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1 
A DIALÉTICA DA ARQUITETURA MODERNISTA INSERIDA EM SÍTIOS 
HISTÓRICOS 
 
The dialectics of the modernist architecture inserted at historical ranches 
 
Roberta Ilha Lisboa. 
Arquiteta e Urbanista pela UFJF 
Mestranda do Programa de Pós Graduação em Artes UFES – Vitória – ES. 
 
Resumo 
O objetivo desse artigo concentra-se na interpretação da dialética de inserção da 
arquitetura modernista em sítios históricos. Considerando a importância dos 
arquitetos modernistas na consolidação de legislação do Patrimônio Histórico 
no Brasil, estando por vezes à frente do mesmo, é relevante compreender o 
discurso da arquitetura modernista em entorno histórico. Para isso foi 
estabelecida a sistematização de alguns parâmetros de leitura dessa articulação, 
através de um exemplo emblemático e que teve reflexo direto nas diretrizes do 
então SPHAN (Serviço do Patrimônio Artístico Nacional) – O Grande Hotel 
de Oscar Niemeyer em Ouro Preto. A inserção do Grande Hotel marca umas 
das primeiras inserções modernistas em sítios históricos no país, no momento 
em que a arquitetura modernista tinha grande força e o SPHAN estava em fase 
de consolidação, sob consultoria de Lúcio Costa. Através desse exemplo, é 
possível identificar algumas relações sutis e complexas entre a arquitetura 
modernista e o contexto histórico, reafirmando a necessidade de existência de 
diálogo das construções novas com os sítios históricos, sem por isso, serem 
confundidas com estes. 
Palavras-chave: arquitetura moderna, sítios históricos, patrimônio. 
 
Abstract 
The objective of that article concentrates on the interpretation of the dialectics 
of insert of the modernist architecture in historical ranches. Considering the 
modernist architects' importance in the consolidation of legislation of the 
Historical Patrimony in Brazil, being per times ahead of the same, it is relevant 
to understand the speech of the modernist architecture in I spill historical. For 
that the systemization was established of some parameters of reading of that 
articulation, through an emblematic example and that he/she had direct reflex 
then in the guidelines of the SPHAN (Service of the National Artistic 
Patrimony) - Oscar Niemeyer Great Hotel in Ouro Preto. The insert of the 
Great Hotel marks some of the first modernist inserts in historical ranches in 
 2
the country, when the modernist architecture had great force and SPHAN was 
in consolidation phase, under consultancy of Lúcio Costa. Through of that 
example, it is possible to identify some subtle and complex relationships 
between the modernist architecture and the historical context, reaffirming the 
need of existence of dialogue of the new constructions with the historical 
ranches, without for that, they be confused with these. 
Key Words: modern architecture, historical ranches, patrimony. 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Este trabalho é baseado num capítulo da dissertação de Mestrado em 
Artes da Universidade Federal do Espírito Santo, com orientação do Professor 
Dr. Tarcísio Bahia. O trabalho consiste em pesquisar as possíveis ligações da 
arquitetura modernista e alguns sítios históricos em que foram inseridas no 
Brasil. Foram analisados três casos pela época e circunstância em que foram 
inseridos: o Castelo D’água de Luis Nunes em Olinda, de 1937, construído 
antes da inauguração do SPHAN1; o Grande Hotel de Oscar Niemeyer em 
Ouro Preto, em 1938-1940, construído já sob o controle do SPHAN, no 
momento em que Lúcio Costa tinha grande influência junto ao serviço do 
patrimônio; o Palácio Tomé de Souza de João Filgueiras Lima (Lelé) em 
Salvador, de 1986, com uma linguagem ainda modernista, mesmo quando o 
modernismo oficialmente não era mais a linguagem arquitetônica hegemônica e 
o então IPHAN já estava bem consolidado em sua política de preservação. 
Através de um dos exemplos, no caso o Grande Hotel em Ouro Preto, é 
possível identificar algumas relações sutis e complexas entre a arquitetura 
modernista e o contexto histórico, reafirmando a necessidade de existência de 
diálogo das construções novas com os sítios históricos, sem por isso, serem 
confundidas com estes. 
A partir da análise interdiscursiva do Grande Hotel com seu entorno 
imediato, surgiram questões e pistas que, investigadas, nos levaram a 
identificação de fatores ricamente diferenciados, mutuamente relacionados por 
toda a espécie de relações. O objeto da análise dialética consiste, por 
conseguinte, em pôr a nu, a interdependência existente do todo complexo das 
 
1 Em 1937 foi criado como SPHAN através da Lei 378, em 1941 o nome mudou para 
DPHAN, já que foi transformado em Diretoria. Em 1970, o Decreto nº 66.967 
transforma a DPHAN em Instituto (IPHAN). 
IV ENCONTRO DE HISTÓRIA DA ARTE – IFCH / UNICAMP 2008
-713
 1 
A DIALÉTICA DA ARQUITETURA MODERNISTA INSERIDA EM SÍTIOS 
HISTÓRICOS 
 
The dialectics of the modernist architecture inserted at historical ranches 
 
Roberta Ilha Lisboa. 
Arquiteta e Urbanista pela UFJF 
Mestranda do Programa de Pós Graduação em Artes UFES – Vitória – ES. 
 
