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Economia solidária e educação popular-a experiência do Mumbuca Futuro nas escolas municipais de Maricá_

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Economia solidária e educação popular: a experiência do Mumbuca Futuro 
nas escolas municipais de Maricá 
Rayanne de Medeiros Gonçalves1 
Thais Cristina Souza de Oliveira23 
 
1. Introdução 
Em 30 de outubro de 2020, foi divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística (IBGE, 2002) o índice mais recente, até o momento da elaboração deste artigo, de 
desemprego no Brasil. O trimestre encerrado em agosto registrou uma taxa de 13,8 milhões de 
pessoas desempregadas no país, o que equivale a 14,4% da população economicamente ativa. 
Essa é a maior taxa de desemprego registrada desde o início, em 2012, da série histórica da 
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal (PNAD Contínua), realizada 
pelo IBGE. Paralelamente, vem aumentando o número de ocupações informais, ou seja, sem 
garantias trabalhistas e em situações precarizadas. A população mais jovem acumula os maiores 
índices de desempregados. 
O cenário nacional acaba por se refletir no município de Maricá, que acumula altas taxas 
de desemprego. O Sistema de Indicadores da Cidadania (INCID), desenvolvido pelo Instituto 
Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE, 2016), em um projeto voltado para 14 
municípios do COMLESTE, em parceria com a Petrobras, mostra, no indicador “Direito ao 
Trabalho: Situação dos(as) Jovens no Acesso ao Emprego Formal”, que em 2014 apenas 18% 
dos jovens entre 15 e 29 anos estavam formalmente empregados em Maricá, contra 50% de 
jovens empregados no mesmo período em Niterói e 39% na vizinha Saquarema. 
Entendendo a juventude como o segmento mais importante para o desenvolvimento de 
um país, uma vez que é nessa fase que as experiências adquiridas darão aos cidadãos condições 
de exercerem seus plenos direitos na sociedade, o Programa Mumbuca Futuro surge como uma 
resposta da Secretaria de Economia Solidária de Maricá para tratar a questão do desemprego e 
 
1 Rayanne de Medeiros Gonçalves é mestra em Ciências Sociais pelo Programa de Pós-Graduação de Ciências 
Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da UFRRJ (CPDA/UFRRJ) e está como Orientadora 
Educacional no Programa Mumbuca Futuro, Rio de Janeiro (RJ), Brasil. E-mail: medeirosrayg@gmail.com. 
2 Thaís Cristina Souza de Oliveira é mestra em Tecnologia para o Desenvolvimento Social pelo Programa de Pós-
Graduação de Tecnologia para o Desenvolvimento Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro 
(NIDES/UFRJ) e está como Orientadora Educacional no Programa Mumbuca Futuro, Maricá (RJ), Brasil. E-mail: 
thaiscs.oliveira@yahoo.com.br. 
3 Este artigo recebeu contribuições de Thaiza de Freitas Senna, graduanda em Serviço Social pela Universidade 
Federal Fluminense e está como Orientadora Educacional do Programa Mumbuca Futuro. 
mailto:medeirosrayg@gmail.com
mailto:thaiscs.oliveira@yahoo.com.br
 
