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➢ Neoplasias linfoides: originados de células B, células T e células NK. ➢ Neoplasias mieloides: originam-se a partir de progenitores hematopoiéticos. leucemias mieloides agudas, síndromes mielodisplásicas e os distúrbios mieloproliferativos crônicos ➢ Histiocitoses: são lesões proliferativas incomuns de macrófagos e células dendríticas. As anormalidades cromossômicas não randômicas, mais comumente as translocações, estão presentes na maioria das neoplasias leucocitárias. Os genes mutados ou que tenham sofrido outras formas de alteração frequentemente desempenham papel crucial no desenvolvimento, crescimento ou sobrevida da contraparte normal da célula maligna. Em algumas situações, a mutação gênica produz uma proteína “dominante-negativa” que prejudica a função normal (perda de função); em outros casos, contudo, o resultado é aumento inadequado em alguma atividade normal (ganho de função). Com frequência, oncoproteínas decorrentes de aberrações genômicas bloqueiam a maturação celular normal, ativam as vias de sinalização pró-crescimento, ou “protegem” as células da morte celular por apoptose. Muitas oncoproteínas causam interrupção na diferenciação celular, frequentemente em uma etapa de rápida proliferação. A importância desse bloqueio na maturação é mais evidente nas leucemias agudas, em que mutações oncogênicas negativas dominantes envolvendo fatores de transcrição frequentemente estão presentes, interferindo nas etapas iniciais de diferenciação celular linfoide ou mieloide. Outras mutações nos genes reguladores transcricionais parecem capacitar as células tumorais à autorrenovação, conferindo a essas células propriedades de células-tronco. Muitas vezes, esse tipo de mutação colabora com mutações que produzem uma tirosina-quinase constitutivamente ativa; tirosina-quinases oncogênicas ativam o gene RAS e seus dois braços de sinalização positiva, as vias do PI3K/AKT e MAPK, promovendo, desse modo, crescimento celular e metabolismo de Warburg. Finalmente, as mutações que inibem a apoptose são predominantes em certas doenças malignas hematológicas. Com frequência, os proto-oncogenes são ativados em células linfoides por erros que ocorrem durante o rearranjo gênico do receptor de antígeno e a diversificação. Entre as células linfoides, as mutações potencialmente oncogênicas ocorrem com maior frequência nas células B do centro germinativo durante o processo de diversificação da resposta imune (anticorpo). Após a estimulação antigênica, as células B entram nos centros germinativos e regulam a expressão de citosina- deaminase induzida por ativação da AID (activation- induced deaminase), uma enzima especializada modificadora do DNA, essencial para dois tipos de modificação gênica da imunoglobulina (Ig): mudança de classe, um evento de recombinação intragênica em que o segmento constante do gene da cadeia pesada de IgM é substituído por um segmento constante diferente, levando a uma mudança de classe (isotipos) do anticorpo produzido; e hipermutação somática, que cria mutações pontuais nos genes das Igs, os quais, por sua vez, podem aumentar a afinidade do anticorpo em relação ao antígeno. Certos proto-oncogenes, como o MYC, são ativados nos linfomas de células B tipo centro germinativo por translocações relacionadas ao locus transcricionalmente ativo da Ig. Notavelmente, a expressão de AID é suficiente para induzir translocações MYC/Ig em células B normais do centro germinativo, aparentemente por criar lesões no DNA que resultam em quebras cromossômicas. Outros proto-oncogenes, como o BCL6, um fator de transcrição que desempenha importante papel em muitas doenças malignas das células B, são frequentemente ativados nos linfomas de células B do tipo centro germinativo através de mutações pontuais que também parecem resultar de quebras “fora do alvo” no DNA induzidas pela AID. Particularmente em tumores de células T precursoras, os proto-oncogenes são desregulados em decorrência de seu envolvimento em tais eventos de recombinação aberrante. Cromossomo filadelfia: translocação do 9 para o 22. Leucemia é usada no caso de neoplasias que apresentam amplo acometimento da medula óssea e (em geral, mas não sempre) do sangue periférico. Sinais e sintomas relacionados à supressão da hematopoiese normal causada pelas células tumorais na medula óssea. Finalmente, a neoplasia de plasmócitos mais comum, o mieloma múltiplo, causa destruição óssea do esqueleto e, com frequência, manifesta-se com dor devido às fraturas patológicas. Na maioria das neoplasias linfoides, o rearranjo do gene receptor de antígeno precede a transformação; portanto, todas as células-filhas derivadas do progenitor maligno compartilham a mesma configuração e sequência gênica do receptor de antígeno e sintetizam proteínas do receptor de antígeno idênticas (tanto Igs quanto receptores de células T) ** respostas imunes normais compreendem populações policlonais de linfócitos - usar a análise dos genes do receptor de antígeno