Resumo 
O objetivo desse artigo concentra-se na interpretação da dialética de inserção da 
arquitetura modernista em sítios históricos. Considerando a importância dos 
arquitetos modernistas na consolidação de legislação do Patrimônio Histórico 
no Brasil, estando por vezes à frente do mesmo, é relevante compreender o 
discurso da arquitetura modernista em entorno histórico. Para isso foi 
estabelecida a sistematização de alguns parâmetros de leitura dessa articulação, 
através de um exemplo emblemático e que teve reflexo direto nas diretrizes do 
então SPHAN (Serviço do Patrimônio Artístico Nacional) – O Grande Hotel 
de Oscar Niemeyer em Ouro Preto. A inserção do Grande Hotel marca umas 
das primeiras inserções modernistas em sítios históricos no país, no momento 
em que a arquitetura modernista tinha grande força e o SPHAN estava em fase 
de consolidação, sob consultoria de Lúcio Costa. Através desse exemplo, é 
possível identificar algumas relações sutis e complexas entre a arquitetura 
modernista e o contexto histórico, reafirmando a necessidade de existência de 
diálogo das construções novas com os sítios históricos, sem por isso, serem 
confundidas com estes. 
Palavras-chave: arquitetura moderna, sítios históricos, patrimônio. 
 
Abstract 
The objective of that article concentrates on the interpretation of the dialectics 
of insert of the modernist architecture in historical ranches. Considering the 
modernist architects' importance in the consolidation of legislation of the 
Historical Patrimony in Brazil, being per times ahead of the same, it is relevant 
to understand the speech of the modernist architecture in I spill historical. For 
that the systemization was established of some parameters of reading of that 
articulation, through an emblematic example and that he/she had direct reflex 
then in the guidelines of the SPHAN (Service of the National Artistic 
Patrimony) - Oscar Niemeyer Great Hotel in Ouro Preto. The insert of the 
Great Hotel marks some of the first modernist inserts in historical ranches in 
 2
the country, when the modernist architecture had great force and SPHAN was 
in consolidation phase, under consultancy of Lúcio Costa. Through of that 
example, it is possible to identify some subtle and complex relationships 
between the modernist architecture and the historical context, reaffirming the 
need of existence of dialogue of the new constructions with the historical 
ranches, without for that, they be confused with these. 
Key Words: modern architecture, historical ranches, patrimony. 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Este trabalho é baseado num capítulo da dissertação de Mestrado em 
Artes da Universidade Federal do Espírito Santo, com orientação do Professor 
Dr. Tarcísio Bahia. O trabalho consiste em pesquisar as possíveis ligações da 
arquitetura modernista e alguns sítios históricos em que foram inseridas no 
Brasil. Foramanalisados três casos pela época e circunstância em que foram 
inseridos: o Castelo D’água de Luis Nunes em Olinda, de 1937, construído 
antes da inauguração do SPHAN1; o Grande Hotel de Oscar Niemeyer em 
Ouro Preto, em 1938-1940, construído já sob o controle do SPHAN, no 
momento em que Lúcio Costa tinha grande influência junto ao serviço do 
patrimônio; o Palácio Tomé de Souza de João Filgueiras Lima (Lelé) em 
Salvador, de 1986, com uma linguagem ainda modernista, mesmo quando o 
modernismo oficialmente não era mais a linguagem arquitetônica hegemônica e 
o então IPHAN já estava bem consolidado em sua política de preservação. 
Através de um dos exemplos, no caso o Grande Hotel em Ouro Preto, é 
possível identificar algumas relações sutis e complexas entre a arquitetura 
modernista e o contexto histórico, reafirmando a necessidade de existência de 
diálogo das construções novas com os sítios históricos, sem por isso, serem 
confundidas com estes. 
A partir da análise interdiscursiva do Grande Hotel com seu entorno 
imediato, surgiram questões e pistas que, investigadas, nos levaram a 
identificação de fatores ricamente diferenciados, mutuamente relacionados por 
toda a espécie de relações. O objeto da análise dialética consiste, por 
conseguinte, em pôr a nu, a interdependência existente do todo complexo das 
 
1 Em 1937 foi criado como SPHAN através da Lei 378, em 1941 o nome mudou para 
DPHAN, já que foi transformado em Diretoria. Em 1970, o Decreto nº 66.967 
transforma a DPHAN em Instituto (IPHAN). 
IV ENCONTRO DE HISTÓRIA DA ARTE – IFCH / UNICAMP 2008
-714
 3 
diferentes contradições, a unidade contraditória das contradições, o conjunto 
das relações, tendências, ligações, nexos, conexões, elos, determinações2. 
 
2. CONTEXTO 
 
A inserção do Grande Hotel de Oscar Niemeyer em Ouro Preto em 
1938, é marcado pela atuação decisiva e participativa do SPHAN. Nesse 
momento, a cidade de Ouro Preto já era protegida pelo Decreto Federal nº 
22928, de 12/07/1933, por ser considerada Monumento Nacional. Houve um 
intenso debate e diversas restrições até que se chegasse à uma solução aprovada 
pelo SPHAN. Nesta instância, a arquitetura modernista continuava com força 
total e o SPHAN já tinha bases sólidas, resultantes da atuação de Lúcio Costa e 
Rodrigo Franco Melo de Andrade e da legislação articulada. O sujeito que 
interfere em entorno histórico coincide com o sujeito SPHAN, afinal, os 
modernistas estão à frente do Serviço do Patrimônio e Artístico Nacional. 
O governo mineiro solicitou ao recém criado SPHAN a elaboração de 
um projeto para construção de um hotel no centro da capital da antiga capitania 
de Minas Gerais. O hotel deveria ser moderno, para atender as necessidades do 
turismo, e ao mesmo tempo não alterar a fisionomia peculiar da cidade, cujas 
construções datam do século XVIII. 
O arquiteto indicado pelo SPHAN foi Carlos Leão. A preocupação 
fundamental do projeto de Carlos Leão foi seguir as linhas tipológicas básicas 
da arquitetura local, para minimizar o contraste de forma que o novo edifício se 
integrasse totalmente a paisagem. Utilizou cobertura inclinada em telhas 
cerâmicas tipo capa/canal, pátio interno, janelas e portas em arco, fachadas 
com revestimento em pedra no térreo e caiadas de branco no restante de sua 
extensão3. 
 
