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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 3 1 RECONHECER O QUE É A CULTURA .......................................................... 4 1.1 A cultura é dinâmica ................................................................................ 11 2 CONCEITOS DE SOCIEDADE ...................................................................... 13 2.1 Perspectivas sociológicas contemporâneas ............................................ 18 3 RELAÇÃO ENTRE CULTURA E SOCIEDADE ............................................. 20 3.1 Cultura e identidade brasileiras ............................................................... 22 3.2 Globalização e identidade cultural ........................................................... 28 4 O processo de socialização e a formação da personalidade ......................... 35 4.1 O indivíduo: ser social ............................................................................. 37 5 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 39 3 INTRODUÇÃO O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 1 RECONHECER O QUE É A CULTURA Fonte: brasilescola.uol O que se entende por cultura? Todo mundo tem cultura? Ou cultura é só o que se aprende na escola? É necessário que se compreenda que a cultura não é só o que se aprende na escola. Todo mundo tem cultura, porque a cultura é transmitida de geração a geração, de pessoa a pessoa, como herança social. Definir cultura não é tarefa simples, pois ela evoca interesses multidisciplinares e ainda é estudada em diversas áreas, como sociologia, antropologia, história, entre outras. Em cada uma destas áreas, a cultura é estudada com diferentes enfoques. Segundo Cuche (2002), a palavra cultura tem sido utilizada em vários campos semânticos, substituindo outros termos como mentalidade, espírito, tradição e ideologia. O ser humano convive e aprende a viver no mundo, justamente por causa da cultura, de forma que, as pessoas não apenas realizam a aprendizagem cultural por meio do processo de socialização, mas também podem repassar aspectos culturais aos grupos sociais. 5 Os símbolos e a linguagem são compartilhados e entendidos como herança social, em vez de herança biológica / genética por membros da mesma comunidade, de modo que esses elementos culturais de identificação são considerados as normas e regras básicas para a sobrevivência na sociedade. (BARROSO, 2017). O indivíduo, como ser concreto e social, se desenvolve em um contexto multicultural em que temos regras, normas, crenças, valores e identidades muito diferentes. A cultura torna-se assim um processo de "troca" entre indivíduos, grupos e sociedade. A cultura é uma parte íntima de cada indivíduo, pois são eles que criam e difundem a cultura e a expressam de diferentes formas. Portanto, a compreensão cultural é fundamental para educadores e cidadãos, pois a cultura permeia todas as experiências sociais. A cultura confere à sociedade um conhecimento e uma riqueza ímpares que, quando bem construídos, permitem a organização de eventos que trazem cultura e valorização ao espaço. O estudo sobre cultura pode variar de tempos em tempos, de autor para autor, de paradigma para paradigma. Sendo assim, pode-se dizer que é por meio desse conceito que os antropólogos estudam o “outro”. O antropólogo evolucionista Tylor (1920) definiu cultura, em 1871, como: “aquele todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, direito, costume e outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”. (TYLOR, 1920, p. 1) Com o tempo, outros autores vão problematizando essa noção totalizante de cultura, tornando-a mais interpretativa, mais parcial, mais polissêmica, saindo da ideia do todo para apresentar feições da cultura. Em seus estudos, Williams (2007) diz que a palavra cultura vem da cor, e esta, por sua vez, é a origem do termo latino cultura, que tem vários significados como viver, cultivar, proteger e reverenciar. Até o século XVI, o termo cultura é usado para se referir a significados como prestar atenção a algo, por exemplo, aos animais ou mesmo ao desenvolvimento da cultura ou da terra arável, ou seja, cultivável. 6 A partir do final do século XX, uma metáfora mais cultural é enfatizada; metaforicamente associada ao desenvolvimento da agricultura, a palavra passou também a referir-se aos esforços empreendidos para o desenvolvimento da ciência humana, momento em que as obras de arte passaram a representar a cultura. De qualquer modo, podemos dizer que a cultura se “manifesta por meio de diversos sistemas” (DIAS, 2010, p. 67), como: O sistema de valores. O de normas. O de ideologia. O de comportamentos, entre outros... Dentro de um território específico, em determinada comunidade cultural, e influencia os indivíduos na concretização das suas ações sociais. É na interação entre os indivíduos e os grupos que são construídos e negociados os parâmetros culturais nos quais as ações sociais se realizam, constituindo, assim, uma identidade própria para cada cultura, como é o caso da cultura brasileira. Portanto, também podemos dizer que é exclusivo da sociedade humana, porque a diferença entre humanos e animais pode ser traçada nesta base. O homem é a única criatura que tem a capacidade de acumular cultura, pela complexidade da quantidade e natureza dessa produção. Nesse sentido, a linguagem humana é a base da comunicação simbólica, e sua importância não se reflete apenas na linguagem em questão, mas também nos gestos, acentos e expressões locais que representam o ciclo de significados em uma determinada cultura. Portanto, tudo o que a sociedade humana cria para atender às suas necessidades e viver em sociedade, tangível ou intangível, está contido na cultura. (BARROSO, 2017). Cuche (2002) traz em seus estudos que o antropólogo britânico Edward Burnett Tylor, em 1917, escreveu a primeira definição etnológica da cultura, em 1817, onde, ele propõe que a cultura resulta do aprendizado cultural, e não da transmissão biológica. 7 Assim, a cultura torna-se o todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, artes, moral, leis, costumes ou mesmo quaisquer outras habilidades adquiridas pelos indivíduos que vivem em sociedade. Entretanto, Tylor afirmação do princípio da evolução, segundo o qual haveria uma escala evolutiva de progresso cultural que as sociedades primitivas teriam que superar para chegar ao nível das chamadas sociedades civilizadas. Franz Boas, nomeado inventor da etnografia e precursor nos estudos observacionais diretos das sociedades primitivas, ele se opôs à evolução em 1942 e deu à sua pesquisa uma nova perspectiva, culturalmente contemporânea. (BOAS, 2010).Diante de tantas interpretações e usos de termos culturais, três conceitos básicos podem ser aplicados, que segundo Cuche (2002) se denominam da seguinte forma: modos de vida de um grupo; obras de arte, bem como atividades intelectuais e do entretenimento; desenvolvimento humano. Na primeira visão, a cultura é apresentada como a interação social dos indivíduos, que molda suas formas de pensar e sentir, bem como seus valores. Segundo Chauí (1995) deve-se atentar para a necessidade de ampliar o conceito de cultura, considerando-a também uma invenção coletiva de símbolos e indivíduos e grupos de pessoas como entidades culturais. Esta última tem uma visão mais limitada da cultura, referindo-se a obras e práticas artísticas, atividades intelectuais e recreativas, sobretudo consideradas como atividade econômica. Este design visa construir certos sentidos e atingir um determinado tipo de público. A terceira concepção de cultura destaca o papel que pode desempenhar como determinante do desenvolvimento social. A partir destes estudos, as atividades culturais são realizadas com finalidade socioeducativa, a fim de estimular atitudes críticas e de propor aos indivíduos uma atuação política no espaço onde vivem, para o crescimento cognitivo de todos os 8 indivíduos, incluindo portadores de necessidades especiais ou pessoas com problemas de saúde. As atividades culturais consistem em importante ferramenta para estimular atitudes críticas e enfrentar problemas sociais, como a violência. Para Escosteguy (2006), a cultura é considerada como uma parte da socialização de classes e grupos na formação das concepções políticas e no estilo que a sociedade adota em diferentes linhas de desenvolvimento. Na atualidade, a cultura pode ser compreendida como um conceito mais amplo: todos os indivíduos passam a ser produtores de cultura, as