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APG 23 - Parto e puerpério 1. Compreender as etapas (mecanismos) do parto e as posições feto-útero na hora do nascimento 2. Entender a assistência e fase clínica do parto 3. Entender o puerpério (mudanças, cuidados, hábitos) O diagnóstico de trabalho de parto está condicionado à presença de contrações uterinas com ritmo e características peculiares, combinadas a alterações progressivas no colo uterino (esvaecimento e dilatação) e à formação da bolsa das águas. Dessa forma, nesse diagnóstico não se deve considerar isoladamente a presença de contrações ou mesmo quantificar a dilatação cervical, mas sim todo o conjunto: a presença de contrações uterinas (pelo menos duas em 10 minutos) associada a dilatação cervical (pelo menos 2 cm), esvaecimento cervical e/ou modificações progressivas no colo uterino. Assistência Depois de realizar o diagnóstico de trabalho de parto, o obstetra procederá à abordagem inicial da parturiente, visando a programar todo o acompanhamento durante o trabalho de parto, o parto e o puerpério imediato. Os cuidados iniciais dispensados à parturiente envolvem a anamnese dirigida à verificação da existência de doença prévia ou diagnosticada durante o pré-natal, o exame físico inicial e a avaliação da vitalidade fetal. A paciente deverá ser abordada quanto à possibilidade de colonização pelo estreptococo do grupo B, instituindo-se a profilaxia necessária em casos positivos ou com risco potencial O exame físico inicial envolve exame físico geral materno, com verificação da pressão arterial, da frequência cardíaca, da temperatura e do peso; exame físico especial; e exame obstétrico, no qual se avaliam o padrão das contrações uterinas, a palpação obstétrica, o exame vaginal e a vitalidade fetal. O exame obstétrico tem como objetivo principal avaliar os três parâmetros que interferem na evolução do trabalho de parto: o feto, o canal de parto (incluindo a ava-liação da bacia obstétrica) e a dinâmica uterina Caso as membranas estejam rotas, é importante observar as características do líquido amniótico no que concerne à presença ou não de mecônio. Caso as membranas estejam íntegras, deve-se proceder à amnioscopia para visualização indireta do líquido amniótico e exclusão da presença de mecônio. Sangramento vaginal: verificar a presença e a quantidade de sangramento. Colo uterino: deverá ser quantificada a dilatação cervical (0 a 10 cm) e, ainda, deve-se estudar o esvaecimento cervical, o tipo de apresentação (região fetal que ocupa a área do estreito superior e nele irá se insinuar), a variedade de posição (relação entre o ponto de referência materno e o ponto de referência fetal) e a altura da apresentação em relação aos planos de De Lee Pelve materna: realizar a pelvimetria Exames laboratoriais Tipo sanguíneo ABO/fator Rh: é importante verificar se durante o atendimento pré-natal (habitualmente, na primeira consulta) foram verificados o tipo sanguíneo ABO e o fator Rh para profilaxia anti-D no pós-parto. Teste rápido para vírus da imunodeficiência humana (HIV) Assistência pré parto - O objetivo é fazer com que a mulher tenha conhecimento da fisiologia do parto e dos cuidados que o cercam, para que suas escolhas e sua participação no processo sejam conscientes. Intervenções anteparto: Exercício do assoalho pélvico; massagem perianal. Assistência ao primeiro período Local do parto. A ideia é oferecer privacidade, conforto e liberdade para deambulação, de modo que possam ser assumidas as posições consideradas confortáveis pela parturiente, além de que todo o parto, 1° e 2° estágios, e o pós-parto possam transcorrer no mesmo ambiente, sem necessidade de transferência. Banheiro privativo é obrigatório. A cama deve possibilitar o parto em várias posições, sendo opcionais banqueta ou cadeira de parto. Profissional que presta assistência ao parto. É recomendação da OMS que a assistência ao parto seja realizada por profissional qualificado. Sob essa epígrafe incluem-se enfermeiros-obstetras, obstetrizes, médicos de família com capacitação em obstetrícia e médicos obstetras. Acolhimento e classificação de risco são fundamentais durante a gravidez e na assistência ao parto. Admissão. Deve-se ter todo o