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@medcomtais INTRODUÇÃO Doença causada pelo Mycobacterium tuberculosis (Bacilo de Koch) e, mais raramente, por outras bactérias do complexo M. tuberculosis, como Mycobacterium bovis. Caracteriza-se por: • Apresentar-se com: granulomas epiteloides com necrose caseosa nos órgãos afetados. • Reservatório: ser humano doente (forma pulmonar bacilífera) e, excepcionalmente, gado bovino doente • Transmissão de pessoa a pessoa: via respiratória, por tosse, fala e espirros • Período de transmissibilidade: durante toda a evolução da doença pulmonar, em indivíduos bacilíferos não tratados, e até 2 semanas após o início do tratamento • Período de incubação: 4 a 12 semanas após a infecção surgem lesão pulmonar primária e adenomegalia hilar/mediastinal (primoinfecção tuberculosa). PATOGENICIDADE DO BACILO DE KOCH •O bacilo da tuberculose pode causar lesão em qualquer órgão •Cerca de 90% dos casos de tuberculose são da forma pulmonar e, desses, 60% são bacilíferos •Formas extrapulmonares são mais frequentes em crianças e pacientes imunossuprimidos •Sempre investigar associação entre tuberculose e HIV/Aids. ATENÇÃO •Doença de notificação compulsória. FATORES DE RISCO • Contato com pacientes bacilíferos • Populações institucionalizadas (albergues, hospitais psiquiátricos, asilos, presídios) • Condições socioeconômicas precárias • Exposição profissional • Etilismo/dependência química • Desnutrição • Doenças ou condições imunossupressoras (HIV, diabetes, insuficiência renal crônica, linfomas, uso de corticoides, uso de imunossupressores ou de inibidores do fator de necrose tumoral alfa [TNF-α]). FORMAS CLÍNICAS Tuberculose primária progressiva ou disseminada @medcomtais Decorre da disseminação da primoinfecção, por deficiência da imunidade celular, alta carga bacilífera ou virulência. Mais frequente em crianças e indivíduos imunodeprimidos. Categoriza-se em: • Forma precoce (1 a 6 meses após a infecção): o Início abrupto, com febre o Tosse escassa ou ausente o Quadro consumptivo mais rápido na disseminação hematogênica o Adenomegalia hilar, mediastinal, cervical ou em outras cadeias o Comprometimento pulmonar segmentar ou lobar o Consolidação em cavitação o Derrame pleural o Atelectasia o Tuberculose miliar e meningite tuberculosa • Forma tardia: o Febre prolongada o Comprometimento de qualquer órgão ou sistema, principalmente osteoarticular, renal, pulmonar e sistema nervoso central (SNC) o Evolução insidiosa. Tuberculose pós-primária ou secundária • Forma clínica mais comum, sendo mais frequente em adultos • Indica reativação endógena de foco já existente. Os bacilos podem permanecer latentes (ILTB) por muitos anos, até que ocorra a reativação • O risco de reativação é maior nos primeiros anos pós-infecção, mas pode ocorrer em qualquer fase da vida • A tuberculose secundária também pode decorrer de reinfecção exógena (nova carga bacilar) • Forma pulmonar ou extrapulmonar. Tuberculose pulmonar • Na fase inicial é oligo ou assintomática • Com a progressão da doença, surge febre baixa, vespertina • Emagrecimento • Sudorese noturna • Tosse crônica com expectoração mucopurulenta • Nas fases avançadas, evidenciam-se cavitações pulmonares e eliminação de escarros hemoptoicos ou hemoptise • Lento comprometimento do estado geral • Deve-se suspeitar da doença em caso de tosse por tempo igual ou superior a 3 semanas (sintomático respiratório) • Para interromper a cadeia de transmissão, é fundamental a descoberta precoce de casos bacilíferos. Tuberculose pleural (pleurite tuberculosa) • Em cerca de 30% dos casos, está associada à