atividades artísticas se concentram na produção cultural e a cultura se torna um instrumento para o desenvolvimento político e social, onde o campo cultural se confunde com o social. Para aprofundar a discussão, vamos nos inspirar nas características que envolvem a atuação do conceito de cultura apresentada por Roque Laraia (2001) Ele propõe cinco pontos para mostrar a operação desse conceito, são eles: a cultura condiciona a visão do homem, a cultura interfere no plano biológico, os indivíduos participam diferentemente de sua cultura, a cultura tem uma lógica própria e a cultura é dinâmica. (LARAIA, 2001. apud. BARROSO, 2017) Os seres humanos são incentivados a agir de acordo com as regras e os padrões culturais que são estabelecidos pelos membros da cultura. Aqueles que destoam do proposto são considerados desviantes. Para Becker (2008) o desvio é visto como produto de uma transação que tem lugar entre algum grupo social e alguém que é visto por esse grupo como infrator de uma regra. Ser considerado infrator gera consequências discriminatórias nas sociedades. Por isso, de modo geral, o indivíduo é condicionado a agir de acordo com o padrão esperado naquela cultura. (BECKER, 2008, p. 22) De acordo com Barroso (2017) Ainda que os homens tenham uma configuração biológica comum, o modo como eles acionam esses mecanismos biológicos para habitar o mundo é distinto. Dentro das sociedades, cada um pode ocupar um papel social diferente, determinado pelo convívio entre os membros da comunidade. Por isso, a aprendizagem cultural não se dá como herança biológica e sim como herança social 9 através da imitação e reprodução, consciente e inconsciente, dos aspectos culturais que permeiam o ambiente social no qual os indivíduos estão mergulhados. 1.1 A cultura interfere no plano biológico O estilo de vida humano pode afetar os organismos biológicos de diferentes maneiras e afetar as necessidades fisiológicas básicas. Comparado com o estilo de vida de sono insuficiente, dieta pobre e muito trabalho, um estilo de vida baseado em uma dieta saudável pode fazer as pessoas viverem mais. No entanto, comemos não apenas para satisfazer nossas necessidades, mas também para sermos felizes. O que é considerado agradável além de ser construído no reino cultural. Deve-se enfatizar ainda que o que comemos não é motivado apenas por nossos desejos, mas também por aquilo que temos acesso aos alimentos em nossa cultura. O setor agrícola significa que podemos ter alimentos em diferentes épocas do ano, mas nem todos os países do mundo têm frutas frescas, acessíveis e baratas. Na sociedade moderna, estamos acostumados com o que se chama de “fast food”, que são alimentos industrializados, rapidamente processados e com baixo valor nutricional, mas alto valor calórico. As popularidades desses produtos, juntamente com estilos de vida acelerados, estão levando as pessoas a consumir cada vez mais desses alimentos, resultando em aumento das taxas de obesidade e maior probabilidade de problemas de saúde. Inúmeras manifestações culturais acontecem em uma sociedade. No entanto, os seus membros participam parcialmente de todo esse arcabouço cultural. Ninguém consegue participar de tudo o que ocorre em sua cultura, justamente porque existem condicionantes que os limitam, como, por exemplo, gênero, idade, papel social, estilo de vida, entre outros. 10 Conforme os indivíduos vão se desenvolvendo após o nascimento, acessam regras e normas na sociedade que lhes permitem participar de diferentes manifestações culturais. Na prática religiosa do catolicismo, quando criança, alguns são batizados, depois fazem a comunhão e somente com mais idade é que se pode realizar a cerimônia matrimonial. Assim, os indivíduos trazem e reproduzem diferentes aspectos culturais durante suas vivências, tornando cada pessoa camadas de cultura. É importante que os indivíduos conheçam e participem de certos aspectos culturais que permitem a comunicação e a conexão com outros membros da sociedade. Saber agir e se comportar em determinadas situações faz parte da convivência, mesmo que seja uma lição processual e nem sempre deva ser feito. Preferências relativas por exemplo a times de futebol; hábitos de ir à praia ou até mesmo as festas de carnaval se tratam de aspectos culturais que moldam a identidade brasileira. Porém, nem todos os brasileiros têm acesso, se importam ou participam do que a cultura do país tem a oferecer, ou seja, mesmo quando nos imergimos em uma cultura, nem sempre estamos relativamente ou parcialmente engajados no que ela oferece. Cada cultura tem a sua lógica própria, que revela um encadeamento de sentidos, pensamentos e ações que conformam a especificidade das culturas em si, de acordo com sua origem histórica e o território habitado. O que faz sentido para os membros de uma comunidade pode não fazer nenhum sentido para outra sociedade, conforme constata Laraia (2001, p. 87), “A coerência de um hábito cultural somente pode ser analisada a partir do sistema a que pertence”. Como compreender as pinturas corporais entre os povos indígenas? Como não se impressionar com as danças populares? Como interpretar a fé religiosa nas diferentes sociedades? Como os indivíduos buscam os processos de cura para suas enfermidades? 11 Assim, para compreendermos a lógica de outra pessoa, temos de nos afastar da nossa lógica, ou pelo menos estabelecer relações que permitam desvendar e acessar a explicação do outro individuo, sem as referências da nossa própria lógica. 1.2 A cultura é dinâmica A cultura não está bloqueada. Em todos os momentos, diferentes elementos culturais são reavaliados, consciente e inconscientemente, alguns rejeitados, outros reconstruídos. Isso pode ser observado quando se compara a maneira como as pessoas se vestem em fotos antigas escondidas no fundo de uma gaveta do armário com as roupas atuais. Pode-se pensar também nas músicas ouvidas na infância ouaté mesmo nas músicas que estão no rádio hoje, ainda ao observar as gírias e as palavras que seus parentes mais próximos dizem em comparação com a gíria que você diz aos seus amigos, essas mudanças e modificações permanecem momentâneas até que outras mudanças na cultura as alterem. (BARROSO, 2017). Pode-se dizer que as mudanças culturais ocorrem de forma endógena ou exógena, onde, as modas endógenas podem ser o resultado do próprio sistema cultural dos membros que participam daquela sociedade. A modalidade exógena ocorre por meio do contato cultural com outros povos, resultando em interferência nas práticas culturais estabelecidas anteriormente ao contato. Desse modo as mudanças podem ser específicas ou até mesmo alterar completamente elementos culturais que já foram importantes para essa cultura. Portanto, quando descrevemos uma determinada cultura, para um estudo científico, devemos saber que ela não fica paralisada em relação ao seu modo de ser no mundo. Ao estarmos imersos em outra cultura, participamos e conhecemos o que faz sentido apenas ali, e não em outro contexto cultural, como o de origem do antropólogo. 12 Assim, a antropologia não vai ser aquela que está do ponto de vista do observador ou do ponto de vista do observado, mas será uma “prática que surge em seu limite, ou melhor, em sua intersecção.” (LAPLANTINE, 2003, p. 158). Logo, atentos a essa intersecção, vamos compreendendo as regras e normas da cultura de outro individuo, desvendando seus sentidos e suas motivações, pois, como diz Kottak (2013, p. 43), “As culturas são sistemas humanos de comportamento e pensamento, obedecem a leis naturais, podendo, portanto, serem estudadas de modo científico”. Como diz Cuche: “Não há cultura que não tenha significação para aqueles que nela se reconhecem. Os significados como os significantes devem ser examinados com a maior atenção”. (Cuche 1999, p. 239 apud BARROSO, 2017) Para que se explique os significados dos acontecimentos sociais do mundo em que vivemos, será necessário o estudo de seus elementos culturais, pois elas ocorrem nas sociedades, de modo que se faz necessário compreender as modificações culturais ao longo dos tempos, assim, é buscando essas significações, expressas na cultura, que vamos reconhecer as diferenças culturais. O entendimento das culturas é fundamental para um mundo que convive com inúmeras culturas e sociedades cada vez mais próximas umas das outras, assim, pelos avanços tecnológicos que se popularizam rapidamente mundo afora. Pensar na cultura como um conceito antropológico, conforme propõe Laraia (2001), torna-se chave para aprofundar o olhar sobre a sociedade, além de possibilitar aplicar esse mesmo olhar em outras áreas do conhecimento, como Educação, História, Políticas Públicas, entre outras. Portanto, é desejável reconhecer o poder das categorias analíticas desta disciplina na compreensão do homem em sociedade. E aqui, o conceito de cultura permite um deslocamento epistemológico para pensar com o olhar do outro. Assim, ao analisar a cultura desse indivíduo, tendo como referência a cultura do observador, podemos nos perguntar em relação aos parâmetros culturais. Nesse sentido, para compreender outras culturas é necessário ter um conhecimento mais profundo da nossa própria cultura, e por mais próxima que seja, 13 é preciso apreciá-la sob o olhar de estranhos, que suspendem seu julgamento, participam e se deixam descobrir a cultura com outra pessoa. 