e de seus produtos proteicos para distinguir as proliferações linfoides reativas (policlonais) das malignas (monoclonais). Neoplasias linfoides estão associadas a alterações imunológicas. Tanto a perda de imunidade protetora (suscetibilidade à infecção) quanto a quebra da tolerância imunológica (autoimunidade) podem ser observadas Células neoplásicas T e B tendem a recapitular o comportamento das células normais.: moléculas de adesão e receptores de quimiocinas específicos governam o homing das células linfoides neoplásicas. Números variáveis de células linfoides neoplásicas B e T também recirculam através dos vasos linfáticos e do sangue periférico para sítios distantes; como resultado, grande parte dos tumores linfoides é amplamente disseminada ao diagnóstico. LLA-B não se apresenta como uma massa na pele ou no osso, e muitas LLAs-T se apresentam com – ou evoluem para – um quadro de leucemia. A incidência máxima da LLA-B ocorre aproximadamente aos 3 anos, talvez porque o número normal de células pré-B na medula óssea (a célula de origem) seja muito maior no início da vida. De modo similar, a incidência máxima dea LLA-T é na adolescência, quando o timo alcança tamanho máximo. As LLA-B e -T também ocorrem com menor frequência nos adultos de todas as idades. Muitas das aberrações cromossômicas vistas na LLA desregulam a expressão e a função dos fatores de transcrição que são necessários ao desenvolvimento normal das células B e T. Essas variadas mutações interferem na diferenciação dos precursores linfoides, promovendo uma parada da maturação, e ao fazê-lo, induzem o aumento da autorrenovação, um fenótipo como o das célula-tronco. Hiperdiploidia e hipodiploidia estão presentes apenas na LLA-B. Além disso, as LLAs-B e -T estão associadas a condições que envolvem translocações completamente diferentes 1. Leucemia linfoblástica aguda de células-B ➢ Célula de Origem: Precursor de células B da medula óssea ➢ Genótipo: Diversas translocações cromossômicas; t(12;21) envolvendo RUNX1 e ETV6 presentes em 25% ➢ Aspectos Clínicos: Predominantemente em crianças; sintomas relacionados à substituição medular e à pancitopenia; agressivo 2. Leucemia linfoblástica aguda de células T ➢ Célula de Origem: Célula T precursora (em geral, de origem tímica) ➢ Genótipo: Diversas translocações cromossômicas, mutações NOTCH1 (50%-70%) ➢ Aspectos Clínicos: Predominantemente em adolescentes masculinos; massas tímicas e envolvimento de medula óssea variável; agressivo • Morfologia Medula é hipercelular e densamente preenchida por linfoblastos, que substituem os elementos normais da medula. Consoante ao comportamento clínico agressivo, o índice mitótico é elevado. Como ocorre em outros tumores linfoides de crescimento rápido, macrófagos ingerindo células tumoraisapoptóticas podem apresentar aspecto em “céu estrelado” Em comparação com os mieloblastos, os linfoblastos apresentam uma cromatina mais condensada, nucléolos menos evidentes e menos citoplasma, habitualmente sem grânulos. Diagnóstico definitivo se baseia na utlização de anticorpos específicos para antígenos de células B e células T. Colorações histoquímicas também se revelam úteis, sendo os linfoblastos mieloperoxidase-negativos (o inverso do que se observa nos mieloblastos), e frequentemente contêm material citoplasmático positivo para o ácido periódico de Schiff. • Quadro clínico O acúmulo de blastos neoplásicos na medula óssea suprime a hematopoiese normal pela aglomeração física, a competição pelos fatores de crescimento e outros mecanismos pouco compreendidos ➢ Início repentino e tempestuoso dentro de dias a poucas semanas dos primeiros sintomas. ➢ Sintomas relacionados à depressão funcional da medula, incluindo fadiga decorrente de anemia; febre, refletindo infecções secundárias à neutropenia; e hemorragia decorrente de trombocitopenia. ➢ Efeitos de massa causados pela infiltração neoplásica (que são comuns na LLA), incluindo dor óssea resultante de expansão da medula e infiltração do subperiósteo; linfadenopatia generalizada, esplenomegalia e hepatomegalia; aumento do volume testicular; e, na LLA-T, complicações relacionadas à compressão de grandes vasos e das vias respiratórias no mediastino. ➢ Manifestações do sistema nervoso central, como cefaleia, vômito e paralisia dos nervos, resultantes da disseminação neoplásica meníngea, são mais comuns na LLA. 1. Leucemia Linfocítica Crônica ➢ Célula de Origem: Célula B virgem ou célula B de memória ➢ Genótipo: Trissomia 12, deleções do 11q, 13q e 17p ➢ Aspectos Clínicos: Adultos em idade avançada com evidências de doença da medula óssea, gânglio linfático, baço e fígado; hemólise autoimune e trombocitopenia em uma minoria; indolente O crescimento das células LLC é, em grande parte, confinado a centros de proliferação, nos quais as células tumorais recebem sinalizações críticas do microambiente. Parece que as células estromais dos centros de proliferação expressam uma variedade de fatores que estimulam a atividade do fator de transcrição