cuidado para se diagnosticar corretamente a fase ativa do trabalho de parto e internar somente as parturientes nessa fase, para evitar internações precoces, que costumam acarretar intervenções desnecessárias em série, como excesso de exames de toque, uso de ocitocina, maior necessidade de analgesia e cesariana (cascata de intervenções). Cuidados iniciais. Parturientes saudáveis de baixo risco ou risco habitual não são doentes, podem ficar com suas vestimentas, não devem submeter-se a jejum, tricoxisma, tricotomia nem enteróclise (enema). Alimentação. Em muitas maternidades, ainda vigora a regra de não se permitir a ingesta oral durante o trabalho de parto, o que é reforçado por alguns serviços de anestesiologia. Essa prática deriva da observação de Mendelson, na década de 1940, de que havia maior risco de mortalidade materna na gestante submetida à cesárea com anestesia geral, em decorrência de possível broncospiração. Essa conduta, entretanto, não é mais justificada. Apoio contínuo. O apoio geralmente é constituído por diversos componentes, que incluem o suporte emocional (presença contínua, encorajamento, elogios), medidas de conforto físico (toque, massagem, banho morno), medidas favorecendo a evolução fisiológica do trabalho de parto (livre deambulação, mudança de posição, exercícios) e informações sobre o progresso do parto, além de interlocução com a equipe obstétrica para facilitar a comunicação da mulher e ajudá-la a expressar suas preferências e escolhas, até mesmo em situações em que seja necessário atendimento de urgência. Posição e deambulação. A conclusão é que mulheres devem ser encorajadas a escolher as posições em que se sintam mais confortáveis durante o trabalho de parto, com liberdade de escolha e de deambulação. Toque vaginal. Pode ser uni- ou bidigital. Para efetuá-lo é preciso tomar todos os cuidados de antissepsia e estar com as mãos corretamente enluvadas. De início, afastam-se as ninfas e introduzem-se na vagina os dedos indicador e médio, ou apenas o primeiro, untados em vaselina esterilizada ou clorexedina aquosa. As doulas são acompanhantes treinadas de parto. Dá-se o nome de mecanismo de parto ao conjunto de movimentos e fenômenos ativos e, principalmente, passivos do feto durante sua passagem pelo canal de parto. Assim, a progressão do trabalho de parto é mais ou menos facilitada de acordo com a relação entre as características de forma e tamanho da pelve materna e as do produto conceptual. As contrações uterinas são a força motriz do trabalho de parto, a qual impulsiona o feto através da pelve da gestante para alcançar a vulva e desprender-se, finalizando o ato de nascer. Apresentações fetais As apresentações cefálicas fletidas com variedade de posição anterior, além de mais comuns, são as que apresentam melhores características para a progressão dos mecanismos de parto. Outros tipos de apresentação fetal (fletidas transversas ou posteriores persistentes, defletidas e pélvicas) são considerados anômalos, por determinados autores, em função de sua baixa prevalência e por serem causas de trabalho de parto distócico. Apesar de o mecanismo de parto estar dificultado nessas ocorrências, não há necessariamente impedimento para o parto vaginal. Atitude fetal A atitude fetal depende da disposição dos membros e da coluna vertebral. Na maioria das vezes, o feto apresenta atitude de flexão generalizada durante toda a gestação e o parto. A coluna vertebral se curva ligeiramente, produzindo uma concavidade voltada para a face anterior do concepto, enquanto os membros se apresentam flexionados e anteriorizados. Assim, configura-se uma formação de aspecto oval ou ovóide, com duas extremidades representadas pelos pólos cefálico e pélvico Em situações anômalas, pode haver extensão da coluna com deflexão do polo cefálico, o que leva às apresentações defletidasde 1°, 2° e 3° graus. A ausência persistente de flexão de todos os membros é anormal e pode significar sofrimento fetal grave por perda do tônus muscular A situação consiste na relação entre o maior eixo da cavidade uterina e o maior eixo fetal. Essa relação dá origem a três possibilidades de situação fetal: longitudinal, transversa e oblíqua A apresentação é definida como a região fetal