2 CONCEITOS DE SOCIEDADE Fonte: conhecimentocientifico.com O conceito de sociedade pressupõe a convivência e as atividades comuns das pessoas, conscientemente dispostas ou organizadas. Os membros de uma sociedade podem pertencer a diferentes grupos étnicos ou a diferentes classes ou níveis sociais. Uma sociedade é caracterizada por interesses comuns entre seus membros e sua preocupação com o mesmo objetivo. O conceito de sociedade contradiz o conceito de comunidade, que organiza as pessoas em um coletivo. Esse conflito produz diferentes interpretações de pensadores sobre o que caracteriza uma sociedade. (SILVA, 2018). Entende-se por sociedade a junção de indivíduos entre os quais se estabelecem alguns tipos de relações tais como: econômicas, políticas e culturais. 14 Em uma sociedade, pode-se observar a unidade linguística e cultural dos membros, seguindo as mesmas leis, costumes, tradições, unidos por um objetivo que pode beneficiar o grupo. A ideia de sociedade está intimamente relacionada às relações humanas, existindo a partir da interdependência de todas as partes envolvidas, e perpetuando- se tanto pela individualidade das funções que cada membro desempenha na comunidade. O estudo da sociedade começa com a origem da natureza humana, além da razão, principalmente social. Na sua origem, a empresa foi criada para satisfazer as necessidades vitais do homem e desenvolver plenamente todas as suas faculdades e poderes. Essa tendência, conhecida como apetite social, tem levado as pessoas a formarem essa experiência coletiva. Por isso, o surgimento da sociedade é determinado pelas condições naturais de harmonia humana, decorrentes da própria esfera da vida, sejam eles os instintos de vida, como o de forrageamento, reprodução, entre outros, ou a necessidade de comunicar, organizar e conviver. (SILVA, 2018). Turner (2008) mantém um intenso diálogo intelectual com pensadores clássicos e contemporâneos que deram contribuições significativas para a formação de conceitos sociais. O autor deixa claro que não pretende trabalhar a história da teoria social, mas oscila entre as contribuições contemporâneas e clássicas ao conceito de sociedade, evitando a construção de um cenário intelectual dominante, de oposição entre determinados autores e suas ideias. Ao contrário, ressaltam que, embora os autores citados no livro tenham matrizes teóricas diferentes, suas análises representam certos pontos de convergência na compreensão da sociedade moderna. O argumento central é de que a sociedade apresenta três conceituações relevantes: sociedade como estrutura; sociedade como solidariedade e 15 sociedade como processo criativo. Esses três conceitos, formulados originalmente no final do século XIX, sofreram transformações significativas ao longo do tempo, somando-se às muitas maneiras pelas quais esses três significados estão ligados, ora entrelaçados. , ora mantendo relações conflitantes. A concepção de sociedade como estrutura enfatiza aspectos de competição, conflito, competição e rivalidade entre os atores sociais. (ELLIOT; TURNER, 2010. apud. ESCOSTEGUY, 2006). Ao mesmo tempo, também considera as dimensões éticas e os códigos de conduta que permeiam as relações sociais. Na perspectiva de Turner (2008), O conceito de solidariedade ainda é relevante na análise sociológica. No entanto, nas sociedades contemporâneas, esse conceito tornou-se mais complexo do que em épocas anteriores, pois a construção e a prática de hoje exigem certo reflexo emocional, além da percepção de abertura dos atores sociais. A solidariedade na sociedade contemporânea tende a reforçar a comunicação simbólica e a interação entre os indivíduos, ao mesmo tempo em que gera uma variedade de discursos. A sociedade tem características iniciais que se dividem entre a sua etapa de formação e evolução, que dizem respeito à diferenciação e separação do conceito de Estado e, posteriormente, ao conceito de empresa. Do conceito abordado por Aristóteles (2010), os termos comunidade e sociedade são complementos, sendo a comunidade inserida no conceito de sociedade, pois a filosofia grega, à época, não conhecia a distinção entre comunidade e sociedade como duas categorias conceituais diferentes de conhecimento sociológico. Essa distinção de duas formas originais de comunidade ousociedade, a doméstica ou econômica e o cidadão ou político, foi decisiva para poder delinear o conceito de sociedade. O mesmo ocorreu com a observação adicional de que a lei é radicalmente inseparável de ambas as formas de comunidade ou sociedade, porque tem um caráter constitutivo em ambos. 16 Se, pelo estudo da sociedade no pensamento grego, o conceito é delineado na teoria ética e política, no pensamento romano, isso ocorre no campo jurídico e, mais especificamente, no campo da prática jurídica e das relações comerciais, provavelmente por causa da prática comercial helenística. Devido a isso, não só o conceito é aperfeiçoado, mas também a palavra que será consagrada em uma infinidade de línguas: a sociedade. De acordo com essa origem, as sociedades do mundo jurídico romano configuraram-se inicialmente como uma associação de várias pessoas com interesses comuns. Portanto, eles não têm um relacionamento importante com seus vizinhos ou seu espaço de vida, mas apenas um acordo de testamento e contrato. Destarte, no direito privado romano, a sociedade é constituída por um contrato informal e unânime em que um certo número de pessoas se unem para fornecer bens com fins lucrativos, que serão então distribuídos por mútuo acordo. Nessa filosofia, o conceito de sociedade, uma vez que nasce da vontade das partes, para dela ganhar ou tirar proveito, tem um conceito bastante mercantil. (SILVA, 2018). De acordo com Silva (2018) a partir desse conceito, da sociedade civil e da sociedade humana, temos a emergência da sociedade pelas definições do direito civil e do direito das nações, de forma que há uma sociedade mais completa, com divisão de leis, direitos e costumes. Essa síntese acadêmica da doutrina política e moral aristotélica, de um lado, e da doutrina moral e jurídica romana, de outro, existiu pacificamente no pensamento moral e político, até meados do século XVII. Mesmo quando a unidade religiosa e a unidade política entraram em colapso, a sociedade manteve sua concepção tradicional, dividida em várias classes. O que mudou desde então é a configuração da sociedade civil ou sociedade política, que agora também é chamada de sociedade pública. Este novo conceito deu origem à relação entre a sociedade civil e o Estado. A sociedade civil assume um significado novo e mais preciso. Com ela, a sociedade política não é mais entendida como a base humana ou a base da organização política, que recentemente se concretizou como Estado e com ele se identifica 17 amplamente, mas sim como um conjunto de cidadãos convivendo no território de um Estado e, como tal, eles formam uma unidade, cujos interesses não apenas não coincidem, mas freqüentemente entram em conflito com os da organização política ou do Estado. Essa nova concepção de sociedade, como de sociedade civil, difundiu-se, tanto social quanto politicamente, com a Revolução Francesa, graças aos teóricos do Iluminismo, alcançando sua dogmática realização na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. (SILVA, 2018). Assim, a sociedade civil tornou-se uma sociedade de classe ou de caráter, cujo fator determinante básico é a relação de produção da vida material, ou seja, a base econômica. Na sociedade, portanto, formou-se uma série de tendências em relação aos indivíduos para os quais ela opera, tendências que, aos poucos e para além dos interesses particulares, constituem