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PEDRO MEDEIROS MED 110 RESUMO DE EPIDEMIOLOGIA II Epidemiologia II MEPI: Métodos Epidemiológicos INVESTIGAÇÃO DE UM TEMA EM SAÚDE Estudo de caso: → Primeira abordagem de um tema: útil para levantar problemas. → Observar indivíduos com um mesmo evento – traçar perfil com principais características. → Fácil e baixo custo. → Poucos indivíduos e muito selecionados. → Subjetividade. → Falta de controle. Investigação experimental de laboratório: → Local adequado para estudos experimentais. → Redução da subjetividade: adoção de controles rigorosos. → Em animais, por questões éticas. → Extrapolação de resultados para seres humanos. Pesquisa qualitativa: → Incorpora o SIGNIFICADO e a INTENCIONALIDADE como inerentes aos atos, às relações, às estruturas sociais. → Permite entender o problema no meio em que ocorre, sem criar situações artificiais. Pesquisa populacional: → Abordagem central da epidemiologia. → Perfil de uma doença não é acidental, sua identificação pode produzir evidências de suas causas e mecanismos. → Perfil da doença é definido em função de sua ocorrência no espaço, tempo e segundo características das pessoas. → Melhorar nível de saúde da população, embora o nível primário seja o indivíduo. → Necessário para fazer inferências sobre relação entre fatores e doenças. → Utiliza métodos quantitativos para o estudo dos problemas de saúde. PROTOCOLO DE PESQUISA Estrutura de um projeto de pesquisa, descrita em um plano escrito. Instrumento usado na solicitação de recursos. Ajuda o investigador a organizar sua pesquisa de forma lógica, objetiva e eficiente. Elementos do protocolo: → Questão básica do estudo (objetivo): • Direciona o estudo para determinada abordagem metodológica. • Implica em estudo cuidadoso da literatura científica específica sobre o assunto. • O que quero fazer? O que quero provar? O que quero conhecer? • Levantamento de problemas: − Hipóteses geradas através de estudos descritivos. − Questões oriundas da prática e da experiência clínica. − Questões identificadas por meio da Vigilância Epidemiológica. − Conhecimento adquirido em outro local, com outra população. → População do estudo: • ALVO: Beneficiados pelos resultados do estudo. • ACESSÍVEL: População acessível ao estudo (residem na área, tratados nas unidades PEDRO MEDEIROS MED 110 RESUMO DE EPIDEMIOLOGIA II de saúde locais). • DE ESTUDO: Aqueles que efetivamente participam do estudo. → Variáveis do estudo (idade, tamanho da família, estado civil, etc.): • Quantificação/categorização das características de interesse do estudo. • Preditoras, de Desfecho, Confundidoras. • Devem representar o fenômeno de interesse do estudo. → Desenho do estudo: • Definido por meio da questão básica. • Intervenção x Observação. − Estudo experimental (ensaio clínico/experimento de campo): o Indivíduos DESIGNADOS a grupos exposto e não exposto. o Exposição é definida pelos pesquisadores. − Estudo observacional (coorte/caso-controle/transversal/descritivo): o Indivíduos DESIGNADOS a grupos exposto e não exposto. o Exposição é definida pelos pesquisadores. • Esquema de desenhos de estudo: • Classificação dos desenhos de estudo: − Unidades de análise: Indivíduos x Grupos. − Papel do investigador: Intervencionista x Observacional. − Referência temporal: o Transversal – não existe relação de tempo entre fatores e efeito. o Longitudinal (Prospectivo ou Retrospectivo) – variações ao longo do tempo, associa- ção entre exposição e fatores deve ser definida. ESTUDOS EXPERIMENTAIS PEDRO MEDEIROS MED 110 RESUMO DE EPIDEMIOLOGIA II Ensaios clínicos: → São estudos exclusivamente prospectivos. → Realizados em pacientes doentes. → Alocação do fator: • Randomizado: − “Verdadeiro experimento”. − Aleatória, distribuição homogênea das variáveis que podem influenciar o desfecho. − Evitar vieses de seleção. • Alocação voluntária: − “Quase-experimento”. − Alocação é feita pelos próprios pacientes, ou quando eles não têm chances iguais de se alocarem em qualquer um dos grupos. → Mascaramento/cegamento: • Reduzir o grau de subjetividade por parte do paciente e do investigador, por ocasião da avaliação do desfecho. • Evitar a ocorrência de vieses, especialmente relacionados com o conhecimento sobre a que grupo os indivíduos pertencem. • SIMPLES-CEGO: Pesquisador ou paciente cegados. • DUPLO-CEGO: Pesquisador + Paciente desconhecem o grupo do paciente. • TRIPLO-CEGO: Quem avalia os dados também desconhece o