Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PROBLEMA 1 1. CARACTERIZAR OS TRANSTORNOS ALIMENTARES (BULIMIA E ANOREXIA) - EPIDEMIO, ETIOLOGIA, QUADRO CLÍNICO: ANOREXIA ● É uma síndrome caracterizada por baixo peso com comportamentos voltados à manutenção deste; distorção da imagem corporal; medo intenso de engordar, sendo este o elemento psicopatológico central; além de alterações endócrinas que levam à amenorreia classicamente associada ao quadro. ● SINAIS CLÍNICOS - Emaciamento. - Hipotensão arterial. - Bradicardia. - Hipotermia. - Pele seca e escamosa. - Lanugo. - Edema periférico. - Petéquias. - Compleição pálida e doentia. - Hipertrofia de glândulas salivares. - Erosão do esmalte e dos dentes. - Sinal de Russel (cicatrizes e calos nas costas das mãos) BULIMIA ● É caracterizada por ciclos de compulsão alimentar seguidos de hábitos de compensação, purgativos ou não ● QUADRO CLÍNICO: - Há episódios recorrentes de compulsão alimentar. - Comportamentos compensatórios inapropriados (purgativos), para impedir o ganho de peso. Ex: vômitos induzidos, jejum, exercícios em excesso e uso indevido de laxantes,diuréticos e outros - Autoavaliação baseada unicamentepela forma e peso corporal; fatoresimportantes para sua autoestima - Para se considerar o diagnóstico é necessário que a compulsão e ocomportamento compensatório ocorram no mínimo 1x por semana durante 3 meses. - Em geral os indivíduos com transtorno sentem vergonha de seus problemas alimentares e tentam esconder os sintomas, assim, a compulsão alimentar ocorre de forma discreta. - Déficit de crescimento - Erosão dental - Periodontites - Hipertrofia das glândulas salivares - Hipovolemia - Desequilíbrio hidroeletrolítico (Alcalose metabólica + Redução de Na+, Cl-, Mg, K+) - Hematêmese - Amenorreia 2. CONHECER O DIAGNÓSTICO E O MANEJO DOS TRANSTORNOS ALIMENTARES (BULIMIA E ANOREXIA): ● ANOREXIA - Desidratação: aumento da uréia. - Indução de vômitos: alcalose metabólica (aumento do bicarbonato, hipocloremia e hipocalemia). - Diminuição do FSH causa diminuição de estrógeno e isso provoca amenorreia. - Hemograma: anemia, leucopenia, trombocitopenia. - Diminuição de T3 e T4. - Fezes positivas para sangue oculto. - EEC: anormalidades difusas. - Imagem cerebral: aumento dos ventrículos e sulcos corticais ● BULIMIA - Exames laboratoriais: - Eletrólitos: hipocalemia, hiponatremia, hipocloremia, hipomagnesia - Metabolismo: alcalose metabólica (perda de ácido gástrico por vomito); acidose metabólica(diarreia ou desidratação por uso de laxativos e diuréticos) - Gastrointestinal: da amilase sérica o ECG, glicemia de jejum, hemograma completo e avalição hormonal - Marcadores do nível de gravidade: o nível mínimo de gravidade baseia-se na frequência dos comportamentos compensatórios inapropriados; o nível de gravidade de acordo c/ a presença de outros sintomas e c/ o grau de incapacidade funcional: - Leve: média de 1-3 episódios de comportamentos compensatórios inapropriados por semana - Moderado: média de 4-7 episódios de comportamentos compensatórios inapropriados por semana - Grave: média de 8-13 episódios de comportamentos compensatórios inapropriados por semana - Extremo: média de 14 ou + comportamentos compensatórios inapropriados por semana - Risco de suicídio: ALTO. A avaliação completa de indivíduos c/ esse transtorno deverá incluir determinação de ideação e comportamentos suicidas, bem como outros fatores de risco p/ suicídio, incluindo histórias de tentativas prévias ● MANEJO: apoio psicológico + suporte nutricional 3. ENTENDER AS CONSEQUÊNCIAS DOS TRANSTORNOS ALIMENTARES (BULIMIA E ANOREXIA): 4. ENTENDER A CAQUEXIA (DEFINIÇÃO, EPIDEMIO, ETIOLOGIA, QUADRO CLÍNICO, DIAGNÓSTICO E MANEJO ● Caquexia: é a designação dada ao estado de extrema magreza com comprometimento do estado geral do paciente ● Definiram a caquexia como um “processo no qual há perda de peso e massa celular, em concomitância à redução da ingestão”. ● Considerando isso, o paciente com caquexia pode apresentar sintomas como anorexia, inflamação, resistência insulínica e a proteólise ● Resulta de alterações do paladar e olfato ou mudanças na regulação hipotalâmica.A desnutrição grave acompanhada de anorexia e astenia é denominada caquexia. ● Caquexia primária que é um tipo mais comum e resulta de interações metabólicas entre o tumor e o hospedeiro que levam ao consumo progressivo e frequentemente irreversível de proteína visceral, musculatura esquelética e tecido adiposo, e anorexia. ● Caquexia secundária que resulta da ingestão e absorção diminuídas, e recorda o jejum não-complicado ● A origem da SAC é multifatorial; ● Aumento do consumo energético pelo tumor + liberação de fatores que agem no centro da saciedade diminuindo o consumo alimentar + citocinas produzidas pelo hospedeiro e pelo tumor ➝ anormalidades metabólicas; ● QUADRO CLÍNICO - Perda de peso; - Atraso no desenvolvimento, no caso de crianças; - Deficiências nutricionais; - Má absorção intestinal; - Perda de massa muscular, conhecida como sarcopenia; - Náuseas; - Perda da habilidade motora; - Fraqueza; - Diminuição da atividade do sistema imunológico; - Cansaço excessivo; - Perda de apetite; - Anemia. ● DIAGNÓSTICO - O Estado Nutricional (EN) dos pacientes é usualmente avaliado pela combinação de parâmetros clínicos, antropométricos e laboratoriais. ● MANEJO - É imprescindível balancear os benefícios da terapia nutricional no controlados sintomas e na qualidade de vida do paciente com os problemas relacionados à terapia nutricional artificial, especialmente se por via parenteral, que pode incluir maior tempo de hospitalização e complicações do acesso venoso central. - Quando indicada, a primeira e melhor opção é a Terapia Nutricional Oral (TNO) com a utilização de complementos nutricionais associado ao aconselhamento nutricional. 5. COMPREENDER O MECANISMO DE AÇÃO E SEUS EFEITOS ADVERSOS DOS DIURÉTICOS E ANFETAMINAS EM RELAÇÃO A PERDA DE PESO: Anfetaminas Esses agentes agem estimulando fortemente o apetite e aumentando o gasto energético basal. Produzem perda de peso significativa (9 a 17kg em 12 semanas). As anfetaminas são estimulantes do SNC (Sistema Nervoso Central), capazes de gerar quadros de euforia, provocar a vigília, atuar como anorexígenos e aumentar a atividade autônoma dos indivíduos. Algumas são capazes de atuar no sistema serotoninérgico, aumentando a liberação de dois importantes neurotransmissores a noradrenalida e a dopamina. A biodisponibilidade aumentada desses neurotransmissores nas fendas sinápticas reduz o sono e a fome e provoca um estado de agitação psicomotora. Os usuários ficam mais desinibidos, excitados e hiperativos Diuréticos Esses fármacos vão retirar líquido corporal. Diuréticos de alça (alça ascendente de Henle): atuam ao inibir o co-transportador Na+/K+/2Cl- na alça ascendente espessa. Aumentam a perda de K+ e Ca+. Indicações: edema agudo de pulmão; hipertensão; ICC crônica; edema da síndrome nefrótica; ascite e cirrose hepática. Furosemida, bumetanida, ácido etacrínico, torasemida, piretanida ► Diuréticos tiazídicos (porção proximal do túbulo distal): atuam ao inibir o co-transporte Na+/Cl- no túbulo contorcido distal. Aumentam a perda de K+ e reduzem a perda de Ca+. Indicações: idosos; hipertensão sistólica isolada; prevenção secundária de AVE. Clortalidona, hidroclorotiazida, indapamida. ► Diuréticos osmóticos: atuam indiretamente por modificação são substâncias farmacologicamente inertes filtradas no glomérulo mas não reabsorvidas pelo néfron. A alça de Henle é o seu local de ação mais importante porém também age no túbulo contorcido proximal. Aumentam a excreção urinária de quase todos os eletrólitos, incluindo, sódio, potássio, cálcio, magnésio, cloro e fosfato. Indicações: redução da pressão e volume cefalorraquidiano; redução da pressão intra-ocular; redução do edema cerebral. Seu principal representante é o manitol. ► Diuréticos poupadores de potássio: antagonistasda aldosterona- inibem a ligação da aldosterona em seu receptor, evitando a reabsorção de sódio e excreção de potássio nos túbulos contornado final e coletor. Espironolactona Amilorida e Triantereno – inibidores dos canais de sódio nos segmentos finais do néfron (túbulo distal e ducto coletor). Não antagonizam a aldosterona. Usos terapêuticos: associado com espoliador de potássio; pseudoaldosteronismo; diabetes insípido. ►Inibidores da anidrase carbônica: ação no túbulo contorcido proximal. Causam diminuição do ritmo de filtração glomerular sem modificar o fluxo plasmático renal. Causam aumento da excreção urinária de sódio, potássio, bicarbonato e fosfato. Indicações: hipertensão intraocular; hipertensão intracraniana; insuficiência renal aguda. Acetazolamida e benzolamida. 