que ocupa a área do estreito superior e nela se vai insinuar. Para que exista apresentação, é necessário que o volume da região fetal seja capaz de encontrar obstáculo na sua passagem pelo canal pélvico pelvigenital; portanto, não existe apresentação antes do sexto mês ou quando a parte fetal é um membro, visto que os respectivos diâmetros são muito inferiores aos da bacia. Quando a situação fetal é longitudinal, há duas possibilidades de apresentação: cefálica ou pélvica, dependendo do pólo fetal que ocupa a região inferior do útero. Nas situações transversas, por sua vez, duas outras possibilidades ocorrem, nas quais se distinguem as apresentações córmicas (ou de ombro), em que o dorso fetal se apresenta anterior ou posteriormente, ou as apresentações dorsais superior e inferior, em que o dorso fetal se apresenta superior ou inferiormente (nestes casos, o plano coronal fetal é perpendicular ao plano coronal materno), extremamente mais raras Esse fato se deve à teoria da acomodação formulada por Pajot, em 1870, que infere que “todo sólido de superfícies arredondadas e lisas, contido em outro que apresente alternativas de contração e resolução, procura acomodar-se à forma e às dimensões do continente” Quando uma parte fetal menor (por exemplo, um dos membros) se antepõe à apresentação durante o trabalho de parto, ocupando a vagina ou mesmo se exteriorizando pela vulva, denomina-se procidência ou prolapso. Existe ainda a possibilidade do que se chama de laterocidência, em que a pequena parte fetal em questão desce ao lado e junto de um dos polos fetais, conceituada nessa ocasião como apresentação composta A atitude fisiológica da cabeça fetal pressupõe que ela esteja flexionada, com o mento aconchegado ao esterno, o que se denomina apresentação cefálica fletida, de vértice ou de occipício. Pode acontecer que a cabeça apresenta-se em extensão ou defletida, às custas de afastamentos do mento em relação ao esterno, de graus variados: No primeiro grau de deflexão, surge, no centro da área do estreito superior, como ponto de referência fetal, o bregma (apresentação de bregma). No segundo, surge a glabela como ponto de referência fetal (apresentação de fronte). No terceiro, é o mento que surge como ponto de referência fetal (apresentação de face). Nas apresentações pélvicas, a atitude fisiológica do pólo pélvico pressupõe as coxas fletidas e aconchegadas ao abdome, e as pernas fletidas junto às coxas. Assim, diz-se tratar de apresentação pélvica completa. As demais atitudes assumidas pelos membros inferiores dão origem às seguintes apresentações pélvicas: Modo de nádegas (ou agripina): os membros inferiores apresentam-se estirados e rebatidos de encontro à parede ventral do feto. Modo de joelhos e de pés: os joelhos e pés, por se tratarem de pequenas partes fetais, não são capazes de comprimir o colo uterino durante o trabalho de parto e, portanto, são considerados procidências ou procúbitos Posição fetal Adota-se a definição de posição fetal que a descreve como a relação do dorso fetal com o lado materno. Assim, diz-se que a posição fetal é esquerda (primeira posição) ou direita (segunda posição). Para a avaliação fetal durante o trabalho de parto, realiza-se toque vaginal procurando identificar a variedade de posição, tendo por base a relação entre pontos de reparo maternos e fetais. Pontos de reparo são acidentes ósseos reais, enquanto pontos de referência são convenções para nomear os pontos de reparo. Entre os pontos de referência, é muito importante diferenciar, ao exame clínico de toque vaginal, a fontanela lambdóide (em forma de “Y”) e a fontanela bregmática (em forma de losango) para determinar corretamente a variedade de posição. Fases clínicas do parto O parto é caracterizado por contrações das fibras miometriais, cujas principais funções são a dilatação cervical e a expulsão do feto através do canal de parto. Essas contrações são dolorosas, porém, antes do seu início, o útero sofre modificações fisiológicas e bioquímicas locais concomitantes ao aumento da frequência de contrações indolores (contrações de Braxton Hicks), até que o verdadeiro trabalho de parto seja deflagrado. O processo fisiológico que regula tais modificações não possui um marco bem