 
2 BROHM Jean-Marie. O que é a dialética?1ª edição. Lisboa: Edições Antídoto,1979, 
p.114. 
3 CAVALCANTI, Lauro Pereira. Moderno e Brasileiro: a história de uma nova 
linguagem na arquitetura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006, p.110. 
 4
 
Fig. 1 - Fotomontagem do projeto de Carlos Leão 
 
A documentação do projeto sofre uma interrupção, quando surgem no 
SPHAN oposições a proposta de Carlos Leão, segundo Lauro Cavalcanti, essas 
oposições foram capitaneadas por Lúcio Costa, gerando oposições no interior 
do órgão, inclusive ao movimento moderno. Nesse período, Lúcio Costa estava 
em Nova Iorque, trabalhando na construção do Pavilhão Brasileiro, em parceria 
com Oscar Niemeyer. Recebendo o projeto, em correspondência de Rodrigo 
Melo Franco, percebe a inconveniência do que poderia parecer um “recuo” ou 
capitulação aos neocoloniais. Transmite, em carta ao diretor, seu parecer, 
Niemeyer retorna então ao Brasil e é encarregado, por Rodrigo Melo Franco de 
Andrade, de realizar novos estudos para o hotel4. 
O projeto de Niemeyer é efetuado para o mesmo terreno daquele de 
Carlos Leão – em declive, próximo à Casa dos Contos, edifício de grande 
volumetria e feições ecléticas, um dos maiores atrativos da arquitetura local. Foi 
idealizado um grande bloco sobre pilotis posicionado em sua extensão no 
sentido das curvas de nível, ao longo da maior parte do terreno. Previa uma 
cobertura em laje plana plantada com grama, de modo que, vista de cima, da 
estrada de acesso à Ouro Preto, fosse confundida com a vegetação do solo. 
Niemeyer argumentava ter lançado mão de processos construtivos 
contemporâneos à sua época, sem nenhuma preocupação de imitar a aparência 
das edificações antigas, pretendendo apenas “que o novo hotel, em seu aspecto 
 
4 Depoimento de José de Souza dos Reis; Arquivo do SPHAN. 
IV ENCONTRO DE HISTÓRIA DA ARTE – IFCH / UNICAMP 2008
-715
 3 
diferentes contradições, a unidade contraditória das contradições, o conjunto 
das relações, tendências, ligações, nexos, conexões, elos, determinações2. 
 
2. CONTEXTO 
 
A inserção do Grande Hotel de Oscar Niemeyer em Ouro Preto em 
1938, é marcado pela atuação decisiva e participativa do SPHAN. Nesse 
momento, a cidade de Ouro Preto já era protegida pelo Decreto Federal nº 
22928, de 12/07/1933, por ser considerada Monumento Nacional. Houve um 
intenso debate e diversas restrições até que se chegasse à uma solução aprovada 
pelo SPHAN. Nesta instância, a arquitetura modernista continuava com força 
total e o SPHAN já tinha bases sólidas, resultantes da atuação de Lúcio Costa e 
Rodrigo Franco Melo de Andrade e da legislação articulada. O sujeito que 
interfere em entorno histórico coincide com o sujeito SPHAN, afinal, os 
modernistas estão à frente do Serviço do Patrimônio e Artístico Nacional. 
O governo mineiro solicitou ao recém criado SPHAN a elaboração de 
um projeto para construção de um hotel no centro da capital da antiga capitania 
de Minas Gerais. O hotel deveria ser moderno, para atender as necessidades do 
turismo, e ao mesmo tempo não alterar a fisionomia peculiar da cidade, cujas 
construções datam do século XVIII. 
O arquiteto indicado pelo SPHAN foi Carlos Leão. A preocupação 
fundamental do projeto de Carlos Leão foi seguir as linhas tipológicas básicas 
da arquitetura local, para minimizar o contraste de forma que o novo edifício se 
integrasse totalmente a paisagem. Utilizou cobertura inclinada em telhas 
cerâmicas tipo capa/canal, pátio interno, janelas e portas em arco, fachadas 
com revestimento em pedra no térreo e caiadas de branco no restante de sua 
extensão3. 
 
