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Slow Science: A Ciência sem Pressa

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Slow science
Posted By Thomaz Wood Jr. On 25 de maio de 2012 @ 11:47 In Sociedade | 13 Comments
O frenesi da globalização e seus descontentes. Consta que tudo começou com o cozinheiro Carlo
Petrini. Na década 1980, este italiano participou de uma campanha contra a abertura de uma loja
McDonald’s em Roma. Nasceu pouco depois o movimento Slow Food, voltado para a preservação da
cozinha regional e tradicional, contra a mesmice e a pressa do onipresente fast-food. O sucesso
cruzou fronteiras e atraiu seguidores em mais de 150 países. Na esteira, vieram o slow living, o slow
travel e o slow cities. Como guarda-chuva, cunhou-se o termo slow movement.
Um filósofo norueguês – Guttorm Floistad – conferiu ao movimento poesia e princípios: “A única
coisa que podemos tomar como certeza é que tudo muda. A taxa de mudança aumenta. Se você
quer acompanhar, melhor se apressar. Esta é a mensagem dos dias atuais. Porém, é útil lembrar a
todos que nossas necessidades básicas não mudam. A necessidade de ser considerado e querido! A
necessidade de pertencer. A necessidade de estar próximo e de ser cuidado, e de um pouco de
amor! E isso é conseguido apenas pela desaceleração das relações humanas. Para ganharmos
controle das mudanças, devemos recuperar a lentidão, a reflexão e a capacidade de estarmos
juntos. Então encontraremos a verdadeira renovação”.
Leia também:
Dilema de um artista: De Mozart a Cindy Sherman [1]
A cultura do desdém [2]
Novo solteirismo: Voo solo [3]
Agora, da terra do resistente Asterix, nos chega uma nova onda do slow movement: a slow science.
Seus arautos condenam a cultura da pressa e do imediatismo que invadiu, nos últimos anos, as
universidades e outras instituições de pesquisa. A fast science, segundo os rebeldes franceses,
busca a quantidade acima da qualidade. Aprisionados pela lógica do “produtivismo” acadêmico, os
pesquisadores tornam-se operários de uma linha insana de montagem. E quem não se mostrar
agitado e sobrecarregado, imerso em inúmeros projetos e atividades, será prontamente cunhado de
improdutivo, apático ou preguiçoso.
Os cientistas signatários da slow science entendem que o mundo da ciência sofre de uma doença
grave, vítima da ideologia da competição selvagem e da produtividade a todo preço. A praga cruza
os campos científicos e as fronteiras nacionais. O resultado é o distanciamento crescente dos valores
fundamentais da ciência: o rigor, a honestidade, a humildade diante do conhecimento, a busca
paciente da verdade.
A “mcdonaldização” da ciência produz cada vez mais artigos científicos, atingindo volumes muito
além da capacidade de leitura e assimilação dos mais dedicados especialistas. Muitos trabalhos são
publicados, engrossam as estatísticas oficiais e os currículos de seus autores, porém poucos são
lidos e raros são, de fato, utilizados na construção da ciência.
Os defensores da slow science acreditam que é possível resistir à fast science. Sonham com a
possibilidade de reservar ao menos metade de seu tempo para a atividade de pesquisa; de livrarem-
se, vez por outra, das demandantes atividades de ensino e das tenebrosas atividades
administrativas; de privilegiar a qualidade em detrimento da quantidade de publicações; e de
preservar algum tempo para os amigos, a família, o lazer e o ócio.
A eventual chegada da onda da slow science aos trópicos deve ser observada com atenção. Por
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aqui, cruzará com a tentativa de fomentar a fast science. Entre nós, o objetivo de aumentar a
produção de conhecimento levou à criação de uma slow bureau-cracy, que avalia e controla o
aparato científico. A implantação gradativa da lógica fast, com seus indicadores e suas métricas,
pretende definir rumos, estabelecer metas, ativar as competências criativas da comunidade científica
local e contribuir para a construção do futuro da augusta nação. Boas intenções!
Os efeitos colaterais, entretanto, são consideráveis. A lógica fast está condicionando os cientistas
operários a comportamentos peculiares. Sob as ordens de seus capatazes acadêmicos ou por
iniciativa própria, eles estão reciclando conteúdos para aumentar suas publicações; incluindo, em
seus trabalhos, como autores, colegas que pouco ou nada contribuíram; e assinando, sem inibição,
artigos de seus alunos, aos quais eles pouco acrescentaram. Tudo em prol da melhoria de seus
indicadores de produção.
Enquanto as antigas gerações vão se adaptando, aos trancos e barrancos, ao modo fast, as novas
gerações de pesquisadores já são formadas sob os princípios da nova doutrina. Aqui, como ao norte,
vão adotando o lema da fast science: publish or perish (publique ou desapareça). E, se o objetivo é
publicar, vale tudo, ou quase tudo. Para onde vão os cientistas e a ciência? O destino não é
conhecido, mas eles estão indo cada vez mais rápido.
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[1] Dilema de um artista: De Mozart a Cindy Sherman:
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[2] A cultura do desdém: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/a-cultura-do-desdem/?
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[3] Novo solteirismo: Voo solo: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/voo-solo/?
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