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0 
 
 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
1 
 
CLÁUDIA MARIA DA SILVA SANTOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ÁGUA BRANCA-PI 
2020 
Fonte: http://cultura.culturamix.com/historia/cultura-antropologia 
 
2 
 
 
 
 
 
SANTOS, Cláudia Maria da Silva. 
 Antropologia Cultural. 1ª ed. Água Branca; FAS – Cursos de Graduação. 99p. 
 
Bibliografia 
 
1. Pedagogia 2. Educação 3. Título. 
 
 
Ficha Catalográfica 
 
Todos os direitos em relação ao design deste material são reservados à FAS. 
Todos os direitos quanto ao conteúdo deste material são reservados ao autor. 
Todos os direitos de Copyright deste material didático são à FAS. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Diretor Geral 
Francisco Edesio Carlos Soares
 
 
 
Secretária Acadêmica 
Joselina da Silva Costa 
3 
 
 
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09 
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15 
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20 
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4 
 
 
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73 
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75 
75 
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91 
93 
94 
97 
97 
98 
5 
 
 
A concretização de um curso superior em Pedagogia na modalidade à 
distância tem como meta o atendimento às necessidades de toda comunidade 
quanto ao acesso e atendimento ao um ensino superior de qualidade. Desse modo, 
propõe-se a importância para o curso de Pedagogia numa perspectiva histórico-
cultural, tendo como eixo articulador a interdisciplinaridade e a busca da construção 
de um currículo integrador. 
As disciplinas pedagógicas que formulam o currículo foram moldadas para 
uma sociedade cujo princípio da qualidade torna-se prioridade a partir da relação 
teoria-prática de um trabalho docente de qualidade que procure satisfazer as 
necessidades de aprendizagem, enriquecendo as experiências do educando no 
processo educativo. 
É dentro desta ideia que o curso de Pedagogia da FAS na modalidade à 
distância constitui-se de uma base comum formada pelos conhecimentos de 
ciências humanas aliadas a tecnologia, de uma parte diversificada com uma 
ampliação dos fundamentos na leitura do fazer pedagógico dentro da escola e da 
sociedade e uma parte complementar com o objetivo de trabalhar os problemas 
educativos da realidade educacional em vista a qualificação do professor com novas 
formas de intervenções como aplicações de ferramentas metodológicas. 
A FAS tem como recurso didático-educacional o uso de materiais como 
apostilas/livros, plataformas virtuais, internet, vídeos e principalmente um excelente 
sistema de acompanhamento à distância através de tutores e monitores. É válido 
salutar que este curso otimiza sempre seus resultados pelas experiências existentes 
e atendem a ampla procura de profissionais da área educacional. 
Os profissionais da área da educação serão orientados a sempre desenvolver 
a capacidade de intervenção científica e técnica assegurando a reflexão critica 
permanente sobre sua prática e realidade educacional historicamente 
contextualizada. O que espera deste docente é sua capacidade de (re) construir seu 
projeto pessoal e profissional a partir da compreensão da realidade histórica e 
profissional diante das políticas que direcionam as práticas educativas na sociedade. 
 
6 
 
 
A experiência de trabalhar a disciplina de Antropologia Cultural é realmente 
intrigante, portanto é imprescindível que obtenhamos conhecimentos específicos 
para desenvolver nossas atividades, mas sem ficarmos restritos a estes 
conhecimentos. 
Diante disso, a disciplina de Antropologia Cultural visa possibilitar a 
construção de um estudo antropológico básico, fundamentado em uma aproximação 
das abordagens teóricas e metodológicas de pesquisa que ofereça ao acadêmico 
autonomia na análise de questões ligadas a cultura, identidade e alteridade, além de 
permitir uma compreensão de conceitos da Antropologia para a prática docente, 
estimulando leituras sobre a escola e a educação. 
Portanto, fique atento ao material e siga a sequência proposta para seus 
estudos, acompanhe as atividades sugeridas, de forma a aprimorar e aprofundar seu 
aprendizado. Os conteúdos serão divididos em temas que serão trabalhados ao 
longo do semestre entre eles a Pré Historia da Antropologia, Cultura: Conceitos 
Básicos e Perspectivas Principais, Cultura na Construção dos Indivíduos (as 
identidades) Cultura Estruturante, Abordagem Antropológica da Educação: 
Contribuições para as Análises Sociais, Diversidade Cultural no Mercado de 
Trabalho, Dimensão simbólica do conceito de cultura, dentre outros. 
Para que o aluno tenha um melhor aproveitamento da disciplina, optamos 
trabalhar desta maneira, pois acreditamos que essa organização irá proporcionar um 
maior entendimento do conteúdo, fornecendo as bases necessárias para o 
entendimento da realidade brasileira e mundial. 
Esperamos com isso, que o aluno faça boas reflexões, consiga aprimorar seu 
conhecimento com qualidade e eficiência e ao mesmo tempo aplicar em seu 
cotidiano esses conhecimentos adquiridos. 
 
Organizadora: Profª Ma: Cláudia Maria da Silva Santos 
 
7 
 
 
8 
 
 
UNIDADE 01 
 
Pré – História da 
Antropologia 
 
 
Fonte: https://pt.slideshare.net/pedromaat/histria-da-antropologia-cultural 
9 
 
Antropologia Cultural 
 
1. Pré-história da Antropologia 
 
O Renascimento explora espaços ainda desconhecidos e inicia discursos 
sobre habitantes que povoam aqueles lugares. A grande questão colocada é a 
seguinte: aqueles que acabaram de serem descobertos pertencem à humanidade? 
O selvagem tem uma alma? O pecado original também lhe diz respeito? 
Percebemos que, se no século XIV a questão é colocada, não chega a ser 
solucionada. Ela será definitivamente resolvida apenas dois séculos depois. 
Nessa época é que se inicia um esboço sobre as duas ideologias 
concorrentes: a recusa do estranho, apreendido a partir de uma falta, e cujo 
corolário é a boa consciência que se tem sobre si e sua sociedade; e a fascinação 
pelo estranho, cujo corolário é a má consciência que se tem sobre si e sua 
sociedade. 
Desde a metade do século XIV, no debate que se torna uma controvérsia 
pública entre o dominicano Las Casas e o jurista Sepulvera, estão 
colocados os próprios termos dessa dupla posição. Las Casas cita que 
“Àqueles que pretendem que os índios sejam bárbaros, responderemos que 
essas pessoas têm aldeias, vilas, cidades, reis, senhores e uma ordem 
política que, em alguns reinos, é melhor que a nossa”. LAPLATINE (1988, 
p.38), 
 
Sepulvera relata que “Aqueles que superam os outros em prudência e razão, 
mesmo que não sejam superiores em força física, são, por natureza, os senhores; 
ao contrário, porém, os preguiçosos, os espíritos lentos, mesmo que tenham as 
forças físicas para cumprir todas as tarefas necessárias, são por natureza servos” 
As ideologias que estão por trás desse duplo discurso, permanecem vivas 
hoje, quatro séculos depois da polêmica que opunha Las Casas a Sepulvera 
(LAPLATINE, 1988, p.39). 
 
1.1 A figura do mal selvagem e do bom civilizado 
 
A antiguidade grega designava sob o nome de bárbaro tudo o que não 
participava da helenidade (em referência à inarticulação do canto dos pássaros 
opostos à significação da linguagem humana), o Renascimento, dos séculos XVII e 
XVIII falavam de naturais ou de selvagens, opondo assim a animalidade à 
10 
 
Antropologia Cultural 
 
humanidade. Para Laplatine (1988, p.40) o termo primitivo é que triunfará no século 
XIX, enquanto na época atual optamos por subdesenvolvidos. 
Entre os critérios utilizados a partir do século XIV pelos europeus para julgar 
se convém conferir aos índios um estatuto humano, além do critério religioso, 
citaremos: 
 A aparência física: eles estão nus ou “vestidos de peles de animais”; 
 Os comportamentos alimentares: eles “comem carne crua”, e é todo o 
imaginário do canibalismoque irá aqui se elaborar; 
 A inteligência tal como pode ser apreendida a partir da linguagem: eles falam 
“uma língua ininteligível”. 
Assim, não tendo alma, não acreditando em Deus, sendo assustadoramente 
feio, não tendo acesso à linguagem e alimentando-se como um animal, o selvagem 
é apreendido nos modos de um bestiário. E esse discurso sobre a alteridade, que 
recorre constantemente à metáfora zoológica, abre o grande leque das ausências: 
sem arte, sem objetivo, sem moral, sem religião, sem razão, sem consciência, sem 
lei, sem escrita, sem Estado, sem passado, sem futuro. De acordo com Laplatine 
(1988, p.41), Cornelius de Pauw acrescentará até, no século XVIII: “sem barba”, 
“sem sobrancelhas”, “sem pelos”, “sem espírito”, “sem ardor para com sua fêmea”. 
Para o autor Laplatine (1988, p.43), existem os seguintes aspectos: 
1. De Pauw nos propõe suas reflexões sobre os índios da América do 
Norte. Sua convicção é a de que sobre estes últimos a influência da 
natureza é total, ou mais precisamente negativa. Se essa raça inferior 
não tem história e está para sempre condenada por seu estado 
“degenerado”, a permanecer fora do movimento da História, a razão 
deve ser atribuída ao clima de uma extrema umidade. Eles têm, 
prossegue Pauw, um “temperamento tão úmido quanto o ar e a terra 
onde vegetam” e que explica que eles não tenham nenhum desejo 
sexual. Em suma, são “infelizes que suportam todo o peso da vida 
agreste na escuridão das florestas, parecem mais animais do que 
vegetais”. 
2. Ideias que serão retomadas e expressas nos mesmos termos em 1830 
por Hegel, o qual, em sua Introdução à Filosofia da História, nos expõe o 
horror que ele ressente frente ao estado de natureza, que é o desses 
povos que jamais ascenderão à “história” e à “consciência de si”. 
11 
 
Antropologia Cultural 
 
Na leitura dessa Introdução, a África, e, em especial, a África profunda do 
interior, onde a civilização nessa época ainda não penetrou que representa para o 
filósofo a forma mais nitidamente inferior entre todas nessa infra-humanidade. 
Tudo, na África, é nitidamente visto sob o signo da falta absoluta: os “negros” 
não respeitam nada, nem mesmo eles próprios, já que comem carne humana e 
fazem comércio da “carne” de seus próximos. Vivendo em uma ferocidade bestial 
inconsciente de si mesma, em uma selvageria em estado bruto, ele não tem moral, 
nem instituições sociais, religião ou Estado. Petrificados, em uma desordem 
inexorável, nada, nem mesmo as forças da colonização, poderá nunca preencher o 
fosso que os separa da história universal da humanidade. 
 
 
 
 
1.1.1 A figura do bom selvagem e do mau civilizado 
 
A figura de uma natureza má na qual vegeta um selvagem embrutecido é 
suscetível de se transformar em seu oposto: a da boa natureza dispensando suas 
benfeitorias a um selvagem feliz. Os termos da atribuição permanecem da mesma 
forma que o par constituído pelo sujeito do discurso (o civilizado) e seu objeto (o 
natural). O caráter privativo dessas sociedades sem escrita, sem tecnologia, sem 
economia, sem religião organizada, sem clero, sem sacerdotes, sem polícia, sem 
Fonte: http://mylivremente.blogspot.com.br/2014_04_22_archive.html 
12 
 
Antropologia Cultural 
 
leis, sem Estado não constitui uma desvantagem. O selvagem não é quem 
pensamos. 
A figura do bom selvagem só encontrará sua formulação mais sistemática e 
mais radical dois séculos após o Renascimento: no rousseauísmo do século XVIII, e, 
em seguida, no Romantismo. 
Para Laplatine (1988, p.47), toda a reflexão de Léry e de Montaigne no século 
XVI sobre os “naturais” baseia-se sobre o tema da noção de crueldade respectiva de 
uns e outros, e, pela primeira vez, instaura-se uma crítica da civilização e um elogio 
da “ingenuidade original” do estado da natureza. Léry, entre os Tupinambás, 
interroga-se sobre o que se passa “aquém”, isto é, na Europa. Ele escreve, a 
respeito de “nossos grandes usuários”: “Eles são mais cruéis do que os selvagens 
dos quais estou falando”. E Montaigne, sobre esses últimos: “Podemos, portanto de 
fato chamá-los de bárbaros quanto às regras da razão, mas não quanto a nós 
mesmos que os superamos em toda sorte de barbárie”. 
O selvagem ingressa progressivamente na filosofia, nos salões literários e nos 
teatros parisienses. Em 1721, é montado um espetáculo intitulado O Arlequim 
Selvagem. O personagem de um Huron trazido para Paris declama no palco: 
Vocês são loucos, pois procuram com muito empenho uma infinidade de coisas inúteis; vocês 
são pobres, pois limitam seus bens ao dinheiro, em vez de simplesmente gozar da criação, como nós, 
que não queremos nada a fim de desfrutar mais livremente de tudo (LAPLATINE, 1988, p.49). 
É o período que todos querem ver os Indes Galantes, a época em que se 
exibem nas feiras verdadeiras selvagens. Manifestações essas que constituem uma 
verdadeira acusação contra a civilização. 
 
1.2 A invenção do conceito de homem 
 
Durante o Renascimento esboçou-se a primeira interrogação sobre a 
existência múltipla do homem, essa interrogação fechou-se muito rapidamente no 
século seguinte, no qual a evidência do cogito, fundador da ordem do pensamento 
clássico, excluiu da razão o louco, a criança, o selvagem, enquanto figuras da 
anormalidade. 
No século XVIII constituiu-se o projeto de fundar uma ciência do homem, isto 
é, de um saber não mais apenas especulativo, e sim positivo sobre o homem. 
13 
 
Antropologia Cultural 
 
Apenas no século XVIII, é que se podem apreender as condições históricas, 
culturais e epistemológicas de possibilidade daquilo que vai se tornar a antropologia. 
 
 
O projeto antropológico supõe: 
 
1. A construção de certo número de conceitos, iniciando pelo próprio conceito de 
homem, enquanto sujeito e objeto do saber; abordagem totalmente inédita, já 
que consiste em introduzir dualidade característica das ciências exatas (o 
sujeito observante e o objeto observado) no coração do próprio homem; 
2. A constituição de um saber que não seja apenas de reflexão, e sim de 
observação, isto é, de um novo modo de acesso ao homem, que passa a ser 
considerado em sua existência concreta, envolvida nas determinações de seu 
organismo, de suas relações de produção, de sua linguagem, de suas 
instituições, de seus comportamentos. Assim começa a constituição dessa 
positividade de um saber empírico sobre o homem enquanto ser vivo 
(biologia), que trabalha (economia), pensa (psicologia) e fala (linguística); 
3. Uma problemática essencial: a da diferença. Coloca-se pela primeira vez no 
século XVIII a questão da relação ao impensado, bem como a dos possíveis 
processos de reapropriação dos nossos condicionamentos fisiológicos, das 
nossas relações de produção, dos nossos sistemas de organização social. 
Fonte: http://www.datuopinion.com/sedentario 
 
https://www.google.com.br/search
14 
 
Antropologia Cultural 
 
Assim, inicia-se uma ruptura com o pensamento do mesmo, e a constituição 
da ideia de que a linguagem nos precede, pois somos antes exteriores a ela. 
Tais reflexões sobre os limites do prazer, assim como sobre as relações de 
sentido e poder eram inimagináveis antes. A sociedade do século XVIII vive 
uma crise da identidade do humanismo e da consciência europeia; 
4. Um método de observação e análise: o método indutivo. Os grupos sociais 
podem ser considerados como sistemas “naturais” que devem ser estudados 
empiricamente, a partir da observação de fatos, a fim de extrair princípios 
gerais, que hoje chamaríamos de leis. Esse naturalismo, que consiste numa 
emancipação definitiva em relação ao pensamento teológico, impõe-se em 
especial na Inglaterra, com Adam Smith e, antes dele, David Hume, que 
escreve em 1739 seu Tratado sobre a Natureza Humana. Os filósofos 
ingleses colocam as premissas de todas as pesquisas que procurarão fundar, 
no século XVIII, uma “moral natural”, um “direito natural”, ouainda uma 
“religião natural”. 
 
Esse projeto de um conhecimento positivo do homem, isto é, de um estudo de 
sua existência empírica considerada por sua vez como objeto do saber, constitui um 
evento considerável na história da humanidade. Um evento que se deu no Ocidente 
no século XVIII, que terminou impondo-se já que se tornou definitivamente 
constitutivo da modernidade. A fim de avaliar melhor a natureza dessa verdadeira 
revolução do pensamento – que instaura uma ruptura tanto com o “humanismo” do 
Renascimento como com o “racionalismo” do século clássico - examinaremos mais 
de perto o que mudou radicalmente desde o século XVI. 
 
1. Trata-se em primeiro lugar da natureza dos objetos observados. Os relatos 
dos viajantes dos séculos XVI e XVII eram mais uma busca cosmográfica do 
que uma pesquisa etnográfica. O objeto de observação, nessa época, era 
mais o céu, a terra, a fauna e a flora, do que o homem em si, e, quando se 
tratava deste, era essencialmente o homem físico que era tomado em 
consideração. No século XVIII é traçado o primeiro esboço daquilo que se 
tornará uma antropologia social e cultural, constituindo-se inclusive, ao 
mesmo tempo, tomando como modelo a antropologia física, e instaurando 
uma ruptura do monopólio desta. 
15 
 
Antropologia Cultural 
 
2. Simultaneamente, o destaque se desloca pouco a pouco do objeto de estudo 
para a atividade epistemológica, que se torna cada vez mais organizada. No 
século XVIII, a questão é: como coletar? E como dominar em seguida o que 
foi coletado? Não basta mais observar, é preciso processar a observação. 
Não basta mais interpretar o que é observado, é preciso interpretar 
interpretações. E é desse desdobramento, isto é, desse discurso, que vai 
justamente brotar uma atividade de organização e elaboração. O primeiro 
dará a essa atividade um nome. Ele chamará: a etnologia. 
 