definido como as fases clínicas do parto, contudo, pode ser dividido em quatro etapas: Quiescência (fase 1). Ativação (fase 2). Estimulação (fase 3). Involução (fase 4). A quiescência (fase 1) é caracterizada por relativa ausência de resposta a agentes que determinam a contratilidade uterina. Ela se inicia com a implantação do zigoto e perdura por quase toda a gestação. Apesar de algumas poucas contrações serem observadas nesse período, elas não modificam a estrutura cervical nem causam dilatação do colo uterino. A ativação (fase 2) prepara o útero e o canal cervical para o trabalho de parto e dura aproximadamente 6 a 8 semanas Esta preparação determina algumas modificações cervicais e caracteriza-se pela descida do fundo uterino. Esse processo é seguido pela estimulação (fase 3), que pode ser clinicamente dividida em três períodos (dilatação, expulsão e dequitação) e cujo fenômeno mais importante são as contrações uterinas efetivas. Para um adequado trabalho de parto, essas contrações devem apresentar uma frequência regular entre duas e cinco contrações a cada 10 minutos, intensidade de 20 a 60 mmHg (média de 40 mmHg) e duração entre 30 e 90 segundos (média de 60 segundos) ➔ Dilatação A fase de dilatação, ou primeiro período, inicia-se com as primeiras contrações dolorosas, cuja principal ação é a modificação da cérvix. Assim, esse período começa com as primeiras modificações cervicais e termina com a dilatação completa do colo uterino (10 cm), de modo a permitir a passagem fetal. Essas modificações abrangem dois fenômenos distintos: o esvaecimento do colo e a dilatação cervical propriamente dita, que são fenômenos distintos. Nas primíparas, ocorrem nessa ordem, sucessivamente: primeiro o esvaecimento, de cima para baixo, e depois a dilatação do orifício externo; já nas multíparas, são simultâneos O esvaecimento ou apagamento do canal cervical consiste na incorporação do colo à cavidade uterina, terminando com a formação de um degrau ao centro da abóbada cervical. Esse processo ativo é decorrente de alterações bioquímicas que levam à fragmentação e à redisposição das fibras de colágeno e à alteração na concentração de glicosaminoglicanas. Próximo ao termo, ocorre aumento de infiltrado inflamatório no canal cervical decorrente de mudanças locais que promovem a maturação cervical e da lise de fibras de colágeno. A dilatação do orifício externo do colo tem como principal finalidade ampliar o canal de parto e completar a continuidade entre útero e vagina. A dilatação cervical é representada por uma curva sigmóide dividida em fase latente e fase ativa, sendo esta última composta, segundo Friedman, de três subdivisões: ● Aceleração: em que a velocidade de dilatação começa a modificar-se e a curva se eleva. ● Dilatação ou aceleração máxima: quando a dilatação passa de 2 a 3 cm para 8 a 9 cm. ● Desaceleração: que precede a dilatação completa. A fase latente apresenta como característica contrações mais eficazes (em termos de coordenação e intensidade) sem, contudo, determinar modificações significativas na dilatação cervical. Todavia, a fase latente será considerada prolongada quando durar mais que 20 horas em primíparas e mais que 14 em multíparas A fase ativa normalmente se inicia com dilatação cervical de 4 cm e dura em média 6 horas nas primíparas, com velocidade de dilatação de cerca de 1,2 cm/h, e 3 horas nas multíparas, comvelocidade de dilatação de 1,5 cm/h ➔ Expulsão Na segunda fase do parto, denominada expulsão ou segundo período, o feto é expelido do útero através do canal de parto por meio da ação conjugada das contrações uterinas e das contrações voluntárias dos músculos abdominais (puxos). Assim, o segundo período tem início com a dilatação completa e se encerra com a saída do feto. Uma vez completada a dilatação, o útero fica imobilizado pela ação de contenção dos ligamentos largo (lateralmente), redondo (superiormente) e uterossacro (posteriormente); e a resultante de força das contrações miometriais converge sobre o orifício interno do colo uterino, contra o qual a apresentação fetal é impelida A descida do polo cefálico pelo canal de parto é representada por uma curva hiperbólica e compreende duas fases bem definidas: fase pélvica e fase perineal. A