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VII COLÓQUIO INTERNACIONAL MARX ENGELS 
 
MODELO DE EMPRESA E DOMINAÇÃO CAPITALISTA: LUTAS 
OPERÁRIAS AUTONOMISTAS E O PROJETO COMUNISTA NO 
SÉCULO XXI 
 
GT 10 – O SOCIALISMO NA ATUALIDADE 
 
 
João Urias∗ 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
O modo de produção capitalista é, para seus apologistas, a realização terrena da 
liberdade humana. O reino da liberdade. 
Liberdade? 
No início da década de 1970, os operários de uma fábrica da Ford da cidade de 
Liverpool, Inglaterra, concederam entrevistas a um pesquisador em ciências sociais, Huw 
Beynon. Entre as perguntas feitas pelo sociólogo, ele questionou os peões se aquele seria o 
“trabalho ideal”. Todas as respostas apontaram para o mesmo sentido. Um dos 
entrevistados, por exemplo, usou essas palavras: 
 
Aqui a gente não se realiza. Um robô poderia fazer o trabalho. [...] Todo 
mundo acaba percebendo que não está fazendo um trabalho de mérito. Só 
estão na linha de produção. Pelo dinheiro. Ninguém gosta de pensar que é 
um fracasso. É ruim quando a gente sabe que é uma pecinha sem 
importância. (BEYNON, 1995, p.158). 
 
Viver cumprindo ordens cegamente para executar um trabalho sem sentido e 
desestimulante, que representa um fragmento de um processo produtivo maior que se 
 
∗ Mestre em Direito do Trabalho pela USP. Advogado Trabalhista independente. Pesquisador independente. 
Aspirante ao programa de Doutorado em Sociologia do Trabalho da UNICAMP. 
 
 
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conhece pouco e sobre o qual não se tem nenhum controle. Essa situação angustiante não é 
apenas a situação desse companheiro. De fato, é a situação a que estão condenados todos 
os trabalhadores assalariados do mundo que ocupam funções de baixa qualificação em 
empresas capitalistas. Ou seja, a grande maioria dos trabalhadores assalariados do mundo. 
O sistema social capitalista sempre condenou a maior parte dos próprios 
funcionários das empresas capitalistas, os “proletários ideais”, a uma vida sem sentido. E 
esse fato já é suficiente para condená-lo como modo de organização da vida humana. 
Mas esses trabalhadores da Ford representam, na verdade, a porção da classe 
trabalhadora que menos sofre com os problemas inerentes a esse sistema social. 
Gozar dos benefícios de ter um trabalho formal é “privilégio” de menos da metade 
dos trabalhadores do mundo. A classe trabalhadora é constituída por toda a porção da 
população mundial que não detém em suas mãos o controle dos processos de trabalho em 
que se insere1. Para tomar o Brasil como exemplo, podemos considerar, por aproximação, 
que ela corresponde a nove décimos da população brasileira, que é a população de 
integrantes de famílias cujos adultos não têm diploma de ensino superior. Se dividíssemos 
essas pessoas em nove blocos, classificando-as por condição econômica, enquadraríamos 
os trabalhadores de base da indústria metalúrgica – como os entrevistados por Huw 
Beynon – no topo dessa escala, com médias salariais mensais superiores a dois mil reais e 
instrução correspondente a onze ou mais anos de estudo (ensino médio completo). 
Se a vida laboral desses proletários ideais não permite a realização da plena 
felicidade humana – e ela não permite – muito pior é a dos que estão abaixo deles nesta 
escala. Desses nove blocos de população brasileira, nada menos que os cinco últimos 
correspondem aos integrantes das famílias que são sustentadas por adultos que não tem 
ensino fundamental completo. São aqueles irmãos que nascem, vivem e morrem no 
desespero, sobrevivendo a partir de trabalhos precários ou vis, ou de mendicância. 
Todos os seis bilhões de integrantes da classe trabalhadora do globo sabem, mais 
do que qualquer pesquisador pode constatar, o inferno que é viver como trabalhador no 
capitalismo. Mas há algo que, ao menos por ora, quase nenhum deles sabe. Que, muito ao 
contrário do que divulgam os apologistas capitalistas da liberdade, essa condição de vida 
lhes é forçosamente imposta, conscientemente, pela classe empresarial capitalista mundial 
que, há mais de dois séculos, criou conscientemente tal angústia e tal miséria para garantir 
o funcionamento de suas fábricas da maneira mais lucrativa possível. 
 