6. CONHECER AS VIAS ALTERNATIVAS DE SUPORTE NUTRICIONAL: Nutrição enteral por sonda: Indica-se nutrição enteral para pacientes que apresentam trato gastrintestinal funcionante e não podem ingerir por via oral. - A nutrição enteral, comparada à nutrição parenteral, tem as seguintes vantagens: - Melhor preservação da estrutura e função do trato gastrintestinal; Menor custo; - Menos complicações, em particular infecções. - As indicações específicas para nutrição enteral são: Anorexia prolongada; Desnutrição proteico-calórica grave; Coma ou RNC; Falência hepática; Traumas na cabeça ou no pescoço. Doenças críticas (p. ex., queimaduras) que causam estresse metabólico. - Se a sonda enteral for necessária por ≤ 4 a 6 semanas, usam-se sondas nasogástricas ou nasoentéricas moles e de pequeno calibre (nasoduodenal ou nasojejunal) de silicone ou poliuretano. Se houver lesões ou deformidades nasais, a localização nasal pode ser prejudicada e, nesses casos, é possível utilizar uma sonda orogástrica ou oroentérica. - Se a sonda enteral por > 4 a 6 semanas normalmente exige gastrotomia ou jejunostomia, posicionada por via endoscópica, cirúrgica ou radiológica. - Pacientes devem estar na posição de 30 a 45° durante a administração da dieta e 1 a 2 h após para minimizar a incidência de pneumonia por aspiração, bem como para permitir que a gravidade ajude a propulsionar o alimento. Dietas enterais são oferecidas em bolus, várias vezes/dia, ou por infusão contínua. Nutrição paraenteral: - A nutrição parenteral é, por definição, administrada por via intravenosa. - A nutrição parenteral parcial fornece somente parte das necessidades nutricionais diárias, suplementando a ingestão oral. Muitos pacientes hospitalizados recebe glicose ou soluções de aminoácidos por esse método. - A nutrição parenteral total supre todas as necessidades nutricionais diárias. Pode ser utilizada tanto em hospitais como em domicílio. Como as soluções de NPT são concentradas, pode ocorrer trombose das veias periféricas, sendo necessário acesso venoso central. A nutrição parenteral não deve ser utilizada rotineiramente em pacientes com trato gastrintestinal intacto. - A NPT só deve ser indicada para pacientes com trato gastrintestinal não funcionante ou que apresentam distúrbios que requerem repouso intestinal, como: Alguns estágios da colite ulcerativa Obstrução intestinal Determinados distúrbios gastrointestinais pediátricos (p. ex., anomalias congênitas, diarreia prolongada, sejam quais forem suas causas) Síndrome do intestino curto decorrente de cirurgia. - A NPT requer água, energia, aminoácidos, ácidos graxos essenciais, vitaminas e minerais. - Escolher uma solução baseada na idade do paciente e estado da função dos órgãos: soluções diferentes são necessárias para recém-nascidos e para pacientes que têm função cardíaca, pulmonar ou renal comprometida. - Utilizar um acesso venoso central, com técnicas estritamente estéreis durante a inserção e manutenção. - Monitorar atentamente complicações nos pacientes (relacionadas com o acesso venoso central, alterações da glicemia, de eletrólitos e minerais; efeitos hepáticos ou na vesícula biliar; reações às emulsões lipídicas, e sobrecarga de volume ou desidratação). PROBLEMA 2 1. Definir a anemia pela OMS e seus valores de referência ● Anemia é definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como a condição na qual o conteúdo de hemoglobina no sangue está abaixo do normal como resultado da carência de um ou mais nutrientes essenciais. ● A Organização Mundial da Saúde (OMS) define anemia como a concentração de Hb inferior a 12 g/dL para mulheres pré-menopausa e inferior a 13,0 g/dL para homens e para mulheres na fase pós-menopausa, ambos os valores considerados para o nível do mar. A recomendação de adotar o valor de 13,0 g/dL 2. Conhecer os tipos de anemia agudas, carenciais, hemolíticas, não hemolíticas e genéticas ● Agudas: aquelas causadas pela grande perda de sangue, seja por sangramentos secundários a traumas, doenças que causam destruição das células sanguíneas ou ainda por uma agressão severa à medula óssea, de modo que a quantidade de células vermelhas circulando no sangue cai abaixo de níveis considerados. ● Anemias carenciais: As anemias carenciais são um grupo de anemias caracterizadas por apresentar carência de elementos fundamentais para a eritropoese: ferro, vitamina B12 ou folato ● Anemias hemolíticas - Esferocitose Hereditária Representa a mais comum desordem congênita da membrana eritróide. É caracterizada por disfunção de uma ou mais proteínas de membrana, gerando alteração na flexibilidade da hemácia com destruição periférica precoce. Clinicamente varia desde anemia discreta compensada até grave anemia hemolítica. O tratamento inclui reposição de ácido fólico e esplenectomia para os pacientes com anemia mais grave. A transfusão de concentrados de hemácias deverá ser reservada para pacientes em crise aplásica ou hemólise grave. - Deficiência de Glicose 6 Fosfato Desidrogenase (G6PD) Representa a anormalidade mais comum do metabolismo da hemácia. É uma desordem genética ligada ao cromossomo X. A deficiência desta enzima diminui a capacidade da hemácia de manter-se íntegra frente aos agentes oxidantes. Infecções, alterações metabólicas e exposição a alguns fármacos provocam episódio hemolítico agudo com hemólise intravascular. O diagnóstico pode ser confirmado pela presença do Corpúsculo de Heinz no esfregaço de sangue periférico e pela pesquisa de G6PD. A maioria dos indivíduos é assintomática, realizando-se o diagnóstico por estudo familiar. O tratamento é de suporte com transfusão de hemácias, quando necessário. A profilaxia das crises é extremamente importante, evitando o uso de substâncias oxidantes. - Anemia Hemolítica Autoimune Ocorre quando há destruição precoce das hemácias mediada por auto-anticorpos fixados a antígenos da membrana eritrocitária que determina uma série de reações em cascata terminando na lise dessas células (hemólise intravascular), além de fagocitose pelo sistema macrofagocítico (hemólise extravascular). Pode ocorrer de forma idiopática, induzido por drogas ou de forma secundária a processos autoimunes, infecciosos ou neoplásicos. O quadro clínico típico demonstra sinais e sintomas de anemia associada à icterícia, dor abdominal e febre. Esplenomegalia de pequena monta pode ser encontrada. O esfregaço de sangue periférico revela microesferócitos, hemácias “mordidas” e eritroblastos. O teste da antiglobulina direta (Coombs direto) é caracteristicamente positivo. O tratamento consiste em administração de glicocorticóides. Nos casos refratários pode ser realizada esplenectomia ou terapia com imunossupressores. A transfusão deverá ser reservada para pacientes com sinais de falência circulatória. - Anemia