NF-κB, o qual, por sua vez, promove o crescimento e a sobrevivência celular. Além disso, modelos experimentais de LLC sugerem que as células tumorais dependem dos sinais gerados pelo receptor de células B (imunoglobulina ligada à membrana) para crescimento e sobrevivência. Esses sinais são transduzidos por meio de uma cascata de quinases, as quais incluem a tirosina-quinase de Bruton (BTK), que se mostra defeituosa em pacientes com agamaglobulinemia congênita ligada ao X. • Morfologia Infiltrado difuso de linfócitos predominantemente pequenos, núcleos redondos a ligeiramente irregulares e citoplasma escasso. Em conjunto com essas células, está presente um número variável de linfócitos grandes e ativados, os quais, com frequência, configuram agregados frouxos, denominados de centros de proliferação, contendo células mitoticamente ativas. O sangue contém um número elevado de pequenos linfócitos redondos com pouco citoplasma. Em geral, algumas dessas células se rompem no processo de preparação dos esfregaços, produzindo as então denominadas células-borrão. Com frequência, a medula óssea é acometida por infiltrados intersticiais ou agregados de células tumorais. Os infiltrados também são sempre virtualmente observados na polpa branca e na polpa vermelha esplênica, bem como nos tratos portais hepáticos Diagnostico: linfocitose suficiente (contagem absoluta de leucócitos > 5.000 por mm3) • Quadro Clínico Com frequência ao diagnóstico. Quando os sintomas aparecem, são inespecíficos e incluem fácil fatigabilidade, perda de peso e anorexia. Linfadenopatia e hepatoesplenomegalia generalizadas estão presentes em 50% a 60% dos pacientes sintomáticos. Interfere na função imunológica normal através de mecanismos ainda não esclarecidos. Hipogamaglobulinemia é comum e contribui para a suscetibilidade aumentada às infecções, em especial aquelas causadas por bactérias. De modo oposto, 10% a 15% dos pacientes desenvolvem anemia hemolítica ou trombocitopenia devido a autoanticorpos produzidos por células B não neoplásicas. 1. Leucemia de células T do adulto ➢ Célula de Origem: Células T auxiliares (TCD4) ➢ Genótipo: Provírus HTLV-1 presente em células tumorais ➢ Aspectos Clínicos: Adultos com lesões cutâneas, comprometimento medular e hipercalcemia; ocorre principalmente no Japão, África Ocidental e Caribe; agressivo. A aparência das células tumorais varia, mas células com núcleos multilobulados (células “em flores”, as “flower cells”) ou “em trevo” são observadas com frequência. 2. Leucemia linfocítica de células granulares grandes ➢ Célula de Origem: células T citotóxicas e células NK ➢ Genótipo: Mutações pontuais em STAT3 ➢ Aspectos Clínicos: Pacientes adultos com esplenomegalia, neutropenia e anemia, acompanhada de doença autoimune em alguns casos Origem a partir das células progenitoras hematopoiéticas. Essas doenças comprometem primariamente a medula e, em menor grau, os órgãos hematopoiéticos secundários (baço, fígado e linfonodos) e, em geral, se manifestam através de sintomas relacionados com a hematopoiese alterada. ➢ Leucemias mieloides agudas: o acúmulo de formas mieloides imaturas (blastos) na medula óssea suprime a hematopoiese normal. ➢ Síndromes mielodisplásicas: a maturação defeituosa dos progenitores mieloides dão origem à hematopoiese ineficaz, levando a citopenias. ➢ Distúrbios mieloproliferativos: em geral, há produção aumentada de um ou mais tipos de células sanguíneas. É mais bem compreendida no contexto da hematopoiese normal, que envolve uma hierarquia de células-tronco hematopoiéticas, progenitores comprometidos e elementos mais diferenciados A hematopoiese normal é refinada por mecanismos homeostáticos de retroalimentação envolvendo citocinas e fatores de crescimento que modulam a produção de hemácias, leucócitos e plaquetas na medula. Esses mecanismos são alterados nas medulas acometidas por neoplasias mieloides, que “escapam” dos controles homeostáticos normais do crescimento e sobrevida, suprimindo a função das células-tronco normais residuais. As manifestações específicas das diferentes neoplasias mieloides são influenciadas: ➢ Pela posição da célula transformada dentro da hierarquia dos progenitores (p. ex., uma célula- tronco hematopoiética pluripotente versus um progenitor mais comprometido). ➢ Pelo efeito dos eventos transformadores na diferenciação, a qual pode ser inibida, desviada ou alterada por mutações oncogênicas particulares. As neoplasias mieloides, como outras doenças malignas, tendem a se desenvolver ao longo do tempo, transformando-se em formas mais agressivas da doença. Em particular, tanto as síndromes mielodisplásicas quanto os distúrbios mieloproliferativos frequentemente se “transformam” em LMA. Em um dos distúrbios proliferativos mais importantes – a leucemia mieloide crônica –, também se observa transformação para a leucemia linfoblástica aguda, o que indica que ela tem origem em uma célula-tronco hematopoiética pluripotente transformada. É uma neoplasia de progenitores hematopoiéticos causada