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Marita Siqueira DA AGÊNCIA ANHANGUERA marita.siqueira@rac.com.br O violonista Fabio Scardue- lli, pesquisador e docente co- laborador do Instituto de Ar- tes (IA) da Universidade Es- tadual de Campinas (Uni- camp), prepara o lançamen- to de seu primeiro disco, Música Paulista para Vio- lão, gravado no estúdio cam- pineiro Síncopa. O álbum reúne obras de três composi- tores naturais do Estado de São Paulo: Almeida Prado (Santos, 1943-2010), Camar- go Guarnier i (Tietê , 1907-1993) e Edson Tadeu Ortolan (Campinas, 1958). Trata-se do resultado de seis anos de pesquisa acadê- mica guiada por Almeida Prado, um dos maiores com- positores brasileiros do sécu- lo 20. Prado, Guarnieri e Orto- lan se entrelaçam numa rela- ção de aluno-professor. “Al- meida Prado foi professor do Edson Ortolan e aluno do Camargo Guarnieri”, ex- plica o músico, lembrando que Prado atuou parte de sua carreira na Unicamp, onde Ortolan estudou. Em- bora tenham desenvolvido linguagens distintas, há tra- ços estilísticos que os une. “As duas obras de Guarnieri escolhidas remetem à fase ‘guarnierista’ de Almeida Prado. Já a relação de Prado com Ortolan se observa no trato transtonal da harmo- nia, em que se pode ouvir a ressonância sem as polariza- ções de tônica e dominan- te”, afirma. A produção integral de Prado para violões, compos- ta por quatro obras, abre o disco. Elas representam três fases do compositor. Segun- do Scarduelli, Portrait foi a primeira obra de Prado para violão, escrita em 1972, e traz um estilo vanguardista. “Ele estava recém-chegado de Paris, onde estudou. É uma obra mais de vanguar- da, mais experimental”, diz. Depois, cronologicamente, veio Livro para Seis Cordas, de 1974, que mesmo próxi- ma da anterior, reflete outra fase do artista. “É uma obra que dialogava com as Car- tas Celestes (mapa do céu noturno), elas estão entrela- çadas. Ele até brinca que foi uma fase astronômica de- le.” Já Sonata nº1 e Poesilúdio nº1 são da década de 80 (1981 e 1983, respectivamen- te), quando ele relembrou os estudos com Camargo Guarnieri. “Traz alguma coi- sa do nacionalismo, dos ideais do Mário de Andrade. Ele dizia que essa era uma fase pós-moderna”, conta. Por falar em Guarnieri, fo- ram gravadas duas das seis peças que compôs para vio- lão. A Valsa Chorou nº1 re- mete ao ambiente do choro, enquanto Ponteio retorna ao gênero de sua origem no ato de dedilhar e afinar o instrumento. “O maior men- tor estético de Guarnieri foi Mário de Andrade, que o in- centivou a trilhar o cami- nho da construção de uma música essencialmente bra- sileira, nacionalista.” Do campineiro Edson Orto- lan, o violonista trabalhou as Cinco Pequenas Fantasias de Esquina, escritas entre 1987 e 1994. “Nós dávamos aula no Conservatório Carlos Gomes. E, um dia, ele me disse que ti- nha algumas peças para vio- lão guardadas, que ninguém nunca havia tocado. A gente fez uma revisão porque ele pensou bastante em piano quando escreveu e adapta- mos”, diz. De acordo com ele, Ortolan usou técnicas de músi- ca erudita contemporânea, co- mo atonalismo, fragmentação melódica, colagem, efeitos de timbre, criando uma atmos- fera barroca. “Ele se inspira nas Valsas de Esquina de Francisco Mignone, no sen- tido de querer retratar algo da música feita nas esqui- nas do Brasil. São elemen- tos bastante diluídos na mú- sica dele, não tão perceptí- veis, porque ele trata com técnicas da música contem- porânea.” Para finalizar, Scarduelli volta a Almeida Prado execu- tando