Hemolítica Microangiopática Caracterizada por hemólise microvascular causada por fragmentação de eritrócitos normais passando por vasos anormais. A síndrome hemolítico-urêmica e a púrpura trombocitopênica trombótica são causas primárias, enquanto que, entre as secundárias, encontramos as complicações da gravidez como: o DPP, pré-eclâmpsia, eclâmpsia e a síndrome HELLP. Clinicamente constata-se a tríade clássica: anemia microangiopática, plaquetopeniae insuficiência renal aguda. O tratamento consiste em plasmaférese, observando-se que a transfusão de plaquetas é contraindicada por resultar em agravamento da trombose microvascular ● ANEMIAS NÃO–HEMOLÍTICAS = falha na produção de hemácias ou hemoglobina - Anemias macrocíticas (megaloblásticas ou não megaloblásticas): ↓ [ Hg ]; VCM >99 fL. Anisocitose com Eritrócitos; MACROCÍTICOS e NORMOCRÔMICOS; Eritropenia - Frequente presença de corpúsculos de Howell-Jolly e de eritroblastos ortcromáticos - Pode haver LEUCOPEN IA e Neutrófilos com hipersegmentação - Anemias Megaloblásticas (↓vit B12 sérica e ↓ác. fólico ): ↓ Hg, ↑VCM> 99fL, leucopenia (↓ leucócitos), neutrófilos hipersegmentados ( vários). a ma nei ra mai s fácil de confirmar é através do hemograma e da dosagem de vit B12 e ác. fólico, o mielograma é muito invasivo e dispensável . A causa pode ser por falta de absorção (grávidas, pq quem consome é o feto , além de consumir o ferro ) ou má alimentação (geralmente crianças). A carência por restrição na dieta é muito rara em pessoas fora desses grupos , pois as quantidades são suficientes para se manter a eritropoiese durante meses. - Anemias não-hemolíticas do tipo normocíticas ou microcíticas: ↓Hg e ↓V C M, a primeira coisa a se pensar é se é ferropriva, pois é a mais frequente (deficiência de ferro nunca causa macrocitose) . Devido a diminuição da quantidade de Hg , a célula diminui seu volume na tentativa de restabelecer a razão de Hg/ vol. celular ● ANEMIAS GENÉTICAS: origem deste tipo de anemia é hereditária e consiste em um grupo de enfermidades genéticas do sangue que afetam a capacidade da pessoa em produzir a cadeia alfa ou beta da hemoglobina – proteína existente nas células vermelhas (hemácias), que transporta oxigênio para todas as partes do corpo. 3. Conhecer a fisiopatologia das anemias ● A anemia pode ser consequência de três mecanismos principais: Diminuição da sobrevida dos eritrócitos (hemorragias agudas/hemólise); Defeitos na produção medular (hipoproliferação); Defeitos na maturação dos eritrócitos (eritropoese ineficaz); 4. Entender a anemia falciforme (definição, epidemiologia, etiologia, fisiopatologia, quadro clínico, diagnóstico, tratamento, complicações e prognóstico) ● É uma hemoglobinopatia hereditária marcada por afoiçamento das hemácias, causando, classicamente, HEMÓLISE e OCLUSÃO VASCULAR, além de INFLAMAÇÃO SISTÊMICA com disfunção endotelial crônica (todos os vasos) e HIPERCOAGULABILIDADE. ● RESUMO: para o desenvolvimento de anemia falciforme, o indivíduo precisa ter a homozigose da Hb S (que induz a supressão da HbA e o aumento da HbF, o que é bom esse aumento para o paciente já que a HbF é benéfico ao paciente). Caso seja heterozigoto, o indivíduo se torna portador do traço falciforme, podendo passar essa mutação para seus descendentes, porém, sem o próprio desenvolver sintomas ● Quadro clínico - São variadas e derivam do processo de vaso-oclusão e em menor grau da anemia. Todos os órgãos podem ser afetados. Em RN com elevados níveis de Hb F não costumam expor manifestações clínicas até 6 meses de idade. Nas crianças há repercussões como anemia, atraso no crescimento, esplenomegalia e infecções recorrentes - Crise de falcização: • fase estável: período assintomático • crise de falcização: manifestaçõe s clínicas vaso-oclusivas, episódios dolorosos, crises aplásticas, hemólise e sequestro 1. CRISES VASO-OCLUSIVAS - Episódios dolorosos agudos - Fator es desencadeantes: infecção, desidratação, tensão emocional - Comum na 3ª década de vida - Oclusão microvascular da medula - dor, isquemia dos tecidos com resposta inflamatória aguda - Acomete ossos longos, articulações e região lombar - Síndrome das mãos e pés - dactilite- dor e inchaço em crianças entre 6 meses a 2 anos - processo autolimitado que exige controle álgico - Crise dolorosa grave: definida como aquela que necessita de tratamento hospitalar com analgésico parenteral por mais se 4 hor às - Evolução grave: ocorrência de 3 ou mais episódios graves em 1 ano. 2. CRISES APLÁSTICAS - Queda dos níveis de Hb - Redução dos reticulócitos- insuficiência eritropoética - Pode ser desencadeada pela infecção pelo parvovírus em crianças ou outras infecções em adultos - A crise pode ser desencadeada também pela alta tensão de oxigênio ofertado ou por deficiência de B9- crise megaloblástica 3. CRISE HEMOLÍTICA - Ocorre em casos de infecção pelo Mycoplasma, deficiência de G6PD ou esferocitose hereditária - Manifesta-se pelo agravamento anemia associada a icterícia - Deve-se descartar: colecistite, hepatite ou colestase intra-hepática 4. CRISE DE SEQUESTRO ESPLÊN ICO - Caracterizado pelo acúmulo de sangue no baço-esplenomegalia + redução da Hb e hiperplasia da medula - Comum após os 6 meses de vida 5. INFECÇÕES - Principal causa de morbimortalidade na anemia falciforme e hospitalização - Geralmente ocorre infecções bacterianas como meningite por pneumococo, osteomielite septicemia e infecção urinárias - São comuns bactérias com envoltório de polissacarídeos (GRAM-NEGATIVAS) decorrente de um defeito na opzonização, vias do complemento e leucócitos - No baço as pequenas oclusões provocam a esplenomegalia depois, torna o órgão fibrótico e a trófico até chegar no estágio d e autoesplenectomia após 6 anos de idade. ● DIAGNÓSTICO: Laboratório Básico – Por ser uma ANEMIA HEMOLÍTICA CRÔNICA, a anemia falciforme cursa com alterações laboratoriais estereotipadas, como leve queda da Hb e do Ht, reticulocitose, hiperbilirrubinemia indireta, aumento do LHD e queda da Haptoglobina. Devido à resposta inflamatória, espera-se contagem de leucócitos e plaquetas aumentadas (leucocitose e trombocitose), além de elevação dos marcadores de fase aguda (PCR...). No ESFREGAÇO de sangue periférico, observa-se HEMÁCIAS AFOIÇADAS (IRC), POLICROMASIA (indicativo de reticulocitose), corpúsculos de HOWELL-JOLLY (sinal de asplenia) e HEMÁCIAS EM ALVO (indício genérico que há hemoglobinopatia). Confirmação - Assim como acontece com outras hemoglobinopatias, o diagnóstico de AF geralmente é confirmado por meio da ELETROFORESE DE HEMOGLOBINA - Neste método, as diferentes hemoglobinas presentes nas hemácias são separadas num gel em função de seu peso molecular e carga elétrica. Assim, o PERFIL DE DISTRIBUIÇÃO das Hb encontradas permite o diagnóstico diferencial entre FALCIFORME e TALASSEMIAS. ● Conduta: - Consiste na pesquisa/correção dos FATORES DESENCADEANTES, bem como no alívio imediato, seguro e eficaz da dor. A eliminação completa da dor é um objetivo irreal, e deve -se pesar os riscos e benefícios do tratamento em cada caso: SUBTRATAR O PACIENTE (deixando-o com dor residual significativa) é tão ruim quanto o SUPERTRATAMENTO que resulta em sedação, depressão respiratória e hipoxemia (levando à piora do afoiçamento de hemácias) - Analgésicos - Assim, uma combinação de analgésicos é utilizada para atuar em diversos pontos da via nociceptiva - AINEs, paracetamol, dipirona e opioides devem ser prescritos a intervalos regulares (e não apenas como “SOS”) de maneira sequencial e aditiva. ● TRATAMENTO - Avaliação Geral - Idealmente, toda pessoa que recebe o diagnóstico de anemia falciforme deve ser acompanhada por um HEMATOLOGISTA. Diversos exames complementares devem ser rotineiramente solicitados a fim de avaliar