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DISCIPLINA SISTEMA DE SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL CONTEÚDO Aula 01 Conceito e Organização Sistema de Segurança Pública no Brasil | Introdução www.faculdadefocus.com.br | 2 A Faculdade Focus se responsabiliza pelos vícios do produto no que concerne à sua edição (apresentação a fim de possibilitar ao consumidor bem manuseá-lo e lê-lo). Nem a instituição nem os autores assumem qualquer responsabilidade por eventuais danos ou perdas a pessoa ou bens, decorrentes do uso da presente obra. É proibida a reprodução total ou parcial de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, inclusive através de processos xerográficos, fotocópia e gravação, sem permissão por escrito do autor e do editor. O titular cuja obra seja fraudulentamente reproduzida, divulgada ou de qualquer forma utilizada poderá requerer a apreensão dos exemplares reproduzidos ou a suspensão da divulgação, sem prejuízo da indenização cabível (art. 102 da Lei n. 9.610, de 19.02.1998). 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Em seu aspecto mais moderno, a segurança pública volta-se à promoção e manutenção da ordem pública e tem como fim último “proporcionar aos indivíduos, na convivência social, a fruição de relações pautadas no direito básico de liberdade, garantidas a segurança jurídica – proteção contra repressão autoritária do Estado – e a segurança material – proteção contra agressões de todo tipo”. Para Sergio Luiz Cruz Aguilar (2014), “A segurança é a sensação de se sentir seguro por conta da ausência de ameaças, é questão substantiva em matéria de decisão política, e se pode qualificar de global, regional, sub-regional, nacional ou individual, segundo o marco de alcance que opera”. Embora nem sempre tenha sido assim, a evolução do conceito de segurança pública fez com que, no Brasil, esse sistema passasse de um viés voltado mais para a Segurança do Estado e a manutenção do status quo a um olhar mais voltado para a sociedade seguindo uma abordagem mais humanista. Assim, neste material veremos como se deu a evolução do conceito de segurança pública e como esta se organiza, hoje, no Brasil. 2 Conceito de Segurança Pública O conceito de segurança pública não é um conceito estático, pelo contrário, é bastante subjetivo e implica diversas percepções. De forma bem singela, a Segurança Pública pode ser entendida como a garantia da proteção aos direitos individuais de cada cidadão, que lhes permite exercer, em segurança, seu direito de cidadania. Sistema de Segurança Pública no Brasil | Conceito de Segurança Pública www.faculdadefocus.com.br | 5 Esta definição de inclinação humanista, que se volta à proteção do cidadão, encontra- se mais ou menos no intervalo da evolução histórica e conceitual da segurança pública no Brasil, sendo fortemente influenciada pelo movimento de redemocratização, em meados da década de 80, que ocorreu em toda a América Latina diante dos regimes ditatoriais militares, período no qual a segurança pública mirava a proteção do Estado. Conforme destaca Aguilar, O aumento da densidade da interação internacional faz com que as visões limitadas de segurança nacional e estratégia nacional de segurança sejam inapropriadas e contraprodutivas, havendo a necessidade de ampliar a noção de segurança. Assim, os estudos deveriam manter o Estado como unidade principal de análise, mas deveriam incluir os cinco maiores setores que afetam a segurança das coletividades humanas: militar, político, econômico, societal e ambiental, permitindo uma visão mais ampliada do conceito (AGUILAR, 2014). Também a noção de sistema passou por uma evolução bastante significativa. Enquanto na era da proteção à segurança nacional falávamos em órgãos com atribuições únicas e competências exclusivas, com a nova visão humanista passamos a integrar ao conceito de sistema a sociedade civil, algo que era inimaginável que se fizesse até então. Diante desse panorama, temos um olhar muito mais voltado para a cidadania como um todo, buscando englobar todos os ramos do direito (Direitos Humanos, Direitos Sociais etc.), e não apenas ao direito livre de ir e vir. Assim, de uma visão tradicional “centrada no Estado, onde as forças armadas são os principais atores responsáveis por sua garantia” (AGUILAR, 2014) passamos a perceber a