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4. Problemas Comuns nos Primeiros Meses de vida 1

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Problemas Comuns nos Primeiros Meses de vida (I) 
 
1. IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇA GRAVE EM CRIANÇAS ATÉ DOIS MESES DE IDADE 
 
É importante que os profissionais que atuam em atenção primária reconheçam sinais e sintomas de doença grave 
no lactente pequeno (menor de dois meses). Nesse período, infecções graves apresentam alto potencial de 
morbimortalidade. Assim, o estabelecimento de perguntas objetivas e a avaliação clínica cuidadosa permitem 
diferenciar situações que requerem apenas orientação ambulatorial daquelas que exigem encaminhamento 
imediato para centros de maior complexidade. A TABELA 1, que faz parte dos quadros de procedimento do Manual 
AIDIPI Neonatal, orienta o profissional quanto à identificação de doença grave em menores de dois meses e à 
conduta imediata. 
 
 
AVALIAR 
 
 
CLASSIFICAR 
 
TRATAR 
 
Presença de um dos seguintes sinais: 
 
 “Não vai bem”, irritada; 
 Não consegue mamar no 
peito; 
 Vomita tudo; 
 Temperatura axilar <36° 
ou ≥37,5°C; 
 Convulsões; 
 Letargia/inconsciência ou 
flacidez; 
 Tiragem subcostal 
acentuada; 
 Apneia; 
 Batimentos de asas do 
nariz; 
 Gemido, estridor ou 
sibilância; 
 Cianose central; 
 Palidez intensa; 
 Icterícia até região abaixo 
do umbigo e/ou de 
aparecimento antes de 24 
horas de vida; 
 Manifestações de 
sangramento: equimoses, 
petéquias e/ou 
hemorragias; 
 Secreção purulenta do 
ouvido ou da conjuntiva 
(abundante e com edema 
palpebral) ou do umbigo 
(com eritema que se 
estende para a pele ao 
redor); 
 Distensão abdominal; 
 Peso <2.000g; 
 Frequência respiratória 
≥6O ou <30rpm; 
 Pústulas ou vesículas na 
pele (muitas ou extensas); 
 Enchimento capilar lento 
(>2s); 
 Anomalias congênitas 
maiores. 
 
 
 
 
 
DOENÇA GRAVE 
 
→ Referir ao hospital 
URGENTEMENTE, 
seguindo as normas de 
estabilização e 
transporte; 
→ Dar a primeira dose via 
parenteral dos 
antibióticos 
recomendados, exceto 
em anomalias 
congênitas sem 
exposição de vísceras e 
peso <2000g; 
→ Administrar oxigénio 
se houver cianose 
central; 
→ Prevenir, controlar e, 
se necessária, tratar a 
hipoglicemia; 
→ Dar paracetamol para 
febre >38°C; 
→ Prevenir a hipotermia; 
→ Recomendar à mãe 
que continue a 
amamentação, se 
possível. 
Fonte: Organização Pan-Americana da Saúde. 
 
 
2. HÁBITOS INTESTINAIS DA CRIANÇA PEQUENA 
 
Cerca de 70% dos recém-nascidos eliminam mecônio nas primeiras 12 horas de vida; outros 25% entre 12 e 24 
horas; e os restantes 5% até 48 horas após o nascimento. Nos primeiros dias, as fezes do recém-nascido são de cor 
escura, pegajosas e sem cheiro, tornando-se depois amareladas ou esverdeadas. Espera-se que o mecônio esteja 
totalmente eliminado até o terceiro dia de vida. As crianças amamentadas eliminam fezes amarelo-ouro, não 
homogêneas, com a parte sólida frequentemente separada da líquida. Muitas vezes, são espumantes e explosivas, 
com uma frequência de 10 ou mais evacuações diárias. As crianças que se alimentam com leite de vaca evacuam 
fezes menos líquidas, amarelo-claras, mais homogêneas. 
 
Às vezes, é difícil distinguir um recém-nascido com fezes normais líquidas de um com diarreia. Entretanto, nessa 
idade, a diarreia em geral é bacteriana, trazendo repercussões clínicas que incluem anorexia, abatimento, distensão 
abdominal e, eventualmente, febre, vômitos, perda de peso e desidratação. Além disso, as fezes diarreicas 
costumam ser fétidas e, muitas vezes, contêm sangue e muco. 
 