o grau de comprometimento orgânico, servindo, inclusive, como base para comparações futuras. - Terapia Modificadora da Doença - Existem quatro condutas básicas que comprovadamente diminuem a morbimortalidade da anemia falciforme, prolongando a vida do paciente - Profilaxia contra o Pneumococo - A principal causa de óbito em crianças falcêmicas (em particular na faixa etária entre 1 -3 anos) é a infecção por germes encapsulados, com destaque para o Streptococcus pneumoniae. Opneumococo tem comportamento mais invasivo nesses pacientes, evoluindo com pneumonia, bacteremia e meningite. A vacinação ANTIPNEUMOCÓCICA E O USO PROFILÁTICO DE PENICILINA, apesar de não interferirem diretamente no processo de afoiçamento de hemácias, reduzem de forma significativa a morbimortalidade precoce da AF. - Reativação da Síntese de HbF - Os níveis de HbF são inversamente proporcionais à gravidade da anemia falciforme. Mesmo na homozigose HbSS, qualquer aumento da HbF pode melhorar a sobrevida e a qualidade de vida do paciente... Logo, a reativação farmacológica da síntese de HbF é desejável, e pertence ao grupo das terapias modificadoras de doença. Por um mecanismo desconhecido, a Hidroxiureia (HU) – um quimioterápico inibidor da ribonucleotideo-redutase – aumenta os níveis de HbF. Hematologicamente, ocorre melhora da anemia e queda na contagem d e reticulóticos, leucócitos e plaquetas. Clinicamente, diminui a frequência de crises álgicas, incluindo os episódios de síndrome torácica aguda, além de haver uma redução na necessidade de hemotransfusão. - Hemotranfusão - Existem duas modalidades básicas de hemotransfusão na AF: (1) transfusão simples; (2) transfusão de troca parcial (exsanguineotransfusão parcial). Ambas podem ser realizadas de maneira episódica, mas quando é necessário transfundir cronicamente o paciente indica-se apenas a transfusão de troca parcial, já que com este procedimento o risco de sobrecarga de ferro é menor - Uso de Quelantes de Ferro - Indivíduos que necessitam de hemotransfusões repetitivas ao longo da vida estão sob risco de desenvolver sobrecarga de ferro (hemocromatose secundária). A hemocromatose, ao danificar múltiplos órgãos e tecidos (ex.: cirrose hepática, miocardiopatia dilatada, insuficiência pancreática) reduz a expectativa de vida Terapias Adjuvantes - Reposição de Folato e Outras Vitaminas - O estado hemolítico crônico acelera a produção de hemácias pela medula óssea, podendo levar a um rápido esgo tamento das reservas endógenas de folato, o que culmina na chamada crise megaloblástica - Flebotomia - Sabemos que na anemia falciforme um hematócrito > 30% (Hb > 10 -11 g/dl) se associa a um aumento da viscosidade sanguínea, o que por sua vez aumenta a frequência e a intensidade do fenômeno de vaso-oclusão capilar. - Eritropoietina - Transplante de Células Tronco Hematopoiéticas - O transplante de células-tronco hematopoiéticas representa a única chance de CURA da AF. O transplante, no entanto, não é indicado de rotina devido à dificuldade em se obter doadores compatíveis e também – principalmente – devido à elevada morbimortalidade do procedimento em si! - Inibidores da Desidratação de Hemácias - Drogas como o citrato de cetiedila reduzem a desidratação das hemácias falcêmicas ao modificar o transporte iônico através da membrana plasmática. - Antiplaquetários e Anticoagulantes - Ácido Ômega 3 - Estudos recentes sugeriram que a suplementação de ácido ômega-3 diminui a ocorrência de crises vaso-oclusivas em portadores de anemia falciforme, além de poder reduzir a necessidade de hemotransfusão. O benefício seria decorrente do efeito anti-inflamatório dessa substância. 5. Diferenciar a esferocitose da hemoglobinopatia nos exames laboratoriais ● Hemogramas de rotina na Esferocitose Hereditária revelam anemia e reticulocitose em diferentes graus, dependendo da gravidade da mutação, sendo usualmente os níveis de Hb entre 9-12g/dl nestes pacientes PROBLEMA 3 1. Relembrar a síndrome metabólica (definição, fisiopatologia, fatores de risco, quadro clínico, critérios diagnósticos, manejo) ● A Síndrome Metabólica (síndrome X, síndrome de resistência à insulina) consiste em um grupo de anormalidades metabólicas que conferem aumento de risco de doença cardiovascular (DCV) e diabetes melito ● Fisiopatologia Os ácidos graxos livres ( AGLs) são liberados em abundância da massa de tecido adiposo expandida. No fígado, determinam um aumento da produção de glicose e triglicerídeos e secreção das lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDLs). As anormalidades lipídicas/lipoprotéicas associadas consistem em reduções do colesterol da lipoproteína de alta densidade (HDL) e um aumento do número de partículas de colesterol da lipoproteína de baixa densidade (LDL). Os AGLs também reduzem a sensibilidade à insulina no músculo, inibindo a captação de glicose mediada pela insulina. Os defeitos associados consistem em redução da glicose a partir do glicogênio e aumento do acúmulo de lipídeos nos triglicerídeos (TGs). O aumento da glicose circulante e, até certo ponto, dos AGLs aumenta a secreção de insulina pancreática, resultando em hiperinsulinemia. A hiperinsulinemia pode resultar em aumento da reabsorção de sódio e aumento da atividade do sistema nervoso simpático (SNS) e contribui para a hipertensão, assim como os níveis mais altos de AGL circulante. O estado pró -inflamatório sobrepõe-se e contribui para a resistência à insulina produzida pelo excesso de AGL. O aumento da secreção de interleucina 6 ( IL-6) e fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa) produzido por adipócitos e macrófagos derivados dos monócitos resulta em mais resistência à insulina e lipólise dos estoques de tecido adiposo em AGL circulante. A IL-6 e outras citocinas também aumentam a produção hepática de glicose, produção d e VLDL pelo fígado, hipertensão e resistência à insulina no músculo. As citocinas e os AGLs aumentam ainda a produção hepática de fibrinogênio e a dos adipócitos do inibidor do ativador plasminogênio tipo1, resultando em um estado pró -trombótico. Níveis mais altos de citocinas circulantes estimulam a produção hepática de proteína C-reativa (PCR). A produção reduzida da citocina anti-inflamatória e citocina adiponectina sensível à insulina também está associada à síndrome metabólica. ● FATORES DE RISCO: ● MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: A síndrome metabólica normalmente não está associada a sintomas. Ao exame físico, a circunferência abdominal e a pressão arterial estão frequentemente aumentadas. Com menos frequência, verifica-se a presença de lipoatrofia ou acantose nigricans ao exame – resistência à insulina grave. ● TRATAMENTO: Estilo de vida; DIETA; EXERCÍCIOS; TRATAR DOENÇA DE BASE; 2. Compreender a obesidade (definição, fisiopatologia, fatores de risco, classificação, diagnóstico, manejo) A obesidade é um agravo multifatorial originado,na maioria dos casos, pelo desbalanço energético, quando o indivíduo consome mais energia do que gasta. Esse desbalance energético positivo resulta em ganho de peso.Há diversos métodos para avaliar se o peso de uma pessoa é excessivo, mas o mais utilizado é o IMC.