1.3 Os pesquisadores-eruditos do século XIX 
 
O século XVI descobre e explora espaços até então desconhecidos e tem um 
discurso selvagem sobre os habitantes que povoavam esses lugares. Após um 
parêntese no século XVII, esse discurso se organiza no século XVIII: ele é 
“iluminado” à luz dos filósofos, e a viagem se torna “viagem filosófica”. Mas a 
primeira tentativa de unificação, isto é, de instauração de redes entre esses lugares, 
e de reconstituição de temporalidades é incontestavelmente obra do século XIX. 
O século XIX é a época durante a qual se constitui verdadeiramente a 
antropologia enquanto disciplina autônoma: a ciência das sociedades primitivas em 
todas as suas dimensões (biológica, técnica, econômica, política, religiosa, 
linguística, psicológica...). 
Com a revolução industrial inglesa e a revolução política francesa, percebe-se 
que a sociedade mudou e nunca mais voltará a ser o que era. A Europa se vê 
confrontada a uma conjuntura inédita. 
No século XIX, o contexto geopolítico é totalmente novo: é o período da 
conquista colonial, que desembocará em especial na assinatura, em 1885, do 
Tratado de Berlim, que rege a partilha da África entre as potências europeias e põe 
um fim às soberanias africanas. 
É no movimento dessa conquista que se constitui a antropologia moderna, o 
antropólogo acompanhando de perto os passos do colono. Nessa época, a África, a 
Índia, a Austrália, a Nova Zelândia passam a ser povoadas de um número 
considerável de emigrantes europeus. Uma rede de informações se instala; são os 
questionários enviados por pesquisadores das metrópoles para os quatro cantos do 
16 
 
Antropologia Cultural 
 
mundo, e cujas respostas constituem os materiais de reflexão das primeiras grandes 
obras de antropologia que se sucederá em ritmo regular durante toda a segunda 
metade do século. 
Algumas obras publicadas neste século tem uma ambição considerável – seu 
objetivo não é nada menos que o estabelecimento de um verdadeiro corpus 
etnográfico da humanidade – caracterizam-se por uma mudança radical de 
perspectiva em relação à época das “luzes”: o indígena das sociedades 
extraeuropeias não é mais o selvagem do século XVIII, tornou-se o primitivo, isto é, 
o ancestral do civilizado, destinado a reencontrá-lo. A colonização atuará nesse 
sentido. Assim a antropologia, conhecimento do primitivo, fica indissociavelmente 
ligada ao conhecimento da nossa origem, isto é, das formas simples de organização 
social e de mentalidade que evoluíram para as formas mais complexas das nossas 
sociedades. 
Observaremos mais em que consiste o pensamento teórico dessa 
antropologia que se qualifica de evolucionista. Existe uma espécie humana idêntica, 
mas que se desenvolve em ritmos desiguais, de acordo com as populações, 
passando pelas mesmas etapas, para alcançar o nível final que é o da “civilização”. 
A partir disso, convém procurar determinar cientificamente a sequência dos estágios 
dessas transformações. 
Para Laplatine (1988 p. 65-66), o evolucionismo encontrará sua formulação 
mais sistemática e mais elaborada na obra de Morgan, e particularmente em Ancient 
Society, que se tornará o documento de referência adotado pela imensa maioria dos 
antropólogos do final do século XIX. Enquanto para Pauw ou Hegel as populações 
“não civilizadas” são populações que, além de se situarem enquanto espécies fora 
da História, não têm historia em sua existência individual, Haeckel afirma 
rigorosamente o contrario: a ontogênese reproduz a filogênese; ou seja, o individuo 
atravessa as mesmas fases que a historia das espécies. Disso decorre a 
identificação dos povos primitivos aos vestígios da infância da humanidade. 
A antropologia do século XIX, que pretende ser cientifica, é a considerável 
atenção dada: 
1. A essas populações que aparecem como sendo as mais “arcaicas” do mundo: 
os aborígines australianos, 
2. Ao estudo do “parentesco”, 
17 
 
Antropologia Cultural 
 
3. Ao da religião. Parentesco e religião são, nessa época, as duas grandes 
áreas da antropologia, ou, mais especificamente, as duas vias de acesso 
privilegiadas ao conhecimento das sociedades não ocidentais; elas 
permanecem ainda, os dois números resistentes da pesquisa dos 
antropólogos contemporâneos. 
 
1.4 Fundadores da Etnografia 
 
No final do século XIX se existiam homens que possuíam um excelente 
conhecimento das populações no meio das quais viviam a etnografia propriamente 
dita só começa a existir a partir do momento no qual se percebe que o pesquisador 
deve ele mesmo efetuar no campo sua própria pesquisa, e que esse trabalho de 
observação direta é parte integrante da pesquisa. 
Segundo Laplatine (1988, p. 77), com Boas (1858-1942) assistimos a uma 
verdadeira virada da prática antropológica. Ele era antes de tudo um homem de 
campo. Suas pesquisas totalmente pioneiras foram iniciadas a partir dos últimos 
anos do século XIX. No campo, ensina Boas, tudo deve ser anotado 
detalhadamente. Tudo deve ser objeto da descrição mais meticulosa, da 
retranscrição mais fiel. 
Para Laplatine (1988,p.77-78), o primeiro a formular com seus colaboradores 
(em particular Lowie, 1971) a crítica mais radical e mais elaborada das noções de 
origem e de reconstituição dos estágios, Boas mostra que um costume só tem 
significação se for relacionado ao contexto particular no qual se inscreve. Morgan e 
Montesquieu tinham aberto o caminho a essa pesquisa cujo objeto é a totalidade 
das relações sociais e dos elementos que a constituem. Mas a diferença é que, a 
partir de Boas, estima-se que, para compreender o lugar particular ocupado por esse 
costume, não se pode mais confiar nos investigadores e, muito menos nos que, da 
“metrópole”, confiam neles. 
 
Apenas o antropólogo pode dar conta cientificamente de uma 
microssociedade, apreendida em sua totalidade e considerada em sua 
autonomia teórica. Assim, o teórico e o observador estão finalmente 
reunidos pela primeira vez. Assistimos ao nascimento de uma verdadeira 
etnografia profissional que não secontenta mais em coletar materiais a 
maneira dos antiquários, mas procura detectar o que faz a unidade da 
cultura que se expressa através desses diferentes matérias. (LAPLATINE, 
1988, p. 77-78). 
18 
 
Antropologia Cultural 
 
Ele foi um dos primeiros a nos mostrar a importância e a necessidade para o 
etnólogo, do acesso à língua da cultura na qual trabalha. A sua preocupação de 
precisão na descrição dos fatos observados, acrescentava-se a de conservação 
metódica do patrimônio recolhido. 
Finalmente, foi, enquanto professor, o grande pedagogo que formou a 
primeira geração de antropólogos americanos e permanece sendo o mestre 
incontestado da antropologia americana na primeira metade do século XX. 
Malinowski (1884-1942) dominou incontestavelmente a cena antropológica de 
1922, ano de publicação de sua primeira obra, Os Argonautas do Pacífico Ocidental, 
ate sua morte, em 1942. 
Ele não foi o primeiro a conduzir cientificamente uma experiência etnográfica, 
isto é, em primeiro lugar, a viver com as populações que estudava e a recolher seus 
materiais de seus idiomas, mas radicalizou essa compreensão por dentro, e para 
isso, procurou romper ao máximo os contatos com o mundo europeu (LAPLATINE, 
1988, p.79-80). 
Ninguém antes dele tinha se esforçado a fundo na mentalidade dos outros, e 
em compreender por dentro, por uma verdadeira busca de despersonalização, o que 
sentem os homens e as mulheres que pertencem a uma cultura que não é nossa. 
De acordo com Laplatine (1988, p.80) instaurando uma ruptura com a história 
conjetural (a reconstituição especulativa dos estágios), e também com a geografia 
especulativa (a teoria difusionista, que tende, no inicio do século, a ocupar o lugar do 
evolucionismo), Malinowski considera que uma sociedade deve ser estudada 
enquanto uma totalidade. 
Nesta época, a antropologia se torna uma “ciência” da alteridade que vira as 
costas ao empreendimento evolucionista de constituição das origens da civilização, 
e se dedica ao estudo das lógicas particulares características de cada cultura. O que 
o leitor aprende ao ler Os Argonautas é que os costumes dos Trobriandeses, tão 
profundamente diferentes dos nossos, têm uma significação e uma coerência. 
A fim de pensar essa coerência interna, é elaborada uma teoria (o 
funcionalismo) que tira o modelo das ciências da natureza: o individuo sente um 
certo número de necessidades, e cada cultura tem precisamente como função a de 
satisfazer à sua maneira essas necessidades fundamentais. Cada uma realiza isso 
elaborando instituições (economias, políticas, jurídicas, educativas...), fornecendo 
19 
 
Antropologia Cultural 
 
respostas coletivas organizadas, que constituem cada uma a seu modo, soluções 
originais que permitem atender a essas necessidades. 
Segundo Laplatine (1988, p. 82), para Malinowski há uma preocupação em 
abrir as fronteiras disciplinares, devendo o homem ser estudado através da tripla 
articulação do social, do psicológico e do biológico, mas para ele, convém em 
primeiro lugar, localizar a relação estreita do social e do biológico, já que, para ele, 
uma sociedade funcionando como um organismo, as relações biológicas devem ser 
consideradas não apenas como o modelo epistemológico que permite pensar as 
relações sócias, e sim como o seu próprio fundamento. Além disso, uma verdadeira 
ciência da sociedade inclui o estudo das motivações psicológicas, dos 
comportamentos, o estudo dos sonhos e dos desejos do individuo. 
E Malinowski, quanto a esse aspecto, vai muito além da análise da afetividade 
de seus interlocutores. Ele procura reviver nele próprio os sentimentos dos outros, 
fazendo da observação participante uma participação psicológica do pesquisador, 
que deve “compreender e compartilhar os sentimentos” destes últimos 
“interiorizando suas reações emotivas” (LAPLATINE, 1988, p.82). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
Antropologia Cultural 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. Apresente a trajetória dos pesquisadores-eruditos do século XIX. 
2. Caracterize a figura do mal selvagem e do bom civilizado. 
3. Caracterize a figura do bom selvagem e do mau civilizado. 
4. Como foi conceituada a Antropologia no século XX? 
5. Em que se baseia a reflexão de Laplatine (1988) Léry e de Montaigne no século 
XVI sobre os “naturais”? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Em sua opinião, a Antropologia se constitui como 
ciência? Justifique. 
 
21 
 
Antropologia Cultural 
 
 
UNIDADE 02 
 
Cultura – Conceitos Básicos 
e Perspectivas Principais 
Fonte: http://www.diariorespuesta.com.mx/cuantos-tipos-de-culturas-conoces/ 
22 
 
Antropologia Cultural 
 
2. Homens, cultura e sociedade 
 
Desde muito cedo percebemos as diferenças existentes entre o ser humano e 
os demais seres vivos, sobretudo os animais. Os animais constroem moradia como, 
por exemplo, os pássaros, buscando assim nova adaptação quando os recursos 
utilizados deixaram de existir, diferentemente de nós seres humanos que utilizamos 
várias formas de materiais para construir nossas habitações. 
Nos tempos primitivos, ou seja, das cavernas, ao longo de milênios, o homem 
passou a empregar variedade de formas e materiais sempre almejando a melhor 
proteção contra o frio, calor, os animais selvagens, entre outros. As comunidades 
foram tornando-se mais complexas com a descoberta do fogo, da fabricação de 
metais, utilização da argila, da madeira, e começaram a construir casas mais bem 
elaboradas, conforme a organização social e o estágio de desenvolvimento 
tecnológico em que se encontravam e se encontram atualmente. 
À medida que a linguagem, pensamento e uso de ferramentas possibilitaram 
às comunidades alterar suas estratégias de sobrevivência - modos de produção 
agrícola, armazenamento e comercialização de seus produtos - começa a surgir a 
cultura, ou seja, o homem começa a criar cultura. 
Segundo Vannucchi (1999, p.23) “a cultura é tudo que não é natureza. Por 
sua vez, é toda ação humana na natureza e com a natureza”. Contudo pode-se dizer 
que a terra é natureza, mas o plantio é cultura. O mar é natureza, mas a navegação 
é cultura. 
A sociologia preocupa-se em entender a cultura, mas é na antropologia que o 
seu estudo é aprimorado, pois é a ciência que estuda o homem e as suas obras, ou 
seja, a cultura. Estuda também as semelhanças e diferenças humanas. No século 
XIX, quando iniciaram estudos sobre comunidades, os etnólogos conceituaram 
essas comunidades sob a ótica etnocêntrica, contribuindo para instituir as posições 
preconceituosas sobre suas culturas, inserido-as em estágios inferiores a nossa 
sociedade dita civilizada, a partir da abordagem positivista e funcionalista. 
É por esta ótica que os colonizadores, quando chegaram nas Américas e na 
África, designaram as comunidades de “selvagens”, “primitivas”, “sem cultura”, 
portanto inferiores, podendo ser subjugadas, utilizando-os como subalternos, 
serviçais e escravos. 
23 
 
Antropologia Cultural 
 
A etnologia, ciência que estuda o conjunto das características de cada etnia, 
foi questionada pelos antropólogos na segunda metade do século XX, pois as 
abordagens serão inseridas na noção de que culturas diferentes não implicam 
desigualdade e inferioridade. Portanto, a “cultura” é foco central para o campo da 
antropologia, ou seja, para essa ciência, a definição de cultura diz respeito a várias 
áreas do saber humano, tais como a agronomia, biologia, artes, literatura, história 
etc. 
No sentido amplo, a palavra cultural é toda atividade humana que altera a 
natureza, constrói valores em todas as áreas. Cultura é tudo o que os seres 
humanos constroem. Com base nesse sentido, o autor Paulo Freire contribui com 
significativas práticas sociais e educacionais ao estimular os adultos analfabetos a 
se perceberem sujeitos ativos da cultura, pelas atividades que executam 
socialmente. Exemplo disso é quando é construídoum poço para armazenar água, 
ou plantar uma roça, só com a sabedoria prática. 
Contudo as variações culturais entre os seres humanos são ligadas aos 
diferentes tipos de sociedades, em níveis regionais e locais. A discussão sobre 
cultura geralmente é colocada separadamente da sociedade como se estas fossem 
dissociáveis, mas observa-se que elas são até muito mais unidas do que deveriam 
ser. A mudança social é um fator que leva ao desenvolvimento humano. É preciso 
perceber que a cultura é transmitida de geração a geração, muitas vezes 
formalmente pela escrita e outras vezes pela oralidade. Em ambos os casos a 
cultura é herdada e recriada. E a aprendizagem cultural se dá quando elementos 
culturais são compartilhados por membros da sociedade e tornam possível a 
cooperação e a comunicação. 
24 
 
Antropologia Cultural 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: https://oduafunmi.wordpress.com/2018/01/06/la-letra-del-ano-2018-agricultura-name-y-lluvia/ 
Fonte: https://www.educamundo.com.br/cursos-online/cultura-indigena 
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Antropologia Cultural 
 
 
 
 
2.1 Componentes da cultura 
 
A cultura de uma sociedade é expressa por valores tais como: crenças, 
ideias, símbolos, como objetos, e todo o conjunto construído operacionalmente a 
partir da experiência, de técnicas, tecnologias e teorias, em cada época histórica. 
Em Giddens (2005, p.38), “a cultura refere-se às formas de vida dos membros de 
uma sociedade ou de grupos dentro da sociedade”, pois sempre que pensamos no 
termo cultura imaginamos que são coisas mais distantes do nosso cotidiano como a 
arte, a literatura, pintura, música erudita, mas a cultura é tão presente no nosso dia a 
dia que a todo o momento a estamos compartilhando com o próximo. 
 Segundo Marconi (2005, p.46), a cultura pode ser classificada por diversas 
maneiras como: 
 Material - coisas materiais, bens produzidos, incluindo instrumentos, artefatos 
e outros objetos materiais, frutos da criação humana e resultante de 
determinada tecnologia. 
 Imaterial – elementos da cultura que não tem substância material como 
valores espirituais, morais, crenças, normas, hábitos, cujos significados são 
adotados e praticados pelo conjunto de grupos sociais. 
Fonte: http://meioambiente.culturamix.com/noticias/indios-do-xingu/attachment/indios-do-xingu 
26 
 
Antropologia Cultural 
 
 Real – todos os membros da sociedade praticam ou pensam em suas 
atividades cotidianas. 
 Ideal – comportamentos expressos verbalmente como bens, perfeitos, para o 
grupo, mas que nem sempre são praticados. 
 
Percebe-se que esses valores são transmitidos de uma geração para outra, 
levando a uma determinada cultura, que pode ser também interpretado como a 
tradição de um povo, e essas tradições é transformada ao longo do tempo pela 
economia, tecnologia, saber científico entre outros fatores. 
Existem dois aspectos importantes que devem ser trabalhados para abordar o 
conceito de difusão cultural, essenciais para se compreender a dinâmica cultural 
existente. Dentre estes fatores estão a “aculturação”, ou seja, a fusão de duas 
culturas que, entrando em contato contínuo, origina mudança nos padrões da cultura 
de ambos os grupos, e a “endoculturação”, que é o processo de aprendizagem e 
educação em uma cultura desde a infância, cada indivíduo adquire as crenças, o 
comportamento, os modos de vida da sociedade a que pertence. É o processo de 
socialização. De acordo com Marconi (1998, p.64) “a difusão cultural é o processo 
na dinâmica cultural, em que os elementos ou complexos culturais se difundem de 
uma sociedade a outra”. 
O traço cultural que é copiado de outra cultura geralmente é reinventado pela 
sociedade que o copiou, e não permanece do mesmo jeito, podendo mudar de 
significado, forma e função. Isso assegura o caráter dinâmico da cultura, pois ela 
não é estática. 
 
2.2 Cultura e construção social 
 
A cultura é feita pelo homem para satisfazer suas necessidades, pois é 
através da cultura que ele constrói a si mesmo e a sociedade. Todos somos frutos 
da cultura, seja ele de um determinado lugar ou tempo. É através dela que criamos 
os meios necessários para nossa sobrevivência, com o nosso jeito de ser, nossa 
visão de mundo, com valores, crenças, princípios, normas, regras e leis. 
O homem está em uma posição diferenciada dos outros seres, pois ele se 
relaciona no seu desenvolvimento, não somente com o ambiente natural, mas 
27 
 
Antropologia Cultural 
 
também com uma ordem eventual e social específica. A humanização é variável no 
sentido sociocultural, pois não existe natureza humana no sentido substrato 
biologicamente fixa que determine a variabilidade das formações, embora seja 
possível dizer que o homem tem uma natureza mais significativa, pois constrói sua 
própria natureza. 
Para compreendermos a realidade pessoal e social de alguém, é preciso 
entender o seu contexto social e histórico, pois os elementos culturais podem ser 
vistos de maneiras diferentes pela representação que os mesmos possuem em uma 
determinada circunstância. É através destas maneiras que se tem a ordem social, e 
ela existe como produto da atividade humana, já que isolado o homem não produz 
um ambiente humano; a ordem social, como produto humano, é interiorizada no 
processo de socialização. 
A cultura é um aspecto essencial e presente na vida do homem, pois define 
todo nosso jeito de ser, sendo a nossa própria maneira de pensar e viver. Mas 
entende-se que existem culturais diferentes, na sociedade, aprender a conviver com 
essas diferenças se torna essencial e necessário, tendo em vista que estamos em 
um mundo formado por diversas culturas, que muito se relacionam constantemente 
pela facilidade do transporte e tecnologias criadas. 
Os valores e costumes entre as culturas podem ser vistos no exemplo citado 
por Giddens (2005, p.39) quando cita que “os judeus não comem porco, enquanto os 
indianos comem porco, mas evitam carne de gado”. Todos esses diversos aspectos 
de comportamento são considerados como exemplos de amplas diferenças culturais 
que distinguem as sociedades umas das outras. 
Para muitos estudiosos sociólogos, as sociedades podem ser monoculturais e 
multiculturais, entretanto alguns antropólogos consideram que todas as sociedades 
formam-se com o entrosamento e a miscigenação de vários povos, desde os 
primitivos. 
O autor Giddens retrata que a sociedade japonesa é um exemplo de 
monocultura, mas é possível perceber que, embora o Japão tenha traços fortíssimos 
de uma sociedade tradicional, ela não pode ser considerada monocultural, porque 
vem sofrendo intensas modificações em todas as áreas de sua cultura sejam pela 
difusão da cultura ocidental, ou por outros aspectos. 
28 
 
Antropologia Cultural 
 
No Brasil, pode-se afirmar que acontece a mesma coisa. Observa-se que ter 
uma identidade cultural que diferencia um povo de outro, não implica considerar 
determinado país como sendo exemplo de monocultura. 
A identidade cultural vai forjando novas identidades para as sociedades, Com 
a passagem do tempo, têm transformações sociais que levam a outras maneiras de 
viver e perceber o mundo. Este assunto será mais bem trabalhado no decorrer desta 
apostila. 
Segundo alguns antropólogos, as diferenças culturais nos emitem em dois 
conceitos importantes, e que não podem ser deixados de lado como: o 
etnocentrismo (tendência a privilegiar a cultura de sua própria sociedade para 
analisar outras sociedades) e o relativismo (os indivíduos são condicionados a um 
modo de vida específico e particular por meio do processo de endoculturação). 
Através do relativismo, o ser humano adquire seus próprios valores e sua 
integridade cultural; já o etnocentrismo significa a supervalorização da própria 
cultura em detrimento das demais. Neste contexto Giddens (2005, p.40) relata: 
 
Toda cultura tem seus próprios padrões decomportamento, os quais 
parecem estranhos as pessoas de outras formações culturais. Se você já 
viajou para o exterior, provavelmente está familiarizado com a sensação 
que pode resultar quando você se encontra em uma nova cultura. Aspectos 
da vida cotidiana que você inconscientemente toma como comuns em sua 
própria cultura podem não ser parte da vida diária em outras partes do 
mundo. Mesmo em países que compartilham a mesma língua, hábitos 
cotidianos, costumes e comportamentos podem ser diferentes. A expressão 
choque cultural é realmente apropriada! Frequentemente as pessoas se 
sentem desorientadas quando ficam imersas em uma nova cultura. Isso 
acontece por que elas perderam pontos de referencia familiares que as 
ajudavam a entender o mundo ao seu redor e ainda não aprenderam como 
navegar em uma nova cultura. 
 