 
2 BROHM Jean-Marie. O que é a dialética?1ª edição. Lisboa: Edições Antídoto,1979, 
p.114. 
3 CAVALCANTI, Lauro Pereira. Moderno e Brasileiro: a história de uma nova 
linguagem na arquitetura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006, p.110. 
 4
 
Fig. 1 - Fotomontagem do projeto de Carlos Leão 
 
A documentação do projeto sofre uma interrupção, quando surgem no 
SPHAN oposições a proposta de Carlos Leão, segundo Lauro Cavalcanti, essas 
oposições foram capitaneadas por Lúcio Costa, gerando oposições no interior 
do órgão, inclusive ao movimento moderno. Nesse período, Lúcio Costa estava 
em Nova Iorque, trabalhando na construção do Pavilhão Brasileiro, em parceria 
com Oscar Niemeyer. Recebendo o projeto, em correspondência de Rodrigo 
Melo Franco, percebe a inconveniência do que poderia parecer um “recuo” ou 
capitulação aosneocoloniais. Transmite, em carta ao diretor, seu parecer, 
Niemeyer retorna então ao Brasil e é encarregado, por Rodrigo Melo Franco de 
Andrade, de realizar novos estudos para o hotel4. 
O projeto de Niemeyer é efetuado para o mesmo terreno daquele de 
Carlos Leão – em declive, próximo à Casa dos Contos, edifício de grande 
volumetria e feições ecléticas, um dos maiores atrativos da arquitetura local. Foi 
idealizado um grande bloco sobre pilotis posicionado em sua extensão no 
sentido das curvas de nível, ao longo da maior parte do terreno. Previa uma 
cobertura em laje plana plantada com grama, de modo que, vista de cima, da 
estrada de acesso à Ouro Preto, fosse confundida com a vegetação do solo. 
Niemeyer argumentava ter lançado mão de processos construtivos 
contemporâneos à sua época, sem nenhuma preocupação de imitar a aparência 
das edificações antigas, pretendendo apenas “que o novo hotel, em seu aspecto 
 
4 Depoimento de José de Souza dos Reis; Arquivo do SPHAN. 
IV ENCONTRO DE HISTÓRIA DA ARTE – IFCH / UNICAMP 2008
-716
 5 
simples e despretensioso, se destacasse o menos possível na paisagem ouro-
pretana”. 
De acordo com as modificações sugeridas por Rodrigo Melo Franco de 
Andrade e pelo prefeito, Niemeyer elabora então, um novo e vitorioso estudo, 
incorporando as sugestões. A modificação mais relevante foi a adoção do 
telhado inclinado com telhas de barro – não até o parâmento da fachada, como 
queria Costa, mas restrito ao corpo do bloco, sem atingir as varandas. A 
harmonia com as antigas construções foi justificada com base na sempre 
lembrada semelhança entre as estruturas tradicionais em pau-a-pique e as 
modernas em concreto armado. Os pilares foram calculados com seções 
quadradas, de modo a “acentuar, dentro dos limites impostos pela boa 
arquitetura e sem recorrer a nenhum processo de simulação, a semelhança entre 
as duas técnicas”5. 
A justificativa de Rodrigo Melo Franco a Gustavo Capanema está 
baseada em carta que lhe foi enviada por Lúcio Costa. A carta do arquiteto 
adquire alcance muito maior do que o mero caso do hotel de Ouro Preto, 
passando a ser no âmbito do patrimônio, espécie de carta de princípios para 
novas construções em sítios históricos. Por conta de sua condição de 
estabelecedora de parâmetros modernos na atuação patrimonial, além de ser o 
documento que eleva a produção moderna à condição de obra de arte, em 
igualdade com os bens tombados do passado. 
Seguem alguns trechos da carta de Lúcio Costa em defesa do projeto de 
Niemeyer, transcritos por Cavalcanti (2006): 
 
Na qualidade de arquiteto incubido pelo CIAM de organizar o grupo no Rio e 
na de técnico especialista encarregado pelo SPHAN de estudar a nossa 
arquitetura antiga, devo informar a você, com referência a construção do hotel 
de O.N.S. (Oscar Niemeyer Soares), o seguinte: sei, por experiência própria, 
que a reprodução dos estilos das casas de Ouro Preto só é possível, hoje em 
dia, à custa de muito artifício...teríamos depois de concluída a obra, ou uma 
imitação perfeita e o turista desprecavido correria o risco de, à primeira vista, 
tomar por um dos principais monumentos da cidade uma contrafação, ou 
então, fracassada a tentativa, teríamos um arremedo neocolonial em nada em 
comum com o verdadeiro espírito das velhas construções. (...). 
(CAVALCANTI, 2006, p. 114). 
 
 
5 Texto de Niemeyer que Rodrigo Melo Franco transcreve, sem retoques, em sua carta 
de 30/09/79 ao ministro Capanema. 
 6
A Carta de Atenas resultante da Assembléia do CIAM em 1933 já 
afirmava que “o emprego de estilos do passado, sob pretextos estéticos, nas 
construções novas erigidas nas zonas históricas, têm conseqüências nefastas.”6. 
As obras primas do passado nos mostram que cada geração teve sua 
maneira de pensar, suas concepções, sua estética, recorrendo, como trampolim 
para sua imaginação, à totalidade de recursos técnicos de sua época7. 
Lúcio Costa considera em suas afirmações, boa a convivência entre o 
moderno e as cidades históricas, que ao invés de ser prejudicial, a presença de 
uma construção ‘moça’ reforça a distância temporal entre elas. Teve o trabalho 
não apenas de lançar uma justificativa para a proposta de Niemeyer, como 
afirmou o estatuto de obra de arte da arquitetura moderna, que então estaria 
apta a conviver harmonicamente com as construções do passado. 
 
