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Neurologia Morte Encefálica e Níveis de Consciência: CONSCIÊNCIA É a capacidade que o paciente tem de perceber a relação entre si e um ambiente abrangendo qualificações como subjetividades, sapiciências e autopercepção. Subjetividade→ previsão futura do que vai acontecer, já que você tem consciência da situação. NÍVEIS DE CONSCIÊNCIA: Escala subjetiva: ● Alerta/vigil ● Obnubilação/sonolência ● Confusão ● Estupor ● Coma Escala objetiva: ● Glasgow ● Four - Full Outline of UnResponsiveness Conteúdo da consciência: ● Cognição (mini mental, MOCA…) OBS: Estupor é o entorpecimento patológico das faculdades intelectuais, acompanhado de alterações motoras e sensitivas. A pessoa parece estar dormindo e é muito difícil de despertar. Quando acordado, não responde a perguntas ou não faz sentido. Volta a dormir quando não está sendo estimulado. Escala de Coma FOUR (Full Outline of UnResponsiveness): Escala de Coma de Glasgow: Neurologia Mini Exame do Estado Mental (MiniMental): Montreal Cognitive Assessment (MOCA): _______________________________________________ ● SISTEMA ATIVADOR RETICULAR ASCENDENTE (SARA): Formação reticular é uma parte do tronco encefálico que está envolvida em ações como os ciclos de sono, o despertar e a filtragem de estímulos sensoriais - para distinguir os estímulos relevantes dos irrelevantes. - Também é chamada de “Porteiro da consciência”, “centelha da mente” e “pântano neuronal” O SARA é uma rede de neurônios originários da ponte e do mesencéfalo, de projeção ascendente (diencéfalo e córtex) e descendente (influenciam os sistemas sensitivo-motores da medula espinhal), que, acredita-se ser parte integrante da indução e manutenção do estado de alerta/vigília. - O papel fundamental do SARA é controlar as transições sono-vigília, luta-ou-fuga, e a percepção consciente dos estímulos sensoriais (como luz, gostos, etc..). - Atua também filtrando os estímulos sensoriais antes que os mesmos sejam percebidos pelos núcleos diencefálicos e córtex cerebral. - A ação do SARA sobre o córtex cerebral se faz através das conexões da formação reticular com os núcleos do Tálamo, que modificam os potenciais elétricos de territórios muito grandes do córtex. - O coma e outros estados de inconsciência podem ser produzidos tanto pela destruição da SARA, como também pela inativação de grandes extensões da superfície cortical. Neurologia ● TÁLAMO BILATERAL: Tegmento paramediano da ponte e mesencéfalo. → núcleos paramedianos e para fasciculares, centros medianos e intralaminares do tálamo. - O tálamo é uma região de grande importância funcional e atua como estação de retransmissão para os principais sistemas sensitivos (exceto a via olfatória). - Está ainda, implicado no controle da motricidade (extrapiramidal), no comportamento emocional e no grau de ativação do córtex. Estímulo → SARA → tálamo → córtex → despertar _______________________________________________ Alteração dos Estados de Consciência ● Estado Vegetativo Persistente: → SARA e tálamo provavelmente preservados, já o córtex não. ● Olhos abertos (isso os diferencia dos pacientes em coma) ● Ciclo sono-vigília preservado ● Ausência de interação com o meio ● Incontinência fecal e urinária. ● Pacientes acamados e debilitados. ● Estado Minimamente Consciente: Tem menos lesão cortical do que o estado anterior, portanto, esse paciente vai ter um pouco de interação. - Olhos abertos + contato visual (lhe acompanha com os olhos). - Seguem objetos, verbalizações simples e eventuais. ● Estados Pseudo Comatosos: Se assemelha muito com o coma, mas o córtex, SARA e tálamo funcionam perfeitamente. Síndrome Locked In / Síndrome do encarceramento → É um estado de vigília e consciência com tetraplegia e paralisia dos pares cranianos inferiores, resultando em incapacidade para exibir expressões faciais, movimentar-se, falar ou comunicar-se, exceto por códigos mediante movimentos oculares. → A pessoa está totalmente consciente, mas desconecta o seu corpo do aspecto motor. Catatonia → O paciente fica sem interagir, mas tudo funciona. O paciente não sente prazer para nada. Comum em casos críticos de depressão. → A sua forma mais conhecida envolve uma posição rígida e imóvel que pode durar horas, dias ou semanas. (é mais neuro ou psicológico) Mutismo Acinético (abulia) → Se assemelha clinicamente com o catatonismo, mas há por trás do mutismo acinético uma lesão estrutural (é mais físico). Botulismo → Doença causada pela ação de uma potente toxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum. → Se desenvolve a partir da ingestão de alimentos contaminados, como o palmito. Neurologia → O paciente fica acordado, tudo ativo, porém não