Os estudiosos de sociologia querem evitar o etnocentrismo, que como já foi 
visto, é a pratica de julgar outras culturas. Uma vez que as culturas variam tanto, é 
reluzente que as pessoas vindas de uma cultura amena, achem difícil simpatizar 
com as ideias ou comportamentos daqueles de uma cultura diferente. 
Portanto, o relativismo pode ser repleto de incertezas e desafios, uma vez que 
suspender suas próprias crenças culturais sustentadas e examinar uma situação de 
acordo com os padrões de outra cultura, é ter uma visão completamente diferente e 
levantar questões preocupantes. 
29 
 
Antropologia Cultural 
 
É importante destacar que existem as mais variadas formas de expressão da 
cultura, assim como cada localidade constrói seu universo cultural; portanto, é 
preciso compreender as diferenças entre as diversas sociedades e como, ao longo 
da história, as sociedades valorizam seu universo cultural diante das outras 
sociedades. Uma vez que este tema é bastante presente em nosso cotidiano, pois 
todos nós temos cultura e a nossa convivência diária cria e recria os valores 
culturais constantemente, é preciso compreender o ser humano como produtor de 
cultura desde o princípio da sua história em sociedade, assim como os vários 
artifícios por ele produzidos. A antropologia vem para nos ajudar a compreender as 
diversas correntes de pensamento e conceitos que descrevem o universo cultural do 
homem e seu espaço social. 
A cultura pode ser classificada de duas formas: cultura erudita, ou seja, é o 
plano da escrita e da leitura, do saber universitário, dos debates, da teoria e do 
pensamento científico e cultura popular, que é a produção espontânea de um povo 
na sua vivência cotidiana, assim como as expressões, conforme a área produzida, 
transmitidas pela oralidade. 
Entretanto, não existe uma dicotomia pura entre práticas populares e práticas 
eruditas. As produções se influenciam mutuamente, no processo histórico. Por 
exemplo, os processos de intercâmbio e influências nas escolas de samba. Vejamos 
que a raiz do samba remonta aos povos africanos que para aqui vieram. No Brasil, 
ao longo dos séculos, foram criadas formas próprias de composição musical e 
temática, como o samba de quintal carioca, e outras variações conforme os estados. 
Os desfiles das escolas de samba nos anos 30 do século XX seguiam normas 
estabelecidas pela ditadura de Vargas, e, quanto aos temas, deveriam ser históricos 
e nacionais. 
Entretanto, não existe uma dicotomia pura entre práticas populares e práticas 
eruditas. As produções se influenciam mutuamente, no processo histórico. Por 
exemplo, os processos de intercâmbio e influências nas escolas de samba. Vejamos 
que a raiz do samba remonta aos povos africanos que para aqui vieram. No Brasil, 
ao longo dos séculos, foram criadas formas próprias de composição musical e 
temática, como o samba de quintal carioca, e outras variações conforme os estados. 
Os desfiles das escolas de samba nos anos 30 do século XX seguiam normas 
estabelecidas pela ditadura de Vargas, e, quanto aos temas, deveriam ser históricos 
e nacionais. 
30 
 
Antropologia Cultural 
 
Hoje são contratados pelas escolas, estilistas e coreógrafos consagrados pela 
mídia, alem de modelos, artistas famosos de TV que desfilam como papeis de 
destaque nas escolas de samba. Quando pensamos em cultura popular, logo nos 
lembramos do carnaval, folias de reis, São João e bumba meu boi. Agora é preciso 
nos indagar ao tentar compreender a cultura. Será que a cultura brasileira é isso 
tudo? Será que é só isto? É preciso entender por que e por quem ela é produzida, e 
como, quando e por quem é consumida. 
A cultura popular existe também nos países mais industrializados, embora 
tenha um significado especial nas sociedades chamadas de Terceiro Mundo, pelo 
fato de compreender um grande número de subculturas das quais participa uma 
parcela significativa da população. 
 
2.3 Culturas de massa: Industrialização cultural 
 
Além destas duas formas culturais estudadas podemos falar também da 
cultura de massa, nesse tipo de cultura temos uma produção industrial da cultura 
que vende mercadorias; mais do que isso, vende imagens do mundo e faz 
propaganda, para assim permanecer. 
A industrialização de cultura visa exclusivamente o consumo, buscando a 
integração dos consumidores, as mercadorias culturais, agindo como uma ponte 
nociva entre a cultura erudita e a popular; ela é nociva porque retira a seriedade da 
primeira e a autenticidade da segunda. 
Os meios de comunicação exercem um papel significativo nesse processo de 
industrialização da cultura. É através destes meios tecnológicos, mais precisamente 
o rádio e a televisão, que a cultura é dizimada. Um exemplo disso são alguns 
cantores que ao se tornarem produtos conhecidos nacionalmente vão se afastando 
de suas origens pela necessidade de se manterem no mercado, atingindo grandes 
massas, demonstrando isso no modo de se vestirem, falarem e na linguagem das 
composições. Isso é perceptível principalmente nas duplas sertanejas na nossa 
atualidade. 
A cultura erudita tem forte ligação com a classe burguesa e o período do 
surgimento do Renascimento é um marco dessa relação. Desde sua origem, a 
burguesia preocupou-se com a transmissão de seus conhecimentos aos seus pares, 
31 
 
Antropologia Cultural 
 
a partir de instituições como as universidades, as academias e as ordens 
profissionais. Com o passar dos séculos e com o processo de escolarização, a 
cultura dessa elite burguesa tomou corpo, desenvolveu-se e requintou-se com a 
tecnologia. Essa cultura erudita ou superior, também designada “cultura de elite”, foi 
se distanciando da maioria da população, pois era feita pela burguesia. Sobre a 
influência da tecnologia na cultura, Oliveira (2001, p. 158) cita: 
 
A partir do final do século XIX, a industrialização em larga escala atingiu 
também os elementos da cultura erudita e da popular, dando início à 
indústria cultural. O incessante desenvolvimento da tecnologia, tornando-se 
cada vez mais sofisticada, principalmente nos meios de comunicação, 
passou atingir um grande número de pessoas, dando origem à cultura de 
massa. Ao contrário das culturas eruditas e populares, a cultura de massa 
não esta ligada a nenhum grupo social especifico, pois é transmitida de 
maneira industrializada para um público generalizado, de diferentes 
camadas socioeconômicas. O que temos então é a formação de um enorme 
mercado de consumidores em potencial, atraídos pelos produtos oferecidos 
pela indústria cultural. 
 
A cultura de massa possui significativa relação com a sociedade de consumo, 
por seguirem a mesma lógica que é a da indústria com a produção em série. 
Contudo, é possível perceber que, ao produzir para as massas, ou seja, em grandes 
quantidades, cria-se a necessidade daquele produto apelando para o seu valor 
artístico. 
Por conseguinte, há estudiosos que consideram importante a difusão da 
cultura pela mídia para a sociedade em todos os seus aspectos, pois visa à 
democratização e a socialização das informações; para eles nãose pode radicalizar 
nem a análise posta em termos de separação absoluta das duas culturas, nem em 
relação ao papel da mídia como divulgadora de uma cultura de massa, o que só 
traria prejuízos para os dois tipos de cultura. 
Entende-se que a realidade é muito diversificada, cada lugar e cada época 
tem os seus produtos culturais, aquilo que é importante num período da historia 
pode não ser no outro. 
 
2.4 Representações Simbólicas 
 
Existem alguns processos simbólicos presentes na nossa sociedade, como a 
religião, com destaque a religião católica, as influências do candomblé, da magia e 
32 
 
Antropologia Cultural 
 
suas formas de representações simbólicas construídas historicamente no Brasil, 
também a expansão das igrejas evangélicas na sociedade brasileira contemporânea 
e as consequências para o imaginário social. 
Toda religião cria uma série de símbolos e ritos que devem ser praticados 
pelos fieis nos seus templos ou fora deles, para manter os laços e vínculos com os 
fieis. O maior ou menor grau de poder político, social e cultural de uma instituição 
religiosa varia conforme a época histórica. 
A partir de cristo no mundo ocidental instituíram-se religiões diferenciadas 
como a católica romana, a ortodoxa oriental, a igreja anglicana, o protestantismo 
com suas várias igrejas, hoje denominadas evangélicas. 
Surgem também as religiões espíritas. É com a cumplicidade da religião que 
impérios foram erguidos e destruídos ao longo dos séculos, como também propiciou 
o desenvolvimento das relações materiais das sociedades, contribuindo para a 
construção do conhecimento filosófico, cientifico e tecnológico da humanidade. 
Nesse sentido podemos afirmar que a religião é muito visível no cotidiano dos 
indivíduos, essa busca pela religiosidade das populações mapeou e remapeou as 
sociedades tanto do lado ocidental como oriental nesse final do século. Neste 
momento em que as sociedades estão se globalizando, as religiões almejam ser 
aquela que tenha primazia sobre as demais e assim se torne uma religião global. 
Essa situação que vive a sociedade globalizada é relatada após um período em que 
a religião perde sua hegemonia no poder decisório das nações. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
Antropologia Cultural 
 
TEXTO COMPLEMENTAR 
 
 AS COTAS PARA NEGROS E A DESIGUALDADE BRASILEIRA 
 
 Fernando Abrucio 
 
“O sucesso das políticas públicas depende da definição clara dos problemas 
que elas querem combater, bem como da adoção de medidas que acertem o alvo 
correto. Essa pequena digressão técnica é necessária para tornar mais preciso um 
debate que está no centro da agenda publica: a questão das cotas para negros em 
universidade. Para que serviria essa política discutida hoje de forma tão radical? 
Com certeza ela não seria capaz de atenuar o sofrimento dos negros durante a 
escravidão.” 
Quanto a isso, o máximo que podemos fazer é lembrar sempre dessa mácula 
da historia brasileira. É importante frisar isso porque alguns revisionistas têm 
argumentado que a população negra não sofreu tanto assim, pois alguns dos 
africanos foram traficantes e outros, quando libertos, logo compravam seu 
escravinho. Há ainda a tese, arrancada a força do pensamento de Gilberto Freyre, 
de que a convivência entre brancos e negros fora pacífica. Afinal, milhares de 
estupros foram consentidos. Tais analistas produziram uma grande falácia lógica. 
A existência de alguns escravos traficantes ou compradores de outros 
indivíduos de sua cor não elimina a existência de um brutal sistema opressor contra 
milhões de pessoas. Foi contra isso que os abolicionistas se insurgiram. Creio que 
nossos intelectuais revisionistas talvez fossem a época contra a abolição, porque 
tudo estava bem no Brasil da miscigenação. Em sua argumentação, esse 
revisionismo não é diferente do praticado por historiadores que desmentem a 
existência do holocausto por encontrarem a existência de um ou outro judeu que 
apoiou o nazismo. 
Apresentar o debate da escravidão de forma completamente distorcida não 
ajuda o debate das cotas. Não que as desigualdades atuais sejam fruto apenas da 
escravidão - é bem provável que muito da situação atual se explique pela falta de 
política no pós-escravidão. Mas um fato é evidente nos estudos empíricos: há 
desigualdade entre brancos e negros com mesma situação de renda e escolaridade. 
34 
 
Antropologia Cultural 
 
Muitos estudos econométricos mostram que, em contexto social similar, os 
negros têm pior desempenho escolar que os brancos. Recentemente, coordenei um: 
a pesquisa sobre escolas públicas. Um dos pesquisadores presenciou o que só 
conhecíamos por estatística. Numa sala de aula com aluno em situação equivalente 
de pobreza, havia uma divisão na qual, de um lado, ficavam os brancos, e de outro, 
os negros. Isso se repetia no intervalo. Pior: o tratamento docente era francamente 
favorável aos brancos. Conversamos com a professora e com a diretora: nenhuma 
delas havia percebido essa discriminação. Um racismo tão invisível e enraizado é 
difícil de combater apenas com políticas iguais para todos Para questões como 
essa, deveria valer a máxima de tratar desigualmente os desiguais para alcançar a 
justiça social. 
Não pense leitor, que o problema esta resolvido, pois a forma como for feita a 
política afirmativa, termo mais correto que “cotas”, afetarão os resultados. Cotas 
muito ampla e sem nenhum critério de mérito não podem ser um desestímulo para o 
estudo dos negros? Ademais, o cotismo não poderia se transformar numa política 
racialista que geraria uma atenção inexistente em nossa sociedade? São perguntas 
fundamentadas (e não ideológicas) em termos de políticas públicas. 
Para elas, deve haver respostas, ainda no terreno das políticas afirmativas, é 
possível ter cotas mais controladas do ponto de vista do tamanho e do mérito, 
inclusive com ações de ajuda aos negros já nos ciclos escolares anteriores, uma vez 
que a maioria deles fica no meio do caminho e nunca será cotista. Quanto ao 
possível acirramento racial, ele não tem acontecido nas universidades com cotas. 
Uma legislação e um debate equilibrados poderiam conter isso. 
Há dois outros grandes benefícios que uma política cotista equilibrada 
produziria. O primeiro é aumentar a autoestima dos negros, por meio da constituição 
de novas lideranças lastreadas na escolaridade. Além disso, teríamos uma maior 
diversidade em nossas melhores universidades, onde os negros são raríssimos. Se 
tivéssemos tal diversidade no meio das elites, a discussão da escravidão não teria 
sido retomada de forma tão leviana e inconsequente. 
 
 
 
 
 
35 
 
Antropologia Cultural 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: https://www.cartacapital.com.br/revista/995/fraudes-descaso-estatal-ameacam%20-inclusao-negros-
universidade 
36 
 
Antropologia Cultural 
 
 
 
 
 
1) Explique por que podemos afirmar que somente o homem possui cultura. 
2) Dê exemplos de cultura material e imaterial, real e ideal. 
3) Exemplifique os termos: Etnologia, Antropologia, Etnocentrismo. 
4) Observe no seu cotidiano e explique a importância da cultura popular. 
5) Analise a relação entre os meios de comunicação de massa e a cultura em nossa 
sociedade. 
 
 
 
 
Como as demais ciências auxiliam a Antropologia? 
 
37 
 
Antropologia Cultural 
 
 
UNIDADE 03 
 
Cultura na Construção dos 
Indivíduos (as identidades) 
Cultura Estruturante 
 
Fonte: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/sociologia/identidade-cultural.htm 
38 
 
Antropologia Cultural 
 
3. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade 
 
Os relatos acerca de identidade não são recentes. A sociedade modernaocidental gerada com a industrialização e o desenvolvimento das ciências teóricas e 
experimentais constrói sua identidade afirmando a prioridade da razão, que ilumina e 
é fonte de conhecimento e das ações sociais, desvinculando-se da tutela da religião. 
Defende no novo o modo de produção capitalista, o regime de liberdade individual, a 
prioridade do indivíduo sobre o coletivo e constitucionalmente, os princípios de 
liberdade, igualdade e solidariedade, alicerce dos regimes democráticos. A 
identidade cultural de início pode ser compreendida como um conjunto de 
características comuns pelas quais os grupos sociais constroem sentido de 
pertencimento. Como foi visto, a identidade é construída através das relações 
sociais, grupos humanos; ela é dinâmica neste contexto. 
Mas a cultura pode existir mesmo que não haja identidade. A cultura depende 
em grande parte de processos inconscientes, já a identidade remete a uma norma 
de vinculação, necessariamente consciente. O conceito de identidade cultural foi 
adquirido em espaço instável das ciências sociais, ela revela as mudanças de 
sentido ao longo da história, causadas pelo que se considera uma crise originada 
pela ação conjunta de um duplo deslocamento como: descentralização dos 
indivíduos, tanto no seu lugar no mundo social e cultural, quanto de si mesmos. 
Alguns estudiosos enfatizam que as discussões sobre pós-modernidade, 
entendida como lógica cultural do capitalismo pós-industrial, surge na crise cultural, 
e desencadeiam crises de conceitos fundamentais ao pensamento moderno, tais 
como verdade, razão, universalidade, sujeito, progresso, ideologia e outros. Ocorre 
uma desilusão no que refere aos nortes da modernidade, a saber: a estética, a ética 
e a ciência. 
Para Castells (1999, p.22), identidade pode ser compreendida como o 
processo de construção de significado com base em um atributo cultural, ou 
ainda um conjunto de atributos culturais inter-relacionados, os quais 
prevalecem sobre outras fontes de significado. Para um determinado 
indivíduo ou ainda um ator coletivo, pode haver identidades múltiplas. 
 
Existem três formas e origens de construções de identidade, dentre estas: 
 Identidade legitimadora – introduzida pelas instituições dominantes da 
sociedade no intuito de expandir e racionalizar sua dominação em relação 
aos atores sociais. 
39 
 
Antropologia Cultural 
 
 Identidade de resistência – criada por atores que se encontram em 
posições/condições desvalorizadas ou estigmatizadas pela lógica da 
dominação, construindo, assim, trincheiras de resistência e sobrevivência com 
base em princípios diferentes dos que permeiam as instituições da sociedade, 
ou mesmo opostas a estes últimos. 
 Identidade de projeto – atores sociais utilizando-se qualquer tipo de 
material cultural ao seu alcance constroem uma nova identidade capaz de 
redefinir sua posição na sociedade e, ao fazê-lo, de buscar a transformação 
de toda a estrutura social. 
A identidade agora mais do que nunca aparece em nossas vidas, entrando 
em nosso mundo particular, quando se levanta questionamentos os mais diversos 
sobre o sentido da vida e dos valores que tínhamos ate então como tradicionais e 
invioláveis. 
As identidades modernas, individuais e coletivas, cada vez mais estão sendo 
fragmentadas, descentradas e descontínuas, as bases sólidas sobre as quais se 
assentavam e dava sustentação a noção de identidade e aos processos de 
identificação, como nacionalidade, raça, classe, gênero, religião, língua, sexualidade 
etc., tornaram-se vulneráveis diante da nova realidade pós-moderna. 
Percebe-se que a identidades nacionais estão se desintegrando, como 
resultado do crescimento da homogeneização cultural do mundo pós–moderno, elas 
e outras identidades locais estão sendo reforçadas pela resistência à globalização. 
As identidades nacionais estão em declínio, mas nova identidade hibrida 
estão tomando seu lugar. Hibridas porque se constroem e se reconstroem 
dinamicamente nas suas práticas relacionais. Essa compreensão coloca por terra a 
ideia de identidade como algo estático. 
Na visão de Giddeans (2005), a ênfase na hibridação afasta a pretensão de 
se estabelecer identidades puras ou autênticas e evidencia o risco de se delimitar 
identidades locais autoconhecidas que se contraponham às sociedades nacionais ou 
globalizadas. Frente ao hibridismo e à diversidade, há essas fortes tentativas de se 
reconstruírem identidades purificadas para restaurar a coesão e a tradição. A 
reafirmação de raízes culturais tem sido uma das fontes de identificação em muitas 
regiões. 
 