por mutações oncogênicas adquiridas que impedem a diferenciação, resultando na acumulação de blastos mieloides imaturos na medula. A substituição da medula hematopoiética por blastos conduz à falência da medula e a complicações relacionadas a anemia, trombocitopenia e neutropenia. Ocorre em todas as idades, mas a incidência aumenta durante a vida, atingindo seu ápice após 60 anos. • Classificação A LMA é muito heterogênea, o que reflete as complexidades da diferenciação celular mieloide.A LMA que estão associadas a determinadas alterações genéticas, as quais são importantes, porque se correlacionam com o prognóstico e orientam a terapia. LMA que surgem após um distúrbio mielodisplásico (SMD, Síndrome Mielodisplásica) ou com aspectos semelhantes à SMD e à LMA relacionada com a terapia. “cesta de papel” inclui as LMAs que perdem qualquer um desses aspectos. Estas são classificadas de acordo com o grau de diferenciação e linhagem dos blastos leucêmicos. • Patogênese Muitas aberrações genéticas recorrentes detectadas na LMA alteram os genes que codificam os fatores de transcrição necessários à diferenciação mieloide normal. Por exemplo, os dois rearranjos cromossômicos mais comuns, t(8;21) e inv(16), alteram os genes RUNX1 e CBFβ, respectivamente. Esses dois genes codificam os polipeptídios que se ligam uns aos outros para formar um fator de transcrição RUNX1/CBF1β, o qual é necessário para a hematopoiese normal. A t(8;21) e a inv(16) criam genes de fusão que codificam as proteínas quiméricas, as quais interferem na função de RUNX1/CBF1β e bloqueiam a maturação das células mieloides. No entanto, outras alterações genéticas também são essenciais. Há crescentes evidências de que as mutações que levam à ativação das vias de sinalização do fator de crescimento colaboram com as alterações nos fatores de transcrição para produzir a LMA. O sequenciamento minucioso dos genomas de LMA também revelou mutações inesperadamente frequentes que afetam fatores impactantes no estado do “epigenoma”, sugerindo, portanto, que as alterações epigenéticas desempenham papel crucial na LMA. A expressão genética é regulada por dois tipos de modificação epigenética: a metilação do DNA e as modificações pós-translacionais de histonas (p. ex., acetilação, metilação, fosforilação). Alguns dos genes mais frequentemente mutados na LMA codificam fatores que influenciam a metilação do DNA ou que levam a modificações nas histonas. Outros 15% dos tumores apresentam mutações envolvendo os genes que codificam os componentes do complexo de coesinas, proteínas que regulam a estrutura tridimensional da cromatina. • Morfologia O diagnóstico de LMA se baseia na presença de pelo menos 20% de blastos mieloides na medula óssea. Leucemia mieloide aguda sem maturação (subtipo FAB M1). Os mieloblastos têm cromatina nuclear delicada, nucléolos proeminentes e finos grânulos azurofílicos no citoplasma Leucemia promielocítica aguda com t(15;17) (subtipo FAB M3). O aspirado de medula óssea mostra promielócitos neoplásicos, com grânulos azurofílicos numerosos e anomalamente grosseiros. Outros aspectos característicos incluem a presença de várias células com núcleo bilobado, enquanto uma célula no centro do campo contém múltiplos bastões de Auer, semelhantes a agulhas. Leucemia mieloide aguda com diferenciação monocítica (subtipo FAB M5b). O esfregaço do sangue periférico mostra um monoblasto e cinco promonócitos, com membranas nucleares pregueadas. • Diagnóstico O diagnóstico de LMA é confirmado pela realização de colorações para os antígenos mieloides específicos. A análise citogenética desempenha um papel crucial na classificação da LMA. As alterações cariotípicas são detectadas em 50% a 70% dos casos com técnicas padrão e em aproximadamente 90% através do uso de uma técnica específica de bandeamento de alta resolução. Determinadas anormalidades cromossômicas se correlacionam a certos aspectos clínicos. As LMAs que surgem de novo em adultos jovens estão comumente associadas a translocações cromossômicas equilibradas, particularmente t(8;21), inv(16) e t(15;17). Em contraste, as LMAs originadas após SMD ou após exposição a agentes lesivos ao DNA (como quimioterapia ou radioterapia) frequentemente apresentam deleções ou monossomias envolvendo os cromossomos 5 e 7 e, em geral, perdem as translocações cromossômicas. Também é possível que, em idosos, a LMA esteja associada às “más” aberrações, como as deleções dos cromossomos 5q e 7q. • Aspectos Clínicos Algumas semanas ou poucos meses depois do aparecimento dos sintomas, a maioria dos pacientes apresenta-se com queixas relacionadas a anemia, neutropenia e trombocitopenia, mais notavelmente fadiga, febre e hemorragia espontânea da mucosa e cutânea. .A trombocitopenia resulta em diátese hemorrágica, que, com frequência, é proeminente. Equimoses e petéquias cutâneas, hemorragias nas serosas dos revestimentos das cavidades corpóreas e das vísceras, assim como hemorragia nas mucosas da gengiva e do trato urinário são comuns. Pró-coagulantes