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INTRODUÇÃO A pele, o maior órgão do corpo, é um dos melhores indicadores de saúde geral. Além disso, a aprendizagem do exame da pele é a maneira mais eficiente de “treinar a visão a identificar alterações que vão alimentar o raciocínio diagnóstico”. A pele ou tegumento cutâneo é constituída por três camadas: • Epiderme ou camada externa; • Derme ou córion; • Tecido celular subcutâneo. Serão sistematicamente investigados os seguintes elementos: • Coloração; • Continuidade ou integridade; • Umidade; • Textura; • Espessura; • Temperatura; • Elasticidade e mobilidade; • Turgor; • Sensibilidade; • Lesões elementares. LESÕES ELEMENTARES Denominam-se lesões elementares as modificações do tegumento cutâneo determinadas por processos inflamatórios, degenerativos, circulatórios, neoplásicos, distúrbios do metabolismo ou por defeito de formação. Para avaliação de lesões elementares, empregam-se a inspeção e a palpação. O uso de uma lupa capaz de ampliar a superfície da pele e as próprias lesões é vantajoso. As lesões elementares classificam-se em: - Alterações de cor; - Elevações edematosas; - Formações sólidas; - Coleções líquidas; - Alterações da espessura; - Perda e reparações teciduais. 1- ALTERAÇÕES DE COR (MANCHA OU MÁCULA) A mancha ou mácula corresponde a uma área circunscrita de coloração diferente da pele que a circunda, no mesmo plano do tegumento e sem alterações na superfície. As manchas ou máculas dividem-se em: • Manchas pigmentares: quando decorrem de alterações do pigmento melânico. Subdividem-se em três tipos: ➢ Hipocrômicas e/ou acrômicas: resultam da diminuição e/ou ausência de melanina. Podem ser observadas no vitiligo, pitiríase alba, hanseníase; algumas vezes são congênitas, como no nevo acrômico e no albinismo; Mancha: acrômica (vitiligo) (A); hipocrômica (pitiríase alba) (B). ➢ Hipercrômicas: dependem do aumento de pigmento melânico. Exemplos: pelagra, melasma ou cloasma, manchas hipercrômicas dos processos de cicatrização, manchas hipercrômicas da estase venosa crônica dos membros inferiores, nevos pigmentados, melanose senil; Figura 1: Mancha hipercrômica (eritema fixo medicamentoso). Figura 2: Mancha hipercrômica extensa (pitiríase versicolor). ➢ Pigmentação externa: substâncias aplicadas topicamente que produzem manchas do cinza ao preto. Exemplos: alcatrões, antralina, nitrato de prata, permanganato de potássio. • Manchas vasculares: decorrem de distúrbios da microcirculação da pele. São diferenciadas das manchas hemorrágicas por desaparecerem após compressão (digitopressão, vitropressão e puntipressão). As manchas vasculares subdividem-se em: ➢ Telangiectasias: são dilatações dos vasos terminais, ou seja, arteríolas, vênulas e capilares. - As telangiectasias venocapilares: são comuns nas pernas e nas coxas das pessoas do sexo feminino e se denominam varículas ou microvarizes. Podem ser vistas, também, no tórax de pessoas idosas - Aranhas vasculares: têm este nome porque sua forma lembra a desses aracnídeos (um corpo central do qual emergem várias pernas em diferentes direções). Localizam-se no tronco, e para fazê-las desaparecer basta fazer uma puntipressão exatamente sobre seu ponto mais central. ➢ Mancha eritematosa ou hiperêmica: decorre de vasodilatação, tem cor rósea ou vermelho-viva e desaparece à digitopressão ou à vitropressão. É uma das lesões elementares mais encontradas na prática. Surgem nas doenças exantemáticas (sarampo, varicela, rubéola), na escarlatina, na sífilis, na moléstia reumática, nas septicemias, nas alergias cutâneas e em muitas outras afecções. Manchas eritematosas (eritema polimorfo). • Manchas hemorrágicas: são também chamadas “sufusões hemorrágicas” e, como já foi assinalado, não desaparecem pela compressão, o que as diferencia das manchas eritematosas. Não desaparecem por se tratar de sangue extravasado. De acordo com a forma e o tamanho, subdividem-se em três tipos: ➢ Petéquias: quando são puntiformes, e com até 1 cm de diâmetro; ➢ Víbices: quando tomam a forma linear. Esse termo também é empregado para lesão atrófica linear; ➢ Equimoses: quando são em placas, maiores que 1 cm de diâmetro. Manchas hemorrágicas: petéquias (A); víbices (B); equimoses (C). IMPORTANTE!!! Se o extravasamento sanguíneo for suficiente para produzir elevação da pele, é designado hematoma. Equimose e hematoma se associam frequentemente. Manchas hemorrágicas: petéquias em membros inferiores (A); equimose e exulceração da pele (púrpura senil) (B). 