40 
 
Antropologia Cultural 
 
 
 
3.1 A identidade como valor 
 
As pessoas se comportam de acordo com sua realidade cultural, sendo que o 
papel desempenhado pela mídia toma um caráter fundamental em virtude da 
abrangência pela qual podemos entrar em contato com outras culturas. A partir do 
processo de globalização, a cada dia estamos vendo surgir grandes preocupações 
com a convivência entre os povos, pois a diversidade é grande, e assim passaram a 
existir influências diretas no nosso processo cultural que antes aconteciam mais 
lentamente. 
Não há identidade estática, ela é dinâmica e vai se formando a partir dos 
valores que elegemos como sendo os melhores. Nem sempre esses valores são 
aceitos por todos e assim fazemos uma negociação de sentidos, isto é, o jogo de 
identificações. 
Fonte: https://www.revistafinal.com/2014/02/14/oficinas-gratuitas-de-musica-danca-e-teatro/ 
41 
 
Antropologia Cultural 
 
Observa-se que é muito importante destacar não só as relações de poder que 
envolvem a questão da identidade, mas o julgamento de valor feito frequentemente, 
ao nos depararmos com uma realidade diferente da nossa. 
A cultura passou a ser mais importante como referência aos conflitos 
internacionais do que a ideologia ou a economia diante da realidade do mundo 
contemporâneo. O racismo começou a se modular e a crescer à sombra do 
difusionismo culturalista euro americano e do entretenimento rebarbativo oferecido 
às massas pela televisão e outros ramos industriais. 
Neste contexto, fica evidente a relação mídia X mercado na qual o valor 
cultural é contrabalançado pelo estereótipo consumista que constrói a identidade 
negra a partir dos materiais fantásticos do homem branco. 
É interessante porque já observamos no supermercado e bancas de revistas 
o surgimento de produtos voltados para as pessoas da pele escura, produtos de 
higiene, beleza e revistas especializadas para este público. É uma novidade no 
mercado que até pouco tempo atrás não existia. É um tipo de discriminação 
considerada como positiva, tendo em vista que leva a uma afirmação dos negros a 
partir dos valores próprios de sua cultura. Da mesma forma que pessoas negras que 
se destacam no cenário artístico, esportivo e em outras profissões servem como 
referências positivas. 
 
3.1.2 Raça e identidade 
 
Agora vamos tratar de raça como elemento importante para a definição de 
uma identidade, para tanto precisamos recorrer novamente ao conceito de 
identidade, desta vez com outro enfoque, ou seja, o que leva em consideração a sua 
origem e os elementos chave que a compõem. 
A globalização faz com que ressurja a discussão sobre as diferenças entre as 
culturas pela subsistência do preconceito. Nessa nova ordem mundial, o que era 
superado pela homogeneização das identidades culturais agora se torna assunto da 
maior importância na luta pela sobrevivência de grupos espalhados pelo mundo, 
através das grandes migrações de povos marginalizados em busca de sua 
sobrevivência. 
42 
 
Antropologia Cultural 
 
Na pós-modernidade, o indivíduo previamente vivido como tendo uma 
identidade unificada e estável está se tornando cada vez mais fragmentado, 
composto não de uma única, mas de várias identidades, algumas vezes 
contraditóriasou não resolvidas. Esse processo produz o sujeito conceitualizado 
como não tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente. A identidade torna 
se uma celebração móvel, formada e transformada continuamente em relação às 
formas as quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que 
nos rodeiam. 
Assim, para entendermos uma identidade de maneira mais completa é 
preciso enfocar outros aspectos tais como espelho, invenção e a ideologia. O 
espelho é a relação que estabelecemos com o outro, relações de alteridade- 
igualdade e diferença- parâmetros através dos quais nos definimos “outros”. A 
invenção é a forma como construímos essa identidade – a máscara, a persona. A 
ideologia é o aspecto político, que escolhemos como sentido ou causa para 
vivermos. 
A palavra raça tem vários significados, sendo aplicado em muitas situações 
diferentes. Tais como o jogador que tem “raça”, ou “raça” de um povo. Portanto, pelo 
que foi exposto, pode-se considerar a raça como atributo biológico, que definirá 
sozinho uma identidade. Esta aparecerá como mais um elemento no conjunto de 
outros que ajudarão nesse conceito, uma pessoa ou sociedade tem outras 
características importantes para a formação de sua cultura que não apenas a 
questão da cor como, por exemplo, os contatos existentes entre os povos 
provocados pela facilidade dos meios de comunicação, dos transportes, da 
tecnologia; esse fluxo constante de pessoas é muito significativo para tudo que 
podemos analisar nessa questão sobre identidades. 
A busca de identidades mostra-nos que o homem, na pós-modernidade, sente 
a necessidade dos laços que remontam a comunidade, mesmo sabendo que uma 
identidade é sempre ressignificada em outro meio. Esse fato só será possível porque 
os elementos que compõem uma identidade não são aleatórios, eles estão em 
nossa bagagem social, histórica e cultural, não se eleva tudo, mas muitos são 
escolhidos como fundamentais no novo contexto. 
É preciso que façamos uma reflexão sobre como nossa população indígena, 
negra, grupos religiosos, entre outros, em nosso país e no mundo, estão resistindo e 
reagindo à massificação da cultura. Quais as saídas para essas populações 
43 
 
Antropologia Cultural 
 
reprimidas pelo desenvolvimento tecnológico? As “minorias” sociais são 
consideradas as novas tribos na sociedade de massa. Essas “minorias”, tais como 
os homossexuais, negros, povos indígenas, mulheres, portadores de deficiência, 
etc., trazem um importante questionamento sobre o que é normalidade e maioria. 
A nova organização geopolítica mundial trouxe grandes mudanças no modo 
de vida das populações mundiais. A alta tecnologia, também conhecida pela 
automação da sociedade, é a marca deste tempo de globalização, no qual entramos 
em contato direto e constante com outras culturas. Não é fácil lidar com os valores 
novos, para isso é preciso uma avaliação constante sobre nossos objetivos pessoais 
e coletivos, levando a um forte questionamento sobre as identidades tradicionais nas 
quais já estávamos acostumados. 
 
 
 
 
3.1.3 Preconceito, estereótipos e discriminação 
 
O preconceito, os estereótipos, bem como as discriminações, estão 
relacionados com as atitudes ou comportamentos referentes aos indivíduos, aos 
Fonte: http://conceptualdelacultura.blogspot.com/2011/02/la-cola-del-dragon_15.html 
44 
 
Antropologia Cultural 
 
grupos, a cultura baseados em julgamentos que são mantidos mesmo diante de 
fatos que os contradizem; em uma sociedade capitalista a situação não poderia ser 
diferente. 
O preconceito envolve uma avaliação negativa de uma pessoa pelo simples 
fato de o identificarmos com um grupo determinado do qual temos preconceito. É 
importante entendermos que não existem apenas grupos de minorias que são alvos 
de atitudes preconceituosas, mas qualquer grupo social. Segundo alguns teóricos, o 
preconceito é resultado de frustrações pessoais e podem estar relacionados com o 
tipo de personalidade que o indivíduo apresenta. Por exemplo, uma pessoa pode ser 
autoritária, hostil, intolerante ou simplesmente por ser de um partido ou de religião. 
Considera que a base cognitiva do preconceito são os estereótipos, 
envolvidos por crenças sobre características individuais que são atribuídas a 
indivíduo ou grupo. Geralmente as crenças preconceituosas são consideradas como 
estereótipos negativos, por isso que muitas pessoas dizem que conceito de 
estereótipo é muito próximo do conceito de preconceito. Os estereótipos estão 
ligados a uma padronização rígida, cria-se um estigma em que não se vê elemento 
positivo no indivíduo sendo julgado na maioria das vezes, negativamente como se 
fossem carimbados diante de atributos dirigidos a pessoa ou grupo. 
Assim o estereótipo pode ser considerado como um comportamento funcional 
muitas vezes equivocado e condenatório, pela influência dos meios midiáticos com 
uma visão às vezes profunda ou artificial. 
É preocupante, do ponto de vista social, quando esses estereótipos são 
destrutivos e limitam o próprio indivíduo a buscar novos conhecimentos, criam a 
imagem de que o mundo é complexo demais, e diante disso levam o indivíduo a 
achar que lhe convém não gastar energias e nem tempo cognitivo para vencer a 
situação social excludente. Ao vermos uma pessoa suja, desarrumada, a imagem 
produzida é sempre a de achar que ele é mendigo, um preguiçoso, um criminoso. A 
lista é imensa. Chamamos esse ato de rotulação. A rotulação pode chegar ao 
cúmulo de dizer que alguém é menos capaz por ser mulher. 
A questão de gênero tem se tornado uma forma de estereotipar. Por exemplo, 
quando estipulamos que as atividades domésticas devem ser realizadas por 
mulheres, estamos criando um rótulo. Desta forma, se o homem fizesse tal atividade 
poderia estar apresentando traços femininos; ou quando acreditamos que os 
45 
 
Antropologia Cultural 
 
 
homens são sempre superiores às mulheres e assim por diante, reforçamos muitas 
vezes sem perceber os estereótipos e rótulos. 
A discriminação muitas vezes é provocada e motivada pelo preconceito, pode 
ser dada por sexo, idade, raça/etnia, social, religiosa, por portadores de 
necessidades especiais, por doença, aparência. Ela pode ocorrer no indivíduo, em 
grupo, na instituição, na sociedade em geral, é quando certas empresas deixam de 
contratar um excelente colaborador por ter tatuagem, ou por ser portador de 
necessidades especiais, entre outros. 
O preconceito está tão arraigado nas relações humanas que é difícil 
discutirmos sobre a sua natureza, visto que ele surge por diversas funções, como 
defesa pessoal, posição social ou até como mecanismo de sobrevivência, suas 
origens são profundas, ligadas à própria natureza humana. 
O preconceito é decorrente de fontes sociais, emocionais e cognitivas. Possui 
suas causas classificadas em quatro categorias: 
 Competição e conflitos econômicos- considerados um dos percursos que 
mais conduzem os indivíduos na formação de estereótipos, preconceitos e 
discriminação, por provocarem reações de hostilidade, inimizadas onde antes 
prevalecia a paz, ou pelo menos a tolerância mútua. 
 O papel do bode expiatório - o indivíduo, quando se encontra frustrado e 
infeliz, tende a transferir sua agressividade para grupos visíveis, 
aparentemente sem poder, desenvolvendo sentimentos negativos e de 
repulsa. 
 Fatores de personalidade – indivíduos com personalidade autoritária têm mais 
propensão a desenvolver atitudes preconceituosas por serem consideradas 
pessoas que geralmente apresentam rigidez nas opiniões, intolerância, 
desconfiança, entre outros, acreditando na sua superioridade, bem como na 
do grupo a que pertencem. 
 Causas sociais do preconceito – a aprendizagem social, conformidade e 
categorização social: essas causas defendem a ideia de que o preconceito é 
criado e mantido por forças sociais e culturais.As normas sociais são 
aprendidas, transferidas de geração para geração. As conformidades são 
mantidas por medo de não ser aceito, por isso o indivíduo cede à pressão 
social. Muitas vezes, essas são motivadas pelos meios midiáticos e pelas 
artes, que são grandes disseminadoras de opiniões e agentes de 
46 
 
Antropologia Cultural 
 
 
socialização. Dessa forma, ocorre o que chamamos de “categorização social”, 
quando processamos psicologicamente as informações, categorizando as 
pessoas, formando estereótipos negativos com relação a elas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Preconceito é considerado uma atitude, inclusive difusa, 
que são influenciados pelos componentes: cognitivo, 
afetivo e comportamental. Etimologicamente, estereótipo é 
derivado de duas palavras gregas: “stereos” e “teípos”, que 
significam respectivamente “rígido” e “traço”. A discriminação 
é o comportamento, é a ação, é a conduta em si do indivíduo 
Fonte: https://davissenafilho.blogspot.com/2016/05/discriminacoes-preconceitos-golpe-de.html 
47 
 
Antropologia Cultural 
 
 
 
 
3.2 Identidades Socioculturais e a Realidade Brasileira 
 
A ressignificação dos movimentos intelectuais e populares tentou criar marcas 
identitárias para o povo brasileiro. 
A busca de construção da identidade nacional é uma constante ao longo da 
história da cultura brasileira. Essa busca refletiu-se nas artes, nas ciências humanas 
e na ideologia política. Os debates sempre foram complexos, com alguns pontos 
como: aspectos da criação de um mito fundador da nação, a identificação e a 
valorização de singularidade que distinguem a cultura e a civilização brasileira e o 
relacionamento com elementos estrangeiros étnico/raciais. 
Sempre foi demonstrada uma grande preocupação em discutir a identidade e 
o futuro da nação brasileira, foram propagados diferentes discursos discutindo o que 
é ou não ser brasileiro. Assim destacaram-se políticos, militares, empresários e 
especialmente artistas e intelectuais, através da literatura, das artes plásticas, da 
música e mesmo de manifestos. Os artistas e intelectuais modernistas e pós-
Fonte: http://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/direito-facil-1/discriminacao-ou-preconceito 
48 
 
Antropologia Cultural 
 
modernistas procuram construir práticas discursivas para tentar compreender as 
identidades culturais brasileiras. 
 
3.2.1 Tentativas de se construir um caráter de identidade nacional 
brasileira 
 
Numa paisagem histórica do Brasil no início do século XX, visualiza-se a 
cidade em processo de industrialização e urbanização. Novos valores estavam se 
agregando, vindos de várias partes do mundo no processo migratório. Diante das 
grandes contradições vividas pelo Brasil, a intelectualidade procurava delinear a 
imagem cultural no Brasil. 
Inicialmente, o ser nacional do Brasil foi representado a partir do olhar 
estrangeiro, viajantes europeus que muitas vezes não conseguiam enxergar as 
construções identitárias brasileiras no século XIX, ao construírem discursos 
preconceituosos e etnocêntricos sobre os grupos indígenas e as manifestações 
culturais dos homens e mulheres negras. 
A intelectualidade brasileira se uniu no intuito de desconstruir o olhar 
estrangeiro que tentava inventar o Brasil pelas lentes eurocêntricas, em 1920. 
Sabiase que o principal problema da não construção de uma identidade nacional era 
o enfraquecimento dos traços e praticas culturais endógenas em detrimento dos 
exógenos. 
Portanto, a intelectualidade era acusada de viver de costas para a cultura 
brasileira, ou seja, viver expatriado em sua própria terra sonhando viver ou morrer 
em Paris. “Assim, a missão do intelectual era vencer a percepção de sua oralidade 
como exótica, ou seja, vencer o olhar estrangeiro que informava a visão de si 
próprio” (OLIVEIRA, 2000, P.137). 
Os modernistas procuravam trabalhar na perspectiva do nacional e não do 
regional. Em 1926 surge um movimento chamado “Manifesto Regionalista”. Esse 
movimento desenvolve dois temas: a defesa da região como unidade de 
organização nacional e a conservação dos valores regionais e tradicionais do Brasil 
em geral, e do nordeste em particular. 
49 
 
Antropologia Cultural 
 
Os regionalistas tinham a região como elemento constitutivo da nação, ao 
frisar a necessidade de uma articulação inter-regional, era preciso ser regional para 
poder construir um sentimento de pertença aos valores nacionais. 
As transformações ocorridas na sociedade brasileira pós-1930 no governo 
Vargas, e o impacto causado com a Segunda Guerra Mundial foram importantes 
para alterar a ideia de nação que se desejava. O estado novo, ao pretender ser novo 
e nacional, procurou juntar modernização e tradição. Impôs a noção de brasilidade 
ligada à questão do nacionalismo econômico e à modernização do país. 
Na década de 1950, o país se vê com influências de intelectuais, então teria 
que buscar caminhos de desenvolvimento ultrapassando todas as etapas que os 
países capitalistas desenvolvidos já tinham ultrapassado. Mais uma vez os 
intelectuais não procuram nortes para resolver os problemas brasileiros a partir das 
nossas próprias construções histórico-econômicas e culturais; queriam que 
copiassem as experiências exógenas de países como os Estados Unidos. 
Entretanto, com Juscelino Kubitschek e o governo populista o Brasil pode 
avançar 50 anos em cinco, deixando de ser essencialmente rural, expandindo-se 
uma nova classe social: a classe média, influenciada pelas oscilações internacionais 
no campo da moda e da cultura. Foi nesta década que ocorreu um movimento 
migratório interno entre regiões brasileiras, especialmente do Nordeste para o 
Sudeste do país, portanto, mão de obra barata para ampliarem a construção civil na 
região. 
Neste mesmo período ocorre um crescimento vertiginoso da indústria 
midiática, cinemas, jornais, emissoras de rádio e o surgimento da televisão; são 
criadas correntes vanguardistas estéticas como a Bossa Nova. Nessa época, o 
cinema brasileiro, sob o impacto do Neorrealismo italiano, procurou discutir não as 
marcas da nacionalidade brasileira, mas as contradições brasileiras em nível 
nacional. As produções cinematográficas procuravam mostrar as desigualdades em 
nível e tensões sociais inerentes à vida na cidade e no interior dos sertões 
brasileiros. 
Assim, no governo JK, o país despertou do sonho de desenvolvimento, por 
meio de um prenúncio de desestabilização econômica e recrudescimento do poder 
econômico da sociedade civil. Politicamente, o povo brasileiro se depara com 
governos populistas instáveis nas suas governabilidades e domínios militares, ou 
50 
 
Antropologia Cultural 
 
seja: eleição e renúncia de Jânio Quadros, governo de João Goulart e as reformas 
de base e Golpe Militar em 1964. 
No período da década de 50 e início da década de 60, organizam-se e 
crescem os movimentos sociais reivindicatórios em favor de políticas econômicas e 
sociais e educacionais dos direitos dos trabalhadores. 
No contexto cultural, os artistas e intelectuais se revestem de um caráter 
nacional-revolucionário, afirmando a singularidade da identidade cultural brasileira. 
Construía-se a chamada arte engajada, ou seja, os setores mais à esquerda passam 
rapidamente do conceito de uma arte nacionalista para o de arte como instrumento 
de transformação social. 
Foi no Cinema Novo que a manifestação artística passou a abordar os graves 
problemas sociais vivenciados pelos homens e mulheres do campo. Quando eclodiu 
o Golpe Militar em 1964, foram exatamente estes artistas/intelectuais da linha 
nacional- revolucionária que se tornaram alvos da repressão. 
Os artistas Caetano Veloso e Gilberto Gil foram os que ousaram propor 
formas e conteúdos que destoavam da MPB, de ordem político-social associada à 
brasilidade exigida pelo público dos festivais da década de 60. O que deveria ter 
despertadoa aversão dos artistas e intelectuais ligados ao Regime Militar, e que se 
contrapunha aos tropicalistas e a outros artistas contemporâneos. No campo das 
artes plásticas ou do teatro, era o seu papel pós-moderno a valorização, sobretudo, 
da cultura popular expressada na diversidade étnico-racial brasileira. 
A ideia de homogeneização cultural vem tomando forma nos discursos de 
poderes vinculados ao capitalismo internacional, codificado com o termo 
“globalização”. No entanto, percebe-se que países como o Brasil, que é constituído 
de diferentes regiões, com um rico patrimônio cultural, material e imaterial, tornasse 
um viés de resistência. 
Resistência que foi se construindo pouco a pouco, no momento em que 
passou a gestar um discurso de respeito à diversidade cultural brasileira em uma 
sociedade que se quer pós-moderna. Diversidade cultural no sentido de construir 
instrumentos de respeitabilidade aos indivíduos e aos seus valores em direção às 
suas identidades culturais locais. Identidades com elementos constitutivos em bases 
coletivas, sedimentadas de conteúdos simbólicos, como é o caso das manifestações 
da cultura popular, que possibilitam uma relação de hibridismo social, objetivando 
políticas de desenvolvimento autossustentadas e de caráter comunitário. 
51 
 