e fatores fibrinolíticos liberados pelas células leucêmicas, principalmente na LMA com a t(15;17), exacerbam a tendência à hemorragia. As infecções são frequentes, em especial na cavidade oral, pele, pulmões, rins, bexiga urinária e cólon, e, muitas vezes, são causadas por agentes oportunistas, como fungos, Pseudomonas e comensais. Em geral, os sinais e sintomas relacionados ao comprometimento de outros tecidos além da medula são menos evidentes na LMA do que na LLA, mas as neoplasias com diferenciação monocítica frequentemente infiltram a pele (leucemia cutis) e a gengiva, o que provavelmente reflete a tendência normal de os monócitos extravasarem para os tecidos. Eventualmente, a LMA se manifesta como uma massa localizada de partes moles, conhecida como mieloblastoma, sarcoma granulocítico ou cloroma. Com o passar do tempo e sem um tratamento sistêmico, inevitavelmente tais tumores progridem para a LMA plenamente desenvolvida. Refere-se a um grupo de alterações clonais das células- tronco, caracterizadas por defeitos na maturação associados à hematopoiese ineficaz e ao alto risco de transformação para LMA. Na SMD, a medula óssea é parcial ou totalmente substituída pela progênie clonal de uma célula-tronco multipotente neoplásica que retém a capacidade de se diferenciar, fazendo-o, contudo, de modo ineficaz e desordenado. Essas células anormais ficam dentro da medula óssea e, desse modo, os pacientes apresentam citopenias no sangue periférico. A SMD pode ser tanto primária (idiopática) quanto secundária à prévia exposição a um agente genotóxico ou à radioterapia (SMD-t). Em geral, a SMD-t aparece 2 a 8 anos após a exposição genotóxica. Todas as formas de SMD podem transformar-se em LMA, mas a transformação ocorre com maior frequência e mais rapidamente na SMD-t. Embora, tipicamente, as alterações morfológicas características sejam observadas na medula e no sangue periférico, o diagnóstico requer correlação com outros exames laboratoriais. A análise citogenética é particularmente útil, visto que certas alterações cromossômicas são frequentemente observadas. • Patogênese É pouco compreendida, porém novos e importantes ganhos para sua compreensão vêm do recente e minucioso sequenciamento de genomas da SMD, que identificou uma série de genes mutados de forma recorrente. Esses genes podem ser agrupados em três grandes categorias funcionais: ➢ Fatores epigenéticos: Mutações frequentes são vistas envolvendo muitos dos mesmos fatores epigenéticos que estão mutados na LMA, incluindo fatores que regulam metilação do DNA e modificações de histona; assim como a LMA, a desregulação de epigenoma parece ser importante na gênese da SMD. ➢ Fatores do splicing do RNA: mutações envolvendo componentes na extremidade 3’ do maquinário de configuração do RNA. ➢ Fatores de Transcrição: mutações afetam os fatores de transcrição, que são necessários para a mielopoiese normal e podem contribuir para a diferenciação desordenada que caracteriza a SMD. Além disso, aproximadamente 10% dos casos de SMD apresentam mutações com perda de função no gene supressor de tumor TP53, correlacionando-se com a presença de um cariótipo complexo e resultados clínicos particularmentedesfavoráveis. Tanto a SMD primária quanto a SMD-t estão associadas a anormalidades cromossômicas recorrentes, incluindo monossomias do 5 e do 7, deleções do 5q, 7q e 20q e trissomia do 8. Uma ideia com alguma evidência experimental é a de que o ganho – ou a perda – de uma única cópia de genes- chave é suficiente para dar vantagem às células no crescimento, e que a aneuploidia é um meio de se alcançar esse resultado. Por exemplo, aumentos sutis na conhecida oncoproteína MYC são suficientes para estimular o crescimento celular. Particularmente, o gene MYC está localizado no cromossomo 8, e a trissomia 8 é uma das formas mais comuns de aneuploidia em uma ampla gama de tumores mieloides. Igualmente, a região que, em geral, é perdida no cromossomo 5q contém um gene que codifica a proteína ribossômica RPS14. Em sistemas experimentais, a perda de uma cópia de RPS14 produz eritropoiese ineficaz, uma das marcas da SMD. • Morfologia A medula óssea seja geralmente hipercelular ao diagnóstico, algumas vezes apresenta-se normocelular ou, menos comumente, hipocelular. O aspecto mais característico é a diferenciação desordenada (displásica) que afeta as linhagens eritroide, granulocítica, monocítica e megacariocítica em vários graus Progenitores nucleados de hemácias, com núcleos múltiplos ou multilobados Sideroblastos em anel, progenitores eritroides com mitocôndrias contendo ferro, observados como grânulos azuis perinucleares (coloração por azul da prússia) Células pseudo-Pelger-Hüet, neutrófilos com apenas dois lobos, em vez do normal, que é de três a quatro, observados nas regiões superior e inferior do campo. Megacariócitos com núcleos múltiplos, no lugar do núcleo normal, único, multilobado. • Aspectos Clínicos A SMD primária é predominantemente uma doença de idosos; a idade média inicial é de 