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TROMBOSE VENOSA PROFUNDA Definição É a formação de trombos nas veias profundas à fáscia muscular, ou seja, veias que fazem parte do sistema venoso profundo, geralmente localizados nos membros inferiores. Trombos: São massas sólidas formados por plaquetas, fibrina e hemácias, que podem levar à isquemia por obstrução vascular local ou embolia a distância. Obs: O risco de embolia e a magnitude da síndrome pós- trombótica na TVP proximal são maiores. Classificação: ✓ TVP proximal: Envolva veias ilíacas, femorais ou poplíteas. ✓ TVP distal: Inferior às poplíteas. Epidemiologia O tromboembolismo venoso é a terceira causa de doença vascular mais prevalente no mundo, sendo precedido apenas das doenças coronarianas e cerebrovasculares. A TVP está presente em cerca de dois terços dos casos de TEV. Aproximadamente 5 a 15% de indivíduos não tratados da TVP podem morrer de EP. Fatores de risco ✓ Longos períodos de estase venosa: imobilização ou hospitalização ✓ Cirurgias e traumas ✓ Obesidade ✓ Neoplasias ✓ Idade acima dos 60 anos ✓ Tabagismo ✓ Estado gravídico- puerperal ✓ Historia previa e familiar de TVP ✓ Uso de contraceptivos orais ✓ Reposição hormonal ✓ Doença inflamatória intestinal ✓ Síndrome nefrótica ✓ Trombocitopenia induzida por heparina (TIH) Doenças de hipercoagulabilidade: ✓ Fator V de Leiden ✓ Deficiência de proteína C e S ✓ Síndrome antifosfolípide ✓ Mutação da trombina ✓ Def. de antitrombina 3 ✓ Homocisteinemia ✓ Tipos sanguíneos A, B e AB Fisiopatologia A fisiopatologia da trombose venosa é caracterizada pela tríade de Virchow, composta por: ✓ Estase vascular ✓ Hipercoagulabilidade ✓ Lesão do endotélio Mecanismo: A lesão endotelial ocorrer por fatores externos (traumas) ou intrínsecos como a ativação das células endoteliais por citoquinas e outros mediadores inflamatórios. Os fatores liberados em resposta a uma lesão caem na circulação e vão atuar na modulação do sistema fibrinolítico (proteína C). Há aumento dos níveis dos fatores pró- coagulantes (hipercoagulabilidade) e agindo nas células musculares lisas da parede venosa com consequente venodilatação (estase venosa). A estase permite que a coagulação do sangue seja completada no local de início do trombo (atrás de bolsas valvulares das veias). A interação do trombo com a parede venosa origina resposta inflamatória intensa loco-regional mediada por neutrófilos e monócitos, baseada em um gradiente de citoquinas; Esta resposta determina amplificação do trombo por produção de fator tissular e quebra da barreira endotelial pela ação dos neutrófilos. Alterações regionais: O bloqueio do retorno venoso provoca alterações nas veias e tecidos distais à trombose, tais como: ✓ Hipertensão venosa ✓ Dilatação ✓ Insuficiência valvular das veias profundas, comunicantes e ramos superficiais Alterações sistêmicas: Fase aguda: ✓ Marcada por dores ✓ Edema ✓ Reações inflamatórias nos capilares linfáticos ✓ Febre ✓ Leucocitos ✓ Aumento do tempo de hemossedimentação ✓ Diminuição do tempo de coagulação. Quadro Clinico História Clinica + pelo menos 1 fator de risco em 80% dos casos!! ✓ Edema do membro ✓ Aumento da temperatura local ✓ Dilatação de veias superficiais ✓ Dor a palpação da musculatura ✓ Sinal de Olow ou Bancroft: Dor a compressão da panturrilha contra a tíbia. ✓ Sinal de Homans: Dor na panturrilha a dorsoflexão passiva do pé ✓ Sinal da bandeira: Redução da mobilidade da panturrilha Diagnóstico A suspeita diagnóstica pode ser corroborada através do Escore de Wells. Escore de Wells: É baseado em sinais e sintomas, fatores de risco e diagnósticos