pertencimento. • NÃO-CEGOS/ABERTOS: Não costuma ser citado no trabalho. Em alguns casos, o ce- gamento não é possível. → Utilidade: avaliar eficácia de determinada intervenção. → Fases da experimentação: • Pré-clínica: síntese de novas drogas e estudos em animais. • Fase 1: ensaios de farmacologia clínica e toxicidade no homem (voluntários). • Fase 2: ensaios iniciais de investigação clínica da eficácia – estudos piloto, com pou- cos pacientes. • Fase 3: avaliação em larga escala do tratamento (ENSAIO CLÍNICO RANDOMIZADO). • Fase 4: vigilância pós-comercialização: monitoramento de efeitos adversos, estudos adicionais a longo prazo de morbidade e mortalidade. → Vantagens: • Alta credibilidade como produtor de evidências científicas. • Grupos têm mais chances de serem comparados em termos de variáveis de confusão. • Qualidade elevada dos dados, que podem ser coletados no momento em que os fa- tos ocorrem. • Cronologia dos acontecimentos não têm equívocos. • Muitos desfechos podem ser investigados simultaneamente. → Desvantagens: PEDRO MEDEIROS MED 110 RESUMO DE EPIDEMIOLOGIA II • Algumas situações não podem ser pesquisadas (praticidade e ética). • Caros e demorados. • Grupos investigados podem ser altamente selecionados (não representativos). • Participantes podem ser submetidos a tratamentos danosos, ou deixarem de receber tratamento potencialmente benéfico. • Impossível ajustar o tratamento conforme cada indivíduo e suas necessidades. → Aspectos éticos: • Grupo controle deve receber o melhor tratamento possível (ou placebo, quando não há tratamento ou não há evidências de que ele seja benéfico). • Interromper o estudo se a intervenção testada tiver resultados muito melhores. • Deve ser usado o menor tamanho de amostra adequado. • Consentimento livre e esclarecido. → Planejamento: • Tratamento avaliado/desfechos de interesse. • Como a resposta dos pacientes será avaliada. • Pacientes elegíveis: − Critérios de inclusão: idade, gênero, sintomas. − Critérios de exclusão: doenças concomitantes, tratamento prévio. → Monitorar: • Adesão ao protocolo – estudo pode ser abandonado a qualquer momento, o trata- mento precisa ser atrativo/confiável. • Efeitos adversos. • Perdas, avaliações incompletas, comparação entre tratamentos. • Análise das co-intervenções além das aplicadas pelo estudo. → Análise (entre os que, de fato, terminaram o tratamento): • Teste de qui-quadrado para avaliar diferenças significativas entre as proporções. EVENTO PRESENTE EVENTO AUSENTE Grupo tratado a b Grupo controle c d • Risco x Chance: − Risco do evento no grupo tratado: RT = a/(a+b). − Risco do evento no grupo controle: RC = c/(c+d). − Chance do evento no grupo tratado: CT = a/b. − Chance do evento no grupo controle: CT = c/d. • Redução Absoluta de Risco (RAR): RC - RT = RAR. • Risco Relativo (RR): RT/RC = RR. − Deve ser diferente de 1 para haver significância estatística. − Se for igual a 1, significa associação inexistente. → Vieses: • Perdas de seguimento/não cooperação. • Viés de aferição (informação). • Viés de publicação dos ensaios (tendência a publicar apenas os resultados positivos). → Validade: • Interna: − Validade do estudo em seu próprio contexto. − Cegamento, randomização, seguimento, tratamento dos grupos e seu efeito. • Externa: − Generalização dos resultados da amostraestudada. − Variações de pacientes, fatores de gravidade e etnoculturais, custo benefício, risco. − Apenas se houver validade interna. PEDRO MEDEIROS MED 110 RESUMO DE EPIDEMIOLOGIA II Experimentos de campo: → São estudos exclusivamente prospectivos. → Profiláticos. → Características semelhantes às do ensaio clínico, porém, são estudos realizados em pa- cientes saudáveis. ESTUDOS OBSERVACIONAIS Estudos de coorte: → Grupo de indivíduos com características em comum que avançam em conjunto. → Sinônimos: estudos de seguimento, follow-up, prospectivos (termo inadequado). → Características: • Investigador acompanha o estudo – avalia o aparecimento de um efeito. • Comparação de grupos de indivíduos “sadios” (expostos e não expostos). • Planejamento deve prever o tempo de seguimento para que a doença se manifeste. → Análise: DOENTES SADIOS Grupo exposto a b Grupo não-exposto c d • Incidência entre expostos: a/(a+b). • Incidência entre não-expostos: c/(c+d). • RISCO RELATIVO DE EXPOSIÇÃO (RR): − RR = a/(a+b) c/(c+d) − Indica quantas vezes maior é o risco de um indivíduo exposto adquirir a doença em es- tudo, em relação ao indivíduo não exposto. − Existência de associação