primeira caracteriza-se pela dilatação completa do colo uterino e pela apresentação acima do plano +3 de De Lee, enquanto a segunda apresenta a cabeça rodada e em um plano inferior a +3 de De Lee Avaliam que diante de vitalidade fetal normal o período expulsivo pode se prolongar por um tempo maior e consideram período expulsivo prolongado quando ultrapassa, em primíparas, 3 horas sem analgesia e, em multíparas, 2 horas sem analgesia. ➔ Dequitação Nesse período, também chamado secundamento ou dequitadura, o útero expele a placenta e as membranas (após o nascimento do feto). Assim, após o descolamento de seu leito uterino, a placenta desce através do canal de parto e é expelida pela rima vulvar. Seu descolamento ocorre em virtude da diminuição do volume uterino depois da expulsão fetal, associada às contrações uterinas vigorosas e indolores Há dois tipos clássicos de descolamento, o central (também chamado de descolamento de Baudelocque-Schultze) e o marginal ou periférico (também chamado de descolamento de Baudelocque-Duncan), definidos, respectivamente, quando começam no centro ou lateralmente A dequitação ocorre entre 10 minutos e 1 hora após o parto. Fisiologicamente, sabe-se que ela deve ocorrer dentro de 20 a, no máximo, 30 minutos. Porém, em 80% dos partos a dequitação se dá nos primeiros 10 minutos A primeira hora após o parto inicia-se imediatamente após a dequitação, sendo, dessa forma, a primeira hora do puerpério e não um verdadeiro quarto período clínico do parto. Nesse período, ocorrem a estabilização dos sinais vitais maternos e a hemostasia uterina. Essa primeira hora caracteriza-se pela ocorrência dos fenômenos de miotamponamento, de trombotamponamento, pela indiferença miouterina e pela contração uterina fixa que a segue. Finalmente, a involução (fase 4) destaca-se pelo retorno ao estado pré-gravídico (puerpério). Seu início ocorre após a dequitação e é caracterizado por uma contração persistente que promove a involução uterina. Mecanismo de parto Divide-se o mecanismo de parto em seis tempos. ➔ Insinuação Insinuação é definida como a passagem do maior diâmetro da parte apresentada, perpendicular à linha de orientação fetal, pelo estreito superior da bacia materna. Dessa forma, nas apresentações cefálicas o diâmetro de insinuação corresponde ao biparietal e nas apresentações pélvicas, ao bitrocantérico. A ocorrência de insinuação indica que o estreito superior é adequado para a passagem do feto, mas não permite inferir as características dos estreitos médio e inferior A insinuação nas apresentações cefálicas fletidas varia conforme o tipo de bacia. No início, a cabeça fetal mostra-se em atitude indiferente ou semi fletida, oferecendo o diâmetro occipitofrontal (12 cm) à passagem pelo estreito superior da bacia. Sucedendo-se as contrações e sendo impelido de encontro ao estreito superior, exagera-se a flexão e ocorre a substituição por diâmetros menores: suboccipitofrontal (10,5 cm) e suboccipitobregmático (9,5 cm). O mecanismo de flexão cefálica é resultante da pressão axial do feto. A articulação da cabeça com a coluna vertebral representa uma alavanca de braços desiguais: de um lado, o occipício (braço menor); do outro, a fronte (braço maior). Pressionado o fulcro dessa alavanca, pela contração uterina de cima para baixo, e havendo uma contrapressão representada pela resistência da parede pélvica ou do assoalho pélvico, ocorre a flexão (teoria de Zweifel) Assinclitismo e sinclitismo Considerando que a articulação entre a cabeça e a coluna vertebral do feto é bastante móvel, o polo cefálico assume não só movimentos de flexão anteroposterior como também movimentos de flexão lateral. Durante o processo de insinuação, um dos ossos parietais atravessará o estreito superior da pelve antes do outro, aproximando a sutura sagital de um dos ossos do eixo ântero posterior da bacia materna (púbis ou sacro). Dessa forma, quando a sutura sagital se aproxima da pube e o parietal posterior desce até ultrapassar o promontório materno, diz-se que há assinclitismo posterior. Ao contrário, quando a sutura sagital está mais próxima ao sacro, mais baixo está o parietal anterior, e o assinclitismo é chamado de anterior Durante o trabalho de parto, existe um