uma ciência social, certas associações ou modos de pensamento e de opiniões. Esta forma popular de pensar e exprimir opiniões, na medida em que visa corrigir e organizar problemas, constitui o cerne de qualquer sociedade, ao mesmo tempo que permite diferenciar-se das outras, mesmo das sociedades mais próximas. Também possui uma qualidade histórica, no sentido mais radical do termo; isso implica que não é passivo ou estático, isto é, imóvel, mas ativo e dinâmico, ou seja, está em constante evolução. (SILVA, 2018). O conceito de sociedade civil surge quando incorporamos o Estado. Na composição da sociedade civil em relação ao Estado, podemos imaginar a sociedade civil como a relação entre indivíduos, grupos e classes sociais, desenvolvendo-se paralelamente ao equilíbrio de poder das forças da água. De acordo com Silva (2018) para a filosofia, a sociedade civil segue um conjunto de valores, de modo que a forma de uma época depende de como seus valores são distribuídos ou organizados. Esses valores representam o mundo como deveria ser, padrões ideais pelos quais a existência humana se realiza, refletida em ações e trabalho, em formas de 18 comportamento e nas conquistas da civilização e da cultura, isto é, bens que representam o objeto de cultura. Essa noção de sociedade geralmente não se reduz aos indivíduos que a compõem, mas envolve a teoria de uma consciência coletiva que é superior à consciência dos indivíduos que a compõem e que forma um todo único e diverso que é inexplicável ser, simplesmente pela soma de indivíduos que se reúnem para viver juntos, mas o elemento distintivo do fato social coletivo. A ideia de sociedade está longe de constituir um valor original e mais elevado, mas está condicionada pela sociabilidade das pessoas, ou seja, por algo que é inerente a todas as pessoas e aos seus valores. Dessa maneira, visa controlar e resolver as contradições, utilizando-se de recursos de persuasão e pressão, baseando-se na hegemonia e no consenso, ou seja, é na sociedade civil que o Estado controla os problemas econômicos, ideológicos, sociais e religiosos, intervindo como mediador. A sociedade civil, dessa forma, é constituída pelas forças sociais, as quais se organizam, associam-se e se mobilizam pelo interesseda coletividade. Assim, a sociedade civil é constituída por um espaço da vida social organizada que é independente do Estado, apresentando uma autogestão voluntária e, de certa forma, autônoma, mas limitada por uma ordem legal e normas. A sociedade civil se situa num campo entre a esfera privada e o Estado. Assim, exclui a vida familiar e individual, a atividade interna, as empresas particulares voltadas para o lucro e os esforços políticos para controlar o Estado. Os indivíduos da sociedade civil necessitam da proteção de uma ordem legal institucionalizada para preservar sua autonomia e liberdade de ação. Dessa maneira, a sociedade civil não somente restringe o poder do Estado, mas também legitima a autoridade estatal quando esta se baseia nas regras da lei. (SILVA, 2018). 2.1 Perspectivas sociológicas contemporâneas Conforme Silva (2018) a sociedade civil e as organizações da sociedade civil apresentam um mesmo potencial para desempenhar suas funções, características 19 estruturais internas e suas intenções frente à sociedade moderna, uma das características mais importantes tem a ver com os objetivos e métodos dos grupos na sociedade civil. Nesse contexto, as oportunidades inseridas em sociedade, para desenvolver democracias estáveis, aumentaram significativamente, pois a sociologia vem trazendo a prática democrática. Dessa forma, à medida que um grupo busca conquistar o Estado ou dominar outros que disputam o mesmo espaço de atuação, ou pela não aceitação de normas legais impostas pelo Estado Democrático, o próprio caráter internamente democrático da sociedade civil afeta o grau no qual podem socializar seus participantes em formas de conduta democrática ou antidemocrática. Se os indivíduos ou organizações que compõem a sociedade civil funcionam como grandes escolas livres para a democracia, devem funcionar democraticamente em seus processos internos de decisão, elaboração de políticas e de escolha de seus dirigentes. (SILVA, 2018). Por tudo isso, a sociedade civil não é uma simples categoria residual, sinônimo de sociedade ou de algo que não é o Estado ou o sistema político formal. Além de serem voluntárias,autogeridas, autônomas e autorreguladas, as organizações da sociedade civil são diferentes de outros grupos sociais em vários aspectos, uma vez que a sociedade civil tem a finalidade pública antecedente à privada. Ainda, a sociedade civil deve se relacionar com o estado de certa forma, mas não com o objetivo de obter o poder formal ou o direcionamento do poder estatal. Do contrário, a sociedade civil busca do estado concessões, benefícios, alterações políticas, assistência ou compromissos, por meio de suas organizações e movimentos sociais que tratam de mudar a natureza do Estado, qualificando-se como parte da sociedade civil. Esses esforços visam o bem comum e não a obtenção de poder estatal para o próprio grupo (SILVA, 2018). De acordo com Silva (2018) outra característica é que a sociedade civil implica diversidade. Quanto mais pluralista se torna a sociedade civil sem se fragmentar, mais benefícios trará para a democracia. 20 Essa diversidade auxilia os grupos a sobreviver na sociedade civil e os obriga a aprender a cooperar e articular entre si. À medida que uma organização busca monopolizar um espaço funcional ou político na sociedade, sustentando que concebe a única via legítima, contradiz a natureza pluralista e orientada ao mercado da sociedade civil. Portanto, o pluralismo dentro de um determinado setor, como os direitos humanos, tem efeitos positivos, pois a competição entre diferentes associações num mesmo setor pode contribuir para garantir a responsabilidade e representatividade, proporcionando aos membros a possibilidade de mudar para outras organizações se aquela a que pertencem não cumprir esses requisitos. Por fim, o fator mais importante frente às novas perspectivas da sociedade trata-se da concretização democrática da sociedade civil e da institucionalização política. Esse processo é caminho pelo qual a democracia se amplia e se legitima frente os cidadãos, implicando em mudanças de conduta individuais e institucionais que normalizam as políticas democráticas e diminuem a incerteza. Ou seja, a sociedade civil tem um papel importante na construção e consolidação da democracia, mantendo sua autonomia e não se alienando em relação ao Estado. Quanto mais a sociedade civil for ativa, com recursos, institucionalizada, democrática e efetiva na relação com o Estado, mais contribuirá para a democracia. (SILVA, 2018). 3 RELAÇÃO ENTRE CULTURA E SOCIEDADE A sociologia propõe dois fatos básicos: o comportamento humano mostra regularidade e padrões repetitivos, e os seres humanos são animais sociais, em vez de criaturas isoladas. (CHYNOI, 1975). Quando observamos as pessoas ao nosso redor, é mais provável que percebamos suas características (percepções, sentimentos e reações pessoais, tendências) e singularidade individual, em vez de suas semelhanças. Charles Cooley (1969) diz: 21 Não se dá o caso de que, quanto mais próxima estiver uma coisa do nosso hábito de pensamento, tanto mais claramente vemos o indivíduo? O princípio é muito semelhante ao que faz que todos [os chineses] nos sejam muito parecidos; vemos os tipos por ser tão diferente daquele que estamos acostumados a ver, mas somente quem vive dentro dele é capaz de perceber plenamente as diferenças entre os indivíduos. (COOLEY, 1969) Os aspectos repetitivos do comportamento humano constituem a base de qualquer ciência social. Para explicar as leis óbvias do comportamento humano e os fatos da vida coletiva, os sociólogos criaram dois conceitos, sociedade e cultura. A sociedade humana é inseparável da cultura, e a cultura humana só existe na sociedade.