não significa necessariamente que a exposição seja risco. − Resultados podem ser graças a acaso, pois apenas uma amostra da população é estudada. − RR > 1, risco de doença; RR< 1, proteção contra a doença; RR = 1, ausência de associação entre o fator e a doença. → Fatores que influenciam a validade: • Viés de confundimento. • Viés de seleção – perda seletiva de seguimento. • Viés de informação. → Vantagens: • Permite conhecer a incidência (produz medidas diretas de risco). PEDRO MEDEIROS MED 110 RESUMO DE EPIDEMIOLOGIA II • Possível conhecer a história natural da doença. • Partindo de poucas exposições – conhecidos todos os efeitos incidentes • Alto poder analítico: − Evidências mais fortes de que associação possa ser causal. − Fornece informações sobre o período entre exposição e desfecho. → Desvantagens: • Longa duração – muito sujeito a perdas. • Custo muito elevado. • Não é adequado para doenças raras. • Resultados não são disponibilizados por longo tempo. Caso-controle: → Avaliar a chance de o caso ter sido exposto a determinado fator no passado em relação ao controle. → Avalia a associação entre a exposição ao fator de risco e a doença. → Cegamento não é possível, pois casos serão conhecidos – entrevistador treinado para tratar casos e controles igualmente. → Casos: • Incidentes: recrutados para o estudo à medida que são diagnosticados. • Prevalentes: − Inexistentes em estudos de coorte. − Podem diferir dos incidentes quanto à exposição (pacientes sobreviveram e modificaram seus hábitos de vida). − Identificação dos fatores não relacionados à etiologia, mas com a duração da doença. • Importante definir o que se considera caso e o que se considera exposição. • Deve-se definir a fonte dos casos: − Sistemas de Informação (dados secundários). − Unidades de Saúde (mais prático). − Busca ativa (mais difícil). → Controles: • Pessoas da mesma população que os casos, com a mesma chance de terem sido ex- postos, de modo a apresentarem máxima similaridade entre si. • Processo de seleção deve ser independente do status de exposição. • Tipos: do mesmo serviço de saúde, do mesmo local de trabalho, do mesmo bairro ou da mesma família (acompanhantes). → Tempo de seguimento: exclusivamente retrospectivo – história da exposição. → Análise: PEDRO MEDEIROS MED 110 RESUMO DE EPIDEMIOLOGIA II • Não é possível calcular Risco Relativo (RR): − Doença já ocorreu. − População controle é definida pelo pesquisador. • É possível estimar o risco pela RAZÃO DE CHANCE/ODDS RATIO (OR): − OR = 𝒂 𝒂+𝒄 / 𝒄 𝒂+𝒄 𝒃 𝒃+𝒅 / 𝒅 𝒃+𝒅 = 𝒂 . 𝒅 𝒃 . 𝒄 − Razão entre chance de caso ter sido exposto sobre chance de o controle ter sido exposto. − “Razão dos produtos cruzados”. − OR > 1, exposição é risco; OR< 1, exposição é proteção; OR = 1, ausência de associação entre o fator e a doença. → Vantagens: • Muito mais rápido que coorte. • Menor custo de execução. • Permite investigação simultânea de várias exposições. • Não há perdas de seguimento (estudos não são abandonados). • Ideal para investigar doenças raras. → Desvantagens: • Não é possível calcular incidência e risco relativo. • Possibilidade de vieses, erros sistemáticos. • Limitados ao estudo de um único desfecho (casos). • Inadequado para exposições raras. → Vieses: • De seleção: − Evitar casos-controle de base populacional. − Controles não constituem amostra representativa de quem originou os casos. − Grupos com exposições diferentes do que se observa na população em geral. • De informação: − MEMÓRIA: Casos se lembram mais das exposições que os controles. − MENSURAÇÃO: Obtenção de informações pode diferir entre casos e controles. • De confundimento. • Evitar: − Na fase de delineamento: o Especificação: eliminar pessoas com variáveis confundidoras. o Pareamento: por exemplo, para cada caso, dois controles. − Na fase de análise: o Estratificação: análise separada para a variável de confundimento. o Ajustes Estatísticos. Estudos transversais: → Fornecem retrato de como as variáveis estão relacionadas naquele momento. → Outras denominações: • Corte transversal: corte no tempo, descrição instantânea. • Prevalência: resultados que são obtidos são de prevalência. • Seccional: corte no fluxo histórico da doença. • Inquérito: questionário amplamente utilizado neste estudo. → Usos: • Problemas ou estudos relacionados com saúde, de baixa letalidade. • Descrever situações de saúde de uma população em determinada época: − Prevalência de exposição ou desfecho. − Momento único de observação, ainda