3. O DISCURSO MODERNISTA NO CONTEXTO DE OURO 
PRETO 
 
Inicialmente foram identificados os edifícios do entorno com os quais 
o Grande Hotel se relaciona diretamente para então fazer análise 
interdiscursiva. É no entorno imediato que contrastes e semelhanças entre 
antigo e moderno aparecem, onde o discurso arquitetônico de tempos 
diferentes coloca-se frente. 
No Mapa 01, está representado o conjunto de edifícios analisados. 
Considerando o Grande Hotel, foram analisadas 37 edificações. Para melhor 
compreensão do conjunto, foram estudados os aspectos principais das 
edificações e do conjunto, segundo: 
 
1.Implantação 
2.Escala 
3.Volumetria 
4.Ritmo 
5.Cor 
 
1. Implantação 
 
 
6 INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. 
Cartas Patrimoniais. Brasília: IPHAN, 1995. Caderno de documentos nº 3, p.61 
7 Idem. 
IV ENCONTRO DE HISTÓRIA DA ARTE – IFCH / UNICAMP 2008
-717
 5 
simples e despretensioso, se destacasse o menos possível na paisagem ouro-
pretana”. 
De acordo com as modificações sugeridas por Rodrigo Melo Franco de 
Andrade e pelo prefeito, Niemeyer elabora então, um novo e vitorioso estudo, 
incorporando as sugestões. A modificação mais relevante foi a adoção do 
telhado inclinado com telhas de barro – não até o parâmento da fachada, como 
queria Costa, mas restrito ao corpo do bloco, sem atingir as varandas. A 
harmonia com as antigas construções foi justificada com base na sempre 
lembrada semelhança entre as estruturas tradicionais em pau-a-pique e as 
modernas em concreto armado. Os pilares foram calculados com seções 
quadradas, de modo a “acentuar, dentro dos limites impostos pela boa 
arquitetura e sem recorrer a nenhum processo de simulação, a semelhança entre 
as duas técnicas”5. 
A justificativa de Rodrigo Melo Franco a Gustavo Capanema está 
baseada em carta que lhe foi enviada por Lúcio Costa. A carta do arquiteto 
adquire alcance muito maior do que o mero caso do hotel de Ouro Preto, 
passando a ser no âmbito do patrimônio, espécie de carta de princípios para 
novas construções em sítios históricos. Por conta de sua condição de 
estabelecedora de parâmetros modernos na atuação patrimonial, além de ser o 
documento que eleva a produção moderna à condição de obra de arte, em 
igualdade com os bens tombados do passado. 
Seguem alguns trechos da carta de Lúcio Costa em defesa do projeto de 
Niemeyer, transcritos por Cavalcanti (2006): 
 
Na qualidade de arquiteto incubido pelo CIAM de organizar o grupo no Rio e 
na de técnico especialista encarregado pelo SPHAN de estudar a nossa 
arquitetura antiga, devo informar a você, com referência a construção do hotel 
de O.N.S. (Oscar Niemeyer Soares), o seguinte: sei, por experiência própria, 
que a reprodução dos estilos das casas de Ouro Preto só é possível, hoje em 
dia, à custa de muito artifício...teríamos depois de concluída a obra, ou uma 
imitação perfeita e o turista desprecavido correria o risco de, à primeira vista, 
tomar por um dos principais monumentos da cidade uma contrafação, ou 
então, fracassada a tentativa, teríamos um arremedo neocolonial em nada em 
comum com o verdadeiro espírito das velhas construções. (...). 
(CAVALCANTI, 2006, p. 114). 
 
 
5 Texto de Niemeyer que Rodrigo Melo Franco transcreve, sem retoques, em sua carta 
de 30/09/79 ao ministro Capanema. 
 6
A Carta de Atenas resultante da Assembléia do CIAM em 1933 já 
afirmava que “o empregode estilos do passado, sob pretextos estéticos, nas 
construções novas erigidas nas zonas históricas, têm conseqüências nefastas.”6. 
As obras primas do passado nos mostram que cada geração teve sua 
maneira de pensar, suas concepções, sua estética, recorrendo, como trampolim 
para sua imaginação, à totalidade de recursos técnicos de sua época7. 
Lúcio Costa considera em suas afirmações, boa a convivência entre o 
moderno e as cidades históricas, que ao invés de ser prejudicial, a presença de 
uma construção ‘moça’ reforça a distância temporal entre elas. Teve o trabalho 
não apenas de lançar uma justificativa para a proposta de Niemeyer, como 
afirmou o estatuto de obra de arte da arquitetura moderna, que então estaria 
apta a conviver harmonicamente com as construções do passado. 
 
3. O DISCURSO MODERNISTA NO CONTEXTO DE OURO 
PRETO 
 
Inicialmente foram identificados os edifícios do entorno com os quais 
o Grande Hotel se relaciona diretamente para então fazer análise 
interdiscursiva. É no entorno imediato que contrastes e semelhanças entre 
antigo e moderno aparecem, onde o discurso arquitetônico de tempos 
diferentes coloca-se frente. 
No Mapa 01, está representado o conjunto de edifícios analisados. 
Considerando o Grande Hotel, foram analisadas 37 edificações. Para melhor 
compreensão do conjunto, foram estudados os aspectos principais das 
edificações e do conjunto, segundo: 
 
1.Implantação 
2.Escala 
3.Volumetria 
4.Ritmo 
5.Cor 
 
1. Implantação 
 
 
6 INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. 
Cartas Patrimoniais. Brasília: IPHAN, 1995. Caderno de documentos nº 3, p.61 
7 Idem. 
IV ENCONTRO DE HISTÓRIA DA ARTE – IFCH / UNICAMP 2008
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 7 
As construções alinham-se na testada do lote, ocupando toda a 
extensão de sua largura, sem afastamentos frontais ou laterais. 
Todas as construções analisadas possuem implantação paralela à rua, exceto o 
Grande Hotel, que foi implantado na direção das curvas de nível do sítio, já que 
havia restrição de gabarito em altura para não destoar do entorno. 
 