( ESCOSTEGUY, 2006). Conforme o autor citado anteriormente o conceito de relações sociais é baseado no fato de que o comportamento humano enfrenta os outros de inúmeras maneiras. Homens e mulheres não apenas vivem juntos, compartilham pontos de vista, crenças e costumes comuns, mas também se comunicam constantemente uns com os outros e moldam seu próprio comportamento por meio do comportamento e das expectativas dos outros. A interação não é uma ocorrência momentânea, mas um processo contínuo de ação e reação. As relações sociais são compostas de padrões de interação humana. Portanto, de uma perspectiva, a sociedade é uma rede de relações sociais. Uma sociedade é um grupo no qual homens e mulheres vivem juntos, é uma organização limitada a um ou mais objetivos específicos. Em qualquer sociedade, grupos menores podem ser encontrados em grupos maiores e os indivíduos pertencem a vários grupos ao mesmo tempo. Portanto, uma sociedade pode ser analisada de acordo com seus grupos constituintes e suas relações mútuas. Cada sociedade tem um modo de vida ou cultura, que define formas apropriadas ou necessárias de pensamento, comportamento e sentimento. Em sociologia, cultura se refere a todo o conteúdo que um indivíduo aprende como membro da sociedade. Na visão de Taylor (1911), a cultura é um todo complexo, incluindo conhecimento, crenças, arte, moral, leis, costumes e quaisquer habilidades adquiridas pelo ser humano como membro da sociedade (CUCHE, 2002). 22 Para o antropólogo americano George Murdoch, a cultura é amplamente "ideal": refere-se aos padrões, crenças e atitudes sobre os quais as pessoas agem (CUCHE, 2002). A importância da cultura é que ela fornece conhecimento e tecnologia para capacitar os seres humanos a sobreviver física e socialmente e a dominar e controlar o mundo ao seu redor tanto quanto possível. O homem é o único animal culto, aliás, esta é uma das diferenças importantes entre o homem e os outros animais.( ESCOSTEGUY, 2006). Na definição de cultura, é importante aprender e compartilhar ao mesmo tempo. Os comportamentos comuns, embora não sejam aprendidos ou sejam peculiares aos indivíduos, não fazem parte da cultura. No entanto, não apenas comportamentos não aprendidos, como reflexos, mas também traços pessoais podem ser influenciados ou alterados pela cultura. (ESCOSTEGUY, 2006). 3.1 Cultura e identidade brasileiras No planeta em que vivemos, somos todos diferentes. Porque cada um de nós ocupa um espaço no mundo, tanto geograficamente como socialmente. E isso nos permite acessar certos elementos culturais que, se estivéssemos em outro lugar de outra forma, não acessaríamos. Assim, vamos construindo a nossa identidade na sociedade, e nos percebendo como parte da cultura, ao mesmo tempo em que alimentamos essa própria cultura. (BARROSO, 2017). Para o sociólogo Manuel Castells, (2008) a identidade é fonte de significados e experiências de um povo, de uma nação, de uma etnia, de um grupo social que se arquitetam por meio de atributos culturais partilhados, como, por exemplo: língua, dança, música, alimentação, crenças, valores, entre outros. Todos esses elementos configuram o modo de um grupo social ser e se apresentar para o mundo, podendo ter algumas características específicas os quais 23 caracterizam ou ainda mesmo dividem alguns desses elementos com outras sociedades. Portanto, a identidade se refere a como você é identificado em uma determinada cultura, ou seja, ela apresenta suas características em termos do seu reconhecimento no mundo. Deste modo, você é percebido pelos outros a partir dos elementos culturais que manifesta ao mundo, e, por isso, você é reconhecido. Assim, não é sempre que temos o controle sobre como as pessoas nos rotulam. Podemos dizer que esses rótulos são dados a partir de características as quais os outros reconhecem em nós. Em relação a um time, a um gosto musical ou mesmo a estilo de vestimenta, podemos tomar decisões conscientemente de como gostaríamos de ser reconhecidos, entretanto, em relação a outras características nossas, como a altura, a cor da pele ou mesmo condição social, talvez não tenhamos o mesmo controle. Muitas vezes, não vamos simpatizar com os rótulosque são identificados em nós. ( BARROSO, 2017). Ao mesmo tempo, a identidade pode ser partilhada com quem vive da mesma forma que você, seja quando assuma certas posições, seja por conviver em uma mesma situação de faixa etária, de gênero, ou mesmo vivenciando a mesma enfermidade. Essa partilha se realiza por meio dos elementos culturais que o indivíduo divide, conscientemente ou não, com a sociedade a qual ele pertence. Assim, a identidade individual se constrói em meio a identidade coletiva e vice-versa. De acordo com Barroso (2017) conceituando cada termo, podemos dizer que a identidade individual alude aos aspectos culturais aos quais cada pessoa se reconhece como tal, seja por gosto musical, religioso, profissional, entre outros. Esses aspectos podem ser definidos pelas próprias pessoas ou serem percebidos pelos outros como algo que a diferencia do restante da sociedade. Portanto, um conjunto de pessoas pode constituir uma identidade coletiva, uma vez que se reconheçam com algo em comum, seja por ter nascido no mesmo estado, por partilhar a mesma língua ou por gostar do mesmo time. 24 De qualquer modo, compreende-se que identidade de uma etnia, de um povo, de um grupo social é sempre relacional, como nos lembra Barth (1998). Pois o que é construído em uma nação se dá a partir de elementos culturais aceitos ou negados em relação a identificação de outros grupos, podendo modificar-se com o tempo ou até mesmo como é percebido em relação a outros indivíduos ou grupos. Assim, podemos dizer que a identidade de uma sociedade se dá justamente na relação que ela tem com outros grupos sociais a sua volta. Pois, dependendo de quem está por perto, são escolhidas características culturais para evidenciar como essa sociedade pode ser localizada, percebida e analisada. Pode-se destacar um prato típico, uma culinária específica, uma dança tradicional, componentes linguísticos próprios, as formas de se vestir, entre outros. ( BARROSO, 2017). Logo, os elementos que definem a identidade podem ser variados e complexos, de modo que o conjunto deles é que modelam e identificam os grupos e os indivíduos, como reforça Castells (2008, p. 23): A construção de identidades vale-se da matéria-prima fornecida pela história, geografia, biologia, instituições produtivas e reprodutivas, pela memória coletiva e por fantasias pessoais, pelos aparatos de poder e revelações de cunho religioso. Porém, todos esses materiais são processados pelos indivíduos, grupos sociais e sociedades, que organizam seu significado em função de tendências sociais e projetos culturais enraizados em sua estrutura social, bem como em sua visão tempo/espaço. (CASTELLS, 2008) Assim, mostra-se que a identificação por meio da identidade se dá por um composto de elementos que, conjuntamente, definem aspectos culturais dos indivíduos ou grupos sociais. Ao mesmo tempo, alguns aspectos culturais que conformam a identidade podem ser modificados com o passar dos tempos pela dinamicidade em questão, como povos indígenas originários de determinado lugar e que mudam de local de moradia devido à escassez de alimento. 25 Falando mais especificamente das nações e da construção de identidade nacional, podemos dizer que o sentimento de um povo é construído com base em suas lutas socio-históricas, evidenciando suas conquistas e os melhores feitos diante de disputa com outras nações como produto de uma memória coletiva e seletiva de fatos vividos que orgulhem seu povo. Esse sentimento de identidade de um povo une os membros de um mesmo grupo social, reproduzindo e reforçando suas práticas sociais, que os identificam entre outras partes do mundo. ( BARROSO, 2017). Assim, a língua, o local e a história podem consolidar a imagem que se tem de uma nação, fazendo com que os indivíduos que lá estão se sintam parte integrante de uma sociedade ou nação. Como nos lembra Reinheimer (2007, p. 166), “[...] a identidade nacional precisa ser observada a partir das situaçõesm específicas nas quais ela foi acionada como forma de escapar à naturalização e à reificação que o conceito pode acarretar.”. Ou seja, para pensar em identidade nacional, temos de pensar em que sentido ela foi acionada e como podemos elucidar os componentes que identificam a nação, de modo que os membros da sociedade em questão se reconheçam através desses elementos. Segundo Barroso, 2017 também podemos dizer que a identidade também pode ser disputada, já que o modo como as indivíduos e grupos são reconhecidos no mundo permitem diferentes acessos ao que está disponível no mundo. Ou seja, ser percebido como uma nação rica, segura e poderosa pode facilitar relações comerciais com outros países, enquanto que, ser considerada uma nação violenta e pobre, pode não ter a mesma facilidade. Todavia, como a identidade não é estática, a nação rica tem que continuar se esforçando para manter o modo como é vista, e a nação desfavorecida vai tentar transformar a forma como é percebida pelas outras sociedades. Interessa para Barth (1998) pensar essas “fronteiras étnicas” de um grupo social com o objetivo de compreender as dinâmicas do grupo que estão, constantemente, em interação com outros grupos, pois é por meio desse contato que a sua identidade é definida. 