1 Seguimos a definição de João Bernardo (BERNARDO, 2009, p. 218). 
 
 
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2 MODELO DE EMPRESA E DOMINAÇÃO CAPITALISTA 
 
Se muita coisa mudou na sociedade capitalista desde sua consolidação no século 
XVIII, há algo que permaneceu imutável. No interior de cada unidade produtiva funciona 
uma cisão fundamental que divide a totalidade dos membros da empresa em duas 
atribuições básicas: no topo, projeção e gestão do processo integral, com exigência de alto 
nível de instrução; na base, operação de tarefas elementares. 
Essa forma de organizar a produção, entretanto, não nasceu da natureza. Tratando 
desse tema, apesar de que com outras expressões, Marx anotou nos Grundrisse: 
 
[...] é extremamente absurdo quando, p. ex., J. S. Mill diz [...]: “As leis e 
condições da produção da riqueza compartilham o caráter das verdades 
físicas. [...] Não é assim com a distribuição da riqueza. Esta é 
exclusivamente uma questão da instituição humana” (p. 239, 240). As 
“leis e condições” da produção da riqueza e as leis da “distribuição da 
riqueza” são as mesmas leis sob formas diferentes, e ambas mudam, 
passam pelo mesmo processo histórico; são tão somente momentos de um 
processo histórico (2011, p. 706-7). 
 
A organização da unidade produtiva à maneira capitalista, de fato, é uma opção 
técnica de organização cujos primeiros passos de surgimento deram-se em terras europeias 
nos anos finais do período que ficou designado como Baixa Idade Média, a partir das mãos 
e mentes dos primeiros burgueses. 
A expansão comercial que caracterizou esse período fez surgirem os comerciantes 
que ficaram conhecidos como burgueses. Durante esses séculos, cada vez mais burgueses 
tinham a possibilidade de viver – e enriquecer – a partir de atividades comerciais. E, com o 
tempo e o crescimento dessas atividades, eles passaram também a se dedicar não apenas a 
comercializar, mas, também, a produzir mercadorias. 
A partir de certo momento, em meados do século XIV, atividades comerciais 
grande porte passaram a ser comuns. É certo, entretanto, que, para realizar grandes 
empreendimentos comerciais, o burguês necessitava de outros braços e mentes além de 
seus próprios. 
 
 
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A solução que se consolidou ao problema da cooperação teve características que 
não existiam no modo de produção feudal. Até esse momento histórico, o camponês feudal 
trabalhava com sua família e geria globalmente o processo de trabalho em que estava 
inserido – a produção agrícola ou pecuária – e, por isso, detinha a propriedade da terra em 
que trabalhava e das ferramentas com que trabalhava. Semelhante era a condição dos 
artesãos das corporações de ofício e guildas. 
O modelo de exploração mudou com o agrupamento de maior número de pessoas 
na mesma atividade sob direção do burguês. Nele, o burguês buscou e contratou pessoas da 
classe subalterna e com poucas alternativas para trabalharem de forma subordinada contra 
o pagamento de uma quantia determinada (o salário), de modo que ele continuasse com o 
monopólio da gestão do processo global da atividade. Como não seria desejável que esse 
monopólico se abalasse, o burguês analisou o conjunto das atribuições necessárias para o 
funcionamento da atividade e as fragmentou segundo a exigência de nível intelectual e 
proximidade com o controle do processo global. Com isso, pôde atribuir aos contratados 
assalariados a execução de funções elementares, sob seu comando, numa relação não 
apenas de subordinação, mas, também, de dependência. 
Feito assim, como o controle permaneceu em suas mãos, era possível que, do total 
dos frutos da atividade comercial, o burguês ficasse com a maior parte, de modo que seusempregados ficassem apenas com o mínimo que era necessário pagar para que não 
abandonassem o burguês por outra fonte de renda. 
Eis o protótipo de modelo de empresa capitalista2. Fragmentação, afastamento, 
dependência, dominação. 
Essa criação técnica – que também pode ser encarada como a criação do trabalho 
alienado (ou estranhado), no sentido dado à palavra por Marx de afastado do controle dos 
meios de produção –, evidentemente, não foi algo que aconteceu de modo pontual. Foi, ao 
contrário, fruto de desenvolvimento gradativo entre os séculos XIV e XVIII, inicialmente 
apenas em atividades comerciais e depois, também, em atividades de produção de 
mercadorias (manufaturas), desenvolvimento que acompanhou a consolidação da classe 
burguesa e, ao mesmo tempo em que a impulsionou, foi impulsionado por ela, num 
movimento histórico dialético. 
 