2. Escala 
 
A altura predominante do conjunto estudado é entre 4.5 e 8m, com 
44% de ocorrência, seguida de 8.5 à 12m, com 31% de ocorrência. Edificações 
com até 4m, ocorrem em 8% dos casos e maior que 12m, correspondem à 17% 
dos casos. 
Considerando a altura, o Grande Hotel destaca-se não necessariamente pela sua 
altura efetiva, mas pela altura resultante da cota de implantação feita através de 
pilotis, fazendo com que o hotel tenha uma implantação de destaque, que no 
traçado colonial é destinado aos monumentos, principalmente às igrejas 
barrocas. 
 
3. Volumetria 
 
A volumetria predominante é a colonial, composta pelo volume 
principal com a justaposição do volume do telhado, de duas ou quatro águas, 
paralelo ou perpendicular à rua. 
O volume do Grande Hotel rompe de certa com volumetria do entorno. 
Apesar de possuir também um volume com a justaposição da cobertura, o 
Grande Hotel possui um jogo de subtrações no volume principal. O pavimento 
inferior é completamente vazado, existindo apenas os pilotis. O térreo e o 
primeiro pavimento alternam entre pilotis e volumes fechados. E o andar 
duplex dos apartamentos é recuado para dar lugar ao plano de treliças de 
madeira. 
Enquanto a volumetria do entorno é básica, a volumetria do Grande 
Hotel possui um jogo compositivo. 
 
 8
 
 
As fachadas são constituídas por volumes prismáticos, com telhado 
inclinado e repetição de um motivo uniforme no pavimento principal. O 
Grande Hotel e as construções antigas enquadram-se dentro dessa lógica 
formal. 
 
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 7 
As construções alinham-se na testada do lote, ocupando toda a 
extensão de sua largura, sem afastamentos frontais ou laterais. 
Todas as construções analisadas possuem implantação paralela à rua, exceto o 
Grande Hotel, que foi implantado na direção das curvas de nível do sítio, já que 
havia restrição de gabarito em altura para não destoar do entorno. 
 
2. Escala 
 
A altura predominante do conjunto estudado é entre 4.5 e 8m, com 
44% de ocorrência, seguida de 8.5 à 12m, com 31% de ocorrência. Edificações 
com até 4m, ocorrem em 8% dos casos e maior que 12m, correspondem à 17% 
dos casos. 
Considerando a altura, o Grande Hotel destaca-se não necessariamente pela sua 
altura efetiva, mas pela altura resultante da cota de implantação feita através de 
pilotis, fazendo com que o hotel tenha uma implantação de destaque, que no 
traçado colonial é destinado aos monumentos, principalmente às igrejas 
barrocas. 
 
3. Volumetria 
 
A volumetria predominante é a colonial, composta pelo volume 
principal com a justaposição do volume do telhado, de duas ou quatro águas, 
paralelo ou perpendicular à rua. 
O volume do Grande Hotel rompe de certa com volumetria do entorno. 
Apesar de possuir também um volume com a justaposição da cobertura, o 
Grande Hotel possui um jogo de subtrações no volume principal. O pavimento 
inferior é completamente vazado, existindo apenas os pilotis. O térreo e o 
primeiro pavimento alternam entre pilotis e volumes fechados. E o andar 
duplex dos apartamentos é recuado para dar lugar ao plano de treliças de 
madeira. 
Enquanto a volumetria do entorno é básica, a volumetria do Grande 
Hotel possui um jogo compositivo. 
 
 8
 
 
As fachadas são constituídas por volumes prismáticos, com telhado 
inclinado e repetição de um motivo uniforme no pavimento principal. O 
Grande Hotel e as construções antigas enquadram-se dentro dessa lógica 
formal. 
 
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 9 
4. Ritmo 
 
As fachadas das edificações antigas possuem um traçado regulador 
baseado num ritmo de cheios e vazios, com predominância de cheios sobre 
vazios, quase que em equivalência. O Percentual predominante é 25-50% de 
aberturas com 72%, até 25% o percentual é de 15%, de 50-75% o percentual é 
de 7.7% e maior que 75%, corresponde a 5.3%. Pode-se concluir sobre análise 
comparativa de percentual de aberturas, que na maior parte dos edifícios 
analisados, o panejamento de paredes prevalece sobre o vazado das aberturas, 
resultando num entorno com volume predominante mais fechado que vazado. 
O Grande Hotel diferencia-se pelo grande percentual de aberturas, no total de 
85%. 
 
5. Cor 
 
A cor predominante nas edificações é a branca, que corresponde à 
pintura da alvenaria. Algumas poucas edificações possuem a alvenaria pintada 
nas cores azul, salmão, rosa e marfim.As esquadrias possuem cores bem 
diversificadas, ocorrendo às vezes, diferenciação entre a cor das esquadrias e as 
respectivas molduras. Foram identificadas as seguintes cores para esquadrias e 
molduras: vermelho, amarelo, azul, verde, bege, rosa, marrom, cinza e branco. 
Na fachada do Grande Hotel, predominam a pedra do Itacolmi na base, o 
branco na alvenaria e esquadrias, sendo apenas as treliças de madeira e brises 
pintados na cor azul. 
Na questão das cores, existe uma certa integração com o entorno, 
apesar das esquadrias serem predominantemente brancas, pelo fato de existir o 
contraste do fundo branco com o azul das treliças e brises. O contraste é 
semelhante ao que acontece no entorno, no que se refere às cores de alvenaria e 
esquadrias. 
 