 
da precarização nas relações de trabalho – uma problemática que vem assolando a classe 
trabalhadora nos últimos anos, mais especificamente os jovens em busca do primeiro emprego. 
Iniciado em julho de 2018, o Mumbuca Futuro visa contemplar os estudantes munícipes 
do 6º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio das redes públicas de ensino, 
caracterizando-se por unir a concessão de um benefício social de transferência de renda 
mediante a formação educacional emancipatória pautada na temática da Economia Solidária. 
O programa investe ainda na formação de Jovens Educadores Populares maricaenses, 
entre as idades de 18 e 29 anos, nos temas de Economia Solidária e Educação Popular, para 
serem os responsáveis pela formação das crianças e adolescentes nas salas de aula. Esses jovens, 
ao mesmo tempo que aprendem, ensinam e produzem novos conhecimentos. 
O Programa em 2018 e 2019 formou 22 jovens educadores, que foram responsáveis pela 
formação dos estudantes do 6º ano do ensino fundamental, entre setembro e outubro de 2018, 
e pelos estudantes do 9º ano do ensino fundamental, entre agosto e novembro de 2019. Diante 
disso, este artigo visa relatar as experiências a partir do percurso formativo do Mumbuca Futuro 
nos anos de 2018 e 2019. 
O artigo se inicia com uma reflexão teórica sobre Economia e Trabalho, relacionando o 
tema ao surgimento e à importância da Economia Solidária no contexto nacional e municipal. 
Em seguida, busca aprofundar o Programa Mumbuca Futuro como projeto que visa debater e 
trabalhar os princípios da Economia Solidária com as diferentes juventudes da cidade, 
demonstrando o percurso formativo desenvolvido no período, apontando quantos estudantes 
participaram, os conteúdos e a metodologia desenvolvida e, por fim, refletindo sobre o papel 
que o Mumbuca Futuro vem realizando na vida desses jovens e no desenvolvimento 
socioeconômico local. 
2. Economia e Trabalho 
Não podemos ignorar que o mundo enfrenta, hoje, um cenário de crise econômica e 
política, sobretudo no aumento latente nos índices de desemprego e precarização do trabalho. 
Para compreender melhor esse panorama, é fundamental que se observe também o desemprego 
em âmbito mundial, concebendo-o como intrinsecamente relacionado às mudanças estruturais 
presentes na sociedade capitalista, sobretudo no que diz respeito à nova morfologia do trabalho. 
Tendo início a partir da crise da década de 1970 e espraiando-se até os dias atuais, ocorre 
em âmbito global o que se caracteriza como “reestruturação das forças produtivas”. Alicerçada 
no avanço tecnológico e no questionamento dos padrões econômico-produtivos keynesianos e 
fordistas, essa reestruturação teve como intuito central ocasionar o aumento da acumulação 
 
 
capitalista. Para isso, há a substituição da produção em massa pela ideia de uma produção que 
atendesse aos anseios individuais dos consumidores. 
A partir daí, nota-se também a formulação de novas tendências e categorias de trabalho 
para além da figura do trabalhador operário fabril, gerando vínculos empregatícios precarizados 
e marcados pela flexibilização, bem como o aumento nos números de desemprego e a 
substituição da mão de obra humana pelo uso da tecnologia, de acordo com Antunes: 
[…] Praticamente todos os países latino-americanos dotados de áreas industrializadas 
implementaram em suas empresas os processos de downsizing (redução dos níveis 
hierárquicos) por meio de uma enorme redução do número de trabalhadores e do 
número de exploração da força de trabalho, o que significa que o processo tecnológico 
e informacional também passou por sérias mutações. A flexibilização, a 
desregulamentação e as novas formas de gestão produtiva foram introduzidas com 
grande intensidade, mesclando-se aos novos processos produtivos baseados na 
acumulação flexível, ou ainda no chamado toyotismo (o “modelo japonês”), que se 
expandiu para o capitalismo ocidental de modo muito vigoroso e ampliado desde os 
anos 1970, para a América Latina, especialmente a partir dos anos 1980 (ANTUNES, 
2011, p. 39). 
Ao direcionarmos o olhar para o cenário atual, observamos que isso se caracteriza de 
forma concreta por meio de uma economia onde os trabalhadores são submetidos a relações de 
alienação e degradação próprias dessa lógica hegemônica, em que há a mercantilização 
profissional e a precarização do trabalho assalariado, identificada por vínculos empregatícios 
terceirizados, fragmentados e informais, jornadas de trabalho excessivas, desproteção 
trabalhista, entre outros, conforme aborda Racheilis: 
Como consequência, aprofunda-se a tendência do capital de redução do número de 
trabalhadores contratados, gerando economia do trabalho vivo, potencializada pela 
incorporação em larga escala de tecnologias microeletrônicas poupadoras de força de 
trabalho. Amplia-se o desemprego estrutural além da precarização e deterioração da 
qualidade do trabalho, dos salários e das condições em que ele é exercido, que se 
agravam ainda mais considerando recortes de gênero, geração, raça e etnia, com 
profundas mudanças nas formas deser da classe trabalhadora, com impactos na 
materialidade e na subjetividade individual e coletiva (RACHEILIS, 2018, p. 51). 
Em contraponto a esse cenário, mas também inseridas nele, as ideias da Economia 
Solidária podem ser entendidas como uma resposta dos próprios trabalhadores às 
transformações ocorridas no mundo do trabalho. De modo a ir contra as tendências da 
mercantilização do trabalho e da vida, configuram-se novas formas de trabalho, a partir do 
cooperativismo, associativismo e iniciativas autogestionárias. Pautadas nos princípios de 
solidariedade, sustentabilidade, equidade e justiça social, criam-se oportunidades de trabalho e 
outra concepção de mercado. Assim, podemos dizer que “a economia solidária surge como 
reação à crise na forma de numerosas iniciativas locais” (FRANÇA FILHO, 2006, p. 203). 
 