(peso/altura2). O padrão alimentar inadequado associado ao sedentarismo, em geral, não é favorável à saúde da população. FATORES DO RISCO ● Até 70% dos adultos norte-americanos com ≥ 20 anos de idade tinham sobrepeso (definido como IMC > 25) ou obesidade (IMC > 30) entre 2013 e 2014. ● De modo global, a prevalência da obesidade é maior nas mulheres (38%) do que nos homens (34%). ● Nas mulheres, a pobreza está associada a aumento da prevalência. ● A obesidade é mais comum entre negros e hispânicos e menos comum nos asiáticos. ● ● DIAGNÓSTICO ● Anamnese voltada para a obesidade ● 1. Que fatores contribuem ● 2. De que forma está afetando a ● 3. Qual o nível de risco para o paciente? ● 4. Qual a dificuldade encontrada em controlar o peso? ● 5. Quais as metas e as expectativas do paciente? ● 6. De que tipo de ajuda o paciente precisa? ● ● Exame físico para determinar o grau. ● → IMC: kg/(m²) ● → Cintura abdominal → homens >94 cm (ou 90 cm) e mulheres > 80 cm ● → Relação cintura/quadril → avaliar a gordura visceral. Alterada > 0 ,9 cm em homens e >0,85 cm em mulheres. ● TRATAMENTO ● Os objetivos primários do tratamento são melhorar as condições d e comorbidades relacionadas com a obesidade e reduzir o risco do desenvolvimento de comorbidades futuras. ● Nem todos os pacientes considerados obesos pelo IMC isolado precisam ser tratados, conformeexemplificado pelos conceitos do paradoxo da obesidade ou de obesos metabolicamente saudáveis. ● DIETA + EXERCÍCIO 3. Entender a cirurgia bariátrica (indicações cirúrgicas, técnicas, orientações pré e pós operatório, complicações) INDICAÇÕES Idade de 18 a 65 anos IMC >40 kg/m² ou 35 kg/m² com ≥ 1 comorbidades graves relacionadas com a obesidade (nas quais a perda de peso induzida em que cirurgicamente é capaz de melhorar a condição) Documentação de que os pacientes não conseguiram perder peso ou manter a perda de peso apesar de cuidados médicos apropriados realizados regularmente há pelo menos dois anos Procedimentos de cirurgia bariátrica. A. Banda gástrica ajustável laparoscópica. B. Gastrectomia em “sleeve” laparoscópica: o estômago é restrito por grampeamento e divisão vertical, removendo cerca de 80% de sua curvatura maior C. Derivação gástrica em Y de Roux. D. Desvio bilipancreático com switch duodenal. E. Desvio bilipancreático Complicações Maiores: Taxas de mortalidade → 0,5%; Sepse de origem abdominal (deiscência de sutura, fístula); TEP; Deambulação, fisioterapia. Complicações nutricionais severas (pouco frequente). Complicações Menores: Atelectasia (causa de febre no pós-operatório imediato); Seroma de FO; Infecção de FO; Hérnia incisional; Litíase biliar; Obstrução intestinal (até 7% dos pacientes); Bezoar (alimento mal mastigado); Vômitos (relacionados à estenose, anel de silicone ou banda gástrica).GB → Bypass gástrico;AGB → Banda gástrica ajustável;SG → Sleeve gástrico.6 PROBLEMA 4 - DOENÇA CELÍACA 1. Definir as enteropatia de origem nutricional ( lactose, celíaca, caseína) Enteropatia é definida como uma doença do intestino caracterizada pela má absorção de água e nutrientes, podendo ter origem inflamatória, autoimune, medicamentosa ou idiopática. Geralmente há uma alteração dos parâmetros fisiológicos, estruturais e/ou laboratoriais. Tais modificações podem gerar manifestações típicas gastrointestinais e até mesmo extraintestinais, que variam de sintomas leves como flatulências e eructações, a achados clínicos mais graves como diarreias volumosas e perda ponderal.... 2. Conhecer a doença celíaca (definição, epidemiologia, etiologia, fisiopatologia, quadro clínico, diagnóstico) A doença celíaca é causada pela intolerância ao glúten, uma proteína encontrada no trigo, aveia, cevada, centeio e seus derivados, como massas, pizzas, bolos, pães, biscoitos, cerveja, uísque, vodka e alguns doces, provocando dificuldade do organismo de absorver os nutrientes dos alimentos, vitaminas, sais minerais e água. Esta é uma enteropatia mediada pelo sistema imunológico. EPIDEMIOLOGIA A doença afeta cerca de 10 a 20% dos parentes em 1 º grau. A proporção mulher:homem é 2:1. Seu início é geralmente na infância, mas pode ocorrer em fase tardia da vida. Pacientes com outras doenças, como colite linfocítica, síndrome de Down, diabetes mellitus tipo e tireoidite autoimune (Hashimoto), Tunner, deficiência de IgA se leva têm risco de desenvolver doença celíaca. FISIOPATOLOGIA O glúten é a principal proteína de armazenamento do trigo e de grãos similares, e a fração do glúten solúvel em álcool, a gliadina, contém a maioria dos componentes causadores da doença. O glúten é digerido pelas enzimas luminais e da borda em escova em aminoácidos e peptídeos, incluindo um peptídeo α-gliadina de 33 aminoácidos, que é resistente à degradação pelas proteases gástricas, pancreáticas e do intestino delgado. A rede de reações imunológicas à gliadina, que é conhecida por resultar na doença celíaca, está ilustrada abaixo. Alguns peptídeos de gliadina (fração do glúten) induzem as células epiteliais (enterócitos) a expressar IL-15, que, por sua vez, dispara a ativação e a proliferação de linfócitos intraepiteliais CD8+, que são induzidos a expressar NKG2D, um marcador de células natural killers. Esses linfócitos que expressam NKG2D se tornam citotóxicos e matam enterócitos com MIC-A na superfície, uma proteína semelhante a um HLA classe I expressado em resposta ao estresse. Com o dano epitelial resultante pode contribuir para o processo pelo qual os outros peptídeos da gliadina atravessam o epitélio para serem desaminados pela transglutaminase tecidual. Os peptídeos da gliadina desaminados (vira antígeno) são então capazes de interagir com HLA-DQ2 (fator genético) ou HLA-DQ8 nas células apresentadoras de antígenos e serem apresentados às células CD4+ (induz a células T - Adaptativa)). Essas células T produzem citocinas que contribuem para o dano tecidual e a patologia mucosa característica. Fatores do hospedeiro determinam se a doença vai se desenvolver. Entre estes, as proteínas HLA parecem ser críticas, já que quase todas as pessoas com a doença celíaca carregam o alelo HLA-DQ2 ou HLA-DG8 classe II. No entanto, o lócus HLA é responsável por menos da metade dos componentes genéticos da doença celíaca. Os fatores genéticos restantes podem incluir polimorfismos dos genes imunorregulatórios, tais como aqueles que codificam IL-2, IL-21, CCR3 e SH2B3 e genes que determinam a polaridade epitelial. Em um paciente com doença celíaca há um aumento dos linfócitos intraepiteliais (LIEs). Com a destruição dos enterócitos, tem uma atrofia dessas vilosidades, mucosa fica plana, levando a uma síndrome má absortiva. Os linfócitos proliferados promovem um aumento da cripta levando a uma segunda alteração, relação vilo cripta se altera. MORFOLOGIA Amostras de biópsia da segunda porção do duodeno ou do jejuno proximal, os quais estão expostos às concentrações mais altas do glúten da dieta, são geralmente diagnósticos na doença celíaca. A histopatologia é caracterizada pelo número aumentado de linfócitos T intraepiteliais CD8+ (linfocitose -aumento intraepitelial), hiperplasia da cripta e atrofia das vilosidades. Esta perda de área da superfície mucosa e da borda em escova provavelmente é responsável pela má absorção. Além disso, as taxas aumentadas de reposição epitelial, refletidas na atividade mitótica aumentada nas criptas, podem limitar a habilidade dos enterócitos absortivos de se diferenciarem completamente e contribuir para os defeitos na digestão terminal e no transporte transepitelial. Outras características da doença celíaca completamente desenvolvida incluem números aumentados de plasmócitos, mastócitos e eosinófilos, especialmente na porção superior da lâmina própria. Com a frequência aumentada do mapeamento sorológico e da detecção prévia dos anticorpos associados a doenças, estima-se agora que o aumento no número de linfócitos QUADRO CLÍNICO A doença celíaca pode se manifestar na infância depois da introdução de cereais na dieta. A criança tem DIFICULDADES SE DESENVOLVER , apatia, ANOREXIA, PALIDEZ, hipotonia generalizada, DISTENSÃO ABDOMINAL E PERDA DE MASSA MUSCULAR. AS FEZES SÃO AMOLECIDAS, esfareladas, com cor de barro e mal cheirosas. Crianças mais velhas podem apresentar anemia ou dificuldade para crescer normalmente. Nos adultos, CANSAÇO, FRAQUEZA E ANOREXIA são