alternativos, estimando a probabilidade pré- teste para TVP. Interpretação: ✓ -2 a 0: baixa probabilidade ✓ 1 a 2: média probabilidade ✓ > 3: alta probabilidade Ultrassonografia com Doppler colorido ou duplex scan de MMII É um método bastante acurado para o diagnóstico de TVP e possui as vantagens de não ser invasivo e de ser mais barato que os outros métodos. O diagnóstico é feito através da avaliação do fluxo sanguíneo, assim como da resistência à compressão da veia. OBS: Veias normais são facilmente compressíveis, no entanto, na presença de trombose, há resistência à compressão. D- DÍMERO O D- dímero que é o produto de degradação da fibrina, se encontra elevado em quase todos os pacientes com TVP. Ou seja, é altamente sensível, mas não é específico, porque pode indicar outras doenças. ✓ Resultado negativo: < 500 ng/mL, é útil para descartar TVP, nos casos em que a suspeita é baixa ou moderada. ✓ Resultado positivo: ≥ 500 ng/mL, não é capaz de fechar o diagnóstico de TVP. Flebografia Considerada pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Vascular como o padrão-ouro para diagnóstico de TVP. No entanto, é um exame invasivo, com a necessidade de infusão de contraste (desuso). Tomografia computadorizada e ressonância magnética São métodos validados para o estudo do sistema venoso e diagnóstico de TVP. Entretanto, apresentam custo elevado e necessitam da aplicação de contraste para realização. Tratamento Anticoagulantes É o tratamento de primeira escolha para os pacientes com TVP, e o objetivo da terapia é reduzir o risco de complicações secundárias, como: ✓ Tromboembolismo pulmonar ✓ Insuficiência venosa crônica A anticoagulação deve ser: ✓ Iniciada precocemente e mantida por, no mínimo, 3 meses. ✓ Casos que os fatores de risco persistirem após esse período, estender para 6 meses a 1 ano. ✓ Caso os fatores de risco sejam eternos, uso continuo. Principais anticoagulantes: ✓ Heparina não fracionada (HNF): A monitorização dos efeitos da heparina é feita por meio do tempo de tromboplastina parcialmente ativada (TTPA). ✓ Heparina de baixo peso molecular (HBPM): Essa é a medicação de escolha para o tratamento de TVP em gestantes. ✓ Varfarina sódica: a varfarina é antagonista da vitamina K e atua na redução dos fatores de coagulação K-dependentes (II, VII, IX, X). A anticoagulação promovida pela varfarina é aferida por meio do tempo de protrombina (TP) e sua faixa terapêutica é definida pelo RNI (relação normalizada internacional), que deve estar entre 2 e 3. ✓ Rivaroxabana (xarelto®): Age inibindo o fator Xa. O teste de escolha para avaliar sua ação terapêutica é a dosagem de antifator Xa. Posologias O tratamento clássico consiste em uma heparina de baixo peso molecular (HBPM) ou fondaparinux associada a warfarina oral. ✓ Se HBPM, preferencialmente usar enoxaparina 1,5mg/kg até 150mg, SC, 1x/dia por 5 dias em conjunto com a warfarina. ✓ Se fondaparinux, 7,5mg, SC, 1x/dia (para pacientes de 50 a 100 kg) por 5 dias em conjunto com a warfarina Tratamento alternativo com anticoagulação totalmente oral: ✓ Rivaroxabana 15mg, VO, de 12 em 12h durante 21 dias – depois disso, 20mg, 1x/dia. ✓ Apixabana 10mg, VO, de 12 em 12h durante 7 dias – depois disso, 5mg de 12 em 12h. Fibrinolíticos Dentre os agentes fibrinolíticos disponíveis, estreptoquinase e ativador tecidual de plasminogênio são os mais usados para lisar trombos recentes. Filtro de veia cava O filtro de veia cava é um dispositivo de implantação endovascular que é colocado na veia cava inferior, geralmente, abaixo das veias renais. Objetivo: Impedir o TEP. A implantação do filtro não é um