograma do Doce de Leite É autorizado o uso de aditivos e amidos. Quando na elaboração do produto não for utilizado amidos ou amido modificados poderá ser indicado no rótulo a expressão: 'sem amido' ou 'sem fécula'. Além disso, poderá ser indicada no rótulo a expressão que se refira a sua forma de apresentação. Ex: em tablete, em pasta, pastoso. O produto deve ter consistência pastosa ou cremosa, sem cristais perceptíveis e coloração castanho caramelado (Reação de Maillard). Leite em Pó Leite em pó é o produto que se obtém por desidratação do leite de vaca, integral, desnatado ou parcialmente desnatado e apto para a alimentação humana, mediante processos tecnologicamente adequados (Instrução normativa nº 53/ 2018). O leite é o único ingrediente obrigatório. 40 Figura 15. Fluxograma do Leite em pó A etapa de desidratação é realizada por Spray Dryer. O leite entra na câmara de secagem do spray dryer e encontra um ar quente na temperatura de 195ºC. Os jatos de ar quente transformam o leite líquido em pó imediatamente, removendo a umidade. Classificação por teor de gordura em: Integral (maior ou igual a 26,0%), Parcialmente desnatado (maior a 1,5 e menor a 26,0%) e Desnatado (menor ou igual a 1,5%). O produto que apresente no máximo 16,0% e no mínimo 14,0% de gordura poderá, opcionalmente, ser denominado "leite em pó semidesnatado". De acordo com a sua umectabilidade e dispersabilidade, pode ser classificado em instantâneo ou não. 34%. O teor de proteínas do leite no extrato seco desengordurado (%m/m) deve ser no mínimo de O aspecto deve ser em pó uniforme sem grumos. Não conterá substâncias estranhas macro e microscopicamente visíveis, a cor deve ser branco amarelado e o sabor e odor agradável, sem ranço, semelhante ao leite fluido. Admite-se na elaboração de leite em pó o uso de aditivos e coadjuvantes de tecnologia autorizados em legislação específica desde que harmonizados no MERCOSUL. Leites fermentados Leite fermentado é um produto que passou por um processo de fermentação láctica por meio de microrganismos, geralmente bactérias lácticas. A lactose é transformada em ácido láctico. Leites Fermentados são os produtos adicionados ou não de outras substâncias alimentícias, obtidas por coagulação e diminuição do pH do leite, ou reconstituído, adicionado ou não de outros 41 produtos lácteos, por fermentação láctica mediante ação de cultivos de microrganismos específicos. Estes microrganismos específicos devem ser viáveis, ativos e abundantes no produto final durante seu prazo de validade (Instrução Normativa n°46/ 2007). Os microrganismos dos cultivos utilizados devem ser viáveis e ativos e estar em concentração igual ou superior àquela definida para cada produto final e durante seu prazo de validade. Geralmente o prazo de validade dos leites fermentados tem o prazo final de validade porque os microrganismos chegaram no final da vida (fase lag, fase exponencial e fase de morte). Ingredientes obrigatórios: Leite e/ou leite reconstituído padronizado em seu conteúdo de gordura. Cultivos de bactérias lácticas e/ou cultivos de bactérias lácticas específicas. Deve apresentar consistência firme, pastosa, semisólida ou líquida. Cor branca ou de acordo com a substância alimentícia e/ou corante adicionado. Odor e Sabor característico ou de acordo com a substância alimentícia e/ou corante adicionado. Tipos de leites fermentados Diferem de acordo com o microrganismo adicionado no produto. 1) Iogurte cuja fermentação se realiza com cultivos protosimbióticos de Streptococcus salivarius subsp. thermophilus e Lactobacillus delbrueckii subsp. Bulgaricus, aos quais se podem acompanhar, de forma complementar, outras bactérias ácido-lácticas que, por sua atividade, contribuem para a determinação das características do produto final. 2) Leite fermentado ou cultivado entende-se por Leite Fermentado ou Cultivado o produto cuja fermentação se realiza com um ou vários dos seguintes cultivos: Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus casei, Bifidobacterium sp, Streptococus salivarius subsp thermophilus e/ou outras bactérias acido-lácticas que, por sua atividade, contribuem para a determinação das características do produto final. 3) Leite acidófilo ou acidofilado o produto cuja fermentação se realiza exclusivamente com cultivos de Lactobacillus acidophilus. 4) Kefir o produto cuja fermentação se realiza com cultivos acido-lácticos elaborados com grãos de Kefir, Lactobacillus kefir, espécies dos gêneros Leuconostoc, Lactococcus e Acetobacter com produção de ácido láctico, etanol e dióxido de carbono. Os grãos de Kefir são constituídos por 42 leveduras fermentadoras de lactose (Kluyveromyces marxianus) e leveduras não fermentadoras de lactose ( S a c c h a ro m y c e s omnisporus e Saccharomyces cerevisae e Saccharomyces exiguus), Lactobacillus casei, Bifidobaterium sp e Streptococcus salivarius subsp thermophilus. 5) Kumys cuja fermentação se realiza com cultivos de Lactobacillus delbrueckii subsp. bulgaricus e Kluyveromyces marxianus. 6) Coalhada o produto cuja fermentação
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