70 anos. Em até metade dos casos é descoberta incidentalmente no exame de sangue de rotina. Quando sintomática, manifesta-se com fraqueza, infecções e hemorragias, todas decorrentes de pancitopenia. A SMD primária é dividida, de acordo com os aspectos morfológicos e citogenéticos, em oito categorias, com base na classificação da OMS. Em resumo, resultados clínicos piores são (compreensivelmente) previstos pela maior contagem de blastos e citopenias mais graves, assim como pela presença de alterações cromossômicas clonais múltiplas. A sobrevida média na SMD primária varia de 9 a 29 meses, mas alguns indivíduos nos grupos com bom prognóstico podem viver por 5 anos ou mais. De modo geral, a progressão para a LMA ocorre em 10% a 40% dos indivíduos e, em geral, é acompanhada pelo surgimento de anormalidades citogenéticas adicionais. Muitas vezes, os pacientes vão a óbito por causa de complicações decorrentes de trombocitopenia (hemorragia) e neutropenia (infecção). A perspectiva é até mais desfavorável no caso da SMD- t, cuja sobrevida média é de apenas 4 a 8 meses. Na SMD-t, as citopenias tendem a ser mais graves, e a progressão para a LMA é frequentemente mais rápida. A característica patogênica comum dos distúrbios mieloproliferativos é a presença de mutação de tirosina- quinases constitutivamente ativadas ou outras alterações adquiridas nas vias de sinalização que conduzem à independência do fator de crescimento. Os fatores de crescimento hematopoiético agem em progenitores normais através da ligação a receptores de superfície e da ativação de tirosina-quinases, que, por sua vez, ativam as vias que promovem o crescimento e a sobrevida celulares. As tirosina-quinases mutantes encontradas nos distúrbios mieloproliferativos escapam do controle normal e levam a proliferação e sobrevida de progenitores da medula óssea independentemente dos fatores de crescimento. Como as mutações nas tirosina-quinases subjacentes a vários distúrbios mieloproliferativos não prejudicam a diferenciação, a consequência mais comum é o aumento na produção de um ou mais elementos sanguíneos maduros. A maior parte dos distúrbios mieloproliferativos tem origem em progenitores mieloides multipotentes, enquanto outros derivam de células-tronco pluripotentes que dão origem às células linfoides e às mieloides. Há um grau considerável de sobreposições clínicas e morfológicas entre os distúrbios mieloproliferativos. Os aspectos mais comuns incluem: ➢ Direcionamento aumentado para proliferação na medula óssea. ➢ Homing das células-tronco neoplásicas para órgãos hematopoiéticos secundários, produzindo hematopoiese extramedular. ➢ Transformação variável para uma fase de exaustão caracterizada por fibrose da medula e citopenias no sangue periférico. ➢ Transformação variável para leucemia aguda. A leucemia mieloide crônica (LMC) é diferente de outros distúrbios mieloproliferativos pela presença de um gene quimérico BCR-ABL derivado de porções do gene BCR no cromossomo 22 e do gene ABL no cromossomo 9. O BCR-ABL direciona a síntese de uma tirosina-quinase BCR-ABL constitutivamente ativa, que, na LMC, usualmente é de 210 kDa. A célula de origem é uma célula-tronco hematopoiética pluripotente. • Patogênese Em geral, as tirosina-quinases são reguladas pela dimerização mediada pelo ligante e pela autofosforilação, que criam uma quinase ativada capaz de fosforilar outros substratos proteicos. A porção BCR do BCR-ABL contém um domínio de dimerização que se autoassocia, levando à ativação da porção tirosina-quinase do ABL. A quinase ABL, por sua vez, fosforila as proteínas que induzem a sinalização através das mesmas vias de pró- crescimento e pró-sobrevida ativadas por fatores de crescimento hematopoiéticos, incluindo as vias RAS, JAK/STAT e AKT. Por motivos desconhecidos, preferencialmente o BCR- ABL direciona a proliferação dos progenitores granulocíticos e megacariocíticos, causando também a liberação anormal das formas granulocíticas imaturas da medula óssea para o sangue. A quebra e a junção dos genes BCR e ABL criam um gene quimérico de fusão BCR-ABL que codifica uma tirosina-quinase BCR-ABL constitutivamente ativa. A proteína BCR-ABL ativa múltiplas vias de sinalização positiva, que intensificam a proliferação e a sobrevida das células progenitoras da medula óssea independentemente do fator de crescimento. Como o BCR-ABL não interfere na diferenciação, o resultado final é aumento dos elementos maduros no sangue periférico, em particular granulócitos e plaquetas. • Morfologia A medula óssea é marcantemente hipercelular, por causa do grande número de precursores granulocíticos em maturação, que, em geral, incluem uma proporção elevada de eosinófilos e basófilos. Há também muitos megacariócitos que, em geral, incluem formas pequenas e displásicas. Os progenitores eritroides estão presentes em um número normal ou levemente reduzido. Um aspecto característico é a presença de macrófagos com grande quantidade de citoplasma pregueado e de cor azul-esverdeada, dispersos, denominados