26 Nesse sentido, cada grupo evidencia o que é diferente entre eles a fim de caracterizar e explicitar a especificidade que compartilha entre seus membros. Assim, essas características são como uma marca que rotulam o indivíduo ou grupo social. Para além da questão econômica, há um conjunto de sentimentos que fazem com que seus membros se identifiquem com o seu país, favorecendo a integração nacional enquanto território reconhecido pela nação como tal. Nesse sentido, a união das partes territoriais integradas favorece que seus habitantes tenham consciência de unidade. Esse amálgama decorrente da convivência no mesmo território evidencia a nação, coforme menciona Moreno (2014, p. 18), a nação seria: [...] uma “comunidade imaginada” – como o são todas as sociedades, necessariamente, uma estrutura social e um artifício de imaginação (Balakrishnan, 2000, p. 216) – e alicerçada sobre as transformações geradas por novas relações sociais de produção que despontam com a modernidade. (MORENO, 2014) Nesse sentido, o que se entende por nação não é algo homogêneo e pronto, mas perpassa conquistas, disputas e contestações que o próprio povo vivenciou a favor da constituição e da construção de uma identidade comum. Também não quer dizer que todos os membros tenham uma identidade única. Eles partilham sobre o que é seu patrimônio cultural, os seus hábitos e modos de vida, o território em que estão aglutinados, entretanto, podem ter diferenças claras no que refere à gênero, raça e classe. Desse modo, vemos que um povo destaca sua semelhança quando é preciso lutar pelo bem comum, mas que os seus membros podem ser diferentes e ocupar posições sociais desiguais. Importa como falam de sua nação e como constroem a sua identidade nacional a partir do que tem em comum. Dependendo do que viverem juntos, esse discurso pode ser modificado, alterado e até mesmo corrompido. Logo, para refletir sobre identidade nacional, devemos analisar como diz Moreno (2014, p. 27-28): 27 Na atualidade, há, portanto, que se considerar uma longa trajetória de discursos de identidade nacional, veiculados no decorrer do tempo, que funcionam como uma história incorporada à qual não se pode desprezar. [...] A eficácia discursiva, simbólica e política de novas representações identitárias dependerá do diálogo estabelecido com elementos de permanência de longo prazo, dentro das condições e limites dados por conjunturas específicas. (MORENO, 2014) No Brasil, a identidade nacional vem acompanhada de um sentimento comum entre os brasileiros. São aproximadamente200 milhões de pessoas habitando um dos 25 estados ou o Distrito Federal. Apesar das especificidades regionais, esses habitantes dividem a mesma língua, a mesma história e alguns aspectos culturais, como vamos caracterizar adiante. Conforme Barroso (2017) a identidade brasileira é compartilhada entre quem habita, ou possui laços, com a cultura vivenciada no Brasil. Também aqueles nascidos no país e que imigram para outras partes do mundo se reconhecem como brasileiros, ou ainda estrangeiros que vieram para cá e compartilham da identidade dos brasileiros, por estarem aculturados. O território brasileiro foi ocupado pela colonização portuguesa a partir de 1500, em meio a disputas do espaço com povos indígenas e outros países que tentaram colonizar o local, como a Espanha, Holanda e França. Diante do poderio de armas de fogo dos portugueses e da organização político-econômica, escravizou-se os povos indígenas e ainda trouxeram negros escravizados do Continente Africano. Assim, a formação do povo brasileiro foi constituída por povos dessas três origens: indígenas, europeus e africanos. Entre disputas e conquistas, cada povo que firmou morada no Brasil colaborou na formação do que hoje é entendido como o povo brasileiro, contribuindo, assim, com diversos elementos culturais que, atualmente, identificam a nossa cultura e a nossa identidade. Seja através da língua que falamos, da comida que comemos, do modo como nos vestimos, das religiões que temos, das músicas que escutamos, dos esportes que praticamos, partilhamos e dividimos aspectos comuns da cultura. 28 Logo, é preciso dizer que não precisamos partilhar de todos elementos da cultura nacional para termos uma identidade brasileira. Não é por que somos brasileiros que gostamos de carnaval ou mesmo de futebol, mas ao compartilharmos nossa história, nossa língua e aspectos da cultura partilhamos de um sentimento nacional, de um discurso específico, de uma sensação comum que nos torna pertencentes a identidade brasileira. A identificação e a valorização dessa identidade estabelecem uma integração nacional pela qual seus membros lutam e defendem suas fronteiras. Na escola, somos estimulados a cantar o hino nacional e a ter respeito pela bandeira que nos representa. Então, de forma consciente e inconsciente, vamos aderindo e adorando a pátria. ( BARROSO, 2017). A identidade individual é perpassada pela identidade nacional, de modo que, enquanto construímos a nossa identidade, estamos construindo essa identidade coletiva também. Assim, quando vamos para outros países, carregamos conosco a identidade nacional, e mesmo que não sejamos iguais a todos os brasileiros, reconhecemos elementos culturais comuns entre aqueles que tenham habitado qualquer parte do Brasil. 3.2 Globalização e identidade cultural A globalização é um fenômeno que marca o século XXI, é caracterizada pela aceleração das relações e pelo desenvolvimento de redes de troca de produtos, serviços e informações. Graças à globalização, é mais fácil acessar informações e culturas das mais diversas regiões do mundo sem precisar viajar. Assim, a globalização influencia muito a formação de identidades culturais. (SCOPELL, 2019). Atualmente, a globalização, o avanço das tecnologias, as novidades mercadológicas e o cenário de desenvolvimento levam a uma reflexão: como tudo isso interfere nas formas de adquirir e entender a cultura e as identidades culturais? 29 As identidades culturais, segundo Rodrigues (2019), são um assunto complexo e que está constantemente presente na área das ciências sociais. Veja o que o autor afirma: De forma geral, entende-se por identidade aquilo que se relaciona com o conjunto de entendimentos que uma pessoa possui sobre si mesma e sobre tudo aquilo que lhe é significativo. Esse entendimento é construído a partir de determinadas fontes de significado que são construídas socialmente, como gênero, nacionalidade ou classe social, e que passam a ser usadas pelos indivíduos como plataforma de construção de sua identidade (RODRIGUES, 2019, documento on-line). Como tal, a identidade cultural preocupa-se em construir uma identidade para cada pessoa face ao contexto cultural em que vive: “A identidade cultural diz respeito à forma como vemos o mundo exterior e como o vemos em comparação com este. [...]” (RODRIGUES, 2019). Sousa (2019) ainda acrescenta o seguinte: A identidade cultural é um conjunto vivo de relações sociais e patrimônios simbólicos historicamente compartilhados que estabelece a comunhão de determinados valores entre os membros de uma sociedade. Sendo um conceito de trânsito intenso e tamanha complexidade, podemos compreender a constituição de uma identidade em manifestações que podem envolver um amplo número de situações que vão desde a fala até a participação em certos eventos. (SOUSA, 2019) Como se pode observar, é possível mudar e desenvolver identidades culturais, à medida que as pessoas vivem, vivenciam e absorvem novas experiências. Sousa (2019) acrescenta ainda que a identidade cultural se forma quando as pessoas expressam as suas características e se integram com o mundo exterior. A identidade cultural está diretamente ligada ao espaço sideral. Assim, o cenário passou a servir de base para identidades culturais. Atualmente, devido à globalização, o ritmo da vida diária e os hábitos de trabalho estão se acelerando cada vez mais. Os humanos estão recebendo informações e estímulos sensoriais o tempo todo, em alta velocidade e em alto volume. Nesse cenário de processos instantâneos, o tempo e o espaço ganham novos significados: 30 O volume e a velocidade