Buscar

modelos-deporte-iglesias-276-traduc

Prévia do material em texto

Modelos do esporte na Espanha 
 Iglesias X, Tarragó R. 
 
 
Modelos do Esporte na Espanha 
 
Xavier Iglesias, Rafael Tarragó 
 
Instituto Nacional de Educação Física da Catalunha (Universidade de 
Barcelona) 
 
 
Nas últimas décadas, os Jogos Olímpicos e os grandes eventos esportivos, que poderíamos 
considerar como esporte-espetáculo, monopolizaram os principais meios de comunicação e 
contribuíram para que o esporte se tornasse um fenômeno de massa. 
 
Porém, não podemos limitar o conceito de esporte ao modelo de rendimento desportivo, 
idealizado pelas grandes competições desportivas, nem ao esporte de base; o fenômeno 
desportivo ampliou sua gama de possibilidades, conduzindo ao surgimento e à consolidação de 
várias práticas físicas associadas a conceitos como Fitness e Wellness, que junto ao esporte 
competitivo tradicional geraram um setor econômico de grande alcance na sociedade 
espanhola do século XXI. 
 
A prática da atividade física do ponto de vista educacional (educação física curricular e 
atividades extracurriculares no entorno escolar), bem como da saúde (Fitness, Wellness...) 
merecem estudos aprofundados de análise e reflexão; neste artigo focamos na estrutura do 
esporte tradicional, observando-o de acordo com o modelo esportivo espanhol descrito pelo 
Conselho Superior de Desportos (CSD, 2010). 
 
1. Modelo de organização do esporte na Espanha 
 
O sistema jurídico espanhol foi decisivo para a composição do atual modelo organizacional do 
esporte na Espanha. A Constituição Espanhola de 1978 estabeleceu que o governo promoveria 
a educação física e o esporte e proporcionaria o uso adequado do lazer. A lei 10/1990, de 15 
de outubro, do esporte, estabeleceu as linhas de ação necessárias para adaptar o modelo de 
gestão do esporte às características da sociedade espanhola. Tudo isso, junto com outras leis 
posteriores, foram cruciais para moldar o sistema esportivo espanhol que sofreu uma profunda 
transformação, e que está em constante evolução. 
 
Muitos agentes estão envolvidos na organização do sistema esportivo espanhol, o que fez com 
que o fenômeno desportivo, que já é complexo por si só, seja de uma enorme dificuldade 
organizacional. "A organização do esporte na Espanha se baseia em um sistema de 
cooperação mútua entre os setores público e privado. Ambos os setores partilham 
responsabilidades na promoção e desenvolvimento das atividades e práticas físico-desportivas" 
(CSD, 2010). O sucesso do modelo organizacional do esporte espanhol está inevitavelmente 
sujeito às sinergias entre os agentes do setor público e do setor privado. 
 
 
Modelos do esporte na Espanha 
 Iglesias X, Tarragó R. 
 
 
LEGENDA 
Setor Público 
Conselho Superior de Desportos 
Direções Gerais dos Desportos das Comunidades Autônomas 
Autoridades Locais (Prefeituras, Assembleias, Conselhos) 
 
Setor Privado 
 
O Comitê Olímpico Espanhol 
Comitê Paraolímpico Espanhol 
As Ligas Profissionais 
Federações Desportivas Espanholas 
Federações Desportivas Autonômicas 
Associações Esportivas 
 
Sistema misto de financiamento público e privado 
 
ADO (Associação de Esportes Olímpicos) 
ADOP (Ajuda ao Esportista Objetivo Olímpico) 
 
Figura 1: Principais instituições que compõem estes setores (Fonte: CSD, 2010). 
 
 
 
Mas não só o sistema jurídico-desportivo e a estrutura desportiva (setor público e privado ao 
qual se conferiu poderes no que tange ao esporte) constituem o sistema desportivo espanhol, 
também o integram a infraestrutura esportiva, os recursos humanos e econômicos envolvidos 
no "evento esportivo". 
 
Sem dúvida, o enorme crescimento pelo qual passou o esporte na Espanha a partir da 
concessão da organização dos Jogos Olímpicos de Barcelona ’92, deveu-se ao fato de que se 
teve em consideração todos esses componentes que constituem o sistema desportivo, com 
grandes investimentos em instalações desportivas, dotações orçamentárias para as instituições 
públicas desportivas, ajudas financeiras a instituições do setor privado e a atletas,... 
2. Organização do setor público do esporte na Espanha 
 
O setor público do esporte na Espanha foi configurado a partir da intervenção pública no 
esporte, no qual cada Gestão assume responsabilidades em diferentes áreas territoriais, 
exercidas através do órgão administrativo que as atribuíram. 
 