procedimento inócuo e está associada a diversas complicações. Indicações: ✓ Tromboembolismo pulmonar em vigência de anticoagulação. ✓ Contraindicações à anticoagulação em pacientes com alto risco de TEP. ✓ Casos de hipertensão pulmonar grave em que um paciente não sobreviveria a um TEP. Contraindicações: ✓Qualquer sangramento intracraniano ✓ AVC isquêmico nos últimos três meses ✓ Neoplasia no sistema nervoso central ✓ Doença ulcerosa péptica ativa ✓ Trauma significante de cabeça ou face nos últimos três meses ✓ Sangramento ativo ou diátese hemorrágica (exceto menstruação) ✓ Qualquer lesão vascular cerebral conhecida (ex.: malformação arteriovenosa). Profilaxia Indicado para pacientes em pós- operatório de grandes cirurgias, traumas e lesões graves, cirurgias de lesões medulares, insuficiência cardíaca congestiva, acamados, história prévia de TVP ou EP. Os métodos de profilaxia podem ser mecânicos ou farmacológicos. ✓ Mecânicas: deambulação e meias de compressão graduadas. ✓ Farmacológica: anticoagulantes em doses baixas fixas de heparina. Posologia: 5000 unidades de heparina não fracionada, a cada 8 ou 12 horas. TROMBOEMBOLISMO PULMONAR Definição É definido pela obstrução de um ou mais ramos da artéria pulmonar que se origina em algum lugar do corpo ou, primariamente, na vasculatura pulmonar. Epidemiologia É a terceira síndrome cardiovascular aguda, atrás apenas do (IAM) e do (AVC). É a principal causa intra- hospitalar de morte EVITÁVEL. 8x mais incidente em indivíduos homens com idade maior ou igual a 80 anos. Fatores de risco A European Society of Cardiology (ESC) (2019), classificou qual a chance de pessoas expostas ao determinado fator de risco desenvolverem TEV. Classificação TEMPORAL ✓ Agudo: Sinais e sintomas se desenvolvem imediatamente após a obstrução. ✓ Subagudo: Sintomas se desenvolvem dias ou semanas após a obstrução. ✓ Crônico: Desenvolvem sintomas lentamente, com clínica de cor pulmonale e hipertensão pulmonar. HEMODINÂMICA ✓ TEP C/ instabilidade hemod.: C/ hipotensão. ✓ TEP S/ instabilidade hemod.: S/ hipotensão. LOCALIZAÇÃO ✓ TEP em sela: Trombo alojado na bifurcação da artéria pulmonar principal. ✓ TEP Lobar: Trombos alojados nos ramos lobares das artérias pulmonares. ✓ TEP Segmentar: Trombos estão alojados nos ramos segmentares das artérias pulmonares. ✓ TEP Subsegmentar: Trombos estão alojados nos ramos subsegmentares das artérias pulmonares. PRESENÇA DE SINTOMAS ✓ TEP sintomático ✓ TEP assintomático Fisiopatologia Nas regiões com obstrução vascular pulmonar → primeiro momento, a ventilação é preservada → criando um espaço morto → regiões que ventilam sem perfundir → Causando hipoxemia. Gera uma reação inflamatória → cursando com aumento do drive respiratório → levando à hipocapnia e alcalose respiratória. Há um aumento da resistência vascular pulmonar (RVP) → por obstrução física, associado à vasoconstrição hipoxêmica → elevando a pós-carga ventricular direita → cursando com dilatação ventricular direita e abaulamento do septo interventricular. Com a diminuição do fluxo sanguíneo proveniente do ventrículo direito e a dilatação ventricular direita → diminuição da pré-carga ventricular direita → assim, uma redução do débito cardíaco → diminuindo a saturação de oxigênio do sangue venoso misto. Quadro clinico Os sintomas mais comuns apresentados pelos pacientes são dispneia, dor torácica e tosse. Os principais sinais ao exame físico são taquipneia, crepitações e taquicardia. Além de, edema unilateral assimétrico dos membros inferiores e os sinais de Homans e da Bandeira. Diagnóstico Pacientes c/ baixa probabilidade Pacientes com