Segurança Pública como “uma atividade pertinente aos órgãos estatais e à comunidade como um todo, realizada com o fito de proteger a cidadania, prevenindo e controlando manifestações da criminalidade e da violência, efetivas ou potenciais, garantindo o exercício pleno da cidadania nos limites da lei” (SANTOS E FRANCO, 2011). Conforme relata Aguilar em pesquisa voltada para a reforma do setor de segurança, diante das diversas facetas que o conceito foi adquirindo ao longo do tempo, a partir de aprendizado prático em diferentes países e das reformulações por parte de Sistema de Segurança Pública no Brasil | Conceito de Segurança Pública www.faculdadefocus.com.br | 6 Organizações internacionais, foi possível constatar que uma abordagem muito simplista desse conceito teria suas limitações. Para o autor, [...] trabalhar apenas com as forças militares autorizadas pelo Estado para utilizar a força levava a pensar apenas em forçasarmadas, paramilitares, policiais e serviços de inteligência. A ampliação da visão sobre reforma do setor levou a pensar em todas as organizações e atividades relacionadas com a provisão de segurança, incluindo grande número de organizações e instituições (AGUILAR, 2014, p. 21). Com isso, infundiu-se à Segurança Pública uma noção de interdisciplinaridade, basta atentar ao exemplo mais recente da integração do sistema de segurança pública com órgãos de assistência social, refletida no projeto que norteia a implementação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nas bases de patrulhamento comunitário no Rio de Janeiro. Embora este seja um ponto controverso, que gera intenso debate, tendo em vista que o que é posto em prática nem sempre reflete o que está no planejamento, trata-se de um exemplo em que se buscou aplicar a interdisciplinaridade na segurança pública. 2.1 Conceito Clássico de Segurança Pública Tradicionalmente, a Segurança Pública foi entendida como um processo complexo e abrangente, que visa a preservação da ordem pública, da incolumidade das pessoas e do patrimônio, permitindo o usufruto de direitos e o cumprimento de deveres. O conceito de ordem pública, no entanto, também é difuso. Não há uma definição precisa do que seria a ordem pública, sua interpretação é bastante subjetiva e cada um dos operadores do direito, cada um dos operadores das ciências sociais pode encarar esta ordem pública de maneira diferente. Mas pelo conceito clássico da segurança pública, a ordem pública nada mais é do que a sociedade girando, ocorrendo e funcionando da maneira como ela deve ser nos seus regramentos. De acordo com Guilherme de Souza Nucci, a ordem pública é [...] outra expressão de conteúdo complexo e até hoje não definido a contento, nem pela doutrina nem pela jurisprudência. Em termos simples, a ordem antagoniza com a desordem (confusão, tumulto, irregularidade, enfim, quebra da rotina). Transferindo-se para o âmbito público, a desordem provoca a quebra da rotina de um número imenso de pessoas, razão pela Sistema de Segurança Pública no Brasil | Conceito de Segurança Pública www.faculdadefocus.com.br | 7 qual a polícia tem o dever de assegurar um mínimo indispensável ou flexível o suficiente para que os indivíduos cumpram seus deveres e obrigações no dia a dia, conforme programado (NUCCI, 2016). Outra noção que extraímos deste conceito diz respeito ao usufruto de direitos e o cumprimento de deveres. Esta é uma visão bastante positivista que não leva em conta os direitos de cidadania, só nos faz lembrar que todo cidadão tem direitos e deveres, que a cada direito corresponde um dever que precisa ser cumprido em razão da preservação dos interesses e valores do Estado. Neste sentido, Sergio Luiz Cruz Aguilar (2014) retoma Leonel (1996) e a Escola Superior de Guerra do Brasil (ESG, 2006) para explicar que a segurança, como conceito abstrato que é, pressupõe a defesa (“um ato dirigido à determinada ameaça”), que por sua vez implica, como elemento essencial, o eventual emprego de força. Por esse viés, a segurança pública compreenderia “atitudes, medidas e ações do Estado, com ênfase na Expressão Militar, para a defesa do território, da soberania e dos interesses nacionais contra ameaças preponderantemente externas”. 