2- ELEVAÇÕES EDEMATOSAS São elevações causadas por edema na derme ou hipoderme. Aqui se enquadra a lesão urticada ou tipo urticária, que corresponde a formações sólidas, uniformes, de forma variável (arredondadas, ovalares, irregulares), frequentemente eritematosas e quase sempre pruriginosas, resultando de um edema dérmico circunscrito. A afecção mais frequentemente responsável por este tipo de lesão é a própria urticária. 3- FORMAÇÕES SÓLIDAS • Pápulas: são elevações sólidas da pele, de pequeno tamanho (até 1,0 cm de diâmetro), superficiais, bem delimitadas, com bordas facilmente percebidas quando se desliza uma polpa digital sobre a lesão. Podem ser puntiformes, um pouco maiores ou lenticuladas, planas ou acuminadas, isoladas ou coalescentes, da cor da pele circundante ou de cor rósea, castanha ou arroxeada. Inúmeras dermatoses se evidenciam por lesões papulares; exemplos: picada de inseto, leishmaniose, blastomicose, verruga, erupções medicamentosas, acne, hanseníase. A:Pápulas eritematosas. B: Pápula verrucosa. Pápulas agrupadas (esclerose tuberosa). • Tubérculos: são elevações sólidas, circunscritas, de diâmetro maior que 1,0 cm, situadas na derme. A consistência pode ser mole ou firme. Geralmente evoluem formando cicatriz. São observadas na sífilis, tuberculose, hanseníase, esporotricose, sarcoidose e tumores. A. Tubérculo (fibroma). • Nódulos, nodosidade e goma: são formações sólidas localizadas na hipoderme, mais perceptíveis pela palpação do que pela inspeção. Quando de pequeno tamanho – grão de ervilha, por exemplo – são os nódulos. Se mais volumosas, são as nodosidades. Gomas são nodosidades que tendem ao amolecimento e ulceração com eliminação de substância semissólida. Ora estão isoladas, ora agrupadas ou mesmo coalescentes. São muitas as dermatoses que se traduzem por nódulo ou nodosidade; exemplos: furúnculo, eritema nodoso, hanseníase, cistos, epiteliomas, sífilis, bouba, cisticercose. As gomas aparecem na sífilis, na tuberculose e nas micoses profundas. A. Nódulo eritematoso em região nasal • Vegetações: são lesões sólidas, salientes, lobulares, filiformes ou em couve-flor, de consistência mole e agrupadas em maior ou menor quantidade. Muitas dermatoses se evidenciam por vegetações: verrugas, bouba, sífilis, leishmaniose, blastomicose, condiloma acuminado, tuberculose, granuloma venéreo, neoplasias e dermatites medicamentosas. Vegetações. A. Carcinoma espinocelular avançado. B. Cromomicose 4- COLEÇÕES LÍQUIDAS • Vesícula: é uma elevação circunscrita da pele que contém líquido em seu interior. Seu diâmetro não ultrapassa 1,0 cm. Diferença fundamental entre pápula e vesícula: a primeira é uma lesão sólida, e a segunda é constituída por uma coleção líquida. É observada na varicela, no herpeszóster, nas queimaduras, no eczema e nas tinhas (micoses superficiais). • Bolha: também é uma elevação da pele contendo uma substância líquida em seu interior. Diferencia-se da vesícula pelo tamanho. A bolha tem diâmetro maior que 1,0 cm. É encontrada nas queimaduras, no pênfigo foliáceo, em algumas piodermites e em alergias medicamentosas. • Pústula: é uma vesícula de conteúdopurulento. Surge na varicela, no herpeszóster, nas queimaduras, nas piodermites, na acne pustulosa. • Abscessos: são coleções purulentas, mais ou menos proeminentes e circunscritas, de proporções variáveis, flutuantes, de localização dermo-hipodérmica ou subcutânea. Quando acompanhados de sinais inflamatórios são chamados abscessos quentes. A ausência de sinais flogísticos caracteriza os abscessos frios. Exemplos: furunculose, hidradenite, blastomicose, abscesso tuberculoso. • Hematomas: são formações circunscritas, de tamanhos variados, decorrentes de derrame de sangue na pele ou tecidos subjacentes. Tem que ter elevação da pele para ser hematoma 5- ALTERAÇÕES DA ESPESSURA • Queratose: é modificação circunscrita ou difusa da espessura da pele, que se torna mais consistente, dura e inelástica, em consequência de espessamento da camada córnea. O exemplo mais comum é o calo. Quando se localiza nas palmas das mãos e nas plantas dos pés chama-se, respectivamente, queratose palmar e plantar. Principais afecções