Blanco (2010) descreve em sua tese de doutorado os modelos do esporte espanhol, a 
estrutura básica de organização do setor público no esporte, que se baseia em dois grandes 
 
Modelos do esporte na Espanha 
 Iglesias X, Tarragó R. 
 
eixos: O modelo desportivo estatal, comum a toda Espanha, e o modelo desportivo das 
Comunidades Autônomas, que são organizados de forma independente entre elas. 
 
A esses deve-se acrescentar o da Administração Local (prefeituras...), que também tem 
responsabilidades assumidas com o esporte. 
 
As principais instituições públicas que administram o esporte na Espanha são: 
 
 
2.1 Conselho Superior de Desportos (C.S.D.) 
 
Conforme indica a lei 10/1990, de 15 de outubro, do esporte, o C.S.D. é um Órgão Autônomo 
de natureza administrativa, ligado ao Ministério da Educação e Cultura, através do qual se 
exerce a ação da Administração do Estado no âmbito do esporte. 
 
 
2.2. Direções Gerais dos Esportes das Comunidades Autônomas 
 
As Comunidades Autônomas têm amplos poderes em política desportiva, resultado das 
responsabilidades assumidas nesta área em seus respectivos Estatutos de Autonomia e em 
outras normas legais de sua Comunidade. 
 
 
2.3. Autoridades Locais (Prefeituras, Assembleias, Conselhos) 
 
Segundo Burriel e Puig (1999), as Autoridades Locais, principalmente as Prefeituras, não só 
tem exercido atividades de apoio ao movimento desportivo, como também se tornaram agentes 
promotores ativos do mesmo, através das escolas desportivas municipais, Patronatos 
desportivos e associações desportivas locais. 
3. Organização do setor privado do esporte na Espanha 
 
Como indicado por Millán (2006), a organização do esporte na Espanha teve uma origem 
estritamente privada, totalmente independente dos poderes públicos, baseando-se em 
instituições associativas que assumiram a titularidade das competições e se auto-
regulamentaram. 
 
De qualquer forma, a realidade atual é bem diferente, "a organização do esporte espanhol está 
enquadrada no que poderíamos chamar de modelo intervencionista, caracterizado por uma 
ampla 'legalização específica' do fenômeno desportivo" (Burriel e Puig, 1999). 
 
As principais instituições privadas que administram o esporte na Espanha são: 
 
 
3.1 Comitê Olímpico Espanhol 
 
É uma associação sem fins lucrativos, cujo objetivo principal é desenvolver o movimento 
olímpico e difundir os ideais olímpicos. Integra as federações de modalidades olímpicas (28) e 
representa a Espanha no Comitê Olímpico Internacional. 
 
 
3.2 Comitê Paraolímpico Espanhol 
 
Está constituído de acordo com os princípios e regras do Comitê Paraolímpico Internacional, 
sendo uma organização sem fins lucrativos, com personalidade jurídica, plena capacidade de 
agir, patrimônio próprio e que se rege por regulamentação própria e pela aprovada pelo Comitê 
Paraolímpico Internacional. 
 
 
 
Modelos do esporte na Espanha 
 Iglesias X, Tarragó R. 
 
3.3 Federações desportivas espanholas 
 
São instituições privadas, com personalidade jurídica própria, de atuação em nível nacional, 
dedicadas à promoção, gestão e coordenação da prática de uma modalidade desportiva 
específica, compostas basicamente pelas federações desportivas de âmbito autonômico, 
associações ou clubes desportivos, atletas, técnicos, juízes, árbitros, Ligas Profissionais e 
outras instituições privadas interessadas na promoção e desenvolvimento desta modalidade 
desportiva. 
 
 
3.4 Federações desportivas autonômicas ou territoriais 
 
São instituições de características e finalidades semelhantes às anteriores, cuja atuação é o 
próprio âmbito territorial autonômico representando as federações desportivasespanholas em 
suas respectivas Comunidades Autônomas. 
 