tuberculose pulmonar • Forma mais comum de tuberculose extrapulmonar • Evolução insidiosa • Febre baixa, emagrecimento e dor pleurítica • Dispneia decorrente de derrame pleural Tuberculose linfonodal @medcomtais •Principalmente linfonodos cervicais e axilares •Massas confluentes, raramente com sinais flogísticos; tendência à formação de fístulas •Emagrecimento •Febre pouco elevada. Tuberculose geniturinária •Evolução crônica; raramente ocorrem manifestações sistêmicas •Dor abdominal •Disúria, urgência miccional •Hematúria •Alterações menstruais •Infertilidade •Orquite/epididimite. Tuberculose osteoarticular •Coluna vertebral e as articulações coxofemoral e do joelho são os locais mais acometidos •Febre baixa ou ausente •Dor no local afetado •Atrofia muscular •Limitação dos movimentos •Deformidades. Tuberculose intestina Também denominada peritonite tuberculosa, é a infecção do peritônio causada pelo Mycobacterium tuberculosis, geralmente secundária a outro foco da doença (pulmonar, gastrintestinal, mesentérico ou tubário). Os principais achados histopatológicos são granulomas com caseificação no peritônio e fibrose. É mais frequente em adultos jovens •Formas clínicas: exsudativa ou ascítica e fibroadesiva •Manifestações clínicas: ■Febre, adinamia, anorexia, emagrecimento, ascite ■Massas abdominais (espessamento do epíploo, aderências, pseudocistos ou linfadenite mesentérica) •Diagnóstico diferencial: ■Carcinomatose peritoneal ■Câncer de ovário ■Cirrose hepática •Exames complementares: ■Exame do líquido ascítico: aspecto amarelo-citrino com alta taxa de proteína (> 3 g%); gradiente de albumina soroascite < 1,1; citometria > 300 células/mm3, com predomínio de linfócitos ■Ultrassonografia: ascite com nodularidades no peritônio, ascite septada por traves de fibrina ■Radiografia do tórax: pode evidenciar lesões pulmonares (tuberculose pulmonar) ■Videolaparoscopia: nódulos esbranquiçados (granulomas) e bridas fibróticas ■Biópsia •Comprovação diagnóstica: ■Dados clínicos + videolaparoscopia + biópsia peritoneal ■Diagnóstico etiológico: demonstração do M. tuberculosis raramente é obtida •Tratamento: tratamento específico (ver adiante) •Evolução: cura com tratamento adequado. Tuberculose do sistema nervoso central •Tuberculose meníngea e tuberculose do parênquima cerebral (tuberculoma, cerebrite e abscesso) •Início insidioso •Febre moderada •Astenia, cefaleia @medcomtais •Com a progressão da doença, aparecem sinais e sintomas de hipertensão intracraniana e de vasculite do SNC (vômitos, alterações visuais, irritabilidade, distúrbios do comportamento, confusão mental, alteração do nível de consciência, torpor e coma) •Sinais neurológicos focais (paralisia de nervos cranianos [II, III IV, VI, VII], hemiparesias e convulsões) •Tuberculomas e abscessos (sinais e sintomas relacionados com o efeito de massa no SNC) •Elevada morbimortalidade. Pericardite tuberculosa •Início insidioso, manifestações clínicas relacionadas com o derrame pericárdico •Geralmente não está associada à tuberculose pulmonar, embora possa ocorrer simultaneamente com tuberculose pleural •Febre elevada e comprometimento do estado geral são menos frequentes •Em geral, pode evoluir como pericardite crônica. Outras manifestações clínicas •Ocular •Cutânea. Tuberculose intestinal O íleo terminal e o ceco são as localizações preferenciais da tuberculose intestinal. Na maioria dos casos, decorre da deglutição de escarro de pacientes bacilíferos. A partir das lesões da submucosa (folículos linfoides das placas de Peyer) e das camadas musculares, os bacilos podem atingir a cavidade peritoneal. Em regiões onde o gado se encontra infectado com Mycobacterium bovis, as lesões podem ser primárias, originando-se do leite contaminado consumido pelos pacientes. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL •Tuberculose pulmonar: micobacterioses não tuberculosas (MNT), pneumonia, abscesso, bronquiectasia, infecções fúngicas (histoplasmose, criptococose, aspergilose paracoccidioidomicose), sarcoidose, carcinoma broncogênico (principalmente o de células escamosas),linfomas, sarcoma de Kaposi, metástases •Tuberculose linfonodal: adenites bacterianas inespecíficas, infecções fúngicas (paracoccidioidomicose, histoplasmose, criptococose), infecções por micobactérias não tuberculosas, toxoplasmose, doenças linfoproliferativas, doença da arranhadura do gato •Tuberculose pleural: empiema, linfoma, derrames neoplásicos, artrite reumatoide •Tuberculose geniturinária: cálculo, tumor, malformações, sequelas de doença inflamatória pélvica •Tuberculose osteoarticular: osteomielite e artrite bacterianas inespecíficas, neoplasias •Tuberculose intestinal: doença inflamatória intestinal (doença de Crohn), paracoccidioidomicose, colite amebiana •Tuberculose do SNC: meningoencefalite viral, fúngica (principalmente criptococose), abscessos, neoplasias, sarcoidose e lúpus eritematoso sistêmico •Tuberculose pericárdica: pericardite aguda idiopática, pericardite urêmica, hidropericárdio (síndrome nefrótica, insuficiência cardíaca) @medcomtais •Tuberculose ocular: toxoplasmose, citomegalovirose •Tuberculose cutânea: dermatoses crônicas. EXAMES COMPLEMENTARES •Testes rápidos moleculares (TRM). O Xpert MTB/RIF® Ultra, disponível na rede pública, detecta o DNA do M. tuberculosis e se há resistência à rifampicina: •Baciloscopia direta (pesquisa de bacilos álcool-acidorresistentes – BAAR) em duas amostras de escarro ou qualquer fluido corpóreo. Duas coletas matinais de escarro, espontâneo ou induzido por aerossol com solução de cloreto de sódio ou em lavado broncoalveolar: •Cultura. Realizar cultura quando o teste molecular for positivo, e mesmo quando negativo, persistindo a suspeita clínica e/ou radiológica de tuberculose. Na indisponibilidade do teste molecular, a cultura deve ser sempre realizada: •Radiografia do tórax (as alterações dependem da fase da doença): ■Tuberculose primária: crianças com consolidações de resolução lenta sem predileção por lobos, especialmente com linfadenomegalias hilares ■Tuberculose pós-primária: consolidações com predomínio nos lobos superiores e segmentos superiores dos lobos inferiores, com alta frequência de escavação; na doença ativa, observam-se micronódulos que caracterizam a disseminação broncogênica ■Na disseminação hematogênica (miliar), há micronódulos disseminados nos pulmões. No acometimento crônico, surgem atelectasias e retração cranial dos hilos ■Imunodeprimidos podem apresentar manifestações atípicas ■A tomografia computadorizada (TC) demonstra melhor os achados, porém deve ser reservada para casos especiais Critérios diagnósticos (Ministério da Saúde, 2018) •Critérios clínicos/epidemiológicos e exames complementares (imagem e/ou laboratorial) •Suspeita clínica (tuberculose pulmonar no adulto): tosse com expectoração por 3 ou mais semanas, febre, perda de peso •Identificação de BAAR (dois exames diretos ou cultura) em qualquer fluido ou secreção •Exame de imagem ou exame quimiocitológico de líquidos corpóreos ou exame histopatológico compatível com tuberculose •Crianças e adolescentes com baciloscopia negativa: sistema de pontuação para auxílio diagnóstico, com base em achados clínicos, radiológicos, PT, cicatriz vacinal (Bacillus Calmette-Guérin [BCG]) e história de contato com bacilífero. •Exames de imagem na tuberculose extrapulmonar: ecocardiografia, ultrassonografia, TC e ressonância magnética •Exame de LCR, líquido pleural, peritoneal ou pericárdico: achados inespecíficos (celularidade aumentada com predomínio linfomonocitário, aumento de proteínas e diminuição de glicose). Aumento da adenosina deaminase (ADA) acima de 40 UI/ℓ no líquido pleural é altamente sugestivo de tuberculose pleural •Exame de urina: hematúria e leucocitúria estéril @medcomtais •Broncoscopia, laparoscopia: avaliação morfológica e coleta de material para exames microbiológicos e/ou histopatológicos •Exame histopatológico: utilizado no diagnóstico das formas extrapulmonares e pseudotumorais dos pulmões. Identificação de granulomas com necrose caseosa com ou sem BAAR •Prova tuberculínica: a prova tuberculínica (PT) é utilizada para diagnóstico de ILTB e pode também auxiliar no de tuberculose ativa em crianças •Ensaios de liberação de interferona gama (IFN-g) (IGRA): alternativa diagnóstica para ILTB. COMPROVAÇÃO DIAGNÓSTICA •Diagnóstico etiológico: demonstração do M. tuberculosis (cultura ou testes de biologia molecular). COMPLICAÇÕES •Forma pulmonar: insuficiência respiratória, infecções pulmonares de repetição, bronquiectasias, hemoptise, atelectasias e empiemas •Formas extrapulmonares: fístulas, deformidades osteoarticulares, dores crônicas, alterações intestinais, pericardite constritiva, sequelas neurológicas. TRATAMENTO Medidas gerais •Abandonar tabagismo •Evitar bebidas alcoólicas •Tratamento ambulatorial na maioria dos casos •Nos casos de internação hospitalar, procede-se ao isolamento respiratório apenas para as formas pulmonares e laríngeas bacilíferas, durante as 2 primeiras semanas de tratamento •Em caso de infecção por cepa resistente, procede-se ao isolamento respiratório até que se obtenham exames diretos ou uma cultura negativos. Tratamento medicamentoso • Esquema básico para o tratamento da tuberculose em adultos e adolescentes, conforme estabelecido pelo Programa Nacional de Controle da Tuberculose o Rifampicina (R), isoniazida (Horas), pirazinamida (Z), etambutol (E) – indicações: ▪ Casos novos em adultos e adolescentes (≥ 10 anos), de todas as formas de tuberculose pulmonar e extrapulmonar (exceto a forma meningoencefálica ou osteoarticular), infectados ou não pelo HIV ▪ Retratamento: recidiva (independentemente do tempo decorrido do primeiro episódio) ou retorno após abandono com doença ativa em adultos e adolescentes (≥ 10 anos), exceto a forma meningoencefálica ou osteoarticular Observação: os medicamentos devem ser administrados preferencialmente em jejum (1 hora antes ou 2 horas após o café da manhã), em uma única tomada @medcomtais o Na meningoencefalite tuberculosa, deve ser associado corticoide: prednisona (1 a 2 mg/kg/dia por via oral [VO]) por 4 semanas ou dexametasona por via intravenosa (IV), nos casos graves (0,3 a 0,4 mg/kg/dia), por 4 a 8 semanas, com redução gradual da dose nas 4 semanas subsequentes • A fisioterapia deve ser iniciada o mais cedo possível • Esquema básico para o tratamento da tuberculose em crianças (< 10 anos) o Rifampicina (R), isoniazida (H), pirazinamida (Z) – indicações: ▪ Casos novos de crianças (< 10 anos), de todas as formas de tuberculose pulmonar e extrapulmonar (exceto a forma meningoencefálica), infectadas ou não pelo HIV ▪ Retratamento: recidiva (independentemente do tempo decorrido do primeiro episódio) ou retorno após abandono com doença ativa em crianças (< 10 anos), exceto a forma meningoencefálica.
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