 
Tais iniciativas baseiam-se em valores mais solidários, humanitários e sustentáveis, com 
o propósito de construir novos estilos de vida, buscando reestruturar o sistema financeiro. Como 
a produção econômica tende a se misturar e sobrepor a reprodução da vida, a perspectiva da 
economia solidária torna-se uma forma de enfrentar os desafios contemporâneos por meio de 
uma economia vinculada diretamente à reprodução da vida de seus membros, e não a serviço 
da lei do valor econômico (LISBOA, 2005). 
A economia solidária abrange, assim, formas de organização econômica – de produção, 
prestação de serviços, comercialização, finanças e consumo – baseadas no trabalho associado, 
na autogestão, na propriedade coletiva dos meios de produção, na cooperação e na solidariedade 
(CONSELHO NACIONAL DE ECONOMIA SOLIDÁRIA, 2015), criando oportunidades de 
desenvolvimento nas brechas da sociedade hegemônica. 
No entanto, para a consolidação das práticas dessa economia, o apoio do Estado e dos 
recursos públicos tem sido uma exigência dos atores da economia solidária para a manutenção 
e o desenvolvimento das suas ações. Desse modo, registra-se, nos últimos anos, a participação 
dos poderes públicos, com a formulação de políticas públicas, sobretudo no nível das prefeituras 
municipais (FRANÇA FILHO, 2007). Tais pontos serão aprofundados a seguir. 
3. Educação Popular como teoria e prática cotidiana 
Ao entender que a educação não pode ser vista como mercadoria, o Mumbuca Futuro 
acredita na capacidade de transformação social e econômica da juventude. Desse modo, nós, 
membros da equipe do Mumbuca Futuro, embasamo-nos em um processo pedagógico crítico e 
libertador, na medida em que privilegiamos as trocas, os saberes e a construção conjunta de 
conhecimentos na relação educador-educando. Além disso, buscamos demonstrar nas aulas e 
enfrentar no cotidiano uma possível disputa do processo hegemônico de emancipação humana 
na educação formal, com a tarefa de (re)formar e incentivar multiplicadores de uma cultura 
própria, solidária e diversificada. 
Ao trabalhar com o conceito de práxis na pedagogia de Paulo Freire, aprofundamo-nos 
no entendimento de que cada educando tem a capacidade de refletir, dialogar e atuar para a 
transformação da realidade social. A partir do momento em que se reconhece o potencial de 
cada sujeito, caminha-se para a libertação. E este é o papel da educação, segundo Freire (1981): 
Somente os seres que podem refletir sobre sua própria limitação são capazes de 
libertar-se desde, porém, que sua reflexão não se perca numa vaguidade 
descomprometida, mas se dê no exercício da ação transformadora da realidade 
condicionante. Desta forma, consciência de ação sobre a realidade são inseparáveis 
constituintes do ato transformador pelo qual homens e mulheres se fazem seres de 
relação. A prática consciente dos seres humanos, envolvendo a reflexão, 
 