 
3.5 Ligas Profissionais 
 
São instituições privadas, com personalidade jurídica própria e autonomia na sua organização 
interna e funcionamento em relação à federação desportiva espanhola correspondente (da qual 
faz parte) e integram os clubes que participam nas competições oficiais em nível profissional e 
estatal. Alguns exemplos são a Liga Profissional de Futebol (LPF), a Associação de Clubes de 
Basquetebol (ACB) e a Associação de Clubes de Handebol da Espanha (ASOBAL). 
 
 
3.6 Associações desportivas 
 
São associações privadas compostas por pessoas físicas ou jurídicas, cuja finalidade é 
promover um ou mais tipos de esportes, a prática desportiva de seus associados e a 
participação dos mesmos em atividades e competições desportivas. 
 
As associações desportivas, em conformidade com as disposições da Lei 10/1990, de 15 de 
outubro, do esporte, se classificam em clubes elementares, clubes básicos, clubes de esporte 
profissional e Sociedades Anônimas Desportivas. 
 
 
3.7 Centros de Fitness e Wellness 
 
Nos últimos anos, a iniciativa privada irrompeu com grande força no sistema esportivo 
espanhol. Sem dúvida, podemos afirmar que o grande impacto produzido pelo aparecimento 
destes centros de "saúde", provocou mudanças nos hábitos dos espanhóis e na concepção do 
lugar do esporte em nossa sociedade. 
4. Sinergias entre o setor público e privado do esporte na Espanha 
 
Fruto do entendimento entre os setores público e privado que mencionamos no início do artigo, 
como peça chave para o sucesso do modelo de organização do esporte na Espanha, surgiram 
o Programa ADO e o Plano ADOP. 
 
 
4.1 O Programa ADO (Associação de Desportos Olímpicos) 
 
O Programa ADO nasceu em 1988 como uma iniciativa básica para o apoio do esporte de elite 
em face da nomeação dos Jogos Olímpicos de Barcelona '92. Este apoio se concretizou 
através da entrada, pela primeira vez na história do esporte espanhol, de patrocinadores 
privados que tornaram possível o financiamento de planos específicos de preparação olímpica. 
 
 
Modelos do esporte na Espanha 
 Iglesias X, Tarragó R. 
 
O Programa Associação de Desportes Olímpicos (ADO) é composto pelo Conselho Superior de 
Desporte (CSD), o Comitê Olímpico Espanhol (COE) e a Rádio e Televisão Espanhola (RTVE) 
que formaram na época uma organização privada sem fins lucrativos que administra e 
direciona as contribuições financeiras que provêm dos patrocinadores e ao mesmo tempo 
controla o desenvolvimento de diferentes planos esportivos que as Federações olímpicas 
apresentam a cada ano. 
 
O financiamento privado que a ADO recebe dos patrocinadores é destinado, principalmente, a 
bolsas de estudos para apoiar atletas de elite da Espanha e também para lhes proporcionar as 
melhores condições de treinamento para atingir um ótimo rendimento. 
 
 
4.2 O Plano ADOP (Assistência ao Desportista Objetivo Paraolímpico) 
 
Em 27 de junho de 2005, é assinado pela primeira vez o Acordo com as instituições privadas 
para a criação e financiamento do Plano de "Assistência ao Desportista Objetivo Paraolímpico” 
(ADOP), com um orçamento inicial de 7,3 milhões de euros para o ciclo 2005-2008. Apoia mais 
de 400 atletas, treinadores e técnicos. 
 
5. O desenvolvimento do esporte nas Comunidades Autônomas. O exemplo 
da Catalunha 
 
Como comentamos anteriormente, as Comunidades Autônomas gozam de autoridade em 
política esportiva, dispõem de um sistema jurídico próprio e têm um modelo particular de 
organização do sistema esportivo. De maneira que o grau de desenvolvimento do sistema 
desportivo de cada Comunidade Autônoma depende, em grande parte, do esforço realizado 
por seu próprio governo autonômico. 
 
No caso da Catalunha, há anos vem se realizando uma importante aposta no esporte. São o 
Conselho Catalão de Esporte (CCE) e a Secretaria Geral de Esporte (SGE), os órgãos 
responsáveis pela administração, planejamento e execução da política desportiva da 
Generalitat (Governo da Catalunha), que está sendo desenvolvida de acordo com as seguintes 
bases: 
 
 O incremento da prática da atividade física, do esporte de lazer e do de competição. 
 