2.2 Abordagem humanista da segurança pública Com a evolução da segurança pública para uma abordagem mais humanista, passamos a entender que a política de segurança pública deve ser rigorosa no enfrentamento da impunidade e humanista na valorização da participação comunitária nas questões da Segurança Pública. Isso aponta para mais uma novidade, a abordagem multidisciplinar da segurança pública, mostrando que ela não é uma atribuição exclusiva das polícias, do Poder Judiciário ou do Ministério Público, mas sim dos mais variados órgãos, instituições e da própria comunidade, pois se trata de um todo coerente que abarca, além da chamada ordem pública, a efetivação de direitos e garantias individuais. Nessa linha de raciocínio, Luiz Eduardo Soares afirma que às polícias e aos órgãos de segurança pública cabe zelar pelo respeito aos direitos dos cidadãos, com destaque Sistema de Segurança Pública no Brasil | Conceito de Segurança Pública www.faculdadefocus.com.br | 8 aos direitos os fundamentais, em especial ao direito a vida, a liberdade, a incolumidade física e moral e a dignidade humana, e complementa: “Na medida em que a finalidade e suas derivações forem observadas, em escala satisfatória, instala-se o ciclo virtuoso da estabilização generalizada de expectativas positivas – expectativas quanto ao respeito às regras que regem a sociabilidade no cotidiano dos cidadãos” (SOARES, 2019). Neste sentido, também se fala no enfrentamento da impunidade que pode ocorrer em virtude de exageros cometidos por parte dos órgãos de segurança pública em suas atribuições, pois ao agir com excessos esses agentes de segurança pública acabam por proporcionar uma exclusão ainda maior dos setores marginalizados da sociedade. Dessa forma, Luiz Eduardo Soares, ao explorar o panorama mais social da Segurança Pública, afirma que [...] a segurança pública é a estabilização universalizada, no âmbito de uma sociedade em que vigora o Estado democrático de direito, de expectativas positivas a respeito das interações sociais, ou da sociabilidade, em todas as esferas da experiência individual. O adjetivo “positivo” sinaliza a inexistência do medo e da violência (em seus significados negativos) e a presença da confiança, em ambiente de liberdade. Corresponde, portanto, à fruição dos direitos constitucionais, particularmente daqueles que se relacionam de forma mais imediata com a incolumidade física e moral, e à expectativa de sua continuidade ou extensão no tempo, reduzindo-se a incerteza e a imprevisibilidade, o medo e a desconfiança. E, assim, concorrendo para que círculos virtuosos substituam círculos viciosos – dinâmicas negativas que se retroalimentam, estimuladas por narrativas dominadas pelo medo e pela demonização do outro. Em vez de atitudes defensivas de quem espera agressões e acaba as precipitando, no ambiente seguro predominam posturas desarmadas e cooperativas, que estimulam a difusão de respostas e expectativas sociáveis e produtivas” (SOARES, 2019). 2.3 Abordagem organizacional da Segurança Pública São diversas as abordagens que interpretam aspectos e segmentos do sistema de segurança pública partindo de uma perspectiva sociológica e política, e mesmo a abordagem tradicional jurídica indica a existência de problemas de cunho organizacional nesse sistema. Sistema de Segurança Pública no Brasil | Organização da Segurança Pública no Brasil www.faculdadefocus.com.br | 9 Conforme explica Soares, tendo em vista que as situações em que atuam os agentes de segurança pública são variáveis, assim como os caminhos e os meios pelos quais os objetivos serão alcançados, dependendo sempre das circunstâncias, “um predicado básico da política de segurança é seu realismo, ou seja, sua competência para diagnosticar os desafios, as virtudes e os defeitos das instituições e de seus servidores, os recursos materiais e humanos, gerenciais, constitucionais, cognitivos, tecnológicos e legais disponíveis” (SOARES, 2019). Quando analisamos algo que antes era moldado para a segurança do Estado (por órgãos de segurança, por homens que se especializaram em patrulhamento e enfrentamento à criminalidade) através de um olhar mais sociológico, mais humanista, os problemas organizacionais se tornam evidentes. É por isso mesmo que passamos a observar uma organização da segurança pública mais voltada ao cidadão e à interdisciplinaridade e com planejamentos e metas elaborados a partir de uma visão sistêmica. Isso justifica a criação da Lei 13.675/2018, que disciplina a organizaçãoe o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, nos termos do § 7º do art. 144 da Constituição Federal; cria a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS); e institui o Sistema Único de Segurança Pública (Susp). 