CONSTIPAÇÃO INTESTINAL 
 
Considera-se constipação intestinal a dificuldade para evacuar ou a evacuação de fezes secas, duras e/ou 
volumosas. É rara na criança amamentada. Muitos recém-nascidos e lactentes normais ficam alguns dias sem 
evacuar; porém, quando o fazem, suas fezes são de consistência normal. Outros, com constipação, evacuam 
diariamente fezes em síbalos (“tipo cabritinho”). 
 
A causa mais frequente de constipação no recém-nascido após sete dias de vida e no lactente pequeno é a chamada 
constipação intestinal funcional. A princípio, toda constipação intestinal deve ser considerada funcional, e como tal 
deve ser manejada antes de ser indicada investigação mais minuciosa. Com frequência, períodos de um ou mais 
dias sem evacuar em crianças amamentadas e que vinham evacuando normalmente estão relacionados com 
redução do volume de leite materno ingerido. As fezes desses recém-nascidos são de aspecto e consistência 
normais, não sendo necessário tratamento algum. 
 
Crianças que mamam no peito e que apresentam dificuldade para evacuar, fezes endurecidas, volumosas e 
distensão abdominal devem ser investigadas, pois, muitas vezes, apresentam problemas orgânicos, como doença de 
Hirschsprung, hipotireoidisrno, estenose retal ou anal e sepse. 
 
O exame físico da criança com constipação deve ser detalhado, incluindo pesquisa de distensão abdominal, fezes 
endurecidas no abdome, fissuras anais e localização anatômica mais anteriorizada do ânus (na menina, mais 
próximo da vagina do que o habitual e no menino, mais próximo do escroto). O toque retal deve ser feito utilizando-
se o dedo mínimo, com a finalidade de sentir a presença de estenose e de fezes na ampola retal. A ausência de 
fezes na ampola sugere doença de Hirschsprung. 
 
Tratamento 
 
Crianças amamentadas no primeiro ano de vida apresentam grande variabilidade no aspecto das fezes. Se a criança 
está crescendo adequadamente e não há suspeita de doença orgânica, deve-se apenas tranquilizar a família e 
acompanhar a criança regularmente. Em crianças já recebendo suco, pode-se recomendar o aumento da ingestão 
de suco natural de frutas que contenham sorbitol, como ameixa, pera ou maçã. Óleo mineral, laxativos e enemas 
não são recomendados. Como o lactente apresenta mais episódios de refluxo gastresofágico e falta de coordenação 
na deglutição, existe risco de aspiração de óleo mineral, podendo levar à pneumonia gordurosa grave. Supositório 
de glicerina pode ajudar em algumas situações. 
 
Se a constipação persistir apesar das medidas citadas, é provável que ela seja devida a uma causa orgânica, como 
fibrose cística ou doença de Hirschsprung, devendo ser investigada. Problemas emocionais causando constipação 
não costumam ocorrer em crianças menores de um ano. Quando a criança com constipação estiver recebendo leite 
de vaca, deve-se verificar se não está havendo excesso de ingestão de proteínas. Em caso afirmativo, deve-se 
ajustar a ingestão de proteína ao tamanho da criança. Não havendo melhora, provavelmente a constipação não é 
funcional, devendo ser investigada. 
 
3. CÓLICAS DO LACTENTE 
 
A cólica do lactente é um problema muito comum nos primeiros meses de vida. Mesmo que quase um terço dos 
bebês apresente cólica nesse período, a causa da cólica do lactente não está completamente esclarecida. Em uma 
revisão sistemática sobre efetividade de tratamentos para a cólica do lactente, os autores referem quatro possíveis 
causas para o problema: 1) contração dolorosa do intestino da criança causada por alergia ao leite de vaca, 
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intolerância à lactose ou excesso de gases; 2) problema comportamental por dificuldades na interação pais-bebê; 3) 
choro excessivo da cólica como o extremo de uma crise de choro normal; e 4) grupo de entidades clínicas de difícil 
diferenciação clínica. 
 
Considera-se que um bebê tem cólica quando apresenta episódios repetidos de choro e irritação em intensidades 
suficientes para causarem dificuldade e apreensão familiares, em uma criança normal em todos os outros aspectos. 
O diagnóstico de cólica é puramente clínico e só deve ser feito quandooutras causas de choro repetido forem 
afastadas, entre elas refluxo gastresofágico com esofagite, alergia alimentar e dificuldade na ligação mãe-filho. 
 