Antropologia Cultural 
 
3.3 A imigração das ideias: onde tudo começou 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A imigração de ideias é o termo empregado que descreve como a ideologia 
dominante passa de uma classe social para outra de forma vertical, sempre de cima 
para baixo, não ocorrendo o caminho inverso; quando ocorre de um grupo para 
outro da mesma classe, temos uma migração de ideias. 
Desde o período colonial até nossos dias atuais, a sociedade brasileira teve 
seu território visitado e transformado por sociedades mais desenvolvidas e 
representativas no mercado mundial. 
Essas sociedades desenvolvidas são portadoras de mecanismo de 
dominação, que se expressa pelo econômico, mas é o ideológico que fornece o 
suporte para a ascendência e consequentemente a construção de ideias que 
migram dessas sociedades dominantes para aquelas que pretendiam torná-las 
hospedeira dos valores produzidos pelas sociedades desenvolvidas. 
Sabe-se que a palavra migração é o deslocamento de indivíduos ou grupos 
no espaço geográfico, que pode ser interno, isto é, dentro do próprio país, ou 
externo. Costuma-se denominar imigração a entrada de estrangeiros em um país e 
emigração a saída de pessoas de uma nação. 
Fonte: https://prezibase.com/product-tag/pencil/page/3/ 
52 
 
Antropologia Cultural 
 
A sociedade brasileira acaba se vestindo de outras culturas como se fosse a 
sua, mas que pertence à outra sociedade que, pouco a pouco redesenha os nossos 
valores, e acabamos acreditando que essa cultura agora cantada e decantada em 
versos no seio da sociedade nos pertence. 
As sociedades desenvolvidas sempre buscavam tornar a sociedade visitada 
uma simples depositária das ideias que nasciam fora de sua realidade, mas que com 
o tempo acabavam sendo incorporadas no cotidiano dessas sociedades. A história 
da sociedade brasileira se deu sobre a influência dos colonizadores portugueses, 
provocando a destruição lenta das tradições indígenas que hoje, pela resistência dos 
grupos, mantém fragmentos de sua cultura; sem falar da africana, desfigurada pela 
servidão que primeiro devastou o espírito, e depois o corpo da população negra; 
como consequência, trouxe uma descaracterização da sua cultura e universo 
religioso. 
Muitos estudiosos acreditam que, na sociedade brasileira, ocorreu o processo 
de miscigenação de etnias e culturas. Gilberto Freyre escreveu inúmeras obras, 
dentre elas “Casa Grande & Senzala”, retratando principalmente os costumes da 
sociedade brasileira, juntamente com as obras de Câmara Cascudo e Sergio 
Buarque de Holanda. 
Apesar da importância da obra para a etnologia brasileira, acredita-se que 
tenha perdido sua força no que tange à argumentação sobre a miscigenação, pois 
outras correntes de pensamento ganharam relevância e colocaram o resultado 
obtido por Freyre como no mínimo inquestionável principalmente na harmonia e no 
equilíbrio de conflito interracial com as outras sociedades. 
A sociedade brasileira queria mostrar ao mundo que existia uma democracia 
racial, criando assim o mito das três raças – coisa que dificilmente poderia ser aceita 
passivamente na sociedade atual, mas que, no momento da construção de um 
ideário nacional, colocou-se como valor absoluto. Tanto, que no campo musical, o 
samba, ritmo de origem negra, foi alçado como estandarte nacional, e hoje temos 
muito claro como isso favoreceu a uma desconstrução de uma identidade das 
culturas locais. 
A elite queria realizar a imigração de ideias e furtar dos outros segmentos 
sociais a possibilidade de ver vivo seu universo cultural. Somente pequenos grupos 
mantiveram uma resistência, mas foram isolados e envolvidos, e ao perderem o que 
53 
 
Antropologia Cultural 
 
fora transmitido de geração para geração através da mitologia, se esvaíram e 
perderam sentido para as gerações futuras. 
 
 
 
 
 
3.3.1 A nossa identidade 
 
A identidade de nação tentava ser construída no final do sec. XIX e início do 
sec. XX, tanto pelo segmento político como intelectual. Freyre foi um dos 
representantes dessa intelectualidade, com seu espírito nacionalista, mas, no 
entanto, se vestiam e comiam à francesa. 
A população descendente de subgrupos culturais trazidos por outros povos 
uniram-se para tentar sobreviver. Isto era o que Freyre considerava como sendo 
miscigenação, e representaria o modelo desenhado ao longo da história dessa 
sociedade. 
Com a aglutinação de várias culturas sem uma identidade própria, se formou 
uma composição das etnias, fruto de uma violência realizada para satisfação de sua 
população indígena e negra, que muitas vezes era utilizada para fins sexuais, 
formando uma geração de filhos considerados “bastardos”, fruto da exploração 
sexual dos senhores de engenho e da população branca com as negras escravas. 
Em virtude de sua posição de serviçal, estas mulheres eram muitas vezes usadas 
para a iniciação sexual de filhos dos senhores de engenho; porém, viviam à margem 
dessas famílias tradicionais. 
O colonizador, por sua vez, ocasionou o enfraquecimento de culturas locais, 
ao se deitar com as nativas, pois atribuíam a elas um estigma que seria motivo para 
serem expulsas de suas próprias aldeias, desencadeando a desestabilização da 
sociedade indígena. Freyre (2003, p.157) fez o seguinte comentário sobre essa 
situação: 
Com a instrução europeia, desorganiza-se entre os indígenas da America 
ávida social e econômica, desfaz-se o equilíbrio nas relações do homem 
com o meio físico. Principia a degradação da raça atrasada ao contato da 
adiantada. Mas essa degradação segue ritmos diversos: por um lado 
conforme a diferença regional de cultura humana ou de riqueza do solo 
entre os nativos- máxima entre os incas e asteca e mínima nos extremos do 
Miscigenação – mistura ou cruzamento das raças; mestiçagem. 
Etnia - Grupo biológico e culturalmente homogêneo. 
 
54 
 
Antropologia Cultural 
 
continente, por outro lado, conforme as disposições e recursos 
colonizadores do povo intruso ou invasor. 
 
Nossa identidade cultural foi se construindo pelas dominações na história, 
inicialmente de portugueses colonizadores de povos indígenas e africanos 
escravizados e imposições econômicas políticas e culturais de ingleses franceses no 
sec. XIX, e americanos a partir do sec. XX na formação do povo brasileiro. 
Até hoje, busca-se ainda inspiração nos parâmetros culturais dos centros 
hegemônicos. É importante percorrer as manifestações culturais e criações em todos 
os campos do saber e das práticas sociais, para nossa atuação profissional real dos 
indivíduos nos seus segmentossociais, para nossa atuação profissional e política no 
quadro social do Brasil. 
A questão da identidade é explorada cotidianamente nas novelas e filmes a 
que você assiste na TV ou no cinema. Se personagens do pai, do filho, do marido, 
da esposa não agirem de acordo com a identidade social construída para esses 
papeis, as pessoas estranham. A identidade do outro vai refletir na minha. Para se 
ter a identidade do bom marido, tem de se estar casado com a boa esposa. 
Uma identidade social depende de outra e vice-versa, o marido depende da 
esposa, o filho da existência do pai ou da mãe, o professor da do seu aluno, nós 
construímos outras identidades sociais com a vivência de nossas relações, do 
solteiro, do namorado, do casado, do separado, do pai ou mãe, do avô ou avó etc. 
A identidade social que temos representa um conjunto de papeis sociais que 
desempenhamos na nossa vida cotidiana. E esses papéis, na sua maioria, atendem 
à manutenção das relações sociais que os outros esperam de nós – boa filha, bom 
filho, boa esposa, bom marido, bom funcionário. Para que você seja considerado um 
bom professor, será esperado que você tivesse, no mínimo, alguns saberes 
específicos da sua área de atuação. Mas e se você não recebeu ou não se 
preocupou em aprender o que estava fazendo, nem sendo ensinado? Poderíamos 
dizer, então, que não teríamos um bom profissional. Você teria de estudar mais. 
No papel de aluno fazendo o curso, existem algumas regras ou 
comportamentos esperados: estudar, dedicar-se mais, tirar as dúvidas se não está 
entendendo etc. De uma pessoa no papel social do professor, também é esperado o 
mínimo de conhecimento e de vontade de dar aula, ou seja, um compromisso 
pedagógico de transformação. Mas ao sair da universidade com seu diploma em 
mãos, você começa a perceber que não consegue atuar na área em que se formou; 
55 
 
Antropologia Cultural 
 
às vezes, não é por questões de falta de emprego ou problemas na economia, mas 
por não ter conhecimento para trabalhar na sua área. 
Você não teve consciência de si, enquanto sujeito construindo a sua história 
ou sua identidade, e seus papéis sociais foi reproduzido em um nível ideológico, em 
que você foi alvo de “relações de dominação necessárias para a reprodução das 
condições materiais de vida e a manutenção da sociedade de classe, onde uns 
poucos dominam e muitos são dominados”. São importante que você se questione 
quais foram os determinantes sociais que não possibilitaram uma formação 
razoável. Poderia dizer que foram os deveres familiares, o trabalho, etc. 
Tudo bem, mas... e daí? Qual será sua ação? Ou no dizer de Lane (ibid.): 
quando você vai tomar consciência de si enquanto sujeito que modifica a sua 
história de vida? 
Se a realidade é movimento, é transformação, por que o homem tem 
dificuldade para ser uma metamorfose? Ficamos, às vezes, presos a papéis sociais, 
ao que os outros esperam que façamos. Você pode dizer, ao final de um dia: “bom, 
hoje não fui escravo de ninguém”, mas será que não foi escravo de si mesmo? 
Como posso transformar o mundo se não consigo mudar a minha própria vida, 
minha rotina diária? 
Severina, a personagem do livro Ciampa (1996), tinha uma intencionalidade; 
ela fazia escolhas e suas atitudes tinham sentido. Tinha até um projeto de vingança! 
Ela agia e tinha vontade, era esforçada para tentar melhorar sua condição de 
vidaescrava. Mas seu ego, o seu pensamento não acompanhavam o fazer, 
enquanto possibilidade de mudança. Ela própria começava a tomar consciência de 
que poderia construir uma nova identidade, mas tinha dificuldade, pois sua vida era 
a mesma coisa quase todo dia, “mesmidade, a mesmidade do pensar e ser: buscar 
ser ela mesma, não como atualização de uma essência (ou traço essencial); ser ela 
mesma”. Não bastava ela ter uma identidade, tinha de ter uma consciência de uma 
atividade para transformar essa identidade em uma atividade de transformação. Por 
isso as três categorias, identidade, consciência e atividade, são fundamentais para 
manter-se em sociedade. 
No dizer de Ciampa (1996, p.146), utilizando-se das próprias palavras de 
Severina, “se não me transformar, como vou transformar o ambiente?”. Ela não 
conseguia “ser-para-si”, nem a escrava, e nem uma pessoa que pudesse realizar 
sua vingança pelo amante e pelo pai. Ela tinha realmente uma dificuldade na 
56 
 
Antropologia Cultural 
 
condição “de ser-para-si”, criando o que chamamos de identidade-mito, o mundo da 
mesmice e da má afinidade. A identidade é real, é obvio que ela é movimento e 
transformação, mas Severina não conseguia perceber isso. Então o autor afirma que 
existe outra forma de identidade que não se falava: a identidade não metamorfose, o 
não movimento, como, a não transformação. 
A materialidade da vida real tem suas manifestações de formações materiais, 
ou seja, estudar a identidade de alguém nos remete a história da Severina, e essa 
identidade tem sua materialidade. A possibilidade de transformação dessa 
identidade passa pela mudança da materialidade concreta que constitui em uma 
identidade específica: a de ser escrava. 
 
3.4 Subjetividade X objetividade 
 
Ao responder um questionamento qualquer, você fez uso da sua objetividade 
ou subjetividade? Existe diferença entre subjetividade e objetividade? Como elas o 
ajudarão? 
Neste aspecto, iremos compreender quanto à objetividade e à subjetividade 
para entendermos o processo de construção da nossa identidade, da nossa 
realidade. 
Atualmente, diversas áreas e profissionais como filósofos, historiadores, 
sociólogos, antropólogos, psicólogos, tem estudado e escrito sobre essa temática. O 
ser humano é ao mesmo tempo um indivíduo particular e social. 
A sua individualidade ocorre por meio da relação objetiva (a partir daquilo que 
é real concreto) com o seu ambiente físico, histórico, geográfico e social. Suas 
ações desenvolvem o seu psiquismo, por meio da tomada de consciência, da 
atividade que formará a sua identidade. 
Mas, para conhecê-lo, deveremos considerá-los dentro de um contexto 
histórico, social e cultural, em um processo constante de subjetivação x objetivação. 
Quando conceituamos algo objetivamente, utilizamos termos, definições 
aceitas por todos ou por uma maioria da sociedade. Ao ser subjetivo, utilizo das 
minhas interpretações particulares demonstrando a forma como vejo e encaro as 
coisas. Nesse momento deixamos transparecer nossos sentimentos, valores, 
emoções, temores, entre outros. 
57 
 
Antropologia Cultural 
 
Há uma posição interacionista presente, mas não há superação dessa 
dicotomia, na medida em que, na teoria de alguns autores, a relação se dá através 
de um “mecanismo de feedback”, no qual o agente externo influencia o interno, e 
vice-versa. 
A experiência humana se objetiva na realidade criando regularidades (hábitos 
– tradição – institucionalização) e as instituições são subjetivadas por meio da 
introjeção pela socialização. 
Portanto, a realidade social e individual do ser humano é construída pelo 
processo de interação constante entre o objetivo e o subjetivo, sem que essa 
interação possa indicar a fonte de determinada realidade. A nossa realidade é 
construída por meio do que é concreto, visto e observado, mas dentro de um campo 
de valores. 
Esse processo não ocorre de forma rápida. Ele é lento e gradativo, a partir da 
relação do meio interno e externo do indivíduo. A psicologia social, em uma 
compreensão crítica da sociedade, deve buscar compreender a relação individual 
social por meio dessa interação indivíduo/sociedade, visto que a sua identidade se 
dá por meio dessa relação, considerando-o com a sua história particular, como um 
ser de transformações. 
A atividade desenvolvida pelo indivíduo é a sua realização concreta, bem 
como expressão da sua subjetividade diante da definição de papéis exercidos por 
ele, assim como de sua consciência. Ela é subjetiva(envolve afeto do eu individual) 
e objetiva (contato com o mundo exterior). 
Nesse processo, o indivíduo constrói o seu mundo da mesma forma que 
constrói a si mesmo, a sua identidade com as relações, experiências vivenciadas por 
ele. Por exemplo, um indivíduo que mora em uma região desfavorecida de sistema 
de tratamento de esgoto, como ele constrói sua subjetividade? Como ele se percebe 
em relação ao “centro” da cidade, com suas “facilidades”? Como isso influi na sua 
forma de entender o mundo e de se relacionar com o outro? 
 
 
 
 
 
 
58 
 
Antropologia Cultural 
 
TEXTO COMPLEMENTAR 
 
A MINHA OU A NOSSA? 
O PAPEL DA ESCOLA SE INTENSIFICA AO ENTENDERMOS QUE ELA É DE 
TODOS DA MESMA FORMA QUE PERTENCEMOS A ELA 
 
 Terezinha Azeredo Rios 
 
Minha escola. É assim que, geralmente, os gestores se referem à instituição 
que dirigem. A posse implícita na expressão parece semelhante à que indica de 
quem é a toalhinha de crochê que se encontra sobre o arquivo ou porta-retratos com 
fotos da família. 
Da mesma forma, são comuns as expressões "meus professores", "meus' 
alunos", "meus funcionários". Podemos até imaginar que esse é um jeito de 
demonstrar devoção ao cargo. Sem tirar o mérito do zelo profissional, é preciso 
apontara risco de considerar a escola - e o que ela abriga - como um domínio 
particular. 
A expressão popular "eu ido disso como se fosse meu" traz a impressão de 
que se tem mais consideração - ou simplesmente mais cuidado - com algo que nos 
pertence. E ainda: que a propriedade privada tem mais importância que a pública. 
Basta lançar um olhar à nossa volta para ver o descaso com que os espaços de uso 
comum são tratados, fato que reforça, uma crença equivocada segundo a qual "o 
que é de todos não é de ninguém". 
Aprendemos que os adjetivos possessivos indicam propriedade: rainha blusa, 
seu livro, nossa casa. Esse sentido se aplica bem para coisas. Entretanto, há outro 
significado quando dizemos: "Minha mãe, seu amigo, nosso time". Ao nos referirmos 
à pessoa e à instituição, a relação que se estabelece não é a de posse, mas de um 
sentimento duplo: sou dela da mesma forma que ela é minha. O que expressamos é 
uma ideia de pertencimento: minha família, nosso país. 
Escola - espaço que não só físico e se constituí de tantos elementos 
complexos dos qual ninguém tem a posse e com os quais devemos estabelecer uma 
relação de convivência e de trabalho. Por isso o gestor precisa cuidar para que as 
ações não sejam de caráter possessivo: Pode-se pensar que essa reflexão só tem 
59 
 
Antropologia Cultural 
 
validade para as escolas públicas, uma vez que, do ponto de vista formal, os 
gestores não são seus proprietários. Mas não é a esse sentido que me refiro. 
Mesmo no caso de uma instituição particular, na qual o dirigente muitas vezes 
é também o dono, a escola - que é um espaço público - só cumprirá sua missão se 
for de todos aqueles que a constituem, cada um em sua função. É claro que os 
gestores têm um papel específico e urna responsabilidade próprios, que só ganham 
significado, porém, se estiverem articulados ao trabalho dos outros. 
Ao lugar onde damos aula, cabe melhor o sentido de pluralidade. Nossa 
escola é a instituição que nos pertence, como um bem que assumimos, mas à qual 
pertencemos, porque com nossa atuação damos a ela sua feição. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
60 
 
Antropologia Cultural 
 
 
 
1) Explique como você percebe a questão das diferenças entre as nações. 
2) Até que ponto pensar sobre a nossa identidade contribui para um mundo mais 
democrático? 
3) Dê exemplos em nossa sociedade de grupos diferenciados pela identidade e 
explique quais os seus anseios e preocupações. 
4) Verifique a partir de sua experiência se existe no Brasil uma democracia racial. 
5) Defina, de acordo com o estudo dessa temática, os seguintes termos: 
a) Objetividade: 
b) Subjetividade: 
6) Qual a relação entre objetividade e subjetividade na construção social dos 
indivíduos? 
 
Comente sobre o processo de migração interna no 
Brasil. 
 