 
intencionalidade, temporalidade e transcendência, é diferente dos meros contatos dos 
animais com o mundo (FREIRE, 1981, p. 53). 
Em busca de criar estratégias que estimulem os estudantes a se tornarem críticos da 
própria realidade, enxergando as relações entre a crise socioeconômica e as relações de 
produção e consumo da atualidade, refletindo sobre estas questões à luz da solidariedade, da 
justiça social e do bem-viver de todas(os), construímos nossa metodologia de trabalho a partir 
do método Ver-Refletir-Agir, inspirado no método de educação da Juventude Operária Católica 
(ESTEVEZ, 2006). 
Por meio desse método, esperamos construir um conhecimento sólido e genuíno sobre 
a realidade contemporânea na perspectiva local e global, sobre as causas e consequências dos 
problemas enfrentados e sobre o papel do educando frente a esses problemas como agente 
transformador da sua realidade. É importante destacar que as etapas não devem seguir um 
caminho linear, mas uma circularidade, em que a informação, a reflexão e a intervenção se 
retroalimentem em um processo contínuo de formação, conforme observa o Manual 
Pedagógico Entender para intervir (BADUE; TORRES; ZERBINI; PISTELLI; CLECH, 
2005). 
O primeiro passo do método que construímos teve como objetivo compreender a 
realidade circundante, buscando estabelecer que percepção cada estudante tem de sua realidade, 
bem como entender quais problemas são vivenciados, suas causas e consequências na vida de 
cada um. Nesse processo, é preciso buscar compreender o que acontece localmente – ou seja, o 
que provoca a vontade de saber mais, sendo um momento de buscar informação e 
formação(KRISCH; CARDOSO, 2020). 
No segundo passo, foi importante refletir sobre as informações coletadas e 
sistematizadas. Foi preciso identificar o impacto das estruturas econômicas, políticas, sociais e 
culturais na realidade local, bem como os principais atores e a relação com questões macros, 
que afetam outras realidades no país e no planeta. Neste passo, envolver a todas(os) num esforço 
de reflexão sobre o que vivemos e o que queremos viver é primordial para gerar um momento 
de construção coletiva do conhecimento e das possibilidades de ação sobre a realidade 
(KRISCH; CARDOSO, 2020). 
Com base nos conhecimentos gerados nos passos anteriores, chegou o momento de 
definir uma ação coletiva que poderia ser realizada pelo grupo e que tivesse potencial de 
transformar a realidade analisada gerando os impactos esperados. Este momento é também um 
exercício do trabalho coletivo, em que é preciso planejar e organizar coletivamente a ação que 
será realizada (KRISCH; CARDOSO, 2020). 
 
 
Por fim, acrescentamos como etapa final deste processo formativo o momento de 
celebrar, que é reconhecer o que se fez junto. Aqui, não só o estudante reconhece o seu trabalho 
final no objeto criado, em contraponto à noção de alienação do trabalho promovida pelo sistema 
capitalista, como também partilha esses resultados, a fim de promover uma socialização entre 
as turmas e provocar o debate sobre a possibilidade de formar redes de economia solidária entre 
esses jovens (KRISCH; CARDOSO, 2020). 
4. O Programa Mumbuca Futuro como prática educacional de Economia Solidária 
A Prefeitura de Maricá e a Secretaria de Economia Solidária têm buscado, nos últimos 
anos, construir estratégias e políticas públicas que visam ao fortalecimento e desenvolvimento 
da economia local, com vistas a diminuir as desigualdades socioeconômicas, como a Moeda 
Social, o Programa de Renda Básica de Cidadania (RBC) e o fomento à criação de hortas e 
feiras solidárias. Essas ações têm sido garantidas por lei a partir do Projeto de Lei n. 57/2019. 
 Dentro dessa perspectiva e com o objetivo de investir na juventude, o Programa 
Mumbuca Futuro busca promover a inserção por meio do incentivo ao estudo das(os) munícipes 
no âmbito do ensino fundamental, médio e universitário, e o fomento ao empreendedorismo 
com enfoque na organização cooperativa e/ou associativa. 
Em 2018 e 2019, foram selecionados e formados 22 jovens moradores do município de 
Maricá, com idades entre 18 e 29 anos, que, por sua vez, foram os responsáveis pela formação 
decrianças e adolescentes da rede de ensino pública municipal. A proposta era que esses jovens 
pudessem desenvolver habilidades empreendedoras dentro dos princípios da Economia 
Solidária, incentivando a organização coletiva para criação de novos postos de trabalho. 
É importante destacar também que, para muitos dos jovens formados, essa foi a primeira 
experiência de trabalho formal e que a composição da equipe contou com uma pluralidade de 
experiências e saberes, pois havia pessoas cursando ou formadas nos seguintes cursos: 
Geografia, Pedagogia, Letras, Ciências Sociais, Administração, Serviço Social, Produção 
Cultural, entre outras. Tamanha pluralidade garantiu a troca de saberes entre diferentes pontos 
de vista e a diversidade na formulação de dinâmicas e conteúdos aplicados em sala de aula. 
A formação, tanto dos jovens educadores como dos estudantes, buscou abordar temas 
que contribuíssem para o desenvolvimento da consciência crítica entre crianças, adolescentes e 
jovens, levando-os a compreender que a circulação da moeda privilegia os pequenos 
empreendimentos, contribuindo com o desenvolvimento local. 
A ideia da educação para o desenvolvimento local está diretamente vinculada a essa 
compreensão e à necessidade de se formarem pessoas que amanhã possam participar 
 