4. CONSIDERAÇÕES SOBRE A INSERÇAÕ DO GRANDE HOTEL 
EM OURO PRETO 
 
 10
 
Fig. 2 – O Grande Hotel na paisagem de Ouro Preto. 
 
A análise interdiscursiva proposta por Helena H. Nagamine Brandão 
(1994) em Análise do Discurso se aplica nesse estudo de caso em dois pontos: 
 
1. O estudo da especificidade de um discurso se faz colocando-o em 
relação com outros discursos8. 
 
A coexistência de discursos diferenciados no sítio, desde que autênticos 
e condizentes com legislação de proteção, pode então, assumir um caráter 
positivo. Quando observa-se uma construção nova no sítio histórico, novo e 
antigofrente a frente, a idade da construção antiga parece ser realçada. Ou seja, 
a especificidade do discurso é valorizada a partir da comparação com outros 
discursos. 
É notória a diferença de discurso entre a arquitetura modernista e a 
arquitetura colonial. O discurso arquitetônico do século XVIII em Ouro Preto 
atendia bem as necessidades e padrões do seu tempo, tanto que grande parte 
das edificações teve seu interior modificado para atender às necessidades 
contemporâneas. A linguagem arquitetônica dessa época está lá e é o motivo 
pelo qual a cidade foi eleita como Patrimônio da Humanidade, motivo também 
pelo qual os discursos posteriores devem respeitar a linguagem da arquitetura 
existente para que o sítio não seja descaracterizado. 
 
8 BRANDÃO, Helena H. Nagamine. Introdução à análise do discurso. 3ª edição. 
Campinas: Editora da UNICAMP, 1994, p.72. 
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4. Ritmo 
 
As fachadas das edificações antigas possuem um traçado regulador 
baseado num ritmo de cheios e vazios, com predominância de cheios sobre 
vazios, quase que em equivalência. O Percentual predominante é 25-50% de 
aberturas com 72%, até 25% o percentual é de 15%, de 50-75% o percentual é 
de 7.7% e maior que 75%, corresponde a 5.3%. Pode-se concluir sobre análise 
comparativa de percentual de aberturas, que na maior parte dos edifícios 
analisados, o panejamento de paredes prevalece sobre o vazado das aberturas, 
resultando num entorno com volume predominante mais fechado que vazado. 
O Grande Hotel diferencia-se pelo grande percentual de aberturas, no total de 
85%. 
 
5. Cor 
 
A cor predominante nas edificações é a branca, que corresponde à 
pintura da alvenaria. Algumas poucas edificações possuem a alvenaria pintada 
nas cores azul, salmão, rosa e marfim.As esquadrias possuem cores bem 
diversificadas, ocorrendo às vezes, diferenciação entre a cor das esquadrias e as 
respectivas molduras. Foram identificadas as seguintes cores para esquadrias e 
molduras: vermelho, amarelo, azul, verde, bege, rosa, marrom, cinza e branco. 
Na fachada do Grande Hotel, predominam a pedra do Itacolmi na base, o 
branco na alvenaria e esquadrias, sendo apenas as treliças de madeira e brises 
pintados na cor azul. 
Na questão das cores, existe uma certa integração com o entorno, 
apesar das esquadrias serem predominantemente brancas, pelo fato de existir o 
contraste do fundo branco com o azul das treliças e brises. O contraste é 
semelhante ao que acontece no entorno, no que se refere às cores de alvenaria e 
esquadrias. 
 
4. CONSIDERAÇÕES SOBRE A INSERÇAÕ DO GRANDE HOTEL 
EM OURO PRETO 
 
 10
 
Fig. 2 – O Grande Hotel na paisagem de Ouro Preto. 
 
A análise interdiscursiva proposta por Helena H. Nagamine Brandão 
(1994) em Análise do Discurso se aplica nesse estudo de caso em dois pontos: 
 
1. O estudo da especificidade de um discurso se faz colocando-o em 
relação com outros discursos8. 
 
A coexistência de discursos diferenciados no sítio, desde que autênticos 
e condizentes com legislação de proteção, pode então, assumir um caráter 
positivo. Quando observa-se uma construção nova no sítio histórico, novo e 
antigo frente a frente, a idade da construção antiga parece ser realçada. Ou seja, 
a especificidade do discurso é valorizada a partir da comparação com outros 
discursos. 
É notória a diferença de discurso entre a arquitetura modernista e a 
arquitetura colonial. O discurso arquitetônico do século XVIII em Ouro Preto 
atendia bem as necessidades e padrões do seu tempo, tanto que grande parte 
das edificações teve seu interior modificado para atender às necessidades 
contemporâneas. A linguagem arquitetônica dessa época está lá e é o motivo 
pelo qual a cidade foi eleita como Patrimônio da Humanidade, motivo também 
pelo qual os discursos posteriores devem respeitar a linguagem da arquitetura 
existente para que o sítio não seja descaracterizado. 
 
8 BRANDÃO, Helena H. Nagamine. Introdução à análise do discurso. 3ª edição. 
Campinas: Editora da UNICAMP, 1994, p.72. 
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Oscar Niemeyer, mais que fazer um fingimento colonial, já que seria 
inviável fazer uma réplica, estabeleceu um diálogo com o entorno, deixando 
muito clara a diferença de idade das construções. 
O discurso utilizado no Grande Hotel, apesar da referência aos 
materiais do entorno, é notado também por suas diferenças, que deixam bem 
claro que não pertence à mesma época que o entorno. Isso reafirma a 
“modernidade” do Hotel diante do sítio, e também reafirma a “antiguidade” do 
sítio diante do Hotel, como um sinal de continuidade histórica. 
 