que leve meses. − Utilizam amostras representativas da população – dificuldade de se realizarem PEDRO MEDEIROS MED 110 RESUMO DE EPIDEMIOLOGIA II investigações que incluam a sua totalidade. − Amostra Probabilística: toda a população tem probabilidade conhecida e dife- rente de zero de ser incluída na amostra. • Estimar dimensão/magnitude/extensão de uma ou mais enfermidades. • Leva ao planejamento de outros estudos analíticos. → Prevalência: DOENTES SADIOS Grupo exposto a b Grupo não-exposto c d • Entre expostos: a/(a+b). • Entre não expostos: c/(c+d). • Razão de Prevalência (RP): − RP = a/(a+b) c/(c+d) − Pode sugerir associação da exposição à doença. − Estima quantas vezes a prevalência do desfecho é maior nos expostos comparados aos não-expostos. → Vantagens: • Simplicidade e baixo custo. • Rapidez: dados referem-se a um mesmo momento e podem ser coletados em curto intervalo de tempo. • Não há seguimento das pessoas – inexiste o risco de perdas. • Facilidade para obter amostra representativa da população. • Múltiplas exposições e múltiplos desfechos. • Único que fornece a prevalência da doença ou do fator de risco: − Informações úteis para o planejamento de serviços e programas. − Adequado para descrever a situação de saúde. → Desvantagens: • Condições raras exigem amostras de grande tamanho. • Possibilidade de erros de classificação. • Possibilidade de viés de prevalência. • Não determina diretamente a incidência. • Dados da exposição atual podem não representar a exposição passada. • Relação cronológica dos eventos não é detectável facilmente. → Erros e vieses: • Viés de prevalência: exclusão de óbitos precoces e casos curados. PEDRO MEDEIROS MED 110 RESUMO DE EPIDEMIOLOGIA II • Viés de seleção: − Seleção depende de outro eixo de interesse (relacionado à exposição ou à doença). − Amostragem por conveniência, participantes voluntários. • Viés de informação: − Erros ou falhas na medida das variáveis de exposição ou da doença. − Uso de questionários validados. − Pesquisador deve ser treinadopara entrevistar todos uniformemente. • Causalidade reversa: exposição não é causa do desfecho, e sim consequência. ANÁLISE DE DADOS EPIDEMIOLÓGICOS Medidas de ocorrência: → Frequências (números absolutos). → Medidas de tendência central: média, moda, mediana. → Prevalência (estudos transversais). → Incidência/mortalidade. Medidas de associação: → Mensurar quantitativamente uma relação causal. → Expressar a magnitude da associação entre exposição e desfecho. → Tipos: • Risco Relativo (RR): razão entre dois riscos. • Razão de Chances/Odds Ratio (OR): razão dos produtos cruzados. • Razão de Prevalência (RP): razão entre duas prevalências. • Risco Atribuível (RA): − Diferença entre dois riscos (IE - INE). − Parte da incidência que pode ser atribuída a dada exposição. • Risco Atribuível Proporcional (RAP): − Calculado quando o RR é superior a 1. − Excesso de risco (RA) expresso com relação à incidência do grupo de expostos. − Porcentagem dos casos que poderiam ser evitados se o fator de risco fosse eliminado. − (IE - INE) x 100/IE • Risco Atribuível Populacional (RAPop): − Excesso de risco na população devido ao fator de risco. − Porcentagem dos casos que poderiam ser evitados se o fator de risco fosse eliminado. − Prevalência da exposição é considerada. − RAPop = P[RR - 1] P[RR - 1] + 1 x100 • Redução Relativa de Risco Proporcional (RRR): − Calculado quando o RR é inferior a 1. − Porcentagem de redução de casos com a ocorrência da exposição (fator de proteção). − (IE - INE) x 100/INE Medidas de significância estatística: → Chance de a associação entre doença e exposição ser devida ao acaso. → Grau de certeza de que determinada associação corresponde à realidade. → Muito importantes em qualquer associação verificada. → Tamanho da amostra, dimensões das medidas, padrão de distribuição de casos podem aparentar como fortes associações. → Valor de P (probabilidade de significância): • Ex: p<0,05 – Menos que 5 probabilidades em 100 que o achado seja devido ao acaso. • Hipótese nula (p>0,05): não há diferenças estatisticamente significativas. • Hipótese alternativa (p≤0,05): há diferenças estatisticamente significativas. PEDRO MEDEIROS MED 110 RESUMO DE EPIDEMIOLOGIA II → Intervalo de Confiança (IC): • Intervalo estimado de um parâmetro de interesse de uma população. • IC 95%; tamanho do intervalo está associado à precisão da estimativa. • Se o intervalo passa pelo 1, quer dizer que não é estatisticamente significativo.