histiócitos “azul- mar” O sangue aponta presença de leucocitose, frequentemente excedendo 100.000 células/mm3 que consiste predominantemente em neutrófilos, formas em banda, metamielócitos, mielócitos, eosinófilos e basófilos Esfregaço de sangue periférico mostra muitos neutrófilos maduros, alguns metamielócitos e um mielócito • Aspectos Clínicos Primariamente, a LMC é uma doença de adultos, mas que também ocorre em crianças e adolescentes. A fase de maior incidência é da quinta à sexta décadas de vida. O início é insidioso. A anemia de leve a moderada e o hipermetabolismo decorrente da renovação celular aumentada resultam em fadiga, fraqueza, perda de peso e anorexia. Algumas vezes, o primeiro sintoma é uma sensação de desconforto no abdome causada pela esplenomegalia, ou dor aguda no quadrante superior esquerdo que se deve ao infarto esplênico. A melhor forma de distinguira LMC das outras neoplasias mieloproliferativas é pela detecção do gene de fusão BCR-ABL, através da análise cromossômica ou da técnica de PCR. A história natural é de progressão lenta; mesmo sem tratamento, a sobrevida média é de aproximadamente 3 anos. Após um período variável de 3 anos, em média, cerca de 50% dos pacientes entram em uma “fase acelerada”, caracterizada por acentuada anemia e trombocitopenia, algumas vezes acompanhadas de elevado número de basófilos no sangue. Anormalidades citogenéticas clonais adicionais, como trissomia do 8, isocromossomo 17q ou duplicação do cromossomo Ph, são comuns. No intervalo de 6 a 12 meses, a fase acelerada termina num quadro semelhante à leucemia aguda (crise blástica). Nos outros 50% dos pacientes, as crises blásticas ocorrem abruptamente, sem uma fase acelerada. Em 70% das crises, os blastos têm origem mieloide (crise blástica mieloide), enquanto, na maioria dos casos remanescentes, os blastos derivam de células pré-B (crise blástica linfoide). Isso é considerado uma evidência de que a LMC surge a partir de uma célula-tronco pluripotente com potencial tanto mieloide quanto linfoide. A policitemia vera está fortemente associada a mutações pontuais ativadoras da tirosina-quinase JAK2. Se caracteriza pela produção aumentada de elementos eritroides, granulócitos e plaquetas (panmielose), mas grande parte dos sintomas clínicos é ocasionada pelo aumento de hemácias (policitemia). • Patogênese O gene JAK2 participa da via JAK/STAT, que se encontra a jusante de vários receptores de fatores de crescimento hematopoiéticos, incluindo o receptor da eritropoietina. Na PV, as células progenitoras têm necessidades acentuadamente reduzidas de eritropoietina e de outros fatores de crescimento hematopoiéticos devido à sinalização constitutiva de JAK2. Em consequência, os níveis séricos de eritropoietina na PV são muitos baixos, enquanto as formas secundárias de policitemia absoluta apresentam altos níveis de eritropoietina. O hematócrito elevado leva ao aumento da viscosidade sanguínea e da sedimentação. Esses fatores hemodinâmicos, juntamente com trombocitose e função plaquetária anormal, tornam os pacientes com PV propensos ao desenvolvimento de trombose e hemorragia. • Aspectos Clínicos Tem início insidioso, geralmente em adultos de meia- idade tardia. A maior parte dos sintomas está relacionada ao aumento da massa de hemácias e do hematócrito. Em geral, também há elevação do volume sanguíneo total. Em conjunto, esses fatores resultam em fluxo sanguíneo anormal, particularmente do lado venoso de baixa pressão da circulação, que se torna bastante distendido. Os pacientes são pletóricos e cianóticos devido a estase e desoxigenação do sangue nos vasos periféricos. Cefaleia, vertigem, hipertensão e sintomas gastrointestinais são comuns. Intenso prurido e ulceração péptica podem ocorrer, possivelmente resultantes da liberação de histamina pelos basófilos. A alta renovação celular leva à hiperuricemia; a gota sintomática é detectada em 5% a 10% dos casos. Numa situação mais problemática, a anormalidade no fluxo sanguíneo e na função plaquetária leva ao risco aumentado tanto de hemorragia quanto de episódios trombóticos. A concentração de hemoglobina varia de 14 a 28 g/dL e, em geral, o hematócrito é de 60% ou mais. Em determinadas situações, as hemorragias crônicas resultam em deficiência de ferro, o que pode suprimir a eritropoiese o bastante para diminuir o hematócrito à taxa normal, um exemplo de dois defeitos agindo um contra o outro para “corrigir” uma anormalidade laboratorial. A contagem de leucócitos varia de 12.000 a 50.000 células/mm3, enquanto a contagem de plaquetas é frequentemente superior a 500.000 células/mm3. As plaquetas normalmente exibem anormalidades morfológicas, como, por exemplo, formas gigantes, e costumam mostrar-se defeituosas nos estudos funcionais de agregação. Frequentemente associada à ativação de mutações pontuais em JAK2 (50% dos casos) ou MPL (5% a 10% dos casos), uma tirosina-quinase receptora que, em geral, é ativada pela trombopoietina. A TE se manifesta clinicamente através da