 A melhora do nível qualitativo das áreas que apoiam a prática desportiva (educacional, 
técnica, jurídica, médica,...). 
 
 O aumento e melhora da rede de equipamentos esportivos. 
 
 A projeção internacional do esporte catalão. 
 
 O apoio e promoção da associação representativa da cultura catalã. 
 
Mas o sucesso do modelo desportivo catalão não se deve apenas à ação destes dois e outros 
órgãos públicos, a grande parte da culpa cabe à intervenção do setor privado. As instituições 
do setor privado do esporte que tiveram e continuam tendo uma maior relevância no 
desenvolvimento do esporte na Catalunha são: 
 
5.1 As federações desportivas catalãs 
 
Constituídas por associações ou clubes desportivos, associações desportivas escolares, 
sociedades anônimas desportivas e outras instituições privadas sem fins lucrativos que incluem 
entre suas finalidades sociais o fomento e a prática da atividade física e desportiva, formadas 
também por atletas, árbitros e técnicos. Algumas das funções exercidas pelas federações são: 
- Planejar, promover, dirigir, regulamentar, coordenar, organizar e assumir a 
tutela de seu esporte. 
 
Modelos do esporte na Espanha 
 Iglesias X, Tarragó R. 
 
- Ordenar, organizar e autorizar as competições desportivas oficiais de seu 
esporte na Catalunha. 
- Prever, controlar e reprimir a dopagem, a violência e a discriminação em seu 
esporte. 
- Promover o fomento e a organização de competições e outras atividades 
desportivas com outras federações autonômicas e nacionais. 
- Colaborar com as atividades que se desenvolvam no âmbito do esporte escolar 
e universitário. 
- Criar, patrocinar ou incentivar as escolas para a formação de técnicos, 
treinadores e árbitros,... 
 
5.2 A União das Federações Esportivas da Catalunha (UFEC) 
 
Instituição representativa de todas as federações desportivas catalãs, cujos objetivos se 
dirigem à pesquisa e à proposta de ações comuns para a melhoria e o desenvolvimento do 
esporte catalão e para o seu incentivo externo e a promoção da atividade das seleções 
desportivas catalãs. É um órgão assessor da Secretaria Geral de Esporte. 
 
 
5.3. Os Conselhos Esportivos 
 
São agrupamentos desportivos formados por centros ou associações escolares, clubes, 
associações ou federações desportivas, e instituições municipais de gestão esportiva, 
prefeituras e conselhos municipais, que visam incentivar, organizar e promover as atividades 
esportivas na idade escolar em caráter não obrigatório. 
 
 
5.4. A União de Conselhos Esportivos da Catalunha (UCEC) 
 
Instituição que integra todos os conselhos desportivos da Catalunha, cujos objetivos, como 
acontecia com a UFEC, se dirigem à pesquisa e a proposta de ações comuns para a melhoria 
e o desenvolvimento do esporte catalão. Também é um órgão assessor da Secretaria Geral de 
Esporte 
 
5.5. Clubes ou Associações Desportivas 
 
Instituições formadas por pessoas físicas. Seus objetivos básicos são o fomento, o 
desenvolvimento e a prática continuada da atividade física e desportiva, sem fins lucrativos. 
São as instituições mais numerosas e constituem a base do esporte na Catalunha. O papel dos 
clubes catalães tem sido determinante para o desenvolvimento do esporte catalão e espanhol, 
comandando a organização esportiva do país, quando o grau de intervenção da Administração 
Estatal e Autonômica não havia ainda se desenvolvido. 
 
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
1. Blanco E (2010): Los modelos asociativos del deporte en España. Tesis Doctoral, INEFC 
Lleida. Universitat Lleida. 
2. Burriel, J.C. y Puig, N. (1999): Responsabilidades y relaciones entre el sector público y el 
privado en el sistema deportivo, en Subirats, J. (Editor) ¿Existe sociedad civil en España? 
Responsabilidades colectivas y valores públicos. Fundación Encuentro.Madrid. 
3. CSD (2010). Estructura del Deporte Español. Evolución y Síntesis. Consejo Superior de 
Deportes [http://www.csd.gob.es/csd/legislacion/estructura-del-deporte-espanol/3-
estructura-del-deporte-espanol/] Consulta: octubre 2010. 
4. Millán A. (2006): Régimen Jurídico de las Entidades Deportivas Andaluzas. Signatura 
Ediciones. Sevilla

Continue navegando

Outros materiais