A alergia alimentar pode ocorrer mesmo que a criança esteja em amamentação exclusiva. Os principais alimentos 
implicados são leite de vaca e derivados, nozes, ovos e trigo que, ingeridos pela mãe, podem passar razoavelmente 
intactos para o leite materno e sensibilizar o bebê. Suspeita-se mais de alergia alimentar quando o choro e a 
irritação do lactente vão se intensificando com o correr dos dias e surgem durante ou logo após as mamadas. Se 
houver sinais de atopia (rinite, lesões cutâneas), a suspeita fica reforçada. 
 
Muitos bebês choram porque não conseguem estabelecer ligação adequada com sua mãe, fator essencial para sua 
vida presente e futura. Suspeita-se de algum problema no vínculo mãe-bebê quando a mãe está muito tensa, a 
gestação não foi programada nem desejada, o parto e o puerpério foram difíceis, a amamentação é difícil, em 
especial nas mães mais ansiosas. Em algumas situações, pode ocorrer a síndrome criança vulnerável, condição em 
que a mãe, permanentemente, fica na expectativa de que algo grave irá ocorrer com o seu filho. Essa síndrome 
ocorre, em geral, em crianças que tiveram (ou em quem foi suspeitada) doença grave muito cedo no período 
neonatal, ou mesmo intraútero. Os eventos que ocorrem precocemente na dupla mãe-filho costumam ficar 
“gravados com fogo” e são muitas vezes induzidos ou exagerados pelos profissionais da saúde. 
 
Outras causas mais raras de choro excessivo e cíclico lactente são infecção urinária, desconforto térmico e outras 
ainda mais raras. 
 
Frente a um lactente que chora cíclica a excessivamente, é indispensável uma anamnese detalhada e um exame 
físico rigoroso. Na anamnese, deve-se pesquisar a hora mais frequente do choro, sua duração, situações que o 
desencadeiam e que trazem alívio, além da história detalhada da gestação, parto, período neonatal e tipo de 
alimentação. O exame físico deve incluir otoscopia, exame ocular (glaucoma congênito, lesão de córnea), 
observação de lesões cutâneas, palpação abdominal cuidadosa, exame dos testículos, da região inguinal (hérnia) e 
das extremidades (síndrome do torniquete nos dedos). Deve-se lembrar que a hipertensão intracraniana também 
pode ser causa de choro e de irritação no bebê. Se o exame físico for normal e a história e a observação da mãe não 
sugerem outros problemas pode-se considerar, presumidamente, que a criança tem cólica. Esse diagnóstico pode 
ser mudado se a evolução indicar outra possibilidade. 
 
Tratamento 
 
Como não se sabe a etiologia das cólicas, o tratamento é empírico. Em primeiro lugar, deve-se ter uma atitude 
compreensiva e empática com os pais de um bebê que chora excessivamente, revisando hábitos alimentares e de 
sono e os cuidados com o bebê. 
 
Entre as intervenções que parecem ser efetivas, encontram-se dieta hipoalergênica para a lactante NNT = 6), 
substituição do leite de vaca por leite de soja em crianças não amamentadas (NNT = 2), redução da estimulação da 
criança (NNT = 2) e chás de ervas (NNT = 3). Embora o uso de chás de ervas possa parecer promissor na redução das 
cólicas infantis, é preciso muita cautela ao recomendar chás em crianças amamentadas exclusivamente. 
 
Portanto, para o tratamento de cólicas no lactente, se criança está sendo amamentada, pode-se tentar retirar da 
dieta da mãe o leite de vaca e seus derivados, tomando-se o cuidado de suplementar a mãe com cálcio, para suprir 
as demandas da amamentação. Outra opção é retirar, além do leite de vaca, ovos, trigo, nozes e frutas cítricas da 
alimentação materna, um de cada vez. Em crianças consumindo leite de vaca, este pode ser substituído por leite de 
soja ou fórmulas hipoalergênicas à base de soro ou caseína. 
 
O tratamento medicamentoso para cólicas com antiespasmódicos, analgésicos ou supositório de glicerina não está 
indicado. É importante reafirmar aos pais que o bebê está bem e que as cólicas costumam desaparecer nos 
primeiros meses de vida e que não deixam sequelas importantes. 
 
4. MONILÍASE ORAL 
 
A monilíase oral é uma infecção produzida pelo fungo Candida albicans na mucosa da boca. Popularmente 
conhecida corno “sapinho” ou “bichinho”, afeta de 2 a 5% dos recém-nascidos normais. Um estudo realizado na 
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cidade de Rio Grande (RS), em ambulatório de puericultura de enfermagem em crianças menores de um ano, 
encontrou uma prevalência de 10% de monilíase oral. 
 