 
de forma ativa das iniciativas capazes de transformar o seu entorno, de gerar 
dinâmicas construtivas. Hoje, quando se tenta promover iniciativas desse tipo, 
constata-se que não só as crianças, mas mesmo os adultos desconhecem desde a 
origem do nome da sua própria rua até os potenciais do subsolo da região onde se 
criaram. Para termos cidadania ativa, temos de ter uma cidadania informada, e isso 
começa cedo. A educação não deve servir apenas como trampolim para uma pessoa 
escapar da sua região: deve dar-lhe os conhecimentos necessários para ajudar a 
transformá-la (DOWBOR, 2007, p. 76). 
Em 2018, o programa iniciou de forma piloto no 6º ano do ensino fundamental, apenas 
com a formação, e em 2019 foi executado de forma integral com o 9º ano, com a formação e o 
repasse das bolsas. Para os próximos anos, o programa visa atender às(aos) estudantes de 
escolas públicas de Maricá do 6º ao 9º ano do ensino fundamental, do 1º ao 3º ano do ensino 
médio, que pertençam a famílias residentes no município de Maricá, independentemente da 
renda familiar e aos moradores, fomentando a criação de empreendimentos solidários nos 
territórios da cidade. Na seção seguinte, será descrito o percurso formativo empreendido nessas 
séries nos anos de 2018 e 20194. 
5. As experiências do Mumbuca Futuro nas turmas de 6º e 9º anos do Ensino Fundamental 
No ano de 2018, o programa atingiu 28 turmas de 6º ano do ensino fundamental e 7 
turmas do Programa de Aceleração Escolar (PAE), composto por jovens em distorção idade-
série, em onze escolas municipais de Maricá, com 618 estudantes participantes da formação. 
Com a finalidade de aplicar, por meio da horizontalidade e partindo da realidade local 
de cada estudante, os princípios da economia solidária, tivemos como concepção a Educação 
pela Ação, em que utilizamos os passos Ver, Refletir, Agir e Celebrar. Além disso, partimos da 
noção de que a educação pode ser (re)construída pelos atores inseridos no universo 
socioespacial da comunidade escolar, visando ultrapassar os muros escolares. 
As atividades em sala de aula tiveram a duração de seis semanas, entre setembro e 
outubro de 2018, e a cada semana era desenvolvido um módulo com carga horária de quatro 
horas semanais no contraturno do ensino regular. Cada módulo correspondeu a uma aula. A 
seguir, apresentamos o percurso formativo desenvolvido no período: 
Quadro 1 – Percurso formativo com o 6º ano do Ensino Fundamental 
Módulo Objetivo 
 
4 É importante destacar que a experiência aqui apresentada foi resultado de uma construção coletiva da Equipe do 
Mumbuca Futuro, que contou com a colaboração de jovens educadoras/es populares, orientadoras educacionais, 
coordenação pedagógica e orientação da equipe técnica da Secretária Municipal de Economia Solidária. 
 