2 Marx, no capítulo 11 d’O capital, denomina esse modelo como de “cooperação simples”, “a forma de 
trabalho dentro da qual muitos indivíduos trabalham de modo planejado uns ao lado dos outros e em 
conjunto, no mesmo processo de produção ou em processos de produção diferentes porém conexos” (2013, p. 
397-10). 
 
 
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Neste gérmen histórico já estava presente um dos grandes problemas que assolam 
a classe trabalhadora no capitalismo. A angústia gerada pelo fato de se viver a partir de um 
trabalho sem sentido, desestimulante, pois que é apenas o fragmento de um processo maior 
sobre o qual não se tem controle algum. “A divisão manufatureira do trabalho supõe a 
autoridade incondicional do capitalista sobre homens que constituem meras engrenagens 
de um mecanismo total que a ele pertence” (MARX, 2013, p. 430). No século XIV como 
no século XXI, o cérebro humano tem a potencialidade de pensar e criar e, por isso, não se 
satisfaz com um cotidiano que se encerra em obedecer ordens sobre as quais não se é 
autorizado a pensar. 
Mas essa angústia foi, sob outro viés, também um problema para o nascente 
capitalista. Ora, se o trabalho gera insatisfação, como ele conseguiria funcionários para 
trabalharem para si? E mais: se conseguisse alguns, como os obrigaria a deixar a 
insatisfação de lado e se dedicar ao labor com disciplina e afinco, de modo que a atividade 
lhe rendesse frutos? 
É certo que os primeiros burgueses se aproveitaram de algumas condições desse 
período histórico para ter êxito nessa arregimentação. Em decorrência dessas condições, 
entre os séculos XIV e XV os burgueses acabavam por conseguir reunir funcionários entre 
o número limitado de pessoas que viviam na cidade e viam o assalariamento como 
alternativa viável de sobrevivência. No entanto, elas não eram, em absoluto, suficientes 
para garantir as condições de lucratividade e crescimento que a classe burguesa almejava 
para se desenvolver e consolidar como classe dominante. E então chegamos, aqui, a um 
segundo momento histórico importantíssimo. 
Ocorreu que nas primeiras décadas do assalariamento, entre a segunda metade do 
século XIV e o final do século XV, os burgueses se frustraram com o fato de que não 
conseguiram arrancar boas taxas de lucro do trabalho de seus funcionários. Isso aconteceu 
porque a população que estava disposta a viver do assalariamento era pequena e não estava 
submetida a grandes pressões que a obrigassem a aceitar trabalhos em condições de 
subordinação muito penosas ou por remunerações muito baixas. 
 
A classe dos assalariados, surgida na segunda metade do século XIV, 
constituía nessa época, e também no século seguinte, apenas uma parte 
muito pequena da população, cuja posição era fortemente protegida, no 
 
 
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campo, pela economia camponesa independente e, na cidade, pela 
organização corporativa. (MARX, 2013, p. 809). 
 