ocorre liberação de acetilcolina. Pode chegar sem abertura ocular, sem interação nenhuma. → Os sintomas incluem dificuldade para engolir ou falar, fraqueza facial e paralisia. → O tratamento inclui injeção de antitoxina e assistência respiratória. ● LOCKED IN → SARA preservado. → Desaferentação = lesão das vias piramidais → ECG normal. O paciente cursa com ativação e conteúdos preservados, portanto não é um coma. - A linguagem está preservada, mas a fala não. - O paciente pode se comunicar com sinais, piscando o olho para cima e para baixo, mas ele está preso em seu próprio corpo. - Tetraplegia + Anartria + paralisia do olhar horizontal. OBS: Preserva olhar vertical e piscamento, pois há uma lesão na região anterior da ponte, o núcleo do nervo abducente (sendo assim ele fica ‘bloqueado’) e só quem funciona é o nervo oculomotor, que movimenta os olhos para cima e para baixo. ● COMA Pode haver lesão no tálamo, SARA e córtex cerebral. - Perda da interação com o meio e das respostas, mas pode ser reversível. ● MORTE ENCEFÁLICA Representa o estado clínico irreversível em que as funções cerebrais (telencéfalo e diencéfalo) e do tronco encefálico estão irremediavelmente comprometidas. - Por mais que o SARA ainda funcione, não adianta, pois o córtex e o tálamo não funcionam. - Perdeu todas as funções de tronco, zero resposta. OBS: Na morte cerebral ocorre umaperda definitiva das funções do cérebro e, por isso, a recuperação não é possível. Já o coma é uma situação em que o paciente mantém algum nível de atividade cerebral, que pode ser detectado num eletroencefalograma, e há esperança de recuperação. _______________________________________________ PROTOCOLO DE MORTE ENCEFÁLICA: - 2 exames clínicos - 1 teste de apneia - 1 exame complementar comprobatório → Primeira etapa: Para o diagnóstico de ME, é essencial que todas as condições a seguir sejam observadas. 1. Pré-requisitos: - Presença de lesão encefálica de causa conhecida, irreversível e capaz de causar a ME; - Ausência de fatores tratáveis que possam confundir o diagnóstico de ME; - Tratamento e observação em ambiente hospitalar pelo período mínimo de 6 horas. OBS: Quando a causa primária do quadro for encefalopatia hipóxico-isquêmica, esse período de tratamento e observação deverá ser de, no mínimo, 24 horas; Critérios: Temperatura corporal (esofagiana, vesical ou retal) > 35°C, saturação arterial de oxigênio > 94% e pressão arterial sistólica ≥ a 100 mmHg ou pressão arterial média ≥ a 65 mmHg para adultos. 2. Exames clínicos:é preciso realizar 2 exames clínicos por dois médicos diferentes, não envolvidos com as equipes transplantadoras, para confirmar a presença do coma e a ausência de Neurologia função do tronco encefálico em todos os seus níveis, com intervalo mínimo de 1 hora em pacientes com idade acima de 2 anos. - Intervalo entre as avaliações: 3. Teste de apneia: Para confirmar a ausência de movimentos respiratórios após estimulação máxima dos centros respiratórios em presença de PaCO2 > 55 mmHg. Desconexão do respirador, O2 por sonda, ausência de bradicardia, hipotensão e hipóxia. Via arterial para PIA e gasometria. PCO2>55 mmHg sem incursões respiratórias confirma a presença de apneia. 4. Exames complementares:Para confirmar a ausência de atividade encefálica, caracterizada pela falta de perfusão sanguíneaencefálica, de atividade metabólica encefálica ou de atividade elétrica encefálica.... → Segunda etapa: 1. Distúrbio hidroeletrolítico, acidobásico/ endócrino e intoxicação exógena graves: ATENÇÃO! A hipernatremia grave refratária ao tratamento não inviabiliza determinação de ME, exceto quando é a única causa do coma. 2. Hipotermia:Temperatura retal, vesical ou esofagiana < 35°C. 3. Fármacos com ação depressora do sistema nervoso central (FDSNC): Fenobarbital, Clonidina, Dexmedetomidina, Morfina e outros, além de bloqueadores neuromusculares (BNM). OBS: Nas condições anteriormente citadas, deverá ser dada preferência a exames complementares que avaliam o fluxo sanguíneo cerebral, pois o EEG sofre significativa influência desses agentes nessas situações. AVALIAÇÃO TELENCEFÁLICA E DIENCEFÁLICA: → Paciente em estado de coma persistente, irresponsivo e aperceptivo. → Tomografia mostra lesão cerebral irreversível. Estimulação dolorosa central: você estimula o nervo trigêmeo e a resposta vem do nervo facial e periférica. Ex: faz uma pressão no dedão e vê que resposta facial o paciente vai ter. Ausência de resposta a dor = ausência de resposta aos estímulos dolorosos no côndilo da ATM, na região supra-orbitária ou no leito ungueal. Glasgow = 3 EXAME CLÍNICO DO TRONCO ENCEFÁLICO: - São reflexos próprios do tronco em que não há conexão com o córtex ou diencéfalo. Os testes