momento em que o parietal insinuado ultrapassa o ponto de referência da bacia óssea e, com o aumento da área abaixo do estreito superior, é possível mover lateralmente o polo cefálico. Isso traz a sutura sagital à mesma distância entre o púbis e o promontório, e a cabeça fica em sinclitismo nesse momento Moderados graus de assinclitismo, via de regra, são normais durante o trabalho de parto vaginal. Em situações de desproporção cefalopélvica, em especial nas bacias platipeloides, o assinclitismo é acentuado, manten-do-se por todo o período de descida, o que pode impedir a rotação interna e, assim, causar o que se denomina distocia de rotação. O assinclitismo posterior é também denominado “obliquidade de Litzmann”; e o anterior, "obliquidade de Näegele”. Além de flexão e assinclitismo, outro processo que contribui para o mecanismo de insinuação é o cavalgamento dos ossos do crânio fetal, fenômeno que reduz as dimensões do polo cefálico, posto que o maciço frontal e o occipital se locam por baixo dos parietais. Do mesmo modo, a borda interna de um dos parietais se sobrepõe à outra. Devido à grande capacidade plástica da cabeça fetal, esse mecanismo torna possível como que bipartir o polo cefálico em duas metades para, então, imprimi-las em direção ao canal de parto (teoria de Sellheim) ➔ Descida A descida ou progressão, também considerada segundo tempo do mecanismo de parto, é o momento definido pela passagem do polo cefálico (ou da apresentação fetal em geral) do estreito superior para o estreito inferior da pelve materna. Na prática clínica usa-se o esquema de De Lee, com os planos ditos em centímetros, a partir das espinhas isquiáticas: ● Móvel: > -3 cm. ● Ajustada ou fixada: -3, -2 ou -1 cm. ● Insinuada: 0 cm. ● Fortemente insinuada: +1, +2 ou +3 cm. ● Baixa: +4 ou +5 cm (já aflorando na vulva). O canal de parto não é um cilindro regular, possuindo uma curvatura em sua porção mais inferior. Assim, o feto tem que atravessar esse canal de modo a adaptar-se ao cilindro contingente, cujo eixo possui forma de “J”. Para isso, ocorrem movimentos de flexão (anteroposterior e lateral, para reduzir os diâmetros), rotação e mecanismos de cavalgamento ósseo ➔ Rotação interna O objetivo da rotação interna é coincidir o diâmetro anteroposterior do polo cefálico com o maior diâmetro da bacia materna. Os diâmetros com maiores proporções variam, dependendo do estreito em que se encontra a cabeça fetal. Assim, o estreito superior apresenta maior dimensão no sentido transverso; no estreito médio, o sentido anteroposterior é maior ou eles têm iguais proporções; e no inferior, o ântero posterior é maior. Durante a descida do feto, ocorre movimento de rotação para locar o polo cefálico sob o púbis. Descreve-se assim um movimento de espira. A linha de orientação (sutura sagital) fica orientada na direção do maior diâmetro do estreito inferior (anteroposterior) ao terminar a descida. A rotaçãonormalmente traz o ponto de referência fetal para a frente, junto ao púbis, o que é denominado rotação anterior (ou púbica). Quando, excepcionalmente, o feto roda para trás, diz-se que ocorreu rotação posterior (ou sacra). Os principais fatores que impedem que essa rotação ocorra são contrações de baixa intensidade, ausência de flexão cefálica e fetos grandes. A analgesia peridural pode predispor às rotações incompletas, por diminuir a força da musculatura abdominal e relaxar a musculatura pélvica O desprendimento cefálico ocorre com a descida final da cabeça fetal em posição occipitopúbica, até que seja possível a locação do suboccipício no subpúbis materno Como o polo cefálico está em flexão, é necessário que ocorra movimento de deflexão ou extensão da cabeça para ocorrer exteriorização do maciço frontal. Dessa forma, o diâmetro suboccipitobregmático (9,5 cm) ocupa o diâmetro antero-posterior do estreito inferior e a fronte do feto rechaça o cóccix, aumentando esse diâmetro de 9 para 11 cm, o que se denomina retropulsão coccígea A região que se fixa ao subpúbis como ponto de apoio para o movimento de expulsão, também chamada hipomóclio, é o suboccipício, que se localiza 7 cm abaixo da fontanela lambdoide Por meio de duas forças antagônicas (contração uterina e resistência perineal), o feto