As lesões orais caracterizam-se por placas brancas circundadas por halo avermelhado, que acometem língua, 
mucosa labial, gengivas e, em especial, a mucosa das bochechas. As placas podem ser confundidas com leite 
coagulado, principalmente o leite materno regurgitado que fica aderido na mucosa bucal. Quando houver dúvidas, 
tenta-se remover a placa com cotonete ou espátula (abaixador de língua). O coágulo desprende-se facilmente e a 
superfície onde estava aderido é normal. Já a placa moniliásica desprende-se com dificuldade, revelando uma 
mucosa hiperemiada, às vezes até sangrante. 
 
A Candida implanta-se com relativa facilidade no recém--nascido. A infecção é adquirida facilmente na passagem do 
bebê pela vagina contaminada da mãe. Pode ser também adquirida a partir das mãos contaminadas de outras 
pessoas, de bicos de mamadeiras e de chupetas. É improvável que a via aérea seja uma fonte de contágio. 
 
O diagnóstico é essencialmente clínico, sendo desnecessários exames laboratoriais. Em raras ocasiões, deve ser 
distinguida da difteria, já que em algumas situações a monilíase pode envolver a orofaringe. Na difteria, ao 
contrário da monilíase, há sinais sistêmicos de doença e adenopatia cervical ou submandibular, e a localização da 
lesão inicial é na orofaringe. 
 
Tratamento 
 
Crianças sadias com manifestações leves da doença não necessitam de tratamento, havendo cura espontânea. O 
tratamento tópico pode ser feito com violeta de genciana, nistatina solução e miconazol gel. A violeta de genciana, 
por sua ação cáustica na mucosa esofágica, deve ser usada com cuidado, deixando a criança com a cabeça um 
pouco mais alta do que o corpo e a face dirigida para baixo ou para um dos lados, para evitar que ela degluta o 
medicamento quando da sua aplicação. 
 
A nistatina é outro medicamento útil no tratamento da monilíase. Como praticamente não é absorvida, usa-se 1 ml 
de solução a cada 6 horas durante duas semanas. Como 50% ou mais das cândidas são resistentes à nistatina, 
prefere-se, hoje, o miconazol gel oral (4x/dia), aplicado com o dedo, durante 7 a 10 dias; ele é mais efetivo do que a 
nistatina, com perfil de segurança semelhante. 
 
Se a criança estiver sendo amamentada e a mãe apresentar sinais de monilíase mamária, mãe e criança devem ser 
tratadas simultaneamente. Casos de monilíase oral recorrente ou sem melhora com os tratamentos habituais 
devem alertar o profissional de saúde para a necessidade de investigação de imunodeficiências primárias e, em 
especial, vírus da imunodeficiência humana (HIV) por transmissão vertical. 
 
Prevenção 
 
A monilíase oral do recém-nascido pode ser prevenida tratando-se a vulvovaginite materna durante a gestação. 
Posteriormente, pode ser prevenida com a limpeza e fervura de bicos de mamadeiras e chupetas, quando a criança 
estiver fazendo uso desses acessórios. Em crianças institucionalizadas, debilitadas ou com deformidades na boca, a 
monilíase oral pode ocorrer mesmo com bons cuidados higiênicos. 
 
5. PROBLEMAS DE PELE 
 
Todo recém-nascido apresenta descamação de pele, sobretudo nas extremidades. É uma descamação transitória, 
furfurácea, que em geral se inicia após o 10º dia de vida e se resolveem cerca de duas semanas. É semelhante à 
descamação apresentada em crianças maiores e indivíduos adultos após queimadura solar. Nos recém-nascidos 
pós-maturos ou dismaturos, ela é mais precoce e acentuada, podendo atingir todo o corpo. Não necessita de 
tratamento, pois desaparece espontaneamente. Distingue-se de afecções cutâneas dessa faixa etária porque a pele 
subjacente é normal, não há exsudação ou formação de bolhas e o recém-nascido apresenta boas condições gerais. 
 
MILIÁRIA 
 
A miliária ou sudâmina, popularmente conhecida como brotoeja, é um problema cutâneo comum no período 
neonatal. Deve-se à retenção de suor nas glândulas sudoríparas, ocorrendo com mais frequência em épocas de 
calor ou quando a criança permanece em ambientes muito aquecidos. 
 