Assim, em primeiro lugar, para os burgueses não era fácil encontrar pessoas que 
se encontravam em condição tal de falta de alternativas a ponto de aceitarem o trabalho 
desestimulante que os primeiros desejavam lhes oferecer. Pelas mesmas razões, quando 
conseguiam o número de funcionários que precisavam, os burgueses não tinham meios de 
pressioná-los para que eles as realizassem com a produtividade que o senhorio desejava. 
Resultava disso que, para garantir o funcionamento da atividade, os burgueses tinham de 
pagar salários muito maiores do que desejavam, com prejuízos para seus sonhos de 
enriquecimento. 
Entre os séculos XIV e XV, os burgueses solucionaram o problema da organização 
do trabalho no interior de suas unidades produtivas, criando o protótipo do modelo de 
empresa capitalista. Agora, no início do século XVI, a classe capitalista enfrenta seu 
segundo grande problema histórico de organização produtiva, derivado da solução do 
primeiro: o problema de como forçar a produtividade do trabalho assalariado. 
Os burgueses já tinham, no início do século XVI, uma organização classista inicial 
e, a partir dela, já detinham considerável poder de influência sobre as instituições políticas 
oficiais. Lançando mão desse poder, aqueles empresários, ávidos por transformarem seus 
sonhos de lucros ineditamente exorbitantes em realidade, experimentaram duas ideias de 
solução, uma mais sinistra que a outra. O açoite e a fome. 
A partir de 1530, a classe capitalista teve êxito em editar, pelas mãos dos 
monarcas, leis sanguinárias que obrigavam adultos saudáveis a se alistarem em empregos, 
sob pena de inimagináveis castigos corporais. Uma lei de 1530 de Henrique VIII previa 
“açoitamento e encarceramento para os vagabundos mais vigorosos”, que “devem ser 
amarrados a um carro e açoitados até sangrarem” (MARX, 2013, p. 806). Diversas outras 
leis com teor semelhante foram editadas nas décadas seguintes, não apenas na Inglaterra, 
mas em toda a Europa, ameaçando os pobres com escravidão perpétua, marcação de 
símbolos na testa a ferro em brasa, trabalhos forçados, prisão, execução etc. (MARX, 
2013, p. 806-8). 
Ao mesmo tempo, entretanto, outra solução foi levada a cabo. Essa foi a que se 
consolidou como o principal mecanismo de produtividade do modo de produção 
capitalista. 
 
 
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Os capitalistas precisavam de um “sistema de estímulos” muito mais profundo e 
vigoroso. Então, poderíamos imaginar, alguns deles ponderaram: “A verdade é que as 
condições de nossa época, o pequeno contingente populacional nas cidades, a abundância 
de pequenas propriedades agrícolas e a ideologia de caridade da ética católica, concedem 
muitas alternativas e muita liberdade aos membros da classe subalterna. Nessas condições, 
é impossível que nós consigamos submetê-los à organização de trabalho que projetamos. 
Mas há uma saída. Eles serão realmente obrigados a se submeterem, e à maneira que 
desejarmos, se não lhes restarem mais alternativas de sobrevivência. E isso apenas 
acontecerá se, em primeiro lugar, for removida a possibilidade de viver do próprio trabalho 
rural e, em segundo, se esses pobres estiverem disponíveis em número muito maior do que 
o número de vagas demandadas pelos empresários. Para cada vaga de emprego que um 
capitalista deseje preencher, devem sempre existir dez infelizes dispostos a tudo para 
preenchê-las”. 
Esses primeiros burgueses projetaram, então, a criação da miséria, outro dos 
grandes problemas que assolam a classe trabalhadora no modo de produção capitalista. No 
final século XVII, em 1696, escreveu o pequeno-burguês Jonh Bellers: 
 
Se alguém dispusesse de 100 mil acres de terra e de igual número de 
libras em dinheiro e em gado, o que seria desse homem rico sem o 
trabalhador, senão ele mesmo um trabalhador? E porque os trabalhadores 
tornam os homens ricos, segue-se que quanto mais trabalhadores houver, 
tanto mais ricos haverá. [...] O trabalho dos pobres é a mina dos ricos 
(apud MARX, 2013, p. 691). 
 
A ideia, então, foi posta em prática. Aproveitando-se da revolução das técnicas 
agrícolas, os burgueses usaram seu poder político para expulsartodos os membros da 
classe subalterna do campo e sacar-lhes as ferramentas de trabalho que tinham, obrigando-
os a procurar meios de vida na cidade. Os direitos de propriedade, “sagrados” para os 
burgueses, foram ignorados nesse processo. 
 