2. O interdiscurso passa a ser o espaço de regularidade pertinente, do 
qual os diversos discursos seriam senão componentes. Esses discursos 
teriam sua identidade estruturada a partir da relação interdiscursiva e 
não independentemente uns dos outros para depois serem colocados em 
relação9. 
 
O espaço interdiscursivo entre o Grande Hotel e o sítio possui vários 
pontos em comum. O discurso mesmo dentro dos preceitos do modernismo 
encontra raízes na arquitetura local. 
Na medida em que retiramos de um discurso fragmentos que inserimos em 
outro discurso, fazemos com esta transposição mudar suas condições de 
produção, a significação desses fragmentos ganha nova configuração semântica. 
Niemeyer conseguiu utilizar elementos arquitetônicos utilizados no 
sítio com uma leitura completamente nova, promovendo diálogo entre as 
construções. 
As venezianas, típicas da arquitetura colonial foram também utilizadas, 
além das treliças de madeira utilizadas nos brises e nos balcões individuais que 
protegem os quartos, fazendo uma leitura dos muxarabies. Também foi 
utilizado um painel de azulejos em azul e branco – herança portuguesa da 
arquitetura barroca no Brasil - na parede posterior à rampa. A Igreja de Nossa 
Senhora do Carmo (1766-1772) possui também um painel de azulejos com 
cenas alusivas à ordem do Carmo. 
Que existe uma diferença de discurso, não há menor dúvida. Mas a 
pedra do Itacolomi, as venezianas, os muxarabies, os azulejos e as telhas 
coloniais, estão presentes em Ouro Preto – no discurso colonial e no 
modernista – para garantir que Niemeyer conhecia a história e o discurso 
colonial, mas que a sintonia proposta por ele não queria ser um fingimento 
colonial. 
 
9 Idem. 
 12
Referências bibliográficas 
 
BRANDÃO, Helena H. Nagamine. Introdução à análise do discurso. 3ª edição. 
Campinas: Editora da UNICAMP, 1994. 
BROHM Jean-Marie. O que é a dialética?1ª edição. Lisboa: Edições 
Antídoto,1979. 
CAVALCANTI, Lauro Pereira. Moderno e Brasileiro: a história de uma nova 
linguagem na arquitetura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006. 
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO 
NACIONAL. Cartas Patrimoniais. Brasília: IPHAN, 1995. Caderno de 
documentos nº 3. 
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Oscar Niemeyer, mais que fazer um fingimento colonial, já que seria 
inviável fazer uma réplica, estabeleceu um diálogo com o entorno, deixando 
muito clara a diferença de idade das construções. 
O discurso utilizado no Grande Hotel, apesar da referência aos 
materiais do entorno, é notado também por suas diferenças, que deixam bem 
claro que não pertence à mesma época que o entorno. Isso reafirma a 
“modernidade” do Hotel diante do sítio, e também reafirma a “antiguidade” do 
sítio diante do Hotel, como um sinal de continuidade histórica. 
 
2. O interdiscurso passa a ser o espaço de regularidade pertinente, do 
qual os diversos discursos seriam senão componentes. Esses discursos 
teriam sua identidade estruturada a partir da relação interdiscursiva e 
não independentemente uns dos outros para depois serem colocadosem 
relação9. 
 
O espaço interdiscursivo entre o Grande Hotel e o sítio possui vários 
pontos em comum. O discurso mesmo dentro dos preceitos do modernismo 
encontra raízes na arquitetura local. 
Na medida em que retiramos de um discurso fragmentos que inserimos em 
outro discurso, fazemos com esta transposição mudar suas condições de 
produção, a significação desses fragmentos ganha nova configuração semântica. 
Niemeyer conseguiu utilizar elementos arquitetônicos utilizados no 
sítio com uma leitura completamente nova, promovendo diálogo entre as 
construções. 
As venezianas, típicas da arquitetura colonial foram também utilizadas, 
além das treliças de madeira utilizadas nos brises e nos balcões individuais que 
protegem os quartos, fazendo uma leitura dos muxarabies. Também foi 
utilizado um painel de azulejos em azul e branco – herança portuguesa da 
arquitetura barroca no Brasil - na parede posterior à rampa. A Igreja de Nossa 
Senhora do Carmo (1766-1772) possui também um painel de azulejos com 
cenas alusivas à ordem do Carmo. 
Que existe uma diferença de discurso, não há menor dúvida. Mas a 
pedra do Itacolomi, as venezianas, os muxarabies, os azulejos e as telhas 
coloniais, estão presentes em Ouro Preto – no discurso colonial e no 
modernista – para garantir que Niemeyer conhecia a história e o discurso 
colonial, mas que a sintonia proposta por ele não queria ser um fingimento 
colonial. 
 
9 Idem. 
 12
Referências bibliográficas 
 
BRANDÃO, Helena H. Nagamine. Introdução à análise do discurso. 3ª edição. 
Campinas: Editora da UNICAMP, 1994. 
BROHM Jean-Marie. O que é a dialética?1ª edição. Lisboa: Edições 
Antídoto,1979. 
CAVALCANTI, Lauro Pereira. Moderno e Brasileiro: a história de uma nova 
linguagem na arquitetura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006. 
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO 
NACIONAL. Cartas Patrimoniais. Brasília: IPHAN, 1995. Caderno de 
documentos nº 3. 
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