Podem ser distinguidos dois tipos de miliária: cristalina e rubra. A primeira, causada por obstrução na parte final da 
glândula, é superficial e se manifesta por microvesículas, sem reação inflamatória. A miliária rubra, por ser devida à 
retenção mais profunda do suor, ocasionando ruptura da parte epitelial do ducto da glândula sudorípara, apresenta 
pápulas avermelhadas com reação inflamatória. Ambas ocorrem mais na face, no pescoço e na parte superior do 
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tórax. Ocasionalmente, podem ocorrer maceração da pele e infecção secundária, tanto por bactéria como por 
monília. 
 
O tratamento consiste em proporcionar ao recém-nascido ambiente fresco e arejado, deixando-o com pouca roupa. 
Recomendam-se banhos frequentes, com água não muito quente. Havendo maceração de pele, são úteis as 
compressas com solução de acetato de alumínio (solução de Burow) na proporção de 1:30 . Na presença de 
infecção secundária, está indicado o tratamento específico. Deve-se evitar o uso de pomadas, pois elas são à base 
de vaselina, o que contribui para a obstrução das glândulas sudoríparas. 
 
DERMATITE DA ÁREA DAS FRALDAS 
 
A região das fraldas do recém-nascido, por estar frequentemente úmida e quente, é um ambiente propicio à 
proliferação de microrganismos. O termo “dematite das fraldas” envolve várias afecções que, em geral, se sucedem, 
iniciando pelo contato da pele com urina e fezes, seguidas de maceração da pele produzida pelas fraldas de pano 
úmidas e calças plásticas, usadas até há pouco tempo, com posterior instalação de infecção secundária, geralmente 
por Candida albicans. Hoje, devido ao uso corrente de fraldas descartáveis, mesmo em populações de mais baixa 
renda, observou-se diminuição da frequência e gravidade da dermatite da área das fraldas, com a melhoria dos 
materiais utilizados em sua confecção e o avanço nos cuidados de higiene. 
 
Durante muito tempo, a amônia, resultante da hidrólise da ureia pelo Bacillus ammoniagenes, foi considerada o 
principal fator na etiologia da dermatite das fraldas. No entanto, experiências feitas com lactentes que foram 
expostos às fraldas molhadas com amônia não conseguiram reproduzir a dermatite supostamente causada por essa 
substância. 
 
As afecções mais comuns que contribuem para a dermatite das fraldas são: dermatite por irritação primária, 
candidose, dermatite de contato alérgica, dermatite atópica, dermatite seborreica, impetigo bolhoso, psoríase e 
sífilis congênita. A doença de Letterer-Siwe e a acrodermatite enteropática são causas mais raras de dermatite 
nessa região. 
 
A dermatite por irritação primária costuma estar limitada à superfície convexa das nádegas, períneo, baixo-ventre, 
parte proximal das coxas e dobras cutâneas, ou seja, regiões de maior contato com a fralda (“dermatite em W”). As 
pregas em geral são poupadas. É causada pelo contato da pele com enzimas proteolíticas e produtos químicos, 
como sabão em pó e amaciantes de roupas, usados na lavagem das fraldas de pano, e, às vezes, medicações 
tópicas. O calor excessivo e a sudorese contribuem para o agravamento da dermatite. 
 
Existem dois subtipos de dermatite irritativa primária da área das fraldas. Um deles é a dermatite de Jaquet, 
também conhecida como pseudosifilíade de Jaquet ou eritema papuloso sifilóide. Esse tipo de dermatite é incomum 
e grave, ocorrendo pela persistência e intensidade do agente agressor ou manejo inadequado. Manifesta-se por 
pápulas firmes e salientes, de coloração violácea, que evoluem para fase vésico-erosivo-ulcerativa, com lesões tipo 
“cratera de vulcão”. Nos meninos, a lesão pode localizar-se no prepúcio, na glande e no meato uretral, podendo 
causar desconforto e disúria. O outro subtipo caracteriza-se por eritema em faixa, na região de contato da fralda, 
resultante da fricção constante da borda da fralda, agravada por alternância de umidade e secagem (“dermatite das 
marés”). 
 