 
Módulo 1: A diversidade enriquece 
• Despertar para a riqueza e a importância de manter 
o diálogo entre diferentes pontos de vista sobre um 
mesmo tema. 
• Sensibilizar para o respeito à fala do outro, para a 
importância do diálogo. 
Módulo 2: Onde ConVivemos? 
Despertar a reflexão sobre o bairro, a cidade e o país 
em que habitam, considerando aspectos locais e 
globais. 
Módulo 3: Que escola queremos 
• Aprofundar a reflexão sobre os problemas 
enfrentados na escola, com o levantamento das 
causas e consequências de cada questão. 
• Contribuir para o alinhamento de um olhar crítico 
coletivo dos estudantes sobre a escola. 
Módulo 4: EducAção • Definir coletivamente uma Ação Coletiva a ser 
desenvolvida pelo grupo. 
Módulo 5: Outra economia é possível? 
• Apresentar reflexões introdutórias e experiências 
no campo da economia solidária. 
• Contribuir para despertar um olhar crítico sobre 
economia. 
Módulo 6: Há Ação Realizar coletivamente uma Ação Coletiva planejada 
no Módulo 4. 
Fonte: Elaborado pelas autoras. 
 Com as turmas do 6º ano, o programa optou por trabalhar com elementos da própria 
realidade dos estudantes, elegendo o espaço escolar para em seguida relacioná-lo com a 
sociedade e com a economia. Privilegiou-se também, nesse momento, trabalhar o protagonismo 
juvenil, o trabalho coletivo e a mudança da própria realidade, visto que são aspectos importantes 
ao se pensar no desenvolvimento de uma Economia Solidária. 
Por fim, a celebração foi realizada em um grande evento em uma das escolas, que reuniu 
todos os estudantes participantes para partilharem suas experiências de formação no projeto. O 
processo de avaliação foi realizado após o desenvolvimento dos seis módulos, em sala de aula 
com os estudantes, com os responsáveis e com a equipe escolar (direção, orientação e 
funcionários) e, posteriormente, com os jovens educadores populares, as orientadoras 
educacionais e a coordenação do projeto. 
Foi possível identificar que houve uma avaliação positiva do projeto por todas(os); a 
metodologia, as dinâmicas e os conteúdos tiveram boa aceitação entre os estudantes, e os 
educadores conseguiram estabelecer bom relacionamento e diálogo com os estudantes. Houve 
ainda um interesse por parte da escola e dos educadores em se integrar mais intensamente ao 
 
 
universo escolar. Foi pedido também que o projeto pudesse se estender, com formações 
regulares sobre Economia Solidária, aos pais e responsáveis. 
De forma geral, foi possível perceber que a atuação do Mumbuca Futuro nas escolas 
despertou os estudantes para um protagonismo atento à realidade circundante e disposto a 
trabalhar coletivamente, valorizando os diversos olhares. 
No ano de 2019, a Secretaria de Economia Solidária e a Secretaria de Educação 
priorizaram a inserção do Mumbuca Futuro com as turmas do 9º ano do ensino fundamental da 
rede municipal, a fim de que pudessem ter a experiência do projeto, uma vez que estavam no 
último ano do ensino. As atividades iniciaram-se no final de julho, com a divulgação do projeto 
nas escolas e o cadastro dos estudantes interessados. 
O programa ocorreu em treze escolas do município e foi oferecido a todos os estudantes 
do 9º ano. Foram formadas 26 turmas de Economia Solidária, com um total de 498 jovens 
cadastrados. As aulas ocorreram entre os meses de agosto e novembro de 2019 e tiveram 
também a carga horária de quatro horas semanais, exceto nas escolas com período integral, nas 
quais a carga horária foi reduzida para 2h30. Nesse período, iniciou-se também a concessão das 
bolsas dos programas aos estudantes cadastrados. 
Com as turmas do 9º ano de 2019, buscamos desenvolver os temas da Economia 
Solidária (consumo responsável, comércio justo e solidário, finanças solidárias) e a criação de 
um projeto de empreendimento econômico solidário. Paraisso, o percurso formativo também 
seguiu os passos Ver, Refletir e Agir, com foco no desenvolvimento de um produto ou serviço 
que atendesse às necessidades da comunidade. Nesse processo, utilizamos ferramentas de 
pesquisa no entorno da escola com os moradores e comerciantes para identificar os hábitos de 
consumo, as necessidades e potencialidades do território, e construímos coletivamente por 
turma um Plano Econômico Solidário (P.E.S) do produto ou serviço escolhido pela turma. A 
seguir, descrevemos em detalhes o percurso: 
Quadro 2 – Percurso formativo com o 9º ano do Ensino Fundamental 
Aula Conteúdo 
Aula 0 – Aula de boas-vindas 
Integração entre os educandos e educadores, 
apresentação do Mumbuca Futuro e vivência dos 
princípios da Economia Solidária. 
Aula 1 – Autogestão 
Autogestão; Auto-organização da turma; Mundo do 
trabalho e suas relações. 
 
 
Aula 2 – Consumo 
Fetiche do Consumo; Necessidade x desejo; 
Necessidades da comunidade. 
Aula 3 – Consumo: descobrindo o bairro 
Fetiche do Consumo; Necessidade x desejo; 
Necessidades da comunidade. 
Aula 4 – Território (parte 1) 
Conceito de território; Relações comerciais e 
produtivas do território; Desenvolvimento Local. 
Aula 5 – Território (parte 2) 
Análise do território; Anúncios e denúncias do 
território; Produção de um sonho coletivo. 
 