das informações em circulação determinam de forma decisiva o universo cultural da humanidade, gerando mutações no comportamento individual e comunitário. Todos se perguntam como sobreviver em um ambiente caótico e, ao mesmo tempo, muito interessante. [...] (MELO, 1998, p. 21). Tigueiro (2019) destaca que a atualidade é marcada por profundas mudanças na expressão e compreensão cultural, principalmente pelo fato de não haver mais lugar para as teorias lineares. O mundo de hoje é marcado pela diversidade em seus mais variados aspectos. Segundo o autor, isso cria uma nova fonte de referência para todos. Além disso, para ele: A globalização é um fenômeno irreversível, a sociedade tem que encontrar o caminho certo da convivência com a nova realidade que se aproxima. Sem dúvida, o século XX ficará marcado na agenda histórica como a época das grandes transformações geopolíticas, socioeconômicas, tecnológicas, da globalização, da comunicação e das culturas [...] (TIGUEIRO, 2019, documento on-line). Alguns autores afirmam o seguinte com relação ao cenário globalizado: Neste fim de século prevalece a tese de que o processo de globalização dos mercados há de se impor no mundo todo independentemente da política que este ou aquele país venha a seguir. Trata-se de um imperativo tecnológico, semelhante ao que comandou o processo de industrialização que moldou a sociedade moderna nos dois últimos séculos. (FURTADO, 1998. apud. SCOPELL, 2019) É importante notar que a identidade cultural, por muito tempo, não é profundamente percebida. No entanto, à medida que as sociedades se desenvolveram e se modernizaram, começaram a surgir preocupações sobre como esses avanços tecnológicos poderiam afetar a criação de identidades culturais. Segundo Sousa (2019), neste contexto, a maioria dos investigadores defende a preservação global das tradições culturais, o que segundo esses pesquisadores mais conservadores, faz com que a globalização dificulte a formação de identidades culturais sólidas, principalmente pela variedade de expressões que apresenta, o que torna a cultura absolutamente nada possível. 31 Porém, existe outra corrente, mais atualizada, que acredita que o desenvolvimentotecnológico possibilita a elaboração de novos conceitos sobre a identidade cultural. [...] muito em voga com o desenvolvimento da globalização, a identidade cultural não pode ser vista como sendo um conjunto de valores fixos e imutáveis que definem o indivíduo e a coletividade da qual ele faz parte [...] (SOUSA, 2019). Um dos autores que defende a relação entre globalização e identidade cultural é Canclini (1981), ele acredita que as identidades não devem ser pensadas como um patrimônio a ser preservado, mas que as modificações na sociedade permitem a formulação de novas identidades. Considere ainda o que afirma Sousa (2019): Com esses referenciais, antigos problemas que organizavam os estudos culturais perdem a sua força para uma visão de natureza mais ampla e flexível. A antiga dicotomia que propunha a cisão entre “cultura popular” e “cultura erudita”, por exemplo, deixa de legitimar a ordenação das identidades por meio de pressupostos que atestavam a presença de esferas culturais intocáveis em uma mesma sociedade. Além disso, outras investigações cumpriram o papel de questionar profundamente o clássico conceito de aculturação. (SOUSA, 2019) Como tal, a globalização tem um impacto positivo e negativo na identidade cultural. No sentido negativo, prejudica a cultura, pois as pessoas evitam visitar lugares físicos, preferindo lugares virtuais. Além disso, as pessoas evitam participar de eventos menos tecnológicos, o que limita sua capacidade de vivenciar altas culturas. Por outro lado, os aspectos positivos da globalização envolvem o fácil acesso a diferentes culturas com rapidez e a democratização via Internet, por exemplo. (SCOPELL, 2019). É importante você ter em mente que o mundo globalizado é a realidade atual. Portanto, é preciso considerar esse contexto e aliá-lo à formação das identidades. A ideia é evitar os aspectos negativos na medida em que a valorização dos patrimônios seja mantida e divulgada. Nesse contexto, os elementos tecnológicos podem servir para que as culturas não se percam. Além disso, as culturas podem ser menos rígidas, possibilitando novos tipos de manifestações. 32 Ao falar sobre cultura e identidade cultural, é importante entender que a cultura não se perderá e que a identidade cultural pode se desenvolver ao longo do tempo com base na participação e experiência de todos. Portanto, a cultura não é algo fixo ou imutável, mas é moldada de acordo com a experiência das pessoas na sociedade. Escritores como Zygmunt Bauman, da Polônia, acreditam que a cultura é tão flexível que pode ser comparada à água, que está sempre mudando. Para Bowman, a "mobilidade social" ocorre por meio de vários processos, como a adaptação cultural. Quando duas ou várias sociedades de culturas diferentes entram em contato e aceitam suas diferenças, ocorre a adaptação cultural. (Rodriguez, 2019). 3.3 Disseminação da cultura: do local para o global A globalização está cada vez mais enraizada na sociedade e continua a promover mudanças sociais drásticas. No campo cultural, isso também está acontecendo de diferentes maneiras. Gioielli (2004) destacou que, por um lado, é divulgar a cultura por meio da globalização e, por outro, valorizar a cultura local, resgatando as tradições e as peculiaridades de cada expressão cultural. O autor acredita que, diante desta situação, é necessário refletir sobre os diversos processos relacionados à formação das identidades culturais no mundo contemporâneo: “Se as identidades são protegidas nas diversas culturas locais ao longo da modernidade, com a consolidação da cultura global, mundo, estão sendo questionados e movidos para encontrar novas configurações [...] ” (GIOIELLI, 2004). Portanto, à medida que a globalização finalmente expande a comunicação e a rede de construção de significados, a disseminação cultural atual se dá em um fluxo global. Veja: Com isso, aquela que era a configuração hegemônica da identidade cultural durante toda a modernidade, a local, entrou em uma forte crise de significação, o que tem transformado decisivamente as percepções dessa questão. Dizer que um sujeito é brasileiro, inglês ou japonês já não diz muito no mundo global. Sabe-se que no interior de cada nação, ou 33 perpassando por várias delas, há outras redes de significado sustentando outras posições de sujeito que se apresentam mais relevantes (GIOIELLI, 2004 apud SCOPELL, 2019). Como se pode ver, com o advento da globalização, o que antes era uma cultura local, privada e profundamente enraizada, acabará por cruzar fronteiras e se projetar em escala global. Seja pela publicidade, pelos meios virtuais ou pela velocidade de divulgação das informações, os costumes das pessoas, as edificações e até as atividades culturais podem ser facilmente projetadas em escala global. Portanto, “o que se observa é que, ao romper a identidade com a nacionalidade, ela vive um rico período de experimentação, mistura e divisão, o que diversifica sua configuração. [...]” (GIOIELLI, 2004). Segundo Gioielli (2004), Atualmente existe um processo de reconstrução identidade a decorrer através da difusão de novas culturas, neste contexto é necessário revisitar os modelos tradicionais que já não bastam para fazer face à diversidade de gostos, estilos e aparências dos dias de hoje. Gioielli (2004) também destaca que o cenário globalizado possibilita novas interações e a criação de contextos nos quais as pessoas na sociedade podem se aceitar e se afirmar, concordando ou não com uma cultura congelada. Canclini (1981) acredita que a projeção das culturas locais para um campo global colabora para se redescobrirem particularidades e diferenças de cada local. Como afirma Souza (2019). O processo de globalização estabelece uma nova relação entre as culturas locais e a cultura global. A disseminação da cultura mundializada influencia os padrões de comportamento, provocando uma valorização da tradição e um fortalecimento dos regionalismos manifestos na identidade cultural [...]. (SOUZA, 2019). Assim, cada cultura local e nacional apresenta elementos simbólicos que são projetados e impressos globalmente em uma sociedade moderna. Segundo Ortiz (2003), a difusão da cultura não é homogênea ou única. Isso acontece por meio de uma reconstrução em que os sentidos se misturam e novas relações se formam. 