O tratamento da dermatite irritativa primária consiste em deixar a criança sem fraldas por algumas horas, trocar 
frequentemente as fraldas, inclusive à noite, lavá-las (quando de tecido) com sabão neutro e enxaguá-las em 
abundância, não usando amaciante de roupas. Recomendam-se compressas mornas com solução de acetato de 
alumínio 1:30, quando as lesões forem exsudativas, e pasta de Lassar, quando forem menos agudas. Não havendo 
boa resposta com o tratamento, deve-se pensar em sífilis congênita (sifílides papulonecróticas). 
 
A infecção secundária por Candida é um evento muito frequente nas dermatites da região das fraldas. A candidose 
nas áreas das fraldas produz lesão avermelhada de cor viva, com bordas bem demarcadas, confluentes, e com 
lesões satélites adjacentes. Há descamação branca nas bordas. O tratamento é feito com antifúngicos tópicos, como 
o miconazol creme, o econazol, o clotrimazol, o cetoconazol e outros derivados, que devem ser aplicados na região 
afetada duas vezes por dia, durante 10 dias. A nistatina também pode ser usada em forma de creme, mas seu uso 
oral não é necessário. 
 
A dermatite de contato alérgica caracteriza-se por eritema e descamação leves e, eventualmente, vesículas e 
pápulas. É incomum em menores de dois anos e pode ocorrer após contato da pele com determinados alérgenos 
(parabenos, lanolina, compostos mercuriais, neomicina e produtos utilizados em fraldas descartáveis). 
 
A dermatite seborreica na área das fraldas caracteriza-se por lesões avermelhadas gordurosas, com crostas 
amareladas, predominantemente nas zonas intertriginosas. O envolvimento concomitante do couro cabeludo, face, 
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pescoço e zonas retroauriculares facilita o diagnóstico. Com frequência, há infecção secundária por C. albicans. O 
tratamento é feito com corticoide tópico não fluorado, além do tratamento da candidose, quando associada. 
 
A infecção por Staphylococcus aureus (impetigo bolhoso) em área de fraldas é muito frequente, pelo ambiente 
úmido e quente. As lesões caracterizam-se por máculas eritematosas que evoluem para vesículas e pústulas, 
rompendo-se facilmente e formando erosões tipo queimadura. Nesse caso, o tratamento inclui antibióticos tópicos, 
como neomicina, gentamicina ou mupirocina a 2% . 
 
A psoríase é rara em crianças, mas, quando se apresenta no primeiro ano de vida, costuma iniciar-se na área das 
fraldas. Em grande parte dos casos não se restringe à área das fraldas, estendendo-se para a região periumbilical. 
Apresenta-se como lesão bem delimitada, com descamação espessa e em lâminas (micácea). O diagnóstico é clínico 
e devem-se buscar lesões típicas em outras localizações (cotovelos, joelhos e couro cabeludo). As crianças com 
doença mais grave devem ser tratadas por especialistas.Devido à ainda alta incidência de sífilis, deve-se considerar sífilis congênita nos diagnósticos diferenciais de 
dermatite na área das fraldas. As lesões dessa doença podem ser observadas desde o nascimento e nos primeiros 
três meses de vida. São lesões na região anogenital, na forma de máculas, pápulas, bolhas e lesões úmidas, 
semelhantes a verrugas (condiloma plano), associadas a erosões. Podem também surgir lesões em palmas das mãos 
e plantas dos pés. 
 
A prevenção da dermatite das fraldas faz-se mantendo essa área seca, evitando irritação e maceração e reduzindo o 
contato da pele com urina e fezes. Os seguintes cuidados ajudam a manter a pele íntegra com pH ácido: troca de 
fraldas sujas com frequência, uso de fraldas descartáveis (têm maior capacidade de absorção do que fraldas de 
pano), tratamento das infecções (sobretudo por C. albicans) e higiene da pele apenas com água morna. É 
desnecessário lavar a criança com sabão após ela urinar; para limpar as fezes, recomenda-se uso de sabonete 
neutro. A utilização de creme de barreira ou pastas à base de óxido de zinco, dióxido de urânio e dexpantenol, pode 
ajudar a prevenir o contato das fezes com a pele já danificada. Devem ser removidos com óleos e não em todas as 
trocas, para evitar irritação maior na pele. 
 
A TABELA 2 apresenta um resumo do tratamento das dermatites da área das fraldas. 
 