que se acompanham dessa lesão: queratose senil, queratodermia palmoplantar, ictiose. Queratose (queratodermia palmar). • Espessamento ou infiltração: traduz-se por aumento da consistência e da espessura da pele que se mantém depressível, menor evidência dos sulcos da pele, limites imprecisos. O exemplo mais sugestivo é a hanseníase virchowiana. Lesão infiltrada (hanseníase). • Liquenificação: consiste no espessamento da pele com acentuação das estrias, resultando em um quadriculado em rede como se a pele estivesse sendo vista através de uma lupa. A pele circundante torna-se, em geral, de cor castanho-escura. É encontrada nos eczemas liquenificados ou em qualquer área sujeita a coçaduras constantes. Liquenificação. A. Líquen simples e espessamento da pele no joelho. • Esclerose: evidencia-se por aumento da consistência da pele, que se torna mais firme, aderente aos planos profundos e difícil de ser pregueada entre os dedos. Exemplo típico é a esclerodermia. • Edema: consiste em acúmulo de líquido no espaço intersticial. A pele torna-se lisa e brilhante. Edema e eritema nos pés e na perna (erisipela). • Atrofias: são adelgaçamentos da pele, a qual torna-se fina, lisa, translúcida e pregueada. Podem ser fisiológicas, como na atrofia senil, ou determinadas por agentes mecânicos ou físicos (estrias atróficas, radiodermite). São observadas no abdome de mulheres grávidas e em pessoas cuja parede abdominal esteve distendida (ascite, obesidade). Atrofia da pele, vendo-se também uma lesão eritematocrostosa decorrente da biopsia da pele. 6- PERDAS E REPARAÇÕES TECIDUAIS • Escamas: são lâminas epidérmicas secas que tendem a desprender-se da superfície cutânea. Se apresentarem o aspecto de farelo são denominadas furfuráceas, e, quando em tiras, laminares ou foliáceas. Muitas afecções se acompanham de descamação, podendo citar-se como exemplo a caspa, a pitiríase versicolor, a psoríase e a queimadura da pele por raios solares. Escamas. A. Alergia a medicamento (em fase regressiva). • Erosão ou exulceração: é o simples desaparecimento da parte mais superficial da pele, atingindo apenas a epiderme. Pode ser traumática, quando recebe o nome de escoriação, ou não traumática. Neste caso, são secundárias à ruptura de vesículas, bolhas e pústulas. Ao regenerar-se não deixam cicatrizes. • Úlcera ou ulceração: é a perda delimitada das estruturas que constituem a pele e que chega a atingir a derme. Tal fato a diferencia da escoriação. Outra diferença entre essas duas lesões é que a ulceração deixa cicatriz. Exemplos: úlcera crônica, lesões malignas da pele, leishmaniose. Ulcerações. A. Leishmaniose tegumentar americana. B. Neoplasia ulcerada em asa nasal. • Fissuras ou rágades: são perdas de substância linear, superficial ou profunda, e não determinada pela interveniência de qualquer instrumento cortante. Comprometem a epiderme e a derme e situam-se mais frequentemente no fundo de dobras cutâneas ou ao redor de orifícios naturais. • Crosta: é uma formação proveniente do ressecamento de secreção serosa, sanguínea, purulenta ou mista que recobre uma área cutânea previamente lesada. Algumas vezes é de remoção fácil e em outras está firmemente aderida aos tecidos subjacentes. Encontram-se crostas na fase final dos processos de cicatrização, impetigo, pênfigo foliáceo e nos eczemas. Crostas (pênfigo foliáceo). B. Crosta melicérica (carcinoma de Bowen). • Escara: escara é uma porção de tecido cutâneo necrosado, resultante de pressão isolada ou combinada com fricção e/ou cisalhamento. A área mortificada torna-se insensível, de cor escura e está separada do tecido sadio por um sulco. O tamanho é muito variável, desde o da cabeça de alfinete até placas enormes. Ocorre principalmente em idosos e imobilizados. • Cicatriz: é a reposição de tecido destruído pela proliferação do tecido fibroso circunjacente. Os tamanhos e as formas das cicatrizes são os mais variados. Podem ser deprimidas ou exuberantes. As exuberantes são representadas pela cicatriz hipertrófica e pelo queloide. ➢ Queloide: é uma formação fibrosa rica em colágeno saliente, de consistência firme, róseo-avermelhada, bordas nítidas, frequentemente com ramificações curtas (Figura 11.33). Pode ser espontâneo ou, o que é mais frequente, secundário a qualquer agressão à pele (intervenção cirúrgica, queimadura e ferimentos).