consistem em: Neurologia Reflexo pupilar→ avalia o 2o nervo, mesencéfalo e 3o nervo Reflexo vestíbulo ocular→ estímulo agressivo (ex: água gelada) para os canais semicirculares provoca nistagmo. → Se o nistagmo apareceu não há morte encefálica. Testa o 8o nervo, a ponte, e mesencéfalo. - Ausência de obstrução do canal auditivo. - Cabeceira a 30º, sem fletir o pescoço. - Infundir 50 mL de NaCl 0,9% a 0 ºC através de uma sonda fina, introduzida delicadamente no canal auditivo. - Essa infusão deve ser lenta, através de seringa ou equipo. - Os olhos devem ser mantidos abertos, sob vigilância contínua por dois minutos para surpreender qualquer movimento ou desvio ocular Reflexo córneo-palpebral→ quando você passa um chumaço de algodão no olho do paciente e ele pisca. Se o paciente não piscar é indicativo de morte encefálica. Avalia-se o 5o nervo e a ponte. Reflexo óculo-cefálico→ se você movimentar a cabeça do paciente para um lado os olhos dele se movimentam para o outro. Avalia o 3o, 6o, 8o nervos, mesencéfalo e ponte. Neurologia Reflexo da tosse→ Por dentro do tubo do paciente entubado se coloca um cateter comprido que estimula a tosse. Se não tem tosse a probabilidade é de morte encefálica. Avalia o bulbo. Teste de apnéia→ Avalia o diencéfalo, bulbo e nervos periféricos autonômicos. Hiperventila o paciente, mas verifique a gasometria do paciente antes, depois desconecta o ventilador e instala um catéter traqueal de O2. → Apneia: distúrbio do sono que afeta a respiração de uma pessoa, fazendo com que ela pare de respirar uma ou mais vezes ao longo de uma única noite de sono) → Observa se aparecem movimentos por 10 min ou até quando pCO2 = 55 mmhg. Se der negativo é um indicativo de morte encefálica. → A prova deve ser interrompida se ocorrer dessaturação grave (< 75%), bradicardia ou hipotensão. Nessas condições, o teste será considerado válido se constatada apnéia em vigência da PaCO2 acima de 55 mmHg. Pré-requisitos: T> 32 graus, euvolêmico, PaCO² normal ou > 40 mmHg, PaO² normal ou > 100 mmHg - De preferência colher gasometria arterial antes. - Caso não ocorra movimentos respiratórios e a PaCO² final seja maior que 60 mmHg ou um aumento superior a 20 mmHg em relação a primeira gasometria, o teste é dito positivo. IMPORTANTE: ● Hipotermia pode inibir o centro respiratório. ● Não se deve afastar o diagnóstico de morte encefálica em caso da presença de reflexos medulares l(atividade reflexa medular): - Reflexos osteotendinosos (patelares) - Cutâneo-abdominal - Cutâneo-plantar em flexão ou extensão. Babinski - Cremastérico - Ereção peniana reflexa - Arrepio - Reflexos reflexores da retirada dos MMII ou MMSS - Reflexo tônico-cervical Exames Complementares: ● EEG – ausência de atividade elétrica cerebral ● SPECT – ausência de atividade metabólica encefálica ● Arteriografa do sistema carotídeo ou vertebro basilar – ausência de perfusão sanguínea cerebral Exames subsidiários: ● EEG ● Dopler transcraniano ● Angiografia cerebral ● Mapeamento cerebral com tecnécio ● Potencial evocado somatossensitivo(PESS) ● Tomografia por emissão de fóton único(SPECT) ● Tomografia por emissão de próton(PET) OBS: EEG - uso limitado se paciente em uso de drogas depressoras do SNC, hipotermia ou hipotensão. Aproximadamente 20% dos pacientes Neurologia que apresentam critérios clínicos compatíveis com ME podem ter alguma atividade ao EEG. Condutas após realizado o diagnóstico de ME: ● Comunicar o médico assistente ● Comunicar a família ● Se paciente é candidato a doação, mantê-lo em VM ● Comunicar a central de doação de órgãos. Caberá ao profissional de saúde deste órgão a responsabilidade de conversar com a família sobre doação de órgãos. Outras considerações: ● Após constatada a ME ainda existem diversas dificuldades, principalmente de alguns intensivistas em retirar DVA, ATB, NPT ● Retirar também a VM?? (Eutanásia?) → Mais difícil ● Crenças religiosas, amadurecimento profissional, desconhecimento de protocolos, falta de legislação mais clara ● Lembrar que Eutanásia é prover de meios para abreviar a vida do paciente. Em ME não existe mais vida Art. 1º→ É legal e ética a suspensão dos procedimentos de suportes terapêuticos quando determinada a morte encefálica em não-doador de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante, nos termos do disposto na Resolução CFM nº 1.480, de 21 de agosto de 1997, na forma da Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997 “O cumprimento da decisão mencionada no caput deve ser precedida de comunicação e esclarecimento sobre a morte encefálica aos familiares do paciente ou seu representante legal, fundamentada e registrada no prontuário. “
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