GRAU DE DERMATITE TRATAMENTO 
Leve → Troca frequente de fraldas; 
→ Limpeza com agentes brandos e água morna; 
→ Cremes de barreira. 
Com eritema intenso → Corticoide tópico de baixa potência (creme de 
hidrocortisona a 1% por 2 a 3 dias). 
Com eritema intenso + pústulas → Suspeitar de infecção por Candida; 
→ Creme antifúngico com nistatina ou miconazol a 1% 
(2x/dia) por 7 a 10 dias. 
Com eritema intenso + pústulas + evidência de 
infecção secundária 
→ Antibioticoterapia tópica, com neomicina, 
gentamicina ou mupirocina a 2%. 
Grave e prolongada → Alcatrões em pomada (controverso) 
Piora da dermatite prévia → Considerar outros diagnósticos diferenciais, como 
dermatite atópica, dermatite seborreica, psoríase 
da área das fraldas e dermatite de contato, 
histiocitose X, acrodermatite enteropática. 
 
IMPETIGO 
 
Em condições usuais, a pele do recém-nascido é estéril no momento do nascimento, vindo a contaminar-se no canal 
do parto, com aumento gradativo da população bacteriana até o 10º dia. A contaminação cutânea de crianças 
nascidas por cesariana se dá mais tarde. 
 
A pele normal do recém-nascido e do lactente é resistente à invasão pela maioria das bactérias que continuamente 
entram em contato com ela. Há três tipos de flora que podem ser encontradas na pele: transitória, residente e 
patogênica. 
 
A flora transitória é constituída por enorme gama de bactérias provenientes do meio ambiente, que 
presumivelmente não proliferam e são facilmente removíveis por lavagem e escovação. A flora residente é 
constituída por número menor de bactérias, que se encontram regularmente na pele de pessoas sadias, não sendo 
removidas com facilidade. As bactérias da flora patogênica não fazem parte da flora cutânea usual, instalando-se na 
pele apenas se houver um contínuo aporte dessas bactérias de uma fonte externa ou interna ou se houver uma 
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ruptura da barreira cutânea por doença ou trauma. Entre as bactérias patogênicas que lesam a pele, encontram-se 
o Streptococcus piogenes e o S. aureus, agentes causadores do impetigo. 
 
O impetigo é uma infecção primária da pele, bastante contagiosa, que pode envolver qualquer parte da superfície 
cutânea, sendo mais comum nas superfícies expostas, como face, pescoço, mãos e, no recém-nascido, na região 
periumbilical e ao redor das narinas. 
 
A lesão começa como uma mácula de 1 a 2 mm, eritematosa, que logo progride para vesícula ou bolha de paredes 
muito delgadas, circundadas por uma estreita aréola eritematosa. As vesículas ou bolhas rompem-se com 
facilidade, drenando líquido fluido amarelado e com grumos, que, ao ressecar, formam uma crosta cor-de-mel 
(crosta melicérica), que é achado característico da doença. As crostas podem ser removidas com relativa facilidade, 
deixando uma superfície vermelho-vivo, lisa e úmida, que rapidamente forma nova crosta. O exsudato espalha-se 
com facilidade por meio das mãos, roupas e toalhas, formando lesões satélites adjacentes ou mais distantes. 
 
Existem dois tipos de impetigo: o bolhoso, associado ao estafilococo dourado fago II; e o vesículo-pustular, causado 
pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A. 
 
A lesão produzida pelo estafilococo em geral afeta a região periumbilical e face do recém-nascido, por serem as 
narinas, os olhos e o cordão umbilical os reservatórios naturais da bactéria. Caracteriza-se por bolhas superficiais, 
que se rompem facilmente, deixando uma superfície semelhante à queimadura de cigarro. Febre e adenopatia são 
incomuns e, quando surgem, sugerem envolvimento sistêmico. 
 
As lesões estreptocócicas são mais comuns nas extremidades inferiores, com maior frequência nos meses mais 
quentes. A simples presença da bactéria na pele não é suficiente para produzir a lesão, sendo necessária a ruptura 
da barreira cutânea, em geral devido à picada de inseto, à escabiose ou, na criança maior, ao ato de coçar. 
 
O tratamento tópico consiste em romper mecanicamente todas as bolhas e vesículas, e remover as crostas com 
água morna e sabão. Às vezes, é necessário amolecer as crostas mais duras com compressas de água morna, até 
que seja possível sua remoção. Uma vez retiradas as crostas, as lesões devem ser tratadas com pomada de 
neomicina, neomicina + bacitracina, gentamicina. O tratamento com antibiótico oral, por sua ação na flora 
intestinal, pode agravar o quadro. 
 