mais comuns. DIARREIA leve e intermitente algumas vezes é o sintoma inicial. ESTEATORREIA (fezes mal cheirosas, pálidas, volumosas e gordurosas) varia de leve a grave. Alguns pacientes têm perda ponderal, raramente o suficiente para ficarem emagrecidos. ANEMIA, GLOSSITE, ESTOMATITE ANGULAR, E ÚLCERAS AFTOIDES são geralmente vistas nestes pacientes. Manifestações da DEFICIÊNCIA DE VITAMINA D e CÁLCIO são comuns. Tanto homens como mulheres podem ter FERTILIDADE REDUZIDA; mulheres podem não ter PERÍODOS MENSTRUAIS. DIAGNÓSTICO Marcadores sorológicos e biópsia do intestino delgado são utilizados para o diagnóstico. A confirmação do diagnóstico depende de biópsias do INTESTINO DELGADO SEGUNDA PORÇÃO DUODENAL. Os achados incluem FALTA OU ENCURTAMENTO DOS VILOS (atrofia vilosa), CÉLULAS INTRAEPITELIAIS COM NÚMERO AUMENTADO E HIPERPLASIA DE CRIPTAS. CLASSIFICAÇÃO DE MARSH As alterações patológicas clássicas da doença celíaca no intestino delgadosão categorizadas de acordo com a Classificação de Marsh: Estádio 0 – doença pré-infiltrativa: mucosa normal. Estádio 1 – doença infiltrativa: infiltração linfocitária intraepitelial superior a 20 por cada 100 enterócitos Estádio 2 – doença hiperplásica: proliferação das criptas intestinais. Estádio 3 – doença destrutiva: atrofia parcial ou total das vilosidades intestinais e hipertrofia das criptas. Estádio 4 – doença hipoplástica: hipoplasia da constituição do intestino delgado TRATAMENTO O tratamento atual consiste na retirada completa e definitiva do glúten da alimentação. Mais de 90% dos pacientes que exibem achados característicos da doença respondem à restrição completa de glúten da dieta. A doença celíaca é considerada refratária quando há doença compatível com a doença celíaca que não responde à retirada do glúten por pelo menos 6 meses, permanecendo com sintomas graves e provocando atrofia das vilosidades, considerando que todas as outras causas de atrofia tenham sido descartadas. A causa mais comum de persistência de sintomas em um paciente que satisfaz todos os critérios para o diagnóstico de doença celíaca é a ingestão contínua, consciente ou de maneira inadvertida, de alimentos que contenham glúten. COMPLICAÇÕES A complicação mais importante da doença celíaca é o surgimento de câncer . A incidência de neoplasia tanto gastrintestinal quanto não gastrintestinal, bem como a do linfoma intestinal, apresenta-se elevada entre pacientes com doença celíaca. A possibilidade da existência de linfoma deve ser considerada sempre que: 1) Um paciente com doença celíaca, que até então vinha evoluindo muito bem com uma dieta sem glúten, não consegue mais responder à restrição de glúten; 2) Um paciente que se apresenta como características clínicas histológicas compatíveis com doença celíaca não responde a uma dieta sem glúten. Outras complicações incluem o surgimento de ulceração intestinal independente de linfoma, espru refratário e espru colagenoso. 3. Entender o diagnóstico diferencial de outras doenças disabsortivas ( doença de crohn, RCU) O diagnóstico diferencial da DC é vasto, principalmente considerando as manifestações atípicas da doença. Outras causas de diarreia crônica devem ser lembradas no diagnóstico, como: alergia alimentar, intestino irritável,intolerância à lactose, hiperproliferação bacteriana, doença inflamatória, giardíase e outras. Além disso, a DC deve ser lembrada na investigação de outras manifestações, como baixa estatura, osteoporose, anemia ferropriva refratária ao tratamento, deficiência de ácido fólico e B12 sem causa aparente e infertilidade A Doença de Crohn é uma doença inflamatória séria do trato gastrointestinal. Ela afeta predominantemente a parte inferior do intestino delgado (íleo) e intestino grosso (cólon), mas pode afetar qualquer parte do trato gastrointestinal. Esse processo inflamatório é extremamente invasivo e compromete todas as camadas da parede intestinal: mucosa, submucosa, muscular e serosa. Tabagismo fator de risco. Lesões descontinuas e segmentadas.Pedra em calçamento. Mulheres Dor abdominal (geralmente no quadrante inferior direito, principalmente quando afeta o íleo e o ceco, se assemelha a apendicite) associada à diarreia (com ou sem sinais de muco e sangue, má absorção de solutos e sais biliares, a o crescimento bacteriano excessivo, deterioração da mucosa); sangramento, Febre (citocinas inflamatórias vão ganhar a corrente sanguínea e atuar como pirógenos endógenos, que ao entrar em contato com os neurônios na região anterior do hipotálamo, fazem com que eles liberem metabólitos do ácido araquidônico. Esses metabólitos se difundem para a região anterior do hipotálamo, que aumenta o set point termorregulador); Perda de peso; Enfraquecimento por causa da dificuldade para absorver os nutrientes SINTOMAS EXTRAINTESTINAIS: podem ser cutâneas (eritema nodoso e pioderma gangrenoso), a rculares periféricas(artrites) ou axiais (espondilite anquilosante e sacroileíte), oculares (conjuntivite e uveíte) e hepáticas (colangite esclerosante primária). COMPLICAÇÕES: As principais complicações na doença de Crohn são caracterizadas por hemorragias,estenoses intestinais, aderências brosas, perfurações intestinais, megacólon tóxico, fístulas, fissuras, abcessos perianais e carcinoma colorretal . Nas crianças as manifestações características são o atraso do crescimento e desenvolvimento físico. PROBLEMA 5 - HIPER 1. Entender o mecanismo dos hormônios tireoidianos e suas alterações O TSH controla a captação e a concentração de iodo dependentes de energia pela glândula tireoide, bem como seu transporte transcelular através da célula epitelial folicular. Todavia, o metabolismo do iodo no interior da tireoide também pode ser regulado de modo independente pelo TSH. Esse mecanismo é importante quando os níveis plasmáticos de iodeto estão elevados (15 a 20 vezes acima do normal), visto que essa elevação inibe a ligação orgânica do iodo dentro da tireoide. Esse fenômeno autorregulador, que consiste na inibição da organificação do iodo pelos níveis circulantes elevados de iodeto, é conhecido como efeito de Wol�-Chaiko�. Esse efeito estende-se por alguns dias, sendo seguido do chamado fenômeno de escape, quando recomeça a organificação do iodo intratireoidiano, com o restabelecimento da síntese normal de T4 e T3. O fenômeno de escape resulta de uma diminuição da concentração de iodo inorgânico no interior da glândula tireoide, devido à infrarregulação do simportador de Na+/I–. Essa relativa diminuição do iodo inorgânico intratireoidiano permite que o sistema TPO-H2O2 readquira sua atividade normal. Os mecanismos responsáveis pelo efeito de Wol�-Chaiko� agudo ainda não foram elucidados, mas podem ser produzidos pela formação de compostos de iodo orgânico no interior da tireoide. 