61 
 
Antropologia Cultural 
 
 
UNIDADE 04 
 
Abordagem antropológica da 
educação: contribuições para 
as análises sociais 
 
Fonte: https://www.alternativaexperience.com.br/produto/trekking-brotas-sp/ 
62 
 
Antropologia Cultural 
 
4.1 O campo e a abordagem antropológicos 
 
A reflexão do homem sobre o homem e sua sociedade, e a elaboração de um 
saber são, portanto, tão antigos quanto a humanidade, e se deram tanto na Ásia 
como na África, na América, na Oceania ou na Europa. Mas o projeto de fundar uma 
ciência do homem – uma antropologia – é, ao contrário, muito recente. Apenas no 
final do século XVIII é que começa a se constituir um saber científico que toma o 
homem como objeto de conhecimento, e não mais a natureza. 
Isso constitui um evento considerável na história do pensamento do homem 
sobre o homem. Esse pensamento tinha sido, até então, mitológico, artístico, 
teológico, filosófico, mas nunca científico no que dizia respeito ao homem em si. 
Finalmente, a antropologia, ou mais precisamente, o projeto antropológico, surge em 
uma região muito pequena do mundo: a Europa. 
Para que esse projeto alcance suas primeiras realizações, para que o novo 
saber comece a adquirir um início de legitimidade entre outras disciplinas científicas, 
será preciso esperar a segunda metade do século XIX, durante o qual a antropologia 
se atribui objetos empíricos autônomos. 
A ciência supõe uma dualidade radical entre o observador e seu objeto. A 
separação entre sujeito observante e o objeto observado na antropologia consistirá 
nessa época, em uma distância definitivamente geográfica. As sociedades 
estudadas pelos primeiros antropólogos são sociedades longínquas, na qual se 
referem a sociedades de dimensões restritas; que tiveram poucos contatos com os 
grupos vizinhos; cuja tecnologia é pouco desenvolvida em relação a nossa; e nas 
quais há uma menor especialização das atividades e funções mentais. 
A antropologia acaba de atribuir-se um objeto que lhe é próprio: o estudo das 
populações que não pertencem à civilização ocidental. Mas no inicio do século XX, 
após ter firmado seus próprios métodos de pesquisa, a antropologia percebe que o 
objeto empírico que tinha escolhido (as sociedades “primitivas”) está 
desaparecendo, pois o próprio universo dos “selvagens” não é de forma alguma 
poupado pela evolução social. 
Muito rapidamente, uma questão se coloca, a qual permanece desde seu 
nascimento: o fim do “selvagem”. De acordo com Laplatine (1988, p.15), Paul 
Mercier cita que o antropólogo aceita, por assim dizer, sua morte, e volta para o 
63 
 
Antropologia Cultural 
 
âmbito das outras ciências humanas. Ele sai em busca de outra área de 
investigação: o camponês, objeto ideal de seu estudo, já que foi deixado de lado 
pelos outros ramos das ciências do homem. Finalmente ele afirma a especificidade 
de sua prática, não mais através de um objeto empírico constituído (o selvagem, o 
camponês), mas através de uma abordagem epistemológica constituinte. 
O objeto teórico da antropologia não está ligado a um espaço geográfico, 
cultural ou histórico particular. Pois a antropologia não é senão certo enfoque que 
consiste em: o estudo do homem inteiro; o estudo do homem em todas as 
sociedades, sob todas as latitudes em todos os seus estados e em todas as épocas. 
 
4.2 O estudo do homem inteiro 
 
Certamente, o acúmulo dos dados colhidos a partir de observações diretas, 
bem como o aperfeiçoamento das técnicas de investigação, conduz 
necessariamente a uma especialização do saber. Só pode ser considerada como 
antropológica uma abordagem integrativa que objetive levar em consideração as 
múltiplas dimensões do ser humano em sociedade. Porém, umadas vocações 
maiores de nossa abordagem consiste em tentar relacionar campos de investigação 
frequentemente separados. Existem cinco áreas principais da antropologia nas quais 
essas mantêm relações estreitas entre si. 
A antropologia biológica (designada antigamente sob o nome de antropologia 
física) consiste no estudo das variações dos caracteres biológicos do homem no 
espaço e no tempo. Sua problemática é a das relações entre o patrimônio genético e 
o meio (geográfico, ecológico, social), ela analisa as particularidades morfológicas e 
fisiológicas ligadas a um meio ambiente, bem como a evolução destas 
particularidades. Assim, o antropólogo biologista levará em consideração os fatores 
culturais que influenciam o crescimento e a maturação do indivíduo. Por exemplo: 
por que o desenvolvimento psicomotor da criança africana é mais adiantado do que 
o da criança europeia? 
Essa área da antropologia não consiste apenas no estudo das formas de 
crânios, mensurações do esqueleto, tamanho, peso, cor da pele, anatomia 
comparada das raças e dos sexos; interessa-se em especial pela genética das 
populações, que permite discernir o que diz respeito ao inato e ao adquirido, sendo 
64 
 
Antropologia Cultural 
 
que um e outro estão interagindo continuamente. Ela tem um papel particularmente 
importante a exercer para que não sejam rompidas as relações entre as pesquisas 
das ciências da vida e as das ciências humanas. 
A antropologia pré-histórica é o estudo do homem através dos vestígios 
materiais enterrados no solo. Seu projeto, que se liga a arqueologia, visa reconstituir 
as sociedades desaparecidas, tanto em suas técnicas e organizações sociais, 
quanto em suas produções culturais e artísticas. Percebemos que esse ramo da 
antropologia trabalha com uma abordagem idêntica às da antropologia histórica e da 
antropologia social e cultural. O historiador é antes de tudo um Historiógrafo, isto é, 
um pesquisador que trabalha a partir do acesso direto aos textos. O especialista em 
pré-história recolhe, pessoalmente, objetos no solo, e realiza um trabalho de campo. 
A antropologia linguística: a linguagem é parte do patrimônio cultural de uma 
sociedade. É através dela que os indivíduos que compõem uma sociedade se 
expressam e expressam seus valores, suas preocupações, seus pensamentos. 
Apenas o estudo da língua permite compreender: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 A antropologia linguística não diz respeito apenas ao estudo dos 
dialetos (dialetologia), ela também se interessa pelas imensas áreas 
abertas e pelas novas técnicas modernas de comunicação. 
 A antropologia psicológica: consiste no estudo dos processos e do 
funcionamento do psiquismo humano. De fato, o antropólogo é em 
primeira instância confrontado não a conjuntos sociais, e sim a 
indivíduos. Ou seja, somente através dos comportamentos – 
conscientes e inconscientes – dos seres humanos particulares, 
podemos apreender essa totalidade sem a qual não é antropologia. É a 
1) Como os homens pensam o que vivem e o que 
sentem, isto é, suas categorias psicoafetivas e 
psicocognitivas (etnolinguística); 
2) Como eles expressam o universo e o social; 
3) E como, finalmente, eles interpretam seus próprios 
saberes e saber-fazeres (áreas das chamadas 
etnociências). 
 
65 
 
Antropologia Cultural 
 
razão pela qual a dimensão psicológica e também psicopatológica é 
absolutamente indissociável do campo. 
 A antropologia social e cultural (ou etnologia): diz respeito a tudo que 
constitui uma sociedade: seus modos de produção econômica, suas 
técnicas, sua organização política e jurídica, seus sistemas de 
parentesco, seus sistemas de conhecimento, suas crenças religiosas, 
sua língua, sua psicologia, suas citações artísticas. 
 
Segundo Laplatine, 1988 a antropologia consiste menos no levantamento 
sistemático desses aspectos do que em mostrar a maneira particular com a qual 
estão relacionados entre si e através da qual aparece a especificidade de uma 
sociedade. É precisamente esse ponto de vista da totalidade, e o fato de que o 
antropólogo procura compreender, como diz Lévi-Strauss, aquilo que os homens 
“não pensam habitualmente em fixar na pedra ou no papel” (nossos gestos, nossas 
trocas simbólicas, os menores detalhes dos nossos comportamentos), que faz dessa 
abordagem um tratamento fundamentalmente diferente dos utilizados setorialmente 
pelos geógrafos, economistas, juristas, sociólogos, psicólogos. 
 
Fonte: http://www.historiacommidias.com.br/2013/11/ufu-2011.html 
66 
 
Antropologia Cultural 
 
4.3 O estudo do homem em sua diversidade 
 
A antropologia não é apenas o estudo de tudo que compõe uma sociedade. 
Ela é o estudo de todas as sociedades humanas, ou seja, das culturas da 
humanidade como um todo em suas diversidades históricas e geográficas. 
A antropologia não poderia ser definida por um objeto empírico qualquer e, 
em especial, pelo tipo de sociedade ao qual ela, a princípio, se dedicou 
preferencialmente ou mesmo exclusivamente. 
Ocorre, porém, que se a especificidade da contribuição dos antropólogos em 
relação aos outros pesquisadores em ciências humanas não pode ser confundida 
com a natureza das primeiras sociedades estudadas, ela é indissociavelmente 
ligada ao modo de conhecimento que foi elaborado a partir do estudo dessas 
sociedades. 
Além disso, apenas a distância em relação a nossa sociedade nos permite 
fazer esta descoberta: aquilo que tomávamos por natural em nós mesmos é, de fato, 
cultural; aquilo que era evidente é infinitamente problemático. Disso decorre a 
necessidade, na formação antropológica, daquilo que se pode chamar de 
“estranhamento”, a perplexidade provocada pelo encontro das culturas que são para 
nós as mais distantes, e cujo encontro vai levar a uma modificação do olhar que se 
tinha sobre si mesmo. 
A experiência da alteridade leva-nos a ver aquilo que nem teríamos 
conseguido imaginar, dada a nossa dificuldade em fixar nossa atenção no que nos é 
habitual, familiar, cotidiano, e que consideramos “evidente”. Aos poucos, 
percebemos que o menor de nossos comportamentos (gestos, mímicas, posturas, 
reações afetivas) não tem realmente nada de “natural”. Começamos, então, a nos 
surpreender com aquilo que diz respeito a nós mesmos. O conhecimento 
antropológico da nossa cultura passa inevitavelmente pelo conhecimento das outras 
culturas. 
O que caracteriza a unidade do homem, de que a antropologia faz tanta 
questão, é sua aptidão praticamente infinita para inventar modos de vida e formas 
de organização social extremamente diversa. E a nossa disciplina permite notar, 
com a maior proximidade possível, que essas formas de comportamento e de vida 
em sociedade que tomávamos todos espontaneamente por inatas (nossa maneira 
67 
 
Antropologia Cultural 
 
de andar, dormir, nos encontrar, nos emocionar, comemorar os eventos de nossa 
existência...) são, na realidade, o produto de escolhas culturais. Ou seja, aquilo que 
os seres humanos têm em comum é sua capacidade para se diferenciar uns dos 
outros, para elaborar costumes, línguas, modos de conhecimento, instituições, jogos 
profundamente diversos; pois se há algo natural nessa espécie particular que é a 
espécie humana, é sua aptidão a variação cultural. 
A descoberta da alteridade é a de uma relação que nos permite deixar de 
identificar nossa pequena província de humanidade com a humanidade, e 
correlativamente deixar de rejeitar o presumido “selvagem” fora de nós mesmos. 
Confrontados a multiplicidade das culturas, somos aos poucos levados a romper 
com a abordagem comum que opera sempre a naturalização do social (como se 
todo o nosso comportamento fosse inato, e não adquiridos no contato com a cultura 
na qual nascemos). A romper igualmente com o humanismo clássico que também 
consiste na identificação do sujeito com ele mesmo, e da cultura com a nossa 
cultura. De fato, a filosofia clássica, mesmosendo filosofia social, bem como as 
grandes religiões, nunca se deram como objetivo o de pensar a diferença, e sim o de 
reduzi-la, frequentemente inclusive de uma forma igualitária e com as melhores 
intenções do mundo. 
O pensamento antropológico considera que, assim como uma civilização 
adulta deve aceitar que seus membros se tornem adultos, ela deve igualmente 
aceitar a diversidade das culturas, também adultas. Podemos então nos perguntar 
como a humanidade pôde permanecer por tanto tempo cega para consigo mesma, 
amputando parte de si própria e fazendo de tudo que não eram suas ideologias 
dominantes sucessivas, um objeto de exclusão. Desconfiemos, porém do 
pensamento de que estamos finalmente mais “lúcidos”, mais “conscientes”, mais 
“livres”, mais “adultos”, do que em uma época da qual seria errônea pensar que está 
definitivamente encerrada. Pois essa transgressão de uma das tendências 
dominantes de nossa sociedade deve ser sempre retomada. 
O que não significa de forma alguma que o antropólogo seja destinado, seja 
levado por alguma crise de identidade, ao adotar esse fato pela lógica das outras 
sociedades e ao censurar a sua. No entanto, a dúvida e a crítica de si mesmo só são 
cientificamente fundamentadas se forem acompanhadas da interpelação crítica de 
outrem. 
 
68 
 
Antropologia Cultural 
 
4.4 A educação como preocupação 
 
Para uma determina sociedade, a educação constitui uma preocupação com 
fronteiras mal definidas. Essa preocupação se relaciona com a maneira como um 
grupo social pode integrar em sua própria cultura as novas faixas etárias que 
engendrou. Fundamenta-se em um estranho paradoxo, que é a marca de qualquer 
iniciação; esse paradoxo reza que a iniciação e, portanto, a educação, ocorra 
simultaneamente em dois registros opostos: de um lado, busca integrar os jovens, 
propondo-lhes um lugar, um papel a ser desempenhado em um conjunto 
determinado, aquele do mundo adulto de sua cultura; de outro, esforça-se para 
torná-los autônomos, isto é, atores em sua própria cultura. Desse modo, integração 
e autonomia são as duas faces de uma mesma realidade: a iniciação. 
Com efeito, parece-nos restrito aplicar o paradoxo autonomia/integração 
somente à instrução; uma comparação etnológica com as iniciações nas sociedades 
tradicionais nos mostra facilmente que é o conjunto do processo educativo que foi 
levado a operar este duplo jogo: dar os meios da autonomia; dar os meios da 
integração. 
Para realizar essa educação, não há boa solução, não há via única, mas uma 
pluralidade de procedimentos conforme se valorize a inserção ou a autonomia. São 
duas realidades opostas sob muitos aspectos, tornando-se complementares apenas 
quando o processo educativo atinge seu termo. Isso equivale a dizer que o campo 
educativo está saturado pelos valores que o polarizam. Há educação somente em 
relação a esses valores de referência que dão certo sentido, que tentam articular à 
sua maneira inserção (ou integração) e autonomia. A escolha dos valores de 
referencia depende da sensibilidade das comunidades educativas em questão. 
Depende também da conjuntura; é mais fácil valorizar a autonomia em um contexto 
social em expansão, assim como é mais urgente valorizá-la em um âmbito 
demasiadamente coercitivo. Em compensação, em um meio mais anômico, ou que 
cria numerosos excluídos, torna-se mais urgente favorecer a integração. 
O que acabamos de relatar requer duas precisões importantes para terminar 
de caracterizar o que tange ao domínio educacional. Antes de mais nada, a 
educação ultrapassa amplamente o campo escolar, que é apenas um dos lugares 
reconhecidos onde ela pode ser dispensada. A educação abrange a coletividade em 
69 
 
Antropologia Cultural 
 
sua totalidade, assim como grupos particulares que se organizam para dispensar, 
juntamente com a escola, determinada forma de educação, como, por exemplo, os 
movimentos dos jovens. Porém, a educação coloca em primeiro plano 
principalmente as famílias das crianças; essas famílias são os principais envolvidos 
pelos valores educacionais a serem promovidos. A educação se revela, portanto, 
uma preocupação difusa no conjunto do corpo social. 
Segunda precisão: a educação visa principalmente às iniciações de base, as 
primeiras iniciações feitas pelo jovem para permitir, em uma dada cultura, seu 
acesso ao estatuto de adulto. Por essa razão, assimila-se muitas vezes a educação 
à formação inicial, por fornecer as organizações mentais, comportamentais e de 
atitude indispensáveis. Em vista disso, a educação pode ser definida como 
préformação, período de estruturação das disposições que, na sequência, adquirem 
uma certa permanência. Contudo, a educação permanece mais indiferente às 
iniciações secundárias, aquelas feitas pelo adulto ao longo de sua trajetória: 
Aprendizagens diversas orientadas para um aperfeiçoamento, uma 
reconversão, uma sensibilização. Para essas iniciações secundárias, a educação 
abre então espaço à formação propriamente dita: formação contínua no decorrer da 
qual o adulto tem oportunidade de se distanciar um pouco de seu meio para analisar 
sua experiência, apropriar dela e desenvolver nesta ou naquela direção novas 
capacidades de aprendizagem. Toda formação, contrariamente à educação, precede 
a partir das aquisições que contribui para desestruturar, “deformar”, para 
reorganizar, “reformar” novas aprendizagens. Embora a educação seja tão antiga 
quanto às culturas, uma característica das sociedades industriais, em contrapartida, 
é indubitavelmente o fato de terem permitido a valorização dessa prática, até então 
minoritária, que é a formação para adultos. Mesmo tendo existido de maneira 
embrionária e informal, essa prática se institucionalizou apenas recentemente. 
 
70 
 
Antropologia Cultural 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: http://www.escolabernardinomoreira.com.br/Noticias/Exibir/solidariedade-na-escola 
71 
 
Antropologia Cultural 
 
TEXTO COMPLEMENTAR 
 
FORMAÇÃO DOCENTE 
 Girlane Melo 
 
Um dos temas mais relevantes e que tem ocupado grande espaço nas 
discussões sobre o rumo da educação no Brasil é a formação de professores. 
Quisera tivesse sido sempre tratado com a importância que o assunto requer. 
Durante muito tempo para ser professor bastava ter cursado o primário ou 
ginásio ou ainda ter uma boa indicação política. Com o passar do tempo e com as 
novas exigências do mercado, o profissional da educação precisou preparar-se 
melhor, inclusive mantendo um ritmo de estudo contínuo que pudesse levá-lo a 
cursar mestrados e doutorado. 
Pode-se observar através da leitura de trabalhos de vários autores e 
pesquisadores em educação, que ainda é destaque nessa área de formação, a 
preocupação exagerada com o lado tecnicista da tarefa de educar. Ela é importante, 
precisa e deve ser trabalhada, mas dentro de uma visão mais ampla que envolva 
também o compromisso social de uma prática educativa transformadora. 
A democratização do ensino vem exigindo cada vez mais que a formação de 
professores contemple também o saber lidar com as diferenças que agora se 
apresentam mais fortemente nas salas de aula: diferenças sociais, intelectuais, 
econômicas etc. 
O professor precisa estar pronto para desempenhar o papel de mediador 
entre essas diferenças diminuindo assim as desigualdades existentes e trabalhando 
para que elas possam ser aproveitadas para o crescimento do grupo. 
Outro aspecto relevante a ser considerado e melhor discutido é o estudo das 
leis dentro desse processo de formação, que juntamente com os demais 
conhecimentos como os de Sociologia, Antropologia; Filosofia, Psicologia, vão 
ajudar esses profissionais a desempenhar de forma mais segura e consciente suas 
atividades. 
O conhecimento das diversas leis, que embora nem seperceba, diz respeito 
ao seu trabalho de educador, vai evitar interpretações do senso comum, geralmente 
equivocadas, como também o risco de sofrer penalidades por ação ou omissão. 
72 
 
Antropologia Cultural 
 
Dentro dessa perspectiva, o cenário atual espera profissionais da educação 
que estejam capacitados teoricamente dentro de suas especialidades, que sejam 
familiarizados com as tecnologias e que principalmente possam agir como agentes 
transformadores criando um ambiente crítico-reflexivo sobre a ordem social, 
econômica e política vigente para assim tentar diminuir as desigualdades de um 
sistema que absorve e ao mesmo tempo exclui. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
73 
 
Antropologia Cultural 
 
 
 
 
1. Elabore um texto dissertativo de no máximo duas (02) laudas baseado no contexto da 
educação no campo antropológico, como ela é vista e o que você espera que seja. 
Aborde também o que foi estudado em sala de aula bem como os aspectos relevantes 
para sociedade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. Por que o desenvolvimento psicomotor da criança 
africana é mais adiantado do que o da criança europeia? 
2. Comente sobre a Antropologia Linguística. 
 