A aplicação da pomada deve ser repetida no mínimo duas vezes ao dia, até a cicatrização completa. É importante 
também tratar o reservatório das bactérias causadoras do impetigo, lavando e escovando as mãos dos cuidadores 
do bebê, cortando as unhas da criança e tratando a fonte que está provendo as bactérias — infecção dos olhos, das 
narinas e do coto umbilical na criança, e infecção estafilocócica (furúnculo, hordéolo, etc.) em pessoa que tenha 
contato com a criança. 
 
Nas crianças com lesões mais profundas ou com sintomas gerais (febre, recusa alimentar, apatia), devem-se usar 
antibióticos sistêmicos. Para o impetigo estreptocócico, recomenda-se dose única de penicilina benzatina (50.000 
UI/Kg). 
 
Para o impetigo estafilocócico, estão indicadas eritromicina (50 mg/kg/dia, a cada 6 horas, por 10 dias); cefadroxila 
(40 mg/Kg/dia, a cada 12 horas) ou outras cefalosporinas; e clindamicina (8 a 12 mg/kg/dia, a cada 6 ou 8 horas) . A 
eritromicina muitas vezes é ineficaz pela resistência do estafilococo a esse fármaco, e as cefalosporinas e a 
clindamicina são muito caras. Outra opção, geralmente eficaz e mais barata, é a sulfa/trimetoprim na dose de 50 
mg/kg/dia para a sulfa, a cada 12 horas. As sulfas não devem ser usadas no primeiro mês de vida. Ampicilina + 
clavulanato ou amoxicilina + clavulanato ou sulbactam são também eficientes. Desses, estão disponíveis na rede 
pública a eritromicina, a cefalexina e a associação sulfa/trimetoprim. 
 
As crianças pequenas que apresentam lesões mais profundas ou com sintomas gerais devem ser hospitalizadas para 
receberem antibióticos intravenosos e/ou drenagem cirúrgica. 
 
DERMATITE SEBORREICA 
 
Dermatite seborreica é uma doença causada pelo fungo Malassezia furfur. Caracteriza-se por exantema 
eritematoso, que atinge as áreas de maior concentração de glândulas sebáceas, ou seja, o couro cabeludo, a face e 
as áreas retroauriculares, pré-esternal e intertriginosas. Surge entre o 2º e o 10º meses de vida, mais 
frequentemente entre o3º e o 4º meses. Muito embora possa persistir por toda a vida, em geral desaparece entre 
8 e 12 meses, só reaparecendo na adolescência, com o início da puberdade. 
 
A lesão, em geral, começa no couro cabeludo, com formação de crostas, e progride para a testa e face, atingindo, às 
vezes, todo o corpo. Ocorre mais em dobra, é bem circunscrita e com cobertura amarelada. Pode ser diferenciada 
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da dermatite atópica por apresentar lesões sem prurido e ter bom prognóstico, podendo curar espontaneamente 
no decorrer de vários meses. Além disso, não tem os estigmas da atopia, como rinite, asma e alergias alimentares. 
 
A dermatite seborreica no lactente costuma ser uma doença autolimitada. Por isso, a conduta inicial é apenas 
expectante, devendo o clínico esclarecer os pais/cuidadores da criança sobre a evolução típica da doença. 
Entretanto, em algumas crianças com lesões recorrentes e incômodas, levando a preocupação de ordem estética e 
consultas frequentes, algum tratamento está indicado. 
 
Pode-se recomendar a aplicação de óleo vegetal à noite e a remoção cuidadosa das crostas pela manhã. O xampu 
com alcatrão é outra opção de baixo custo para a remoção das crostas. As lesões da face e do corpo podem ser 
tratadas com corticoide tópico não fluorado (hidrocortisona a 1%), creme ou pomada, em área limitada para reduzir 
o risco de absorção sistêmica e consequente supressão da suprarrenal. Uma alternativa é usar cetoconazol a 2%, 
creme ou xampu, três vezes por semana (nesse caso, o custo do tratamento é maior). A recomendação é tratar por 
quatro semanas. O tratamento com antifúngicos apresenta efetividade semelhante à do tratamento com 
corticosteroides. 
 
(Issler, Roberto Mario S., Freitas, Ariel Azambuja Gomes de, Rosito, Nicolino César. Problemas Comuns nos Primeiros Meses de 
vida. In: Medicina Ambulatorial: Condutas de Atenção Primária Baseadas em Evidências. 4ª edição. Ed Artmed. Porto Alegre, 
2013.) 
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