2. Conhecer o hipertireoidismo (definição, epidemiologia, fisiopatologia, quadro clínico, diagnóstico, diagnóstico diferencial, manejo) ● O hipertireoidismo é uma síndrome clínica decorrente do aumento da produção de T3 e T4 pela glândula tireoide ● Tem-se receptores de T3 e T4 em praticamente todas as células do organismo, por isso que é tão importante o bom funcionamento da tireoide (Eutireoidismo = tireoide dentro da normalidade). Assim, a disfunção tireoidiana afeta vários tecidos e órgãos ● Tireotoxicose → é o excesso de hormônios tireoidianos (T3 e T4) circulantes, independente da etiologia ● O hipertireoidismo, que decorre do aumento da função da glândula tireóide, leva a uma tireotoxicose ➢ Hipertireoidismo Subclínico → situação em que há diminuição do TSH, mas o T3 e o T4 livre encontram-se normais. ● Baixa Prevalência → o hipertireoidismo tem uma prevalência menor que o hipotireoidismo ● A doença de Graves é a principal causa de hipertireoidismo em nosso meio (60-90%) ● QUADRO CLÍNICO - Hiperativação do metabolismo; - Nervosismo e irritação; - Insônia; - Aumento da frequência cardíaca; - Intolerância ao calor; - Sudorese abundante; - Taquicardia; - Perda de peso resultante da queima de músculos e proteínas; - Tremores; - Olhos saltados; - Bócio; DIAGNÓSTICO É necessário se atentar a presença dos sinais e sintomas clássicos deste quadro, como a perda de peso, a fadiga, o nervosismo, a sudorese excessiva e a palpitação. É necessária também a realização de exames complementares, como a dosagem de T3 livre e total, T4 livre e total e TSH, dosagem de anticorpos (anti-receptor de TSH/anti-TRAB), ultrassonografia da tireoide, cintilografia da tireoide e biópsiada tireoide. Não são realizados todos os exames descritos acima em cada paciente que apresentar a suspeita para a doença. O diagnóstico pode ser fechado apenas com a história clínica + sintomas + dosagem de hormônios da tireoide. Os demais exames servem como complemento ao diagnóstico e como forma de acompanhar pacientes com o diagnóstico prévio. A dosagem do anti-receptor de TSH é realizada em pacientes com a suspeita da Doença de Graves. A cintilografia serve para avaliar a presença de nódulos e realizar o acompanhamento de pacientes que possuem esse tipo de quadro da doença. Já a biopsia serve para analisar a suspeita de um possível câncer na tireoide TRATAMENTO O tratamento deve ser introduzido assim que a doença for diagnosticada e depende da avaliação das suas causas em cada paciente, deve ser realizado por um endocrinologista. O tratamento do hipertireoidismo depende muito da causa, porém podem ser utilizados fármacos como: Metimazol ou propiltiouracil (bloqueiam a peroxidase tireoidiana, diminuindo a organificação de iodo, e alteram a reação de acoplamento), betabloqueadores, iodo. Além da captação de iodo radioativo (inibe a liberação de T3 e T4) e cirurgia (procedimento indicado para pacientes com doença de Graves cujo hipertireoidismo tenha reincidido após tratamento com doses antitireoidianas e que acabam recusando-se a utilizarem Iodo-131, além de pacientes que não toleram outros fármacos, pacientes com bócios muito volumosos e alguns pacientes mais jovens com adenoma tóxico e bócio multinodular. A cirurgia habitualmente restabelece a função tireoidiana normal) 3. Entender a doença de Graves (definição, epidemiologia, etiologia, fisiopatologia, quadro clínico, diagnóstico, diagnóstico diferencial, manejo) DEFINIÇÃO: A doença de Graves (ou Basedow-Graves ou Bócio Difuso Tóxico) é uma desordem autoimune, de etiologia desconhecida, que apresenta como marco a síntese e secreção excessiva de hormônios tireoidianos Prevalência nos EUA: 1,2%! (0,5% clínico e 0 ,7 sub) Mais comum no sexo feminino: 5 a 10 vezes, na faixa etária média dos 20 aos 40 anos. Forte predisposição familiar Fatores ambientais: Tabagismo, estresse podem influenciar negativamente na doença A forma mais comum do hipertireoidismo primário, é a doença de Graves. Uma doença autoimune, onde ocorre a formação de anticorpos contra o receptor de TSH existente na tireoide. Esses anticorpos se ligam aos receptores de TSH, estimulando excessivamente a liberação dos hormônios tireoidianos (aumento de T3 e T4), gerando um feedback negativo para a hipófise anterior, que por sua vez diminui a formação do TSH, fazendo com que ele apresente níveis mais baixos que o normal no organismo. PATOGÊNESE Linfócitos B sintetizam autoanticorpos “contra” receptores de TSH na superfície da membrana folicular da tireoide: Chamamos esse anticorpo de anticorpo antirreceptor de TSH estimulante (TRAb) O anticorpo se conecta no receptor, estimulando sua função e aumentando o volume: Justificando o hipertireoidismo Anti-TPO: Presente em 80% dos casos, é uma espécie de marcador da doença tireoidiana auto-imune, presente em 95% dos casos de tireoidite de Hashimoto É uma síndrome clínica multissistêmica → pois tem-se receptores de hormônios tireoidianos em praticamente todas as células do corpo. Assim, a doença de Graves pode levar a alterações de vários órgãos QUADRO CLÍNICO Os sintomas estão relacionados à idade de acometimento. Os pacientes mais jovens apresentam sintomas como ansiedade, tremores, palpitações e hiperatividade. Já os idosos tendem a manifestar descompensações cardiovasculares, como fibrilação atrial, insuficiência cardíaca congestiva e angina, além de perda de peso. Ademais, existem outras manifestações extratireoidianas que podem estar presentes na DG, incluindo oftalmopatia de Graves, dermopatia da tireoide e acropaquia. DG é uma causa comum de hipertireoidismo. Ela é caracterizada clinicamente pela tríade de sintomas clássicos: bócio, exoftalmia e taquicardia. As manifestações musculoesqueléticas incluem fraqueza, aumento da reabsorção óssea, osteoporose e aumento do risco de fratura. Já as manifestações gastrointestinais consistem em disfagia, hiperdefecação e fome. Os pacientes podem desenvolver linfadenopatia, ginecomastia em homens ou oligomenorreia em mulheres OFTALMOPATIA DE GRAVES: É a manifestação extra-tireoidiana mais característica da Doença de Graves ➢ Está presente em 50% dos pacientes ➢ Tem curso independente, podendo vir antes da doença da tireoide, constituindo uma OFTALMOPATIA EUTIREOIDIANA ➢ Patogenia → acredita-se que a órbita e a tireoide tenham um antígeno comum para a ação da imunoglobulina. Assim, da mesma forma que a ge na tireoide, ela age nas células musculares da órbita, hipertrofiando esses músculos e causando a proptose ➢ Por ser uma doença autoimune, deveria ser apenas bilateral, mas também pode ser unilateral em raros casos ➢ Devido à oftalmopatia, às vezes, pode-se até mesmo perda da visão ➢ É de difícil tratamento e, para tratar essa hipertrofia muscular, é necessária a realização de cirurgia DIAGNÓSTICO A investigação laboratorial corrobora com a suspeita clínica. Na DG, o TSH apresenta-se suprimido por feedback negativo dos HTs, sendo ele usado como triagem inicial. Muitas vezes o TSH encontra-se indetectável, correspondendo a valores menores que 0,01 mU/L. No entanto, alguns tipos de hipertireoidismo podem se apresentar com níveis de TSH elevado, por exemplo em tumores secretores de TSH ou em resistência a HTs, porém, tais apresentações são raras e a fisiopatologia envolvida difere daquela presente na DG.Quanto às tiroxinas, o ideal é que sejam analisados os valores hormonais livres, não contabilizando a parcela ligada à proteína ligadora dos HTs. Inicialmente apresenta elevação de T3 e posteriormente, com hipertireoidismo evidente, T4L encontra-se também elevado. No hipertireoidismo, a relação T3:T4 pode ser maior que 1, o que ajuda na diferenciação de outras causas de tireotoxicose. Já nos casos subclínicos, T3 e T4L permanecem com valores normais, associados ao TSH abaixo do valor de referência. Outrossim, na DG é possível identificar a presença de TRAb em 90% dos casos, especialmente se dosados antes do início do tratamento clínico. Tal achado garante um diagnóstico mais preciso e confirmatório de DG. Esta avaliação é necessária principalmente em pacientes que não podem ser submetidos a investigação com radiação, como gestantes e lactantes. No momento, os testes mais amplamente utilizados para TRAb não permitem diferenciação entre atividade estimulante ou inibidora do anticorpo. Entretanto, novos bioensaios vêm sendo desenvolvidos e comercializados, visando a detecção apenas de atividade estimulante pelo TRAb Além de achados clínicos e exames laboratoriais, o diagnóstico da DG pode ser realizado por técnicas de imagem, como a ultrassonografia e a cintilografia, que assumem papel importante para, além de ajudar no diagnóstico da DG, contribuem no planejamento do tratamento. É importante salientar que tais