74 
 
Antropologia Cultural 
 
 
UNIDADE 05 
 
Diversidade cultural no 
mercado de trabalho 
 
Fonte: http://openmindintercambio.com.br/blog/tag/mercado-de-trabalho/ 
75 
 
Antropologia Cultural 
 
5.1 Antropologia, cultura e diversidade cultural 
 
A cultura é um fenômeno necessariamente social, partilhado pelas pessoas 
de determinado grupo. Não é difícil supor que os grupos partilham valores, regras da 
vida, modos de agir, de falar, de se vestir etc. Portanto, tenha em mente que há 
diferenças e similaridades entre um grupo e outro. 
A diversidade cultural refere-se aos diferentes modos de ser desses grupos 
de pessoas, que precisam conviver e se relacionar nos mesmos espaços. O 
mercado de trabalho é um exemplo em que a diversidade cultural é bastante 
expressiva, em que precisa ser compreendida para transpor os conflitos. 
A Antropologia é uma das ciências que busca compreender os fenômenos 
culturais e pode contribuir para a promoção da tolerância, mostrando, como afirma 
Da Matta (2001), que o diferente não tem a denotação de inferioridade, mas que 
indica alternativas e equivalências. Neste tópico, vamos compreender melhor as 
relações entre a Antropologia e os conceitos de cultura e diversidade cultural. 
 
5.1.1 A Antropologia como uma ciência que estuda a cultura 
 
Desde os seus primórdios, o homem fez comparações entre a sua cultura e a 
de outras sociedades, buscando compreender as diferenças e semelhanças, o que, 
por vezes, originou conflitos e confrontos entre os povos. 
Contudo, conforme explica Laplantine (2003), o projeto de formar uma ciência 
do homem (ou Antropologia) é relativamente recente, datando do século XVIII. Foi 
nesse período que o homem passou a ser objeto de estudo, sendo analisado a partir 
do seu comportamento e de complexidades que não poderiam ser explicadas por 
sua biologia. 
Saiba que o surgimento da Antropologia foi um marco importante, pois até 
então não havia uma área do conhecimento que estudasse o homem do ponto de 
vista da cultura segundo o olhar dessa ciência. Trata-se de um campo do saber que 
dialoga interdisciplinarmente com a História, Sociologia, Arte, Filosofia, entre outras. 
A Antropologia surgiu na Europa e ganhou legitimidade como saber acadêmico 
apenas na segunda metade do século XIX, quando foi definido seu objeto de estudo: 
o de explicar a existência de sociedades com costumes e hábitos diferenciadas, sob 
76 
 
Antropologia Cultural 
 
o parâmetro da cultura europeia tida como modelo de existência, de ser e estar no 
mundo. 
Para Lévi-Strauss, o estudo da Antropologia ocorre em três etapas: a 
Etnografia, a Etnologia e a Antropologia. A Etnografia seria o correspondente aos 
primeiros estágios da pesquisa, tratando do trabalho de campo e da observação; a 
Etnologia seria mais aprofundada, a elaboração de conclusões mais extensas que 
não seriam possíveis no primeiro momento (síntese). E, por fim, a Antropologia seria 
o terceiro e último passo do estudo, no qual estão inclusas as conclusões da 
Etnografia e da Etnologia. Dessa forma, a Antropologia é o campo maior do 
conhecimento. Já a Etnografia incorpora o uso de detalhes descritivos na análise de 
uma sociedade, ao passo que a Etnologia emprega a explicação das organizações 
humanas, como clãs, tribos e nações etc. 
Podemos estender as teorias de Lévi-Strauss ao mercado de trabalho 
característico do século XXI, ou seja, relacionar as três etapas propostas aos 
desafios encontrados pelos profissionais em um mundo globalizado e competitivo. A 
Etnografia corresponderia à busca por referências na área específica em que o 
profissional atua, isto é, à descoberta e ao contato com o novo, enquanto à 
Etnologia seria a interiorização dessas referências e familiarização com conceitos 
até então desconhecidos. Já a Antropologia representaria a elaboração de um 
posicionamento em relação às questões descobertas. 
Saiba que os primeiros antropólogos buscaram compreender as sociedades a 
partir de informantes e não tinham contato real com seu objeto de análise. O foco 
inicial era o estudo de sociedades consideradas exóticas, muitas vezes previamente 
taxadas como primitivas e selvagens, portanto inferiores, quando concebidas pelo 
olhar da superioridade eurocêntrica. 
A Antropologia não estava focada apenas na compreensão das culturas 
diferenciadas da sociedade europeia. Saiba que se buscou observar também os 
agrupamentos culturais da própria realidade metropolitana ocidental, como os 
trabalhadores industriais e os grupos marginalizados urbanos. Foi nesse ponto que o 
antropólogo voltou o olhar para a sua própria sociedade e a descobriu digna de ser 
analisada como objeto de estudo. 
É importante notar que o objeto da Antropologia passou a contemplar o 
homem como um todo, e não apenas o que o pesquisador europeu considerava 
exótico. Na verdade, podemos dizer que a Antropologia, como disciplina, passou a 
77 
 
Antropologia Cultural 
 
ser o estudo das nuances do homem em sociedade. Dessa forma, o pesquisador na 
atualidade se questiona sobre seus próprios procedimentos metodológicos, pois 
reconhece seu papel extremamente subjetivo. 
É importante notar que o objeto da Antropologia passou a contemplar o 
homem como um todo, e não apenas o que o pesquisador europeu considerava 
exótico. Na verdade, podemos dizer que a Antropologia, como disciplina, passou a 
ser o estudo das nuances do homem em sociedade. Dessa forma, o pesquisador na 
atualidade se questiona sobre seus próprios procedimentos metodológicos, pois 
reconhece seu papel extremamente subjetivo. 
A Antropologia passou a estudar como são compostas as sociedades em 
suas diversidades históricas, geográficas e culturais (LAPLANTINE, 2003). Nesse 
sentido, o objeto da ciência antropológica incorporou a noção de que a humanidade 
não é singular, mas plural. 
 
O projeto antropológico consiste, portanto, no reconhecimento, 
conhecimento, juntamente com a compreensão de uma humanidade plural. 
Isso supõe ao mesmo tempo a ruptura com a figura da monotonia do duplo, 
do igual, do idêntico, e com a exclusão num irredutível “alhures”. As 
sociedades mais diferentes da nossa, que consideramos espontaneamente 
como indiferenciadas, são na realidade tão diferentes entre si quanto o são 
da nossa. E, mais ainda, elas são para cada uma delas muito raramente 
homogêneas (como seria de se esperar) mas, pelo contrário, extremamente 
diversificadas, participando ao mesmo tempo de uma comum humanidade. 
(LAPLANTINE, 2003, p. 13) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
78 
 
Antropologia Cultural 
 
5.1.2 O fazerantropológico 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Antropologia possui muitas vertentes. Num primeiro momento, ela foi 
dividida entre Antropologia Cultural e Antropologia Biológica. Hoje, contudo, possui 
muitas correntes de pensamento, que não se anulam. Vale dizer também que as 
sociedades mais distantes da sociedade ocidental não deixaram de ser foco de 
interesse da ciência Antropológica, que pode tanto estudar um grupo de Papua Nova 
Guiné como questionar as complexidades culturais do ciberespaço na era da 
globalização. 
Como dissemos antes, o objeto de estudo da Antropologia é a humanidade 
em toda a sua complexidade. Dessa forma, trata-se de uma ciência que assume 
como paradigma o estudo realizado no contato real com as sociedades a serem 
estudadas e abre-se para compreender que a relação “eu–outro” pode levar à 
tolerância e ao respeito entre as diversas dinâmicas culturais, sem que os homens 
partam para o confronto com o diferente, mas enriqueçam-se a partir das interações 
entre os grupos sociais. 
Fonte: http://educacaorespeitoediversidade.blogspot.com/2010/02/ 
diversidade-cultural.html 
79 
 
Antropologia Cultural 
 
Laplantine (2003) cita cinco áreas do fazer antropológico que mais se 
destacam: 
 A Antropologia Biológica (conhecida antigamente sob o nome de 
antropologia física), que estuda as variações dos caracteres biológicos do 
homem no espaço e no tempo. A sua problemática está situada nas relações 
entre o patrimônio genético e o meio (geográfico, ecológico, social), e ela 
analisa as particularidades morfológicas e psicológicas ligadas a um meio e à 
sua evolução; 
 A Antropologia Pré-histórica, que é o estudo do homem através dos 
vestígios materiais enterrados no solo (ossadas, mas também quaisquer 
marcas da atividade humana). Trabalha em conjunto com a arqueologia, 
reconstruindo as sociedades que já desapareceram, e com a História, de 
modo a analisar os artefatos encontrados; 
 A Antropologia Linguística analisa a linguagem como patrimônio cultural. 
Em outras palavras, seu objeto de estudo é a forma como os indivíduos de 
uma sociedade expressam seus valores, suas preocupações, seus 
pensamentos. Atua na interdisciplinaridade com diversas outras ciências, 
como dialetologia, a semiótica e a linguística; 
 A Antropologia Psicológica, que consiste no estudo dos processos e do 
funcionamento do psiquismo humano. Aqui, o interesse do antropólogo está 
direcionado para o indivíduo e seus processos conscientes e inconscientes, e 
não necessariamente para a coletividade. A dimensão psicológica é 
absolutamente indissociável do campo antropológico, conforme Laplantine 
(2003); 
 A Antropologia Social e Cultural (ou etnologia), em que o foco é tudo o que 
diz respeito a uma sociedade, ou seja, os seus modos de produção 
econômica, a moral, as suas técnicas, a sua organização política e jurídica, 
seus sistemas de parentesco, seus sistemas de conhecimento, a suas 
crenças religiosas, a sua língua, os seus valores, as suas criações estético-
artísticas e a compreensão da realidade cultural produzida na era da 
sociedade informatizada. 
 
80 
 
Antropologia Cultural 
 
Como a Antropologia Cultural abrange as nuances do convívio em sociedade, 
podemos destacar sua relevância no mercado de trabalho, posto que através dela é 
possível questionar e analisar o comportamento das empresas e dos profissionais 
frente à demanda intelectual e operacional da atualidade. 
Entenda que as vertentes citadas são ramificações ou especializações do 
grande campo que constitui a Antropologia. Se levarmos em conta que a disciplina 
preocupa-se com o estudo do comportamento humano em todas as suas 
particularidades, o que é bastante amplo é natural que tenhamos núcleos 
específicos que focalizam seus esforços investigativos em questões menores e mais 
direcionadas. 
 
5.1.3 Os conceitos de cultura 
 
Cultura é toda atividade física ou mental que não advém necessariamente da 
biologia, mas uma construção social, partilhada pelos membros de um grupo que 
possuem características comuns entre si. É algo aprendido, assimilado e em 
constante transformação. 
 
Possuidor de um tesouro de signos que tem a faculdade de multiplicar 
infinitamente, o homem é capaz de assegurar a retenção de suas ideias 
eruditas, comunicá-las para outros homens e transmiti-las para os seus 
descendentes corno uma herança sempre crescente.” Basta apenas a 
retirada da palavra erudita para que esta afirmação de Turgot possa ser 
considerada uma definição aceitável do conceito de cultura. (TURGOT, 
1727-1781 apud LARAIA, 2001, p. 26-27). 
 
Podemos dizer que as diferenças hereditárias não são essenciais para 
entendermos a diversidade de grupos e culturas. A história cultural de cada grupo é 
o que explica as diferenças; isso contradiz o determinismo biológico, que, de acordo 
com Laraia (2001), são as velhas teorias que atribuem a “raças” habilidades inatas, 
ou seja, que explicam as diferenças pela herança genética. Já o determinismo 
geográfico considera que as características do espaço físico condiciona a variação 
cultural (ou seja, os diversos padrões comportamentais) (LARAIA, 2001, p. 21). 
Graças à Antropologia, entretanto, compreendemos tais variações de modo mais 
abrangente. 
Sobre o determinismo geográfico, hoje sabemos que os fatores geográficos 
influenciam, mas não são suficientes para moldar completamente a concepção de 
81 
 
Antropologia Cultural 
 
mundo de um indivíduo, para determinar os fatores culturais. Ou seja, em um 
mesmo ambiente físico pode haver uma diversidade cultural gritante. No ambiente 
profissional, por exemplo, é possível observar esta afirma- ção, pois, a despeito de 
muitos indivíduos partilharem o mesmo ambiente, diferenças comportamentais 
significantes surgem diariamente. Tais diferenças precisam ser compreendidas e 
aceitas para que haja um ambiente de trabalho saudável. 
A diferença entre homens e mulheres não se encerra nas diferenças 
fisiológicas em uma sociedade, mas nos papéis sociais e nos comportamentos de 
cada um. Em outras palavras, verificamos que a atribuição de um comportamento 
específico a um gênero decorre da educação direcionada que cada um recebe em 
cada cultura. 
Se falarmos em comportamento, portanto, é preciso dizer que ele é o 
resultado de aprendizado, o processo de endoculturação, isto é, do processo 
segundo o qual um indivíduo absorve os valores e significados do grupo ao qual 
pertence: de uma cultura já estabelecida. Os variados comportamentos existentes, 
portanto, são o resultado de educação diferenciada. Veja que não há hierarquização, 
não há culturas melhores ou piores nem processos de aprendizagem superiores ou 
inferiores. Há modos culturais diferentes apenas. 
Segundo Edward Tylor (1832-1917), o primeiro pesquisador a inserir o termo 
cultura na pauta antropológica, podemos romper todos os laços que unem a cultura 
à biologia (LARAIA, 2001). O termo vem do Kultur (alemão), surgido em 1871, que 
significa aspectos espirituais de uma comunidade. Já civilization (inglês) significa as 
realizações materiais de um povo. Culture (inglês) refere-se a conhecimentos, 
crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábito 
adquirido pelo homem como membro de uma sociedade. 
Conforme os conceitos que vimos, destacamos que o termo “cultura” refere-se aos: 
 
[...] padrões de comportamento socialmente transmitidos que servem para 
adaptar as comunidades humanas aos seus embasamentos biológicos. 
Esse modo de vida das comunidades inclui tecnologias e modos de 
organização econômica, padrões de estabelecimento, de agrupamento 
social e organização política, crenças e práticas religiosas e assim por 
diante (KEESING, 1974 apud LARAIA, 2001, p. 59). 
 
Saiba que, no século XVIII e início do século XIX, havia a Antropologia 
evolucionista. Os antropólogos que seguiam essa vertente defendiama existência de uma 
82 
 
Antropologia Cultural 
 
escala evolutiva na qual todos os grupos poderiam ser encaixados, dos mais primitivos aos 
mais desenvolvidos. A sociedade europeia era o exemplo de sociedade mais evoluída e 
civilizada. 
Esmagados sob o peso dos materiais, os evolucionistas consideram os 
fenômenos recolhidos (o totemismo, a exogamia, a magia, o culto aos 
antepassados, a filiação matrilinear...) como costumes que servem para 
exemplificar cada estágio. E quando faltam documentos, alguns (Frazer) 
fazem por intuição a reconstituição dos elos ausentes, procedimento 
absolutamente oposto, como veremos mais adiante, ao da etnografia 
contemporânea, que procura, através da introdução de fatos minúsculos 
recolhidos em uma única sociedade, analisar a significação e a função das 
relações sociais. (LAPLANTINE, 2003, p. 52) 
 
Kroeber (1917 apud LARAIA, 2001) foi pioneiro em assumir que o homem é 
diferente dos demais animais por dois motivos: na possibilidade da comunicação 
oral e na capacidade de fabrica- ção de instrumentos além do seu aparato biológico. 
Dessa forma, cai por terra o determinismo biológico, pois o homo sapiens possui 
maneiras diversas de lidar com os desafios a que é submetido diariamente, 
independentemente de sua filiação ou status como cidadão. No ambiente do 
trabalho tal afirmação é fácil de constatar, especialmente se tivermos em mente os 
diferentes comportamentos dos indivíduos. 
Em contrapartida à Antropologia evolucionista, Franz Boas defendeu que a 
Antropologia deveria reconstruir a história dos povos, comparando a vida social de 
grupos diferentes sem estabelecer noções de superioridade ou inferioridade, 
evidenciando o particularismo histórico de cada cultura. Ele fundou a chamada 
Escola Cultural Americana, a qual abrangia a multilinearidade (abordagem segundo 
a qual cada grupo se desenvolve de forma única, rejeitando a ideia de que há 
apenas um modelo padrão ou linha evolutiva na qual todos os grupos podem ser 
encaixados), o particularismo histórico, ou seja, a crença de que cada cultura teria 
sua própria história e evolução natural. 
Clifford Geertz (2008), partindo das ideias de Schneider (este dizia que a 
cultura é um sistema de significados), e de Max Weber (que acreditava que o 
homem era um animal preso em uma teia de significados por ele mesmo produzida), 
afirma que cabe ao antropólogo trazer à tona os significados e as suas relações, 
fazendo a interpretação semiótica (ou seja, uma interpretação dos significados) do 
objeto estudado. 
Podemos dizer que Geertz se interessa pela teia de significados tecida 
através da convivência dos indivíduos que compõem os diversos grupos humanos, 
83 
 
Antropologia Cultural 
 
 
isto é, o autor se dedica a interpretar a cultura como uma rede de significados. O 
autor afirma que a cultura é algo público, sem criadores identificáveis, cujo 
movimento é espontâneo e adaptado. Para ele, a cultura é um fenômeno social 
(GEERTZ, 2008). 
Para ampliar a discussão sobre a cultura, Laraia (2001, p. 60-61) cita Roger 
Keesing, que propõe uma divisão para o termo: 
 Cultura como um sistema cognitivo, ou seja, em relação à habilidade que o 
ser humano tem de aprender e assimilar novos conhecimentos. Podemos 
observar tal sistema quando um colaborador novo é introduzido à cultura 
solidificada de uma empresa; ele precisará aprender o jeito como os outros 
funcionários se portam para se adaptar ao ambiente. 
 Cultura como sistema simbólico (no sentido de que o se humano tem a 
capacidade de simbolizar, ou seja, fazer uma ligação entre um conhecimento 
específico e o símbolo que o representa), em que a cultura não é um 
complexo de comportamentos fixos, mas um conjunto de mecanismos de 
controle para direcionar o comportamento. Todo homem é geneticamente 
programado para receber um programa, que é chamado de cultura e 
socialmente. Inclusive, o próprio Geertz exemplifica como o piscar dos olhos 
pode ser uma questão biológica e, ao mesmo tempo, um ato cultural da 
paquera em algumas sociedades. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: http://maisbrasilcultura.blogspot.com/2016/03/ 
84 
 
Antropologia Cultural 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Confira o documentário experimental Baraka 
(1992), produzido por Ron Fricke, com imagens 
de 23 países que expressam a diversidade 
humana. http://www.imdb.com/title/tt0103767/ 
 
 
O site Comunidade Virtual de Antropologia 
possui um acervo muito interessante de 
trabalhos no segmento antropológico. Há 
entrevistas, trabalhos acadêmicos, notícias, 
resenhas e muito mais. Disponível em: 
<http://www.antropologia.com.br 
 
 
O livro Aprender Antropologia (Editora Brasiliense, 2003), de François 
Laplantine, faz parte da bibliografia básica de Antropologia e possui 
uma linguagem bem simples e direta sobre a história desta disciplina 
e os conceitos essenciais no entendimento do homem e da cultura. 
 
 
85 
 
Antropologia Cultural 
 
 
 
 
1. Qual a relação entre os conceitos de Antropologia, Etnografia e Etnologia? 
2. Por que a Antropologia começou estudando sociedades consideradas primitivas e 
selvagens quando comparadas com a sociedade dos antropólogos europeus? 
3. Por que não partiu logo em analisar os possíveis objetos mais próximos da realidade 
concreta do antropólogo? 
4. O que são a dialetologia, a semiótica e a linguística? 
5. Cite as cinco áreas do fazer antropológico que mais se destacam: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Você já ouviu alguém dizer que “Fulano não tem cultura”? 
Justifique sua resposta. 
 