Aula 6 – Comércio Justo e Solidário 
Princípios do Comércio Justo e Solidário; Definição 
de um produto e/ou serviço. 
 
Aula 7 – Plano Econômico Solidário (P.E.S) 
(Parte 1) 
Gestão de EES: Missão e objetivo; Tomada de 
decisão; Público-alvo; Relação com o território; 
Comunicação. 
Aula 8 – Plano Econômico Solidário (P.E.S) 
(Parte 2) 
Relações de equidade na produção; Contrapartida 
social; Preservação do meio ambiente; Insumos 
necessários. 
Aula 9 – Plano Econômico Solidário (P.E.S) 
(Parte 3) 
Plano Operacional de um empreendimento; Parcerias 
e Custos do Empreendimento 
Aula 10 – Planejamento 
Planejamento da produção; Preparação da 
apresentação do PES; Preparação da produção (Iniciar 
tarefas do PES). 
Aula 11 – Produção 
Produção; Preparação da apresentação do PES. 
Aula 12 – Partilha 
Troca de experiências. 
Aula 13 – Avaliação 
Avaliação do processo e celebração. 
Fonte: Elaborado pelas autoras. 
Assim como no 6º ano, realizamos a partilha das experiências e dos P.E.S na quadra de 
uma das escolas do município, onde cada turma pôde apresentar seu projeto e receber 
 
 
contribuições. Com a finalização do ano letivo e do contratado, o processo avaliativo do período 
foi realizado apenas com os estudantes e os jovens educadores. 
Com os relatos dos estudantes, percebeu-se que a metodologia utilizada facilitou a 
compreensão dos conteúdos e contribuiu para que aprendessem a trabalhar coletivamente, a 
respeitar ao próximo e a valorizar a escuta. Os conteúdos trabalhados também contribuíram 
para os estudantes repensarem os hábitos de consumo, conhecerem e refletirem melhor sobre o 
território, identificando novas oportunidades de pensar outra sociedade. A linguagem dos jovens 
educadores populares também contribuiu para a aproximação com os estudantes, que relataram 
terem se sentido respeitados, uma vez que os educadores não se colocaram como “superiores”. 
Considerações finais 
Ao longo desta exposição, buscamos demonstrar os impactos, mesmo que de maneira 
inicial, do Programa Mumbuca Futuro para os estudantes cadastrados no curso, a instituição 
escolar, o ambiente familiar e o município. Com as aulas e durante todo o projeto, pudemos ver 
mudanças significativas nas reflexões, visões e atitudes desses jovens, as quais podem ser 
encaradas como construtoras de um novo pensar e um novo saber, compartilhadas pelas ações 
da Economia Solidária, que propõe uma forma de viver em sociedade mais humana, consciente 
e emancipatória. 
Por isso, vemos a importância do projeto Mumbuca Futuro no município por duas vias: 
a educacional e a econômica. Tais vias constituem elementos teóricos e práticos interligados, 
desde o momento em que o projeto tem como público-alvo não só os estudantes das escolas 
municipais e públicas, mas também as(os) jovens moradores de Maricá que terminaram o 
ensino médio, buscando uma formação de formadores em Economia Solidária por todo o 
território do município. 
Ao utilizar a moeda social como pagamento desses jovens educadores populares e a 
concessão dos 50 mumbucas mensais para os estudantes, como bem explicitado ao longo do 
artigo, pode-se e deve-se refletir sobre os impactos dessa escolha para o fomento do 
desenvolvimento local. Como plano-piloto nacional, Maricá segue na contramão nacional, na 
medida em que trata a educação reflexiva e protagonista da juventude atrelada ao mercado de 
trabalho local. Assim, o Mumbuca Futuro, mesmo que de maneira inicial, tem contribuído, com 
métodos pedagógicos e conteúdos voltados ao pensar e agir, para a construção de uma geração 
jovem mais solidária, reflexiva, humanitária e sustentável. 
 
 
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	Economia solidária e educação popular: a experiência do Mumbuca Futuro nas escolas municipais de Maricá
	1. Introdução
	2. Economia e Trabalho
	3. Educação Popular como teoria e prática cotidiana
	4. O Programa Mumbuca Futuro como prática educacional de Economia Solidária
	5. As experiências do Mumbuca Futuro nas turmas de 6º e 9º anos do Ensino Fundamental
	Considerações finais
	Referências bibliográficas

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