exames podem afetar sistemas corporais, como imunológico, oftálmico, cardiovascular A ultrassonografia (USG) caracteriza-se por um exame de imagem não-invasivo, rápido e preciso, constituído pela análise da ecogenicidade e do fluxo sanguíneo tireoidiano. A vascularização da tireóide é caracterizada e quantificada e, em pacientes com DG, o fluxo vascular é aumentado, além de ter evidência de hipoecogenicidade da glândula. Apresenta-se como uma boa escolha quando a cintilografia está contraindicada como, por exemplo, em gestantes e pessoas alérgicas Em grande parte dos casos, um achado ultrassonográfico pode oferecer um diagnóstico definitivo e confiável para a determinação de DG.. A USG é, ainda, a maneiramais confiável de determinar, em pacientes pediátricos com DG, o tamanho da glândula tireoide. Porém, caso haja bócio com nódulos grandes e caso não seja contraindicado, sugere-se cintilografia com radionuclídeos com captação de radioiodo. A cintilografia, por sua vez, caracteriza-se pela varredura de radioisótopos da tireoide, com a utilização do tecnécio-99m ou iodo-123. Uma das principais finalidades desse método de imagem é diferenciar o padrão de captação e, portanto, excluir diagnósticos diferenciais. Sendo assim, enquanto na DG a cintilografia evidência imagem de distribuição difusa pela tireoide, em outras comorbidades, como a tireoidite, o que se observa é um padrão de captação muito baixo ou mesmo ausente DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Outros tipos de hipertireoidismo podem levar a sintomas semelhantes aos observados na DG. Algumas causas de hipertireoidismo não relacionadas com autoimunidade são: Bócio nodular tóxico; Síndrome de McCune-Albright; Mutação do receptor de TSH; Adenoma hipofisário; Hipertireoidismo induzido por amiodarona; Síndrome de resistência aos HTs; Overdose de levotiroxina. MANEJO DROGAS ANTITIREOIDIANAS Normalmente são a primeira escolha de tratamento, uma vez que possuem um possível potencial de curar a doença, além de apresentarem boa resposta, poucos efeitos colaterais, boa segurança e podem ser utilizadas durante a gestação. Além disso, não exige abordagens de maior complexidade, sendo feito de forma exclusivamente ambulatorial e possui baixo risco de hipotiroidismo subsequente.Os principais fármacos da classe são o propiltiouracil e o metimazol, sendo este último o mais utilizado atualmente no Brasil.Essas drogas agem inibindo a síntese de HTsa partir do bloqueio do metabolismo do iodo, sendo utilizadas por período de tempo de cerca de 12-18 meses, tendo o uso interrompido quando há uma normalização dos níveis de TSH, T4 livre e anti-TRAb no sangue.Os principais efeitos colaterais relatados com o uso de DATs são agranulocitose, hepatotoxicidade e vasculites, apesar de serem raros. Além disso, possui alta taxa de recidivas, requer monitoramento frequente com exames laboratoriais, e exige uso correto e boa adesão por parte do paciente. TERAPIA COM IODO RADIOATIVO A TIR é indicada quando o tratamento com DATs não produz boa resposta, mediante dificuldade de adaptação e tolerância do paciente, ou quando há recidiva da doença. Em contrapartida, é contraindicada em gestantes, lactantes e mulheres com intenção de engravidar, devido ao uso de radiação, que prejudica de forma direta o desenvolvimento do feto. O uso de iodo radioativo causa involução do tecido tireoidiano, levando à destruição direta da glândula. Devido a isso, constitui tratamento definitivo contra a doença, apesar de cursar com hipotireoidismo após o término do tratamento, necessitando de reposição hormonal com levotiroxina. As principais complicações do uso de TIR são decorrentes da exposição à radiação, tendo potencial dano à fertilidade, tanto em homens quanto em mulheres, além de outros riscos de alterações celulares, como aumento da chance de neoplasias a longo prazo. Pacientes que desejam a concepção necessitam esperar no mínimo 6 meses após o término do tratamento para engravidar, tanto para homens quanto para mulheres. A curto prazo, o uso de TIR causa tireoidite e sialadenite, que são efeitos colaterais esperados do tratamento. TIREOIDECTOMIAA tireoidectomia é a forma mais antiga e de escolha em muitos casos para o tratamento do hipertireoidismo na DG, sendo possível realizá-las de forma total ou subtotal. São indicadas nas seguintes condições: bócios grandes causando sintomas compressivos, preparo para gestação e gestação, oftalmopatia moderada a grave, hipertireoidismo persistente após radioablação e terapia com drogas anti-tireoidianas, intolerância a RAI ou ATDs, ou presença de nódulo com citologia anormal na PAAF. A Tireoidectomia Total (TT) é a forma recomendada pelas diretrizes atuais em detrimento da forma subtotal, uma vez que possui porcentagens menores a quase zero de persistência ou recorrência do hipertireoidismo. A TT é capaz de curardefinitivamente o estado de hipertireoidismo, mas às custas de criar outras condições como o hipotireoidismo. Os benefícios são o tratamento rápido da doença, evitar efeitos colaterais da terapia com iodo e DAT e nenhum risco adicional de câncer. Mas deve-se considerar que o sucesso deste tratamento requer cirurgiões experientes e manejo pré e pós-operatório adequados. Pacientes que serão submetidos ao tratamento cirúrgico precisam estabelecer-se em eutireoidismo clínico por meio do tratamento com DAT por 2 a 3 meses antes da cirurgia. A importância deste preparo é evitar tireotoxicose que pode ser causada pela manipulação da glândula durante a cirurgia. Além disso, uma vez que a tireoide se localiza próximo de estruturas anatômicas complexas, os riscos da cirurgia de excisão devem ser considerados. São eles: sangramento, paralisia das cordas vocais por lesão do n. laríngeo recorrente e hipocalcemia persistente por retirada iatrogênica das paratireoides 4. Entender a crise tireotóxica (quadro clínico e manejo) A crise tireotóxica (CT) é a complicação mais grave do hipertireoidismo, caracterizada por um conjunto de sinais e sintomas secundários à hipersecreção aguda e inapropriada de hormônios tireoidianos. Apresenta altas taxas de mortalidade (até 30%), mesmo quando se institui a terapêutica adequada em tempo hábil QUADRO CLÍNICO Hiperpirexia: Altíssima (38-41ºC) Confusão/Delírio/Agitação: Paciente pode inclusive convulsionar e entrar em coma. Sudorese intensa Icterícia Arritmias: Devido a descompensação metabólica. IC de alto débito: O coração tá batendo tanto que não consegue nem se encher direito. Choque hiperdinâmico No idoso: Quadro um pouco mais ameno, mas apresenta fraqueza extrema, apatia, confusão. DIAGNÓSTICO Solicitar exames laboratoriais tireoidianos Escore de Burch-Wartofsky: Usado para avaliar a crise tireotóxica, escores > 45 são MUITO sugestivos de crise tireotóxica, entre 45-25 é possível que seja e < 25 é provável que não seja, buscar outras causas para os sintomas. TRATAMENTO Tratar a causa: Se for uma infecção, tem que tratar a infecção, hipoglicemia trata a hipoglicemia... Medidas de suporte e ressuscitação Inibir a desiodase tipo 1: PTU + IODO + PROPANOLOL + DEXA! Altas doses de PTU: No lugar do metimazol, porque o PTU em altas doses tem efeito de inibir as desiodases, inibindo a conversão periférica T4-T3. o Dose: 80 0 mg e 200-300 mg a cada 8h, VO. Iodo: Após 1 hora da dose de PTU, com o objetivo de provocar um efeito Wol�-Chaiko� no indivíduo. o Dose: Iodeto de potássio 5 gotas 8/8h ou Lugol 10 gotas VO 8/8h ou ácido iopanoico 0,5 mg VO a cada 12h. Propanolol EV: Tem objetivo de inibir a desiodase tipo 1, EV na dose de 1 mg até a do se de 10 mg. Dexametasona 2mg IV a cada 6h: Inibem também a desiodase tipo 1, além de atuar no cortisol desses pacientes, diminuindo o estresse metabólico gerado.
Compartilhar