3 Organização da Segurança Pública no Brasil A organização da segurança pública está primariamente descrita na Constituição Federal, portanto ela é nossa fonte primária de consulta. Já a Lei n. 13.675/18 e o Sistema Único de Segurança Pública disciplinam acerca do tema a partir da nova visão organizacional do sistema voltada para a sociedade, como podemos constatar já no seu art. 1º: Art. 1º Esta Lei institui o Sistema Único de Segurança Pública (Susp) e cria a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS), com a finalidade de preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, por meio de atuação conjunta, coordenada, sistêmica e integrada dos órgãos de segurança pública e defesa social da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, em articulação com a sociedade. Sistema de Segurança Pública no Brasil | Conclusão www.faculdadefocus.com.br | 10 Embora a expressão ordem pública ainda esteja presente na definição da lei, o artigo traz uma nova expressão, a defesa social, que está voltada à cidadania e à preservação dos direitos humanos. Neste artigo vemos, portanto, uma mescla do que era a segurança nacional, como visão primária da segurança pública, com a nova visão humanista. Além disso, podemos constatar por meio das diretrizes da Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (art. 5º) que, ao priorizar o atendimento imediato ao cidadão e planejamento estratégico e sistêmico, começa a emergir uma perspectiva mais profissional do sistema, um tanto voltada para a administração como a conhecemos na iniciativa privada. Esse dispositivo corrobora ao modelo de organização estipulado na Constituição Federal, art. 144, incisos I ao IV, segundo os quais “a segurança pública é dever do Estado e direito e responsabilidade de todos”, sendo exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, e organizada a partir dos seguintes órgãos: a. polícia federal; b. polícia rodoviária federal; c. polícia ferroviária federal; d. polícias civis; e. polícias militares e corpos de bombeiros militares. f. polícias penais federal, estaduais e distrital. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019) 4 Conclusão Nesta aula vimos como o conceito de segurança pública sofreu algumas alterações no transcurso do tempo, passando de um viés voltado à provisão e segurança do Estado contra ameaças diversas à uma nova estruturação em que a segurança coletiva dos cidadãos se torna a prioridade. A partir desse viés, o sistema de organização da segurança pública também foi reestruturado, mostrando forte influência da Administração voltada à iniciativa privada, instaurando um Sistema Único de Segurança Pública e criando a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social, Sistema de Segurança Pública no Brasil | Referências Bibliográficas www.faculdadefocus.com.br | 11 com a finalidade de preservar a ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio, por meio de atuação conjunta, coordenada, sistêmica e integrada dos órgãos de segurança pública e defesa social da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, em articulação com a sociedade. 5 Referências Bibliográficas AGUILAR, Sérgio Luiz Cruz. Reforma do setor de segurança: visão geral e proposta de planejamento. In: Reforma do setor de segurança: teoria, prática e crítica. São Paulo: Porto de Ideias, 2014. NUCCI, Guilherme de Souza. Direitos Humanos versus Segurança Pública. Rio de Janeiro: Forense, 2016. SANTOS, Marco Antonio; FRANCO, Jacinto Rodrigues. A atividade de inteligência na segurança para o século XXI. 1 edição. Brasília: 2011. SOARES, Luiz Eduardo. Desmilitarizar: Segurança pública e direitos humanos. São Paulo: Boitempo Editorial, 2019. Sistema de Segurança Pública no Brasil | Referências Bibliográficas www.faculdadefocus.com.br | 12 Sumário 1 Introdução 2 Conceito de Segurança Pública 2.1 Conceito Clássico de Segurança Pública 2.2 Abordagem humanista da segurança pública 2.3 Abordagem organizacional da Segurança Pública 3 Organização da Segurança Pública no Brasil 4 Conclusão 5 Referências Bibliográficas