probabilidade intermediária Devem ser submetidos à coleta do D-dímero, esses pacientes devem ser prontamente tratados, mesmo antes do resultado do exame complementar. Pacientes c/ moderada a grave probabilidade Obs: A cintilografia V/Q deve ser reservada aos pacientes com contraindicação à angioTC. ❖ Exames complementares Gasometria arterial: Alcalose respiratória Radiografia de tórax: Apresenta baixa sensibilidade e especificidade para TEP e na maioria das vezes se apresenta sem alterações. As principais alterações que podem ser encontradas na radiografia de tórax de paciente com TEP são: ✓ Sinal de Westermark ✓ Sinal de Palla ✓ Sinal de Hampton (opacidade em cunha) Eletrocardiograma: Pode cursar com achados inespecíficos como a taquicardia sinusal e alterações no segmento ST em cerca de 70% dos casos. Cintilografia: O diagnóstico de TEP pela cintilografia consiste na probabilidade: ✓ Alta probabilidade clínica e com alta probabilidade cintilográfica → TEP ✓ Baixa probabilidade clínica e cintilografia pulmonar normal → Exclui TEP ✓ Baixa ou intermediária probabilidade cintilográfica → para elucidar o diagnóstico devemos lançar mão de outro exame. Arteriografia pulmonar: É um exame invasivo considerado método padrão ouro para o diagnóstico da TEP. Tratamento Critérios de Hestia Devem ser aplicados para pacientes de baixo risco, para fins de avaliação da elegibilidade para tratamento domiciliar. Manejo geral O tratamento na fase aguda envolve o suporte ventilatório e hemodinâmico. O repouso absoluto no leito é preconizado nas primeiras 24-48 horas do evento agudo ou enquanto durar a instabilidade hemodinâmica e/ou ventilatória. Anticoagulação ✓ Anticoagulantes parenterais Tem três representantes: a HBPM, a heparina não fracionada (HNF) e o fondaparinux. Deve ser iniciada enquanto os pacientes com probabilidade clínica intermediária ou alta aguardam seus testes diagnósticos. Posologia: Enoxaparina 1 mg/kg, de 12/12 horas, via subcutânea. ✓ Anticoagulantes orais Antagonistas da vitamina K (AVK): A warfarina associados a anticoagulantes parenterais deve ser iniciada por pelo menos 5 dias e, quando o INR (international normalized ratio) estiver entre 2 e 3, por dois dias consecutivos. Posologia: Dose de 5-10 mg/dia em pacientes menores de 60 anos e 5 mg ou menos em idosos. DOACs: Conhecidos como NOACS (novel oral anticoagulants) são uma classe de anticoagulantes não antagonistas da vitamina K (AVK) → inibem diretamente o fator Xa (apixabana, edoxabana e rivaroxabana) ou o fator IIa (dabigatrana). Vantagem: Ausência de necessidade de coleta de exames de rotina (INR) para ajuste frequente de dose. Fibrinólise A trombólise é reservada para pacientes de risco intermediário- alto que com uso de anticoagulante, evoluem com deterioração hemodinâmica. Obs: Deve- se sempre pesar o risco x o benefício do procedimento. Procedimentos guiados por cateter De acordo com ESC 2019, procedimentos guiados por cateter devem ser considerados para pacientes com TEP de alto risco com contraindicação ou falência à terapia trombolítica. Na trombólise guiada por cateter, os agentes trombolíticos são infundidos diretamente no leito arterial pulmonar, guiados por cateter, no local do trombo. A terapia combinada guiada por cateter, envolvendo a trombólise intra-arterial com embolectomia percutânea, é a mais realizada mundialmente. A embolectomia cirúrgica no TEP agudo comumente é realizada com circulação extracorpórea e cardioplegia e as indicações são TEP hemodinamicamente instável nos pacientes em que a trombólise está contraindicada ou nos pacientes em que a terapia falhou.