O roubo dos bens da Igreja, a alienação fraudulenta dos domínios estatais, 
o furto da propriedade comunal, a transformação usurpatória, realizada 
com inescrupuloso terrorismo, da propriedade feudal e clânica em 
propriedade privada moderna, foram outros tantos métodos idílicos da 
 
 
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acumulação primitiva. Tais métodos conquistaram o campo para a 
agricultura capitalista, incorporaram o solo ao capital e criaram para a 
indústria urbana a oferta necessária de um proletariado inteiramente livre 
(MARX, 2013, p. 804). 
 
Todos esses atos, portanto, constituem parte do plano de dominação do capital. O 
problema da improdutividade do trabalho assalariado em razão da insubordinação 
apareceu, e eles não hesitaram em tomar as medidas para tentar solucioná-lo. Townsend, 
em 1786, explicitou essas medidas: 
 
A coação legal para trabalhar está acompanhada de muitos transtornos, 
violência e gritaria [...], ao mesmo tempo que a fome não só constitui 
uma pressão mais pacífica, silenciosa e incessante, como também é o 
motivo mais natural para a indústria e o trabalho, provocando os esforços 
mais intensos (TOWNSEND, apud MARX, 2013, p. 722). 
 
A classe capitalista, portanto, havia criado o que Marx depois chamou de 
superpopulação relativa ou exército industrial de reserva (2013, p. 689-784). 
Essas foram as primeiras manobras de organização das relações sociais pela classe 
capitalista, ocorridas nos momentos mesmos da consolidação dessa classe como dominante 
do processo social. De lá para cá, neste início do século XXI, as ações de dominação não 
apenas continuaram como se desenvolveram extraordinariamente em abrangência e 
complexidade, por caminhos nunca antes vistos na história humana. E, a despeito de 
quaisquer desenvolvimentos históricos ou tecnológicos, aquelas duas primeiras soluções 
grosseiras, mas exitosas do ponto de vista do capital continuam tão vigorantes como antes. 
Na verdade, constituem os dois principais pilares de sustentação – um interno às empresas, 
e o outro externo – do modo de produção capitalista. 
 
 
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS: DOMINAÇÃO, AUTONOMIA E O PROJETO 
COMUNISTA NO SÉCULO XXI 
 
 
A dominação capitalista transformou o mundo num espaço inóspito para a grande 
 
 
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maioria. Essa dominação social, entretanto, não é obra divina, tampouco uma fatalidade 
histórica. Sua origem, seu pilar estruturante primeiro, é o modelo de empresa capitalista. A 
história do capitalismo, entretanto, também é a história das lutas da classe operária para 
alterar essa ordem de coisas. E, a partir do final do século XX, a história viu florescerem 
dos conflitos entre patrões e operários formas de luta com um novo caráter. Nelas, os 
trabalhadores deixaram de confiar a direção de seus passos às tradicionais instituições de 
representação operária para organizarem-se autonomamente no próprio local de trabalho. 
Essas experiências autônomas abrem novos caminhos para a classe trabalhadora, 
possibilitando que sejam trabalhadas e experimentadas soluções para problemas históricos 
tão relevantes quanto, por exemplo, o do estímulo para o trabalho no modo de produção 
comunista. É apenas a partir dessas formas de lutas autônomas que podemos projetar um 
novo plano de superação do capitalismo para este século que se inicia. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
BERNARDO, J. Autogestão e socialismo. In: Democracia e autogestão. Temporaes / 
Departamento de História. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. 
Universidade de São Paulo. v. 1. São Paulo: Humanitas/ FFLCH/ USP, 1999. 
BERNARDO, João. Economia dos conflitos sociais. São Paulo: Expressão Popular, 2009. 
Edição disponível em: < http://www.afoiceeomartelo.com.br/posfsa/Autores/Bernardo 
,%20Jo%C3%A3o/Economia%20dos%20Conflitos%20Sociais.pdf> 
BEYNON, Huw. Trabalhando para Ford: trabalhadores e sindicalistas na indústria 
automobilística. Trad. Laura Teixeira Motta. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. 
MARX, Karl. Grundrisse: manuscritos econômicos de 1857-1858: esboços da crítica da 
economia política. Trad. Mario Duayer, Nélio Schneider. São Paulo: Boitempo; Rio de 
Janeiro: Ed. UFRJ, 2011. 
MARX, Karl. O capital: crítica da economia política: Livro I: o processo de produção do 
capital. Trad. Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2011.

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