é impulsionado para baixo e para fora do canal de parto. ➔ Rotação externa A rotação externa da cabeça fetal, também denominada movimento de restituição, leva o occipício a voltar-se para o lado materno que ocupava no interior do canal de parto. A sutura sagital apresenta-se em sentido transversal ao da fenda vulvar ao fim desse tempo. Nessa ocasião, as espáduas, que se insinuaram no diâmetro oblíquo oposto ao da cabeça fetal, rodam, trazendo o diâmetro biacromial para o diâmetro anteroposterior do estreito inferior. Esse movimento que ocorre com os ombros se deve, aparentemente, aos mesmos fatores que determinam a rotação interna da cabeça. O desprendimento do ovóide córmico caracteriza-se pela exteriorização das cinturas escapular e pélvica do feto. São mecanismos associados porque um se segue ao outro, diferentemente de quando se considera o polo cefálico em relação às espáduas, em que o mecanismo é bem dissociado por ser a região cervical do feto dotada de grande flexibilidade Após a rotação das espáduas, o ombro anterior fixa-se no subpúbis, apresentando a inserção braquial do deltóide como ponto de apoio, e desprende-se por movimento de abaixamento. Desprende-se então o ombro posterior por movimento de elevação e, em seguida, completa-se a expulsão da cintura escapular Posteriormente ao desprendimento dos ombros, o resto do ovóide é prontamente expelido, não apresentando maior resistência. Puerpério O puerpério, ou período pós-parto, tem início após a dequitação e se estende até 6 semanas completas após o parto. Admitindo como tempo de duração normal do puerpério o período de 6 a 8 semanas, este pode ser dividido nos seguintes períodos: ● Puerpério imediato: até o término da segunda hora após o parto. ● Puerpério mediato: do início da terceira hora até o final do décimo dia após o parto. ● Puerpério tardio: do início do 11° até o retorno das menstruações, ou 6 a 8 semanas nas lactantes. O fundo uterino tipicamente atinge a cicatriz umbilical 24 horas após o parto, alcançando a região entre a sínfise púbica e a cicatriz umbilical depois de 1 semana. A involução uterina costuma ser mais rápida nas mulheres que amamentam e, habitualmente, no 12o dia após o parto, o fundo uterino localiza-se rente à borda superior da sínfise púbica. Na segunda semana pós-parto, o útero não é mais palpável no abdome; e atinge aproximadamente suas dimensões pré-gravídicas em cerca de 6 a 8 semanas de puerpério. O peso do útero decresce de aproximadamente 1.000 g logo após o parto para 60 g depois de 6 a 8 semanas. Após a expulsão fetal e a dequitação, o colo uterino encontra-se amolecido, com pequenas lacerações nas margens do orifício externo, que continua dilatado. Essa dilatação regride lentamente, permanecendo entre 2 e 3 cm nos primeiros dias após o parto, e menos de 1 cm com 1 semana de puerpério. À medida que a dilatação regride, o colo uterino torna-se progressivamente mais espesso, e faz-se a reconstrução do canal cervical. A vagina encontra-se alargada e lisa imediatamente após o parto. A redução de suas dimensões é gradual e raramente elas se igualam ao período pré-gravídico. A rugosidade da vagina reaparece na terceira semana de puerpério, vinculada à regressão do edema e da vascularização. O hímen que se rompeu sofre processo de cicatrização, dando origem a nódulos de mucosa fibrosados, as chamadas carúnculas himenais ou mirtiformes. A distensão da fáscia e o trauma (lacerações) decorrentes da passagem do feto pelo canal de parto resultam em frouxidão da musculatura pélvica, que pode não regredir ao estágio pré-gravídico. No período pós-parto, a musculatura da parede abdominal encontra-se frouxa, mas readquire seu tônus normal, na maioria dos casos, várias semanas depois. Pode haver, no entanto, persistência da diástase do músculo reto do abdome. A pele também pode se manter frouxa, especialmente se houver rotura extensa de fibras elásticas. Aproximadamente metade do ganho ponderal adquirido durante a gravidez é perdida nas primeiras 6 semanas após o parto. Queda de cabelos é um processo geralmente autolimitado, com restauração dos padrões normais de crescimento dos cabelos entre 6 e 15 meses após o parto
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