34 Portanto, a difusão da cultura do local para o global tem dois aspectos. Por um lado, a fácil difusão da cultura possibilita o estudo e o conhecimento dos mais diversos hábitos culturais de diferentes partes do mundo, como a culinária, a língua, a arte, a música e o vestuário. O que acontece não é apenas o acesso a essas informações, mas também a troca fácil e rápida. A desvantagem, no entanto, mostra que é importante garantir que esses novos padrões não impeçam manifestações locais no ponto em que se perdem na história. Considere ainda que a mídia, dentro dessa perspectiva, aparece como aparato facilitador e assume o papel de disseminar os objetivos desse novo paradigma de sociedade. São os meios através dos quais as informações em todas as suas dimensões são transmitidas e perigosamente controladas por um grupo a partir de seus interesses [...] (LIMA; NASCIMENTO: FARIAS, 2016 apud SCOPELL, 2019). Para Hall (2003), O que acontece neste momento de reconstrução cultural é um processo denominado “tradução”. O autor acredita que hoje existe um cenário em que todos ou cada grupo pode se declarar ou se adaptar a uma nova cultura, a partir da manutenção de formas tradicionais de expressão. Portanto, ao compartilhar esses mundos multiculturais (aqui considerados como espaços representativos), novas comunidades estão surgindo e identidades contemporâneas estão se consolidando, o que parece interessante. Na mídia, nas redes de computadores, na publicidade e na moda, formou-se um ambientecultural que sustenta a prática de vida, o comportamento, o pensamento e o gosto. É por meio da aquisição de mercadorias materiais e simbólicas e seu consumo por públicos específicos que essas práticas parecem formar novas comunidades em escala global. (GIOIELLI, 2004). No processo de globalização, os mercados de diferentes países e regiões influenciam-se mutuamente, reunindo commodities, informações e pessoas. Os costumes, tradições, alimentos e produtos típicos de um determinado lugar agora 35 estão aparecendo em lugares completamente diferentes. A quebra de fronteiras levou à expansão do capitalismo. Portanto, transações financeiras e expansão dos negócios podem ser realizadas. Os principais fatores que caracterizam a formação da globalização são: economia, cultura e informação. A seguir, você pode conhecer melhor os principais tipos de globalização (TIGUEIRO, 2019). Globalização econômica: o surgimento dos blocos econômicos países que se juntam para fomentar relações comerciais, como é o caso do Mercosul e da União Europeia foi resultado desse processo. Globalização cultural: a aproximação entre as diferentes nações do mundo também proporcionou a troca de costumes, culturas e tradições típicas. Estas, por sua vez, passam pelo processo de aculturação, que ocorre quando vários elementos culturais são misturados, criando uma espécie de mutação das culturas. Globalização da informação: o desenvolvimento das tecnologias de informação, com destaque para o advento da internet, foi o principal responsável pelo surgimento desse tipo de globalização. 4 O PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO E A FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE Ainda antes de nascermos somos seres em relação com o mundo. Primeiro somos gerados pelo imaginário materno, cultivados por meio da noção de mundo desse imaginário. Logo ao nascermos, iniciamos nossa jornada social. Somos atravessados pelas demandas familiares, somos frustrados por tais demandas ou temos sanado nossos desejos. Ou seja, nos constituímos na relação com o mundo influenciado pelas relações anteriores a nossa constituição. (AZEVEDO, 2020). O sujeito enquanto ser social reflete seu universo psíquico por meio do seu comportamento, expressando sua subjetividade conforme seu modo de agir. 36 Atravessado por suas escolhas e implicações ao mesmo tempo em que se relaciona com o mundo. Genuíno, efetivo, autêntico, assim o ser social é captado e dialeticamente integrado ao viver. Possui capacidade inerente de transmutar a própria natureza e a si mesmo sincronicamente. Dessa forma, o ser social se constitui como ser criador, não somente por sua capacidade de pensar, mas também por sua capacidade de agir de forma consciente e racional BARUS-MICHEL, (2004 apud (AZEVEDO, 2020). O ser social se constitui de acordo com sua natureza relacional, assim sendo, a partir das relações com outros sujeitos, tomando para si a realidade vivenciada por culturas anteriores ao seu existir. Desfruta da oportunidade de experimentar o manuseio dos instrumentos e dos aprendizados cultivados pelas gerações anteriores, com o objetivo de adaptar, aprimorar ou mesmo perpetuar os conhecimentos. As relações sociais também são prévias e inerentes a todo sujeito. Por exemplo, seu histórico familiar, a história do local em que vive os acontecimentos sociais, entre outros, colocam o sujeito em constante movimento e transformação na construção do ser social. O universo interior de todos os sujeitos se forma de acordo com questões provindas da cultura humana, ou seja, muitas das formas de agir e pensar de todo sujeito surgem de acordo com movimentos vindos de sua relação com o mundo e são importadas para a estruturação do ser social. Assim, o ser social está em constante formação por meio das relações sociais provindas do tempo presente ou do passado. E se disponibiliza por meio da conexão com sua própria subjetividade e com a subjetividade inerente às vivências sociais. Passa adiante sua herança social em progressiva vinculação com o mundo exterior e com a continuidade da movimentação da cultura humana BARUS-MICHEL, (2004 apud AZEVEDO, 2020). 37 4.1 O indivíduo: ser social Através das relações sociais ”. O homem, desde o início, é considerado como uma entidade de relações sociais, incluindo normas, valores válidos na família, entre seus colegas, em comemoração à empresa. Assim, segundo Savoia (1989, p. 5), a formação da personalidade humana é o resultado de "um processo de socialização, no qual intervêm fatores inatos e adquiridos". Inato, queremos dizer o que herdamos geneticamente de membros de nossa família, e adquirido de cunho social e cultural. O homem é um animal que depende da interação para receber afeto, cuidados e até mesmo para se manter vivo. O homem deve se relacionar com os outros por diversos motivos: necessariamente para se comunicar, aprender, ensinar, para dizer que ama o próximo, para exigir melhores condições de vida, bem como melhorar seu ambiente externo, para expressar seus desejos e anseios. Vivemos em grupos diferentes (família, vizinhos, amigos, trabalho, igreja) nos quais interagimos e crescemos, os diferentes grupos sociais influenciam a vida do indivíduo. O indivíduo tem, para si, claras as características que o diferencia dos demais, como seus fatores biológicos, seu corpo físico, seus traços, sua psiquê que envolve emoções, sentimentos, volições, temperamento. Todavia, o indivíduo, como objeto de estudo da psicologia social e da sociologia, é considerado, segundo Ramos (2003, p. 238), da seguinte maneira: Indivíduo dentro dos seus padrões sociais, vive em sociedade, como membro do grupo, como “pessoa”, como “socius”. A própria consciência da sua individualidade, ele a adquire como membro do grupo social, visto que é determinada pelas relações entre o “eu” e os “outros”, entre o grupo interno e o grupo externo. (RAMOS, 2003) Entende-se por grupos internos o grupo de família, da escola. São os grupos de igualdade de atitudes, de opiniões. Já os grupos externos correspondem a grupos no qual não pertencemos, como por exemplo, as famílias que passam nas ruas, que encontramos em clubes sociais e esportivos, etc. 38 Então, quando estudamos sobre o indivíduo, percebemos a forma como ele organiza o seu pensamento, seu comportamento. Assim, iremos concluir que essa construção e organização ocorrem, a partir do contato que tem com o outro. Por isso, temos a necessidade de estudar não só o indivíduo enquanto ser social, mas este influenciado por padrões culturais diante da sociedade em que vive, pois a cultura fornece regras específicas. Assim, para compreendermos o indivíduo e a sociedade, precisamos entender a cultura à qual pertencemos. 39 5 REFERÊNCIAS ARISTOTELES. Ética a Nicômaco. Sao Paulo: Martin Claret, 2010. AZEVEDO, Vanessa. O processo de socialização e a formação da personalidade. Porto Alegre, 2020. BALAKRISHNAN, G. Um mapa da questão nacional. Rio de Janeiro: Contraponto, 2000. BARROSO, Priscila Farfan. 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