Serenata para a Lua Cheia, peça que traz um in- terlúdio para três violões que integra a obra Lira de Dona Bárbara, escrita em ju- lho de 1987 para o 19º Festi- val de Inverno de São João Del Rey. “O trio de violões é para trazer um ar mais inti- mista”, conta. Apresentação O concerto oficial de lança- mento está marcado para dia 8 de fevereiro, em San- tos. Melhor data e local para Scarduelli se mostrar ao mercado não poderia haver, uma vez que é o aniverário do compositor Almeida Pra- do e a cidade onde ele nas- ceu. Em Campinas, o lança- mento deverá ocorrer em março deste ano, mas ainda não há definição. / MÚSICA / Fabio Scarduelli lança CD com obras para violão de três compositores de São Paulo Morre Nenê, baixista do grupo Os Incríveis De São Paulo Morreu ontem em São Paulo, aos 65 anos, o músico e produ- tor Lívio Benvenutti Jr , o Nenê, baixista do grupo Os Incríveis, sucesso da Jovem Guarda nos anos 1960. Nenê foi diagnosti- cado com câncer de pulmão em outubro do ano passado. Estava internado no Hospital Sancta Maggiore, foi velado no Hospital Beneficência Portu- guesa e o corpo seria enterrado ontem às 15h. Os Incríveis foi formado em 1962 com o nome The Clevers. Tinha Mingo, Risonho, Manito, Netinho e Neno no baixo (Ne- nê, que já tocava desde os 12 anos, entrou no lugar de Neno em 1966). Morreram Mingo, Manito e Nenê. Netinho teve um câncer nas cordas vocais em 1995, mas se recuperou. A banda fez um sucesso absurdo no final dos anos 1960 e no co- meço dos anos 1970 com ver- sões, como a de Era Um Garo- to Que Como Eu Amava os Bea- tles e os Rolling Stones, do italia- no Gianni Morandi. Nenê tocou com Raul Sei- xas, Elis Regina e Roberto Car- los. Com Renato e Seus Blue Caps, o grupo Os Incríveis foi pioneiro da 1ª geração do rock nacional no quesito entreteni- mento, assim como os Mutan- tes no âmbito da invenção. Foi o 1º grupo brasileiro a ter um programa de TV, o 1º a ter um filme de longa-metragem, o 1º a fazer turnê internacional, o 1º a lançar um disco exclusivo pa- ra o mercado latino-america- no, Los Increíbles (CBS da Ar- gentina). Eles também foram responsáveis por gravar um hi- no nacionalista Eu Te Amo, Meu Brasil, adotado pela dita- dura e que os fez muito critica- dos pelas esquerdas. (Da Agên- cia Estado) PAPO C Dedilhado paulista Leandro Ferreira/AAN Divulgação Jurandy Valença, do Instituto Hilda Hilst, é o entrevistado. PÁGINA C6 Natural de Tubarão (Santa Catarina), Fabio Scarduelli, de 35 anos, apaixonou-se por violão por influência de um tio. Ganhou o primeiro violão aos 5 anos e não largou mais a música. De hobby, virou escolha de vida. Formou-se em música na Escola de Música e Belas Artes do Paraná, em 2000, e fez mestrado e doutorado na Unicamp. A dissertação de mestrado foi a obra para violão solo de Almeida Prado, em 2007, seguida da tese da de doutorado Khamailéon: Fantasia para Violão e Orquestra de Almeida Prado, em 2009. Atualmente, dedica pelo menos quatro horas diárias ao estudo de violão e dá sequência aos estudos de pós-doutorado no IA-Unicamp. Mais informações no site: www.fabioscarduelli.com.br. O professor e violonista Fabio Scarduelli: disco Música Paulista para Violão, gravado no estúdio Síncopa, em Campinas, é fruto de seis anos de pesquisa acadêmica Eleitos se entrelaçam numa relação de aluno-professor Lívio Benvenutti Jr., o Nenê, tinha 65 anos e sofria de câncer SAIBA MAIS CORREIO POPULAR Campinas, quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
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