86 
 
Antropologia Cultural 
 
 
UNIDADE 06 
 
Dimensão simbólica do 
conceito de cultura 
 
 
Fonte: https://www.todamateria.com.br/o-que-e-cultura/ 
87 
 
Antropologia Cultural 
 
6. Introdução 
 
Você viu que a cultura possui múltiplas definições. A Antropologia moderna 
concebe a cultura a partir de sua dimensão simbólica. Neste tópico, vamos analisar 
a dimensão simbólica do conceito de cultura, enfatizando a análise sobre o 
comportamento humano e o seu simbolismo. 
 
6.1 Aspectos simbólicos 
 
A dimensão simbólica do conceito de cultura está ligada ao fato de que é 
inerente aos seres humanos a capacidade de simbolizar. Mas o que isso significa? 
Bem, simbolizar significa representar questões materiais através da linguagem ou de 
símbolos abstratos. Quando erguemos nosso polegar, por exemplo, estamos 
simbolizando que algo está certo, ou seja, estamos representando uma situação 
concreta com um gesto. 
A cultura, de acordo com essa perspectiva, se dá pelos símbolos comuns que 
ela possui. O homem utiliza muitos meios para acessar a cultura de sua sociedade e 
interagir com ela: as línguas, os valores, as crenças, o modo de fazer as coisas etc. 
Assim, é possível dizer que toda ação humana é socialmente construída através de 
símbolos, que integram redes de significados e variam conforme os diferentes 
contextos sociais e históricos (GEERTZ, 2008). 
A dimensão simbólica possui aspectos subjetivos e objetivos da cultura, já 
que a produção material humana possui um caráter simbólico e é repleta de 
significações. Assim, como já vimos, a Antropologia moderna concebe a cultura 
como um sistema simbólico (GEERTZ, 2008), que se refere ao aspecto fundamental 
da humanidade de atribuir, de forma sistemática, racional e estruturada os 
significados e sentidos a tudo. 
 
6.2 Linguagem, reprodução cultural e significação 
 
Você deve estar se perguntando “mas o que insere um homem em 
determinada cultura e como ele consegue assimilar as regras gerais da cultura em 
que vive?”. A resposta, segundo Berger e Berger (1978, apud FLEURY, 1987), é 
88 
 
Antropologia Cultural 
 
categórica: é a linguagem que permite esta assimilaçãoe serve para orientar a 
conduta individual imposta pela sociedade. A linguagem é essencial no 
desenvolvimento da cultura, já que é um universo de significados construídos e que 
só existem por meio da própria sociedade. Pense em como uma criança absorve a 
linguagem e a habilidade de se comunicar aos poucos; à medida que ela amadurece 
essas habilidades, fica mais fácil compreender o que ela está pensando e sentindo. 
O compartilhamento de uma mesma língua une um grupo de pessoas. Não é 
à toa que há movimentos separatistas que enfatizam que há dialetos ou 
polilinguismo (capacidade de compreender e falar mais de um idioma) dentro da 
fronteira de um país, o que justificaria o desmembramento de territórios políticos: a 
Catalunha, por exemplo, luta há décadas para se separar da Espanha com alegação 
de que possui língua e cultura diferentes (G1, 2014). A língua, portanto, é um 
sistema simbólico, ou seja, uma organização de significados, que organiza a 
percepção de mundo e diferencia uma cultura de outra (CUNHA, 1987). 
O homem participa dos processos culturais de sua sociedade por meio de 
uma socialização, que ocorre pela linguagem, e esta possui um papel ideológico 
através da coerção exercida sobre este indivíduo. A linguagem terá um padrão e 
organização próprios e será cheia de significações. 
Cunha (1987) afirma que a cultura não é algo dado, posto ou dilapidável, mas 
algo constantemente reinventado. O ser humano, quando partilha de uma cultura, 
não é passivo a ela exclusivamente: ele atua como agente de mudanças, ou seja, 
transforma o ambiente em que vive e constrói significados através daquilo que lhe é 
passado. O homem se torna um reprodutor social, o que também está diretamente 
relacionado à sua vivência e à sua experiência social. 
 
6.3 Conceitos de Etnocentrismo, Relativismo, Etnicidade e 
Alteridade 
 
Mas o que acontece quando um grupo ou um indivíduo valoriza a sua cultura 
e visão de mundo em relação às demais? O que acontece quando há a identificação 
de outra proposta de cultura ocupando o mesmo espaço? E qual a diferença do 
conceito de raça e o de etnia? O que, afinal, é alteridade? Estas são algumas 
89 
 
Antropologia Cultural 
 
 
questões que pretendemos discorrer neste tópico. Vamos lá? Esses conceitos estão 
intrinsecamente relacionados à forma como determinada cultura é percebida. 
 
6.3.1 Etnocentrismo 
 
Vimos que a cultura se refere aos valores e às visões de mundo de um grupo 
social. Esta é a constituição essencial do indivíduo, já que ressalta os parâmetros de 
comportamento, valores e modos de compreender o mundo que o cerca etc. 
Quando um indivíduo ou grupo toma a sua cultura pela perspectiva do juízo de valor, 
depreciando ou ignorando às demais variações culturais, damos o nome de 
etnocentrismo. 
Para conseguir visualizar as variações culturais, pense em um ambiente de 
trabalho no qual há colaboradores de culturas diversas. Alguns colaboradores 
seguem uma crença que lhes determina uma vestimenta específica uma vez por 
mês, ao passo que outros cantam canções e falam com sotaque e trejeitos 
específicos de sua cidade natal. 
A visão etnocêntrica desconsidera a lógica de funcionamento de outra cultura 
ou mesmo compreende os mecanismos do processo cultural, limitando-se à sua 
visão e referência cultural. Tudo o que é diferente, para a visão etnocêntrica, é 
errado, inoportuno, diferente, e deve ser rejeitado. 
 ESTUDO DE CASO: 
 Fonte: http://tiptravelinportugal.com/produto/o-melhor-da-inglaterra-e-escocia/ 
90 
 
Antropologia Cultural 
 
 
Pedro foi enviado à Inglaterra para fechar um negócio por sua empresa. Quando 
chegou ao hotel, decidiu revisar seu discurso e ensaiar novamente seu possível diálogo com 
os representantes da organização colaboradora de sua empresa. Após ter se certificado de 
que tudo estava em ordem, pegou um taxi e foi até o local do encontro, atrasando-se cerca de 
uma hora. 
Quando chegou ao local marcado para o encontro, estava muito nervoso, pois sabia 
que os ingleses prezavam a pontualidade. No início da reunião, sentiu-se um pouco acanhado 
e desculpou-se de forma assertiva pelo atraso. Os representantes ficaram um pouco 
desapontados inicialmente, dizendo que consideravam esse tipo de falha uma tremenda falta 
de respeito, porém, à medida que a reunião e os negócios procederam de forma favorável, um 
clima de cordialidade estabeleceu-se e Pedro pôde negociar com a mesma organização 
inúmeras vezes. 
 
O etnocentrismo pode ser expresso em diversas nuances culturais – o jeito de 
falar, na forma de se vestir, no repertório culinário etc. E se de um lado há o 
etnocentrismo, por outro é preciso buscar uma forma de constatar as diferenças e 
aprender a lidar com elas. Este é um dos desafios do mercado de trabalho 
atualmente, ou seja, lidar bem com a diversidade cultural. 
Em suma, o etnocentrismo surge quando um indivíduo ou grupo considera a 
sua cultura como mais sofisticada e superior do que as culturas dos demais. Este é 
um fenômeno tão complexo e amplo que se pode dizer que foi esta lógica que 
direcionou as ações de estratégia geopolítica das nações que originaram o 
capitalismo como modo de produção. Através do Imperialismo, essas nações se 
viram na missão de proporcionar ao restante do mundo o modo de vida do europeu 
de “homem civilizado”, e com isso garantir dominação e hegemonia sobre outros 
povos considerados inferiores (COUCHE, 2004). 
Ao etnocentrismo há outros tipos de preconceitos relacionados, como a 
xenofobia (preconceito contra estrangeiros ou pessoas de outras localidades) e a 
intolerância de uma forma geral. Por intolerância, denota-se qualquer hostilidade 
contra um hábito ou comportamento diferente, ou seja, a incapacidade de aceitar 
algo que destoe do conhecido e aceito. Nota-se que, apesar da aceleração da 
tecnologia e do acesso à informação, o etnocentrismo não recuou em escala global, 
evidenciando um retrocesso mesmo com tamanha modernização. 
 
91 
 
Antropologia Cultural 
 
6.3.2 Relativismo cultural 
 
 Nas primeiras décadas da Antropologia como ciência e disciplina, 
predominou a corrente evolucionista, ou seja, uma vertente que presumia uma linha 
evolutiva na qual todas as sociedades poderiam ser encaixadas; da mais bárbara e 
primitiva à mais civilizada. Mas será que dá para criar critério de análise para 
comparar uma cultura com outra de modo hierárquico cientificamente? É claro que 
não, e é aqui que entra o relativismo cultural! O relativismo cultural refere-se à 
incapacidade de mensurar a cultura de um grupo. 
A ideia de relativismo social tem origem com a Antropologia social, buscando 
comparações e critérios independentes. Pense bem: relativizar significa conceber 
uma cultura dentro de seu próprio contexto cultural. Quando um pesquisador se 
propõe a ir a campo, precisa se despir de qualquer parâmetro externo que possa ser 
considerado etnocêntrico. Parte-se em realizar a avaliação sem privilegiar os valores 
de um só ponto de vista (COUCHE, 2004). 
O relativismo cultural poderia ser uma prática para membros de qualquer 
cultura ou estaria ligado ao fazer científico da Antropologia e de outras ciências do 
homem? O relativismo cultural é uma atitude necessária para aceitar a diversidade 
cultural em qualquer contexto, pois permite compreender que toda cultura é única. 
Grave bem: os costumes e as regras sociais de determinado grupo devem ser 
interpretados de acordo com as funções que possuem naquele grupo/ contexto 
específico. 
O relativismo cultural, como premissa teórico-metodológica da Antropologia, 
surgiu a partir do século XX como uma espécie de regra de conduta contra a atitude 
etnocêntrica, que implicava em uma visão muitas vezes evolucionista, em que a 
cultura do cientista servia de base àscomparações. Pense aqui não numa linha 
evolutiva, mas em um espaço em que cada cultural é representada de acordo com 
suas próprias interpretações, sem qualquer escala hierárquica. 
 
6.3.3 Etnicidade 
 
Etnicidade é outro conceito muito discutido em Antropologia. Trata-se de um 
conjunto de características comuns a um grupo de pessoas que as diferenciam de 
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Antropologia Cultural 
 
outro grupo. Pode ser composto de língua, cultura, aspectos biológicos e origem 
comum. Pode ser definida como uma espécie de autoconsciência da condição 
cultural e social de determinado grupo, ao pertencimento a uma cultura. Refere-se à 
percepção do papel social do indivíduo no seu próprio grupo e fora dele. 
A etnicidade envolve distinção de grupos e indivíduos pelo estilo das 
vestimentas, da língua, da religião e de outras características que são culturalmente 
percebidas e aprendidas. Todas as pessoas em sociedade possuem etnicidade, mas 
o conceito é mais evidentemente percebido entre os grupos que sofrem 
preconceitos. Conforme Bobbio et al. (2000), estas são as premissas que 
caracterizam o conceito: 
 
[...] falar a mesma língua, estar radicado no mesmo ambiente humano e no 
mesmo território, possuir as mesmas tradições são fatores que constituem a 
base fundamental das relações ordinárias da vida cotidiana. Marcam tão 
profundamente a vida dos indivíduos, que se transformam num dos 
elementos constitutivos da sua personalidade e definem, ao mesmo tempo, 
o caráter específico do modo de viver de uma população. Por outro lado, as 
relações sociais que derivam do fato de pertencer a mesma etnia criam 
interesses coletivos e vínculos de solidariedade caracteristicamente 
comunitários. BOBBIO et al. (2000, p. 449). 
 
A etnia refere-se às diferenças socioculturais aprendidas. Podem possuir 
similaridades biológicas (parentesco), mas isso não é uma regra. O conceito de raça 
pode ser confundido com etnia, porém trata-se de algo cada vez mais criticado na 
atualidade, posto que é menos abrangente. 
A etnicidade possui as seguintes características gerais: 
 A etnicidade é construída a partir da relação com o outro (alteridade); 
 Os grupos que possuem similaridades são considerados cultural ou 
socialmente distintos; 
 As diferenças podem ser determinadas pelo outro e incorporadas pelo grupo; 
 As diferenças étnicas são legitimadas por aspectos históricos, sociais e 
políticos; 
 Cada grupo étnico elabora um discurso sobre o outro; 
 Os grupos étnicos estão em constante mudança – há um processo dinâmico; 
 É importante ressaltar que não é a diferença cultural que está na origem da 
etnicidade, mas a comunicação cultural que sugere a ideia de diferença. 
Imagine que a etnia diz respeito ao conjunto de informações orais, escritas e 
comportamentais que absorvemos durante nossa convivência com determinado 
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Antropologia Cultural 
 
grupo. Um grupo étnico, portanto, refere-se a um alinhamento entre seres que 
convivem no mesmo espaço. Esse conjunto de informações é passado adiante e 
adaptado durante gerações, formando o que podemos entender como a “teia de 
significados” (ou rede de significados) de Geertz, mencionado anteriormente. 
 
6.3.4 Alteridade 
 
Para Laplantine (2003, p. 13), a alteridade é a descoberta proporcionada pela 
distância em relação a nossa sociedade, ou seja, “[...] aquilo que tomávamos por 
natural em nós mesmo é, de fato, cultural; aquilo que era evidente é infinitamente 
problemático”. Para o autor, a alteridade nos leva à experiência da “diferença”, em 
aceitar no outro aquilo que acabamos descobrindo em nós mesmos, já que os seres 
humanos têm em comum a capacidade para se diferenciar uns dos outros, para 
elaborar valores, costumes, línguas, conhecimento etc. 
Assim, é também objeto da Antropologia o reconhecimento e conhecimento 
da compreensão de humanidade plural, ou seja, se a ciência antropológica estuda o 
homem e suas pluralidades e se a alteridade é o estudo das diferenças e o estudo 
do “outro”, é tarefa essencial da Antropologia discuti-la. 
É preciso decentralizar o olhar para perceber as diferenças e similaridades 
que nos cercam. Dessa forma, a alteridade implica em deixar de rejeitar as 
peculiaridades dos outros, isto é, daqueles que são diferentes de nós, reconhecendo 
esses aspectos em nós mesmo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Antropologia Cultural 
 
6.4 Cultura e Relações de Trabalho 
 
 
A cultura não é um objeto exclusivo da Antropologia e de outras ciências 
sociais. Trata-se de um tema transversal que atinge diversas áreas do 
conhecimento. A sua complexidade deve ser tratada também na prática diária de 
diferentes profissões e espaços de interação social. Por exemplo, no espaço 
escolar, o professor deve compreender a diversidade cultural, valorizá-la e propor 
discussões entre os seus alunos para diminuir distâncias e distorções. 
Um administrador de empresas deve propor um ambiente em que a 
diversidade cultural seja concebida como elemento positivo, agregador e que 
promova o respeito e a criatividade. Isso já é uma tendência em muitas empresas no 
Brasil e principalmente em países como os Estados Unidos. 
Miguez (2009) afirma que o estímulo à diversidade de manifestações 
culturais, como um elemento na nova compreensão do desenvolvimento humano, é 
muito importante. Na economia globalizada em que vivemos, a diversidade faz com 
que dialoguemos com outras perspectivas sociais, o que promove o 
desenvolvimento dos indivíduos e o crescimento econômico. Estes elementos são 
inseparáveis, o que torna fundamental uma compreensão mais abrangente da 
relação entre cultura e economia. Em um ambiente profissional, tais elementos se 
complementam e podem proporcionar aos indivíduos uma melhor compreensão da 
realidade profissional. 
Fonte: http://luisalessa.blogspot.com/2018/07/relacoes-humanas-no-mundo-do-trabalho.html 
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Antropologia Cultural 
 
Os profissionais devem estar atentos à promoção da diversidade cultural nas 
organizações, estimulando a criatividade, a inovação e o ser humano como agente 
ativo da era da informação (FLEURY, 1987). Isso vale para o microcosmo do 
ambiente de trabalho, no sentido de que proporciona possibilidades de aprendizado 
e de aperfeiçoamento contínuos. 
Conforme Laraia (1986, p. 70), a cultura é o “[...] modo de ver o mundo, às 
apreciações de ordem moral e valorativa, e aos diferentes comportamentos sociais e 
posturas”. Dessa forma, podemos dizer que a cultura está ligada tanto a processos 
de absorção de informações e padrões comportamentais quanto à interpretação dos 
movimentos e das transformações sociais. 
O ambiente de trabalho é apenas mais um espaço em que há interações 
culturais de todos os tipos. Essas interações podem se traduzir em trocas, 
hibridismo, conflitos, etnocentrismo e outros fenômenos culturais. As mudanças, por 
sua vez, também esbarram em resistências advindas de valores e padrões culturais 
diferentes e até mesmo padrões culturais dominantes neste espaço. Assim, a atitude 
da alteridade é pertinente em todas as relações sociais e também no ambiente 
profissional. 
 
 
 
 
 
Fonte: http://www.ibe.edu.br/diversidade-no-ambiente-de-trabalho-por-que-e-importante/ 
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Antropologia Cultural 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O livro A interpretação das culturas (2008), de Clifford Geertz, 
publicado pela editora Brasiliense, é uma referência para o 
entendimento da cultura em sua dimensão simbó- lica. Trata-se de um 
estudo que demonstra a importância da etnografia para o estudo das 
culturas. A etnografia é, entre os ramos da Antropologia, a melhor 
opção na compreensão da relação entre o indivíduo e a sociedade. 
 
O site da Associação Brasileira de Antropologia 
possui notícias de publicações, premiações, 
eventos oficiais pelo Brasil e em outrospaíses e 
informações sobre o fazer antropológico. 
Disponível em: http://www.portal.abant.org.br/ 
 
Assista a curta Ilha das Flores (1989), de Jorge 
Furtado, que mostra as relações desiguais entre os 
seres humanos de forma atual e pertinente. 
Disponível em: 
http://portacurtasorg.br/filme/?nome=ilha_das_flores. 
 
O filme À guerra do fogo Obras-Primas do Cinema 
orgulhosamente apresentado pelo diretor francês 
Jean-JacquesA Guerra do Fogo é um filme franco-
canadense dirigido por Jean-Jacques Annaud. 
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Antropologia Cultural 
 
 
 
 
1. Porque a Antropologia é por excelência uma ciência que busca compreender o 
homem, a cultura e a diversidade cultural? 
 
2. Como constatar que a Antropologia possui diferentes tendências desde a sua 
origem e que a cultura sempre foi o seu objeto de estudo? 
 
3. .Como podemos concluir que a cultura é toda atividade física ou mental que não 
advém necessariamente da biologia, mas uma construção social, partilhada 
pelos membros de um grupo que possuem características comuns entre si? 
 
4. Porque a linguagem é um aspecto muito importante, pois permite que haja a 
assimilação cultural e serve para orientar a conduta individual imposta pela 
sociedade? 
 
5. Conceitue etnicidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Percebe-se que o ambiente de trabalho é apenas outro espaço 
em que as diferenças culturais são percebidas e que estas devem 
ser compreendidas e até mesmo valorizadas. Como devemos 
cultivar o ambiente de trabalho para que ele se torne agradável? 
 
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Antropologia Cultural 
 
 
 
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