contagem elevada de plaquetas e é separada da PV e da mielofibrose primária com base na ausência de policitemia e fibrose na medula, respectivamente. Naqueles casos sem mutação na tirosina-quinase, as causas de trombocitose reativa, como, por exemplo, os distúrbios inflamatórios e de deficiência de ferro, devem ser excluídas antes de se estabelecer o diagnóstico. A sinalização constitutiva de JAK2 ou LMP torna os progenitores independentes de trombopoietina e conduz à hiperproliferação. A mutação de JAK2 é a mesma encontrada em praticamente todos os casos de PV. Ainda não se conhece o motivo pelo qual alguns pacientes com mutações de JAK2 apresentam PV, enquanto outros manifestam TE. Alguns casos de “TE” podem ser realmente PV disfarçadas pela deficiência de ferro (mais comum em indivíduos diagnosticados com TE), mas é provável que isso aconteça apenas em uma pequena fração dos pacientes. Como mencionado, a maioria dos casos sem mutações de JAK2 ou de LMP apresenta mutações de calreticulina em seu lugar. Em geral, a celularidade da medula óssea é ligeiramente aumentada, mas os megacariócitos estão com frequência em número bastante elevado e incluem formas anormais de tamanho aumentado. Os esfregaços periféricos costumam revelar a presença de plaquetas grandes anormais, muitas vezes acompanhadas por leucocitose leve. Graus mais modestos de hematopoiese extramedular podem ocorrer, produzindo organomegalia discreta em aproximadamente 50% dos pacientes. Em raríssimos casos, a fase de exaustão da fibrose medular ou a transformação para a LMA se estabelecem posteriormente. Em geral, ocorre depois dos 60 anos, mas também pode ser observada em adultos jovens. Disfunções das plaquetas derivadas do clone neoplásico podem resultar em trombose e hemorragia, as principais manifestações clínicas. As plaquetas não estão apenas em números elevados; também costumam demonstrar anormalidade qualitativa nos exames funcionais. Os tipos de eventos trombóticos são similares àqueles observados na PV; incluem trombose venosa profunda, trombose venosa hepática e portal e infarto miocárdico. Um sintoma característico é eritromelalgia, sensação de palpitação e queimação das mãos e dos pés causada pela oclusão das pequenas arteríolas por agregação plaquetária, que também pode ser observada na PV. A característica típica da mielofibrose primária é o desenvolvimento de fibrose obstrutiva na medula. A substituição da medula por fibrose suprime a hematopoiese da medula óssea, resultando em citopenia e extensa hematopoiese extramedular. Histologicamente, o aspecto é idêntico à fase de exaustão, que, vez ou outra, ocorre na fase tardia do curso de outros distúrbios mieloproliferativos. Essa similaridade também engloba a patogênese molecular subjacente. Mutações ativadoras de JAK2 estão presentes em 50% a 60% dos casos, enquanto mutações ativadoras de LMP estão presentes em 1% a 5% dos demais casos de mielofibrose primária. A principal característica patológica é a extensa deposição de colágeno na medula por fibroblastos não neoplásicos. Inexoravelmente, a fibrose substitui os elementos hematopoiéticos da medula óssea, incluindo as células-tronco, eventualmente conduzindo à falência medular. Provavelmente, é causada pela liberação inadequada de fatores fibrogênicos pelos megacariócitos neoplásicos. Dois fatores sintetizados por megacariócitos estão envolvidos: o fator de crescimento derivado de plaquetas e o TGF-β. À medida que a fibrose da medula óssea progride, as células-tronco hematopoiéticas circulantes se instalam em nichos nos órgãos hematopoiéticos secundários, como baço, fígado e linfonodos, levando ao aparecimentode hematopoiese extramedular. Esse aspecto, aliado à supressão concomitante da função medular, resulta em anemia moderada a grave. indivíduos com mais de 60 anos. Exceto quando precedida por outro distúrbio mieloproliferativo, chama a atenção por causa da anemia progressiva e da esplenomegalia, a qual produz uma sensação de plenitude no quadrante superior esquerdo. Sintomas inespecíficos, como fadiga, perda de peso e suores noturnos, resultam do aumento de metabolismo associado à expansão na massa de células hematopoiéticas. Hiperuricemia e gota secundária causada pelo alto índice de renovação celular podem complicar o quadro. Tipicamente, estudos laboratoriais demonstram anemia normocrômica normocítica de moderada a grave acompanhada por leucoeritroblastose. Em geral, a contagem de leucócitos é normal ou reduzida, mas pode estar marcadamente elevada (80.000 a 100.000 células/mm3) no início do curso. A contagem de plaquetas é normal ou elevada ao diagnóstico, mas a trombocitopenia sobrevém quando a doença progride. Esses achados sanguíneos são inespecíficos; a biópsia da medula óssea é essencial para o diagnóstico. KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul; ASTER, Jon. Robbins & Cotran Patologia - Bases Patológicas das Doenças. [Digite o Local da Editora]: Grupo GEN, 2016.
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